Os protocolos padronizam as ações da equipe - Publicações

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Auditoria em Enfermagem: da Implantação ao Monitoramento do Programa Cirurgia
Segura
Flávia Malta
Especialista em Auditoria em Enfermagem pelo Centro Universitário São Camilo, Enfermeira
Ana Cabanas
Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Comunicóloga, Coordenadora da Central de
Estágio e Produção Científica da Faculdade Anhanguera São José dos Campos
Nilsa Mara de Arruda Yamanaka
Mestre, Enfermeira, Coordenadora do
Curso de Especialização em Auditoria em Enfermagem pelo Centro Universitário São Camilo
RESUMO
A auditoria identifica e avalia processos que apresentam lacunas a serem aprimoradas,
buscando e oferecendo soluções que minimizem os recursos financeiros, humanos e
tecnológicos, com o intuito de maximizar qualidade, satisfação e confiança do cliente. O
Programa Cirurgia Segura Salva Vidas elaborado pela World Health Organization, é
ferramenta e ser empregada em centros cirúrgicos, podendo ser proposta por auditores ou
interessados em oferecer maior segurança e qualidade aos utentes. Portanto, neste estudo, o
objetivo foi salientar aos stakeholders a competência do Enfermeiro Auditor como facilitador
no processo de implementação e sustentação do programa cirurgia segura, almejando a
excelência de qualidade em todo o processo cirúrgico. Trata-se de pesquisa bibliográfica
exploratória com caráter qualitativo, abordagem dialética e procedimento funcionalista.
Conclui-se que apesar dos progressos atingidos, algumas entidades, operadoras e força
humana podem apresentar resistência em aderir novas ferramentas, pois, a inovação causa
medo, sendo preciso estímulo para aderir e sustentar o Programa Cirurgia Segura Salva Vidas.
PALAVRAS CHAVE:
Cirurgia segura. Protocolo. Auditoria em enfermagem.
ABSTRACT
The audit is a way to monitor processes and identify gaps that have to be improved, seeking
and offering solutions that minimize the financial, human and technological resources and
maximize the quality, satisfaction and consumer confidence. The Security Surgical program
prepared by the World Health Organization, came as a tool and be used within the surgical
centers may be proposed by the auditors or interested in providing greater safety and quality
to users. The objective of this study was to emphasize the competence of stakeholders Nurse
Auditor as a facilitator in the process of implementing and sustaining safe surgery program,
aiming at excellence in quality throughout the surgical process. This is study exploratory
bibliographic with qualitative character, dialectic approach and functionalist processor. It
concludes that some authorities, operators and manpower may exhibit resistance to adhere to
new tools, as innovation cause fear, and must insist on the adoption of new practices to
Security Surgical program.
KEY WORD:
Security surgical. Protocol. Nursing auditor.
INTRODUÇÃO
Frente à evolução do cenário epidemiológico nacional, ao aumento da expectativa de
vida, às doenças crônico-degenerativas e ao desenvolvimento técnico-científico das indústrias
médica e farmacêutica, surge a competitividade entre serviços hospitalares focados na
qualidade da assistência do cliente cada vez mais crítico e exigente que busca por direitos.
Os serviços de saúde passaram a oferecer tratamentos cada vez mais dispendiosos,
surgindo otimização dos custos, minimização de perdas e avaliação constante da assistência
prestada ao cliente. O que necessita da atuação de profissionais capacitados para atuar nesta
área. Nesse contexto, os profissionais da saúde, que atuam na auditoria hospitalar, tornam-se
necessários para operacionalizar este processo (1).
Em conformidade com o Conselho Federal de Enfermagem (CoFEn), o profissional de
Enfermagem, como parte integrante da equipe de saúde, participa das ações que visam à
satisfação das necessidades de saúde da população, respeitando a vida, a dignidade e aos
direitos humanos, em todas as dimensões, exercendo as atividades com competência para a
promoção do ser humano na integralidade, conforme os princípios da ética e da bioética (2).
Os protocolos padronizam as ações da equipe, facilitando a visualização de lacunas. Em
busca de melhor qualidade à adoção de ferramentas estratégicas acabam por racionalizar os
processos, potencializando a capacidade de investimentos físicos ou humanos – educação
permanente, estabelecendo nível crescente de qualidade. Devendo ser continuamente
analisados visto que os ciclos sempre mudam e as necessidades se renovam (3,4).
Ao contrário de outros ramos de atividade, a incorporação de novas tecnologias em
saúde, não substitui o trabalho capital, aumenta a necessidade de mão de obra. Regado com
maquinário complexo e de novas tecnologias, os centros cirúrgicos podem variar os principais
processos de acordo com a realidade atual, sendo necessária complexa logística de apoio para
o funcionamento, por possuir o risco autêntico de morte neste setor especializado (5).
Sendo o check list ferramenta simples, eficiente, objetiva e de fácil uso que auxilia na
redução de Eventos Adversos (EA) evitáveis, baseado na experiência e no conhecimento
acumulado, minimizam os lapsos mentais. Sendo necessário ter disciplina e alto empenho
para que atividades apresentem melhores resultados. Funciona apenas como lembrete de
etapas essenciais a serem seguidas. Diferentes manuais de instruções são ferramentas rápidas
e práticas, criadas para reforçar as habilidades dos profissionais, salvando e otimizando
vidas (6).
O programa, elaborado pela World Health Organization (WHO), almeja a segurança dos
utentes no processo cirúrgico, possui versão final com 19 verificações e duração de
aproximadamente dois minutos, averigua as especificações, evitando esquecimentos,
estimulando o diálogo para bom trabalho em equipe, criando condições para a identificação
de perigos em potencial. Podendo e devendo este, ser modificado de acordo com a realidade
da instituição (7).
O programa Cirurgia Segura é considerado solução inovadora, pois contribui para
minimizar os riscos, melhorar a segurança dos pacientes, além de agregar valor clínico e
socioeconômico. Possui o escopo de garantir que nenhumas das etapas sejam esquecidas,
minimizando os riscos evitáveis mais comuns que podem colocar em risco a vida e o bem
estar dos utentes (8,9).
Este programa não funciona por si próprio como segurança, é preciso superar todas as
barreiras corporativas e humanas encontradas para a implementação, possuir profissionais
capacitados e estrutura física adequada para gama de pacientes atendidos, são essenciais para
prestação de cuidados seguros.
Uma das fases do programa tende a estimular a união da equipe que se apresentam e
discutem sobre cada caso antes do início da cirurgia. Os psicólogos afirmam que a equipe que
sabe os nomes e função dos integrantes, promove melhor comunicação. Desenvolve-se a
desinibição para participar mais e expor preocupações, problemas e soluções, sendo
denominada essa correlação de “fenômeno da ativação”.
Os erros mais frequentes podem ocorrer devido aos baixos salários, condições
inadequadas de trabalho, falta de manutenção dos equipamentos, falta de gestão qualificada,
divergência de comunicação, taxa de infecção, roupas privativas usadas exclusivamente no
setor, falta de capacitação da equipe, falta de protocolos de segurança, deficiente quantidade e
qualidade das medicações, falta de investimento financeiro, excesso de carga de trabalho, o
que contribuem para o aumento dos indicadores negativos (10,11).
Para reduzir esses índices, a WHO em parceria com a Universidade de Harvard lançou
em 2007, o programa Save Surgery Saves Lives (Cirurgia Segura Salva Vidas) recomendando
a utilização de check list, o qual possui três etapas (Quadro 1).
ETAPAS
Sign in
DESCRIÇÃO
Ante da inclusão anestésica.
Time out
Antes da incisão da pele.
Sign out
Antes de o pacientes sair do CC.
Quadro 1 Etapas do check list do programa Save Surgery Saves Lives (10,11)
Devendo ser preenchido preferencialmente pelo enfermeiro para maior segurança
cirúrgica, não englobando todos os eventos sentinelas que podem vir a ocorrer no decorrer da
cirurgia, pois não age isoladamente, sendo necessário adotar novas ferramentas de segurança
do paciente para abranger os cuidados.
De acordo com dados da WHO, de 2008, demostram que foram realizados 234 milhões
de operações no mundo, morrendo dois milhões de clientes nesses procedimentos e cerca de
sete milhões apresentam complicações, sendo que 50% destes dados foram considerados
evitáveis (12).
Devido a isso, a WHO estipulou como meta reduzir em 25% as taxas de mortalidade e
morbidade cirúrgica – elevam o custo do tratamento e diminui a qualidade da assistência.
Aumentando os dias de permanência hospitalar de dez a 15 dias, os riscos de reinternação e de
transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), causa milhões em prejuízo
anualmente, e perdas humanas desnecessárias (12).
O projeto teve início no outono de 2006, com a participação de especialista de todas as
partes do mundo. Sendo significativo problema de saúde pública, embora não tenha sido
reconhecido. A WHO tem como ofício oferecer maior qualidade do ato cirúrgico com fácil
acesso a todos. Padronizam-se e sistematizam-se a assistência e os procedimentos a serem
registrados, pois as lacunas existentes dificultam o levantamento das informações para
movimentar o plano de ação (7,13).
Na década de 1970, morria 1/5.000 paciente por anestesia aplicada, com a adoção de
check list anestésico, levantamento realizado no ano 2000, demonstrou que esse número caiu,
sendo um paciente para cada 250 mil. Um estudo realizado com 7.688 clientes, sendo 3.733
antes da aplicação do check list e o restante após, apontou que as grandes complicações foram
reduzidas em 36% e a mortalidade em 47% (7).
O treinamento e a estrutura da equipe cirúrgica são imprescindíveis, visto que a prestação
de cuidados deve possuir elevado nível efetivo. Desta forma, os utentes podem se sentir mais
confiantes e seguros.
Para se desenvolver e avaliar soluções inovadoras que acrescentem valor clínico, sociais e
econômicos, se faz necessário investigar as causas de EA encontradas na unidade cirúrgica,
para a execução se encontra dificuldades como informações incompletas, imprecisas e/ou
inacessíveis, capacitação dos investigadores, recurso financeiro, limitações encontradas pelos
gestores, o valor empregado ao tema e a gama de ferramentas que necessitam ser avaliadas
para as tomadas de decisões (8).
Deve-se desenvolver abordagem sistemática e integrada sob as investigações. Para
analisar os resultados e buscar soluções como remate da melhoraria da qualidade e segurança
da assistência prestada, é preciso reunir as evidencias e delinear as prioridades – definida por
dimensão e tipologia do EA (8).
O programa Cirurgia Segura é inovador, pois contribui para minimizar os riscos,
melhorando a segurança dos utentes, agregando valor clínico e socioeconômico. Possui o
escopo de garantir que nenhumas das etapas sejam deslembradas, minimizando os riscos
evitáveis mais comuns que podem colocar em risco a vida e o bem estar dos utentes (9).
Deve ser executado durante o ato cirúrgico por um membro participante da cirurgia, que
verifica se os itens do check list estão sendo cumpridos para dar prosseguimento para as
demais etapas (ANEXO I). Integrando essa ferramenta no cotidiano são verificadas
verbalmente com a equipe cirúrgica para que as ações sejam concretizadas (9).
Subdivido em três partes e conduzido apenas por um profissional em um curto espaço de
tempo – não devendo ultrapassar um minuto para completar cada seção (Quadro 2).
ETAPAS
DESCRIÇÃO
1
Antes da indução anestésica, o profissional que estiver coordenando o check list deve conferir
a identidade do paciente, consentimento informado por ele ou membro da família (exceto em
casos de emergências), marcação dermográfica (com marcador de feltro permanente),
procedimento e local da cirurgia, conhecimento por ele e pelo anestesista de alergias préexistentes, oxímetro de pulso adequado, níveis de oxigênio, avaliação dos equipamentos das
Vias Aéreas Superiores (VAS) – Airway: os anestesistas avaliam as VAS do paciente e o risco
de aspiração, tomando medidas preventivas quando necessário.
No protocolo de emergência ABCD do sistema de ventilação (Air and Breathing), de
aspiração (suCtion), medicamentos e dispositivos (Drugs) e medicamentos de emergência,
prevenções com bolsas de sangue e acesso de duas grandes vias intravenosas ou cateter venoso
central (CVC). Quando houver risco de perda sanguínea superior a 500 ml ou 7 ml/kg em
crianças, confirmando a disponibilidade e funcionamento dos equipamentos e recursos.
2
Antes de iniciar a cirurgia Time out, os membros da equipe devem se apresentar por nome e
função (promoção da comunicação).
Se já atuam rotineiramente apenas verificam a presença de todos, confirmando em voz alta o
nome do paciente, procedimento a ser realizado em qual parte do corpo.
Se apropriado, o posicionamento do paciente, confere se os antibióticos profiláticos foram
ministrados nos últimos sessenta minutos tomando as ações cabíveis, assegurando se os
exames indispensáveis estão nos mostradores e a equipe expõem os pontos relevantes do caso
3
Antes de o paciente sair da sala cirúrgica, se analisa a cirurgia cometida, contando as
compressas, instrumentos, agulhas e rótulos para não se deixar coisas dentro do paciente,
registro adequado em prontuário.
Realiza-se a etiquetagem de amostra para exame biológico ou outros, inspeção de todas as
avarias ou problemas de equipamentos que precisam ser reportados.
A equipe deverá, por fim ressaltar os pontos frágeis, traçando plano de cuidados a ser
desempenhados no pós-operatório, antes da transferência do paciente para a SRPA.
Quadro 2 Etapas do Protocolo de Cirurgia (9)
Para o sucesso é fundamental que a condução seja realizada por uma única pessoa,
evitando esquecimentos e omissões. Tendo como base boa comunicação, relacionamento
interpessoal e abordagem para não gerar sentimento de repulsa pelos outros membros da
equipe.
Finaliza-se a lista de verificação, sendo anexado ao prontuário e/ou retida para revisão da
garantia contínua da qualidade. Enquanto, à implementação deve-se manter a simplicidade,
ampla aplicabilidade e mensurabilidade (impacto), sendo viável a todos os países que prezam
pela redução de danos e a vida (7).
Podem-se fazer as alterações oportunas para o perfil Institucional presente, porém não
sendo indicada a eliminação de nenhuma das fases para não comprometer os resultados, nem
ser muito complexa, envolvendo todos os membros da equipe nesse processo, promove maior
aceitação por sentirem que fazem parte daquele progresso, para mudança da prática
permanente (7).
Antes de colocar essa ferramenta em prática, é interessante se simular com os membros
como funciona na prática, aplicando em apenas uma equipe operatória para analisarem os
resultados, sendo testada, depois do acordo e modificações, testada novamente até que a
equipe se sinta apta a atuar com essas verificações. Assim se abrange progressivamente a
todas as equipes operatórias.
Os líderes devem formar equipe compromissada com a segurança do paciente,
valorizando a realização, com profissionais de disciplinas clínicas diversificadas,
identificando o grupo com maior aceitação, para que o progresso de implementação tenha
avanços no consentimento, envolvendo também os gestores e administradores, para que
compreendam os benefícios obtidos, ajudando a diminuir a resistência, promovendo e
propagando (7).
Quando se tem sistema de monitoramento se identifica as oportunidades de melhoria e se
adota ações antagônicas que contribuam para melhoria da qualidade dos cuidados. Bem como
direcionamento para a capacitação dos profissionais envolvidos. Há dez recomendações
básicas para a cirurgia segura (7) (Quadro 3).
N
RECOMENDAÇÕES
1
Paciente e local correto.
2
Na administração de anestésicos, precauções rotineiras serão aplicadas.
3
Disponibilidade de matérias e medicamentos de emergência.
4
A disposição de bolsas de sangue para eventual necessidade.
5
Não ministrar medicamentos que possam causar reações alérgicas e/ou adversas.
6
Cuidados conhecidos para minimizar o risco de infecção do local cirúrgico.
7
Cuidados quanto o número de instrumentos e compressas antes e após a operação.
8
Acondicionamento e identificação de todas as amostras cirúrgicas.
9
Compartilhamento de informações entre a equipe que contribua para a segurança do paciente.
10
Os sistemas de saúde pública e privado vão estabelecer vigilância epidemiológica de rotina
para monitorizar os resultados cirúrgicos.
Quadro 3 Recomendações básicas para a cirurgia segura (7)
As cirurgias realizadas no paciente errado ou local errado não são muito frequentes,
porém é uma das verificações do programa, devido atraírem muito a atenção da mídia quando
ocorrem, diminuindo a confiança da população nos órgãos de saúde.
Existem investimentos que quando analisados individualmente não despertam o interesse
inicial das Instituições de Saúde, porém quando avaliados confrontando os recursos
destinados aos EA evitáveis, que acarretam em altos custos, se tornam relativamente
importantes aquisições (7).
Alguns recursos mínimos também se fazem necessários para segurança do procedimento
como o ambiente, equipe capacitada, água potável, fonte de iluminação consistente,
aspiradores funcionais, fontes de oxigênio, oxímetro, equipamento cirúrgico funcional e
instrumentos esterilizados (7).
Existem ferramentas de aplicação universal, como por exemplo, o ANEXO II que se
trata da segurança anestésica, que são suportes disponíveis aos componentes da equipe. Devese ainda, seguir resoluções e normas regulamentadoras (NR) que preconizam o padrão mais
adequado para o bloco operatório, equipamentos, manutenções, armazenamento, cuidados
necessários contra incêndios, explosão, eletrocussão, gerador elétrico, estabelecimento físico
adequado, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), etc. (7)
O programa não funciona por si próprio como segurança, é preciso superar todas as
barreiras corporativas e humanas encontradas para a implementação: possuir profissionais
capacitados e estrutura física adequada para a gama de pacientes atendidos, são requisitos
essenciais para prestação de cuidados seguros.
A aplicação do programa da WHO tem a eficácia comprovada, desde hospitais pilotos a
instituições hospitalares que já adotaram as normas básicas de segurança cirúrgica. Salvando
vidas, diminuindo a mortalidade e mobilidade da população global, aumentando a confiança
dos usuários dos sistemas de saúde (7).
Contudo, evidencia-se a necessidade de muitas entidades de saúde abraçarem essa
ferramenta estratégica e implementar, treinar e sustentar o programa Cirurgia Segura visto que
este se reverterá em benefícios para a instituição hospitalar, operadora e usuários, se dando o
devido valor a vida bem como a qualidade. O Auditor age como facilitador nesse processo,
corroborando para que as melhores práticas sejam executadas com o propósito de trazer
sustentabilidade, credibilidade, segurança, confiança, qualidade e satisfação dos utentes.
OBJETIVO DO ARTIGO
Salientar aos stakeholders a competência do Enfermeiro Auditor como facilitador no
processo de implementação e monitoramento do Programa Cirurgia Segura, almejando a
excelência de qualidade em todo o processo cirúrgico.
MÉTODO
Nesta pesquisa bibliográfica exploratória com caráter qualitativo, analisaram-se
literaturas publicadas em periódicos que subsidiam resultados anteriormente descritos, os
quais descrevem o tema abordado para formulação de conceitos sumariados.
Abordam-se estudos empíricos, métodos, teorias, práticas, que fundamentam a análise
crítica com relação à temática sob o ponto de vista teórico-contextual, constituído de estudos
nacionais e internacionais, funcionando como ferramenta de educação continuada.
Pesquisaram-se papers publicados de 2002 a 2012, os quais foram buscados nos acervos
do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista, na base de dados da
Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LiLACS), Scientific
Electronic Library On Line (SciELO), BIREME com acesso pela biblioteca virtual (BVS) e
Portal de periódicos da Universidade de São Paulo (USP).
Por meio do site denominado Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), vinculado à
BVS, utilizaram-se descritores em três línguas (Quadro 4 e 5).
LÍNGUA
DESCRITORES
Auditoria de Enfermagem
MATERNA ou
PORTUGUESA
Educação Continuada
Qualidade da Assistência à Saúde
Centros de Cirurgia
Nursing Audit
INGLESA
(English)
Education Continuing
Quality of Health Care
Surgicenters
Quadro 4 Descritores do estudo baseados no DeCS
Auditoria de Enfermería
ESPANHOLA
(Española)
Educación Continua
Calidad de la Atención de la Salud
Centros Quirúrgicos
Quadro 5 Descritores do estudo baseados no DeCS
Registraram-se, no DeCS, 40.617 artigos publicados envolvendo os descritores deste
estudo, o menor índice está relacionado com Educação Continuada (Gráfico 1).
12224 (30,1%)
14000
13913 (34,2%)
9917 (24,5%)
12000
10000
8000
6000
4563 (11,2%)
4000
2000
0
Educação
Continuada
Auditoria de
Enfermagem
Qualidade da
Assistência à
Saúde
Centros de
Cirurgia
Gráfico 1 Índices de descritores deste estudo, conforme busca no DeCS
Apesar do descritor “Centros de Cirurgia” apresentar maior frequência (34,2%), não há
descritor específico para Cirurgia Segura.
A fundamentação teórica foi composta por livros didáticos, legislações e normas, 40.617
artigos e informações de sites oficiais como a WHO.
Todos os resultados obtidos nesta pesquisa são de conhecimento público, portanto,
disponíveis para publicação científica para consulta de estudiosos em Auditoria em
Enfermagem, Educação Continuada e Cirurgia Segura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tomando como base as 19 verificações delineadas no Programa Cirurgia Segura Salva
Vidas (ANEXO I), seguem-se algumas das prioridades – protocolo universal evitando erros
de paciente, local e procedimento; consentimento informado; checagem dos espécimes
cirúrgicos; monitorização adequada do anestesiologista; alergias; vias aéreas difíceis e riscos;
hipovolemia; promoção da comunicação entre os membros da equipe; esterilização;
antibiótico profilático ministrado no momento correto; protocolo; vigilância dos resultados;
exames disponíveis; contagem dos instrumentos, agulhas e compressas; identificação de
biópsias.
Conforme Joint Commission for Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO),
em 2012, elaborou o protocolo universal com o intuito de reduzir os erros relacionados ao
paciente, local e procedimento reduzindo acidentes, em julho de 2003. Semelhante a este
programa, a WHO recomenda check list com procedimentos básicos que garantem a
segurança do paciente neste sentido (14).
As informações são à base das decisões autônomas do paciente, sendo direito,
compreender o quadro e consentir ou recusar o tratamento proposto (exceto em casos de
emergência), assim é necessário antes da intervenção ter a permissão do mesmo, esclarecendo
dúvidas referentes aos benefícios e malefícios causados (15).
Os rótulos das amostras de laboratório devem ser devidamente identificadas, visto que
podem ocasionar EA, ocorrendo por incompatibilidade entre as amostras e requisições,
amostras não rotuladas e/ou mal identificadas, sendo o código da pulseira de identificação a
aliada que diminui as chances de erros, pois auxilia no que tange a dúvidas sobre o local e
nome da amostra, identificação do paciente, data da coleta, data de nascimento e/ou endereço
e/ou número do hospital (com no mínimos dois identificadores), que assegurem a segurança
do processo. Após a adequada rotulagem dos espécimes cirúrgicos, um membro da equipe
deve confirmar em voz alta para que outro verbalmente confirme o
assentimento (7,14,16).
A capnografia é recurso de monitorização na anestesia impreterível, pois identifica
precocemente sinais de depressão respiratória como a hipoventilação e apneia, sendo prático,
de simples execução, oferecendo maior eficácia e segurança, reduzindo as chances de EA. O
oxímetro de pulso monitora a saturação da hemoglobina com oxigênio oferecendo parâmetros
para que ações sejam tomadas rapidamente e a situação revertida, melhorando a qualidade da
assistência. Em contrapartida, faltam evidências que comprovem essa recomendação (7,17).
As reações alérgicas podem ser evitáveis com simples anamnese, testes cutâneos e/ou
provas laboratoriais que se negligenciadas podem desencadear reações anafiláticas, disfunção
orgânica, reações cutâneas, gastrointestinais, febre medicamentosa e em casos mais graves a
morte (18).
É imperativo avaliar as vias aéreas respiratórias antes da indução anestésica para se
identificar os riscos e dificuldades precocemente – registro de anestesia, se antecipar quanto à
perda da via, obstrução e/ou outras complicações que podem vir a ocorrer, traçando planos
estratégicos alternativos – anestesia regional, intubação sob a anestesia local com o paciente
acordado – monitorando a colocação endotraqueal (capnografia) e a oxigenação (oxímetro) (7).
No caso de cirurgia eletiva, o paciente deve estar de jejum, e para os pacientes com risco
de aspiração agir com prevenção utilizando de métodos para reduzir as secreções gástricas e
aumentar o pH (7).
No que tange a transfusão sanguínea (hipovolemia), é terapia eficaz em situações de
choque, hemorragia ou doenças sanguíneas. Quando a necessidade de transfusão for prevista
deve-se encontrar antecipadamente a disposição da equipe (19).
De acordo com a Resolução nº 136/1999 do Conselho Regional de Medicina, do Estado
do Rio de Janeiro (CReMeRJ), os médicos cientes formalmente da recusa do paciente em
receber transfusão de sangue e/ou derivados, deverão recorrer a todos os métodos alternativos
para o sucesso do atendimento e/ou mantê-lo até a sucessão de outro profissional, estando no
direito de recusar (20).
Deve-se informar ao paciente ou ao representante legal sobre a posição do paciente,
encaminhando a outro profissional passando todas as informações necessárias para
continuidade do tratamento. Porém, se for necessário à transfusão de sangue e/ou derivados
para manter a vida, o médico deverá comunicar a decisão à autoridade policial, e realizada de
acordo com os princípios éticos.
O bom relacionamento proporciona ao cliente ambiente saudável para o tratamento
transmitindo segurança e gerando os sentimentos positivos quanto à assistência prestada. As
relações humanas não são exercidas da mesma forma com todo cliente/cuidador, deve ser
individualizadas (21,22).
Dessa forma, embasados nos princípios da ética, conduzem a recuperação do cliente em
todas as dimensões, já entre os membros as informações relevantes são trocadas para
condução do tratamento do cliente cirúrgico.
O Enfermeiro deve adotar liderança de acordo com a maturidade do membro da equipe,
ou seja, individualizado de acordo o perfil de cada equipe, os tornando satisfeitos quanto à
interação existente. Percebe-se a necessidade do compartilhamento permanente de
informações para que o trabalho flua adequadamente, provocando aumento no rendimento da
equipe multidisciplinar (23,24).
O profissional de Enfermagem poderá oferecer assistência de qualidade com
planejamento prévio, a fim de eliminar as dúvidas e atender as necessidades especificas de
cada cliente, respondendo às expectativas (25,26).
O ambiente terapêutico para fornecer a orientação deve ser tranquilo e calmo, caso
contrário pode prejudicar o procedimento. Como vários são os fatores que interferem na
compreensão dos clientes/cuidadores. Como integrante da equipe de Saúde, o Enfermeiro
deve auditar os processos, respeitando os princípios bioéticos com conhecimentos técnicocientíficos, com competência para promover o ser humano integralmente (27,28).
A falha humana no processo de esterilização resulta em riscos diretos aos pacientes,
devendo possuir formação específica em enfermagem e treinamento, para ser criterioso no
processo de esterilização, devendo manusear corretamente os materiais contaminados
(diminuindo os riscos ocupacionais), condições de armazenamento, colocação dos espécimes
cirúrgicos nas máquinas de esterilização, dentre outros cuidados (29).
Aos pacientes que não apresentam infecção prévia, o adequado é realizar a
antibioticoterapia profilática, pois previne a proliferação de bactérias, diminuindo a incidência
de infecção no pós-cirúrgico. Torna-se fundamental a administração sessenta minutos antes da
intervenção (30,31).
Deve se fazer a contagem sistemática no início e término de todos os atos cirúrgicos de
compressas, agulhas, lâminas, instrumentos cirúrgicos e quaisquer itens que possam ser
deixados dentro do paciente. Registra-se o resultado igual ao número de matérias antes da
cirurgia, identificar o profissional que a realizou, comunicar o cirurgião, se utilizando dos
recursos disponíveis que auxiliem na contagem como código de barras ou marcação por
sensores de radiofrequência, sistema de contagem automática de compressas, dentre outros (7).
O protocolo de Enfermagem auxilia o profissional de saúde no que se refere à assistência
prestada. Este documento sistematiza os cuidados de Enfermagem prestados em todos os
níveis de assistência ao cliente (6.32,33). O check list auxilia os lapsos mentais, promove o
trabalho em equipe, divisão das responsabilidades, estimula a comunicação, coordenação das
ações, sendo protocolo dinâmico que repercute na qualidade da assistência prestada.
Essa padronização só obterá êxito se princípios e treinamento atingirem também os
gestores e administradores, fornecendo base para prognóstico mais promissor, amadurecendo
os profissionais de Enfermagem e repercutindo na qualidade da assistência prestada.
Fundamentando-se no Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH), o bem estar do cliente somente será promovido se a instituição hospitalar contar
com instrumentos de padronização. O protocolo funciona por ser embasado em fundamentos
teóricos e científicos, melhorando a prática da assistência prestada pela Enfermagem,
tornando o cliente pós-cirúrgico sujeito ativo do tratamento. A falta de protocolo proporciona
que diferentes condutas sejam tomadas pelos profissionais da saúde (3,34).
Os indicadores são instrumentos gerenciais que servem para monitorar, mensurar e
avaliar os resultados obtidos, a qualidade e produtividade do Centro Cirúrgico (CC),
estabelecendo padrões, que auxiliam nas tomadas de decisões (35).
Para a construção é relevante possuir dados fidedignos, resultado de anotações
relacionadas às ocorrências e funcionamento relativo ao CC, bem como acompanhamento.
Torna-se primordial levantar a mortalidade e complicações relacionadas aos erros evitáveis
para se tomar medidas preventivas (7).
Para tanto, o modelo de protocolo elaborado pela WHO (ANEXO I) servirá para nortear
as ações da equipe cirúrgica, como facilitador, auxiliando os membros a não se esquecerem de
nenhuma fase do processo, melhorando assim, a qualidade da assistência prestada na
intervenção cirúrgica para prevenir os eventos sentinelas, anteparando possíveis transtornos
e/ou até mesmo o óbito.
CONCLUSÃO
Com base nos dados das pesquisas, nota-se que ainda há resistência por parte de algumas
Instituições e profissionais em aderir ao programa. A resistência está,, muitas vezes,
relacionado com a falta de interesse, a rotina, o marasmo, o não comprometimento, a escassez
de tempo e o paradigma social.
Por outro lado, o Programa Cirurgia Segura possui eficiência comprovada em nível
mundial.
Ao aderir essa ferramenta, os indicadores apontam queda dos eventos adversos e
consequentemente causam o aumento da qualidade, segurança e credibilidade da assistência
cirúrgica.
As Instituições preocupadas em oferecer maior qualidade devem ser persistentes ao
implementar novas práticas para se obter novos e melhores resultados. Sendo os auditores
facilitadores nesse processo.
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ANEXO I
PROTOCOLO CIRURGIA SEGURA
ANEXO II
Proposta de lista de verificação de segurança antes de qualquer anestesia
Nome do doente ________________ Número ____________
Data de nascimento ___ / ___ / ___
Procedimento_______________________________Local_________________
Verificação de fatores de risco
do doente (se sim – colocar
círculo e anotar)
ASA 12345E
Via aérea
(Classificação de Mallampati)
Verificação de
recursos
Presença e em
funcionamento
Via Aérea
Máscaras
Laringoscópios (a funcionar)
Tubos Bougies
Não
Não
Risco de aspiração?
Alergias?
Ventilação (Breathing)
Gases (um fluxo de gás fresco de 300
ml/min mantém uma pressão de
H2O>30 cm)
Cal sodada (coloreável, se houver)
Sistema circular (testar com duplo
saco, se presente)
Aspiração (SuCtion)
Não
Não
Não
Observações anormais?
Medicamentos?
Comorbilidades?
Responsável pela submissão
Ana Cabanas
[email protected]
Fármacos (Drogas) e dispositivos
Bala de oxigénio (cheia e desligada)
Vaporizadores (cheio e colocado)
Bomba
infusora
(segurança
intravenosa)
Fármacos (rotulados, conexões em
anestesia intravenosa)
Sangue e soros disponíveis
Monitores: alarmes ligados
Humidificadores,
aquecedores
Termômetros
Emergência
Apoio
Adrenalina
Suxametonium
Balão autoinsuflável
Mesa reclinável
e
Recebido em 05/04/2013
Aprovado em 18/04/2013
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