Aterosclerose obliterante de membros inferiores: Avaliagao das alteragoes de Espago Fisico-Vital Observa-se em portadores de aterosclerose obliterante de membros inferiores importantes deficiencias na utiliza,<ao do espa,<o fisico-vital (EFV - espa,<o concreto em que se locomovem e realizam tarefas de significado pessoal). Foram avaliados 18 pacientds com claudica,<ao intermitente atraves de urn novo metodo que esta sendo introduzido para verificar as altera,<oes provocadas pela patologia e pela interven,<ao terapeutica, no EFY. Este metodo consiste em desenhos feitos pelo paciente representando as fases pre-patologia, p6s-patologia e p6s-tratamento clfnico e/ou cirurgico ("mapas de EFV"). A analise destes mapas e complementada pelo levantamento do Hist6rico Ocupacional. Os resultados mostraram que 0 advento da patologia acarreta uma redu,<ao do EFV e altera,<oes negativas na adapta,<ao ocupacional no indivfduo, enquanto que, na fase p6s-interven,<ao ocorreu uma reconquista do EFV, com positiva adapta,<ao ocupacional. Esta abordagem tern propiciado aequipe transdisciplinar definir com precisao 0 grau de limita,<ao causado pela patologia e possibilitado ao indivfduo atuar ativamente em seu processo de recupera,<ao da sande. Unitermos: Aterosclerose, Claudica<;ao, Terapia Ocupacional A prevalencia da claudicac;:ao intermitente por aterosclerose obliterante de membros inferiores (AEO-MMII) na populac;:ao em geral, segundo estudos de Reunanem e cols. 19 , na FinHindia, em mais de dez mil pessoas de 30 a 59 anos, foi de 2,1 % nas homens e de 1,8% nas mulheres. Criqui e cols.?, em estudos na Calif6rnia, encontraram prevalencia de 2,2% nos homens e 1,7% nas mulheres num grupo de 613 pessoas, com idade media de 67 anos. Nota-se portanto, que esta nosologia e altamente prevalente e incapacitante. Geralmente, a patologia s6 e diagnosticada quando 0 paciente procura assistencia especializada queixando-se de claudicac;:ao intermitente, dor de repouso ou les6es isquemicas. A partir dos estudos realizados com estes pacientes pelos autares do presente trabalh0 9. 20. 21, foram observadas importantes deficiencias na habilidade do individuo em viver de maneira ativa no meio em que lida rotineiramente, aqui denominado de ESPAc;O FISICO-VITAL. De fin e - s e ESPAc;O FISICO-VITAL como 0 espac;:o concreto no qual 0 individuo se locomove e realiza suas atividades dimas. Partiuse do conceito de Lewin 1? que define espac;:o vital como sendo 0 campo psicol6gico total de urn individuo num deterrninado momenta e do conceito de Watanabe22 que amplia 0 mesmo incluindo os aspectos de continuidade, tempo, espac;:o, recursos e relac;:6es humanas e culturais. A disfunc;:ao presente na marcha de pacientes com claudicac;:ao intermitente, dor de repouso e/ou les6es isquemicas dos membros inferiores compromete seriamente as possibilidades de explorac;:ao e dominio de urn espac;:o CIR VASC ANGIOL 13:101-107,1997 Junia Jorge Rjeille Cordeiro Professora do Departamento de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Escola de Educagoo Fisico, UFMG. Terapeuta Ocupacional Adriana Sarsur Nasser Professora do Departamento de Terapia Ocupacional do Faculdade de Ciencias Medicos de Minas Gerais, Terapeuta Ocupacional Franklin Pinto Fonseca Professor do Facufdade de Medicina, UFMG, titular do SBACV Ana Maria do Valle Terapeuto Ocupocionol Elce Oliveira de Araujo Fisioterapeuto So lange Seguro Meyge Evangelista Medica do Servigo de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clfnicos, UFMG, titular do SBACV Trabalho realizado no 5elYigo de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das C1inicas do Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte. ffsico de importancia vital para 0 individuo, interferindo em seu processo de adaptac;:ao biopsicossocial, pois e neste espac;:o que realiza suas atividades cotidianas, as quais sao vitais para 0 ser human0 4 ,12,IS. o tipo de paciente em questao e atendido por uma equipe transdisciplinar que se constitui no Grupo de Reabilitac;:ao Vascular do Servic;:o de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clfnicas (H.C.), UFMG. A equipe e composta por angiologistas e cirurgi6es vasculares, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Neste artigo, objetiva-se apresentar a metodologia desenvolvida pelas terapeutas ocupacionais da equipe, enfocando as modificac;:6es no espac;:o fisico-vital (distancias percorridas e atividades executadas) nos portadores de AEO-MMII. A razao deste enfoque da Terapia Ocupacional se • Aterosclerose obliterante de membros inferiores fundamenta em seu objeto de estudo que trata da relar,;ao do indivfduo consigo mesmo e com 0 mundo que 0 cerca atraves da atividade humana 4,5.J6. Desta forma, busca-se prestar uma assistencia que possibilite a transferencia dos resultados da intervenr,;ao dos profissionais em funcionalidade significativa no contexto particular do paciente. A metodologia a ser apresentada compreende a utilizar,;ao do levantamento do Hist6rico Ocupacional do indivfduo, a confecr,;ao de Mapas de Espar,;o FfsicoVital, a realizar,;ao de Sess6es Educativas, a formar,;ao de Grupos de Atiyidades Terapeuticas e 0 Estudo de Campo. No presente artigo, esta metodologia original sera demonstrada atraves do estudo de um grupo de dezoito pacientes, alem da apresentar,;ao de urn caso clinico. •••• A popular,;ao utilizada neste estudo constitui-se de 18 portadores de AEOMMII, sendo 11 (61%) do sexo mascutino e 7 (39%) do sexo feminino, na faixa etaria entre 43 e 82 anos (idade media = 62,5). A claudicar,;ao interrnitente acometia um dos membros inferiores em 8 (44%) pacientes do grupo em questao e os outros 10 (56%) indivfduos apresen"tavam comprometimento nos dois membros, Em relar,;ao aos fatores de risco, foi verificado que 17 pacientes (94%) eram portadores de hipertensao arterial e relataram hist6ria de tabagismo, e 3 pacientes eram tambem diabeticos, Este grupo de pacientes foi submetido ao programa estruturado pelo Grupo de Reabilitar,;ao Vascular, cuja atuar,;ao da Terapia Ocupacional encontra-se detalhada a seguir. A avaliar,;ao dos pacientes e feita na admissao dos mesmos para a reabilitar,;ao • Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols. vascular, na qual 0 indivfduo e submetido a propedeutica clfnica angiol6gica, fisiotenipica com 0 teste da marcha I e terapeutica ocupacional9, 20, 21. Ap6s a avaliar,;ao inicial da equipe, 0 paciente comer,;a 0 programa de exercfcios ffsicos supervision ado ambulatorialmente por tres meses ou orientado para tratamento domiciliar com supervisao nos retornos programados. Ao final deste perfodo, 0 paciente e novamente examinado por toda a equipe. Para avaliar as mudanr,;as ocorridas no Espar,;o Ffsico-Vital do paciente, desenvolvemos a seguinte metodologia: a) Levantamento do Hist6rico Ocupacional: 0 terapeuta ocupacional tomara o papel de historiador para esbor,;ar, analisar e definir os deficits e forr,;as funcionais do paciente atraves do processo de desenvolvimento ocupacional do mesm0 8. J8 • Os dados obtidos neste levantamento subsidiam a analise dos Mapas de Espar,;o Ffsico-Vital e contribuem para a compreensao da dinfunica de funcionamento do indivfduo em suas relar,;6es familiares, comunitarias, de aprendizagem e de execur,;ao de atividades essenciais em sua vida, auxiliando 0 terapeuta ocupacional e a equipe a perceberem a escala de valores do paciente em cada uma das fases de seu desenvolvimento; b) Mapas de Espar,;o Ffsico-Vital: Atraves da analise destes "mapas" 0 terapeuta ocupacional busca detectar as variar,;6es ocorridas no espar,;o ffsicovital do paciente, nas fases: pre e p6spatologia e p6s-tratamento clfnico ou cinirgico. Procura tambem detectar 0 significado destas variar,;6es para a vida do paciente. 0 metodo consiste em colocar a disposir,;ao do paciente papel bobinado, lapis, caneta e borracha, a fim de que ele dimensione a quantidade de papel e 0 tipo 'de material que julgar necessarios para a representar,;ao de seu espar,;o fisico-vital. Pede-se entao ao paciente que represente, com sinais escolhidos por ele mesmo, os lugares freqUentados e explorados nas suas relar,;6es sociais e atividades significativas em cada uma das fases citadas anteriormente. 0 terapeuta ocupacional observa as variar,;6es na distancia percorrida, no mimero e na freqUencia de visitas e nas atividades exercidas em cada local, alem das alterar,;6es psicossociais (sentimentos positivos/ negativos consequentes a perda/ reconquista da funr,;ao organica/ ocupacional e aos processos globais do envelhecimento) apresentadas. 0 terapeuta ocupacional anota tambem os comentarios e a descrir,;ao que 0 paciente relata durante confecr,;ao dos mapas. Estes mapas sao colhidos durante a avaliar,;ao inicial e final. A analise e feita ao longo do processo terapeutico com a participar,;ao efetiva do paciente junto ao Grupo de Reabilitar,;ao Vascular; c) Sess6es Educativas e Grupos de Atividades Terapeuticas: Constituem-se em atividades grupais que objetivam conscientizar e auxiliar 0 paciente no controle dos fatores de risco cardiovasculares 3 que interferem na progressao da patologia. As Sess6es Educativas utilizam metodologia verbal e ocupacional, uma vez que, no fazer, 0 sujeito tern a oportunidade de experimentar os novos habitos orientados, bern como tern a oportunidade de aumentar 0 seu autoconhecimento - fator fundamental quando se pensa na recuperar,;ao e manutenr,;ao da saude como processos onde 0 indivfduo atue como agente ativ0 6. d) Estudo de Campo: Objetivou especificamente a documentar,;ao e pesquisa cientffica dos resultados obtidos pela equipe em dois casos. 0 referido estudo permitiu tambem urn reforr,;o das conquistas do paciente e 0 fomecimento de algumas orientar,;6es in CIR VASC ANGIOL 13: 101-107, 1997 Aterosclerose obliterante de membros inferiores a execuc;ao de atividades em seu espac;o fisico-vital. Neste estudo, percorre-se concretamente com 0 paciente, todo ou parte de seu espac;o fisico-vital reconquistado apas o ingresso no Grupo de Reabilitac;ao Vascular. A equipe documenta este espac;o fotografando e trac;ando 0 mapa dos locais percorridos por ela juntamente com 0 paciente. loco, concernentes °GASA ¢ POVOAOQ CASA O-x GASA o VIZINHO /0 CASA CJ FAZENDA GASA o QUINTAL/ c IGREJAJ FIG, I - Mapa do Fase Pre-Patologia: Retrata 0 espa<;:o fisico-vital do paciente apas aposentadoria e antes do ocorrencia dos sintomas do AEO-MMII, 0",/",", o C~DE QUINTAL AMIGO I IGREJA FIG, 2 - Mapa do Fase Pas-Patologia: Perfodo que antecedeu a cirurgia, Constata-se uma mudan<;:a no dominio do espa<;:o fisico-vital, ocorrendo diminui<;:60 no numero de loco is e frequencia de visita aos mesmos, GASA o FIG, 3 - Mapa do Fase Pas-Cirurgia: Interven<;:60 bem sucedida do ponto-devista medico no entanto, seu espa<;:o fisicovitai ficou restrito somente 00 interior de sua coso, Embora ocorresse a cicatriza<;:60 do les60 e todos os testes indicassem a normaliza<;:60 pressarica distal, 0 paciente n60 transferiu 0 ganho terapeutico obtido com a cirurgia para a sua vida diorio, RESULTADOS Na analise das avaliac;i5es iniciais, foi feita uma comparac;ao entre os mapas das fases pre e pas-patologia, no que se refere ao mimero e a freqtiencia de lugares citados pelo paciente, e as alterac;oes ocupacionais e psicossociais. Esta analise demonstra que, em relac;ao ao ntimero de lugares frequentados, 0 qual traduz essencialmente a amplitude do espac;o fisico-vital, 12 pacientes (67%) apresentaram uma reduc;ao, enquanto que 6 pacientes (33%) mantiveram este ntimero apesar do inicio dos sintomas. No que concerne a frequencia aos lugares citados, 12 pacientes (67%) apresentaram diminuic;ao da frequencia, enquanto que 6 (33%) mantiveram, apesar da dar, a frequencia rotineira a lugares incluidos no mapa da fase pre-patologia. As alterac,;oes ocupacionais constatadas nesta fase inicial de avaliac;ao, faram verificadas em 13 (72%) pacientes, enquanto que alterac,;oes psicossociais negativas ocorreram em 17 (94%) casos. Na analise das avaliac;i5es finais foi feita uma comparac;ao entre os mapas das fases pas-patologia e pastratamento no Grupo de Reabilitac;ao Vascular, quando foram observados os mesmos parametros acima citados, com o objetivo de se verificar a eficacia da intervenc;ao da equipe na produc;ao de resultados significativos para a vida do paciente. Esta analise demonstra que 12 (67%) CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997 Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols, pacientes ampliaram seu Espac;o FisicoVital aumentando 0 mimero de lugares freqtientados, enquanto que 5 (28%) 0 mantiveram e 1 (5%) diminuiu este mimero. No que conceme a freqtiencia aos lugares, 8 (44%) pacientes apresentaram aumento, enquanto que 10 (56%) mantiveram a mesma frequencia com dar. As alterac;oes ocupacionais constatadas nesta fase final de avaliac;ao, faram positivamente verificadas em 14 (78%) pacientes. As alterac;oes psicossociais com sentimentos positivos de reconquista e adaptac;ao no Espac;o FisicoVital apresentaram-se em 15 (83%) dos casos estudados. Para exemplificar a metodologia utilizada, sera apresentado urn caso clinico. Este e 0 tinico caso que teve indicac;ao cinirgica no grupo de pacientes estudados, devido a existencia de claudicac;ao muito limitante e da presenc;a de lesao isquemica, configurando uma cirurgia de urgencia. Paciente J.e.G., sexo masculino, 74 anos, casado, procedente e residente em pequena cidade do interior de Minas Gerais. 0 paciente procurou , no ambulatario do H.e., 0 angiologista e cirurgiao da equipe relatando claudicac;ao intermitente no MIE ha 8 meses, dor de repouso no pe esquerdo e lesao isquemica no 3°. pododactilo esquerdo. No mes seguinte, foi submetido acirurgia de revascularizac;ao do MIE par ponte femoro-poplitea de PTFE. Apas a cirurgia, houve cicatrizac;ao da lesao e nOlmalizac;ao do indice pressarico tornozelo/brac;o. 0 paciente retornou para controle regular dois meses apas a alta hospitalar, quando foi constatado que ele nao havia transferido, para sua vida di:iria, 0 ganho terapeutico obtido com a cirurgia, ficando confinado ao espac;o de sua residencia. J.e.G. foi entao encaminhado para 0 Grupo de Reabilitac;ao Vascular. Sob orientac;ao da fisioterapeuta, 0 paciente iniciou 0 programa domiciliar de I Aterosclerose obliterante de QUINTAL membros inferiores IGREJA 00 PATRIMONIO Cl exercfcios ffsicos apos a devida avalia~ao, A terapeuta ocupacional, em sua levantamento do Historico Ocupacional do paciente, 0 qual evidenciou uma infancia rica em experiencias no ambito familiar e comunitario. Durante a vida adulta trabalhou numa diversidade de fun~5es e de espa~os geograficos. Com a aposentadoria, desligou-se de muitas atividades em comunidade, voltando-se mais para atividades no ambito familiar. J.C.G. tambem desenhou os Mapas de Espa~o Fisico-Vital das fases prepatologia (Fig. 1), pos-patologia (Fig. 2) e pos-cirurgia (Fig. 3). Estes mapas demonstram a progressiva redu~ao do espa~o fisico-vital do paciente, com a conseqiiente modifica~ao em suas atividades diarias. Einteressante notar 0 significado da casa para 0 paciente, a qual e representada juntamente com cada lugar citado pelo mesmo (nesta casa ele nasceu e ainda nela habitava aos 74 anos). Nota-se tambem a escala de valores do paciente pela elei~ao das atividades que, mesmo em presen~a da claudica~ao intermitente, 0 paciente fazia questao de manter (visitas aigreja, a sua horta e a casa de urn amigo). 0 ultimo mapa solicitado nesta avalia~ao inicial deveria demonstrar uma reconquista do espa~o fisico-vital, uma vez que ele, se refere afase pos-cirurgica bern sucedida do ponto-de-vista medico. No entanto, o paciente explicou que, 0 fato de ter sido operado levou a farrulia a superprotege10 e a enclausura-lo dentro de cas a, impedindo-o de usufruir de uma maior capacidade de marcha pelo restabelecimento da circula~ao. Apos dois meses e meio de exercfcios dorniciliares, 0 paciente compareceu para retorno com a equipe e teve a utiliza~ao de seu Espa~o Ffsico-Vital novamente avaliada (Fig. 4). Nesta etapa, J.e.G. apresenta 0 infcio da reconquista de seu avalia~ao inicial, realizou 0 o CASA FIG, 4 - Fase Pas-Ingresso no Grupo de Reabilitac;:ao Vascular, apas 2 112 meses de treinamento tisico supervisionado: Observase inicio do reconquista do espac;:o fisicovital com consequente aumento de atividade, /CASA CASA RODOV!A: LOCAL PARA CAMlNHADA ATE a PONTO MARCADO CASA IGREJA DO PATRIMONIO QUINTAL FIG, 5 - Fase Pas-Reabilitac;:ao/Avaliac;:ao tinal, apas 4 meses de treinamento tisico supervisionado: Nesta tase jo existe signiticativa transterencia do ganho terapeutico para a vida dioria do paciente, tGREJA DO PATRIMONIO o - CAMlNHO PERCORRIDO COM A EQurPE FIG, 6 - Estudo de Campo: Mapa de espac;:o tisico-vital elaborado pelos autores, apas terem feito com 0 paciente 0 percusso in loco, no ausencia de sintomas, Nesta epoca, 0 paciente jo havia transferido, com ajuda do Grupo de Reabilitac;:ao Vascular, 0 ganho terapeutico para sua vida diorio, reconquistando 0 espac;:o fisico-vital anterior 6 molestia e que Ihe e significativo no momenta atual. . ~ Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols, espa~o e de atividades significativas. No retorno apos quatro meses de treinamento supervisionado, J.e.G. demonstra inclusive ter rompido com 0 pressuposto de que a imobilidade e desejavel para 0 idoso, e adere bern aos exercfcios fisicos, chamando a aten~ao de seus familiares e da sua comunidade. Apos 0 termino do programa de lC.G. junto ao grupo Reabilita~ao Vascular, a equipe fez urn estudo de campo (fig. 5) 0 qual demonstra que 0 paciente transferiu para a sua vida diaria, 0 ganho terapeutico proporcionado pelo processo junto aequipe, reconquistando o Espa~o Ffsico-Vital restringido pela patologia. DlscussAo Apos 0 desenvolvimento da metodologia proposta pel a Terapia Ocupacional no Grupo de Reabilita~ao Vascular, foram observadas mudan~as na interven~ao e abordagem dos profissionais junto aos pacientes durante 0 processo terapeutico. Verificou-se que a equipe e os pacientes ampliaram suas referencias de saudedoen~a, rela~ao terapeuta-paciente e trabalho em equipe. A equipe transdisciplinar aborda a saude humana de forma condizente com as tendencias atuais, considerando a saude como "urn fenomeno multidimensional, que envolve aspectos ffsicos, psicologicos e sociais, todos interdependentes"6. Neste tipo de organiza~ao de equipe, nao existe urn myel hierarquico rfgido - os niveis e objetivos sao multiplos e coordenados para urn fim comum lO • No Grupo de Reabilita~ao Vascular, isto significa que as decis5es sao tomadas conjuntamente, levandose em considera~ao 0 conhecimento especffico que cada membro traz para 0 Grupo, visando 0 bem-estar do paciente em seu proprio contexto. Procura-se, CIR VASC ANGIOL 13: 101-107, 1997 Aterosclerose obliterante de membros inferiores realmente, tratar 0 doente e nao a doenc;a. A avaliac;ao do espac;o fisico-vital possibilita definir, com precisao, 0 grau de lirnitac;ao provocado pela claudicac;ao. Estas limitac;6es podem ser, de tal monta, que configurem a indicac;ao do tratamento cinirgico da claudicac;ao intermitente. Em nossa experiencia, a intervenc;ao cinirgica raramente ocorre, sendo que a grande maioria dos pacientes com claudicac;ao sao submetidos, com bons resultados a tratamento clfnico. Somente com a avaliac;ao do espac;o fisico-vital, 0 grau de lirnitac;ao causado pela claudicac;ao pode ser precisamente definido. E isto tern importancia fundamental para a indicac;ao terapeutica e para a avaliac;ao dos resultados do tratamento. o contexto biopsicoss'ocial do paciente e dimensionado dentro da visao historica de sua vida. Os dados da avaliac;ao sao discutidos em equipe e os profissionais podem compreender melhor 0 significado da molestia atual e do ganho terapeutico para a vida do paciente, partindo de urn conhecimento mais integrado do mesmo, no qual se incluem a sua propria escala de valores e expectativas da qualidade de vida. A maioria dos pacientes atendidos no Grupo de Reabilitac;ao Vascular e de idosos. Este tipo de paciente possui certas caracteristicas proprias de sua faixa etaria das quais destacariamos a postura passiva diante da propria vida e diante das possibilidades de ac;ao no espac;o e no tempo. Esta passividade reforc;a a situac;ao morbida vivida pelo paciente. 0 pressuposto de que a imobilidade gera saude e decorrente nao so desta passividade, como tambem do senso comum em algumas comunidades no que se refere a ocupac;ao ativa e exercfcios fisicos para 0 idoso. 0 proprio paciente e 0 grupo social que 0 cerca reforc;am a restric;ao de ac;6es no tempo e no espac;o e estimulam ao' maximo 0 repouso l1 . Isto e muito evidente em pacientes com claudicac;ao intermitente.. A compreensao deste fator, num processo de tratamento que e baseado em exercfcio fisico supervisionado e no estimulo ao retorno as atividades normais, e de grande importancia para que a equipe planeje mais adequadamente a sua ac;ao terapeutica e nao se frustre. Foi observado que 0 exercfcio supervisionado em grupo, bern como as sess6es educativas e as atividades terapeuticas tern sido fator motivacional que impele 0 individuo a sair da passividade de "levar seu corpo para 0 atendimento medico" para uma postura onde reconhece a ligac;ao da patologia e do tratamento com seus habitos, a sua responsabilidade na reconquista da saude e 0 significado pessoal de todo este processo, alem de entender a ac;ao da equipe transdisciplinar. Desta forma procura-se dissipar a onipotencia de qualquer elemento do processo de reabilitac;ao: nao e somente 0 medicQ, 0 CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997 Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols. remedio, 0 exercfcio, 0 aconselhamento, a cirurgia, a atividade expressiva ou a educativa, a motivac;ao do paciente que promovern a satide e combatem a doenc;a, e sim a conjugac;ao de todos este fatores. A metodologia proposta para avaliac;ao do paciente com AEO-MMII foi fundamentada nos modelos tradicionais de avaliac;ao, partindo-se do pressuposto de que 0 profissional detem toda a capacidade de interpretac;ao dos dados que serao fornecidos pelo paciente. A partir do atendimento dos primeiros -casos no infcio da formac;ao do Grupo, percebeu-se que 0 paciente pode contribuir com a analise dos itens avaliados, 0 que gera auto-conhecimento e motivac;ao do mesmo para com 0 tratamento - fatores essenciais para se desenvolver urn programa que tenha nao somente significado cientifico, bern como, significado para 0 individuo I3 ,14. Enquanto desenha e comenta sobre os mapas, e enquanto fala durante a entrevista para 0 levantamento de seu historico ocupacional, 0 paciente dimensiona, primeiramente para si antes que para 0 outro, a configurac;ao e as modificac;6es ocorridas no seu espac;o fisico- vitaP 3. Concluindo, foi possivel ao Grupo de Reabilitac;ao Vascular abordar 0 paciente de maneira a conjugar os objetivos tecnico-cientificos da equipe com 0 significado do processo terapeutico para o mesmo, mantendo-se a pessoa humana no centro da nossa atenc;ao. • Ateroselerose obliterante de membros inferiores LOWER LIMB ATHEROSCLEROSIS OBLITERANS: ASSESSMENT OF CHANGES IN PHYSICAL-VITAL SPACE Patients with lower limb atherosclerosis obliterans have significant changes in use of their physical vital space (PVS - space where they move independently and perform meaningful personal tasks). A new method of assessment of the changes in PVS was evaluated in 18 patients with intermittent claudication. This method consists in drawings (PVS maps) made by the patients, representing three phases: before onset, after onset and after treatment of their vascular disease. Analysis of those "maps" was complemented by the patient's occupational history (development process and meaningful activities performed throughout life). The study showed that the onset of lower limb atherosclerosis results in significant reduction of PVS and negative changes in the patient's occupational adaptation. After treatment, recovery of the PVS was observed, with positive changes in the patient's occupational adaptation. This method has allowed the multidisciplinary team caring for these patients to assess precisely the degree of functional limitation caused by their disease and has helped the patients to participate actively in their process of health recovery. Keywords: Atherosclerosis, Claudication, Occupational Therapy REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. Araujo EO, Fonseca FP. Estudo da variabilidade do teste da marcha em pacientes com claudicac,:ao inter~ mitente. Cir Vasc Ang 4: 17-21,1988. 2. Alves AL. Bases para 0 trabalho integrado em saude. 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A recomenda<;ao para caminhar regularmente era feita sem muita enfase, negligenciandose a importancia dos fatores de risco na evolu<;ao da patologia. 0 objetivo da cirurgia era tratar a claudica<;ao intermitente, ainda que nao incapacitante, Junia Jorge Rjeille Cordeiro e cols. 19. Reunanen A, Takkunen H, Aromah A. Prevalence of intermittent claudication and its effect on mortality. Acta Med Scand 211: 249-256, 1982. 20. Rjeille 11, Valle AM, Araujo EO et al. Terapia Ocupacional na avalia<;ao do paciente com aterosclerose obliterante de MMII. In: Encontro de Pesquisa da Faculdade de Medicina UFMG, Belo Horizonte,l, 1985. 21. Rjeille 11, Valle AM, Araujo EO et al. Terapia Ocupacional na avalia,<ao de portadores de aterosclerose obliterante de MMII. In: Simp6sio Mineiro de Terapia Ocupacional, 3, 1986, Belo Horizonte. 22. Watanabe, S. Four concepts basic to the occupational therapy process. Am J Occup Therapy 22: 439-450,1968. visando a preven<;ao das altera<;6es tr6ficas. Os resultados imediatos do tratamento cinirgico eram excelentes, porem a durabilidade das restaura<;6es em deriva<;ao, nao correspondeu a expectativa dos cirurgi6es vasculares, e a sua oclusao nem sempre era acompanhada pela instala<;ao de altera<;6es tr6ficas nas extremidades. Este fato estimulou uma mudan<;a no conceito do tratamento da claudica<;ao interrnitente. A cirurgia ficou reservada para a claudica<;ao incapacitante com ou sem altera<;6es tr6ficas, e 0 tratamento clinico medicamentoso com destaque para 0 controle dos fatores de risco (tabagismo, hiperlipidemia, hipertensao arterial, diabetes), juntamente com os exercfcios programados proporcionou melhores resultados. Sabe-se que somente 7% a 9% dos pacientes com arterosclerose nos membros inferiores desenvolvem claudica<;ao interrnitente. No presente trabalho de Cordeiro e colaboradores, buscou-se atraves de uma equipe transdisciplinar, avaliar as altera<;6es de espa<;o fisico-vital (EFV) em portadores de claudica<;ao intermitente pre e p6s-patologia e p6s- tratamento clinico e/ou cinirgico, atraves de "mapas" de EFV elaborados pelo paciente, que participa ativamente de todo 0 processo de recupera<;ao. Para os resultados obtidos foi fundamental a intera<;ao da equipe terapeutica com 0 paciente. Entretanto, receio que em nosso meio, dificilmente encontraremos equipes transdisciplinares semelhantes e em mimero suficiente p'ara atender a demanda da popula<;ao claudicante. CIR VASC ANGIOL 13:101-107, 1997 Prof. Dr. Geraldo N. Righi Vieira Florianopolis - SC