Manifestações da Linguagem O bebê não nasce falando: a linguagem é produto exclusivo da interação do sujeito com o meio social em que vive. Embora, via de regra, todo indivíduo, em condições genéticas normais, traga consigo o aparelho fonador equipado para desenvolver-se e vir a falar, não só por isso que fala de fato. Há toda uma engrenagem psico-socio-emocional que elabora papel principal neste fenômeno exclusivo da raça humana. Não vale a pena um belo automóvel se não há combustível que o faça entrar em movimento. Se compararmos a estrutura da linguagem com a própria estrutura genética do ser humano, teremos da semente plantada no útero até o indivíduo na idade adulta, uma grande transformação. E assim também caminha a linguagem. Portanto, para que o indivíduo realmente usufrua da linguagem é preciso cuidar da terra antes de semear a semente para que, no momento que esta desponte seus primeiros sinais de vida, que venha bem fundada e segura, sem que nada possa abalar suas estruturas básicas. A cada etapa das fases do processo de aquisição da linguagem, há uma estrutura concluída.Digo, há a gênese, o desenvolvimento e o fechamento da estrutura. Nova estrutura se inicia e a estrutura anterior torna-se a gênese desta. O primeiro indício da compreensão linguagem/mensagem é demonstrado pela ação do sujeito como resposta. A compreensão da mensagem demonstrada por vias da fala se dá lá a diante, ao longo da construção das IMAGENS MENTAIS. Estas imagens iniciam-se com a IMITAÇÃO como uma ecopraxia, entre o 2º e 4º mês de vida. Necessitando, sem dúvida, da inter-relação humana para que um novo esquema seja deflagrado (instauram-se os primeiros hábitos). Em torno dos 4 meses e meio o bebê coordena visão com preensão - (agarra e manipula tudo que vê em seu raio próximo). No que diz respeito à engrenagem fonadora, bebês entre 4 e 6 meses ateem-se a mais detalhes fonéticos (sons) do que atentam-se para as palavras (ao que pode vir a significar a palavra). São capazes de distinguir sílabas, tanto da língua nativa quanto que em línguas não familiares, apresentando, nesta primeira infância, maior acuidade auditiva para os sons do que aos 10/12 meses de vida. Emitem fonemas de todas as línguas do universo mesmo que venham a sofrer de surdez congênita: o chamado balbucio dos bebês. O que se observa nesta primeira infância é uma organização senso perceptiva de forma a descriminar as variações / alterações fonéticas contidas nas mudanças da pronunciação. É uma bela exercitação do aparelho fonador. São capazes, repito, de articular um vasto repertório de possibilidades fonêmicas, fonemas estes que podem ou não virem a ser empregados no código do idioma nativo. Caso seja surdo congênito ou não venha a interagir socialmente para efetuar a aquisição do idioma (vide experiência do Menino Lobo), vale ressaltar que o balbucio ocorre ficando como mera exercitação. De estimulações diversas e de origens indiscriminadas, podendo ou não estes sons virem a ser incorporados as palavras da língua materna ou as de qualquer outro idioma que venha o indivíduo a ser exposto. Os fonemas que, aparentemente não prosseguem com o bebê para fases posteriores, certamente se perdem, pois na ausência ainda da imagem mental no pensamento, estes sons, efêmeros e passageiros, não comunicam ainda, não são intencionais. São apenas resultados do funcionamento do mecanismo fonador/articulador, o que, linguagem ainda não são. Os fonemas que permanecem em exercício são, os ora ativados pela constância auditiva no contexto da vida dos bebês. “Enquanto o mundo gira, a Lusitana roda” - e o bebê vai crescendo... Não só de fala vive o homem, o bebê se diverte com a simples reprodução de movimentos que lhe agradem (com apetrechos diversos que estiverem ao seu alcance) - A REAÇÃO CIRCULAR - um hábito em estado nascente. E lá se vem chegando os 5/6 meses de vida, já no mundo pronto, repleto de coisas que, além de seu estado provisório não sabe chamá-lo pelo nome. Os objetos “São eternos enquanto duram” no campo de ação e enquanto há resquícios de satisfação. Estando neste prolongamento do espetáculo, os indícios da conservação do objeto permanente. Já começa, então, a conferir significações. Engendra-se, desta raiz, uma frondosa árvore, que não só terá várias funções como existirá ao longo da idade adulta. É a árvore da FUNÇÃO SEMIÓTICA. Temos a certeza do surgimento desta função no bebê tão logo percebamos que imita um ato, já na ausência do modelo. Em seguida faz o “jogo simbólico”, adaptando-se, sem cessar, ao mundo social. Imita um gatinho, o neném, por aí vão suas “brincadeiras”, vivências e experiências, se servindo das imagens, fortalecendo as já incorporadas para, enfim, a evocação verbal de acontecimentos não atuais, se realizar. A linguagem articulada é geradora de produtos de representações mentais assim como é gerada por essas. Há aquisições de conceitos, através da interação, no convívio social e das experiências, constituindo-se, na dupla dinâmica: significante/significado. O significado respeita uma função, uma finalidade para constituir-se em conceito/noção. E o significante varia conforme cada idioma, sendo este o nome do objeto (house/casa/maison). Acabamos de descrever a estrutura da aquisição da linguagem da sua gênese as vias de fato: a fala articulada propriamente dita. Para ampliar as vantagens da aquisição de uma língua e conseqüentemente do sistema cognitivo deve se iniciar desde o nascimento, transpondo para a atmosfera do bebê, situações espontâneas, porém estimulantes e constantes. Criar-se ambientação em casa que traga benefícios e possibilidades ao desenvolvimento global do bebê. Nortear a criança para a comunicação, fornecendo-lhe modelos de forma efetiva e dirigida, sob suas possibilidades de interesse e tempo que se atém ao ato. Fortalecer sua habilidade de concentração transpondo e propondo, a cada dia um algo a mais. Estimular a criança com o inédito, de forma gradual, adicionando elementos novos em seu convívio. Seja no banho, no berço, nas paredes, na refeição, na brincadeira. Propor brincadeiras e/ou jogos que perdurem o “espetáculo”, preocupando-se em, constantemente, sonorizar as ações com vocábulos apropriados ao contexto assim como se utilizando de vozes diferenciadas. Promovendo assim, uma interação espontânea, entre a criança e o adulto, sobre o meio em que vivem. Despertar, através do som e da imagem, do táctil e do sinestésico, o interesse e a acuidade sensorial e motora da criança ainda bebê, mesmo que ela lhe pareça não entender o que você verdadeiramente diz. É fundamental lembrar que todo o ato inteligente não se efetiva sem o envolvimento emocional. Fragmentos de Obras Piagetianas O NÍVEL SENSÓRIO-MOTOR Se a criança explica em parte o adulto, podemos dizer também que cada período do desenvolvimento anuncia, em parte, os períodos seguintes. Isto é particularmente claro no que concerne ao período anterior à linguagem. Pode-se lhe chamar período “sensório-motor” porque, à falta de função simbólica, o bebê ainda não apresenta pensamento, nem afetividade ligada a representações que permitam evocar pessoas ou objetos na ausência deles. A despeito, porém, dessas lacunas, o desenvolvimento mental no decorrer dos dezoito primeiros meses da existência é particularmente rápido e importante, pois a criança elabora, nesse nível, o conjunto das subestruturas cognitivas, que servirão de ponto de partida para as suas construções perceptivas e intelectuais ulteriores, assim como certo número de reações afetivas elementares, que lhe determinarão, em parte, a afetividade subseqüente. A vida afetiva e a vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. São inseparáveis, porque qualquer permuta com o meio supõe, ao mesmo tempo, uma estrutura e uma valorização, sem que por causa disso sejam menos distintas, posto que estes dois aspectos do comportamento não se podem reduzir um ao outro. Assim é que não podemos raciocinar, mesmo em matemática pura, sem experimentar certos sentimentos. Inversamente distintas posto que estes dois aspectos do comportamento ou de discriminação. Um ato de inteligência supõe, portanto, um ajuste energético interno (interesse, esforço, facilidades, etc.), e outro valor extremo (valor das soluções procuradas e dos objetos sobre os quais recai a pesquisa). Por Eloisa de Oliveira Lima Diretora Psicopedagógica PARENT’S MEETING 2º semestre de 2001