UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE EMPREGO DOS ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA NA COLITE DE DERIVAÇÃO FECAL: ESTUDO EM RATOS WISTAR ARIANO JOSÉ FREITAS DE OLIVEIRA Natal/RN 2011 i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE EMPREGO DOS ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA NA COLITE DE DERIVAÇÃO FECAL: ESTUDO EM RATOS WISTAR TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE, COMO PARTE DOS REQUESITOS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR Ariano José Freitas de Oliveira Orientador: Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Ramos Natal/RN 2011 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Coordenadora: Profa. Dra. Técia de Oliveira Maranhão Natal/RN 2011 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE EMPREGO DOS ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA NA COLITE DE DERIVAÇÃO FECAL: ESTUDO EM RATOS WISTAR Banca examinadora: Presidente da Banca: Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Ramos Membros da Banca Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Ramos Prof. Dr. Hélcio de Sousa Maranhão - Membro Interno Prof. Dr. Irami Araújo Filho - Membro Interno Profa. Dra. Daurita Darci de Paiva - Membro Externo Profa. Dra. Maria Goretti Freire de Carvalho - Membro Externo Natal iv 2011 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Aproniano Martins de Oliveira “in memorian” e Felisbela Freitas de Oliveira que souberam moldar minha personalidade, definindo o meu caráter, nutrindo o senso de responsabilidade e comprometimento com o meu futuro, tendo como base a família e o respeito ao próximo. A minha esposa, Luciana Mirella Ferreira Lima de Oliveira que, com o seu imenso amor, soube tolerar minhas inconstâncias de humor, guiando com firmeza o nosso lar e nosso maior patrimônio: nossos filhos; servindo, ainda, de porto seguro ao meu coração e a minha alma, muitas vezes angustiada com tantas responsabilidades. Aos meus filhos, Daniel Victor e Ana Letícia, que souberam compreender as ausências do pai, sabendo eles que fora eu mesmo quem mais perdeu com essas ausências. Aos meus irmãos, Aproniano Jr., Adriano, Álisson, Isabela e Isa Maria que, nos detalhes da vida, souberam me ensinar muito sobre relação interpessoal, fortalecendo sobremaneira o meu caráter. v AGRADECIMENTOS Aos pacientes que, no dia a dia de meu trabalho, nutriram em meu ser científico a necessidade de consolidar hipóteses, viabilizando a melhoria em suas vidas, e o regresso precoce ao seu leito familiar. À Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Ramos que, com seu comprometimento, compreensão, conhecimento e discernimento, soube conduzir com maestria a evolução deste trabalho. Ao Prof. Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Júnior que gerou, nutriu e perpetuou o olhar científico em meu ser, sabendo como ninguém me apoiar nos momentos de angústia e desilusão, bem como abrindo portas que tendiam sempre a se manter fechadas, permitindo, desta forma, a concretização deste sonho e, acima de tudo, soube me fazer ver o superficial e enxergar o profundo da vida. Ao colega Wogelsanger Oliveira Pereira que, com dedicação plena e desprovido de qualquer interesse, auxiliou na execução do trabalho, ao prover, com seu conhecimento técnico, a solução utilizada no presente trabalho. Ao Prof. Dr. José Brandão Neto sempre atencioso, compreensível e atuante na arte de orientar àqueles que o procuram, com intenções de melhorar o conteúdo e a adequação do periódico para publicação. Foi de grande valia seus préstimos na concretização de meus sonhos. vi A Profa. Dra. Maria Célia Carvalho Formiga que sempre me auxiliou e orientou nas questões relacionadas à estatística. A Syomara Pereira da Costa Melo patologista responsável pela análise de todas as peças cirúrgicas do trabalho, sempre demonstrando comprometimento e profissionalismo na execução de seus trabalhos. À coordenação e aos funcionários do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA) do Centro de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que nos propiciaram a concretização deste sonho. vii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CD Colite de Derivação Fecal AGCC Ácidos Graxos de Cadeia Curta DPO Dia de Pós-Operatório HE Hematoxilina-Eosina PNE Polimorfonucleares Eosinófilos MALT Mucosa-Associated Lymphoid Tissue (Tecido Linfóide Associado à Mucosa) 5-ASA Ácido Acetil Salicílico DNA Deoxyribonucleic Acid (Ácido Desoxirribonucléico) RNA Ribonucleic Acid (Ácido Ribonucléico) RCU Retocolite Ulcerativa PPGCSA Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde viii ix SUMÁRIO Dedicatória .......................................................................................................... Agradecimentos ................................................................................................. Lista de Siglas e abreviaturas ........................................................................... Resumo ............................................................................................................... 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 3 3. ANEXAÇÃO DO ARTIGO............................................................................ 16 4. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES ............................................. 23 5. APÊNDICE ................................................................................................... 31 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 37 7. ABSTRACT .................................................................................................. 49 x RESUMO Colite de derivação fecal (CD) é um processo inflamatório crônico que acomete o segmento intestinal desfuncionalizado, após a confecção de colostomia. Postula-se que a deficiência nutricional do epitélio colônico pela ausência de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) seja um dos fatores responsáveis pelo surgimento da CD e que o emprego deles poderia reverter as alterações morfológicas da mucosa. O tratamento de eleição para a colite por derivação fecal (CD) é a reconstrução do trânsito intestinal, embora sejam sugeridas terapêuticas opcionais empregando enemas. O presente estudo visou estudar o efeito dos AGCC na atrofia e inflamação de segmentos colônicos excluídos, antes e depois da instalação da CD. Quarenta ratos Wistar foram divididos em quatro grupos (n=10 para cada grupo), todos submetidos a colostomia com exclusão do cólon distal. Nos dois grupos controle instilou-se solução salina 0,9% por via retal (grupos A1 e B1) e nos dois grupos teste (grupos A2 e B2) AGCC foram instilados por via retal. O grupo A foi submetido a intervenção profilática, entre o 5º e o 40º dia de pós-operatório (DPO), enquanto o grupo B foi submetido a intervenção terapêutica a partir o 40º DPO, durante 07 dias. Secções histológicas coradas com HE foram usadas para análise histológica da espessura da mucosa do cólon excluído (t de Student com p0,05). Reação inflamatória da lâmina própria e mucosa foi quantificada com escores previamente estabelecidos (teste de Mann Whitney p+RXYHVLJQLILFDQWH recuperação da espessura da mucosa colônica dos animais do grupo B2 (p=0,0001), que, também, apresentou significativa redução da presença de xi polimorfonucleares eosinófilos (PNE) na lâmina própria (p=0,0126) e na luz intestinal (p=0,0256). O Grupo A2 não preveniu a atrofia da mucosa e mostrou significativo aumento do número de linfócitos (p = 0.0006) e da quantidade de PNE na lâmina própria da mucosa (p = 0.0022). Concluiu-se que o emprego terapêutico de AGCC reduz significativamente o número de polimorfonucleares eosinófilos na parede intestinal e na luz do cólon, e também reverte a atrofia da mucosa colônica. Entretanto, o emprego profilático dos AGCC não impede o desenvolvimento da atrofia da mucosa. Palavras-chave: Colostomia, Ácidos graxos de cadeia curta, Colite de derivação fecal, Tratamento, Profilaxia xii xiii 1. INTRODUÇÃO A colostomia é um procedimento amplamente empregado na cirurgia coloproctológica, sendo indicada para pacientes acometidos por patologias traumáticas, obstrução intestinal, neoplasias, processos inflamatórios do cólon terminal, e outras alterações intestinais que demandem o desvio do trânsito1. Após a confecção de uma colostomia o segmento intestinal desfuncionalizado passa a apresentar alterações inflamatórias, denominando-se tal entidade nosológica de colite de derivação fecal (CD)2-5. O quadro clínico da CD é pobre e, na grande maioria, os pacientes são assintomáticos6,7. Dentre muitas hipóteses postuladas para explicar o desenvolvimento da CD pode-se destacar a deficiência nutricional do epitélio colônico pela ausência de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)2. A deficiência de AGCC, todavia, é capaz, não só de modificar o metabolismo dos colonócitos, diminuindo a vida média das células das criptas colônicas e a espessura da mucosa intestinal do cólon, como também de alterar a permeabilidade da barreira da mucosa das células epiteliais 8. O tratamento de eleição para a CD é a reconstrução do trânsito intestinal, após a qual, a inflamação resolve-se, na maioria dos casos5,7,9-11. No entanto, alguns pacientes não podem se submeter à reconstrução precoce ou até mesmo tardiamente, e a esses pacientes, autores têm proposto novas modalidades de tratamento. Dentre essas modalidades, destaca-se o emprego dos AGCC no segmento desfuncionalizado. Alguns autores têm postulado que essa conduta reverte as alterações da CD9,12, embora outros estudos não tenham obtido o mesmo sucesso com o emprego dos AGCC, o que leva seus 1 autores a questionarem essa forma de tratamento13,14. Não há relato de avaliações quanto ao efeito profilático dos AGCC na CD. Diante do impasse exposto, motivamo-nos a testar a hipótese de que o emprego dos AGCC reverte a atrofia da mucosa e reduz o processo inflamatório, no coto colônico desfuncionalizado de ratos, além de avaliar sua ação profilática no surgimento da CD. Considerando, ainda, a importância de seu emprego nos pacientes impossibilitados de se submeterem a tratamento definitivo, a reconstrução do trânsito intestinal, justificamos a presente investigação experimental, multidisciplinar e prospectiva de intervenção. 2 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.2 COLITE DE DERIVAÇÃO FECAL 2.2.1 Definições e Aspectos Clínicos A CD é uma patologia com componente iatrogênico, visto que surge após um ato médico de desvio do trânsito intestinal. Tem como características próprias a presença de coto colônico desfuncionalizado e pode ter seu início a partir do 2º mês da operação (colostomia desfuncionalizante) ou até decorridos 13 anos. A incidência chega próximo a 100% dos pacientes avaliados prospectivamente, e não há evidência de doença inflamatória pregressa. O cólon proximal à colostomia não é acometido pela doença e tem na reconstrução do trânsito a resolução do seu processo10,15-18. Morson e Dawson, em 197215, descreveram pela primeira vez a CD, cujo interesse, no entanto, só aumentou a partir de 1981, quando foram descritos, por Glotzer et al., os achados clínicos e patológicos observados em 10 pacientes submetidos à colostomia desfuncionalizante16. Posteriormente, alguns estudos foram realizados na tentativa de melhor se compreenderem os mecanismos que originam a doença, como ela se comporta e qual a melhor terapia a ser empregada. Dentre esses trabalhos podemos destacar o de Murray et al., em 198718, que detalhadamente descreveu os aspectos histopatológicos dessa doença numa peça cirúrgica de um paciente que havia sido tratado previamente com colostomia devido a trauma abdominal. 3 A CD pode apresentar-se com sintomas que variam de descarga mucosa a sangramento e dor retal, tendo relatos, ainda, de tenesmo e diarréia, porém a grande maioria dos pacientes são assintomáticos6,19-23. 2.2.2 Hipóteses etiopatogênicas As reais causas envolvidas na gênese da CD são desconhecidas. As principais hipóteses para explicar a origem da CD são: a estase fecal, o supercrescimento bacteriano da flora colônica autóctone residual, a invasão do segmento excluído por organismos patogênicos e a deficiência nutricional do epitélio colônico caracterizada pela ausência de AGCC no coto colônico desfuncionalizado2,21,24. Relacionado à última hipótese, tem-se o trabalho publicado por Harig et al., em 1989, que relatam terem obtido melhora significativa, empregando AGCC via retal em 04 pacientes com sintomatologia acentuada9. 2.2.3 Diagnóstico A avaliação radiológica da CD pode ser feita com a radiografia simples de abdome, podendo ter como achado a presença de pneumatose intestinal25. Em exame radiológico com duplo contraste, os achados mais comuns são pólipos inflamatórios isolados e nodularidade difusa com ulcerações puntiformes superficiais na mucosa26. Estes últimos achados têm servido de critério para caracterizar a presença de hiperplasia folicular linfóide, que esteve presente em 30% dos pacientes que foram estudados por Lechner e cols27. A cintilografia tem sido citada por alguns autores como um método auxiliar no diagnóstico da CD, com o emprego de leucócitos marcados com 4 índio111, o qual detectaria a presença de agregados leucocitários nas áreas de inflamação28. Os achados endoscópicos estão alterados em 90% dos pacientes3. Pode-se encontrar mucosa friável e sangrante em 50% deles, podendo, ainda, nos casos moderados e intensos, evidenciar-se a presença de mucosa muito hiperemiada e com ulcerações profundas, exibindo tecido de granulação de permeio6. Korelitz e cols.29, em 1985, constataram a presença de friabilidade da mucosa, exsudato, nodularidade e lesões aftosas em seus pacientes examinados por sigmoidoscopia. Harig e cols.9, em 1989, descreveram um escore de graduação, através de achados endoscópicos na CD: eritema, granularidade, edema, friabilidade, e erosões da mucosa, foram graduados de acordo com a intensidade das lesões, ausência de alteração (grau 0), alterações leves (1), alterações severas (2), criando um índice endoscópico que variava de 0 a 10. O diagnóstico da CD permanece, de forma intrínseca, relacionado aos achados histopatológicos30. Entre os aspectos histopatológicos, encontrados na CD, salientam-se aqueles descritos por Ma et al., em 1990, após análise de 21 casos de CD. São eles: inflamação crônica moderada com infiltrado linfoplasmocitário na lâmina própria, congestão vascular, alterações mínimas na arquitetura das criptas e ligeira diminuição do seu número21. Resultados obtidos com outros autores corroboram esses achados1,4,10,30-32. Estudo publicado, recentemente, evidenciou a presença de polimorfonucleares eosinófilos (PNE) na lâmina própria e no lúmen colônico de crianças com CD32. Pode, ainda, ser encontrado alteração característica da CD, a hiperplasia folicular linfóide, com ou sem hiperplasia de centro germinativo, localizada na 5 mucosa e/ou submucosa9,18,21,30,32. Em alguns casos, porém, de modo bem menos frequente, foram encontrados abscessos nas criptas, inflamação aguda com infiltrado neutrofílico na lâmina própria e ulcerações9,10,28,33. Tais alterações, geralmente, foram seguidas por sintomatologia. Na prática clínica, o diagnóstico da CD é feito sobre três principais critérios: análise da espessura da mucosa; estudo da participação de células inflamatórias da lâmina própria e do tecido linfóide associado a mucosa (Mucosa-Associated Lymphoid Tissue – MALT); e investigação de alterações dos colonócitos de superfície. A mucosa colônica encontra-se reduzida de espessura na totalidade dos casos estudados. Consequentemente, esse último parâmetro é o mais confiável, não apenas pela presença marcante na CD, como também, pela facilidade de ser avaliado de modo mensurável34. Pinto Jr et al.11, em 1999, em estudo realizado em ratos submetidos a colostomia, e consequente CD, evidenciaram que a espessura da mucosa apresenta redução estatisticamente significativa a partir do 40º dia de pósoperatório, também sendo demonstrado que a hiperplasia folicular linfóide atinge seu ápice no 70º dia de pós-operatório. O diagnóstico anatomopatológico diferencial da CD é feito com a doença de Crohn, com a colite ulcerativa idiopática e com a colite pseudomembranosa. No entanto, esse diagnóstico é difícil, especialmente, naqueles pacientes que apresentam CD e que têm Colite Ulcerativa ou Doença de Crohn préexistentes35. Estudo publicado, em 1999, por Lim et al.36 aventou a hipótese de a CD ser fator predisponente ao surgimento de retocolite ulcerativa idiopática, seja através da sensibilização de leucócitos no cólon desfuncionalizado e sua posterior agressão ao endotélio do cólon funcional, seja a partir do estímulo ao 6 surgimento de auto-anticorpos anti-colônicos. Observaram, ainda, que a ação terapêutica dos AGCC, encontrada neste estudo, reduziria essa possibilidade de evolução da doença. Este fato torna, ainda, mais difícil o diagnóstico diferencial entre estas duas patologias. 2.2.4 Tratamento O tratamento de eleição para a CD é a reconstrução do trânsito intestinal, após a qual a inflamação resolve-se na maioria dos casos2,10,16,17. Como a CD é muito semelhante, clinicamente, à colite ulcerativa, a reconstrução do trânsito termina sendo postergada e, em alguns casos específicos, nem mesmo sendo restabelecida. Nessas situações, o emprego de terapias transretais foi aventado, como a utilização de corticóides e ácido salicílico (5-ASA), na tentativa de controlar a sintomatologia desses pacientes37,38. Dentre as terapias alternativas à reconstrução do trânsito, destaca-se o emprego de AGCC, topicamente, através de enemas. Harig et al.9 submeteram 04 pacientes com CD a enemas de AGCC, no cólon desfuncionalizado, e perceberam reversão clínica, endoscópica e histopatológica das alterações encontradas previamente. Observaram, ainda, piora clínica quando da interrupção do tratamento ou substituição da solução de AGCC por solução salina. Kiely et al.12; a partir da infusão tópica de AGCC perceberam a remissão clínica e a melhora endoscópica e histopatológica em 03 de 05 pacientes estudados. Estudos recentemente publicados observaram resultados que ratificam as ações dos AGCC na reversão da CD. Inicialmente Sengupta e cols39, em 7 2001, evidenciaram que ratos submetidos a dieta livre de fibras apresentavam atrofia intestinal, simulando CD, e que o uso tópico de butirato acarretou aumento da celularidade na cripta colônica, elevação no número de mitoses e consequente proliferação celular com reversão da atrofia. Posteriromente, Oliveira-Neto e Aguilar-Nascimento infundiram solução contendo fibras no cólon desfuncionalizado de 11 pacientes e observaram significante diminuição no grau da CD, como também, aumento significativo na profundidade das criptas. Como os AGCC derivam da degradação das fibras no lúmen intestinal, após ação de bactérias anaeróbicas, esses achados sugerem que os AGCC foram os responsáveis pela ação direta no epitélio colônico40. Entretanto, estudos não obtiveram o mesmo sucesso com o emprego tópico de AGCC, e seus autores questionam essa forma de tratamento. Em 1991, Guillemot et al.13 publicaram estudo com 13 pacientes em que observaram a não existência de diferenças estatisticamente significantes entre o uso de AGCC e solução salina fisiológica. Schauber et al.14, posteriormente, publicaram resultados de um estudo que avaliou, inicialmente, 09 pacientes, tendo apenas 07 finalizado o protocolo. Todos haviam sido colostomizados por apresentarem doença inflamatória intestinal, e não se observou nenhuma diferença endoscópica ou bacteriológica significante entre o grupo controle e o que utilizou AGCC, corroborando os achados de Guillemot. 2.3 ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA Os AGCC, também chamados de ácidos voláteis, são ácidos orgânicos cuja composição vai de um a seis carbonos e constituem os principais ânions do conteúdo colônico (60 a 150 mmol/l)41. Os AGCC colônicos decorrem da 8 degradação bacteriana de polissacarídeos, oligossacarídeos, proteínas, peptídeos e precursores da glicoproteína advindos da dieta42,43. O acetato, o propionato e o butirato são responsáveis por 90 a 95% dos AGCC formados, na seguinte relação molar 60:25:15, respectivamente; os restantes 5% a 10% são representados pelo isobutirato, valerato, isovalerato e caproato2,25,41. 2.3.1 Histórico Brieger, em 1878, fez a primeira observação da presença de AGCC em fezes humanas44. Em 1912, Bahrdt sugeriu que esses ácidos pudessem influenciar na absorção intestinal45. Grove, em 1929, demonstrou a relação entre dieta e a presença de AGGC na luz do cólon46. Leegwater et al., em 1974, associaram a deficiência de AGCC à presença de diarréia, em estudo efetivado em ratos47. Em 1980, Roediger evidenciou que o epitélio colônico humano depende dos AGCC como fonte energética e que, na cirurgia de derivação do trânsito intestinal, o segmento desfuncionalizado sofre um processo inflamatório ocasionado pela deficiência de AGCC48,49. Neste mesmo ano, Rupin et al. realizaram estudos sobre a absorção e metabolismo dos AGCC50. 2.3.2 Produção, Absorção e Metabolismo Vários fatores determinam a produção diária de AGCC. Dentre eles temos o número e o tipo de microflora presente no cólon, o tipo de substrato e o tempo do trânsito intestinal51,52. São produzidos de 100 a 200mM de AGCC no cólon humano, diariamente52. Como o quantitativo bacteriano, a fermentação e a proliferação são maiores no cólon proximal53, estima-se que 9 70 a 140mM sejam produzidos neste segmento intestinal, caindo para 20 a 70mM no cólon distal52,54, desta maneira, o pH é menor no cólon proximal e tende a aumentar no distal. No que concerne ao tipo de substrato, os componentes alimentares não digeríveis são fontes potenciais para a fermentação anaeróbica, desencadeada pela microflora colônica, visto que são resistentes à hidrólise e à digestão no estômago e no intestino delgado, tornando factível sua fermentação quando adentram o cólon. Sendo assim, os carboidratos têm, quantitativamente, o papel mais importante na formação de AGCC54. Acredita-se que, quanto ao tempo do trânsito intestinal, tempo maior que 50 horas pode comprometer a produção e captação de AGCC, em especial do butirato54. Os AGCC são absorvidos no cólon em quase sua totalidade, sendo excretados apenas 5 a 10% nas fezes50,55. Dois mecanismos de absorção são propostos: a difusão passiva, responsável por aproximadamente 60% da absorção, é o caso dos AGCC protonados que são lipossolúveis e facilmente se difundem através da membrana celular52 e, a troca iônica, que ocorre nas vesículas de membrana do colonócito, com a intervenção de trocadores de ânion, onde os AGCC ionizados são captados. Juntamente a essa absorção, os AGCC carreiam água, sódio e potássio, promovendo, ainda, aumento na concentração luminal de bicarbonato52,56. Os níveis de AGCC na corrente sanguínea são baixos, geralmente, só o acetato apresenta níveis significantes54. Outros autores conseguiram verificar baixos níveis de butirato (2,2 a 3,9 Pmol/L) e propionato (4,5 a 6,6 Pmol/L) no soro de humanos57. 10 Uma vez que os AGCC são absorvidos pelo colonócito, podem ser metabolizados de várias formas e uma delas, localmente, como combustível para as células epiteliais da mucosa intestinal, em colonócitos humanos isolados, tem sido demonstrado que mais de 70% das necessidades energéticas advêm da oxidação dos AGCC, em especial, do butirato, sendo esse a principal fonte energética48. Esse valor não difere muito dos 80% observados nos colonócitos dos ratos49,58. O butirato é usado preferencialmente ao propionato e acetato numa proporção de 90: 30: 50, respectivamente52; sendo, também, preferível à glicose e/ou à glutamina fornecidas pela corrente sanguínea48,59. A dependência do cólon em relação à oxidação dos AGCC aumenta do cecum para o reto, podendo ser importante na patogênese de colites60. O acetato e o propionato são menos avidamente metabolizados, localmente, sendo transportados ao fígado48. O propionato é substrato para gliconeogênese hepática61. Tem sido, também, relacionado à inibição da síntese de colesterol no tecido hepático. Assim, o efeito das fibras na redução do colesterol, pode ser secundário à produção de propionato no cólon62,63. O acetato é rapidamente absorvido no cólon, e utilizado na síntese de colesterol, ácidos graxos de cadeia longa, glutamato e beta-hidroxibutirato61. 2.3.3 Funções dos AGCC Além da função de nutriente do epitélio colônico, o papel dos AGCC se expandiu e inclui o de modulador do pH colônico e intracelular, do volume celular, e de outras funções associadas com íon de transporte e, ainda, o de regulador da diferenciação, proliferação, e expressão gênica52,64-66. 11 Os AGCC exercem efeitos tróficos sobre o intestino grosso, através do contato direto dos ácidos com a mucosa colônica67. Esse trofismo ocorre de maneira transmural, devendo-se não somente ao aumento da área de superfície e da proliferação celular da mucosa, mas também, ao estímulo na síntese de DNA, RNA e proteínas 64. Os mecanismos de trofismo colônico ocorrem por aumento na oxigenação energética, estímulo do fluxo na microcirculação sanguínea por dilatação das artérias de resistência, produção de hormônios enterotróficos e estímulo do sistema nervoso entérico. O aumento do fluxo sanguíneo na parede do cólon atrófico facilita e promove o crescimento em todas as camadas da parede intestinal67-69. Os AGCC diminuem a absorção de amônia, através da diminuição do pH, efeito este que poderá ter implicações importantes em pacientes com encefalopatia hepática e insuficiência renal70. Ramakrishna & Mathan, em 1993, relataram que o suprimento luminal de AGCC restaurou a absorção aquosa basal em pacientes com diarréia aquosa71. Bowling et al., em 1993, informaram que a infusão direta de AGCC no ceco reverte a secreção fluida, composta por água e eletrólitos, visualizada durante terapia com nutrição enteral72. Esses fatos revelam as ações dos AGCC no balanço hídrico e eletrolítico. Nightingale et al., em 1992, revelaram que pacientes com intestino curto e cólon preservado tinham menor necessidade de reposição endovenosa de eletrólitos e calorias do que pacientes sem o cólon73. Hove e Mortensen, em 1995, demonstram que as concentrações de AGCC não se alteram até que uma extensão superior a 80% do cólon seja ressecada65. Evidencia-se, nesses 12 relatos, a importância do cólon e da produção de AGCC nos pacientes submetidos a ressecções intestinais extensas. Rolandelli et al., em estudos experimentais, observaram estímulo à produção de hidroxiprolina, cicatrização histológica de colite experimental, aumento da pressão de ruptura de anastomoses e redução de colagenólise, a partir do fornecimento de AGCC diretamente na mucosa ou indiretamente através da pectina como precursor74,75. Aguilar-Nascimento, em obstrução intestinal experimental, seguida de ressecção colônica com anastomose primária, teve resultados similares76. 2.3.4 Relação dos AGCC com afecções colorretais Além dos efeitos atribuídos aos AGCC junto a CD, conforme discorrido anteriormente, eles apresentam relação direta com várias outras afecções colorretais, como podemos observar abaixo. Em colonócitos isolados de paciente com colite ulcerativa(RCU), estudo recente revelou ação inibitória na oxidação do butirato, atividade essa mais acentuada no cólon distal77. Esses dados sugerem que a RCU pode ter sua gênese na deficiência nutricional. Roediger et al.78 evidenciaram elevação significativa na produção de sulforetos que podem interagir com coenzima A, bloqueando a desidrogenase de AGCC, comprometendo o metabolismo do butirato. Foi aventado que AGCC podem modificar a resposta imunológica e inflamatória, em especial, a partir da ação do propionato que acarretaria a ativação de leucócitos polimorfonucleares, podendo ter efeito sobre a inflamação da RCU79. Estudos abertos avaliaram a utilização de enemas de AGCC, em pacientes com tratamento refratário a 5-ASA e corticóide, ou sem 13 tratamento prévio para RCU, e obtiveram como resultado a melhora clínica, endoscópica e histológica, desses pacientes80-82. No entanto, Breuer et al.83 analisaram o emprego de enemas de AGCC em 91 pacientes com RCU, a partir de um ensaio clínico randomizado controlado multicêntrico e duplo-cego, e observaram que, apesar da melhora clínica e histológica, não houve diferenças estatisticamente significantes quando comparado ao grupo controle. A reconstrução do trânsito intestinal tem, na fístula digestiva, o seu maior entrave, visto que essa é a complicação que mais eleva a morbi/mortalidade nos pacientes que necessitam ser submetidos a tal procedimento. Pearce et al.84 evidenciaram maior incidência de fístulas quando o intervalo de tempo, para se restabelecer o trânsito intestinal, foi maior que 06 meses. A infusão de AGCC, através de enemas, facilitou o processo cicatricial e aumentou a resistência das anastomoses74,76. Possíveis mecanismos responsáveis por esse efeito foram relatados por Jönsson et al.85: a proliferação celular da mucosa colônica e a aceleração da maturação do colágeno. Pacientes submetidos a proctocolectomia total reconstroem o trânsito através da confecção de bolsa ileal, que tende a apresentar processo inflamatório, em até 44% dos casos86, denominado bolsite. Estudos publicados, recentemente, verificaram concentrações menores de AGCC em pacientes com inflamação ativa, que em pacientes assintomáticos87,88. Porém não há evidência científica de que se recomende o uso de AGCC em pacientes com bolsite. Neut et al. referem que a atrofia da mucosa colônica com perda de sua integridade, vista na CD, poderia predispor à translocação bacteriana ao 14 interferir na imunidade local, modificando, quantitativamente e qualitativamente, a flora bacteriana autóctone24. Translocação bacteriana não foi observada nos resultados apresentados por Pinto Jr. et al., tendo como provável fator de prevenção, o espessamento do muco intestinal no segmento desfuncionalizado dos animais colostomizados89. Dietas ricas em fibra podem reduzir a incidência de câncer de cólon. O mecanismo exato não está definido, mas acredita-se que seja através dos AGCC66. McIntyre et al.90 constataram que a fermentação de farelo de trigo proporciona uma maior concentração de butirato no cólon distal que fibras solúveis (goma guar e farelo de aveia), apesar destas serem altamente fermentáveis. Observaram, ainda, que o uso de carcinogênico dimetilhidrazine, em ratos, proporcionou uma incidência maior de câncer de cólon naqueles submetidos a dieta com fibras solúveis que naqueles que se alimentaram com farelo de trigo, mostrando relação direta com a concentração do butirato no cólon distal. Em pacientes com pólipos adenomatosos ou câncer, a relação entre a concentração fecal de butirato/AGCC totais está diminuída em relação a indivíduos normais, enquanto, entre acetato/AGCC totais a relação está aumentada91. Os AGCC atuam na prevenção do câncer de cólon de forma variada seja através da indução de apoptose92, da inibição da proliferação com estímulo à diferenciação das células cancerosa93, ou alteração na adesão celular94. 15 3. ANEXAÇÃO Periódico: CLINICS ISSN: 1807-5932 Qualis: B1 Fator de impacto: 1,591 16 17 18 19 20 21 22 4. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES Diante das adversidades enfrentadas no exercício diário da profissão, acreditamos ser de fundamental importância a observação clínica, evento que proporciona ao profissional a sensibilidade de captar a informação e buscar na literatura a melhor propedêutica a ser utilizada. E, fundamentalmente, quando não houver resposta adequada, o profissional, nesse momento, deve se inebriar da dúvida e aguçar a curiosidade em busca de um novo caminho, usando como meio a pesquisa científica. Foi imbuído desse espírito que, a partir da paciente, M.S.S. 26 anos, colostomizada há aproximadamente 01 ano, devido obstrução intestinal, de causa desconhecida, idealizamos uma linha de pesquisa, na busca de respostas a uma doença pouco conhecida e de condutas imprecisas. A referida paciente apresentou sangramento e tenesmo, durante o período de internação, para reconstrução do trânsito intestinal, razão pela qual optamos por não o reconstruir, e investigar melhor a doença de base. Colonoscopia foi realizada e demonstrou processo inflamatório sem características específicas, com resultado anátomo-patológico de colite inespecífica. Após análise na literatura e revisão da lâmina, chegamos à conclusão de que se tratava de CD. Inicialmente, procuramos criar um modelo experimental de CD, no intuito de identificar as principais alterações anátomo-patológicas, bem como estabelecer o tempo de surgimento dessas alterações, utilizando para tanto ratos Wistar. A análise inicial serviu como defesa de dissertação de mestrado do professor Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, em 1998, de cujo processo participamos. Geramos 02 artigos (‘Colite de derivação fecal’ e 23 ‘Repercussões histopatológicas da colostomia no coto colônico distal desfuncionalizado: estudo experimental em ratos’), publicados na Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Posteriormente, em 2007, apresentamos, no Congresso Brasileiro de Cirurgia, análise inicial do presente trabalho. Simultaneamente, publicamos artigo na Acta Cirúrgica Brasileira “Bacterial translocation in rats nonfunctioning diverted distal colon”. Trabalho que foi conclusão da Tese de Doutorado do Prof. Francisco Edilson Leite, do qual participamos como co-autor. O presente trabalho tem, pois, como modelo proposto um estudo experimental prospectivo, analítico do tipo intervenção, tendo como perspectiva final a precisão e posterior reprodutibilidade em ensaio clínico humano. O animal utilizado, rato Wistar, mimetiza a anatomia e fisiologia do trato digestivo humano, além de apresentar características ideais de uma cobaia: resistência, fácil acomodação e baixo custo de manutenção. Tínhamos como objetivos iniciais a avaliação da ação terapêutica dos AGCC na reversão da CD, em bases microscópicas, analisando a espessura da mucosa e a celularidade presente no lúmen e na parede intestinal, visto que, na literatura, encontramos controvérsias e trabalhos realizados sem metodologia adequada. Observamos, ainda, a ação profilática dos AGCC, fato ainda não relatado na literatura, com exceção do trabalho publicado por Harig et al. em 19899, que relata dois pacientes com CD, submetidos a tratamento com AGCC, os quais, posteriormente à melhora, permaneceram com remissão da doença, a partir do uso de AGCC 02 vezes por semana, fato que nos motivou a utilizar essa mesma metodologia de avaliação quanto à profilaxia. 24 Algumas mudanças aconteceram no curso do trabalho. Começamos com 02 grupos pilotos de 05 animais cada para melhor definir o método de tratamento a ser empregado, se infusões únicas diárias por 14 dias ou duas infusões diárias por período de 07 dias, e os resultados obtidos inicialmente foram francamente favoráveis ao segundo grupo. Houve morte de um animal, do grupo B1, causa desconhecida, antes de iniciar a infusão da solução. Diante da limitação de cobaias e, após discussão com estatística, tendo em visto não haver comprometimento nos resultados finais, ficou decidida a não inclusão de novo animal. Como foi alertado, certa vez, por um “Pequeno Príncipe”95 de que é preciso duas ou três larvas, para vermos o vôo das borboletas, vale, portanto, ressaltar as várias dificuldades encontradas na execução do trabalho que interferiram no tempo, inicialmente, proposto para conclusão do presente estudo. Dentre elas, podemos destacar a manipulação da solução de AGCC, a falta de incentivos à pesquisa e a não integração entre as áreas temáticas envolvidas, que dificultaram a dinâmica. Inicialmente, buscamos a manipulação da solução na Faculdade de Farmácia, mas não fomos atendidos em nossos anseios e muitas dificuldades foram impostas, como: a falta de reagentes e a não disponibilidade de tempo. Encontramos no laboratório de bioquímica, do Departamento de Biociências, o devido acolhimento, porém faltavam componentes da solução e havia déficit em outros insumos. Por falta de investimentos, tivemos que adquirir, com recursos próprios, componentes da solução para dinamizar e viabilizar o projeto. A falta de estímulo financeiro à pesquisa nos fez enfrentar dificuldades, ainda, com os animais envolvidos. O biotério da Cirurgia Experimental Prof. 25 Travassos Sarinho não tinha cobaias suficientes, e o outro biotério do Departamento de Biociências da UFRN não tinha como disponibilizá-los, pois alguns animais haviam morrido por doença infecciosa questionável e os poucos existentes estavam comprometidos com outro estudo. Tivemos que aguardar a reprodução das matrizes do Biotério da Cirurgia Experimental. O custo de manutenção dos animais, como alimentação, foi todo efetivado pelo pesquisador. Outro fato relevante foi a dificuldade para publicação em periódico no exterior, além do destrato recebido, conforme relato a seguir. Sabemos que nenhum programa de pós-graduação sobrevive sem publicações em periódicos internacionais, no entanto, chegamos a passar 01 ano e 05 meses, aguardando resposta de um periódico específico que, embora, inicialmente, tenha demonstrado interesse, tendo inclusive solicitado o nome de dois avaliadores externos, que participavam de nossa referência bibliográfica, para analisarem o estudo em questão. Não obtivemos, porém, resposta, após várias mensagens ao editor chefe. E como precisávamos dinamizar a publicação, solicitamos o cancelamento da submissão. Qual não foi nossa surpresa, após a solicitação desse cancelamento, recebemos notificação de que não haviam respondido anteriormente por falhas na comunicação eletrônica, usando argumentos equivocados e sem contextualização, em relação ao nosso trabalho. Acreditamos que, para o fortalecimento da pesquisa em nosso País, precisamos qualificar todas as esferas da pesquisa, não apenas no estímulo aos novos pesquisadores, na busca incessante por melhorias nos programas de pós-graduação, na publicação em periódicos de qualidade, mas também na 26 ponta da pesquisa, que são os periódicos. Necessitamos de periódicos nacionais que tenham melhor qualidade e, para isso, faz-se necessária a publicação de bons artigos. Os programas nacionais de pós-graduação deveriam ter em suas diretrizes a obrigatoriedade de que parte da publicação qualificada fosse feita em periódicos nacionais e não, apenas, os projetos de baixo padrão. Não podemos ser exportadores apenas de matéria prima, nossos artigos qualificados; precisamos sim exportar o produto industrializado, nossos excelentes artigos já publicados em periódicos nacionais de alto impacto. Portanto, fica a sugestão de o programa de pós-graduação começar a idealizar a criação de sua própria revista, talvez até em conjunto com outros programas de pós-graduação do nosso país. Ao longo desses últimos anos, tivemos a grata oportunidade de presenciarmos a eficácia da multidisciplinaridade, implantada nas linhas de pesquisa e moldadas durante as sessões de Ciclo de Debates do Programa, reduzindo distâncias entre áreas distintas, porém com objetivos afins, propiciando a congregação do conhecimento específico, transformando-o em peça única, moldável ao desenvolvimento de uma pesquisa mais dinâmica, sólida e compreensível em todas as suas esferas, tendo como objetivo o crescimento pleno do saber. Mas acreditamos que uma maior aproximação do PPGCSA aos alunos permitiria que, não apenas um orientador, mas um colegiado auxiliasse no delineamento e na publicação da produção científica, dando maior qualidade e agilidade ao estudo. Afinal, como diz Saint Exupéry: “A grandeza de uma profissão talvez seja antes de tudo unir os homens; pois só há um luxo verdadeiro, o das relações humanas96. 27 Acreditamos ser necessária uma maior abertura do meio científico acadêmico ao profissional que lida no cotidiano da prática clínica, permitindo uma adequada acessibilidade deste a programas de pós-graduação, inclusive com políticas internas, nesses programas, intencionando atrair tais profissionais, favorecendo não apenas o seu crescimento através da compreensão de suas ações no cotidiano, com visão crítica apurada, mas, fundamentalmente, permitindo-lhe trazer suas dúvidas e dificuldades diárias, além de sua experiência no exercício da profissão, propiciando a busca por respostas que, realmente, tenham empregabilidade na dinâmica diária da prestação de serviços à comunidade. É preciso evitar o corriqueiro direcionamento de vagas a profissionais que se encontram inseridos no meio acadêmico, próximos aos seus mestres que, na sua grande maioria, são os orientadores dos programas de pós-graduação e que, às vezes, por se dedicarem ao mundo acadêmico não possuem a experiência prática necessária para colher as reais necessidades da população. Já no que se refere à pesquisa em questão, a sua grande relevância é que o uso terapêutico dos AGCC exerceu um efeito significante na regressão da atrofia e na redução de PNE na luz intestinal e na lâmina própria da mucosa colônica, pouco interferindo na intensidade da hiperplasia do MALT, o que beneficiaria a imunidade local do cólon desfuncionalizado. Este último fato não havia sido citado, anteriormente, na literatura. Em contrapartida, os AGCC não foram efetivos, quando empregados na profilaxia da CD, não impedindo a atrofia da mucosa no 40º DPO. Vale salientar que a análise sobre a ação profilática dos AGCC na CD, não havia sido registrada, ainda, na literatura. 28 Este é um artigo original que evidenciou a importância nutricional dos AGCC para o cólon desfuncinalizado, podendo abreviar o tempo de internação dos pacientes colostomizados que apresentam sintomatologia importante, como também, reduzir potenciais complicações inerentes à reconstrução do trânsito intestinal, propiciando um melhor manuseio pré-operatório desses pacientes, o que seria de grande valia para a prática clínica e para a comunidade científica. Pretendemos estender a pesquisa a um ensaio clínico em pacientes colostomizados e que necessitam reconstruir o trânsito, com o objetivo de observarmos diferenças na incidência de complicações e no tempo de internamento dos pacientes submetidos a tal metodologia de tratamento em relação aos pacientes sem intervenção. Intencionamos, também, avaliar melhor a ação profilática, com aplicações diárias, visando reduzir o tempo de permanência desses pacientes com a colostomia. Como aluno integrante do PPGCSA, obtive um crescimento exponencial no meu conhecimento específico, na área proposta para o estudo em questão, mas acredito que o mais importante foi a percepção dessa realidade e a participação em um contexto científico, desde o início, através das disciplinas cursadas em que aprendi a analisar um trabalho científico, encontrando seu real valor e aplicabilidade, fato que, ao sair da graduação e posteriormente da residência em Cirurgia Geral, não havia compreendido. Daí o grande valor de trazer o profissional da prática para o mundo científico e não apenas levar àquele o conhecimento trabalhado na pesquisa, visto que ele não tem potencial de discernir sobre a qualidade e a aplicabilidade clínica do conteúdo científico. Aprendi, também, o quanto a integração das idéias de várias áreas, em busca 29 de um objetivo comum, aperfeiçoa a idéia central, potencializando o conhecimento, e tornando-o mais consistente e fácil de absorver. Esperamos poder contribuir na orientação de projetos futuros, pois tem razão quem disse: “ambição e conquista, sem contribuição, não tem significado”, e inserir, gradualmente, o pensamento científico no meio em que nos encontramos, o da prática clínica diária, acolhendo as dúvidas e propiciando meios, no intuito de obtermos as devidas respostas. 30 5. APÊNDICE 31 32 33 34 35 36 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Haque S, West AB. Diversion colitis – 20 years a-growing. J Clin Gastorenterol 1992; 15:281-3. 2. Agarwal VP, Schimmel EM. Diversion colitis: a nutritional deficiency syndrome? Nutr Rev 1989; 47:257-61. 3. Roe AM, Warren BF, Brodribb AJ, Brown C. Diversion colitis and involution of the defunctioned anorectum. Gut 1993; 34:382-5. 4. Bosshardt RT, Abel ME. 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The treatment of choice for fecal diversion colitis (DC) is the reconstruction of the intestinal tract, although they suggested therapeutic options using enemas. This study evaluates the effect of SCFA in atrophy and inflammation in excluded colonic segments before and after the installation DC. Forty Wistar rats were divided into four groups (n = 10 for each group), submitted colostomy with distal colon exclusion. Two control groups (A1 and B1) received rectally administered physiological saline, whereas two experimental groups (A2 and B2) received rectally administered short-chain fatty-acids. The A groups were prophylactically treated (5th to 40th days postoperatively), whereas the B groups were therapeutically treated (after postoperative day 40), for 07 days. Histological sections stained with HE were used for histological analysis of the thickness of the colonic mucosa excluded (tStudent p Inflammatory reaction of the lamina propria and mucosa were measured with scores previously established (Mann Whitney p There was a significant thickness recovery of the colonic mucosa in group B2 animals (p = 0.0001), which also exhibited a significant reduction in the number of eosinophilic polymorphonuclear cells in the lamina propria (p = 0.0126) and in the intestinal lumen (p = 0.0256). Group A2 did not prevent the mucosal atrophy and significant increases in the numbers of lymphocytes (p=0.0006) and 49 eosinophilic polymorphonuclear cells in the lamina propria of the mucosa (p = 0.0022). Therapeutic use of short-chain fatty-acids significantly reduced eosinophilic polymorphonuclear cell numbers in the intestinal wall and in the colonic lumen; it also reversed the atrophy of the colonic mucosa. Prophylactic use did not impede the development of mucosal atrophy. KEYWORDS: Colostomy; Short-Chain Fatty Acids; Diversion colitis; Treatment; Prophylactic. 50