Aterosclerose obliterante de membros inferiores: Avaliagao das

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Aterosclerose obliterante
de membros inferiores:
Avaliagao das alteragoes
de Espago Fisico-Vital
Observa-se em portadores de aterosclerose obliterante de membros inferiores importantes
deficiencias na utiliza,<ao do espa,<o fisico-vital (EFV - espa,<o concreto em que se
locomovem e realizam tarefas de significado pessoal). Foram avaliados 18 pacientds com
claudica,<ao intermitente atraves de urn novo metodo que esta sendo introduzido para
verificar as altera,<oes provocadas pela patologia e pela interven,<ao terapeutica, no EFY.
Este metodo consiste em desenhos feitos pelo paciente representando as fases pre-patologia,
p6s-patologia e p6s-tratamento clfnico e/ou cirurgico ("mapas de EFV"). A analise destes
mapas e complementada pelo levantamento do Hist6rico Ocupacional. Os resultados
mostraram que 0 advento da patologia acarreta uma redu,<ao do EFV e altera,<oes negativas
na adapta,<ao ocupacional no indivfduo, enquanto que, na fase p6s-interven,<ao ocorreu
uma reconquista do EFV, com positiva adapta,<ao ocupacional. Esta abordagem tern
propiciado aequipe transdisciplinar definir com precisao 0 grau de limita,<ao causado pela patologia
e possibilitado ao indivfduo atuar ativamente em seu processo de recupera,<ao da sande.
Unitermos: Aterosclerose, Claudica<;ao, Terapia Ocupacional
A
prevalencia da claudicac;:ao
intermitente por aterosclerose obliterante de membros
inferiores (AEO-MMII) na populac;:ao em
geral, segundo estudos de Reunanem e
cols. 19 , na FinHindia, em mais de dez mil
pessoas de 30 a 59 anos, foi de 2,1 % nas
homens e de 1,8% nas mulheres. Criqui e
cols.?, em estudos na Calif6rnia,
encontraram prevalencia de 2,2% nos
homens e 1,7% nas mulheres num grupo
de 613 pessoas, com idade media de 67
anos. Nota-se portanto, que esta
nosologia e altamente prevalente e
incapacitante. Geralmente, a patologia s6
e diagnosticada quando 0 paciente
procura assistencia especializada
queixando-se de claudicac;:ao intermitente, dor de repouso ou les6es
isquemicas.
A partir dos estudos realizados com
estes pacientes pelos autares do
presente trabalh0 9. 20. 21, foram observadas importantes deficiencias na
habilidade do individuo em viver de
maneira ativa no meio em que lida
rotineiramente, aqui denominado de
ESPAc;O FISICO-VITAL. De fin e - s e
ESPAc;O FISICO-VITAL como 0 espac;:o
concreto no qual 0 individuo se locomove
e realiza suas atividades dimas. Partiuse do conceito de Lewin 1? que define
espac;:o vital como sendo 0 campo
psicol6gico total de urn individuo num
deterrninado momenta e do conceito de
Watanabe22 que amplia 0 mesmo incluindo
os aspectos de continuidade, tempo,
espac;:o, recursos e relac;:6es humanas e
culturais. A disfunc;:ao presente na marcha
de pacientes com claudicac;:ao intermitente, dor de repouso e/ou les6es
isquemicas dos membros inferiores
compromete seriamente as possibilidades
de explorac;:ao e dominio de urn espac;:o
CIR VASC ANGIOL 13:101-107,1997
Junia Jorge Rjeille Cordeiro
Professora do Departamento de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional do
Escola de Educagoo Fisico, UFMG.
Terapeuta Ocupacional
Adriana Sarsur Nasser
Professora do Departamento de Terapia
Ocupacional do Faculdade de
Ciencias Medicos de Minas Gerais,
Terapeuta Ocupacional
Franklin Pinto Fonseca
Professor do Facufdade de Medicina,
UFMG, titular do SBACV
Ana Maria do Valle
Terapeuto Ocupocionol
Elce Oliveira de Araujo
Fisioterapeuto
So lange Seguro Meyge
Evangelista
Medica do Servigo de Cardiologia e
Cirurgia Cardiovascular do Hospital das
Clfnicos, UFMG, titular do SBACV
Trabalho realizado no 5elYigo de
Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do
Hospital das C1inicas do Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo
Horizonte.
ffsico de importancia vital para 0
individuo, interferindo em seu processo
de adaptac;:ao biopsicossocial, pois e
neste espac;:o que realiza suas atividades
cotidianas, as quais sao vitais para 0 ser
human0 4 ,12,IS.
o tipo de paciente em questao e
atendido por uma equipe transdisciplinar
que se constitui no Grupo de
Reabilitac;:ao Vascular do Servic;:o de
Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do
Hospital das Clfnicas (H.C.), UFMG. A
equipe e composta por angiologistas e
cirurgi6es vasculares, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Neste artigo,
objetiva-se apresentar a metodologia
desenvolvida pelas terapeutas ocupacionais da equipe, enfocando as modificac;:6es no espac;:o fisico-vital (distancias
percorridas e atividades executadas) nos
portadores de AEO-MMII. A razao deste
enfoque da Terapia Ocupacional se
•
Aterosclerose obliterante de
membros inferiores
fundamenta em seu objeto de estudo que
trata da relar,;ao do indivfduo consigo
mesmo e com 0 mundo que 0 cerca
atraves da atividade humana 4,5.J6. Desta
forma, busca-se prestar uma assistencia
que possibilite a transferencia dos
resultados da intervenr,;ao dos profissionais em funcionalidade significativa no
contexto particular do paciente.
A metodologia a ser apresentada
compreende a utilizar,;ao do levantamento
do Hist6rico Ocupacional do indivfduo,
a confecr,;ao de Mapas de Espar,;o FfsicoVital, a realizar,;ao de Sess6es Educativas,
a formar,;ao de Grupos de Atiyidades
Terapeuticas e 0 Estudo de Campo. No
presente artigo, esta metodologia
original sera demonstrada atraves do
estudo de um grupo de dezoito
pacientes, alem da apresentar,;ao de urn
caso clinico.
••••
A popular,;ao utilizada neste estudo
constitui-se de 18 portadores de AEOMMII, sendo 11 (61%) do sexo mascutino e 7 (39%) do sexo feminino, na faixa
etaria entre 43 e 82 anos (idade media =
62,5).
A claudicar,;ao interrnitente acometia
um dos membros inferiores em 8 (44%)
pacientes do grupo em questao e os
outros 10 (56%) indivfduos apresen"tavam comprometimento nos dois
membros,
Em relar,;ao aos fatores de risco, foi
verificado que 17 pacientes (94%) eram
portadores de hipertensao arterial e
relataram hist6ria de tabagismo, e 3
pacientes eram tambem diabeticos,
Este grupo de pacientes foi submetido
ao programa estruturado pelo Grupo de
Reabilitar,;ao Vascular, cuja atuar,;ao da
Terapia Ocupacional encontra-se
detalhada a seguir.
A avaliar,;ao dos pacientes e feita na
admissao dos mesmos para a reabilitar,;ao
•
Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols.
vascular, na qual 0 indivfduo e
submetido a propedeutica clfnica
angiol6gica, fisiotenipica com 0 teste da
marcha I e terapeutica ocupacional9, 20, 21.
Ap6s a avaliar,;ao inicial da equipe, 0
paciente comer,;a 0 programa de exercfcios ffsicos supervision ado ambulatorialmente por tres meses ou orientado
para tratamento domiciliar com supervisao nos retornos programados. Ao
final deste perfodo, 0 paciente e novamente examinado por toda a equipe.
Para avaliar as mudanr,;as ocorridas no
Espar,;o Ffsico-Vital do paciente, desenvolvemos a seguinte metodologia:
a) Levantamento do Hist6rico Ocupacional: 0 terapeuta ocupacional tomara
o papel de historiador para esbor,;ar,
analisar e definir os deficits e forr,;as
funcionais do paciente atraves do
processo de desenvolvimento ocupacional do mesm0 8. J8 • Os dados obtidos
neste levantamento subsidiam a analise
dos Mapas de Espar,;o Ffsico-Vital e
contribuem para a compreensao da
dinfunica de funcionamento do indivfduo
em suas relar,;6es familiares, comunitarias, de aprendizagem e de execur,;ao
de atividades essenciais em sua vida,
auxiliando 0 terapeuta ocupacional e a
equipe a perceberem a escala de valores
do paciente em cada uma das fases de
seu desenvolvimento;
b) Mapas de Espar,;o Ffsico-Vital:
Atraves da analise destes "mapas" 0
terapeuta ocupacional busca detectar as
variar,;6es ocorridas no espar,;o ffsicovital do paciente, nas fases: pre e p6spatologia e p6s-tratamento clfnico ou
cinirgico. Procura tambem detectar 0
significado destas variar,;6es para a vida
do paciente. 0 metodo consiste em
colocar a disposir,;ao do paciente papel
bobinado, lapis, caneta e borracha, a fim
de que ele dimensione a quantidade de
papel e 0 tipo 'de material que julgar
necessarios para a representar,;ao de seu
espar,;o fisico-vital. Pede-se entao ao
paciente que represente, com sinais
escolhidos por ele mesmo, os lugares
freqUentados e explorados nas suas
relar,;6es sociais e atividades significativas em cada uma das fases citadas
anteriormente. 0 terapeuta ocupacional
observa as variar,;6es na distancia
percorrida, no mimero e na freqUencia
de visitas e nas atividades exercidas em
cada local, alem das alterar,;6es
psicossociais (sentimentos positivos/
negativos consequentes a perda/
reconquista da funr,;ao organica/
ocupacional e aos processos globais do
envelhecimento) apresentadas. 0
terapeuta ocupacional anota tambem os
comentarios e a descrir,;ao que 0 paciente
relata durante confecr,;ao dos mapas.
Estes mapas sao colhidos durante a
avaliar,;ao inicial e final. A analise e feita
ao longo do processo terapeutico com a
participar,;ao efetiva do paciente junto ao
Grupo de Reabilitar,;ao Vascular;
c) Sess6es Educativas e Grupos de
Atividades Terapeuticas: Constituem-se
em atividades grupais que objetivam
conscientizar e auxiliar 0 paciente no
controle dos fatores de risco
cardiovasculares 3 que interferem na
progressao da patologia. As Sess6es
Educativas utilizam metodologia verbal
e ocupacional, uma vez que, no fazer, 0
sujeito tern a oportunidade de
experimentar os novos habitos
orientados, bern como tern a
oportunidade de aumentar 0 seu autoconhecimento - fator fundamental
quando se pensa na recuperar,;ao e
manutenr,;ao da saude como processos
onde 0 indivfduo atue como agente
ativ0 6.
d) Estudo de Campo: Objetivou
especificamente a documentar,;ao e
pesquisa cientffica dos resultados
obtidos pela equipe em dois casos. 0
referido estudo permitiu tambem urn
reforr,;o das conquistas do paciente e 0
fomecimento de algumas orientar,;6es in
CIR VASC ANGIOL 13: 101-107, 1997
Aterosclerose obliterante de
membros
inferiores
a execuc;ao de
atividades em seu espac;o fisico-vital.
Neste estudo, percorre-se concretamente
com 0 paciente, todo ou parte de seu
espac;o fisico-vital reconquistado apas
o ingresso no Grupo de Reabilitac;ao
Vascular. A equipe documenta este
espac;o fotografando e trac;ando 0 mapa
dos locais percorridos por ela juntamente
com 0 paciente.
loco, concernentes
°GASA
¢
POVOAOQ
CASA
O-x
GASA
o
VIZINHO
/0
CASA
CJ
FAZENDA
GASA
o
QUINTAL/
c
IGREJAJ
FIG, I - Mapa do Fase Pre-Patologia:
Retrata 0 espa<;:o fisico-vital do paciente
apas
aposentadoria
e
antes
do
ocorrencia dos sintomas do AEO-MMII,
0",/",",
o
C~DE
QUINTAL
AMIGO
I
IGREJA
FIG, 2 - Mapa do Fase Pas-Patologia:
Perfodo que antecedeu a cirurgia,
Constata-se uma mudan<;:a no dominio
do
espa<;:o
fisico-vital,
ocorrendo
diminui<;:60 no numero de loco is e
frequencia de visita aos mesmos,
GASA
o
FIG, 3 - Mapa do Fase Pas-Cirurgia:
Interven<;:60 bem sucedida do ponto-devista medico no entanto, seu espa<;:o fisicovitai ficou restrito somente 00 interior de
sua coso, Embora ocorresse a cicatriza<;:60
do les60 e todos os testes indicassem a
normaliza<;:60 pressarica distal, 0 paciente
n60 transferiu 0 ganho terapeutico obtido
com a cirurgia para a sua vida diorio,
RESULTADOS
Na analise das avaliac;i5es iniciais, foi
feita uma comparac;ao entre os mapas
das fases pre e pas-patologia, no que se
refere ao mimero e a freqtiencia de
lugares citados pelo paciente, e as
alterac;oes ocupacionais e psicossociais.
Esta analise demonstra que, em relac;ao
ao ntimero de lugares frequentados, 0
qual traduz essencialmente a amplitude
do espac;o fisico-vital, 12 pacientes
(67%) apresentaram uma reduc;ao,
enquanto que 6 pacientes (33%)
mantiveram este ntimero apesar do inicio
dos sintomas. No que concerne a
frequencia aos lugares citados, 12
pacientes (67%) apresentaram diminuic;ao da frequencia, enquanto que 6
(33%) mantiveram, apesar da dar, a
frequencia rotineira a lugares incluidos
no mapa da fase pre-patologia. As
alterac,;oes ocupacionais constatadas
nesta fase inicial de avaliac;ao, faram
verificadas em 13 (72%) pacientes,
enquanto que alterac,;oes psicossociais
negativas ocorreram em 17 (94%) casos.
Na analise das avaliac;i5es finais foi
feita uma comparac;ao entre os mapas
das fases pas-patologia e pastratamento no Grupo de Reabilitac;ao
Vascular, quando foram observados os
mesmos parametros acima citados, com
o objetivo de se verificar a eficacia da
intervenc;ao da equipe na produc;ao de
resultados significativos para a vida do
paciente.
Esta analise demonstra que 12 (67%)
CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997
Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols,
pacientes ampliaram seu Espac;o FisicoVital aumentando 0 mimero de lugares
freqtientados, enquanto que 5 (28%) 0
mantiveram e 1 (5%) diminuiu este
mimero. No que conceme a freqtiencia
aos lugares, 8 (44%) pacientes apresentaram aumento, enquanto que 10 (56%)
mantiveram a mesma frequencia com dar.
As alterac;oes ocupacionais constatadas
nesta fase final de avaliac;ao, faram
positivamente verificadas em 14 (78%)
pacientes. As alterac;oes psicossociais
com sentimentos positivos de reconquista e adaptac;ao no Espac;o FisicoVital apresentaram-se em 15 (83%) dos
casos estudados.
Para exemplificar a metodologia
utilizada, sera apresentado urn caso
clinico. Este e 0 tinico caso que teve
indicac;ao cinirgica no grupo de
pacientes estudados, devido a existencia
de claudicac;ao muito limitante e da
presenc;a de lesao isquemica, configurando uma cirurgia de urgencia.
Paciente J.e.G., sexo masculino, 74
anos, casado, procedente e residente em
pequena cidade do interior de Minas
Gerais. 0 paciente procurou , no
ambulatario do H.e., 0 angiologista e
cirurgiao da equipe relatando
claudicac;ao intermitente no MIE ha 8
meses, dor de repouso no pe esquerdo e
lesao isquemica no 3°. pododactilo
esquerdo. No mes seguinte, foi
submetido acirurgia de revascularizac;ao
do MIE par ponte femoro-poplitea de
PTFE. Apas a cirurgia, houve
cicatrizac;ao da lesao e nOlmalizac;ao do
indice pressarico tornozelo/brac;o. 0
paciente retornou para controle regular
dois meses apas a alta hospitalar, quando
foi constatado que ele nao havia
transferido, para sua vida di:iria, 0 ganho
terapeutico obtido com a cirurgia, ficando
confinado ao espac;o de sua residencia.
J.e.G. foi entao encaminhado para 0
Grupo de Reabilitac;ao Vascular.
Sob orientac;ao da fisioterapeuta, 0
paciente iniciou 0 programa domiciliar de
I
Aterosclerose obliterante de
QUINTAL
membros inferiores
IGREJA 00
PATRIMONIO
Cl
exercfcios ffsicos apos a devida
avalia~ao,
A terapeuta ocupacional, em sua
levantamento
do Historico Ocupacional do paciente, 0
qual evidenciou uma infancia rica em
experiencias no ambito familiar e
comunitario. Durante a vida adulta
trabalhou numa diversidade de fun~5es
e de espa~os geograficos. Com a
aposentadoria, desligou-se de muitas
atividades em comunidade, voltando-se
mais para atividades no ambito familiar.
J.C.G. tambem desenhou os Mapas de
Espa~o Fisico-Vital das fases prepatologia (Fig. 1), pos-patologia (Fig. 2)
e pos-cirurgia (Fig. 3). Estes mapas
demonstram a progressiva redu~ao do
espa~o fisico-vital do paciente, com a
conseqiiente modifica~ao em suas
atividades diarias. Einteressante notar 0
significado da casa para 0 paciente, a
qual e representada juntamente com cada
lugar citado pelo mesmo (nesta casa ele
nasceu e ainda nela habitava aos 74
anos). Nota-se tambem a escala de
valores do paciente pela elei~ao das
atividades que, mesmo em presen~a da
claudica~ao intermitente, 0 paciente fazia
questao de manter (visitas aigreja, a sua
horta e a casa de urn amigo). 0 ultimo
mapa solicitado nesta avalia~ao inicial
deveria demonstrar uma reconquista do
espa~o fisico-vital, uma vez que ele, se
refere afase pos-cirurgica bern sucedida
do ponto-de-vista medico. No entanto,
o paciente explicou que, 0 fato de ter sido
operado levou a farrulia a superprotege10 e a enclausura-lo dentro de cas a,
impedindo-o de usufruir de uma maior
capacidade
de
marcha
pelo
restabelecimento da circula~ao.
Apos dois meses e meio de exercfcios
dorniciliares, 0 paciente compareceu para
retorno com a equipe e teve a utiliza~ao
de seu Espa~o Ffsico-Vital novamente
avaliada (Fig. 4). Nesta etapa, J.e.G.
apresenta 0 infcio da reconquista de seu
avalia~ao inicial, realizou 0
o
CASA
FIG, 4 - Fase Pas-Ingresso no Grupo de
Reabilitac;:ao Vascular, apas 2 112 meses de
treinamento tisico supervisionado: Observase inicio do reconquista do espac;:o fisicovital
com consequente aumento de
atividade,
/CASA
CASA
RODOV!A: LOCAL PARA CAMlNHADA
ATE a PONTO MARCADO
CASA
IGREJA DO
PATRIMONIO
QUINTAL
FIG, 5 - Fase Pas-Reabilitac;:ao/Avaliac;:ao
tinal, apas 4 meses de treinamento tisico
supervisionado:
Nesta
tase
jo
existe
signiticativa
transterencia
do
ganho
terapeutico para a vida dioria do paciente,
tGREJA DO
PATRIMONIO
o
-
CAMlNHO PERCORRIDO
COM A EQurPE
FIG, 6 - Estudo de Campo: Mapa de espac;:o
tisico-vital elaborado pelos autores, apas
terem feito com 0 paciente 0 percusso in
loco, no ausencia de sintomas, Nesta
epoca, 0 paciente jo havia transferido,
com ajuda do Grupo de Reabilitac;:ao
Vascular, 0 ganho terapeutico para sua
vida diorio, reconquistando 0 espac;:o
fisico-vital anterior 6 molestia e que Ihe e
significativo no momenta atual.
.
~
Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols,
espa~o
e de atividades significativas.
No retorno apos quatro meses de
treinamento supervisionado, J.e.G.
demonstra inclusive ter rompido com 0
pressuposto de que a imobilidade e
desejavel para 0 idoso, e adere bern aos
exercfcios fisicos, chamando a aten~ao
de seus familiares e da sua comunidade.
Apos 0 termino do programa de lC.G.
junto ao grupo Reabilita~ao Vascular, a
equipe fez urn estudo de campo (fig. 5) 0
qual demonstra que 0 paciente transferiu
para a sua vida diaria, 0 ganho
terapeutico proporcionado pelo
processo junto aequipe, reconquistando
o Espa~o Ffsico-Vital restringido pela
patologia.
DlscussAo
Apos 0 desenvolvimento da
metodologia proposta pel a Terapia
Ocupacional no Grupo de Reabilita~ao
Vascular, foram observadas mudan~as
na interven~ao e abordagem dos
profissionais junto aos pacientes
durante 0 processo terapeutico.
Verificou-se que a equipe e os pacientes
ampliaram suas referencias de saudedoen~a, rela~ao terapeuta-paciente e
trabalho em equipe.
A equipe transdisciplinar aborda a
saude humana de forma condizente com
as tendencias atuais, considerando a
saude como "urn fenomeno multidimensional, que envolve aspectos ffsicos,
psicologicos e sociais, todos interdependentes"6. Neste tipo de organiza~ao
de equipe, nao existe urn myel hierarquico
rfgido - os niveis e objetivos sao
multiplos e coordenados para urn fim
comum lO • No Grupo de Reabilita~ao
Vascular, isto significa que as decis5es
sao tomadas conjuntamente, levandose em considera~ao 0 conhecimento
especffico que cada membro traz para 0
Grupo, visando 0 bem-estar do paciente
em seu proprio contexto. Procura-se,
CIR VASC ANGIOL 13: 101-107, 1997
Aterosclerose obliterante
de
membros inferiores
realmente, tratar 0 doente e nao a doenc;a.
A avaliac;ao do espac;o fisico-vital
possibilita definir, com precisao, 0 grau
de lirnitac;ao provocado pela claudicac;ao.
Estas limitac;6es podem ser, de tal
monta, que configurem a indicac;ao do
tratamento cinirgico da claudicac;ao
intermitente. Em nossa experiencia, a
intervenc;ao cinirgica raramente ocorre,
sendo que a grande maioria dos
pacientes com claudicac;ao sao
submetidos, com bons resultados a
tratamento clfnico. Somente com a
avaliac;ao do espac;o fisico-vital, 0 grau
de lirnitac;ao causado pela claudicac;ao
pode ser precisamente definido. E isto
tern importancia fundamental para a
indicac;ao terapeutica e para a avaliac;ao
dos resultados do tratamento.
o contexto biopsicoss'ocial do
paciente e dimensionado dentro da visao
historica de sua vida. Os dados da
avaliac;ao sao discutidos em equipe e os
profissionais podem compreender
melhor 0 significado da molestia atual e
do ganho terapeutico para a vida do
paciente, partindo de urn conhecimento
mais integrado do mesmo, no qual se
incluem a sua propria escala de valores e
expectativas da qualidade de vida.
A maioria dos pacientes atendidos no
Grupo de Reabilitac;ao Vascular e de
idosos. Este tipo de paciente possui
certas caracteristicas proprias de sua
faixa etaria das quais destacariamos a
postura passiva diante da propria vida e
diante das possibilidades de ac;ao no
espac;o e no tempo. Esta passividade
reforc;a a situac;ao morbida vivida pelo
paciente. 0 pressuposto de que a
imobilidade gera saude e decorrente nao
so desta passividade, como tambem do
senso comum em algumas comunidades
no que se refere a ocupac;ao ativa e
exercfcios fisicos para 0 idoso. 0 proprio
paciente e 0 grupo social que 0 cerca
reforc;am a restric;ao de ac;6es no tempo e
no espac;o e estimulam ao' maximo 0
repouso l1 . Isto e muito evidente em
pacientes com claudicac;ao intermitente..
A compreensao deste fator, num
processo de tratamento que e baseado
em exercfcio fisico supervisionado e no
estimulo ao retorno as atividades
normais, e de grande importancia para
que a equipe planeje mais adequadamente a sua ac;ao terapeutica e nao se
frustre.
Foi observado que 0 exercfcio
supervisionado em grupo, bern como as
sess6es educativas e as atividades
terapeuticas tern sido fator motivacional
que impele 0 individuo a sair da
passividade de "levar seu corpo para 0
atendimento medico" para uma postura
onde reconhece a ligac;ao da patologia e
do tratamento com seus habitos, a sua
responsabilidade na reconquista da
saude e 0 significado pessoal de todo
este processo, alem de entender a ac;ao
da equipe transdisciplinar. Desta forma
procura-se dissipar a onipotencia de
qualquer elemento do processo de
reabilitac;ao: nao e somente 0 medicQ, 0
CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997
Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols.
remedio, 0 exercfcio, 0 aconselhamento,
a cirurgia, a atividade expressiva ou a
educativa, a motivac;ao do paciente que
promovern a satide e combatem a doenc;a,
e sim a conjugac;ao de todos este fatores.
A metodologia proposta para
avaliac;ao do paciente com AEO-MMII
foi fundamentada nos modelos
tradicionais de avaliac;ao, partindo-se do
pressuposto de que 0 profissional detem
toda a capacidade de interpretac;ao dos
dados que serao fornecidos pelo
paciente. A partir do atendimento dos
primeiros -casos no infcio da formac;ao
do Grupo, percebeu-se que 0 paciente
pode contribuir com a analise dos itens
avaliados, 0 que gera auto-conhecimento
e motivac;ao do mesmo para com 0
tratamento - fatores essenciais para se
desenvolver urn programa que tenha nao
somente significado cientifico, bern
como, significado para 0 individuo I3 ,14.
Enquanto desenha e comenta sobre os
mapas, e enquanto fala durante a
entrevista para 0 levantamento de seu
historico ocupacional, 0 paciente
dimensiona, primeiramente para si antes
que para 0 outro, a configurac;ao e as
modificac;6es ocorridas no seu espac;o
fisico- vitaP 3.
Concluindo, foi possivel ao Grupo de
Reabilitac;ao Vascular abordar 0 paciente
de maneira a conjugar os objetivos
tecnico-cientificos da equipe com 0
significado do processo terapeutico para
o mesmo, mantendo-se a pessoa humana
no centro da nossa atenc;ao.
•
Ateroselerose
obliterante de
membros inferiores
LOWER LIMB ATHEROSCLEROSIS
OBLITERANS: ASSESSMENT OF
CHANGES IN PHYSICAL-VITAL
SPACE
Patients with lower limb atherosclerosis obliterans have significant
changes in use of their physical vital space (PVS - space where they
move independently and perform
meaningful personal tasks). A new
method of assessment of the
changes in PVS was evaluated in 18
patients with intermittent claudication. This method consists in drawings (PVS maps) made by the patients, representing three phases:
before onset, after onset and after
treatment of their vascular disease.
Analysis of those "maps" was complemented by the patient's occupational history (development process
and meaningful activities performed
throughout life). The study showed
that the onset of lower limb atherosclerosis results in significant reduction of PVS and negative changes in
the patient's occupational adaptation.
After treatment, recovery of the PVS
was observed, with positive changes
in the patient's occupational adaptation. This method has allowed the
multidisciplinary team caring for these
patients to assess precisely the degree of functional limitation caused
by their disease and has helped the
patients to participate actively in their
process of health recovery.
Keywords: Atherosclerosis, Claudication, Occupational Therapy
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COMENTARIO EDITORIAL
t
o manejo terapeutico dos pacientes
com claudica<;ao intermitente por arterosclerose obliterante de membros
inferiores, passou por etapas distintas,
conforme 0 conhecimento que se tinha
em cada epoca da evolu<;ao natural ,da
doen<;a.
Assim, nos anos 60, prevaleceu a
indica<;ao do tratamento cinirgico,
atraves da revasculariza<;ao em deriva<;ao
(by-pass) com safena reversa ou com as
pr6teses vasculares, que desde a decada
anterior haviam sido incorporadas ao
arsenal da cirurgia vascular. A recomenda<;ao para caminhar regularmente era
feita sem muita enfase, negligenciandose a importancia dos fatores de risco na
evolu<;ao da patologia. 0 objetivo da
cirurgia era tratar a claudica<;ao intermitente, ainda que nao incapacitante,
Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols.
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visando a preven<;ao das altera<;6es
tr6ficas.
Os resultados imediatos do tratamento
cinirgico eram excelentes, porem a
durabilidade das restaura<;6es em
deriva<;ao, nao correspondeu a expectativa dos cirurgi6es vasculares, e a sua
oclusao nem sempre era acompanhada
pela instala<;ao de altera<;6es tr6ficas nas
extremidades. Este fato estimulou uma
mudan<;a no conceito do tratamento da
claudica<;ao interrnitente.
A cirurgia ficou reservada para a
claudica<;ao incapacitante com ou sem
altera<;6es tr6ficas, e 0 tratamento clinico
medicamentoso com destaque para 0
controle dos fatores de risco (tabagismo,
hiperlipidemia, hipertensao arterial,
diabetes), juntamente com os exercfcios
programados proporcionou melhores
resultados. Sabe-se que somente 7% a 9%
dos pacientes com arterosclerose nos
membros inferiores desenvolvem
claudica<;ao interrnitente.
No presente trabalho de Cordeiro e
colaboradores, buscou-se atraves de uma
equipe transdisciplinar, avaliar as
altera<;6es de espa<;o fisico-vital (EFV) em
portadores de claudica<;ao intermitente
pre e p6s-patologia e p6s- tratamento
clinico e/ou cinirgico, atraves de "mapas"
de EFV elaborados pelo paciente, que
participa ativamente de todo 0 processo
de recupera<;ao.
Para os resultados obtidos foi fundamental a intera<;ao da equipe terapeutica
com 0 paciente. Entretanto, receio que em
nosso meio, dificilmente encontraremos
equipes transdisciplinares semelhantes e
em mimero suficiente p'ara atender a
demanda da popula<;ao claudicante.
CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997
Prof. Dr. Geraldo N. Righi Vieira
Florianopolis - SC
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