Aline Rodrigues Padovani tanahoradopapa.com Maio 2015 Sumário Sumário Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê .................................................................. 4 Muito mais que engolir comida ................................................................................................ 5 Boas Práticas em Alimentação Complementar e Saúde ........................................................... 6 ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL .................................................................................................... 7 SEGURANÇA ALIMENTAR ...................................................................................................... 7 EMPATIA ................................................................................................................................ 7 A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos ....................................... 9 O Baby-led weaning .................................................................................................................... 12 Mas o bebê não engasga? ....................................................................................................... 13 Baby-led Weaning: Como começar? ........................................................................................... 14 Apresentação dos primeiros alimentos .................................................................................. 15 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê ..................................................................... 19 O reflexo de gag ...................................................................................................................... 19 Alterações no reflexo de gag ............................................................................................... 20 O reflexo de tosse ................................................................................................................... 21 O engasgo ................................................................................................................................ 23 Como reduzir os riscos de engasgo ..................................................................................... 26 O que fazer se o bebê engasgar? ............................................................................................ 30 Combinação de métodos: isso existe? ........................................................................................ 33 Uma questão de semântica..................................................................................................... 36 E se eu oferecer papinha de vez em quando? ........................................................................ 37 Finger food e a janela de oportunidades do bebê ...................................................................... 39 Introdução alimentar participativa ............................................................................................. 42 Dar ou oferecer? ..................................................................................................................... 44 Benefícios da introdução alimentar participativa ................................................................... 45 A Introdução da Alimentação Complementar ParticipATIVA ................................................. 47 (ou como aproveitar o melhor do BLW, mesmo oferecendo a comida) ................................ 47 Perguntas Frequentes* ............................................................................................................... 51 Meu bebê tem oito meses e até agora eu só dei papinha. É muito tarde para passar para o método BLW? .......................................................................................................................... 51 BLW não deu certo com a gente, e agora? ............................................................................. 52 Iniciamos a introdução de alimentos há poucas semanas e meu bebê rejeita tudo, cospe, “faz ânsia”, é normal? ............................................................................................................. 53 Meu bebê vai estar bem alimentado? .................................................................................... 54 Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 2 Sumário Os purês são mais fáceis de digerir e portanto, mais nutritivos? ....................................... 55 A necessidade de nutrientes adicionais .............................................................................. 56 Referências Bibliográficas: .......................................................................................................... 58 WebSites consultados: ............................................................................................................ 60 Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 3 Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê A introdução alimentar caracteriza-se essencialmente pela apresentação de alimentos de consistências diferentes da qual o bebê esteve acostumado durante os seus primeiros seis meses de vida, durante o aleitamento. É um momento de grande aprendizado, mas como toda novidade, é também um momento de crise. A amamentação tem o poder de aliar alimentação a afeto e esta passagem deve ter também afeto na condução. A paciência e a tranquilidade, assim o diálogo simples e manifestações positivas, devem fazer parte desta nova fase. A maneira como será conduzida a mudança do regime de aleitamento materno exclusivo para essa multiplicidade de opções poderá determinar, a curto, médio ou longo prazo, atitudes favoráveis ou não em relação ao hábito e ao comportamento alimentar. O respeito ao tempo de adaptação aos novos alimentos, assim como às preferências e às novas quantidades de comida, modificará a ação destes alimentos em mecanismos reguladores do apetite e da saciedade. Assim, deve-se respeitar a autorregulação do bebê, de forma a não interferir na sua decisão de não querer mais o alimento. Evidências sugerem que o consumo energético em 24 horas costuma ser adequado, mesmo que a ingestão em refeições pontuais possa ser um tanto quanto irregular. Na nossa cultura, acredita-se que comer bem é comer muito e que, comendo muito, tornamo-nos mais resistente à doenças. Porém, atitudes excessivamente controladoras e impositivas, podem induzir ao hábito de consumir porções mais volumosas do que o necessário e à preferência por alimentos hipercalóricos. E esta condição é apontada como uma das causas preocupantes do aumento das taxas de obesidade infantil que se tem observado nos últimos anos, além de também ser uma das causas de inapetência na infância. O Manual de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria reforça que a alimentação complementar, embora com horários mais regulares que os da amamentação, deve permitir pequena liberdade inicial quanto a ofertas e horários, permitindo também a adaptação do mecanismo fisiológico de regulação da ingestão. Mantém-se, assim, a percepção correta das sensações de fome e saciedade, característica imprescindível para a nutrição adequada, sem excessos ou carências. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 4 Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê Muito mais que engolir comida A alimentação diz respeito não somente à ingestão de nutrientes, como também aos alimentos que contém e fornecem esses nutrientes, e em como estes são combinados e preparados. Além disso, a alimentação ainda engloba as características do modo de comer e as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. E são todos esses aspectos em conjunto que influenciam a saúde e o bem-estar do indivíduo. Assim, alimentos específicos, preparações culinárias e modos de comer particulares constituem parte importante da cultura de uma sociedade. E como tal, estão fortemente relacionados com a identidade e o sentimento de pertencimento social das pessoas, com a sensação de autonomia, com o prazer propiciado pela alimentação e, consequentemente, com o seu estado de bem-estar. Neste livro, convido vocês a refletir sobre COMO a introdução alimentar deveria ser encarada. Assim, gostaria inicialmente de propor a seguinte reflexão: você já parou para pensar se o seu bebê está participando ATIVAMENTE no momento da refeição? "Dar" comida é definitivamente diferente de "oferecer". É importante sempre lembrar que todas as atitudes e hábitos que estão sendo colocados no momento da refeição podem perdurar por muitos e muitos anos a fio. Se um bebê assimila que é permitido dizer não e é possível não aceitar algo, ele torna-se capaz de internalizar positivamente a habilidade de provar coisas novas e de aceitar que algo diferente esteja no prato ainda que ele não queira comer. Já conheceu alguma criança maior que não pode ver nada de cor diferente no prato que já recusa a refeição inteira? De onde será que vem esse comportamento? É claro que ninguém faz isso por mal, toda família quer ver seu bebê comendo muito e feliz. Mas em alguns momentos é necessário se perguntar o que realmente o bebê está APRENDENDO nesse processo (de introdução alimentar). Muito do que ele aprender, vai ser implícito - isso significa que você não vai ensinar, mas de certa forma, ele vai assimilar e guardar em sua memória. Assim, um comportamento, uma ação começa a se relacionar com determinada reação ou consequência. "Eu abro a boca porque senão ela fica brava" é completamente diferente de "Eu abro a boca porque eu tenho fome e vontade de comer". Quando uma colher é colocada na boca do bebê sem que ele intencionalmente se prepare para isso, ele está realmente aprendendo a se alimentar? Ou simplesmente está ingerindo comida? Consegue perceber a diferença? Entendo que cada bebê, dentro de seu contexto, seja único e reaja de jeitos diferentes a diferentes situações. Se o seu bebê é um "comilão" nato, muito provavelmente você Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 5 Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê nem vai chegar a se questionar se está fazendo certo/errado - e se é que existe certo/errado. Mas independente da individualidade do seu bebê, refletir sobre COMO o processo de introdução alimentar está sendo conduzido e pensar no que essencialmente está sendo aprendido, pode te levar a compreender de fato como os hábitos de agora podem influenciar todo um futuro de organização e saúde alimentar. E gente, não é fácil! Acredito que a introdução alimentar seja uma das etapas mais difíceis desses primeiros mil dias do bebê (da gestação aos dois anos de vida). Primeiro de tudo, porque a introdução alimentar não é pontual. É um processo! E um processo que leva meses, com altos e baixos que só quem está ali, na prática, sabe a dor e a delícia sobre cada decisão e cada conquista. Independentemente do método de introdução alimentar, o esquema a seguir mostra uma abordagem universal de como a introdução alimentar deveria ser observada por todo profissional que orienta um cuidador durante esse processo. Queria ressaltar que nada disso é novidade, mas sim um apanhado geral do que todos os órgãos competentes em alimentação infantil e saúde descreveram e estão aí, online, para quem quiser ler. Boas Práticas em Alimentação Complementar e Saúde Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 6 Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Envolve tanto a seleção e apresentação de alimentos naturais e saudáveis, como a disponibilidade de propiciar condições que favoreçam o desenvolvimento neuropsicomotor do bebê por completo. Consumindo alimentos saudáveis, em uma dieta balanceada, mantendo um equilíbrio alimentar ao longo dos dias, com consistência e utensílios adequados que favoreçam o desenvolvimento motor global e oral do bebê. Lembrando que até os dois anos de idade, o leite materno supre boa parte das necessidades nutricionais do bebê. Na prática, o cuidador não terá como saber a quantidade de leite oferecido (caso o bebê seja amamentado no seio materno), assim como a quantidade exata de nutrientes e energia presente na alimentação complementar. Assim, a quantidade de alimento a ser oferecido deveria ser baseada nos princípios da alimentação responsiva/participativa, assumindo que a densidade energética e frequência das refeições é adequada para suprir as necessidades da criança. SEGURANÇA ALIMENTAR Envolve essencialmente a higiene e segurança no preparo e conservação dos alimentos, que é de extrema importância para a saúde e desenvolvimento do bebê. Além disso, eu ainda incluo aqui a seleção e preparação dos alimentos em formas e texturas adequadas de acordo com sua faixa de desenvolvimento. Aprender primeiros socorros também deveria ser item básico de explicação durante a consulta ao pediatra. EMPATIA Partindo-se do princípio que o bebê tem à sua frente alimentos seguros e saudáveis, deixe o bebê mostrar o que quer. Como quer. Quando quer. Empatia significa "colocarse no lugar do outro". Experimente "oferecer" ao invés de "dar". Respeite os períodos de inapetência e reforce a alimentação saudável nos períodos de convalescença e de apetite normal. Se ater a quantidades pré-estabelecidas é desrespeitar o ritmo natural que cada bebê tem de controlar a sua própria fome/saciedade. E acima de tudo: BOM-SENSO! Lembre-se que SIM, cada bebê é único, mas quem dá a oportunidade é você!! O bebê não vai ao supermercado escolher os alimentos que consome, não prepara a refeição e não tira do armário os utensílios que vão ser utilizados. Todas essas escolhas são inicialmente dos pais e/ou cuidadores. O que o bebê Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 7 Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê assimila é hábito decorrente dessas escolhas iniciais. Então, criar um ambiente positivo e dar OPORTUNIDADES é sempre fundamental!!! Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 8 A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos Aprender a comer sólidos é uma parte natural do processo de desenvolvimento. Assim como sentar, andar ou falar. Mesmo que o desenvolvimento de alguns bebês seja mais rápido do que de outros, a sequência do processo acaba sendo muito similar em todos eles. Habilidades novas são adquiridas uma após outra, aproximadamente na mesma ordem. Assim, por exemplo, a maioria dos bebês aprende a sentar, para depois engatinhar e posteriormente colocar-se de pé e caminhar. E estas habilidades são adquiridas sem que ninguém tenha que ensiná-los – não há como forçar o desenvolvimento (ainda que você possa estimulá-lo). O desenvolvimento do bebê é contínuo a partir do momento do nascimento. A partir dos movimentos reflexos, o bebê começa a adquirir o controle voluntário da musculatura e assimilar novos movimentos. Algumas habilidades são adquiridas visivelmente de forma lenta e gradual, outras aparecem praticamente da noite para o dia Isso também pode variar, de bebê para bebê. De qualquer forma, toda nova aquisição foi resultado da prática e coordenação de movimentos – dos mais simples aos mais complexos. Esses princípios aplicam-se a todos os aspectos do desenvolvimento, incluindo a alimentação. Todos os bebês desenvolvem habilidades que os permitem que se alimentem sozinhos. Assim, os bebês que tem a oportunidade de alimentar-se de forma independente irão desenvolver essas habilidades mais rapidamente do que os que são assistidos em todo o processo. As habilidades relacionadas à alimentação tendem a aparecer de maneira natural na seguinte ordem (Rapley & Murkett, 2008): 1. 2. 3. 4. 5. 6. Abocanhar o seio materno Estender à mão para tentar pegar objetos interessantes Agarrar objetos e levá-los à boca Explorar objetos com os lábios e a língua Morder um alimento Mastigar 7. Engolir 8. Capturar objetos pequenos utilizando o movimento de pinça (entre o dedo indicador e o polegar) Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 9 A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos Ao nascer, o bebê sadio e a termo apresenta dois principais reflexos de sobrevivência relacionados à nutrição: o reflexo de procura, necessário para encontrar o seio materno e abocanhá-lo para começar a mamar, e o reflexo de suçcão, que os permite extrair o leite do seio materno e deglutir quase que instantaneamente. Até os três meses de idade, os bebês começam a procurar as mãos: conseguem vê-las e movem-nas diante do rosto para conhecê-las melhor. Suas mãozinhas fecham-se automaticamente caso qualquer coisa passe por elas. Pouco a pouco, começam a levar as mãos à boca. Nessa idade, ainda não coordenam muito bem a musculatura, então às vezes podem golpear seu próprio rosto e mostrar-se surpresos ao perceber que estão segurando algo. Até os quatro meses, já podem esticar as mãos para agarrar algo que porventura tenha lhes interessado. A medida que a coordenação motora vai se aperfeiçoando, começam a movimentar os braços e as mãos com maior precisão, conseguindo agarrar objetos e levá-los à boca. Os lábios e a língua estão extremamente sensíveis e o bebê os utiliza para explorar o sabor, a textura, a forma e o tamanho dos objetos do cotidiano. Quando chegam aos seis meses de idade, a maioria dos bebês conseguem alcançar objetos fáceis de agarrar, usam toda a palma da mão para segurá-los e levá-los à boca com bastante precisão. Se o bebê tem a oportunidade de observar, alcançar e agarrar comida, a levará à boca. E ainda que pareça que o bebê está comendo, ele na verdade está primariamente explorando com a boca e a língua – como se fosse um brinquedo, ou objeto – e provavelmente não irá engolir. Entre os seis e os nove meses de idade, o bebê adquire uma série de novas habilidades, uma atrás da outra. Primeiro, aprende a morder ou mordiscar pedaços pequenos de comida, com a gengiva (ou com seus primeiros dentinhos, caso eles já tenham começado a aparecer). Rapidamente, descobrem que podem manter a comida na boca durante um tempo. O tamanho e o formato da boca se modificam e o bebê já consegue controlar melhor a língua. Nesta fase, se o bebê estiver sentado direito, é muito comum que a comida caia da boca, ao invés de engolir. Diferente do leite (seja materno ou fórmula), o qual o bebê precisa sugar e com isso o direciona diretamente para a parte posterior da boca, os alimentos sólidos tem que ser movidos ativamente no interior da cavidade oral. Quando expostos naturalmente aos sólidos, nota-se que os bebês não conseguem engolir sem antes aprender a morder e a mastigar. Isso significa que, por uma ou duas semanas, qualquer coisa que que seja colocada na boca, acabará caindo. Só começarão a engolir quando os músculos da língua, das bochechas e da mandíbula estiverem melhor coordenados, permitindo a deglutição adequada. É possível que esta etapa do desenvolvimento seja um mecanismo Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 10 A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos natural de proteção contra o engasgo. Porém esse mecanismo só funciona quando é o próprio bebê que coloca comida em sua boca, é necessário que ele tenha total controle. Até os nove meses de idade, o bebê adquire o movimento de pinça. Assim, utiliza o polegar e o dedo indicador para capturar objetos e/ou alimentos menores. Antes que isso aconteça, é muito pouco provável que o bebê consiga levar algo muito pequeno à boca (uma uva passa ou um grão de arroz, por exemplo). Os bebês que podem comer sozinhos em todas as refeições são expostos a múltiplas oportunidades de praticar essas habilidades e adquirem segurança e precisão nos movimentos muito rapidamente. Ao que parece, assim como caminham somente quando estão preparados, também começam a ingerir os sólidos somente quando estão prontos, desde que lhes seja dada OPORTUNIDADE! Grande parte da investigação sobre a introdução da alimentação sólida é centralizada em quando se deve começar e com quais alimentos. Em geral, passa-se despercebido pela relação importantíssima entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos. O método baby-led weaning, como veremos a seguir, fundamenta-se na premissa de que os bebês instintivamente sabem quando estão preparados para começar a ingerir sólidos, desenvolvendo de forma natural as habilidades necessárias para tal atividade. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 11 O Baby-led weaning O Baby-led weaning A sigla BLW refere-se à “Baby-led Weaning”, termo proposto por Gill Rapley em 2008, com a publicação de seu primeiro livro “Baby Led Weaning: helping your baby to love good food”. Nessa abordagem, o termo “weaning”, embora frequentemente traduzido literalmente como “desmame”, inclui na verdade a introdução gradual e natural da alimentação complementar, sendo o desmame realizado gradualmente sob tempo indeterminado, já que a escolha de passar a comer mais e mamar menos é feita exclusivamente pelo bebê. Apesar de parecer complicado, o método nada mais é do que uma descrição de técnicas que algumas mães já praticam há anos, utilizando apenas o velho bom-senso. Assim, descreve uma maneira simples de iniciar a alimentação complementar dos bebês, permitindo que eles se alimentem sozinhos – não há oferta de alimento com a colher e nem oferta de papinhas. O bebê é posicionado sentado junto com a família e participa da alimentação quando estiver pronto, alimentando-se independentemente com as próprias mãos e posteriormente, após a aquisição de habilidades necessárias, com os talheres. As principais vantagens do BLW: – Permite que os bebês explorem sabor, textura, cor e cheiro dos alimentos; – Encoraja independência e confiança; – Ajuda a desenvolver a coordenação visual-motora e as habilidades de mastigação; – Reduz a probabilidade de distúrbios alimentares na infância, incluindo seletividade e brigas frequentes na hora da refeição. De acordo com a autora do método, todos os bebês SAUDÁVEIS, dentro do padrão esperado de desenvolvimento, podem começar a alimentar-se sozinhos a partir dos seis meses. Eles só precisariam da oportunidade. E este tempo coincide com o que preconiza a Organização Mundial da Saúde em relação à amamentação exclusiva até os seis meses do bebê, e complementar até os dois anos de vida da criança (ou mais). Segundo Rapley, o método considera o modo de desenvolvimento dos bebês no primeiro ano de vida, sendo que aos seis meses a MAIORIA dos bebês é capaz de sentarse ereto, pegar objetos com as mãos e levá-los à boca e mastigar coisas, ainda que não tenham dentes. O que faz bastante sentido também, já que antes da resolução de 2003, Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 12 O Baby-led weaning a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizava a introdução de alimentos a partir dos 4 meses de idade. Assim, fazia-se necessário iniciar com papinhas homogêneas, pois o bebê, aos quatro meses, não tem maturidade – nem do ponto de vista motor, nem do ponto de vista fisiológico – para receber alimentos na forma sólida. Intuitivamente, segundo a experiência da própria autora, aos seis meses, as mães costumavam iniciar a introdução de sólidos. Mas o bebê não engasga? Uma das dúvidas e preocupações mais frequentes entre as mães que tem interesse em aplicar o BLW é: mas e meu bebê não irá engasgar? A verdade é que o risco de engasgo é real sim, porém tanto para bebês que comem sozinhos utilizando a metodologia BLW, quanto para bebês que tem a oferta assistida com papas. Podemos engasgar com qualquer alimento, seja ele líquido, pastoso ou sólido. Mas o medo vem da possibilidade de pedaços grandes se desprenderem do alimento oferecido em seu formato original e irem parar direto na garganta do bebê. Pode acontecer? Pode. É frequente? Não. Vamos tratar mais sobre esse assunto nos próximos capítulos. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 13 Baby-led Weaning: Como começar? Baby-led Weaning: Como começar? Seu bebê está próximo de completar os seis meses, já senta e já consegue levar objetos à boca com facilidade. Excelente! Já é um forte candidato a iniciar a introdução alimentar pelo BLW! Mas e agora? Bom, antes de tudo, é importante você entender que o método foi descrito em 2008, no Reino Unido. Isso significa que foi planejado de acordo com as recomendações oficiais deste país, as quais podem diferir em vários aspectos do que o que é preconizado aqui no Brasil pelos dois órgãos responsáveis pelas diretrizes no assunto: o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria. Vamos chamar este modo de introdução alimentar de “tradicional”. A introdução alimentar tradicional prevê que o bebê seja introduzido à dieta sólida gradualmente, considerando a oferta de papas não liquidificadas, em progressão crescente em consistência à medida que – aos 8-12 meses a criança já come a mesma comida da família. Essa é a orientação mais atual do Guia Alimentar para crianças menores de dois anos do Ministério da Saúde. Muitos pediatras orientam ainda começar com suco de laranja lima, depois frutas simples, como banana, maçã e pêra – uma fruta por dia, por dias consecutivos e depois de uma semana começar com a papa salgada… entre outras orientações (algumas desatualizadas, mas enfim, isso não vem ao caso). No BLW, entretanto, preconiza-se que o bebê coma a mesma comida do restante da família. Não existe “a comida do bebê” e tampouco o bebê precisa comer em horários distintos. O bebê é incluído no momento da refeição e é através da observação e imitação que o bebê vai assimilando o momento da refeição como algo social e prazeroso e adquirindo hábitos saudáveis. Então, se você e sua família não comem bem, definitivamente é a melhor hora de rever os hábitos alimentares de todos. Cabe a você colocar na balança e decidir quais alimentos irá apresentar e com que frequência. Vale ressaltar que a presença de histórico familiar de alergia alimentar definitivamente requer uma atenção extra e deve ser discutido junto ao médico. É importante ter apoio médico. Alguns não conhecem a sigla “BLW”, mas o mais importante é descrever: “meu bebê vai comer sozinho, alimentos sólidos que ele possa manusear, desde o início da introdução alimentar”. Muitas famílias já utilizam o BLW sem nem saber que ele existe, então é possível que o pediatra tenha algum conhecimento sobre o assunto. Se o pediatra insiste na ordem de apresentação dos Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 14 Baby-led Weaning: Como começar? alimentos, não há problema, desde que respeitadas as principais “diretrizes” do BLW: deixar que o bebê manipule SOZINHO o alimento sólido, sendo esquecidas as papinhas, e que a autonomia do bebê seja completamente respeitada. É importante avaliar se a saúde geral do bebê está adequada, se ele está aceitando bem a alimentação láctea e se ele irá precisar de complementação vitamínica. Consulte uma segunda ou terceira opinião caso precise sentir-se mais confiante. Você deve ter em mente que o bebê VAI brincar com a comida em um primeiro momento. Pra ele, as primeiras semanas vão ser totalmente de descoberta e o que vai incentivá-lo a manipular os alimentos não é a fome, mas a curiosidade. Esse primeiro contato vai ser essencial para que ele tenha uma boa relação com os alimentos e com a hora da refeição. Tem que ser prazeroso, apenas isso. Se ele fizer as refeições junto à família, vai ainda começar a entender todo o aspecto social que a hora da refeição envolve. Tudo isso tende a levar a criança à gostar da hora da refeição, criando desde o princípio, uma relação saudável com o alimento e a hora da refeição. O BLW é um excelente método para o desenvolvimento orofacial do bebê, já que estimula toda a musculatura orofacial apropriada para a alimentação desde o princípio. Com o BLW, o bebê vai aprender primeiro a mastigar os sólidos, e só depois a engolir – ou seja, na sequência esperada e fisiológica dos eventos. Isso tende a fazer com que eles modulem melhor a força de mastigação e mordida, além da quantidade de comida que colocam na boca. No início, é comum que eles tenham reflexo de gag e/ou cuspam a comida. Muito pouco vai pro estômago e isso é absolutamente esperado. A amamentação em livre demanda e/ou oferta de leite artificial ainda vai ser a principal fonte de nutrição dos bebês neste primeiro momento. No BLW, o bebê irá decidir quando reduzir as mamadas – e isso só vai acontecer quando ele estiver pronto para alimentar-se. Tudo vai ser no tempo do bebê, por isso o método é de chamado “desmame conduzido pelo bebê” (baby-led weaning). Bom, agora que você já sabe de tudo isso, vamos para a parte prática! Saber como apresentar os alimentos neste início! Apresentação dos primeiros alimentos Os princípios básicos de uma boa alimentação são os mesmos para as crianças, independentemente do método de introdução alimentar. Melhor ainda se puder contar com a ajuda de uma nutricionista infantil. De qualquer forma, de uma maneira geral, uma vez que o bebê é candidato ao BLW, não há necessidade de restringir os alimentos Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 15 Baby-led Weaning: Como começar? que podem ser oferecidos ao bebê (a menos que exista histórico familiar de alergias ou suspeita de alterações no sistema digestivo). De acordo com o Manual de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (2012), alguns itens que devem ser evitados durante o primeiro ano de vida ou mais incluem: - leite de vaca - sal em excesso - açúcar (de qualquer origem) - mel - sucos, chás e agua de coco Idealmente, ofereça frutas e legumes levemente cozidos para que fiquem macios o suficiente para serem mastigados com a gengiva e duros o suficiente para que não sejam amassados com facilidade e dissolvidos durante a preensão palmar. A melhor consistência é aquela de legumes para salada. Inicialmente, é melhor oferecer as carnes em pedaços grandes, para serem apenas explorados e sugados. Cortar as tiras de carnes no sentido transversal das fibras irá ajudar os bebês a retirar fiapos de carne com a força da mordida – ainda que não tenham dentes. Um bom guia para o tamanho e forma necessária é o tamanho do punho do bebê, com um importante fator para se ter em mente: bebês pequenos não conseguem abrir o punho intencionalmente. Assim, eles não conseguem pegar um alimento e soltá-lo dentro da boca, ou seja, irão morder apenas o que sai pra fora do punho fechado. Isso significa que eles tem melhor desempenho com o que tem forma de batata-frita ou tem uma “alça” (como o cabo do brócolis, por exemplo). Eles então podem mastigar o pedaço que está saindo para fora do punho fechado e soltar o restante depois – geralmente enquanto eles estão tentando pegar o próximo pedaço que parece mais interessante. Frutas e legumes escorregadios podem ser deixados com a casca, para facilitar a preensão. Conforme suas habilidades são adquiridas, menos comida será desperdiçada. Em seu livro, Rapley & Murkett (2008) detalharam alguns pontos chaves para se ter sucesso com o BLW. Então, pra quem está começando, seguem as dicas das autoras e, pra quem já está no meio do caminho, é sempre bom rever o que estamos fazendo e tentar melhorar. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 16 Baby-led Weaning: Como começar? “APRENDER A COMER SOZINHO: os segredos do sucesso (por Rapley & Murkett, 2008) – a princípio, entenda a hora de comer como uma hora de brincadeira. O propósito fundamental é aprender e experimentar, não comer. O bebê ainda obtém todos os nutrientes que necessita com as mamadas (LM ou LA). – continue oferecendo leite à demanda, para que os sólidos o complementem, no lugar de substituí-lo. O bebê irá reduzindo as mamadas gradualmente, no seu próprio ritmo. – não espere que o bebê coma demais no princípio. O fato dele haver completado seis meses não significa que precise de mais alimento durante todo o dia. Quando descobrem que a comida tem um gosto bom, começarão a mastigar e, em breve, a engolir. Muitos bebês comem pouco durante os primeiros meses. – tente comer com o bebê e permita-o juntar-se à mesa familiar sempre que possível. Assim, ele terá muitas oportunidades para imitar vocês e praticar novas habilidades. – prepare-se para as manchas! Pense no melhor método de vestir o bebê e em como proteger os arredores, para evitar se estressar com a sujeira e para poder recolher facilmente a comida do chão. Lembre-se que o bebê está aprendendo, a intenção dele não é complicar sua vida. – tem que ser divertido … para todos! Assegure-se de que a hora da alimentação seja uma experiência tranqüila e agradável para todos. Isso vai animar o bebê a explorar e a experimentar, o que facilitará que ele se aventure com novos sabores e aproveite ao máximo a hora da comida. SEIS COISAS QUE VOCÊ DEVERIA FAZER 1. Assegure-se de que seu bebê está sentado e bem erguido enquanto experimenta a comida. Nos primeiros dias, ele pode sentar-se no seu colo, de frente para a mesa. Uma vez que comece a sentar no cadeirão, vc pode utilizar almofadas pequenas ou uma toalha dobrada para mantê-lo ereto e na altura adequada em relação à bandeja ou à mesa. 2. Comece oferecendo pedaços de comida fáceis de pegar. Os melhores são os palitos grossos. Na medida do possível (e sempre que seja adequado), ofereça o mesmo que o restante da família come, para que ele possa participar de toda a experiência. Lembrese que os bebês pequenos não conseguem acessar o que tem no punho fechado, então não espere que ele coma os pedaços inteiros, tenha outros pedaços preparados para quando ele terminar de comer a parte que sobressai o punho. 3. Ofereça variedade. Não é necessário limitar a experiência do bebê com a comida. É importante não sobrecarregá-lo em cada ocasião, mas apresentar-lhe sabores e texturas diferentes ao longo da semana lhe proporcionará uma variedade de nutrientes, além de ajudar a desenvolver as habilidades necessárias para comer. 4. Siga oferecendo o peito ou a mamadeira como anteriormente, além de oferecer água durante a comida. O padrão das mamadas não irá variar até ele começar a comer mais sólidos, o que irá acontecer de forma muito gradual. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 17 Baby-led Weaning: Como começar? 5. Fale com seu médico ou pediatra sobre a introdução de sólidos, discutam sobre história familiar de intolerância aos alimentos, alergias, problemas digestivos ou qualquer outra dúvida sobre a saúde ou desenvolvimento global do bebê. 6. Explique sobre o BLW a todos que vão cuidar do seu bebê. SEIS COISAS QUE VOCÊ NÃO DEVERIA FAZER 1. Não ofereça comida que não seja boa para o bebê, como comida pronta, comida processada ou com adição de sal/açúcar. Mantenha fora de seu alcance tudo o que possa levar ao engasgo. 2. Não ofereça sólidos quando ele está com fome e precisa mamar. 3. Não o pressione ou o distraia enquanto está ocupado com a comida. Permita-o concentrar-se e marcar o ritmo do que está fazendo. 4. Não coloque comida em sua boca (e esteja atento à crianças que podem querer tentar “dar uma mão” e fazer o mesmo). Deixar que o bebê tenha a iniciativa é uma característica fundamental de segurança no método BLW. 5. Não tente persuadi-lo para que ele coma mais do que quiser. As estratégias, jogos, subornos e ameaças não são necessárias. 6. NUNCA deixe seu bebê sozinho enquanto come.” Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 18 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê O reflexo de gag A partir de determinada pressão, em determinado ponto da boca, todos nós (ou a grande maioria de nós) temos um reflexo protetor chamado “reflexo de gag”. Esse reflexo – muito similar a uma “ânsia de vômito” – é considerado protetor de vias aéreas inferiores, pois a partir de seu disparo, qualquer objeto estranho que não esteja sendo deglutido adequadamente vai ser trazido de volta para a frente da boca. A partir daí, ele pode ser mastigado novamente, reiniciando-se a deglutição, ou devidamente cuspido pra fora da boca. Sendo assim, o Gag é considerado como um importante recurso fisiológico do corpo para prevenir o engasgo. Além disso, a natureza, sábia como é, fez os bebês com um reflexo de gag bem anteriorizado em relação aos adultos. Dessa forma, enquanto adultos apresentam o gag apenas na região das amídalas e da faringe, os bebês já apresentam o reflexo em base de língua, apresentando também essa região mais elevada. Essa disposição anátomofisiológica está diretamente relacionada à capacidade do bebê para engolir e digerir alimentos sólidos. Ou seja, ter o gag presente é um bom sinal! Sinal de que os reflexos fisiológicos normais estão presentes e ajudando a proteger o seu bebê enquanto o corpo dele se prepara para receber os sólidos da maneira mais instintiva e natural possível! É óbvio que o reflexo de gag é disparado muito mais vezes quando o bebê está manipulando um alimento sólido. Isso porque, como qualquer outro reflexo, o gag depende de uma determinada pressão em determinado ponto da boca, para ser ativado. Como o reflexo patelar, quando o médico bate o martelinho no joelho e a perna levanta. Pois bem, pedaços maiores exercem maior pressão nesses pontos específicos do que colheres de purê ou líquido, que se dispersam na boca. É por esse motivo que os gags acontecem com maior frequência quando o bebê coloca pedaços grandes dentro da boca e, principalmente, quando ainda não aprenderam a mastigar esses pedaços antes de engolir – o que acontece principalmente nas primeiras semanas de introdução alimentar. Então, embora a frequência do disparo do reflexo esteja aumentada, deve-se lembrar que o reflexo está agindo justamente na “campanha anti-engasgo”. É provável, por exemplo, que seu bebê tenha mais engasgos com líquidos do que com os sólidos, já reparou nisso? Sim, pois o gag não consegue ser ativado a tempo suficiente antes que o líquido “escorra pelo lugar errado”. No início da introdução alimentar tradicional, o bebê também pode apresentar o reflexo de gag para os alimentos pastosos/pastosos com pedaços. Isso porque, da mesma Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 19 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê forma, ele ainda não aprendeu a organizar esses alimentos dentro da boca, transformando-os em um bolo alimentar para serem deglutidos. Assim, a papa se dispersa e o corpo, em um fascinante mecanismo de proteção, faz todos os esforços para que o alimento – mal deglutido – volte para a boca para ser cuspido ou manejado novamente para dar sequência correta à deglutição. Muita gente acha que o bebê não gostou da comida porque está tendo “ânsia”, mas na verdade é só mais uma parte do aprendizado – “mastigar” e engolir. Rapley, em seu best-seller “Baby led weaning”, teoriza ainda que, quando o bebê come sozinho, ele tem maior controle do que leva à boca. A autora discute que os riscos reais de engasgos são menores quando o bebê tem o controle da situação, pois quando é alimentado, quem o assiste pode frequentemente colocar a colher dentro de sua boca, ainda que o bebê não tenha a intenção de capturar o alimento da colher. Assim, teoricamente, a papa pode ser direcionada para o fundo da boca sem aviso e acabar causando o engasgo. Essa primeira fase é fundamental na aprendizagem da mastigação e o bebê tem seus reflexos protetores em nível máximo de funcionamento – laringe e traquéia elevadas, dorso de língua elevado, reflexo de gag anteriorizado. Até que o corpo se acostume, e até que o bebê aprenda a manejar os alimentos em cavidade oral e toda sua anatomofisiologia comece a se modificar para ir ficando mais próxima do que temos quando adultos. Seria a melhor hora para investir em alimentos macios, fáceis do bebê manipular por conta própria. Tirinhas de cenoura, batata e outros legumes bem cozidos, raminhos macios de brócolis e couve flor, tiras de frutas macias como banana, mamão, abacate. Frutas macias como caqui, abacate, pêssego, ameixa, pêra. Confie no seu bebê. Suas habilidades motoras globais estão em perfeita sintonia com suas habilidades motoras orais. Alterações no reflexo de gag Alguns bebês tem o reflexo de gag tão exacerbado, que costumam apresentar vômito após o disparo do reflexo. O vômito também pode acontecer caso o reflexo seja disparado continuamente, sem sucesso, como quando algo ficou “preso” no trajeto. Lembre-se que o corpo vai fazer de tudo pra eliminar o que foi mal deglutido. O vômito será o esforço final em expelir o que ficou preso em região oral/orofaringe e não está conseguindo ser retirado apenas com o reflexo de gag. Bebês com refluxo crônico podem ter um reflexo de gag alterado, devido à modificação da mucosa e sensibilidade oro-faringea, podendo levar a inibição total do reflexo ou hipersensibilidade. Outras condições também podem levar à alteração do reflexo, por Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 20 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê isso é sempre bom ter um acompanhamento profissional antes de subentender que todos os bebês irão acompanhar o mesmo padrão descrito nos livros. O reflexo de tosse No item anterior, vimos que o reflexo de gag é um importante mecanismo de defesa contra engasgo e que no bebê ele é anteriorizado, sendo disparado muito antes do alimento chegar na garganta. O gag é percebido como uma ânsia de vômito, no qual movimentos musculares involuntários repetitivos mobilizam a musculatura do pescoço, garganta, de dentro da boca e da face, na tentativa de expelir um alimento mal deglutido. A tosse não faz parte do reflexo de gag, embora ambos possam coexistir, como veremos mais à frente. À medida em que o bebê se desenvolve, assim como outros reflexos inatos são reduzidos ou suprimidos totalmente (como o reflexo de sucção, procura, preensão), o reflexo de gag também tende a se normalizar e se aproximar mais do que acontece no adulto lá pelos 7-9 meses de idade. Desta forma, por volta desta idade, o reflexo de gag passa a ser disparado, na maioria dos bebês, mais posteriormente, em pilares faríngeos (que revestem as amígdalas) e orofaringe, principalmente. Consequentemente, o número de vezes em que o gag é disparado durante a alimentação diminui drasticamente, e principalmente nos bebês BLW, os quais aparentam apresentar um desenvolvimento significativo da fase oral da deglutição – mastigação e controle oral já nos primeiros meses de introdução alimentar1. Pensando na posteriorização do reflexo de gag a partir dessa idade, gostaria de começar a refletir com vocês sobre o reflexo de tosse e a diferença entre estes. Sabemos que uma falha no processo de deglutição pode frequentemente resultar em um engasgo (obstrução parcial ou total de vias aéreas), sendo a tosse um importante mecanismo de defesa contra o alimento que se direciona para a laringe, traquéia e/ou vias aéreas inferiores, ao invés de ir para o esôfago. A tosse é uma resposta reflexa e da mesma forma que o gag funciona como um mecanismo de proteção de vias aéreas, podendo ainda ser realizada voluntariamente (embora não com a mesma força e efetividade). O reflexo de gag é iniciado por receptores relacionados ao trato digestivo, enquanto a tosse é disparada por receptores referentes ao trato aéreo. Como esses dois componentes compartilham muitas partes anatômicas, ambos reflexos tem características similares e podem coexistir, mas não são a mesma coisa. Os receptores da tosse podem ser encontrados em grande número nas vias aéreas altas (laringe e traquéia) e nos brônquios, e – assim como o gag, podem ser estimulados por Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 21 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê mecanismos químicos (gases, odores fortes) e mecânicos (secreções, corpos estranhos, alimentos). Além disso, a tosse ainda é responsiva a mecanismos térmicos (ar frio, mudanças bruscas de temperatura) e inflamatórios (asma, fibrose cística). O reflexo da tosse também pode apresentar receptores na faringe, assim como o gag. De fato, quando o reflexo de tosse aparece antes, durante ou após a deglutição, é muito provável que o gag por si só não foi efetivamente capaz de eliminar o corpo estranho, e este já atingiu vias aéreas. Apesar do gag funcionar melhor com pedaços de alimentos grandes, o reflexo de tosse é eliciado mesmo com infímas porções. Assim, é sem dúvida o reflexo mais importante de defesa de vias aéreas, sendo capaz de desobstruir a maioria dos engasgos de leve a moderada gravidade (obstrução parcialde vias aéreas). A presença de tosse forte, eficaz, indica passagem de ar e a possibilidade de desobstrução de vias aéreas sem a necessidade de realizar nenhuma intervenção externa. Ainda assim, deve-se observar se há recuperação total do padrão respiratório e se a respiração não apresenta nenhum ruído audível. Quaisquer sinais de mudanças devem ser considerados relevantes e o médico deve ser procurado. De acordo com Fraga e colaboradores (2008), o retardo no diagnóstico da aspiração de corpos estranhos (ACE) está associado à falta de atenção aos sinais e sintomas presentes na história clinica de engasgo e tosse, principalmente em crianças menores de 3 anos. A valorização da radiografia simples de tórax como exame indicado para exclusão da ACE é outro erro comum. Estas dificuldades diagnósticas resultam em vários tratamentos equivocados para quadros de pneumonia, asma ou laringite. Estas considerações não excluem a necessidade de implementação de programas dirigidos às populações leigas, tanto de prevenção, como de orientação às manobras de desobstrução de vias aéreas. Um excesso de tosse ou gags muito repetitivos com interrupção do fluxo aéreo e subsequente vermelhidão ou cianose e lacrimejamento dos olhos indicam a necessidade de intervenção rápida e direta, por meio da manobra de Heimlich em bebês. Tenho constantemente observado orientações práticas no sentido de “esperar o bebê se recuperar do gag”. Ressalto: confie no seu bebê, observe, mantenha a calma, mas atente-se à diferença entre esses reflexos e esteja atento para realizar de forma rápida e eficaz a manobra de desobstrução de vias aéreas quando necessária. Se tiver dúvida, aja. O BLW é excelente quando bem orientado e bem utilizado. Ressalto que engasgos deste tipo são mais raros, mas podem acontecer2. Em um esforço contrário, a tosse também pode desencadear o vômito. Isso porque ambos processos envolvem diretamente um aumento da pressão abdominal. A própria tosse pode irritar a garganta e acabar desencadeando o gag, sendo o vômito uma Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 22 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê consequência imediata, principalmente se o bebê estiver com a barriga cheia ou sendo alimentado. Gags vão acontecer no início da IA por BLW. É absolutamente normal. Mas são rápidos. Vão durar no máximo uns 15 segundos, no máximo levando a um vômito por excesso de ânsia. A criança volta a comer como se nada tivesse acontecido, caso o adulto passe confiança e tranquilidade na situação. Não tem mesmo que enfiar o dedo na boca a cada pedaço grande que entra. O bebê em pouco tempo aprende a cuspi-los, e ainda, a morder pedaços menores, se for dada a oportunidade dele aprender naturalmente. Por meio do reflexo de gag, por meio da mastigação por amassamento com as gengivas, por meio da aquisição de movimentos finos com a língua. Dito isso, nem por isso eu preciso expô-lo a riscos absolutamente desnecessários. Não vou dar alimentos duros, por exemplo. Não vou deixar ele comendo sozinho. Vou pesar o custo-benefício em cada situação. E nessa situação, o custo benefício tá muito desbalanceado. Observações Importantes: 1. Muito do que se discute sobre o BLW tem base empírica, isto é, não baseada em fatos científicos. Apesar de bastante difundido atualmente, o BLW ainda está sendo estudado e os artigos científicos sobre o assunto ainda apresentam dados incompletos e superficiais. Na prática, o BLW tem se mostrado um método extremamente eficiente no desenvolvimento das funções orofaciais e na condução da introdução da alimentação complementar. 2. Até o momento, não existem na literatura relatos de aspiração em bebês que foram introduzidos ao método. O engasgo Nos últimos itens falamos sobre as diferenças entre os mecanismos de proteção de vias aéreas: reflexo de gag e reflexo de tosse, e como estes estão inter-relacionados entre si. No post de hoje, vamos falar sobre o engasgo, que nada mais é do que a consequência imediata da falha destes mecanismos de proteção. Ressaltando que o ENGASGO é uma CONDIÇÃO e não um REFLEXO. Relembrando que o objetivo destas explicações mais aprofundadas não é amedrontar ninguém, mas dar a relevância necessária para que o público leigo não subestime sinais importantes, tampouco coloque o bebê em risco pensando que o reflexo de gag pode operar milagres. Como já disse antes, o Baby-led weaning é um método excelente se Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 23 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê bem orientado e conduzido. Acredita-se que o bebê exposto ao BLW tenha uma melhor capacidade em lidar com os sólidos e esteja menos predisposto ao engasgo, já que desenvolve potencialmente suas habilidades intra-orais – mas esse conhecimento é empírico, isto é, não validado pela ciência. Após a publicação do livro da Rapley, em 2008, muitos paradigmas relacionados ao BLW foram sendo estabelecidos e muito do que se difunde como verdade absoluta acaba sendo decorrente da troca de experiência nos grupos de mães que praticam o método. No Brasil, o “achismo” acaba sendo ainda maior, porque o livro não foi traduzido para o português. Quem tem interesse em aplicar o método, é de fundamental importância compreender os fundamentos iniciais. Então, esclarecendo, o engasgo é definido como uma obstrução do fluxo aéreo, parcial ou completo, decorrente da entrada de um corpo estranho nas vias aéreas, podendo, em sua apresentação mais grave, levar à cianose e asfixia. Na obstrução parcial das vias aéreas a criança consegue tossir, respirar, emitir alguns sons ou até falar. Na obstrução total, a criança é incapaz de tossir, falar, chorar e isso é muito mais grave, pois pode evoluir para um quadro de asfixia e parada cardio-respiratória. Os sinais mais evidentes de obstrução total de via aérea são: coloração arroxeada/azulada da pele, aumento progressivo da dificuldade respiratória, inabilidade de chorar ou realizar algum som, tosse fraca/ ineficaz, ruído agudo durante a inspiração, agitação e/ou confusão devido á falta de oxigenação cerebral, sinal universal de engasgo e perda de consciência. O engasgo definitivamente pode ser prevenido. Aproximadamente 50% dos engasgos acontecem com alimentos, sendo os outros 50% decorrentes da manipulação de pequenos objetos (moedas, botões, pedaços de móveis e brinquedos), especialmente quando os bebês começam a adquirir mobilidade. Esses dados podem variar, de acordo com a fonte, mas costumam apresentar-se em uma proporção equilibrada. Não necessariamente um engasgo vai acarretar uma aspiração (entrada de corpo estranho nas via aéreas), mas pode acontecer. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, no Brasil, milho, feijão (crus) e amendoim são os grãos mais comumente aspirados na faixa etária pediátrica. Por outro lado, o material mais relacionado a óbito imediato por asfixia é o sintético, como balões de borracha, estruturas esféricas, sólidas ou não, como bola de vidro e brinquedos. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 24 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Os resultados qualitativos de um estudo sobre BLW mostraram que o risco potencial de engasgo foi a maior preocupação dos profissionais de saúde entrevistados, sendo o que os faz mais relutantes na recomendação do método. Outras preocupações dos profissionais foram a imaturidade do bebê de seis meses para mastigar pedaços grandes de alimentos, além do medo das mães deixarem seus bebês sozinhos com a comida. Apontaram também o clima competitivo entre as mães praticantes do método, sobre o progresso da alimentação de seus bebês. Há um receio por parte dos profissionais, de que as mães considerem o bebê “muito mais avançado” se ele experimentar certos tipos de alimentos antes de outros bebês, sentindo-se deste modo motivadas a oferecer alimentos perigosos, de potencial risco para engasgo. Este mesmo estudo mostrou que uma parcela das mães relatou a maçã crua como uma das principais causas de engasgo entre seus bebês BLW. Alimentos crus preenchem o critério de alto risco para engasgo, principalmente em edentados, pois são rígidos e se dividem em inúmeros pequenos pedaços duros quando mordidos. O autor ressalta que é necessário desencorajar os pais que seguem o BLW a oferecer maçã crua para seus bebês. Rapley e Murkett (2008) sugerem que o bebê tem muito menos probabilidade de vir a engasgar quando é ele quem leva o alimento à boca. Mas o que quero ressaltar com esse artigo é que o adulto é diretamente responsável pela disposição de alimentos seguros durante a alimentação pelo BLW. O bebê não tem maturidade para decidir o que é seguro ou não e leva tudo, absolutamente tudo à boca. A minha sugestão é que você também observe e respeite o desenvolvimento global do bebê durante o BLW. Se ele não é capaz de capturar um grão de arroz com o movimento de pinça, então dificilmente será capaz de manejá-lo com eficiência em cavidade oral. Todo seu desenvolvimento oral está em perfeita sintonia com seu desenvolvimento global e não há necessidade de estimular. Lembre-se que o BLW permite que o bebê se desenvolva naturalmente. Acompanhar o bebê durante a refeição ajuda não somente na formação do vínculo, reforçando o aspecto social das refeições, como também assegura que você irá ver o bebê mastigando e manipulando sua comida, podendo avaliar rapidamente qualquer situação de risco. Sentar-se ereto, prestando atenção durante a refeição (e não fazer qualquer outra coisa concomitantemente – como brincar, engatinhar ou correr) é a forma mais segura das crianças aproveitarem o momento. Uma refeição sem pressa e uma parada para o lanche oferecem à criança tempo de sobra para mastigar e engolir a comida com segurança. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 25 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Outro fator que pode aumentar o risco de engasgo, segundo a literatura, é a presença do irmão mais velho, pois geralmente há no ambiente uma grande disposição de alimentos e objetos perigosos para a faixa etária do irmão menor. Assim, deve-se reforçar a supervisão e orientar aos mais velhos para não dividirem alimentos e objetos com crianças menores. Como reduzir os riscos de engasgo Definitivamente existe uma forma de tornar o ambiente mais seguro possível e SIM, praticar o BLW com a maior tranquilidade e segurança, de forma que os benefícios sobreponham os riscos! Antes de tudo, vamos relembrar algumas recomendações essenciais: 1. Estar ciente das manobras de desobstrução que você pode fazer em casa. 2. Insistir para que as crianças comam à mesa, sentadas. Evite alimentá-las enquanto correm, andam, brincam, estão rindo. Não deixá-las deitar com alimento na boca. 3. Supervisione SEMPRE a alimentação de crianças pequenas. 4. Fique atento às crianças mais velhas. Muitos acidentes ocorrem quando irmãos ou irmãs mais velhas oferecem objetos ou alimentos perigosos para os menores. 5. Evite comprar brinquedos com partes pequenas e mantenha objetos pequenos da casa fora do alcance das crianças. Siga a recomendação da embalagem dos brinquedos, com relação à idade ideal para aquisição. E não permita que crianças pequenas brinquem com moedas. De acordo com a literatura, os alimentos mais frequentemente relacionados ao engasgo incluem: Doces (especificamente doces duros ou pegajosos) Qualquer oleaginosa e similares (amêndoas, castanhas, amendoim etc) Sementes (semente de girassol, caroço de azeitona etc) Grãos crus (exemplo: feijão, arroz, milho etc) Pedaços grandes de carne e queijos duros Salsichas Queijos pegajosos Pedaços grandes e rígidos de carnes e queijos Salgadinhos (principalmente duros como doritos, batata-frita etc) Casca de fruta e frutas duras cruas (como a maçã e a pêra verde) Uvas inteiras Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 26 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Chicletes Cubos de gelo Creme de amendoim ou cream cheese em blocos grandes (pegajosos e grudam no céu da boca) Pipoca – PRINCIPALMENTE o peruá (parte amarelinha) Pretzels Uvas passas Vegetais duros crus e verduras cruas Alimentos em forma de cordão (exemplo: broto de feijão, espaguete, verduras (ex:couve) cortadas em tiras etc) Ufa! A lista é grande não? Mas pensando que muito do que está listado aí não é nem indicado para um bebê, já que é pura porcaria, ainda tem MUITA coisa pra oferecer! Então, por exemplo, alguns dos alimentos de alto risco que vocês podem tranquilamente passar sem oferecer pelo menos até os 4 anos de idade: salsichas e linguiças doces duros, molengos ou pegajosos. Ao contrário do que muita gente pensa, gelatina também é super perigoso, pois é escorregadio e, quando não mastigado, um pedaço pode tranquilamente obstruir a via aérea. amendoins, sementes e oleaginosas (amendoas, castanhas, nozes etc) uvas inteiras pedaços grandes de carne ou queijo duro mashmallows pipoca chiclete E o que podemos fazer para melhorar a apresentação dos alimentos a fim de reduzir as chances de engasgo: Os alimentos mais seguros para as crianças são aqueles cortados em pedaços que oferecem mínimo ou nenhum risco de “entupirem” a via aérea. Os desenhos abaixo ilustram a via aérea e como um objeto ou alimento pode facilmente obstruir totalmente a passagem de ar. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 27 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Fraga e colaboradores, 2008 Denny e colaboradores, 2014 Cortar salsichas e alimentos de formatos similares (exemplo: cenoura) no sentido do comprimento, em “formato de batata-frita” – o ideal é fugir do formato que tende a “entupir” a glote, como visto nas ilustrações acima. Amaciar vegetais e frutas duras, cozinhando-os na água, forno ou vapor, a fim de que se tornem fáceis de mastigar por amassamento com as gengivas. A consistência ideal para BLW é a de salada de legumes: nem muito duro, nem muito mole (pois esfarela na mão do bebê que não tem controle da força). Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 28 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Quando o bebê ainda é “banguela”, você pode oferecer as frutas com parte da casca para facilitar a preensão palmar (já que a maioria escorrega). Mas é prudente retirar as cascas das frutas quando o bebê já tem dentes e é capaz de “rasgar” a casca com a força da mordida. CARNES: Enquanto o bebê ainda não tem o movimento de pinça desenvolvido, você pode oferecer as carnes: desfiadas umidificadas (molho ou purê) em pequenas porções; ou bem cozidas, macias, cortadas em tiras ou cubos, no sentido transversal das fibras (assim os pedaços que se soltam ficam pequenos e fáceis de mastigar); ou também, carnes moídas em formato de hamburguer, almôndega ou croquete. Conforme o bebê adquire o movimento de pinça, o ideal é: cortar em pedaços bem pequenos, desfiados ou carne moída, até que o bebê tenha habilidade para mastigar pedaços maiores com o nascimento dos molares (até os dois anos mais ou menos). Alimentos pegajosos (exemplo: cream cheese, pasta de amendoim e similares) se consumidos, devem ser apresentados em porções pequenas, pois podem “grudar” no céu da boca. Algumas leguminosas como o quiabo e a vagem costumam ser queridinhos no BLW, pois são de fácil preensão. Mas atentem-se para as sementinhas e os grãos de feijão que podem desprender desses alimentos e escorregar para o fundo da boca. A melhor forma de oferecer esses alimentos é cortadinho em rodelas pequenas quando o bebê já é capaz de pegá-las. Alimentos fibrosos e/ou duros para mastigar mesmo após o cozimento (ex: quiabo, vagem, brócolis comum, folhas etc) são mais fáceis de mastigar se cortados em pedaços pequenos e/ou misturados à outras preparações/receitas. Hidratar as frutas secas e cozinhar bem os grãos antes de oferecê-los aos bebês. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 29 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Milho verde na espiga deve estar beeem molinho (daqueles que estouram nos dentes), para os “banguelas”, vcs podem “rasgar” os grãos com um ralador de queijo. É extremamente arriscado oferecer uvas inteiras aos bebês e crianças pequenas, assim como qualquer outro alimento neste formato (tomatinhos, cerejas, jabuticabas, azeitonas, ovinho de codorna, entre outros). Quaisquer alimentos nestes formatos devem ser cortados longitudinalmente em duas ou quatro partes. Cortes transversais não são indicados, pois não “quebram” o formato do alimento que é capaz de “entupir” a glote. Retirar sementes e caroços. As folhas podem ser oferecidas cozidas ou cruas, mas sempre bem picadas. Como no início o bebê não consegue pegar os pedacinhos, sugiro que você ainda assim misture folhas verdes em outras receitas (ex: omelete), para que o bebê também sinta o gosto “amarguinho” que a maioria das folhas verde-escura tem. Evite pães de forma e/ou pães brancos industrializados “massudos”, pois quando misturados à saliva formam uma pasta grudenta que pode dificultar a mastigação e deglutição do bebê, levando à gags excessivos (e possível engasgo ou vômito). Caso for oferecer água durante as refeições, certifique-se de que não há alimento sólido dentro da boca. O manejo de líquidos com os sólidos dispersos na boca é extremamente difícil e pode comumente levar ao engasgo. Oferecer líquidos durante um engasgo pode inclusive levar à piora do engasgo e consequente aspiração. O que fazer se o bebê engasgar? Primeiro de tudo: mantenha-se calma e focada. Não aja sem pensar, pois isso pode prejudicar a situação, ao invés de ajudar. Segundo, você está vendo o pedaço que está causando esse desconforto excessivo? Se você CLARAMENTE VÊ o pedaço que está causando o engasgo, você pode retirálo deslizando gentilmente seu dedo no espaço que fica entre a gengiva e a bochecha do bebê, de modo que você traga o alimento DE TRÁS, para FRENTE. Em hipótese nenhuma enfie o dedo na boca do bebê sem pensar antes de agir. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 30 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Lembrem-se, um gag normal, eficiente, que faz parte do processo de aprendizagem do bebê, aquele que dá pra confiar mesmo, dura em média 2-15 segundos. O que já parece uma eternidade. Mais do que isso, simplesmente é um risco desnecessário, e mais do que recomendado auxiliar o bebê. Então, resumindo: 1. O seu bebê deve estar em desenvolvimento normal. É essencial discutir o método com o pediatra antes de iniciar. Bebês prematuros e/ou com atraso de desenvolvimento costumam estar mais predispostos ao engasgo. 2. Assegure-se de que seu bebê está SENTADO ereto (90 graus) quando ele estiver experimentando alimentos sozinho. Se ele não senta ainda, então o BLW não é indicado 3. Absolutamente NUNCA deixe seu bebê sozinho com a comida. 4. Não apresse seu bebê. Permita a ele dirigir o ritmo do que ele está fazendo. Em particular, não fique tentado a “ajudá-lo” colocando coisas em sua boca. No máximo tocar nos lábios pra ele ver que aquele “brinquedo” tem sabor. 5. Não tente “pescar” todos os pedaços grandes que se desprendem dos alimentos. É perigoso acabar empurrando o alimento para as vias aéreas e causar engasgo. Espere que o gag cumpra seu papel. 6. Não ofereça alimentos obviamente perigosos. Tenha em mente as orientações acima sobre a apresentação dos alimentos. Se ficar em dúvida se é perigoso ou não, não ofereça. Confie no seu sexto sentido, evite estresses desnecessários. 7. Se ele tiver o reflexo de gag: aguarde, observe. Dê ao bebê alguns segundos para trazer o pedaço para a frente da boca e expelir. 8. O mesmo com a tosse. Se ele engasgou, estiver tossindo forte, observe, dê ao bebê alguns segundos para recuperar-se. A tosse é também um reflexo de proteção. 9. Durante o engasgo, não dê água ou bata nas costas, pode piorar a situação. 10. Se o bebê estiver com dificuldade aparente (não consegue tossir, respirar, olhos arregalados, vermelhidão no rosto) e você estiver vendo o alimento dentro da boca, você pode tentar retirar com o dedo. Caso você não esteja vendo o alimento, em hipótese nenhuma enfie o seu dedo na boca do bebê, caso contrário você pode empurrar o alimento para as vias aéreas. A manobra de desobstrução de vias aéreas já é indicada. Tire o bebê da cadeira e proceda com a técnica. 11. Na dúvida, consulte um profissional fonoaudiólogo. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 31 Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê Pra finalizar este capítulo, gostaria de deixar um trecho escrito pelo Dr Moises Chencinsky, em seu website: “Nem todo mundo que fuma tem câncer de pulmão, nem todo mundo que bebe bebida alcoólica tem cirrose, nem todo mundo que tem relação sem preservativos tem AIDS. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não fumar, não beber e relações sexuais sempre com proteção). Assim, nem todas as crianças que usarem andador terão acidentes e serão internadas, nem todas as crianças que estiverem em um carro fora das cadeirinhas vão morrer em acidentes, nem todas as crianças que consumirem mel abaixo de um ano de idade terão botulismo, e nem todas as crianças que tomarem sucos terão obesidade ou diabetes tipo 2. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não usar andador, no carro, sempre na cadeirinha, não oferecer mel abaixo de um ano de idade e não oferecer sucos abaixo de um ano de idade e dar preferência para as frutas in natura).” Por isso, estejam cientes e conscientes sobre os riscos, sobre como podem facilitar a alimentação segura e agir em caso de necessidade, tornando o BLW um método apenas leve e prazeroso de introdução alimentar. Sei que provavelmente vocês já deram muitos dos alimentos citados aí em cima, assim como eu, mas o que quero sempre difundir são as ESCOLHAS CONSCIENTES! Sabendo o que esperar e como agir em caso de necessidade, TUDO fica mais tranquilo e seguro para o bebê e mais fácil pra você, que provavelmente vai ter que dar a mesma santa explicação sobre BLW pra todos à sua volta! Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 32 Combinação de métodos: isso existe? Combinação de métodos: isso existe? A ideia de oferecer alimentos em pedaços (finger food) para os bebês não é nova. Instintivamente, mães de todas as partes do mundo sempre ofereceram um pedaço de fruta, um biscoito, um pedaço de pão, normalmente quando o bebê começa a se interessar pelo alimento inteiro e mostra autonomia para segurá-lo e levá-lo à boca com destreza. A mãe, já acostumada a ver o bebê comer suas papinhas com eficiência – geralmente por volta dos 8-9 meses começa a oferecer um pedaço ou outro de alimento inteiro ao bebê. Muitas vezes – mas não somente – no intuito de distraí-lo, em um intervalo entre refeições. O BLW – por sua vez – também apoia-se na ideia de oferecer alimentos em sua forma original ao bebê. Mas mais do que isso, reforça a ideia de que o bebê deve alimentar-se sozinho, em todas as refeições, desde o seu primeiro contato com o alimento, aos 6 meses de idade – período no qual a maioria dos bebês já está apto para sentar sem apoio, capturar e levar objetos à boca, e digerir alimentos. Sem purês, sem colheradas, sem aviõezinhos, sem pressa na introdução dos sólidos. O BLW, acima de tudo, apoiase na ideia de que até um ano de idade o principal alimento do bebê é o leite – seja o leite materno ou artificial. Bom, com a popularidade crescente do método BLW em alguns países como Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália, as pesquisas começaram a tomar forma. Em sua maioria trabalhos de análise de prontuários de pacientes e respostas de questionários aplicados com voluntários. Conforme essas pesquisas foram sendo conduzidas, foi-se percebendo que existia, entre as mães simpatizantes com o método, uma linha contínua de aderência ao BLW. Isso significa que algumas mães eram extremamente rígidas em seguir todas as “regras” que o livro propunha, outras nem tanto. E entre as mães “nem tanto”, algumas auxiliavam o bebê somente quando estavam comendo fora, ou quando precisavam oferecer algo que precisava de colher (como iogurte, por exemplo) e outras praticavam aproximadamente 50/50 tradicional/BLW. Ou seja, existiam mães BLW para todos os gostos. Tanto, que alguns pesquisadores encontraram dificuldades para dividir essas mães em grupos, para poder compará-los (os grupos) entre si. Um dos estudos, por exemplo, utilizou um limiar de no máximo 10% de alimentação assistida (oferecida pelo cuidador) para definir quem seria adepto do BLW e quem seria adepto ao método tradicional. Já outros estudos optaram por separar Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 33 Combinação de métodos: isso existe? essas mães em grupos mais flexíveis. Tudo isso para poder comparar as diferenças nos resultados quando se aplicava o método BLW estritamente ou de maneira mais flexível. Interessantemente, uma proporção de famílias que reportaram estar utilizando o BLW estavam na verdade utilizando uma abordagem mais flexível do método, a qual incluía uma combinação de alimentação independente e alimentação assistida. Geralmente, isso ocorria quando o bebê era aparentemente incapaz de se alimentar sozinho (por exemplo quando estava doente) ou especificamente para garantir apropriada ingestão de ferro (em alguns países é muito comum oferecer o cereal rico em ferro no café da manhã após os seis meses). O que os pesquisadores puderam inferir foi que o BLW e a alimentação assistida não eram vistos pela comunidade como métodos dicotômicos (que seria um excluindo o outro), mas sim estilos de alimentação infantil que poderiam ser combinados para adequar as necessidades da criança e da família em determinadas situações. Outro fato importante a ser destacado é que a maior parte dos resultados positivos foram observados principalmente no grupo mais aderente ao BLW (pouca ou nenhuma oferta assistida). Famílias que seguiram o BLW de forma mais rígida também apresentaram melhores comportamentos em relação à saúde e nutrição. A maioria desses bebês foi amamentada exclusivamente até os seis meses e iniciaram alimentação complementar somente após essa idade, como sugere a OMS. Interessantemente, mães que seguiram o BLW rigidamente (pouca ou nenhuma oferta assistida) apresentaram melhores níveis de educação formal. Ainda sobre a oferta de papas, Rapley & Murkett (2008) são bem claras: “Acontece alguma coisa se eu combinar o BLW e a alimentação com a colher? A maioria dos bebês preferem comer sozinhos do que outra pessoa lhes dê de comer, porque tem prazer de fazer coisas por si próprios e aprender habilidades novas. Muitos pais recorrem ao BLW quando seu bebê se nega que lhe deem de comer com a colher. Existe um mito, segundo o qual se deve convencer os bebês para que aceitem a alimentação com a colher. Estes são alguns dos motivos mais frequentes: – a crença errônea de que os bebês tem que se “acostumar” à colher a certa idade. – a crença errônea de que os bebês precisam comer iogurte diariamente e que não são capazes de comer sozinhos. – a preocupação pela sujeira que pode fazer um bebê que come sozinho. – a preocupação por não saber se o bebê come o suficiente por si só e precisam acabar de “enchê-lo” com purês. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 34 Combinação de métodos: isso existe? Alguns pais querem que o bebê se acostume que lhe deem de comer com a colher, para se porventura precisem fazê-lo, e existem outros que simplesmente querem dispor desta opção, além e deixá-lo comer sozinho. Todavia, a opinião do bebê pode ser bem diferente. Muitos bebês que aprendem a comer sozinhos deixam em seguida muito claro que não querem que ninguém lhes dê de comer. Conseguem transmitir esta mensagem de múltiplas maneiras, e a principal é arrebatar a colher ao adulto. Isso é aparentemente certeiro no caso dos bebês que mamam no peito, já que até esse momento eles próprios tiveram controle da sua alimentação. Tenha em conta que, se de vez em quando você insiste em dar comida pro seu filho, enquanto que em outras ocasiões você o deixa comer sozinho, você estará enviando mensagens contraditórias sobre a confiança depositada nele e no tanto que você o permite ser independente. Se o bebê aceita a colher, pode-se combinar os purês com o método BLW sem se preocupar. Entretanto, se o método lhe interessou pelas vantagens que oferece ao bebê, RECOMENDAMOS que não dê os purês em cada refeição. Caso o faça, é possível que o bebê não pratique com texturas o suficiente ou que não tenha muitas oportunidades de praticar e desenvolver suas habilidades. Também existe a possibilidade de que vc caia na tentação de tentar persuadi-lo a comer mais do que comeria se sozinho. É melhor reservar a colher para alimentos concretos, como iogurtes e cremes por exemplo, ou dar (na mão) do bebê uma colher já cheia de vez em quando, para que seja ele quem decida quando levar à boca. (O livro ainda tem conselhos para como oferecer alimentos semilíquidos para que o bebê coma sozinho).” Ou seja, as autoras deixam claro que NÃO É PROIBIDO, mas quando oferecemos um purê ou oferecemos a comida com a colher para o bebê, também acabamos perdendo uma parte do conceito do BLW. Ainda temos inúmeras vantagens utilizando o método parcialmente, mas podemos estar deixando de ganhar algumas habilidades que são inerentes ao método em sua forma mais pura. Assim, de acordo com a TEORIA DO LIVRO, é que NÃO HÁ NECESSIDADE. Além disso, até o momento, ainda que demonstrados por resultados iniciais, não foram observados aspectos negativos com a aplicação do BLW de forma mais rígida (definida como pouca ou nenhuma oferta assistida). Pelo contrário, os resultados iniciais mostraram que os bebês expostos ao BLW desta forma apresentaram maior resposta de saciedade e redução da probabilidade de sobrepeso aos 18-24 meses. NA PRÁTICA, você deve fazer o que achar mais conveniente dentro do seu contexto! É evidente que cada ser humano é único e isso inclui o bebê, a mãe e a família como um todo. Por mais que as vezes tenhamos a intenção de praticar um método rígido, é possível que, por algum motivo – qualquer que seja, alguma “regra” nos escape. Isso não é uma característica só sua, mãe. Como você pôde ver, mesmo nos países onde o Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 35 Combinação de métodos: isso existe? método é altamente difundido, existem diferentes tipos de aderência ao método. Uns confiam plenamente; outros utilizam-se de alguns ensinamentos para complementar o que já vinham praticando sem muita noção do que estavam fazendo; outros tentam praticar o máximo de vezes possíveis mas deparam-se com dificuldades como: troca de cuidador, ida para a creche, horários apertados ou mal entendimento do método pela família. Você saberá o quanto da proposta do BLW cabe em sua vida, do seu bebê e sua família. Não se apegue aos rótulos, mas ao melhor que você pode fazer pelo seu bebê e sua família no momento. Por fim, quando estamos falando de um método cuja eficácia ainda não foi comprovada cientificamente, todo questionamento e toda análise pontual e de contexto é válida. Assim, é natural que uma mãe se questione se seu bebê ingere alimento suficiente com o BLW (as próprias pesquisas questionam isso e ainda não há uma resposta válida). Quando um bebê fica doente, quando um bebê demonstra pouco ou nenhum interesse pela comida, quando apresenta déficit de crescimento, aja imediatamente. Abuse do seu sexto sentido de mãe, não confie em métodos infalíveis – e principalmente aqueles não validados pela ciência. E sempre, sempre discuta aplicabilidade do método com o pediatra do seu bebê! Uma questão de semântica. É importante ressaltar que, dar uma fruta ou um legume na mão da criança uma vez ou outra, ou oferecer os sólidos para a criança durante a oferta da papinha, não caracteriza BLW. O termo ficou em evidência, mas é importante entender o conceito original. Entenda, pesquise, pergunte, troque ideias e receitas com outras mães que já aplicaram ou que estão aplicando o método, inclusive para receber suporte e “apoio moral”. Quanto mais você entender o método, mais sentido ele vai fazer pra você e maiores as chances de você estar praticando com sucesso o melhor que o BLW tem a oferecer para seu bebê. Praticar o BLW precisa de muito empenho, paciência e requer que você, acima de tudo, confie no seu bebê. Ele vai ser o principal ditador das regras. Ele vai te dizer o que, como, quando e quanto quer comer. Pode ser que você deixe a disposição uma série de alimentos e ele te diga (mesmo sem falar) que não é ali nem agora que ele gostaria de estar. Não se desespere, tenha paciência, controle a ansiedade. Dê tempo à ele. A alimentação é em livre-demanda. Se ele não quer comer agora, tente daqui meia hora. Coloque-se no lugar do bebê e tente entender a vontade dele. E lembre-se que o leite é Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 36 Combinação de métodos: isso existe? a principal fonte de nutrição do bebê durante o primeiro ano de vida. Discuta suplementos de vitaminas e ferro com o seu pediatra de confiança. E importantíssimo: BLW só depois que o bebê for capaz de sentar com pouco ou sem apoio e capturar objetos com a mão e levá-los à boca. Antes disso, se for necessária a introdução de alimentação complementar, somente o método tradicional é indicado. Vale lembrar que o método tradicional de introdução de alimentação complementar é amplamente utilizado e é inclusive o proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil atualmente. Se você é uma pessoa que gosta de ter total controle da situação, entre de cabeça no método tradicional. Porém, caso opte pelo método tradicional, sugiro que não deixe de oferecer alimentos em pedaços (finger food) vez ou outra para seu bebê. O estímulo sensorial destes alimentos é extremamente importante e vão auxiliar no correto desenvolvimento oral do seu bebê. Na dúvida, consulte um fonoaudiólogo. E se eu oferecer papinha de vez em quando? Considerando tudo que discutimos anteriormente sobre a combinação de métodos, vamos dizer que você não consiga ou opte por não aplicar o BLW em 100% das refeições. Isso significa que você irá introduzir a alimentação complementar do seu bebê por meio da: 1. IA tradicional 2. BLW 3. Um pouquinho dos dois 4. Tanto faz, o que importa é a saúde do meu bebê. Todo mundo concorda que a alternativa 4 é a correta, certo? Ceeerto!!! Pode parecer bobagem, mas muitas mães se sentem ofendidas quando são “excluídas” do grupo número 2. Minha teoria é que, uma vez que essas mães entenderam e assimilaram o conceito do BLW, não conseguem mais se enxergar como fazendo parte do grupo 1. Muitas mães se sentem inseguras com o BLW puro devido principalmente ao medo do engasgo e da nutrição adequada. Outras situações pontuais podem levar à oferta assistida e/ou de papa, como: períodos de doença e/ou convalescência; bebês que tem diferentes cuidadores; bebês que vão para a escolinha/creche por um curto período; dúvida quanto à ingestão/nutrição (principalmente nas primeiras semanas); quando estão fora de casa (viagens, passeios etc.); para a oferta de iogurtes, cremes, caldos etc.; entre outras situações. Desta forma, essas mães conseguem assimilar a teoria do BLW, mas não conseguem colocar em prática 100% das recomendações. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 37 Combinação de métodos: isso existe? Já vimos nas discussões anteriores que esse grupo 3 existe. Fato. Mas esse “pouquinho dos dois” pode incomodar o ouvido – ou o olhar – do leitor mais atento pois desintegra o conceito original do BLW: “Na maioria das famílias, são os pais quem decidem quando começar este processo (de introdução da alimentação complementar). Começam a alimentar seu bebê com a colher e decidem como e quando começam a ingerir sólidos. E quando deixam de oferecer o peito ou a mamadeira, decidem quando acaba a alimentação à base de leite. O método BLW é diferente: permite que o bebê tome a iniciativa durante todo o processo e utilize seus instintos e suas habilidades. Decide quando começa e quando termina o processo. (…) (…) com o método BLW: – O bebê se senta à mesa com o restante da família, e participa quando está preparado. – O bebê se entusiasma a experimentar com a comida quando mostra interesse, e permite-se manuseá-la (não importa se, ao princípio, não consegue levá-la à boca). – A comida se apresenta em tamanhos e formas que o bebê possa manipular com facilidade, no lugar de consistir em alimentos em forma de purê ou comida triturada. – O bebê come sozinho desde o princípio, ao invés de ser alimentado por uma pessoa com a colher. – O bebê decide quanto comer e quando ampliar a variedade de alimentos que gosta. – O bebê segue tomando leite em livre demanda (materno ou fórmula) e decide quando está preparado para diminuir as tomadas de leite.” Trecho retirado do livro “Baby-led weaning: Helping your baby to love good food”, 2008. Por esse motivo, baseando-se nas principais e mais atrativas propostas do BLW e nas recomendações mais atuais do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Organização Mundial da Saúde, e ainda, não desconsiderando a oferta assistida pela mãe ou cuidador e nem o oferecimento de alimentos de todas as texturas, proponho uma série de ideias que podem ser utilizadas durante o processo de introdução da alimentação complementar, visando uma introdução alimentar participATIVA. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 38 Finger food e a janela de oportunidades do bebê Finger food e a janela de oportunidades do bebê Como vimos, “finger food” é uma expressão usada para descrever os alimentos que podem ser facilmente manuseados com as mãos. Independente de optar ou não pelo BLW, oferecer alimentos em pedaços é uma escolha de grande valia para o desenvolvimento do bebê. Durante o estágio sensório-motor, que dura do nascimento até aproximadamente os dois anos de idade, a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos que a rodeiam. Esse estágio é chamado sensório-motor pois o bebê adquire o conhecimento por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas (olhar, pegar, sentir, cheirar etc.), sendo o desenvolvimento motor (controle da cabeça, sentar, dominar o movimento de pinça etc.) o suporte para a descoberta dessas novas sensações e habilidades, a partir do maior domínio do ambiente. As principais características observáveis durante essa fase são: - a exploração do ambiente utilizando todos os sentidos; - a experiência obtida por meio da ação; - a imitação; - a inteligência prática; - ações como agarrar, levar à boca, sugar, morder, atirar, bater e chutar; - a coordenação das ações irá proporcionar o surgimento do pensamento; - a centralização no próprio corpo; - a noção de permanência do objeto (por isso amam brincar de esconder). Podemos dizer que, no período sensório-motor, a criança conquista, através da percepção e dos movimentos, o universo imediato que a cerca. Ela descobre que, se puxar a toalha da mesa, o pote de bolacha ficará mais próximo dela. E é nessa fase que mais se beneficiará de toda e qualquer estimulação sensorial que for exposta, pois sua base fisiológica está totalmente aberta e predisposta a isso. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 39 Finger food e a janela de oportunidades do bebê Considerando tudo isso, o oferecimento dos alimentos em sua aparência original - cor, cheiro, forma, textura e sabor - propiciam ao bebê uma série de informações sensoriais essenciais no desenvolvimento da sua relação com os alimentos, incluindo: – a preferência por determinados alimentos, pois conhece os sabores distintamente e os relaciona com uma outra série de informações visuais e táteis. Por isso, oferecer finger food também requer cuidado na escolha dos alimentos. Oferecer apenas pão e bolacha de maisena certamente não são a melhor escolha para o aprendizado e a boa relação com a comida. – a modulação motora oral, aprendendo força de mordida, mastigação e deglutição. Sabe quando vc morde um pastel e tem uma azeitona com caroço dentro? A força aplicada – inconscientemente – não considerava o “elemento surpresa”. Tudo isso faz parte de um planejamento feito pelo nosso cérebro, de acordo com as experiências vividas. Se uma criança não aceita pedaços de alimentos duros aos três, quatro anos de idade, pode-se considerar a hipótese dela não ter sido exposta a este tipo de alimento em sua “janela de oportunidade”, ou seja, ela na verdade ainda não aprendeu a lidar com este tipo de alimento. Tudo é aprendizado, aproveite essa fase em que o bebê está aberto a todo e qualquer tipo de estímulo. – a modulação motora, incluindo a coordenação motora fina. O cérebro começa a distinguir a força que deve ser feita para capturar diferentes tipos de alimentos, mais macios, mais duros, mais escorregadios, tudo isso relacionando todas as pistas visuais que o alimento no seu formato original pode oferecer. O movimento de pinça começa a Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 40 Finger food e a janela de oportunidades do bebê ser estimulado naturalmente, com os pedaços menores que vão se desprendendo e caindo ao redor do bebê. Como já vimos, no caso dos bebês, os melhores tipos de finger food são aqueles cortados do tamanho um pouco maior do que o seu punho, idealmente alimentos saudáveis como por exemplo frutas ou legumes levemente cozidos. É importante recordar que os bebês, nos primeiros meses da introdução alimentar, não conseguem abrir o punho intencionalmente. Então, no início, eles irão comer apenas a parte do alimento que estiver aparecendo para fora do punho e provavelmente irão descartar o pedaço restante, pois ainda não tem habilidade para comer o que ficou dentro da mão fechada. Conforme suas habilidades vão sendo aprimoradas, o bebê já é capaz de pegar e manusear os alimentos e levá-los à boca com mais destreza e eficiência, sendo importante dar oportunidades deles se desenvolverem fase a fase. Com o desenvolvimento da pinça, os alimentos também já podem ser cortados em pedaços menores, podendo ser introduzidos os grãos e frutos secos umedecidos. Nem por isso é preciso deixar de dar a oportunidade do bebê agarrar um alimento maior e morde-lo, de modo que aprenda a retirar pedaços cujo tamanho seja possível de ser mastigado e engolido sem dificuldade. Absolutamente toda e qualquer oportunidade é válida, desde que sejam garantidas as medidas de segurança observadas no capítulo sobre engasgo. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 41 Introdução alimentar participativa Introdução alimentar participativa Depois de ter contato com o baby-led weaning pela primeira vez, vc deve estar se perguntando… “Mas isso funciona mesmo?” Imagine o que era feito antes de existirem os liquidificadores, processadores, talheres, e até mesmo os cereais infantis. Como era feita a introdução de sólidos antes dessas “modernidades” virem à tona? Como será que algumas tribos são introduzidos à alimentação dos adultos? É de se parar para pensar. Saiba que a ideia do BLW não é nova e nem original. O que as autoras do livro fizeram foi compilar uma série de orientações para quem se propõe a utilizar método. Algo que muitas famílias já fizeram instintivamente antes mesmo disso ter um nome. O que quero é despertar a curiosidade em vocês até o ponto de se perguntarem: “e por que não?”. Por que eu tenho que decidir o quanto meu bebê tem que ingerir se até o momento ele me deu todas as pistas? Por que não deixar que ele próprio descubra o quão prazeroso e simples é comer? Será que realmente temos que forçar a alimentação? O quão saudável está sendo essa transição? Quais hábitos estamos criando em nossas crianças? Algumas dessas perguntas simplesmente pipocaram na minha cabeça no início da introdução alimentar do meu bebê até chegar ao ponto de não fazer sentido empurrar uma colher goela abaixo para fazer ele engolir comida. Ele ainda mama no peito, em livre demanda, tem um crescimento normal e acima da média, é super ativo, esperto e curioso. Com o BLW, tenho aprendido que até quando me sinto na obrigação de tentar insistir pra que ele pelo menos se interesse pela comida, hoje sei oferecer, ao invés de dar. Ele, por sua vez, consegue claramente demonstrar quando não quer e nem que eu quisesse, acredito, conseguiria forçá-lo a comer. As vezes ele mesmo pede, abrindo a boca e inclinando-se para frente. Muitas vezes compartilhamos a mesma comida, ou ele do meu prato, ou eu da bandeja dele. No final das contas, preocupe-se menos com regras estritas do tipo: “não use colher”, “não coloque nada na boca dele”, “não use purês de jeito nenhum” e blá blá blá. Deixese simplesmente guiar pelo bebê, como o próprio nome já diz. Deixe que ele dite o ritmo, que ele te mostre como prefere ser alimentado, faça da refeição um momento precioso e prazeroso para vocês dois. Sem pressão, apoie-se na oferta do leite em livre demanda como base nutricional. O que vier – e vai vir – será lucro tanto a curto, como a longo Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 42 Introdução alimentar participativa prazo, na criação de uma relação saudável com a comida e com o momento da refeição. Aprenda, essencialmente, a oferecer o alimento – ao invés de simplesmente “dar comida”. Como já vimos, ao contrário do que muita gente pensa, o método BLW em si não prevê a oferta assistida pelos pais – pois fundamenta-se na alimentação livre e gerenciada pelo próprio bebê, visando o total controle do bebê sobre sua própria alimentação. Desta forma, ainda que os pais ofereçam alimentos em pedaços desde o início da IA, oferecer alimentos passivamente ao bebê já descaracterizaria o BLW. Mas, como também já discutimos anteriormente, um grande número de famílias acaba optando por introduzir fundamentos do método BLW na introdução alimentar convencional. Com isso, um novo conceito em introdução alimentar acabou sendo assimilado, mas não foge em nada dos Manuais Oficiais sobre alimentação complementar em vigor no Brasil e no Mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o sucesso da alimentação complementar depende não somente do que é servido, mas também de como, quando, onde e por quem é servido. Alguns estudos comportamentais descobriram que existe uma tendência a não se observar o modo como a criança come, a menos que ela comece a não aceitar mais o alimento ou fique doente. A hipótese de alguns pesquisadores é que, quanto mais ativo for o estilo de alimentação ao qual a criança é exposta, melhor será sua aceitação. Assim, a OMS recomenda um estilo de alimentação responsivo, aplicando os princípios psicossociais de cuidado: a) auxiliar diretamente o bebê e assistir crianças mais velhas a alimentarem-se sozinhas, atentando-se às pistas de fome e saciedade; b) alimentar devagar e pacientemente, encorajando as crianças a comer – mas não as forçando c) se a criança recusar inúmeros alimentos, tente com diferentes combinações, sabores, texturas e métodos de encorajamento; d) minimize as distrações durante as refeições, especialmente se a cirnaça perde a atenção facilmente; e) lembre-se que os momentos de alimentação são períodos de aprendizado e amor – fale olho-no-olho com a criança durante as refeições. Essas orientações vão totalmente de encontro ao conceito configurado na Introdução Alimentar ParticipATIVA, na qual o bebê é agente ativo do processo de introdução da alimentação complementar, ainda que receba alimento de um intermediador. Dessa forma, a alimentação passa a ser assistida – e não passiva. Assistida pelos pais, que intermediam as preferências do bebê e o auxiliam motoramente, enquanto ele não adquire habilidade e eficiência na ingestão adequada de nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. Mas muito além, a IA participATIVA, baseada nos fundamentos Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 43 Introdução alimentar participativa do BLW, também incentiva as famílias a introduzirem, desde o início da introdução alimentar, os alimentos sólidos em seu formato original, possibilitando que as crianças também tenham experiências com o máximo possível de sensações desde o seu primeiro contato com os alimentos. Dar ou oferecer? Considerando tudo que já conversamos, deixo aqui uma reflexão. Você já parou para se perguntar o quanto seu bebê está participando ativamente no momento da refeição? Ele está decidindo o que quer comer, o quanto quer, como quer? Como já vimos anteriormente, “dar” é diferente de “oferecer”. É importante sempre lembrar que todas as atitudes e hábitos que estão sendo colocados no momento da refeição podem perdurar por muitos e muitos anos a fio. Se um bebê assimila que é permitido dizer não e é possível não aceitar algo, ele torna-se capaz de internalizar positivamente a habilidade de provar coisas novas e de aceitar que algo diferente esteja no prato – ainda que ele não queira comer. Já conheceu alguma criança maior que não pode ver nada de cor diferente no prato que já recusa a refeição inteira? De onde será que vem esse comportamento? É claro que ninguém faz isso por mal, toda família quer ver seu bebê comendo muito e feliz. Mas em alguns momentos é necessário se perguntar o que realmente o bebê está APRENDENDO nesse processo (de IA). Muito do que ele aprender, vai ser implícito – isso significa que você não vai ensinar, mas de certa forma, ele vai assimilar e guardar em sua memória. Assim, um comportamento, uma ação começa a se relacionar com determinada consequência. “Eu abro a boca porque senão ela fica brava” é completamente diferente de “Eu abro a boca porque eu tenho fome e vontade de comer“. Quando uma colher é colocada na boca do bebê sem que ele intencionalmente se prepare pra isso, ele está realmente aprendendo a se alimentar? Ou simplesmente está ingerindo comida? Consegue perceber a diferença? Sei que cada bebê é único e reage de um jeito à situação. Se o seu bebê é um “comilão” nato, muito provavelmente você nem vai chegar a se questionar se está fazendo certo/errado – e se é que existe certo/errado. Mas independente da individualidade do seu bebê, refletir sobre COMO o processo de IA está sendo conduzido e pensar no que essencialmente está sendo aprendido, pode te levar a compreender de fato como os hábitos de agora podem influenciar todo um futuro de organização e saúde alimentar. Vale a pena, pode ter certeza. Refletir, repensar, reagir. Mudar. Devagar e sempre. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 44 Introdução alimentar participativa Benefícios da introdução alimentar participativa É muito comum que as pessoas perguntem se há como fazer o BLW no jantar e aos finais de semana, já que durante a semana os pais trabalham e não há possibilidade do bebê “fazer BLW” na creche ou com o cuidador. Como já vimos anteriormente, a resposta é um pouco mais complexa do que sim ou não. Mas posso garantir a você que, mesmo quem não tem a oportunidade de seguir um modelo estrito, permitindo que o bebê lidere todo o processo, se beneficia fortemente de um modelo participativo. Há de se entender que, entre o ideal e o possível existe uma linha contínua na qual, muitas vezes, temos que encontrar nosso ponto de equilíbrio para nos apoiar em tudo o que vem como consequência positiva. E beneficiar-se disso. Quando se trata de introdução alimentar, manter a sanidade é sempre a melhor opção. Basear-se no que é ideal e fazer as melhores escolhas baseadas em sua realidade, do seu bebê e da sua família como um todo. Não existe manual de instruções. E nunca vai existir, porque somos seres humanos. INDIVÍDUOS. INDIVIDUAIS. ÚNICOS. O <3 é o ponto de equilíbrio da tríade bebê-mãe-família Protocolos e manuais de procedimento são essenciais pra se garantir a confiabilidade e a prática baseada em evidências. Sem eles, nossa gama de atuação seria imprevisível e possivelmente baseada em achismos, o que foge da proposta da ciência. Mas, na Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 45 Introdução alimentar participativa prática, em muitos casos, existem limitações entre o que está descrito e o que é praticável dentro de um lar. Assim, passa-se avaliar uma relação custo-benefício, na qual não existe certo ou errado, mas melhor ou pior. No final das contas, o desafio é olhar o copo sempre meio cheio. Olhar com otimismo para o que conseguimos extrair de positivo e buscar estar sempre em um contínuo de mudança para melhor. Mudar aos poucos é melhor do que não mudar nunca. Amamentar por alguns meses é melhor do que nunca ter tentado amamentar. Priorizar a fruta, ao invés do suco, é melhor do que oferecer só o suco, sempre. Oferecer alimentos em pedaços de vez em quando é melhor do nunca oferecer. Fazer a maioria das refeições longe da TV é melhor do que depender dela sempre. Copo meio cheio ou meio vazio pra você? Voltando ao BLW, em seu sentido estrito, o bebê controla a sua própria ingestão de alimentos durante todas as refeições, a ponto dele mesmo decidir quando ele vai passar a comer mais e mamar menos, até o desmame completo (um processo que espera-se que termine somente após os dois anos). Seguido à risca, no BLW o bebê não sofre influências externas relacionadas à quantidade de alimento ingerido. Se ele está disposto a comer, ele come. Se não, não há nenhuma intenção ou esforço em mudar isso. Dessa forma, teoricamente (existem estudos ainda iniciais), seria o único método capaz de proporcionar total autonomia no controle da fome (comer por necessidade e não por vontade) e da saciedade (comer o necessário para saciar a fome e não por gula). Seria a livre demanda da introdução alimentar. Porém, o BLW tem outras vantagens que podem, sem dúvida alguma, estender-se ao método participativo, como por exemplo: Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 46 Introdução alimentar participativa – Permitindo a exploração dos alimentos pelo bebê, oferecemos a oportunidade do bebê conhecê-los em suas diferentes formas, cores, cheiros, texturas e sabores, criando um paladar incrivelmente variado e reduzindo consideravelmente as chances dessa criança vir a ser um “chato pra comer”. – O bebê aprende, desde sempre, todas as funções orais de acordo com a evolução de suas habilidades: morder, mastigar e engolir, em uma ordem fisiológica e natural, durante um período em que está fisiologicamente preparado para prevenir os engasgos por meio do reflexo de gag anteriorizado (por volta dos 6 meses). – Estimula a independência e, ao contrário do que muita gente pensa, o interesse pelos talheres e copos de casa desde muito cedo, desde que sejam dadas oportunidades. – O bebê torna-se mais disponível para provar e experimentar coisas novas, já que sabe que pode recusar ou não aceitar algo caso não tenha interesse. Leva-se em média 10 apresentações, de um mesmo alimento, em diferentes formatos e texturas, para se ter certeza que o bebê realmente gosta ou não gosta. Por isso, não há a necessidade de se insistir em um alimento que foi ignorado, ou “escondê-lo” em preparações, apenas apresentá-lo novamente, em uma outra ocasião, de diferentes formas (exemplo: cozido, assado, grelhado). Portanto, não há necessidade de se ater à nomenclatura “BLW”. Se não der pra garantir o método ao pé da letra, faça o possível para seguir uma filosofia ParticipATIVA, permitindo que seu bebê possa desfrutar de todas as vantagens que tendem a vir em decorrência dela. E se a proposta da IA participATIVA te agrada, ou ainda, se você não consegue seguir o método BLW à risca, então fique atento na série de dicas que eu vou te dar a seguir. A Introdução da Alimentação Complementar ParticipATIVA (ou como aproveitar o melhor do BLW, mesmo oferecendo a comida) 1. Aguarde os seis meses do seu bebê para iniciar a introdução alimentar. São inúmeras as pesquisas que mostram que o sistema digestivo do bebê é imaturo até esta idade. Está mais do que provado: até os seis meses de idade, o leite – materno ou artificial – é tudo e somente o que o bebê precisa. E fique atento: a maior parte das dicas abaixo preveem que seu bebê já tenha capacidade para sentar-se sozinho e levar objetos a boca com facilidade (habilidades conquistadas próximo aos seis meses de idade). 2. Dê oportunidades ao seu bebê: ainda que você não confie totalmente na exclusividade do BLW no início, tente estabelecer metas a fim de fazer uma evolução gradual, com o Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 47 Introdução alimentar participativa objetivo de aderir 100% ao método ao final de um período (normalmente um ou dois meses são suficientes para você confiar na capacidade de ingestão e deglutição do seu bebê). Durante o período de adaptação, procure o máximo possível seguir as orientações abaixo, caso contrário você pode facilmente estar mandando mensagens contraditórias ao seu bebê. 3. Entenda os sinais de saciedade (habilidade de interromper uma refeição quando se está satisfeito) e de resposta à comida (desejo de comer independente da fome). O BLW tem a vantagem de não interferir nas escolhas do bebê, pois ele está comendo sozinho, o que torna estes sinais autorreguláveis e é sem dúvida uma das maiores vantagens do método. Quando você oferece, sua capacidade de observar e se atentar a esses sinais devem ser redobradas. Resista à tentativa de “só mais uma colherinha” e à oferta de “lanchinhos” para distrair a criança. 4. Ofereça uma variedade de alimentos ao bebê, separadamente (por exemplo: tirinhas de legumes e carne) e em conjunto também (por exemplo: omelete, panquecas, muffins). Não há necessidade de oferecer um alimento por vez, ou dias consecutivos o mesmo alimento – a menos que sua família tenha histórico de alergia alimentar. Atente-se para os alimentos potencialmente alergênicos e que devem ser evitados antes de 1 ano de idade. Converse com o pediatra ou com uma nutricionista infantil, sempre que possível. 5. Na medida do possível, deixe o bebê participar das refeições com a família, e aproveite sempre que possível esse momento para oferecer alimentos em sua forma original, deixando-o comer sozinho e oferecendo-lhe a mesma comida da família, mas adaptada à sua idade (geralmente apenas sem adição de sal/açúcar). Bebês aprendem muito por imitação, então mesmo que você dê a refeição dele em um horário separado do restante da família, procure participar comendo um lanche saudável junto à ele. 6. Dê oportunidades ao bebê: observe mudanças sutis e acompanhe seu desenvolvimento motor oral e global. Procure dar oportunidades sem criar demasiadas expectativas, para que você não acabe frustrando o bebê e ele se desinteresse pelo alimento. Por exemplo, com a aquisição do movimento de pinça, o bebê já é capaz de capturar alimentos menores da bandeja (ou seja, ele pode comer o arroz e o feijão com as mãos). Outro exemplo, com o avanço da habilidade de pinça e da coordenação motora, o bebê já pode ser capaz de segurar um talher e levá-lo à boca. Ele não vai ser eficiente em um primeiro momento, mas pode começar a demonstrar interesse a partir dos 10-12 meses. 7. Dê oportunidades ao bebê: na medida do possível, deixe que o bebê manuseie os talheres. Se possível, deixe um jogo de talheres disponível, próximo a ele. Assim, você pode facilmente perceber o momento em que ele vai estar preparado para começar a fazê-lo sozinho (geralmente a partir dos 10-12 meses). O garfo costuma ser mais fácil que a colher, pois o bebê pode “espetar” o alimento. Pode ser que ele queira alimentar você ou queira que você o alimente durante estes treinos. Considere essas atitudes como um jogo de aprendizagem e continue deixando que ele tome a iniciativa. Crie a oportunidade mas cuidado com as suas expectativas sobre a utilização do talher, caso contrário podem acabar ambos frustrados. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 48 Introdução alimentar participativa 8. Aproveite o momento de oferecer a refeição para abusar dos alimentos ricos em ferro, de origem animal ou vegetal. De acordo com o Ministério da Saúde (2005), para melhorar o aproveitamento do ferro do alimento complementar, é válida a adição de carne bovina, peixe ou ave nas dietas, mesmo que seja em pequena quantidade e a oferta, logo após as refeições, de frutas cítricas ou sucos com alto teor de ácido ascórbico. 9. Aproveite o momento de oferecer a refeição: para treinar a captura do alimento da colher e a mastigação, já que, em um primeiro momento, com o alimento inteiro, ele não desenvolve essas habilidades. E seu bebê já tem maturidade para isso aos seis meses de idade. 10. Aproveite o momento de oferecer a refeição: evite papas liquidificadas, passadas na peneira ou no processador. Procure amassar grosseiramente e desfiar a carne em pequenos fiapos. Misture as carnes com algo consistente, geralmente uma batata ou batata-doce, vai ajudá-lo na mastigação com as gengivas e formação do bolo alimentar, reduzindo consideravelmente a chance dele engasgar com os fiapos. 11. Durante a oferta assistida, deixe que seu bebê veja o que ele está comendo, deixe ele tocar no alimento ou no talher caso insista para isso. Você pode oferecer os alimentos juntos ou separados e um bom treino é olhar para o que está oferecendo e se perguntar “EU teria vontade de comer?”. Se for oferecer uma fruta, tente levar a fruta e raspar/amassar a fruta na frente do bebê, para que ele aprecie a “transformação” do alimento (exemplos: mamão ou pêra raspada, banana amassada). 12. Respeite o tempo do seu bebê. Não encha a colher, espere ele abrir a boca para inserir a colher e espere ele fechar a boca e retirar o alimento sozinho da colher. Aguarde ele mastigar e engolir para oferecer uma nova colherada. Se ele não abriu a boca ou é porque ainda não engoliu ou porque não quer mais. Aprenda a observar os sinais, coloque-se no lugar do bebê. *OBS: “Raspar” a colher no lábio superior para “jogar” a comida na boca do bebê é, além de tudo, um péssimo hábito e desestimula o adequado funcionamento da musculatura oral. 13. Desapegue-se de distratores como televisão, musiquinha, aviãozinho, olha o passarinho, vou dar pro papai etc etc etc. Tudo isso incentiva o bebê a alimentar-se além do que ele realmente desejaria/precisaria. Não quer, não quer. Controle a ansiedade, confie nos sinais de seu bebê. 14. Não se desespere se o bebê não abriu a boca ou quis comer poucas colheres ou ainda, se não quis comer nada. Controle a ansiedade. Tudo é novidade. O bebê ainda não associou a comida à fome, portanto comer é mais uma brincadeira e assimilação de novas experiências sensoriais. Confie na amamentação ou oferta de fórmula no primeiro ano de vida. Discuta com o pediatra a necessidade de uma suplementação de ferro e outras vitaminas, se necessário. 15. Não há necessidade de limpar sua boca a toda hora, muito menos “raspar” a colher no queixo a cada colherada. Além de ser desagradável, dessensibiliza a região ao redor da boca. Com o tempo, ele sentirá e perceberá que tem comida parada ali e vai tentar tirar, com a língua, com as mãos e futuramente, com o guardanapo (depois que lhe for ensinado, claro). Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 49 Introdução alimentar participativa 16. Converse com o seu bebê, principalmente se ele já for maiorzinho. Pergunte a ele o que ele quer primeiro, se quer mais, se está satisfeito etc etc etc. 17. Desapegue-se das mamadeiras e chuquinhas. Utilize um copo de transição com alças (assim o bebê pode logo aprender a utilizá-lo sozinho) e, assim q possível, ensine-o a beber água no copo normal e/ou canudo. 18. Aprenda primeiros socorros. Há risco de engasgos tanto com alimentos sólidos quanto com líquidos e purês, e saber o que fazer caso necessite é essencial para a segurança de seu bebê. Aprenda a diferenciar reflexo de gag de engasgo e respeite o tempo que seu bebê vai precisar para se acostumar a ter alimentos em sua boca. 19. Oriente os cuidadores e/ou creche quanto ao BLW. Caso eles se neguem a fazer, imprima essa lista de recomendações e sugira que a sigam durante a oferta com a colher. 20. Tenha em mente o mantra: controle a ansiedade, controle a ansiedade, controle a ansiedade. Nem tudo é perfeito, principalmente no começo. A introdução dos sólidos exige dedicação, paciência e persistência. Vai haver muita sujeira e desperdício, especialmente nas primeiras semanas. A introdução complementar é um dos nossos primeiros desafios na educação dos filhos e, caso a introdução alimentar em livre demanda faça sentido pra você, confie nos sinais do seu bebê e boa sorte pra vocês! Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 50 Perguntas Frequentes* Perguntas Frequentes* Meu bebê tem oito meses e até agora eu só dei papinha. É muito tarde para passar para o método BLW? Nunca é tarde demais para que o bebê comece a comer sozinho! Mesmo que o bebê esteja acostumado à colher, é muito provável que ele adore explorar a comida se tiver oportunidades. Ele vai se beneficiar igualmente, mas pode responder um pouco diferente dos bebês que começam a comer sozinhos desde o princípio. Isso porque, quando começam a comer sozinhos aos seis meses, os bebês desenvolvem as habilidades necessárias para manusear a comida, ao mesmo tempo que desenvolvem as estruturas motoras orais para lidar com ela. Sua alimentação, no início, ainda é suprida basicamente com o leite materno ou a fórmula. Isso significa que esses bebês podem praticar muito, antes que eles precisem comer de fato. Por outro lado, quando eles começam com papinhas e depois passam a comer sozinhos, o processo pode ser um pouco mais complexo, já que perderam a primeira janela de oportunidade. Assim, quando oferecemos comida de comer com as mãos para estes bebês mais velhos pela primeira vez, é possível que eles primeiramente se mostrem irritados, ao passo que não consegue comer com a rapidez que desejariam. Os bebês que foram acostumados com a colher podem ingerir mais comida de uma só vez quando tem fome, porque não precisam mastigar a papinha. Se dermos a este bebê, que antes comia papinha, a oportunidade de comer sozinho quando não está com fome, será mais fácil evitar esse problema. Porque desta forma ele poderá se concentrar-se no quão divertido pode ser manipular o alimento, sem que haja a necessidade de ter que encher a barriga. Assim, a princípio, sugere-se oferecer alimentos que ele possa comer com as mãos, e ao mesmo tempo, oferecer a comida que ele estava acostumado a comer habitualmente. À medida que o bebê vai aprendendo a comer sozinho, você verá que cada vez menos ele demonstrará interesse pela papinha, até o ponto em que elas serão desnecessárias. Alguns bebês, já acostumados com a colher, podem tentar colocar comida demais de uma só vez dentro da boca. Talvez seja porque não tenham se acostumado a mastigar antes de engolir, ou porque ainda não tiveram a oportunidade de aprender (com o reflexo de gag) a não encher a boca em excesso. Uma boa maneira de evitar que isso aconteça é também oferecer comida quando ele não está com fome. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 51 Perguntas Frequentes* Independentemente da idade do bebê, tente aproveitar todas as oportunidades para que ele coma junto do restante da família. Assim, ele poderá aprender por imitação e descobrirá a faceta social das horas da refeição. Se ele tem mais de um ano, pode tentar dar seus próprios talheres, para que possa imitar os adultos. Caso seja necessário, continue dando a comidinha habitual de vez em quando, até que sua habilidade para comer sozinho se equipare ao seu apetite. BLW não deu certo com a gente, e agora? Essa pergunta é importantíssima e não é uma dúvida incomum! Por isso sempre vale a pena retomar o conceito do BLW, pra que você possa entender porque é considerado como um “método” de introdução alimentar e não somente uma forma de apresentar os alimentos! E você achando que era só dar um legume na mão do bebê enquanto você oferecia a papa né? Então vamos lá! BLW significa “desmame conduzido pelo bebê”, certo? Bom, então considere o desmame um processo, assim como a introdução dos sólidos. Dos seis meses a dois anos de idade aproximadamente, o bebê é introduzido à alimentação complementar e gradualmente, ao longo desse tempo, ESPERA-SE que o bebê passe a comer mais e mamar menos. No Baby-led weaning, quem decide esse tempo é o bebê e não a mamãe ou o cuidador. Agora, façam uma analogia comigo. Vocês concordam que tem bebês que sentam com 4 meses, outros com 5, outros com 6 e por aí vai, certo? Como pais, temos como estimular que ele sente. Mas não conseguimos acelerar o processo, por mais vontade que a gente tenha, não é mesmo? Agora voltamos à introdução alimentar. Como sabemos quando um bebê está pronto para comer? Existe alguma mágica que acontece na data em que o bebê completa seis meses para que ele de repente esteja pronto para a IA? Claro que não. Mas, no método tradicional, quem escolhe o momento em que o bebê vai comer é a mamãe (ou cuidador). No BLW, não é assim. Deixar que o bebê guie a sua IA significa que ele vai começar a levar a comida à boca quando ele quiser, quando ele tiver interesse. E ele vai começar a mastigar e posteriormente a engolir no tempo dele. Enquanto isso, a mamãe vai estimular, deixando alimentos saudáveis à disposição do bebê no momento da refeição da família, para estimular que ele os imite e comece a comer também. Não é só o fato de ter alimentos em pedaços. Os alimentos em pedaços são importantes pois só dessa forma o bebê pode ter condições motoras de levar o alimento à boca em um primeiro momento. Entender o fundamento do BLW faz com que o processo seja mais simples do que parece. Eu sei que às vezes ficamos Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 52 Perguntas Frequentes* ansiosos para que o bebê coma mais, mas quanto mais você interfere nas escolhas do bebê, mais distante do BLW vocês estão. Então, concluindo, esse “insucesso” inicial não existe no Baby-led weaning. Se o seu bebê só jogou tudo no chão, lambeu mas não mastigou e nem engoliu, não quis encostar em nada…. Entenda que ele ainda não está preparado para a IA. Está só começando. É difícil lidar com a frustração desse momento então muitas mamães acabam insistindo em dar a papa, ou oferecer em pedacinhos, mas assim acabam por se distanciar do método, pois quem está assumindo a liderança do processo é a mãe e não o bebê. Muitas mães desistem do BLW nos primeiros meses, pois sentem-se pressionadas (pela sociedade em geral) para que o bebê coma. Assim, muitas famílias optam por iniciar o método tradicional e ir oferecendo finger food (alimentos em pedaços) durante o processo – e como já vimos é uma excelente forma de estimulação sensorial! Se esse é o seu caso, volte ao capítulo da introdução alimentar participativa, onde você vai encontrar várias dicas legais para quem, por qualquer motivo, não consegue seguir o BLW à risca, mas simpatiza com os todos os benefícios que o método pode trazer ao bebê! Iniciamos a introdução de alimentos há poucas semanas e meu bebê rejeita tudo, cospe, “faz ânsia”, é normal? Independentemente do método escolhido para a introdução alimentar, é normal sim o bebê não se interessar pela comida nas primeiras semanas de IA. Além disso, o bebê tem um reflexo inato que faz com que a língua empurre para fora da boca tudo o que for de consistência diferente da do leite materno. Esse reflexo é chamado de “reflexo de protrusão da língua” e tende a desaparecer muito próximo aos seis meses do bebê. Assim como o reflexo de gag, o reflexo de protrusão da língua é um reflexo de proteção, diretamente ligado à capacidade fisiológica do bebê de se proteger contra engasgos. Vale a pena também lembrar que 6 meses é uma data aproximada na qual os bebês estariam prontos/precisariam receber outros alimentos para complementar o aleitamento (materno/fórmula/misto). Assim, é possível que alguns bebês só se interessem pela comida em alguns meses, alguns até após 1 ano. Não se desesperem, o leite ainda é o principal alimento do bebê durante o primeiro ano de idade (e isso também é uma estimativa). Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 53 Perguntas Frequentes* Prefira qualidade à quantidade, SEMPRE. Lembre-se, é melhor que o bebê se habitue à alimentação complementar aceitando duas colheres de legumes, carne e verduras do que engula um prato inteiro de mingau de cereais industrializados açucarados. Crie o hábito, deixe que o próprio bebê se interesse pela comida e pelo ato de alimentar-se em si. Continue oferecendo alimentos saudáveis em diversas apresentações, formatos e texturas. Pode-se levar até em média 10 tentativas até que um bebê coma com vontade determinado alimento. Faça suas refeições com seu bebê no colo. Deixe alguns alimentos “dando sopa” no seu prato, de preferência com fácil acesso às mãozinhas do pequeno. Assim, ele pode, a qualquer momento, se interessar e levar à boca. Tente comer com o bebê no seu colo, dividir uma fruta ou um copo d’água com ele. Sente no chão, deixe a comida fazer parte da brincadeira, não tenha medo da sujeira, principalmente no começo. Se a introdução ao maravilhoso mundo dos alimentos for feita de forma natural e sem pressão, é muito possível que em poucos meses você esteja colhendo os frutos e vendoo comer com vontade e nos horários determinados. No começo, TUDO é exploração e aprendizado. Um bebê não aprende a andar sem levar antes alguns tombos, não é mesmo? Então, lembre-se do lema: devagar e sempre! Meu bebê vai estar bem alimentado? Que seu bebê esteja bem alimentado só vai depender de você e de seu bebê. Seja qual for o método que você decida usar, você tem a responsabilidade de oferecer alimentos nutritivos e que compõem uma dieta equilibrada. A diferença no BLW é que o bebê decide o que ele quer comer ou não entre o que lhe foi oferecido. Existe um mito segundo o qual, quando os pais controlam a alimentação dos filhos, estes comem corretamente, enquanto as crianças que decidem por si próprias iriam viver a base de batatas-fritas e chocolate. Na verdade, é muito provável que aconteça justamente o contrário. Muitos pais que controlam a alimentação dos filhos relatam a dificuldade em fazer a criança comer bem e que, com frequência, têm que recorrer a truques como esconder a verdura no meio de outra comida, dar a comida na frente da televisão ou prometer recompensas para fazer com que comam a refeição principal. A maioria dos pais que optaram pelo BLW, entretanto, relatam que os filhos comem de tudo sem necessidade Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 54 Perguntas Frequentes* de estratégias, incluindo alimentos que se pressupõem que crianças não irão gostar, como repolho, quiabo e brócolis. Essa ideia se vê reforçada pela grande quantidade de crianças “chatas pra comer”, cuja introdução alimentar foi absolutamente controlada pelos pais e à base de papas homogeneizadas. Além disso, é frequente ouvir relatos de pais que tiveram experiências com ambos métodos dizerem que não voltariam ao convencional, porque o filho que fez o BLW come muito melhor do que o outro. Os purês são mais fáceis de digerir e portanto, mais nutritivos? Sem dúvida é mais fácil digerir a comida que já chega processada do que a que chega em pedaços maiores. Entretanto, nossa boca é especialmente planejada para triturar a comida, mastigando-a. O estômago digere com muito mais facilidade a comida bem mastigada do que a que vem triturada logo de início, mesmo porque a própria saliva também ajuda a iniciar o processo de digestão, especialmente quando se trata de amidos. Bebês que comem no seu próprio ritmo tendem a manter a comida na boca durante muito mais tempo antes de engolir. E, durante este tempo, a comida vai se misturando com a saliva, à medida que o bebê vai mastigando com as gengivas. Os purês, pelo contrário, apenas entram em contato com a saliva, indo da colher diretamente ao fundo da boca para serem engolidos sem mastigar. Processar a comida manualmente pode efetivamente destruir alguns de seus nutrientes, especialmente quando falamos de frutas e verduras. Quando processamos um alimento, temos perda de vitamina C nas partes expostas e essa vitamina é extremamente importante, sobretudo para absorção do ferro. O corpo não consegue armazená-la e portanto é importante contar diariamente com uma boa fonte da mesma. Ao verificar o conteúdo das fraldas dos bebês, é fácil concluir que a comida triturada se digere melhor. A diferença das fezes de um bebê que come purês de um bebê que come “comida de verdade” é que o último as vezes contém pedaços inteiros de legumes e verduras inteiros e reconhecíveis. Isso não significa que não digeriram nada do alimento, mas sim que estão em processo de aprendizagem. O bebê está aprendendo a mastigar e o sistema digestivo está se adaptando à digestão dos sólidos. A comida processada dá a impressão de ser mais digerível, mas somente porque não se destaca no meio das fezes. Quando se oferece comida ao bebê rapidamente (algo que pode acontecer facilmente quando damos colheradas), acabamos fazendo com que eles demorem mais para Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 55 Perguntas Frequentes* aprender a mastigar bem. Os bebês que aprendem a comer sozinhos desde o princípio e não se sentem pressionados para comer rápido tendem a colocar menos na boca e a mastigar por mais tempo antes de engolir. E isso, sem dúvida, favorece uma melhor digestão. Obviamente, a comida processada é benéfica para as pessoas que têm dificuldade para mastigar e para aqueles que tem dificuldade de deglutição. Mas bebês sadios e em desenvolvimento dentro do padrão não tem real necessidade de comer comida processada/modificada. A necessidade de nutrientes adicionais Existe um outro mito de que o leite materno muda aos seis meses de idade e deixa de ser “suficiente” para o bebê. Na verdade, o leite da mãe de um bebê de seis meses (ou mesmo de dois anos) tem praticamente o mesmo valor nutricional que sempre teve, o que muda é a necessidade que o bebê tem de determinados nutrientes. O leite materno segue sendo o alimento mais equilibrado que se pode dar a uma criança quase que indefinidamente. Os bebês nascem com uma reserva de nutrientes que vão se acumulando durante sua estadia no útero. Começam a utilizar essa reserva quando nascem, mas os nutrientes que recebe com o leite materno garantem que não se esgote. A partir dos seis meses de idade, o equilíbrio é modificado e o bebê COMEÇA a precisar MUITO GRADUALMENTE de cada vez mais nutrientes do que apenas os que estão presentes no leite materno ou fórmula. É importante ressaltar que, aos seis meses de idade, os bebês começam a precisar de algo mais que uma dieta exclusivamente à base de leite. A maioria dos bebês nascidos a termo tem reservas suficientes de ferro, por exemplo, que não se esgotam de um dia para outro. Sem dúvida, é necessário que comecem a ingerir sólidos aos seis meses, pois assim poderão desenvolver as habilidades necessárias para comer diferentes sólidos e acostumarem-se a novos sabores, preparando-se para o momento em que verdadeiramente dependerão de outros alimentos como fonte de nutrição principal. O momento que os bebês começam a necessitar de cada vez mais nutrientes parece coincidir com o tempo de desenvolvimento gradual das habilidades que os permitem comer sozinhos. Portanto, aos seis meses, quando ainda contam com uma boa reserva de nutrientes, quase todos os bebês começam a pegar pedaços de alimentos e levá-los à boca. Até os nove meses, quando a necessidade de nutrientes já tiver aumentado consideravelmente, a maioria dos bebês que foram estimulados a comer sozinhos desde Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 56 Perguntas Frequentes* o princípio terão desenvolvido as habilidades necessárias para comer uma ampla variedade de alimentos, o que lhes proporcionará a nutrição adicional de que precisam. Sobre essa idade (ainda podendo variar de um bebê a outro), muitos pais que recorreram ao método BLW informam que seus bebês parecem comer de uma maneira mais consciente, como se soubessem instintivamente que precisavam dessa comida para complementar as mamadas. Padovani, 2015. Todos os direitos reservados. 57 Referências Bibliográficas: Referências Bibliográficas: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Guia de Alimentos e Vigilância Sanitária. http://www.anvisa.gov.br/alimentos/guia_alimentos_vigilancia_sanitaria.pdf. Ultimo acesso: 06/05/2015. American Academy of Pediatrics. “Policy statement–prevention of choking among children.” Pediatrics 125.3 (2010): 601-607. American Academy of Pediatrics. Choking Prevention. http://www.healthychildren.org/English/health-issues/injuriesemergencies/Pages/Choking-Prevention.aspx Online: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2 ed. – 2 reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Brasil. 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