O livro Psicologia e Educação: o Significado do Aprender, organizado por Jorge La Rosa, discorre sobre a questão da aprendizagem sob óticas variadas, apresentando teorias comportamentais, cognitivas e humanistas. Diversos autores apresentam as diferentes visões que, em minha opinião, devem ser complementares para alcançar sucesso na aprendizagem. Liane Zanella afirma que é através da aprendizagem que o homem muda e transforma o meio. Ela também afirma que esta é um processo contínuo, pessoal, ativo e dinâmico. A aprendizagem é também global (porque todos os sentidos e o indivíduo na sua totalidade envolvem-se no processo), gradual (cada um tem seu próprio ritmo), e tem enfoque integrativo-cumulativo. Depende de condições físicas, da maturação do indivíduo; e psicológicas, porque diz respeito à motivação deste, ao processo interno que ocorre quando o sujeito se mobiliza e direciona sua ação na aprendizagem. Depende também de condições ambientais, porque um local adequado com atmosfera reforçadora favorece a eficácia do processo; e de condições sociais, porque um contexto apropriado promove a facilitação social, a competição e a cooperação. Bruno Ries apresenta a teoria de Pavlov, para o qual a aprendizagem é uma resposta a estímulos condicionais. Sua aquisição se dá pelo condicionamento respondente (reflexo), que altera o comportamento natural do sujeito. São necessárias algumas condições para que ocorra formação de um reflexo condicionado: hemisférios do cérebro devem estar alerta e livres; deve ocorrer coincidência no momento em que um agente provoca um reflexo absoluto (estímulo incondicionado), com ação de outro agente exterior indiferente (estímulo neutro); e, o estímulo neutro deve preceder um pouco o estímulo incondicionado. A retenção, que depende da reorganização de tais estímulos, é geralmente fraca, e, portanto a transformação não é significativa. O mesmo autor descreve o behaviorismo do condicionamento operante de Skinner. Para este, o aprendizado decorre de uma ação do primeiro sujeito que será reforçada. Mas a retenção, ou a própria aprendizagem, depende da manutenção dos reforços sobre as respostas que vão acontecendo, e isso pode fazer com que o aprendizado seja fraco. O sujeito que está aprendendo tem pouca participação no processo e não necessita de motivação própria porque há tanta ênfase no reforço. Os reforçadores podem ser primários (fome, sede, etc.), secundários (emparelhados com os primários), e generalizados (emparelhados com primários e/ou secundários). O processo de modelagem, que consiste em reforçar seletivamente o comportamento que mais se aproxima da resposta final almejada, é usado quando o comportamento é muito complexo e não pode ser condicionado de maneira simples. O organizador do livro escreve este capítulo sobre a aprendizagem social de Bandura. O efeito vicariante é o ponto mais enfatizado nesta teoria. Segundo esta, o reforço recebido por um indivíduo pode afetar os demais sujeitos, que passarão a imitálo objetivando receber o mesmo reforço. Este tipo de aprendizado atinge sua meta com sucesso em grupos homogêneos que contam com um sujeito reforçado, que serve de modelo para os outros. A aprendizagem vicária permite a aquisição de regras, conceitos e estratégias de seleção, busca e processamento de informação. A modelação pode, inclusive, ser superior à experiência direta no ensino de regras e conceitos, e crianças podem até mesmo adquirir princípios de conservação através daquela. Os modelos podem ser vivos (presenciais), representativos (dos meios áudio-visuais), ou simbólicos (dos livros, desenhos, etc.). Os meios de comunicação também podem ser instrumento de educação, mas podem apresentar uma realidade distorcida e distante do contexto das pessoas, causando conflitos nos indivíduos. A modelação envolve vários processos, dependendo da atenção (seletiva), da retenção (e codificação do observado), das habilidades físicas e da motivação e reforço. À medida que o aprendizado acontece repetidamente, ocorre a automatização das atividades simples (o que libera o pensamento para lidar com questões mais complexas). Este aprendizado pode falhar se a observação não for precisa, a codificação não for adequada, se houver diminuição de retenção, deficiências motoras, reforço inadequado, ou ainda sanções negativas. A modelação possibilita que o indivíduo adquira novas respostas, podendo também fortalecer ou enfraquecer inibições de respostas pré-existentes, e facilitar o desempenho de respostas já aprendidas. Modelos adultos afetuosos influenciam mais as crianças, e modelos reforçados estimulam a imitação. Bruno Ries escreve o capítulo sobre a aprendizagem cognitivista de Piaget, que apresenta um enfoque qualitativo sobre a inteligência (a criança não consegue resolver certos problemas porque ainda não desenvolveu a estrutura cognitiva necessária para compreender problemas de ordem complexa). Para Piaget, a inteligência é um caso particular de adaptação biológica, e a adaptação é um equilíbrio constante entre a assimilação e a acomodação. Aprender significa assimilar o objeto a esquemas mentais pré-existentes. O aprendizado não é esquecido porque faz parte da organização interna do sujeito. Esta aprendizagem construída mantém-se por toda a vida (retenção), uma vez que o inconsciente cognitivo a mantém em estado potencial. A transformação acontece a partir do momento em que o indivíduo, frente a novas situações, mobiliza todas as estruturas e conteúdos já existentes em sua mente. Bettina dos Santos apresenta a teoria histórico-cultural de Vygotsky, cuja maior característica é a mediação simbólica. Toda a aprendizagem se dá através das interrelações do indivíduo com seu ambiente histórico (contexto social no qual este se desenvolveu) e com os outros. Para o autor, um comportamento só pode ser entendido se forem estudadas as suas fases, suas mudanças e sua história. Para este, a internalização é um passo fundamental no aprendizado porque é a reconstrução interna de uma operação externa, e porque é a atividade social historicamente desenvolvida por humanos. A relação entre linguagem e pensamento, e a interação com os outros indivíduos dão base ao conceito de zona de desenvolvimento proximal (possibilidade de mudança de uma capacidade potencial para uma capacidade real de aprendizado). Segundo o autor, a zona desperta vários processos capazes de operar somente quando há interação com outras pessoas e consequente cooperação. Berta Ferreira introduz a perspectiva humanista de Rogers, que dá muita importância a todas as experiências pessoais, sentimentos e valores interiores. Sua teoria não- diretiva coloca ênfase no homem, e não há direção de fora para a resolução do problema. Para que ocorra aprendizagem é necessário que: haja confiança na capacidade dos outros de aprenderem por si mesmos; o professor seja facilitador e partilhe com os estudantes a responsabilidade pelo processo de aprendizado; o professor providencie recursos de aprendizagem; o estudante escolha seu programa de estudos; o clima seja facilitador de aprendizagem; o foco da aprendizagem seja o processo contínuo de aprendizagem; a disciplina seja responsabilidade do aluno; e, que a avaliação seja feita pelo aprendiz. Como o foco está no indivíduo que está aprendendo, a aprendizagem pode ser mais efetiva, uma vez que é um processo intencional de construção de significado através da própria experiência. Jorge La Rosa escreve sobre motivação e aprendizagem, citando a teoria associacionista, que tenta explicar a aprendizagem através de experiências com animais, e situa Skinner nesta mesma teoria, tomando privação e reforçamento como seus conceitos-chave. O autor também cita o enfoque cognitivo, que concorda com o associacionismo que as necessidades fisiológicas ativam e dirigem o comportamento. Na teoria cognitiva de Brunner, a tendência para a competência é universal, e o desenvolvimento da motivação para a competência é aprendido e passa pela mediação da cultura, da família, dos meios de comunicação, e da sociedade em geral. Este autor também coloca a identificação como parte importante do processo. La Rosa cita a perspectiva psicanalítica de Freud, o id (impulso, instinto), e as pulsões como elementos dinamizadores da personalidade; e a teoria humanista de Maslow, que coloca as necessidades humanas em sete conjuntos: fisiológicas, de segurança, de amor e pertinência, de estima, de auto-atualização, de conhecimento e compreensão, e estéticas. Elaine Rodrigues discorre sobre Viktor Frankl e a logoterapia. Nesta teoria, liberdade significa que o homem pode decidir e ter intenção, pode ser sujeito de uma realização, pensamento ou emoção, apesar de todos os condicionamentos ou determinismos naturais, evolutivos, psicológicos e sociais que possam ocorrer durante sua vida. Mas o homem só pode ser livre fora das dimensões psicológica, biológica e social, ele só pode ser livre espiritualmente. Isso quer dizer que não importa o contexto, o homem ainda tem livre arbítrio e é livre para tomar decisões relativas à sua existência. Responsabilidade é assumir a autoria dos atos tomados em liberdade, e também suas conseqüências. Por isso o homem é primeiro responsável, e só então livre. Estes dois valores estão relacionados com o que Frankl chamou de valor de atitude (sentido que o sofrimento tem para a existência humana). Juntamente com a intencionalidade, o valor de atitude forma a base da espiritualidade do homem. Esta teoria ajuda o homem a desvendar seus sentidos, e na escola facilita ao aluno o encontro responsável com seus sentidos educacionais. A sexualidade infantil e a aprendizagem é o tema do capítulo apresentado por Maria Ramos. Freud salienta que os instintos e atividades sexuais estão presentes na infância (sexualidade não designa apenas atividades que dependem do uso do aparelho genital, mas também uma série de excitações e atividades que proporcionam prazer e amor). Através da identificação e dos mecanismos de introjeção, a criança irá construir a realidade, onde os aspectos amorosos e agressivos serão internalizados. Aprender com os outros e a capacidade de amar são a mesma coisa. Os processos de conhecer e amar estão diretamente ligados. A consciência do próprio eu como entidade separada e amada pode capacitar a pessoa a aceitar o fato de que os objetos são separados e podem ser perdidos. Esta concepção é decisiva para o psiquismo, e para buscar informações e conhecimento, e, portanto, é importante para a construção do aprendizado. Esta teoria afirma que através de sentimentos de amor e ódio, a criança atribuirá sentido especial a uma figura determinada pelo desejo. Este desejo transfere poder e sentido à figura do professor, que funciona como um suporte, já que o aluno lhe atribui valor. Ela aprenderá conteúdos e guardará informações passadas pelo professor, como um sujeito desejante e pensante, facilitando o processo de aprendizagem. Maria Ramos faz o capítulo de encerramento sobre as dificuldades de aprendizagem, e para isso discorre sobre a história da aprendizagem, as dificuldades para ler e escrever, a classificação e diagnóstico de transtornos mentais, os transtornos da leitura, da escrita e da matemática. A autora menciona a importância dos laços familiares, e as possibilidades de aprendizagem com a família e a escola. Ela afirma que a sala de aula deve ser um espaço de comunicação sobre a realidade, um espaço de construção e reconstrução. Pela palavra falada e escrita se instauram as possibilidades e também as dificuldades do aprendizado. Por isso estimular o diálogo e a produção ajuda o individuo a encontrar a subjetividade que o torna único, e a comunicar-se melhor em decorrência disto. A comunicação pressupõe afastamento e aproximação, que são fundamentais para a incorporação de conhecimentos e interpretação de fenômenos físicos e sociais. Eu acredito que este livro apresenta conteúdo bastante relevante para futuros professores, mostrando várias opções que o profissional da área pode escolher seguir. Em minha opinião, o melhor não é seguir uma só teoria integralmente, mas sim misturar as teorias, utilizando o que cada uma tem de melhor. Não há motivo para nos prendermos a uma corrente e dispensarmos todos os pontos positivos que outras teorias têm para oferecer. É trabalho do professor encontrar a melhor solução para o seu grupo de alunos, e ter uma mente aberta profissionalmente é muito importante. Se os grupos fossem homogêneos talvez aplicar teorias integralmente fizesse sentido, mas em se tratando de seres humanos os grupos serão essencialmente heterogêneos, e por isso a utilização de aspectos de diferentes teorias que podem ser complementares faz mais sentido.