Epidemiologia do Diabetes

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Epidemiologia do Diabetes
1.1 – Aspectos Históricos – o Diabetes Mellitus (DM) já era conhecida antes da era cristã, pois
no papiro de Ebers (documento escrito entre o século XVI a XV a. C.), descoberto no Egito, já
se descreviam sintomas que parecem corresponder ao diabetes. Entretanto, foi no século III da
era cristã, que Araeteus, da Capadócia, definiu o diabetes como uma doença e que “as carnes
se fundiam pela urina” e essa descrição mostra, com muita precisão, o catabolismo acelerado
de todas as estruturas orgânicas, o emagrecimento resultante, a poliúria com perda de glicose,
de eletrólitos e de aminoácidos, assim como a sua evolução para a morte com caquexia e coma
que se observava antes da era insulínica. Assim, o Capadócio, deu a esta afecção o nome de
diabetes, que em grego significa sifão, referindo-se ao seu sintoma mais chamativo que é a
eliminação exagerada de água pelo rim, expressando que a água entrava e saía do organismo
do diabético sem fixar-se nele (polidipsia e poliúria, características da doença e por ele
avaliadas por esta ordem).
No século III, contemporâneo de Areteu da Capadócia, também se referiu ao diabetes,
atribuindo-a à incapacidade dos rins em reter água como deveriam. Nos séculos posteriores não
se encontram nos escritos médicos referências a esta enfermidade até que, noséculo XI,
Avicena fala com clara precisão desta afecção em seu famoso “Cânon da Medicina”. Após um
longo intervalo foi Thomas Willis quem, em 1.769, fez uma descrição do diabetes, magistral
para a época, ficando desde então reconhecida por sua sintomatologia como entidade clínica.
Foi ele quem, referindo-se ao sabor doce da urina, lhe deu o nome de Diabetes Mellitus
(sabor de mel), apesar de esse fato já ter sido registrado cerca de mil anos antes na Índia, por
volta do ano 500 d.C. Em 1.775, Dopson identificou a presença de glicose na urina e Frank, a
essa altura, classificou a diabetes em duas formas: diabetes mellitus (ou vera), e insípida, esta
sem apresentar urina doce.
A primeira observação feita através de uma necropsia em um diabético foi realizada por
Cawley e publicada no London Medical Journal em 1.788. Quase na mesma época o inglês
Jhon Rollo, atribuindo à doença uma causa gástrica, conseguiu melhorias notáveis com um
regime rico em proetínas e gorduras e limitado em hidratos de carbono. Os primeiros
trabalhos experimentais relacionados com o metabolismo dos glicídios foram realizados por
Calude Bernard, o qual descobriu, em 1.848, o glicogênio hepático e provocou a aparição de
glicose na urina excitando os centros bulbares. Na metade do século XX, o grande clínico
francês Bouchardat assinalou a importância da obsesidade e da vida sedentária na origem da
diabetes e traçou as normas para o tratamento dietético, baseando–se na restrição dos glicídios e
no baixo valor calórico da dieta. Os trabalhos clínicos e anatômico-patológicos adquiriram
grande importância em fins do século XIX, através de Frerichs, Cantani, Naunyn, Lanceraux,
entre outros, tendo culminado em experiências de pancreatectomia em cães, realizadas por
Mering y Mikowski em 1,839. Eles observaram que após a extirpação do pâncreas, os cães
produziam doença diabética semelhante à do homem, induzindo à busca da substância
produzida pelo pâncreas, cuja falta seria responsável pela enfermidade. A procura do suposto
hormônio produzido pelas células das ilhotas de Langerhans, do pâncreas descritas em 1.869
por Paul Langerhans, iniciou-se de imediato. Hedon, Gley, Laguessee Sabolev, estiveram
muito próximos do almejado triunfo, o qual foi obtido no Laboratório de Mac Leod, Banting e
Charles Best, canadenses que conseguiram, em 1.920-1.921, isolar a insulina e demonstrar seu
efeito hipoglicêmico. Esta descoberta significou uma das maiores conquistas médicas do século
XX, porque transformou as expectativas e a vida dos diabéticos e ampliou horizontes no campo
experimental e biológico para o estudo da diabetes e do metabolismo dos glicídios.
Posteriormente, o tranpalante de pâncreas passou a ser considerado uma alternativa viável à
insulina para o tratamento do Diabetes Mellitus do tipo 1. O primeiro transplante de pâncreas
com essa finalidade foi realizado em 1.966, na universidade de Manitopa.
Uma linha mais recente de pesquisa na Medicina tem buscado fazer o transplante apenas das
ilhotas de Langerhans. O procedimento é simples, tem poucas complicações e exige uma
hospitalização de curta duração. O grande problema é a obtenção das células, que são
originárias de cadáveres. São necessários em média três doadores para se conseguir um número
razoável de células.
O primeiro transplante de ilhotas de Langerhans para curar diabetes do tipo 1 ocorreu em
2.004, feito pela equipe do Dr. F. G. Eliaschewitz noHospital Albert Einstein de São Paulo. O
Brasil é considerado líder nas pesquisas desta linha de tratamento. Outro centro de
excelência de pesquisas nessa área é a Universidade de Alberta, no Canadá.
1.2 – Metabolismo do Açúcar – a glicose é um carboidrato simples encontrado nos alimentos,
sendo um nutriente essencial para o fornecimento de energia necessária para o funcionamento
apropriado das células do organismo. Durante a digestão, os hidratos de carbono são
desdobrados no intestino delgado e a glicose (a nossa maior fonte de energia) presente no
alimento digerido é absorvida então, pelas células intestinais e transportadas pela corrente
sanguínea para as demais células do corpo onde é utilizada. Entretanto, a glicose não pode se
incorporar às células sozinha e necessita da insulina para penetrar nelas. Sem insulina, as
células ficam privadas da energia da glicose apesar da presença deste carboidrato em
abundância no sangue. Em determinados tipos de diabetes, a inabilidade das células para
utilizar a glicose causa a situação irônica do “privação no meio da abundância”. A glicose
abundante no sangue não é utilizada, sendo assim, excretada pela urina.
O pâncreas é o órgão onde ocorre a produção do hormônio (proteína) denominado insulina.
Este hormônio é responsável pela regulagem da glicemia (nível de glicose no sangue). Para
que as células das diversas partes do corpo humano possam realizar o processo de respiração
aeróbica (utilizar glicose como fonte de energia), é necessário que a glicose esteja presente na
célula. Portanto, as células possuem receptores de insulina que, quando acionados “abrem” a
membrana celular para a entrada da glicose presente na circulação sanguínea. Uma falha na
produção de insulina resulta em altos níveis de glicose no sangue, já que esta última não é
devidamente dirigida ao interior das células.
Visando manter a glicemia constante, o pâncreas também produz outro hormônio antagônico à
insulina, denominado glucagon. Ou seja, quando o nível de glicemia cai, mais glucagon é
secretado visando reestabelecer o nível de glicose na circulação. A hipoglicemia é a queda dos
níveis de glicose no sangue, provocando um intenso mal estar, como sudorese, queda da
pressão arterial (PA) e sonolência; podendo ocorrer crise convulsiva e inconsciência. Na
terceira idade deve se destacar o descontrole no tratamento do diabetes que pode levar à
hipoglicemia. É de boa norma manter-se a glicemia nunca muito baixa (em torno de 120/140
mg/dL) em pessoas diabéticas.
1.3 – Definição – o Diabetes Mellitus caracteriza-se pelo excesso de glicose no sangue
provocado por uma falha na produção de insulina (fator mais importante neste processo), que
é um hormônio de natureza proteínica. O DM também pode ser causado pela incapacidade da
insulina de exercer seus efeitos, fazendo com que o organismo não consiga obter a energia
dos alimentos de forma adequada e aumentando os níveis de glicose no sangue. Trata-se de um
grupo de enfermidades metabólicas caracterizadas por hiperglicemia (aumento dos níveis de
glicose no sangue), resultado de defeitos na secreção de insulina, em sua ação ou ambos,
devido a paralização total ou parcial do pâncreas na produção da insulina – hormônio
hipoglicemiante, responsável pelo transporte da glicose para as células do organismo,
proporcionando energia necessária para as atividades diárias.
Refere-se a uma desordem do metabolismo (disfunção crônica), ou seja, uma complexa doença
na qual coexiste um transtorno global do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. É
multifatorial pela existência de muitos elementos implicado em sua patogênese. Portanto, o
Diabetes Mellitus é uma moléstia caracterizada por distúrbios no metabolismo de açúcares,
gorduras e proteínas; devida a uma interação entre fatores hereditários e ambientais que
levam a falta de secreção da insulina, aumento da glicose no sangue e comprometimento de
vários órgãos, destacando-se os rins, a retina, e os sistemas neural e circulatório.
1.4 – Fatores Causais – no início pensava-se que o fator que predispunha à enfermidade era
um consumo alto de carboidratos de rápida absorção. Depois se viu que não havia um aumento
das probabilidades de contrair Diabetes Mellitus com o consumo de carboidratos de assimilação
lenta. Atualmente pensa-se que os fatores mais importantes são o excesso de peso e a falta de
exercício (para o diabetes tipo 2). Acredita-se que a predisposição genética interage com
fatores ambientais para contribuir para a resistência à insulina. Os mais importantes fatores são
a obesidade e a falta de atividade física.
A falta de atividade física é o principal fator que contribui para a obesidade e esta diminui o
número de receptores insulínicos nas células-alvo da insulina no organismo, tornando a
insulina disponível menos eficaz na promoção de seus efeitos metabólicos. A atividade física
regular normaliza a glicose sangüínea, aumentando a sensibilidade dos receptores à insulina e
diminuindo a resistência à este hormônio, aumentando o ponto de ligação do receptor e este
efeito persiste por várias horas, podendo chegar a 24 horas em algumas pessoas.
Diversos estudos têm demonstrado que indivíduos ativos apresentam menor probabilidade de
desenvolverem diabetes. Alguns autores sugerem que o efeito da atividade física ocorra por
causa da alteração no metabolismo da fibra muscular esquelética, aumentando a sua capacidade
oxidativa, além das alterações comuns da adaptação ao treinamento, levando a maior aptidão da
fibra muscular para captar a glicose, independente de alterações na concentração de insulina
circulante. A atividade física melhora a administração das reservas de açúcares do corpo,
aumentando o estoque de glicogênio, ocorrendo um melhor equilíbrio quando o corpo está
em forma, já que oslipídios se queimam com mais facilidade, reservando mais os
carboidratos para esforços intensos ou em caso de que a atividade seja muito longa que as
reservas agüentem mais tempo.
Nota – este texto é, na realidade, uma breve introdução, por isso queremos esclarecer aos
interessados no assunto, que para obter o texto na íntegra (total), basta solicitá-lo, que
atenderemos todos os pedidos e enviaremos os mesmos pelos Correios e Telégrafos;
portanto, entre em contato conosco através dos nossos telefones ou e-mail.
À Direção.
Maceió, Janeiro de 2.012
Autor: Mário Jorge Martins.
Prof. Adjunto de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
Alagoas (UNCISAL).
Mestre em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Médico da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
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