uma análise histórica sobre léo kessler

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4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA
2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO
UMA ANÁLISE HISTÓRICA SOBRE LÉO KESSLER
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Karla Díbia Del Secchi Ferreira
48
Rosemeire Odahara Graça
Área: Linguística, Letras e Artes.
Subarea: Artes-Música.
Palavras-chave: História da música, Música no Paraná, Conservatório de Música
do Paraná.
RESUMO
Chegou à região sul do Brasil durante o século XIX, uma
numerosa quantidade de imigrantes europeus e estes eram atraídos a
Curitiba por seu clima similar ao europeu. A presente pesquisa visa
investigar Léo Kessler, um dos europeus destas levas estrangeiras.
Relatar os acontecimentos desta época através de pesquisas e
documentos como os de Andrade Muricy, Roselys Roderjan, Regina
Baggio Osinski e Luiz Heitor Corrêa de Azevedo proporciona uma idéia
acerca de quem foi e o que fez Léo Kessler, analisando suas benfeitorias
para com a sociedade e com a cultura durante as décadas de 1910 e
1920, enquanto este permaneceu no Brasil.
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais ainda existem inquietudes a serem elucidadas
acerca dos personagens que marcaram a história da cultura e do ensino
paranaense.
47 Pesquisadora voluntária do Programa de Iniciação Científica da FAP – PIC/FAP.
48 Orientadora. E-mail: [email protected].
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Percebe-se durante os achados bibliográficos que o grande
contingente de imigrantes europeus vindos ao Paraná favoreceu a
formação de uma cultura baseada nos modelos estrangeiros,
principalmente no que se refere ao gosto pelas artes e pela educação.
OSINSKI, (1998, p. 178) observa que: “os imigrantes deram
também sua grande contribuição no setor cultural, incentivando
manifestações artísticas e atividades esportivas. Suas associações
promoviam bailes, concertos, e peças teatrais e competições esportivas,
movimentando a vida da juventude em seu novo lar”.
Esta valorização da cultura atraiu mais europeus, destacando-se
entre eles Leonardo (Léo) Kessler (1882- 1924), músico suíço que
ofereceu a cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, através de suas
obras e ensinos, um tempo de vasta atividade cultural.
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Em outros achados também há outros destaques e homenagens
ao referido autor, sendo também enfatizado por Muricy (1925, p. 25),
no livro “Léo Kessler, Homenagem de seus amigos e admiradores” onde
cita ainda que “Curityba deve-lhe o período de mais intensa vida musical
que até agora conheceu. Desde logo começaram seus trabalhos
pedagógicos, leccionando piano, harmonia e composição”.
Visto que a cidade referida possui um passado contemplado de
ricos conteúdos acerca da arte-educação, buscou-se através de uma
coletânea de informações à época passada e atual por meio de fontes
documentais, sobre como o ensino da música possa ter sofrido
influências por Léo Kessler, sabendo-se que este “fundou o
Conservatório do Paraná, dispondo de um internato feminino annexo”.
(MURICY, 1925 p.29) Léo Kessler dirigiu o Conservatório até o fim de sua
vida. Antônio Melillo (1900? – 1966), que havia sido convidado pelo
professor a lecionar, e desde então dava aulas de piano nesta
instituição, tomou cargo de diretor em 1924, até o encerramento das
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atividades no local, dando continuidade ao trabalho de Kessler, criando
sua própria Instituição.49
Percebe-se que há disponibilidade de materiais bibliográficos
acerca de Léo Kessler enquanto músico, porém, suas obras não se
extinguem somente como tal, mas como um professor de renomada
grandeza para a época. Sabe-se que este atuou como “director de
orchestra, enscenador e ainda como orchestrador, e também como
compositor da ópera Sidéria” (MURICY, 1925 p. 27), primeira ópera feita
em solo paranaense.
Os bem-feitos do professor podem ser hoje, conferidos na
exponencial ascensão do Conservatório à Faculdade de Artes do Paraná,
portanto, evidencia-se sua influencia na formação cultural da cidade de
Curitiba, e justifica-se uma investigação profícua acerca de seus
trabalhos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo de natureza exploratória e descritiva com abordagem
qualitativa a ser realizada na Faculdade de Artes do Paraná - FAP;
Objetos de pesquisa: Serão representados por informações
constantes em banco de dados no período compreendido entre 1911 –
1924 e referências posteriores que reflitam estes anos, sobre Kessler. A
consulta será feita em livros, trabalhos acadêmicos, periódicos e
diferentes tipos de publicações disponíveis em arquivos, bibliotecas e
internet;
Análise de dados: Será através das descrições sobre os achados
encontrados em diversas fontes sobre o assunto. Sendo esta uma
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A instituição criada por Melillo é a Academia de Música do Paraná, um dos focos de estudo do
Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes - GIPA.
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pesquisa documental, será feito uma análise qualitativa de uma coleta
quantitativa dos documentos, com abordagem histórica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir de 1900, o centro de Curitiba começava a ganhar um
aspecto mais urbano. Neste início de século as tecnologias, a
eletricidade e os aparelhos mecânicos fascinavam os curitibanos que
totalizavam conforme senso de 1900, 49.755 habitantes. Neste período,
em que bondes elétricos chegavam à Rua XV de Novembro e reformas
pavimentavam todo o centro da cidade alargando as ruas, um
personagem estrangeiro chega pronto para colaborar culturalmente
com a sociedade (FENIANOS, 1996, p. 26-28)
Léo Kessler nasce em Schiers, no Cantão dos Grisões, dia 12 de
setembro de 1882, e ao que parece, recebeu desde cedo instruções à
música asseguradas por seu pai, Frederico Kessler.
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Em 1911, Kessler aceita a direção musical da Companhia de
Operetas Alemãs Papke, que preparava-se para uma turnê, visitando o
Chile, a Argentina, e o Sul do Brasil. Curitiba foi a última parada da turnê,
e aí a companhia se dissolveu (CORRÊA DE AZEVEDO p: 17-20).
Atraídos pelo clima similar ao europeu de Curitiba, alguns desses
artistas estrangeiros que vieram se estabeleceram na cidade. A
dissolução de companhias teatrais comprometidas em turnês foi, para a
América do Sul, uma das formas que mantiveram a vida artística local,
trazendo-lhe novos elementos cuja influência, como foi o caso de Léo
Kessler, chegou a ser preponderante.
Um dos primeiros amigos que o estrangeiro fez ao chegar à
cidade foi Augusto Stresser(1872-1918). Este lhe apresentou seu primo
Jaime Balão, autor do libreto da ópera Sidéria, que Stresser
musicara(REFERÊNCIA EM PLANEJAMENTO 1980, p. 113 e CORRÊA
AZEVEDO p. 21).
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Sidéria tinha sido composta para ser uma pequena ópera em um
ato só. Não se sentindo seguro, Stresser a submete a Kessler, que logo
planejara o ampliamento do projeto para uma ópera de três atos, que
ele mesmo tomaria o cargo de pôr em cena. As experiências com operas
e operetas na Europa, forneceram a Kessler sabedoria suficiente para
trabalhar neste plano a tal ponto que Sidéria tornou-se mais uma obra
de colaboração entre dois compositores do que uma produção de
Stresser simplesmente orquestrada por Kessler. A Ópera Sidéria estreou
no dia 3 de maio de 1912, em espetáculo de gala no Teatro Guaíra. O
sucesso da ópera foi grande, sendo cantadas oito vezes em Curitiba e
uma em Ponta Grossa (CORRÊA DE AZEVEDO p. 23-24).
A participação de Kessler como artista na cidade fez Curitiba
obter um período intenso de vida cultural, em que os primeiros
concertos sinfônicos começavam a ser realizados.
A primeira composição de Kessler em Curitiba foi a Marcha
Triunfal, dedicada à cerimônia de posse do Presidente do Estado do
Paraná, General Dr. Carlos Cavalcanti executada pela Banda do
Regimento de Segurança sob a direção do autor, devidamente transcrita
para orquestra, figurada na partitura da ópera Sidéria. Para os funerais
do Coronel João Gualberto Gomes de Sá, foi tocado um Poema Sinfônico
de Léo, e para a chegada dos despojos de Brasílio Itiberê, falecido em
1913, Kessler compôs a “Dantada”, uma Elegia para soprano solo, coro e
orquestra(REFERÊNCIA EM PLANEJAMENTO, 1980 p:113 e MURICY,
1925, p. 25).
Além das atividades musicais, o ensino foi uma das formas de
Leo Kessler se subsistir em Curitiba. Dispondo de um internato feminino
destinado a jovens procedentes do interior do estado, no dia 1 de julho
de 1916 funda o Conservatório de Música do Paraná, estabelecimento
que dirigiu até o final de sua vida.
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Kessler lecionava nas aulas de piano, contraponto, órgão e
composição, bem como os professores Jorge Vucherpfenning, de canto,
Amélia Henn, Ema Lubrano Franco e Maria José Assunção, de piano,
Ludovico Seyer e Venceslau Schwansee, de violino, Caetano Barletta, de
violoncelo, Clotário Barbosa, de clarinete, e Romualdo Suriani, de clarim
e cornetim. Na época, fizeram grandes concertos anuais para audição de
alunos do Conservatório (MURICY, 1925, p. 29).
Faleceu no dia 29 de setembro de 1924, em Blumenau devido a
uma depressão nervosa.
CONCLUSÕES
Evidenciou-se com a presente pesquisa que ainda há muito a ser
pesquisado e divulgado sobre a história curitibana musical e cultural em
bibliotecas e acervos.
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Percebeu-se que as marcas da influência da imigração européia
se encontram fortes em praticamente todos os livros que discorrem
sobre a região sul, e foram por meio deles que se viabilizou esclarecer
esta pesquisa documental histórica sobre uma personalidade influente
em determinado período de tempo.
A escolha por Léo Kessler como tema, além de conhecimentos
acerca de ocasiões marcantes de apresentações e do ensino musical em
Curitiba, proporcionou também motivos para especular sobre uma das
cidades na qual este viveu e contribuiu significativamente a história da
música daquela época.
Enriquecer os conhecimentos acerca da história cultural de
Curitiba proporcionou conhecer personagens que marcaram
determinada época, saber o porquê de certas ruas receberem nomes
como Jaime Balão, Augusto Stresser e Andrade Muricy, voltar ao tempo
tentando entender uma realidade onde a ópera recebia um valor
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diferente, faz com que a sede pela história sobre esta capital aumente
junto com a curiosidade de um pesquisador.
Como uma pesquisa histórica raramente é finalizada, com as
informações aqui contidas, mais o conhecimento que ainda está a ser
revelado por pessoas e livros no decorrer do tempo, Léo e Curitiba,
devem continuar sendo investigados para que se possam elucidar
pontos ainda obscuros sobre a cultura e sociedade desta cidade nos
anos 10 e 20.
REFERÊNCIAS
ARTE no Paraná. Referência em Planejamento. Curitiba, PR:
Secretaria de Estado do Planejamento, v. 3, n. 12, dez. 1980.
ARTE no Paraná. Referência em Planejamento. Curitiba, PR:
Secretaria de Estado do Planejamento, v. 3, n. 13, dez. 1980.
CORRÊA DE AZEVEDO, Luiz Heitor. Léo Kessler e sua Ópera
“Papilio Innocentia”. Rio de Janeiro, p 35.
FENIANOS, Eduardo Emílio. SADE, Sergio. Centro, Aqui nasceu
Kúr’ýt’ýba. Curitiba: UniverCidade, 1996. (Coleção Bairros de Curitiba
v.4) p. 100.
Homenagem de seus amigos e admiradores. Léo Kessler.
Curitiba: Ed. Casa Hertel;
Curityba. 1926.
MENIN, Cássio. Antônio Melillo (1900 - 1966). Boletim
informativo Fragmentos Musicais. Curitiba, v. n. 1 p 1- 4, Nov. 2010.
MURICY, Andrade. Léo Kessler. Revista Brasileira de Música. São
Paulo, v. 5 n.1 p. 1- 105, 1938.
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NETO, Manuel J. de Souza. A [des]Construção da Música na
Cultura Paranaense. Curitiba: Ed. Aos Quatro Ventos, 2004. 707 pp.
OSINSKI, Regina Baggio. Ensino da arte: os pioneiros e a
influência estrangeira na arte-educação em Curitiba. São Paulo: 1998.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná. Disponível
em:
http://www.artes.ufpr.br/publicacoes/dulce/Disserta%E7%E3o%20Dulc
e%20Osinski.pdf acessado em 30abr2011, 19h15min.
WACHOWICZ, Ruy. 1939-2000 História do Paraná/ Ruy
Wachowicz. 9. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2001. (Brasil
Diferente). p .360.
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