UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – ICB DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO A ATUAÇÃO DA FAMILIA NA ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA Larissa Aparecida de Oliveira Rafaela Caroline Ladislau Nery Assunção Sthefany Aparecida Lacerda Xênia Martins Silva Juiz de Fora 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – ICB DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO A ATUAÇÃO DA FAMILIA NA ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA Larissa Aparecida de Oliveira Rafaela Caroline Ladislau Nery Assunção Sthefany Aparecida Lacerda Xênia Martins Silva Trabalho apresentado para avaliação na disciplina de Introdução à nutrição, do curso de nutrição, turno diurno, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ministrado pelo professor Renato Moreira Nunes. Juiz de Fora 2010 Lista de tabelas TABELA 1 - Critérios diagnósticos para Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa pelo DSM- IV e pela CID-10..................................................................................................................... 8 TABELA 2 -Características demográficas e socioeconômicas de estudantes de nutrição do sexo feminino (n- 186). Santa Maria (RS), 2006....................................................................10 TABELA 3- Fatores predisponentes......................................................................................11 TABELA 4 - Fatores mantenedores.......................................................................................15 TABELA 5 - Modelo de diário alimentar..............................................................................17 Sumário 1. Resumo e introdução........................................................................................................4 2. Conceitos............................................................................................................................5 2.1 Anorexia nervosa.................................................................................................................5 2.2 Bulimia nervosa............................................................................................................6 3. O gênero e suas faixas etárias mais atingidas..................................................................7 4. Etiologia..............................................................................................................................8 4.1Fatores predisponentes....................................................................................................8 4.2 Fatores precipitantes.......................................................................................................9 4.3Fatores mantenedores......................................................................................................9 5. Reabilitação nutricional na anorexia nervosa..................................................................16 6.Reabilitação nutricional na bulimia nervosa................................................................18 7. Conclusão..........................................................................................................................20 8. Referências bibliográficas................................................................................................21 1. Resumo O objetivo geral do estudo é mostrar como desencadeia os TA, focando nos principais fatores que acarretam AN e BN. Introdução Os transtornos alimentares são determinados por uma diversidade de fatores que correlacionampara produzir e muitas vezes perpetuar as doenças. O gênero mais atingido pelos TA é o feminino devido a preocupação excessiva com a imagem corporal. Os fatores que influenciam no desenvolvimento da anorexia nervosa e bulimia nervosa são nomeados como predisponentes, precipitantes e mantenedores. O tratamento se baseia em duas fases a educacional e a experimental. 2. Conceitos 2.1 Anorexia nervosa: Deriva do grego “orexis” (apetite) acrescido do prefixo “an” (privação ausência). Portanto significa uma perda de apetite de origem nervosa. Entretanto, profissionais especializados no tema afirmam que essa não é a expressão mais adequada, pois, pelo menos no inicio do quadro é possível identificar uma luta contra a fome(Jaeger de Souza apud Ida, 2008). As primeiras referências a essa condição surgem com o termo fastidium em fontes latinas da época de Cícero (106-43 a.C) e vários textos do século XVI. Já a denominação mais especifica “anorexia nervosa” surgiu de 1873, referindo-se á “forma peculiar de doença” que caracteriza-se por emagrecimento externo [...] "cuja" falta de apetite é [..] decorrente de um estado mental mórbido e não a qualquer disfunção gástrica [...]. Atualmente o termo “anorexia” não é utilizado em seu sentido etimológico para a “anorexia nervosa”, visto que tais pacientes não apresentam real perda de apetite até estágios mais avançados da doença, mas sim uma recusa alimentar deliberada, com intuito de emagrecer ou por medo de engordar. A anorexia nervosa leva a caquexia, devida à recusa alimentar, chegou ao final do século XX, após diversa concepções, como síndrome especifica com características clinicas distintas, que se manifesta de maneira semelhantes em diversas regiões do globo. Diversos critérios operacionais foram propostos para AN, a maioria deles englobando basicamente: • comportamentos visando a perda de peso e sua manutenção a baixo do normal; • medo de engordar; • distúrbio de imagem corporal e • distúrbio endócrino (ex: amenorreia) O medo intenso ou mórbido de engordar representa o aspecto psicopatológico central da anorexia, mantendo-se sem modificações por décadas. A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa á custo de dietas rígidas auto impostas em busca desenfreada da magreza. De acordo com o DSM-IV (APA apud Filho, 2009), a anorexia nervosa (AN) caracteriza-se por: a) recusa em manter o peso mínimo normal adequado á idade e a altura ou acima deste; b)medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, mesmo com peso inferior ao esperado; c)perturbação no modo de vivenciar o peso, tamanho ou forma corporal. O peso ou formato corporal exercem influencia indevida na auto avaliação ou há negação da seriedade do baixo peso corrente; d)nas mulheres pós-menarca, ocorre amenorreia, isto é, a ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos, quando é esperado ocorrer o contrário. 2.2 Bulimia nervosa: Trata-se da ingestão de uma grande quantidade de alimento alternado com comportamentos para evitar o ganho de peso tais como vômitos e uso de laxantes. Desde a primeira descrição da Bulimia Nervosa (BN) por Gerald Russell (apud Cordás, 2002), o conhecimento deste quadro como entidade nosológica distinta tem avançado rapidamente, graças à proliferação de grupos de pesquisa em vários países. Este fato é, principalmente, reflexo da importância clinica e epidemiológica que a BN vem demonstrando, superando em numero de publicações, o interesse pela sua “irmã mais velha”, a Anorexia Nervosa. Para distinguir AN da BN são usados os seguintes critérios: 1. impulso irresistível de comer excessivamente; 2. evitação dos efeitos “de engordar” da comida pela indução de vômitos e/ou abuso de purgativos, e 3.medo mórbido de engordar. O aspecto principal da BN é a presença de episódios bulímicos com relatos de ingestão média de três a quatro mil calorias por episódio, mas já foram descritos episódios com uma ingestão de até 20 mil calorias (Mitchell et al, 1998). Segundo o DSN-IV (American Psychiatric Association, apud Filho, 2009), a bulimia nervosa caracteriza-se por: a) episódios de “Binge-eating” recorrentes; b)empenho recorrente em comportamentos compensatóriosinadequados para prevenir o ganho de peso, tais como; uso de diurético, enemas ou outros medicamentos; dietas restritivas, jejum ou exercícios excessivos. c)os episódios de “Binge- eating” e comportamentos compensatórios inadequados devem ambos ocorrer, d)a em auto média, avaliação pelo é menos duas inadequadamente vezes por influenciada semana pelo peso durante e três formato meses; corporal; e)o distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa. O episodio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para emagrecer. Portanto, embora classificados separadamente, apresentam uma etiologia comum no que diz respeito á excessiva preocupação com o peso. Tabela 1 - Critérios diagnósticos para Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa pelo DSM-IV e pela CID-10 Anorexia Nervosa Perda de peso e recusa em manter o peso dentro da faixa normal Perda de peso e manutenção abaixo do normal (IMC ≤17,5 kg/m2) (≥85% do esperado) Medo mórbido de engordar mesmo estando abaixo do peso Perda de peso auto induzida pela evitação de alimentos que engordam Perturbação na forma de vivenciar o baixo peso, influência indevida do peso Medo de engordar e percepção de estar muito gorda(o) Sobre a auto avaliação e negação do baixo peso Amenorreia por 3 ciclos consecutivos Distúrbio endócrino envolvendo o eixo hipotálamohipofisário-gonadal (amenorreia) e atraso desenvolvimento puberal Subtipos: vômitos auto induzidos, purgação e uso de inibidores do apetite e/ou 1.restritivo (dieta e exercícios apenas) diuréticos podem estar presentes 2.compulsão periódica/purgativo (presença de episódios de compulsão e/ou purgação além da dieta, exercícios) Bulimia Nervosa Episódios recorrentes de compulsão alimentar (excesso alimentar + perda de Episódios recorrentes de hiperfagia (duas vezes/semana por três meses), (controle) preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de comida Métodos compensatórios para prevenção de ganho de peso: indução de Uso de métodos compensatórios para neutralizar ingestão calórica: vômitos, vômitos, uso de laxantes, diuréticos, enemas, jejum, exercícios excessivos abuso de laxantes, jejuns ou uso de drogas (anorexígenos, hormônios ou outros tireoidianos ou diuréticos)* Frequência dos episódios compulsivos e compensatórios: em média pelo menos Medo de engordar que leva a busca de um peso abaixo do limiar ótimo ou duas vezes/semana por três meses saudável Influência indevida do peso/forma corporal sobre a auto avaliação *diabéticas podem negligenciar o tratamento insulínico (evitando a absorção da glicose sanguínea) Diagnóstico de AN ausente Subtipos: 1. Purgativo – vômitos induzidos, abuso de laxantes, diuréticos ou enemas 2. Não purgativo - apenas jejum e exercícios para compensar ingestão calórica 3.O gênero e suas faixas etárias mais atingidas O medo obsessivo da obesidade faz com que cada vez mais mulheres controlem o peso corporal, o gênero feminino, geralmente, é o mais vulnerável à aceitação das pressões sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos e, por isso, mais suscetíveis aos transtornos alimentares representando 95% dos casos. A sociedade rejeita, discrimina e reprova pessoas obesas. As formas mais descritas na literatura são: anorexia nervosa (AN), a bulimia nervosa (BN) e o transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP). A prevalência de bulimia nervosa clinicamente significativa em estudantes universitárias é muito maior do que a observada na sociedade, correspondendo a aproximadamente 4,0% 8.10. A anorexia nervosa é considerada rara, visto que a prevalência em mulheres jovens é de 0,5% 11. Os homens também são acometidos, mas em proporções menores, representando apenas 10% dos casos dos TA, os homens estão méis satisfeitos com seu corpo e os percebem com menos distorção. Estudos epidemiológicos demonstram que os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros psiquiátricos que tem impacto principalmente em adolescentes e jovens adultos do sexo feminino, levando a prejuízos biopsicossociais significativos e com elevadas taxas de mortalidade e morbilidade. Os TAs podem ser encontrados em atletas de alto nível, ginastas, jóqueis e corredores olímpicos colocam-se ao lado de bailarinas profissionais entre as populações de maior prevalência. Tabela 2- Características demográficas e socioeconômicas de estudantes de nutrição do sexo feminino (n- 186). Santa Maria (RS), 2006. Faixa etária Idade (em anos) 17 - 20 21 - 25 26 - 30 Estudantes n % 69 94 18 38,0 50,0 10,0 31 - 41 Cor Branca Negra Mulata Amarela Renda familiar (emsalários mínimos) 1 até 5 5 até 10 10 até 15 15 até 20 Acima de 20 Estado civil Solteira Casada Divorciada Total 5 2,0 174 1 5 6 93,0 0,5 3,0 3,0 41 64 46 22 13 22,0 34,0 25,0 12,0 7,0 170 13 3 91,0 7,0 2,0 186 100,0 4. Etiologia A anorexia e a bulimia nervosa têm uma etiologia multifatorial, ou seja, determinados não só por um mais por vários fatores que interagem entre si de forma complexa. Esses fatores são divididos em: fatores predisponentes são aqueles que aumentam a chance de aparecimento do transtorno alimentar, mas não o torna inevitável; os fatores precipitantes que marcam o aparecimento dos sintomas do TA; e os fatores mantenedores que definem se o TA será perpetuado ou não. 4.1 Fatores predisponentes Tabela 3 - Fatores predisponentes Individuais Traços de Personalidade Baixa autoestima Traços obsessivos e perfeccionistas (AN) Impulsividade e instabilidade afetiva (BN) História de Transtornos Psiquiátricos Depressão Transtornos da ansiedade (AN) Dependência de substâncias (BN) Tendência à Obesidade Alterações da Neuro-transmissão Vias noradrenérgicas Vias serotoninérgicas Eventos Adversos Abuso sexual Familiares Agregação Familiar Hereditariedade Padrões de Interação Familiar Rigidez, intrusividade e evitação de conflitos (AN); Desorganização e falta de cuidados (BN) Socioculturais Ideal Cultural de Magreza Como mostra a tabela os fatores predisponentes te m como características, baixa autoestima, obsessividade, perfeccionismo, passividade e introversão são comuns em pacientes com (AN) permanecem estáveis após a recuperação do peso. As características da BN são diferentes: sociabilidade, comportamento gregário de risco e impulsividade. Esses traços são consistentes com o descontrole e a purgação (MORGANᵃ et al, 2002). 4.1.1 Fatores individuais Tendência à obesidade A tendência à obesidade pode aumentar a pressão sociocultural pela magreza, afetar a autoestima e aumentar a prática de dietas restritivas, causando a vulnerabilidade para o aparecimento de um TA (MORGANᵃ et al, 2002). Eventos adversos Diversos estudos já sugeriram que experiências sexuais adversas podem ser fatores importantes na etiologia dos TA. (Fairburn apud Morgan et al,2002). O abuso sexual pode ser considerado, fundamentando-se em (Connorsapud Lourenço et al, 2010), que a perda significativa de peso em alguns indivíduos com experiência de abuso sexual poderá significar um desejo de ser fisicamente pouco atraente, e consequentemente evitar contatos sexuais (Gonçalves, S. apud Lourenço et al 2010). 4.1.2 Fatores na família e hereditariedade Há a probabilidade de indivíduos com AN e BN terem parentes de primeiro grau que já tiveram um dos TA cerca de 6% a 10% afirma (Gleitman, H et al apud Lourenço 2010), isso é chamado também de agregação familiar. Parentes em primeiro grau de indivíduos com AN apresentam chance 11 vezes maior de desenvolver o transtorno do que parentes de indivíduos saudáveis. Para a BN, o risco é 4 vezes maior(Strober apud Morgan, 2002). Os estudos de agregação familiar dos TA implicam que há mecanismo de transmissão da doença das famílias. Fatores genéticos têm sua importância, embora existam evidências demonstrando a participação de fatores ambientais específicos na transmissão da doença. (Morganᵃ et al, 2002). Um estudo longitudinal, que avaliou recém-nascidos e seus pais no que diz respeito aos fatores preditivos de problemas alimentares na infância, (Agras apud Morgan et al, 2002) demonstrou que a insatisfação corporal da mãe, a internalização do ideal de magreza, o comportamento de fazer dieta, os sintomas bulímicos e maior índice de massa corporal da mãe e do pai podem aumentam a chance de aparecimento de problemas alimentares na infância, o que pode aumentar o risco para TA no futuro.(Morgan et al, 2002). As anoréxicas nos seus relatos caracterizam suas famílias como estáveis, não conflituosas, coesas e com afeto e carinho. (Gonçalves, S. apud Lourenço, 2010) por outro lado, (MINUCHIN et al. Apud Lourenço, 2010) define as famílias das pacientes com AN com esta perturbação alimentar como emaranhadas, onde existe um excessivo envolvimento e proteção, comprometendo assim a individualização e controle da criança e do adolescente, e onde os membros são poucos autônomos. São também rígidas na sua organização, apresentando poucas fronteiras interpessoais, e tendendo a evitar discussões abertas ou discórdia entre os seus membros e ainda sendo caracterizadas pela excessiva proteção e dificuldades nas fronteiras entre os seus membros (Gonçalves, S. apud Lourenço, 2010). Já os pacientes bulímicos descrevem suas famílias como mais perturbadas, mal organizadas e se queixam da falta de afeto e cuidados, características confirmadas pela observação externa. Contudo não é certo se tais características estão presentes antes ou depois do estabelecimento do transtorno. (Lask apud Morgan, 2002) O papel das mães na formação da opinião de seus filhos quanto ao valor da aparência, do peso da forma corporal também foi investigado (Morgan et al, 2002). Mães de pacientes com TA tendem a ser mais criticas e preocupadas com relação ao peso de suas filhas, incentivando-as a fazer dietas mais do que a s mães de filhas sem TA (Gowers apud Morgan, 2002).(Ricciardelli & McCabe apud Morgan, 2002) afirmam que a pressão exercida pela mãe é o principal fator preditivo de insatisfação corporal e do engajamento em estratégias para modificar o corpo em adolescentes de ambos os sexos. 4.1.3 Fatores socioculturais Mudanças na disponibilidade e no significado dos alimentos, mudanças no conceito de beleza e supervalorização da magreza tem sido discutidos e considerados parte importante na etiologia dos TA. A visão do alimento, unicamente, como fonte de energia e nutrientes tornou obsoleta sua importância emocional e social na vida das pessoas (Alvarenga apud Cordás, 2004). O padrão de beleza veiculado pelos meios de comunicação e pelo convívio social (família e amigos), parecem exercer um efeito marcante principalmente sobre as mulheres. 4.2 Fatores precipitantes A dieta para emagrecer é o fator precipitante mais frequente nos TA, sendo um comportamento comum nas sociedades ocidentais, onde predomina o ideal de magreza. (Morgan et al 2002). A dieta para produzir um dos TA tem que interagir com um dos fatores já citados. Embora não seja possível especificar como os fatores de risco se combinam para gerar a AN em alguns indivíduos e a BN em outros, o desenvolvimento da BN parece estar associado também a uma propensão para a obesidade e para a dificuldade no controle de impulsos. (Hsu apud Morgan, 2002). Evento estressores Tanto a AN como a BN parecem ser precedidas por uma maior frequência de eventos estressores quando comparadas a controles normais. Eventos como gravidez, separações, perdas, doença, etc. podem ter um papel desencadeador na BN por reforçar sentimentos de insegurança e inadequação. (Welch apud Morgan, 2002) O impacto que os eventos podem ter sobre a patogênese dos TA depende dos recursos que cada indivíduo possui para responder aos mesmos.Assim, indivíduos com AN tendem a ter mais resistência diante de uma crise do que indivíduos com BN que apresentam mais ruminações cognitivas. 4.3 Fatores mantenedores Fatores psicológicos, interpessoais e culturais também atuam perpetuando o transtorno. Não se pode esquecer, por exemplo, dos aspectos reforçadores produzidos pelo sucesso em controlar o pesotão valorizados culturalmente- em indivíduos que costumam vivenciar sentimentos de baixa autoestima e sensação de falta de controle e sobre a própria vida. Tabela 4 - Fatores mantenedores Fisiológicos Privação alimentar favorece episódios de compulsão alimentar Episódios de compulsão alimentar interferem no metabolismo da glicose e insulina Psicológicos Privação alimentar desencadeia pensamentos obsessivos sobre comida e maior necessidade de controle Culturais Magreza vista como símbolo de sucesso 5.Reabilitação nutricional na anorexia nervosa Os pacientes com AN apresentam uma série de dificuldades para lidar com alimento, medo, crenças errôneas e distorções sobre alimentação e nutrição. Os pacientes costumam afirmar ter grandes conhecimentos sobre alimentação, mas tais “conhecimentos” estão restritos a conteúdo calórico e dietas de emagrecimento. A terapia nutricional deve ajudar o paciente a entender suas necessidades nutricionais, bem como ajudar a iniciar uma escolha alimentar por meio de um aumento da variedade na dieta e da prática de comportamentos adequados. Uma técnica efetiva envolve mudança das crenças errôneas e ajuda o paciente a ter percepções e interpretações mais adequadas de dieta, nutrição e relação entre inanição e sintomas físicos. O padrão dietético encontrado é de uma ingestão alimentar baixa em calorias e em nutrientes em geral quando comparados a controles; além disto, costumam não ter regularidade para suas refeições, com grande variabilidade de padrões dietéticos. Apesar deste padrão errôneo de alimentação, as deficiências de vitaminas e minerais são raras. Um guia de planejamento de refeições individualizado provê ajuda para a escolha de alimentos. É preciso tomar cuidado com a síndrome da realimentação: ela é caracterizada por hipofosfatemia grave e súbita, quedas súbitas em potássio e magnésio, intolerância a glicose, hipocalcemia, disfunção gastrointestinal e arritmias cardíacas. A retenção de água durante a realimentação deve ser antecipada e discutida com o paciente. A realimentação com alimentos é a primeira escolha para a recuperação do peso e é muito mais bem sucedida na recuperação a longo prazo. A meta principal é ajudar o paciente a normalizar seu padrão alimentar e aprender que a mudança de comportamento deve envolver planejamento e prática com alimento real.A reabilitação nutricional se propõe a alcançar uma dieta balanceada e suficiente para atender as necessidades do paciente e recuperar o estado nutricional debilitado pela doença feita de forma gradativa envolvendo diretamente o paciente e seusresponsáveis. As combinações são avaliadas pelas informações trazidas no diário alimentar, juntamente com o peso de cada atendimento eatravés dediscussõescom a equipe multidisciplinar. . Tabela 5 - Modelo de diário alimentar Data Horas O que? O que comeu e quanto Compulsão alimentar? Purgação Sentimento associado No início do tratamento com frequência semanal, o pacienteé atendido pelo nutricionista concomitantementee sempre que possível, com a presença de um psiquiatra e um psicólogo. Essa estratégia torna o atendimento mais completo e amplo, facilitandoa obtenção de informações sobre o curso da doença, comportamentos alimentares e purgativos envolvidos no quadro e estado emocional. É utiliza instrumentos de orientação alimentar como a Roda de Alimentos associado ao registro alimentar para acompanhar a evolução dietética, enfatizando a importância de uma alimentação saudável e equilibrada nos diversos grupos de alimentos para o restabelecimento das condições nutricionais. O nutricionista participa de todo processo de planejamento das refeições, ajudando o paciente a consumir uma dieta adequada e monitorando o balanço energético, assim como o ganho de peso. Deve-se ajudar o paciente a normalizar o seu padrão alimentar e aprender que a mudança de comportamento deve sempre envolver planejamento e o contato com os alimentos (ADA, 2001). 6. Reabilitação nutricional na bulimia nervosa Os objetivos da terapia nutricional na bulimia nervosa (BN) são: diminuir as compulsões, minimizar as restrições alimentares, estabelecer um padrão regular de refeições, incrementar a variedade de alimentos consumidos, corrigir deficiências nutricionais e estabelecer práticas de alimentação saudáveis (ADA, 1994; ADA, 2001; Latner & Wilson, 2001). A abordagem pode ser dividida em alguns pontos chave: a) educação sobre a BN, suas consequências e sobre alimentação e nutrição; b) redução da preocupação com peso e aumento da aceitação de seu próprio corpo; c) monitoramento da alimentação por meio do diário alimentar e; d) estabelecimento de um plano alimentar regular (Story apud Alvarenga, 2002). É interessante mostrar ao paciente quais são as recomendações de consumo de energia, para que ele possa perceber que o valor energético da maioria das dietas é inferior às necessidades. As consequências metabólicas da restrição devem ser explicadas aos pacientes. A doença usualmente tem como início uma dieta para emagrecimento em razão de excesso de peso real ou imaginário. É importante, portanto, conhecer as dietas já realizadas pelo paciente, bem como suas crenças, tabus e/ou restrições alimentares. Pacientes com BN possuem imensa insatisfação corporal, sendo que alguns também têm distorção da imagem corporal (Cash e Deagle apud, 1997), o que deve ser trabalhado em uma intervenção nutricional. O nutricionista deve pesar o paciente regularmente. É comum ocorrer retenção de fluidos quando o paciente reduz o consumo de diuréticos e/ou laxantes e a prática de vômitos. Deve ser explicar que este aumento é transitório e não corresponde a um aumento da adiposidade (Gendall et al., apud Latterza, 2004). Também deve ser discutido qual é o peso ideal para o paciente, com base na sua compleição física e histórico de peso. É importante que o paciente compreenda que o peso ideal é determinado em função da sua saúde, e não de padrões de beleza ou exigências pessoais desmedidas. As técnicas utilizadas no tratamento objetivam a normalização do padrão alimentar e o desenvolvimento de estratégias para controle de episódios de compulsão alimentar e dos comportamentos compensatórios. O tratamento nutricional deve visar à promoção de hábitos alimentares saudáveis, a cessação de comportamentos inadequados (como a restrição, a compulsão e a purgação) e a melhora na relação do paciente para com o alimento e o corpo. Conclusão Ao analisarmos a família como uma forma de influência na anorexia nervosa e bulimia nervosa podemos concluir que a mesma não é um fator mantenedor e nem precipitante dos transtornos alimentares e sim um fator predisponente com a capacidade apenas de aumentar a chance do aparecimento dos TAs, mas não o torna inevitável. Referências bibliográficas ABREU, Cristiano N.; FILHO, Raphael C.Anorexia nervosa e bulimia nervosa –abordagem cognitivoconstrutivista de psicoterapia.Revista de Psiquiatria Clinica v. 31 (4): p.177-183, 2004. ALVARENGA, Marle; LARINO, Maria A. Terapia nutricional na anorexia e bulimia nervosas.Revista Bras. Psiquiatria v.24 (Supl. III): p. 39-43, 2002. APPOLINARIO, Jose C.; BACALTCHUK, Josue. Tratamento farmacológico dos transtornos alimentares.Revista Bras. Psiquiatria v.24 (Supl. III): p.54-9, 2002. CLAUDINO, Angélica de M.; BORGES, Maria B. F. Critérios diagnósticos para os transtornos alimentares: conceitos em evolução.Revista Bras. 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