Aspectos Estruturais e Funcionais do Coração de

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Arq Bras Cardiol
volume 75, (nº 2), 2000
e cols
ArtigoMoisés
Original
Aspectos estruturais e funcionais de coração de ratos com e sem IM
Aspectos Estruturais e Funcionais do Coração de Ratos com e
sem Infarto do Miocárdio. Experiência Inicial com
Ecocardiografia Doppler
Valdir A. Moisés, Ricardo L. Ferreira, Emília Nozawa, Rosemeire M. Kanashiro, Orlando Campos Fº,
José Lázaro de Andrade, Antonio Carlos C. Carvalho, Paulo J. F. Tucci
São Paulo, SP
Objetivo - Analisar por ecodopplercardiograma os
aspectos estruturais e funcionais do coração de ratos com
infarto do miocárdio extenso, produzido por cirurgia.
Métodos - Cinco semanas após ligadura da artéria
coronária esquerda, 38 ratos e ratas Wistar-EPM, 10 com
infarto extenso, foram avaliados por ecodopplercardiograma e depois sacrificados para análise anatomopatológica.
Resultados - O ecocardiograma foi 100% sensível e
específico para infarto extenso. Nesses ratos houve aumento dos diâmetros do ventrículo esquerdo (diastólico:
0,89cm vs. 0,64cm; sistólico: 0,72cm vs.0,33cm) e do átrio
esquerdo: 0,55cm vs. 0,33cm; menor espessura de parede
anterior (sistólica: 0,14cm vs. 0,23cm; diastólica: 0,11cm
vs. 0,14cm); aumento da relação das ondas E e A (6,45 vs.
1,95); aparecimento de onda B no traçado da valva mitral
(62,5%); retificação do traçado da valva pulmonar (90%)
e entalhe na curva de fluxo pulmonar (60%).
Conclusão - O ecodopplercardiograma identificou
todos os infartos extensos. Os quais dilataram as câmaras esquerdas, e levaram à detecção pelo Doppler de sinais de aumento da pressão diastólica final do ventriculo
esquerdo e da pressão da arteria pulmonar.
Palavras-chave:
infarto do miocárdio, coração de ratos,
ecocardiografia Doppler
Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina
Correspondência: Valdir A. Moisés - UNIFESP–EPM - Disciplina de Cardiologia
- Rua Botucatu, 740 – 2º - 04023-900 - São Paulo, SP
Recebido para publicação em 19/8/99
Aceito em 29/3/00
O infarto do miocárdio é uma das causas mais freqüentes de insuficiência cardíaca e morte na população humana
adulta 1,2. A insuficiência cardíaca pode estar relacionada à
extensão do infarto 3,4. O reconhecimento clínico da extensão do infarto do miocárdio e do grau de repercussão hemodinâmica pode ser obtido pela ecocardiografia Doppler 5.
O coração de ratos com infarto do miocárdio, produzido
cirurgicamente, tem sido analisado em estudos anatomopatológicos, hemodinâmicos e, mais recentemente, pela
ecocardiografia Doppler 6-10. Esta última técnica diagnóstica
tem sido particularmente interessante, principalmente nos
estudos seriados e com intervenções farmacológicas 10,11.
Devido ao interesse de nosso laboratório em analisar seriadamente o coração de ratos ou ratas com infarto do miocárdio para submetê-los a diferentes abordagens terapêuticas, tornou-se importante reconhecer o infarto e analisar
suas repercussões funcionais pela ecocardiografia Doppler.
Assim, o objetivo deste estudo foi relatar os principais achados estruturais e funcionais à ecocardiografia Doppler, do
coração de ratos e ratas normais e com infarto extenso do
miocárdio produzido cirurgicamente.
Métodos
Foram selecionados 38 ratos e ratas Wistar-EPM, que
cinco semanas após a ligadura cirúrgica da artéria coronária
esquerda, foram submetidos à ecocardiografia e, em seguida, sacrificados para análise anatomopatológica. Entre estes, ao estudo anatomopatológico posterior, 28 animais não
apresentavam sinais de infarto do miocárdio e em 10 foi evidenciada a presença de infarto do miocárdio, envolvendo
mais de 40% da musculatura ventricular esquerda. Entre os
28 animais sem infarto 14 eram machos e 14 fêmeas, e os 10
animais com infarto extenso do miocárdio eram fêmeas. O
peso dos animais variou entre 240 e 280g. Todos os animais
foram mantidos em gaiolas de plástico, com temperatura
ambiente entre 20oC e 22oC, ciclos luz/treva de 12h, e alimen-
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tados com ração Nunvilab e água ad libitum, sem medicação antes e após o procedimento cirúrgico.
O infarto do miocárdio foi produzido conforme descrito previamente na literatura e adaptado para nosso laboratório 8. Em resumo: após anestesia com 0,1ml/kg de uma mistura de 0,67mg/ml de xilazina (rompun; Bayer AS - saúde animal) e 0,33mg/ml de ketamina (ketamina, Holliday-Scott SABuenos Aires), aplicada por via intraperitoneal e pesagem
em balança Marte, os animais eram posicionados em
decúbito dorsal, imobilizados e submetidos à tricotomia e
anti-sepsia (álcool 92,8o) da face anterior do tórax. A seguir,
era realizada uma incisão cirúrgica na pele de cerca de 2cm
ao longo da borda esternal esquerda, de modo a expor a 5ª e
a 6ª costelas. Após divulsão dos músculos peitoral e transverso, uma sutura em bolsa era preparada para possibilitar o
rápido fechamento do tórax após a cirurgia. Procedia-se então à toracotomia ao nível do 5º espaço intercostal para
exteriorização rápida do coração por meio da compressão
lateral do tórax. A artéria coronária esquerda era identificada
e ocluída por sutura com fio cirúrgico polipropileno 5-0 entre a borda do átrio esquerdo e a artéria pulmonar. Após reposicionamento rápido do coração, o tórax era fechado. Para
expansão da cavidade torácica, era realizada ventilação pulmonar com máscara nasal até a estabilização da freqüência
respiratória.
O ecocardiograma de todos os animais foi realizado
cinco semanas após a produção do infarto. Para a realização
do exame repetiam-se a tricotomia da face anterior do tórax e
a sedação com a mesma solução utilizada para a cirurgia. Os
animais eram, então, posicionados em decúbito lateral esquerdo (45o) e três eletrodos eram aderidos nas patas para
obtenção de um traçado eletrocardiográfico simultâneo à
imagem cardíaca que permitia a identificação da fase do ciclo
cardíaco e registro da freqüência cardíaca. Os exames foram
realizados com um equipamento comercialmente disponível
(Apogee Cx Ultrasound System – ATL Inc, Ambler, PA USA) capaz de produzir imagens nos modos uni e bidimensional e analisar a velocidade do fluxo sangüíneo intracardíaco pelas técnicas de Doppler espectral e mapeamento
de fluxo em cores. Utilizou-se transdutor de 7,5 MHz, profundidade de 3,0cm, e ângulo setorial de 60o. O comprimento
da amostra de volume do Doppler pulsátil utilizada foi de
0,6mm. Os traçados em modo M, Doppler pulsátil e do
eletrocardiograma simultâneo foram registrados a uma velocidade de 100mm/s. Inicialmente obtinham-se as imagens
longitudinais do coração, incluindo o ventrículo e átrio esquerdos, a valva mitral e a aorta, seguidas das imagens
transversais a partir do plano da base (aorta, átrio esquerdo,
via de saída do ventrículo direito, valva e artéria pulmonares) até a região apical do ventrículo esquerdo. Simultaneamente à obtenção dessas imagens, foram registrados os traçados em modo-M da raiz aórtica (incluindo a valva aórtica),
átrio esquerdo, valvas mitral e pulmonar, e cavidade ventricular esquerda ao nível dos músculos papilares. No plano
apical quatro-câmaras foi obtida a curva de velocidade do
fluxo diastólico mitral, posicionando-se a amostra de volume do Doppler pulsátil pouco abaixo da face ventricular das
$
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cúspides da valva mitral. Obteve-se o registro simultâneo
da curva de velocidade do fluxo da via de saída do ventrículo esquerdo e do fluxo diastólico mitral, no plano apical
cinco câmaras, posicionando-se a amostra de volume do
Doppler pulsátil entre as vias de saída e entrada do ventrículo esquerdo. Foi também analisada a curva de velocidade de fluxo sistólico na artéria pulmonar no plano paraesternal transversal da base com a amostra de volume do
Doppler pulsátil posicionada logo abaixo do plano valvar.
As imagens bidimensionais e os traçados em modo M e
das curvas de Doppler foram gravadas em fitas de vídeo
de meia polegada para análise posterior. Com base nas
imagens dos planos transversal (níveis basal, médio e
apical) e longitudinal do ventrículo esquerdo, definiu-se
infarto do miocárdio como as regiões ou segmentos
hiperecogênicos ou não do miocárdio, que apresentavam
uma das seguintes alterações da cinética miocárdica:
hipocinesia (diminuição do espessamento ou do movimento da parede), acinesia (ausência de espessamento e/
ou movimento) e discinesia (movimento oposto ao normal
de um ou mais segmentos ou regiões).
As medidas derivadas dos traçados em modo-M e das
curvas de velocidade de fluxo obtidas pelo Doppler pulsátil
foram realizadas num sistema de análise off-line (ImageVue, DCR 1.60, Nova Microsonics) no qual as imagens gravadas em fitas de vídeo eram reproduzidas e digitalizadas
em uma seqüência de oito quadros, escolhendo-se a imagem mais adequada para realização das medidas. As seguintes medidas foram obtidas pela ecocardiografia em modoM: átrio esquerdo no final da sístole, raiz aórtica no final da
diástole, espessura diastólica (EdPA, EdPP) e sistólica
(EsPA, EsPP) das paredes anterior e posterior, e dos diâmetros diastólico e sistólico do ventrículo esquerdo, sendo os
valores expressos em centímetros (cm). Todas as medidas
foram obtidas conforme recomendação da Sociedade Americana de Ecocardiografia 12. Com base nessas medidas foram calculados a massa do ventrículo esquerdo (em gramas), segundo a equação da Sociedade Americana de
Ecocardiografia, M(g)=1,04 [(Dd + EdPA + EdPP) – Dd3]3; e
a porcentagem de encurtamento do ventrículo esquerdo
(PEVE), PEVE(%)= Dd – Ds/Dd x 100.
Devido ao comprometimento miocárdico segmentar
nos animais com infarto, não foram estimadas a massa
miocárdica e a fração de encurtamento do ventrículo esquerdo. Estes dois parâmetros foram calculados apenas com os
dados dos animais sem infarto. Da curva de fluxo diastólico
mitral estimou-se a velocidade máxima das ondas E e A, em
centímetros por segundo (cm/s), e calculou-se a relação
entre elas (relação E/A). O tempo de desaceleração atrial,
expresso em milissegundos, foi estimado como o tempo entre a velocidade máxima da onda E da curva de fluxo diastólico mitral e a intersecção da linha de base do Doppler. O
intervalo de relaxamento isovolumétrico do ventrículo esquerdo foi estimado como o tempo, em milissegundos, entre
o final da curva de fluxo da via de saída do ventrículo es-
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querdo e o início da curva de velocidade do fluxo diastólico
mitral. Estes parâmetros foram utilizados para análise da função diastólica do ventrículo esquerdo.
Após a realização do ecocardiograma, os animais foram anestesiados com uretana na dose de 0,3ml/100g de
peso (solução de 400mg/ml) e submetidos à toracotomia
para excisão do coração. O peso real do ventrículo esquerdo
foi obtido em balança analítica de Mettler, após separação
completa do pericárdio, ventrículo direito, átrios e grandes
vasos. Conforme técnica descrita por outros autores, foram
realizados exames anatomopatológicos nesses corações
para caracterizar a presença ou ausência de infarto 8. Após
fixação com formol a 10%, foram realizados quatro cortes
transversais no ventrículo esquerdo. Após desprezar as
secções extremas, três fatias representando as regiões
basal, média e apical foram coradas pela hematoxilina-eosina e tricômio de Masson para pesquisa de infarto. Quando
presente, o tamanho do infarto do miocárdio foi estimado
como a média da porcentagem do comprimento do arco da
cicatriz (e/ou alteração contrátil segmentar) em relação à circunferência transversal nos três planos do ventrículo esquerdo 8.
Os valores das variáveis ecocardiográficas foram expressos pela mediana e os valores máximo e mínimo. A massa do ventrículo esquerdo obtida pela ecocardiografia foi
comparada com os valores do peso real da câmara utilizando-se teste de correlação de Spearman. Os valores das demais variáveis estudadas nos animais com e sem infarto foram comparados pelo teste de Mann-Whitney (não paramétrico). A comparação das alterações do movimento das
valvas mitral e pulmonar ao modo M e o padrão da curva de
velocidade do fluxo sistólico pulmonar entre os animais com
e sem infarto extenso do miocárdio foi realizada pelo teste de
comparação de proporções. Considerou-se teste estatisticamente significante os valores de p<0,05.
Resultados
O ecocardiograma permitiu imagens e sinais de Doppler adequados para as análises propostas em todos os animais selecionados. Alterações contráteis segmentares do
ventrículo esquerdo ao ecocardiograma, indicativas de infarto, foram observadas nos 10 animais com infarto do miocárdio extenso ao estudo anatomopatológico. Nenhum animal sem infarto do miocárdio ao estudo anatomopatológico
apresentou as alterações ecocardiográficas do ventrículo
esquerdo sugestivas de infarto. Os animais com infarto extenso apresentaram ao ecocardiograma áreas ecodensas no
miocárdio do ventrículo esquerdo sugestivas de fibrose ou
afinamento miocárdico e/ou alteração contrátil nas paredes
ântero-lateral e apical, às vezes estendendo-se à parede inferior, com preservação do septo interventricular, confirmados pelo estudo anatomopatológico (fig. 1). A tabela I resume os valores máximo, mínimo e a mediana do peso do
ventrículo esquerdo, da freqüência cardíaca durante o
ecocardiograma e de todas as variáveis estruturais dos animais com e sem infarto do miocárdio. Observa-se também o
VE
A
VD
S
VE
B
Fig. 1 - Imagens do plano transversal do ventrículo esquerdo (VE) de uma rata sem infarto (A) e de outra rata com infarto do miocárdio extenso (B). s- septo inter–
ventricular; setas- infarto do miocárdio.
resultado da análise estatística da comparação destas variáveis. A massa do ventrículo esquerdo ao ecocardiograma
dos animais sem infarto, correlacionou de maneira significante (r=0,60; p=0,0092) com o peso real do ventrículo esquerdo. A tabela II resume os valores máximo e mínimo, e a
mediana das variáveis funcionais dos animais com e sem infarto do miocárdio. É importante observar que os valores da
relação E/A foram significantemente maiores nos animais
com infarto extenso do que nos animais sem infarto (fig. 2).
O traçado da valva mitral ao ecocardiograma modo M
apresentou ponto “B” em 5 de 8 (62,5%) animais com infarto do miocárdio extenso e em nenhum no grupo sem
infarto (p<0,05) (fig. 3). O traçado da valva pulmonar apresentou-se retificado (sem onda a) em 9 de 10 (90%) animais
com infarto extenso e em nenhum sem infarto (P<0,05). O
fluxo sistólico na artéria pulmonar apresentou entalhe
meso-sistólico em 6 de 10 (60%) animais com infarto do
miocárdio e em nenhum sem infarto (p<0,05) (fig. 4).
Discussão
O modelo de infarto do miocárdio em ratos tem sido
utilizado há alguns anos. A grande vantagem do modelo é a
possibilidade de se poder manter os animais vivos por longos períodos até a cicatrização da área miocárdica com in %
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Tabela I - Valores mínimo, máximo e mediana da freqüência cardíaca (FC) durante o ecocardiograma, peso do ventrículo esquerdo (em gramas),
variáveis ecocardiográficas, e o valor da significância estatística das comparações realizadas (p)
Variável
Mediana
Mínimo
Máximo
p
Normais
Infarto
Normais
Infarto
Normais
Infarto
Peso VE
0.71
0.63
0.46
0.54
0.84
0.74
0.00
FC(bpm)
263
230
180
214
416
260
0.34
Ao(cm)
0.31
0.30
0.24
0.24
0.36
0.32
0.14
AE(cm)
0.32
0.53
0.23
0.50
0.49
0.66
0.00
Dd(cm)
0.64
0.88
0.53
0.81
0.73
1.0
0.00
Ds(cm)
0.33
0.72
0.21
0.56
0.46
0.86
0.00
Pad(cm)
0.14
0.11
0.10
0.08
0.19
0.16
0.001
Pas(cm)
0.23
0.14
0.19
0.12
0.34
0.21
0.001
PPd(cm)
0.15
0.12
0.12
0.10
0.36
0.20
0.05
PPs(cm)
0.26
0.20
0.20
0.14
0.36
0.29
0.000
Massa(g)
0.58
——-
0.40
——-
1.01
——
AE- átrio esquerdo; Ao- raiz aórtica; Dd- diâmetro diastólico do VE; Ds- diâmetro sistólico do VE; FC (bpm)- freqüência cardíaca (batimentos por minuto); Massa (g)massa do ventrículo esquerdo pela ecocardiografia em gramas; Pad- espessura diastólica da parede anterior; Pas- espessura sistólica da parede anterior; Peso VEpeso real do ventrículo esquerdo (em gramas); PPd- espessura diastólica da parede posterior; PPs- espessura sistólica da parede posterior.
Tabela II - Valores mínimo, máximo e mediana das variáveis funcionais ao ecocardiograma Doppler, e da significância estatística das comparações
realizadas (p)
Variável
Mediana
Normais
Mínimo
Infarto
Normais
Máximo
Infarto
Normais
p
Infarto
PEVE (%)
49.7
---
33.3
---
61.5
---
---
E (cm/s)
65.9
76.2
43.5
56.7
98.5
152
0.05
A (cm/s)
30
13.1
23
81
7.8
35.4
0.001
E/A
1.95
6.45
1.01
1.68
2.63
8.90
0.001
TDA(ms)
40.1
41
33.4
23
61.9
45
0.48
IRIV(ms)
23.8
27.6
16.5
10.4
41.8
38.3
0.62
A (cm/s)- velocidade da onda A da curva de fluxo diastólico mitral; E- velocidade da onda E da curva de fluxo diastólico mitral; E/A: relação entre a velocidade das
ondas E e A do fluxo diastólico mitral; TDA- tempo de desaceleração do fluxo diastólico mitral (milissegundos); IRIV- intervalo de relaxamento isovolumétrico do
ventrículo esquerdo (milissegundos); PEVE (%)- porcentagem de encurtamento do ventrículo esquerdo.
farto e surgirem os sinais de remodelação do ventrículo esquerdo. Segundo Spadaro e cols. 8, a ligadura da artéria coronária esquerda feita no seu primeiro segmento epicárdico,
3 a 4mm após a origem, não interrompe a circulação para o
ramo septal, que em ratos, origina-se muito próximo do óstio
da artéria coronária esquerda. Com isto o septo interventricular é mantido intacto na maioria dos infartos provocados pela oclusão proximal da artéria coronária esquerda em
ratos, enquanto um grande comprometimento da parede livre do ventrículo esquerdo é observado. Vale lembrar que
após a ligadura da artéria coronária esquerda, alguns animais desenvolvem infarto extenso, outros desenvolvem
infartos menores ou ainda não o desenvolvem. No presente
estudo, utilizando-se técnica semelhante, o estudo anatomopatológico do coração mostrou em 10 animais, infarto
extenso comprometendo a parede livre da cavidade. O ecocardiograma realizado cinco semanas após o infarto, antes
do estudo anatomopatológico, demonstrou sinais sugestivos de fibrose e alteração contrátil segmentar nas mesmas
&
paredes do ventrículo esquerdo. Os animais com infarto
apresentaram espessura diastólica e sistólica das paredes
anterior e posterior do ventrículo esquerdo significantemente menores que as dos animais sem infarto, o que representa, provavelmente, o comprometimento das paredes
miocárdicas envolvidas pelo infarto e graus variáveis de cicatrização.
Após cinco semanas, todos os animais com infarto do
miocárdio apresentaram, ao ecocardiograma Doppler, aumento significante das dimensões das cavidades esquerdas. Esses achados foram acompanhados de alterações funcionais importantes, como os sinais de aumento da pressão
diastólica do ventrículo esquerdo caracterizados pela curva
de velocidade do fluxo diastólico mitral do tipo restritivo
(principalmente a relação E/A) e ponto B no traçado da
valva mitral, ambos presentes apenas nos animais com infarto extenso. As características da curva de velocidade do
fluxo diastólico mitral, sugestivas de padrão restritivo de
enchimento ventricular, já anteriormente relatado em ratos
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A
A
E
A
B
E
B
B
B
A
Fig. 2 - Curva de velocidade do fluxo diastólico mitral de uma rata sem infarto (A) e de
outra rata com infarto extenso (B). Observe o aumento da onda E e a diminuição da
onda A em B.
Fig. 3 - Traçados em modo M da valva mitral de uma rata normal (A) e de outra rata com
infarto do miocárdio extenso (B) com ponto “B” na fase diastólica final.
com infarto extenso 10, assim como o achado de ponto B na
valva mitral (modo M), assemelham-se ao observado em
humanos com insuficiência cardíaca importante devido a
infarto do miocárdio 13. Os achados de retificação do traçado
da valva pulmonar ao ecocardiograma modo M e o entalhe
sistólico na curva de velocidade de fluxo pulmonar, ainda não
foram demonstrados em ratos com infarto extenso do
miocárdio. Novamente, a semelhança destes achados ao padrão de hipertensão pulmonar encontrados em humanos 14
permite supor que eles indicam aumento da pressão na circulação pulmonar dos ratos com infarto extenso, em decorrência do aumento da pressão diastólica do ventrículo esquerdo. No presente estudo, não foi realizado estudo hemodinâmico com medidas diretas da pressão arterial pulmonar
e pressão diastólica do ventrículo esquerdo para comparação. Os índices de função sistólica global do ventrículo esquerdo, porcentagem (ou fração) de encurtamento e/ou fração de ejeção, foram analisados somente nos animais sem
infarto. Estes métodos utilizam apenas medidas lineares do
ventrículo esquerdo para o cálculo, e não representam a função sistólica global em corações com alterações contráteis
regionais, como ocorre nos corações com infarto. Os méto-
dos bidimensionais tradicionalmente utilizados em humanos baseiam-se nas imagens do ventrículo esquerdo obtidas pelo plano apical. Entretanto, a qualidade das imagens
por este plano nos animais do presente estudo não foram
adequadas para obtenção de estimativas confiáveis da fração de ejeção. A utilização de transdutores com freqüência
mais alta poderia proporcionar melhor definição do endocárdio nas imagens obtidas pelo plano apical 15. Uma outra alternativa, que poderia ser utilizada, é a análise da variação
percentual da área transversal do ventrículo esquerdo, uma
vez que as imagens no plano paraesternal transversal são,
em geral, adequadas. No presente estudo, este método não
foi utilizado, pois seria interessante testá-lo num grupo de
animais com tamanhos variáveis de infarto do miocárdio, de
modo a possibilitar comparações. Por esta razão, um estudo
em andamento em nosso laboratório analisará este método
com mais detalhe.
Os dados referentes às variáveis anatômicas e funcionais dos animais sem infarto são importantes neste estudo
pois permitiram a comparação com as variáveis dos animais
com infarto extenso e podem ser úteis como valores de
referência em estudos futuros de nosso ou de outros labo '
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ratórios. O índice de correlação entre a massa do ventrículo
esquerdo estimada pelo ecocardiograma e o peso real da cavidade, apesar de estatisticamente significante, foi baixo se
comparado a outros estudos 16. Talvez, um dos fatores
determinantes do baixo índice de correlação seja a inclusão
de animais com massa de ventrículo esquerdo normal e em
uma faixa relativamente estreita de variação. A inclusão de
animais com peso corporal maior e de outros com hipertrofia do ventrículo esquerdo pode ampliar a faixa de variação dos valores e aumentar o índice de correlação, como em
outros estudos. Os animais com infarto extenso não foram
incluídos devido à variação não uniforme da espessura
miocárdica nesses corações e às variações da forma geométrica da cavidade. Vale lembrar que a freqüência do
transdutor utilizado (7,5 MHz), embora com imagem adequada para identificação das estruturas analisadas, pode
prejudicar a detecção dos bordos reais das paredes, principalmente mais próximas ao transdutor, e ser uma das causas do índice de correlação baixa. É possível que transdutores com freqüência mais alta (10 ou 12 MHz) permitam
medidas mais precisas da espessura miocárdica e do diâmetro das cavidades.
Apesar de algumas limitações e com base nos dados e
observações do presente estudo, podemos concluir que a
ecocardiografia Doppler pode identificar infarto do miocárdio extenso em ratas com cinco semanas de evolução.
Animais com infarto tiveram aumento das dimensões das
cavidades cardíacas esquerdas e apresentaram sinais indiretos de aumento das pressões diastólica do ventrículo esquerdo e sistólica da artéria pulmonar ao ecocardiograma
Doppler.
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A
B
Fig. 4 - Curvas de velocidade do fluxo sistólico pulmonar de uma rata sem infarto (A)
e de outra rata com infarto extenso (B) com entalhe meso-sistólico (setas).
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