o uso de algumas técnicas da terapia cognitivo

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O USO DE ALGUMAS TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL NO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
USE OF SOME OF THE TECHNIQUES IN BEHAVIORAL THERAPY- COGNATE
OBSESSIVE- COMPULSIVE DISORDER
Lívia Maria Martins Guimarães¹
Tatiana C. M. Vasconcelos²
RESUMO
Os transtornos de ansiedade estão entre as doenças mentais mais prevalentes na atualidade.
Entre estes, está o transtorno obsessivo-compulsivo, que acomete cerca de 2,5% da população
geral. É considerado um transtorno mental grave, pois seus sintomas iniciam geralmente ao
final da adolescência, sendo raro seu início depois dos 40 anos. As pessoas com esse
transtorno apresentam prejuízos significativos em diversos aspectos, em especial nas relações
sociais e familiares e no desempenho ocupacional. O objetivo desta revisão é identificar e
apresentar algumas das técnicas cognitivo-comportamentais mais utilizadas no tratamento do
Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esta revisão bibliográfica foi realizada através de
pesquisa em livros, revistas e periódicos científicos coletados em banco de dados eletrônicos
como SCIELO, MEDLINE e LILACS. A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma
abordagem terapêutica benéfica para o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo por
utilizar técnicas que atuam na correção dos pensamentos e crenças disfuncionais, assim como
técnicas comportamentais que proporcionam mudanças nas compulsões ou comportamentos
repetitivos do paciente.
PALAVRAS-CHAVE:
Transtorno
Comportamental, Tratamento, Revisão.
Obsessivo-Compulsivo,
Terapia
Cognitivo-
¹ Psicóloga. Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental – Centro Universitário Christus UNICHRISTUS
² Psicóloga Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental – Universidade de São Paulo - USP
2
INTRODUÇÃO
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é um quadro psíquico incluído nos
Transtornos de Ansiedade (ANDRADE, 2007). Seus sintomas envolvem alterações do
comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), do pensamento (obsessões
sobre dúvidas, preocupações excessivas, pensamentos de conteúdo ruim ou impróprio, etc.) e
da emoção (medo, aflição, culpa, depressão) (ANDRADE, 2007).
As características essenciais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) são
obsessõese/oucompulsões recorrentes e suficientemente graves para consumirem tempo ou
causar sofrimento acentuado à pessoa (BALLONE, 2007).
Os estudos que avaliaram o impacto do TOC na qualidade de vida dos portadores apontam
para prejuízos significativos em diversos aspectos, em especial, nas relações sociais e
familiares e no desempenho ocupacional (NIEDERAUER, 2007).
Cerca de 2,5% da população em geral, é acometida de TOC. Seu curso geralmente é
crônico, com os sintomas variando em intensidade e, se não tratado, com muita frequência,
pode manter-se por toda a vida. Por vários motivos, é considerado um transtorno mental
grave, pois os sintomas iniciam geralmente ao final da adolescência (muitas vezes ainda na
infância), sendo raro seu início depois dos 40 anos (CORDIOLI, 2008).
De acordo com Knapp e Isolan (2005) a terapia cognitivo-comportamental é uma
terapia breve e estruturada, orientada para a solução de problemas, que envolve a colaboração
ativa entre o paciente e o terapeuta para atingir objetivos estabelecidos.
Cordioli (2008), afirma em um dos seus estudos que o modelo cognitivocomportamental permitiu uma melhor compreensão dos fenômenos obsessivo-compulsivos,
da importância de aprendizagens errôneas e de crenças disfuncionais na sua gênese e
manutenção. Permitiu, ainda, a proposição de uma variedade de técnicas e estratégias que
possibilitam a redução dos sintomas para a maioria dos pacientes e até sua
completaeliminação.
O interesse pelo tema ocorreu a partir da identificação do sofrimento que o Transtorno
Obsessivo-Compulsivocausaaos indivíduos. Muitos chegam a esconder dos familiares e
amigos o problemaque o acomete.
Para tanto, foi escolhida a Terapia Cognitivo-Comportamentalcomo enfoque
terapêuticono tratamento do transtorno obsessivo-compulsivopelo fato de ser umaabordagem
com uma variedade de técnicas e estratégias que possibilitam a redução dos sintomas para a
maioria dos pacientes e até sua eliminação completa. O intuito desse trabalho é identificar e
3
apresentar algumas das técnicas cognitivo-comportamentais mais utilizadas no tratamento do
transtorno obsessivo-compulsivo.
Este trabalho irá contribuir para a comunidade científica na construçãodo
conhecimento acerca da utilização das técnicas da TCC no tratamento do transtorno
obsessivo-compulsivo.
METODOLOGIA
Para efetivação desse estudo foi realizada uma revisão da literatura, utilizando para
tanto, livros, revistas e periódicos científicos dos bancos de dados SCIELO, MEDLINE e
LILACS,com o objetivo deverificar algumas pesquisasque têm sido realizadas e como os
diversos pesquisadores têm se posicionado acerca do tema. Os termos pesquisados foram:
Terapia Cognitivo-Comportamental, Transtorno Obsessivo-Compulsivo. A triagem dos
artigos foi realizada através da leitura dos resumos e a seleção foi apartir dos quemais
poderiam contribuir para a temática em estudo.Foram triados no total 35 artigos, no período
entre 10 de outubro de 2012 e20de fevereiro de 2013, dos quais 25 foram citados no presente
trabalho.
A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma intervenção semi-estruturada,
objetiva e orientada para metas, que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais
no tratamento dos transtornos psiquiátricos (DUCHESNE, 2002).
Para Stallard (2007), a terapia cognitivo-comportamental não é uma intervenção
homogênea realizada de maneira padronizada; ao contrário, ela adota várias estratégias
combinadas e empregadas de diferentes maneiras com um grupo heterogêneo de clientes, de
diferentes idades e diferente desenvolvimento cognitivo, linguístico e social.
A Terapia Cognitiva, segundo Andrade (2007), é uma abordagem ativa, diretiva e
estruturada. Fundamenta-se numa base lógica teórica subjacente, segundo a qual o afeto e o
comportamento de um indivíduo são largamente determinados pelo modo como ele estrutura
o mundo.
Confirmando a afirmação anterior, Beck (1997), afirma que a visão teórica da TCC
está baseada na idéia de que os sentimentos e os comportamentos do indivíduo são
determinados pelo modo como ele estrutura o mundo, suas cognições.
4
Cognição é o conteúdo do pensamento e os processos envolvidos no ato de pensar;
representa a síntese de estímulos internos e externos e evidencia o modo como a pessoa avalia
uma situação (SAFFI et al, 2008).
Outro conceito utilizado pela TCC é o de distorções cognitivas, que de acordo com
Knapp (2004), são vieses sistemáticos na forma como indivíduos interpretam suas
experiências. Se a situação é avaliada erroneamente, essas distorções podem amplificar o
impacto das percepções falhas.
Ainda de acordo com Knapp (2004), as distorções cognitivas podem levar o indivíduo
a conclusões equivocadas mesmo quando sua percepção da situação está acurada.
Segundo Knapp (2004), os pensamentos automáticos são as cognições mais fáceis de
acessar e modificar, porém podem não ocorrer em forma de pensamento, mas em forma de
imagens. De acordo com Becket al., (1993 apud SAFFI et al, 2008), pensamentos automáticos
são pensamentos breves e involuntários que surgem de modo inesperado. São mensagens
específicas, discretas, que parecem taquigrafadas, compostas por palavras curtas e essenciais.
Bahls (2004) ressalta que um dos objetivos da TCCé corrigir as distorções cognitivas
que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes
para enfrentá-los. Para tanto são utilizadas técnicas cognitivas que buscam identificar os
pensamentos automáticos, testar estes pensamentos e substituir as distorções cognitivas.
Knapp (2004) lista as distorções cognitivas mais comumente observadas, modificadas
a partir de outros autores.
1. Catastrofização – Pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em
consideração a possibilidade de outros desfechos.
2. Raciocínio emocional – Presumir que sentimentos são fatos. Pensar que algo é verdadeiro
porque tem uma emoção muito forte a respeito. Deixar os sentimentos guiarem a
interpretação da realidade.
3. Polarização (pensamento tudo-ou-nada, dicotômico) – Ver a situação em duas categorias
apenas, mutualmente exclusivas, em vez de um continuum. Perceber eventos ou pessoas
em termos absolutos.
4. Abstração seletiva (visão em túnel, filtro mental, filtro negativo) – Um aspecto de uma
situação complexa é o foco da atenção, enquanto outros aspectos relevantes da situação
são ignorados.
5. Adivinhação – Prever o futuro. Antecipar problemas que talvez não venham a existir.
Expectativas negativas estabelecidas como fatos.
5
6. Leitura mental – Presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando,
desconsiderando outras hipóteses possíveis.
7. Rotulação – Colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa, ou situação, em
vez de rotular a situação ou o comportamento específico.
8. Desqualificação do positivo – Experiências positivas e qualidades que conflituam com a
visão negativa são desvalorizadas porque ‘não contam’ ou são triviais.
9. Minimização e maximização – Características e experiências positivas em si mesmo, no
outro ou nas situações são minimizadas enquanto o negativo é maximizado.
10. Personalização – Assumir a culpa ou responsabilidade por acontecimentos negativos,
falhando em ver que outras pessoas e fatores também estão envolvidos nos
acontecimentos.
11. Hipergeneralização – Perceber num evento específico um padrão universal. Uma
característica específica numa situação específica é avaliada como acontecendo em todas
as situações.
12. Imperativos (‘deveria’ e ‘tenho que’) – Interpretar eventos em termos de como as coisas
deveriam ser, em vez de simplesmente considerar como as coisas são.
13. Vitimização – Considerar-se injustiçado ou não entendido. A fonte dos sentimentos
negativos é algo ou alguém, havendo recusa ou dificuldade de se responsabilizar pelos
próprios sentimentos ou comportamentos.
14. Questionalização (E se?) –Focar o evento naquilo que poderia ter sido e não foi. Culpar-se
pelas escolhas do passado e questionar-se por escolhas futuras.
Além dos pensamentos automáticos, o modelo cognitivo é formado por crenças, que
de acordo com Beck et al., (1993 apud SAFFI et al, 2008), são pensamentos ‘tão
fundamentais e profundos que as pessoas frequentemente não os articulam, sequer para si
mesmas’. As crenças são formadas por meio da interação com o mundo e com outras pessoas,
ou seja, pela educação que se recebe e pelos modelos que se aprendem (BECK et al., 1993
apud SAFFI et al, 2008).
Em um nível intermediário de cognições encontramos as crenças subjacentes, que são
constituídas de pressupostos e regras que governam a relação do indivíduo no mundo (LIMA
et al,. 2004).
A TCC utiliza-se de procedimentos que visam à identificação de pensamentos
distorcidos para posterior confrontação com a realidade, ou seja, procurar alterar o sistema de
crenças disfuncionais que se encontram subjacentes a essas cognições (YANO, 2003).
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Segundo Cade (2001), atualmente, estudos mostram que essa abordagem abrange
amplos aspectos dos problemas humanos e patologias psiquiátricas, como o tratamento da dor
crônica, hipertensão arterial, cefaleias, fobias, transtorno do pânico, reabilitação
neuropsicológica, etc.
O TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) possui curso crônico e é caracterizado pela
presença de obsessões e compulsões, que ocupam boa parte do tempo do paciente,
acompanhadas de desconforto, comprometendo as rotinas diárias, o desempenho profissional
e as relações interpessoais (DSM-IV-TR, 2002).
De acordo com Cassol (2010), o Transtorno Obsessivo-compulsivo é um transtorno
mental incluído pelo DSM-IV entre os chamados transtornos de ansiedade.
O transtorno aparece em média, entre os 20 e 25 anos de idade, acomete mais as
mulheres do que os homens. As suas causas ainda não são bem definidas, mas se sabe que o
fator genético é muito forte, uma vez que é comum que várias pessoas de uma mesma família
sejam acometidas (SILVA, 2012).
Segundo Ballone (2007), ele tanto pode surgir de forma abrupta, após algum evento
desencadeante ou, mais comumente, sem que esteja associada a algum evento estressor
importante.
Um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1998
considerou o TOC o 4º transtorno psiquiátrico mais comum, sendo precedido somente pela
depressão, pela fobia social e pelo abuso de substâncias (NIEDERAUER, 2007).
Há trabalhos atestando que20 a 40% dos pacientes não obtém melhora apesar do
tratamento médico, 40 a 50% têm melhora moderada e apenas 20 a 30% melhoram
significativamente. O bom ajustamento social e profissional ajuda a melhorar o prognóstico.
Há casos em que a hospitalização é necessária, principalmente quando o paciente submete-se
totalmente às compulsões ao invés de resistir a elas (BALLONE, 2007).
Silva (2012), afirma que as obsessões são pensamentos repetitivos, negativos,
estressantes, de natureza sempre ruim ou desagradável, que surgem de forma persistente e
intrusiva, como se fossem ‘disquinhos arranhados’ de que a pessoa não consegue se livrar.
Já as compulsões, conhecidas popularmente como ‘manias’, são comportamentos
repetitivos que a pessoa se obriga a ter para ‘anular’ as consequências de seus pensamentos
obsessivos, que ela teme que se realizem (SILVA, 2012).
7
Segundo Ferrão (2007), o transtorno obsessivo-compulsivo abrange sintomas que
representam diversos domínios psicopatológicos. Estes sintomas incluem percepções,
cognições(obsessões), emoções, dificuldades nos relacionamentos sociais e diversos
comportamentos motores(compulsões).
Rangé e Sousa (2008), afirmam que pacientes com TOC superestimam a probabilidade
de correrem perigo e de cometerem erros e partem do princípio de que toda situação é
perigosa até que prove o contrário, por isso a necessidade de rituais para garantir que o perigo
seja removido.
Nierderauer (2007) ressalta que as obsessões e compulsões ocupam a maior parte do
dia desses indivíduos, causando um impacto negativo no seu dia-a-dia, nas atividades sociais
e ocupacionais, bem como nas suas relações familiares.
Cordioli (2008), diz que o TOC, na maioria das vezes, interfere de maneira acentuada
na vida da família, que é obrigada a adaptar-se aos sintomas, alterar suas rotinas, reduzir o uso
de espaços e objetos, o que causa constantes conflitos. Além de que, até pouco tempo atrás,
era considerado um transtorno de difícil tratamento.
Segundo Rapoport (1988 apud GONZALEZ, 1999) as obsessões mais comuns são:
preocupação com sujeira ou secreções corporais, medo de que algo ruim possa acontecer a si
mesmo ou a alguém próximo, preocupação com simetria e escrupulosidade. As principais
compulsões são: lavagem de mãos, verificação de portas, ordenação e arrumação, contagem e
colecionismo.
Já Silva (2012) destaca que “não raro os pacientes também relatam obsessões de
conteúdo sexual e/ou de caráter religioso, o que envolve sentimentos de muita culpa”.
PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS NO TRATAMENTO
DO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
Silva (2012) ressalta que além do tratamento medicamentoso, a psicoterapia de
abordagem cognitivo-comportamental também é de grande importância no tratamento do
TOC, pois atua de forma objetiva e estruturada para que hajam mudanças nas ideias
distorcidas em relação aos acontecimentos, ao ambiente e à vida em geral, bem como seus
comportamentos repetitivos.
O referencial teórico da terapia cognitivo-comportamental permite que se utilizem
várias técnicas, tanto individuais como em grupo, com o intuito de se trabalhar habilidades de
8
relacionamento, estilo de vida, ajustamento social, redução do estresse, resolução de
problemas, etc., permitindo mais controle sobre a situação (CADE, 2001).
As técnicas comportamentais são empregadas para modificar condutas inadequadas
relacionadas com o transtorno psiquiátrico em questão (BAHLS, 2004).
Psicoeducação
Segundo Abreu e Oliveira (2008), uma característica bastante distintiva da terapia
cognitiva em relação a outras abordagens é o seu caráter psicoeducativo.
A psicoeducação é uma intervenção que tem como característica informar ao paciente
dados sobre o seu diagnóstico. Informações que abranjam a etiologia, o funcionamento, o
tratamento mais indicado e o prognóstico (COLOM&VIETA, 2004). Ela fornece um potente
instrumento não apenas para melhorar a evolução de pacientes, mas para ajudá-los a gerenciar
desespero, medos, estigma e baixa auto-estima.
Knapp (2004) ressalta que a psicoeducação acerca do transtorno melhora a motivação
para a mudança e estimula a participação pró-ativa do paciente na recuperação. A
psicoeducação deve ocorrer com qualquer aspecto importante na vida do paciente, cujas
informações insuficientes ou distorcidas devem ser corrigidas.
O terapeuta pode utilizar todos os recursos técnicos e didáticos que tiver disponível;
sejam recursos audiovisuais, artísticos, manuais, ou outros que sua criatividade lhe permitir
(ITO, 2001).
Registro de pensamentos disfuncionais (RPD)
De acordo com Knapp (2004), grande parte do trabalho de identificar, examinar e
modificar cognições utiliza o RPD, originalmente formulado por Aaron Beck (1979) e
modificado por Judith Beck (1995).
Treinar o paciente e solicitar que ele registre seus pensamentos disfuncionais, no final
do dia ou, de preferência, ainda na vigência do desconforto psicológico, é técnica muito
utilizada na TCC (JUNIOR, 2004).
O preenchimento do RPD como tarefa de casa, no intervalo das sessões, oportuniza ao
paciente seguir identificando, avaliando e questionando seus pensamentos automáticos. E
permite ao terapeuta ter uma ideia do que realmente ocorre com seu paciente entre as sessões
(JUNIOR, 2004).
9
Questionamento Socrático
O Questionamento Socrático constitui a ferramenta principal e mais concreta para
corrigir pensamentos disfuncionais (crenças distorcidas), buscando uma ‘maneira’ mais
adaptada, racional e realista de interpretar os estímulos e a realidade da pessoa (ANDRADE,
2007).
Deve ser feito, a partir da identificação e registro dos pensamentos disfuncionais,
encorajando o paciente a avaliá-los, por meio de perguntas que o levam a pensar e, dessa
forma, ter clareza e tomar decisões racionais a partir de suas próprias conclusões
(CORDIOLI, 2008).
O questionamento socrático pode ser útil
para pacientes que acreditam
demasiadamente no poder do pensamento (fusão de pensamento e ação, pensamento mágico)
ou na necessidade de controlá-lo. Tais pacientes expressam o medo de se tornar o contrário:
sujos, agressivos, ateus ou com algum desvio de caráter (SALKOVSKIS et al,. 1999, apud
KNAPP, 2004).
O questionamento pode ser feito utilizando-se diferentes estratégias que foram
adaptadas para o TOC (busca de evidências e explicações alternativas, torta da
responsabilidade, questionamento do duplo padrão, duas teorias, questionamentos específicos
para cada domínio de crenças, testes comportamentais, etc.).
A técnica das duas teorias (A e B)
Segundo Salkovskiset al,. (1998 apud KNAPP, 2004), uma das formas de mudar uma
interpretação errônea (de um sintoma, situação ou pensamento) é assessorar a pessoa a
construir e testar uma explicação alternativa coerente, menos ameaçadora e aflitiva,
modificando a forma como o paciente interpreta a ocorrência e o conteúdo dos pensamentos e
impulsos intrusivos e levando-o a encará-los de forma mais realística. Isso pode ser feito pelo
terapeuta ao propor e sugerir a testagem de explicações alternativas.
Ainda de acordo com Salkovskiset al,. (1998 apud KNAPP, 2004):
Há duas teorias alternativas para explicar o que ocorre:
1) Teoria A: Você está de fato contaminado e precisa se lavar porque podecontaminar sua
família e ser responsável por doenças e, quem sabe, pelamorte de familiares.
10
2) Teoria B: Você é uma pessoa muito sensível a medos de sercontaminado e reage a esses
medos de uma forma que compromete suavida: fazendo um excesso de lavagens seguidas.
Automonitoramento
De acordo com Leahy (1996, apud KNAPP, 2004) a intervenção terapêutica mais
simples e menos intrusiva é o automonitoramento.
O automonitoramento pode trazer uma série de informações ao paciente e ao
terapeuta: 1) como o tempo é usado, 2) variações do humor associadas com emoções e
pensamentos; além disso, traz os efeitos benéficos de: 3) aumentar a consciência do paciente
sobre o que está fazendo, pensando, sentindo, e 4) esse aumento da consciência pode ampliar
o autocontrole do paciente (LEAHY 1996, apud KNAPP, 2004).
Exposição e prevenção de respostas
A Terapia de Exposição e Prevenção de Rituais tem-se mostrado muito eficaz na
eliminação dos sintomas do TOC. Ela está fundamentada exatamente nas modalidades de
aprendizagem do indivíduo, especialmente através da habituação. Utilizando-se a habituação
pode-se levar o paciente de TOC a abster-se de evitar ou de executar os rituais neutralizadores
dos pensamentos obsessivos (ANDRADE, 2007).
De acordo com Cordioli (2008), a exposição consiste no contato direto ou na
imaginação com objetos, lugares ou situações que, na realidade, não são perigosos, mas que a
pessoa evita em razão do medo, aflição ou nojo que o contato provoca.
O principal efeito da exposição é o aumento da ansiedade, que pode chegar a níveis
elevados nos exercícios iniciais e a cada exercício os níveis de ansiedade vão diminuindo e a
necessidade de realizar rituais se tornam menores, podendo até desaparecer por completo
(CORDIOLI, 2008).
Já a Prevenção de Respostas (ou dos rituais) é a abstenção, do paciente, de realizar
rituais, compulsões mentais, ou outras manobras, destinadas a aliviar ou neutralizar medos ou
desconfortos associados às obsessões (CORDIOLI, 2008).
As tarefas devem ser claras e operacionais: não lavar as mãos ao chegar em casa da
rua, verificar a porta apenas uma vez antes de deitar, demorar no máximo 10 minutos no
banho, sentar diariamente durante 30 minutos na cama com a roupa da rua (CORDIOLI,
2008).
11
Assim como ocorre com a exposição, a prevenção da resposta provoca um incremento
inicial de ansiedade, que desaparece espontaneamente com o passar do tempo, reduzindo a
intensidade do impulso a realizar rituais e, consequentemente, sua frequência (RACHMAN et
al, 1976, apud KNAPP, 2004).
Modelação
É a realização por parte do terapeuta de um comportamento desejado em frente ao
paciente, de forma a encorajá-lo a fazer o mesmo. Uma vez que a simples observação de
outras pessoas fazendo tarefas consideradas de risco é uma forma de reduzir ou desaprender
medos (CORDIOLI, 2008).
Segundo Cordioli 2004, os exercícios servem para ilustrar de forma didática o
fenômeno da habituação, pois, em geral, a ansiedade, intensa no início, desaparece
rapidamente ainda no decorrer da sessão.
Experimentos comportamentais
Uma forma muito eficiente de corrigir crenças distorcidas é testando-as na prática.
Solicita-se ao paciente que descreva um erro (por exemplo, fazer um depósito numa conta
bancária errada) e questiona-se as consequências que imagina que possa ocorrer.
Posteriormente, o paciente fará um experimento e a comparação entre o que aconteceu de fato
e o que havia imaginado (SALKOVSKIS et al,. 1998 apud KNAPP, 2004),
CONCLUSÃO
Tendo em vista o que foi apresentado e discutido nesta revisão bibliográfica,
verificamos que a TCC é, possivelmente, uma abordagem terapêutica benéfica para o
tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, por utilizar técnicas que atuam na correção
dos pensamentos e crenças disfuncionais, já que pacientes com TOC acreditam
demasiadamente no poder dos seus pensamentos. Assim como utiliza técnicas
comportamentais que proporcionam mudanças nas compulsões ou comportamentos
repetitivos do paciente.
12
Essas técnicas propõem-se a identificar, corrigir e testar conceitos distorcidos e
contribuir para que o paciente através da correção dos pensamentos e crenças possa superar
situações que lhe trazem sofrimento.
No entanto, novos estudos deverão avaliar melhor a eficácia da TCC para o transtorno
obsessivo-compulsivo, ampliando o leque de técnicas disponíveis para o tratamento.
ABSTRACT
Anxiety disorders are among the most prevalent mental illnesses today. Among these is the
obsessive-compulsive disorder, which affects about 2.5% of the general population. It is
considered a severe mental disorder because its symptoms usually begin in late adolescence,
being rare start after age 40. People with this disorder have significant losses in many aspects,
especially in social and family relationships and occupational performance. The aim of this
review is to identify and present some of the cognitive-behavioral techniques most often used
to treat Obsessive-Compulsive Disorder. This literature review was performed by searching in
books, magazines and journals collected in electronic databases as SCIELO, MEDLINE and
LILACS. A Cognitive-behavioral therapy is an benefic approach for the treatment of
obsessive-compulsive disorder by using techniques that work in correcting the dysfunctional
thoughts and beliefs, as well as behavioral techniques that provide changes in repetitive
behaviors
or
compulsions
patient.
KEYWORDS: Obsessive-compulsive disorder, Cognitive-Behavioral Treatment Review.
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