KELSER DE SOUZA KOCK EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS EM INDIVÍDUOS PORTADORES DE DPOC AGUDIZADOS CRICIÚMA, 2004 2 KELSER DE SOUZA KOCK EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS EM INDIVÍDUOS PORTADORES DE DPOC AGUDIZADOS Monografia apresentada à Diretoria de Pós-Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Fisiologia do Exercício CRICIÚMA, 2004 3 RESUMO TÍTULO: Exercícios Respiratórios em Indivíduos Portadores de DPOC Aguudizados AUTOR: KOCK, Kelser de Souza ORIENTADOR: Felipe Dal-Pizzol Este trabalho propõe observar parâmetros fisiológicos durante a prescrição de exercícios respiratórios em indivíduos portadores de DPOC agudizados. Foram observados PAS, FC, SpO2 e pico de fluxo na realização de três (3) exercícios respiratórios, permutados em três (3) dias. O protocolo de cinesioterapia respiratória foi realizado no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), localizado em Tubarão - SC, compreendendo o período de abril a setembro de 2003. Os instrumentos utilizados foram o esfignomanômetro, estetoscópio, oxímetro e peak flow meter. Os dados obtidos foram tratados pelo teste estatístico ANOVA duas vias, não demonstrando significância estatística (p > 5%). Os resultados demonstram aumento do fluxo e leve aumento na PAS após o protocolo. A FC e a SpO2 se mostrou oscilante em níveis seguros. Em suma, a fisioterapia respiratória baseada em exercícios, parece ser segura e positiva em certos pacientes portadores de DPOC exacerbada. Universidade do Extremo Sul Catarinense Curso de Especialização em Fisiologia do Exercício Monografia de Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício 4 SUMÁRIO I - INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 1.1. - PROBLEMA.....................................................................................................8 1.2. - OBJETIVOS.....................................................................................................9 1.2.1. - Objetivo Geral.............................................................................................9 1.2.2. - Objetivos Específicos................................................................................10 1.3. - JUSTIFICATIVA...............................................................................................10 1.4. - HIPÓTESES....................................................................................................12 II - REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................14 2.1. DPOC.................................................................................................................14 2.1.1. Introdução......................................................................................................14 2.1.2. Definição........................................................................................................16 2.1.3. Etiologia.........................................................................................................16 2.1.4. Patologia........................................................................................................19 2.1.4.1 Bronquite Crônica....................................................................................,.....19 2.1.4.2. Enfisema Pulmonar......................................................................................20 2.1.5. Quadro Clínico...............................................................................................22 2.1.5.1 Bronquite Crônica.... .....................................................................................22 2.1.5.2. Enfisema.......................................................................................................23 2.1.6. Fisiopatologia................................................................................................25 2.1.6.1. Mecânica Respiratória... ..............................................................................25 2.1.6.2. Trocas Gasosas....... ...................................................................................26 5 2.1.7. Complicações................................................................................................29 2.1.8. Prognóstico....................................................................................................33 2.1.9. Tratamento.....................................................................................................33 2.2. REABILITAÇÃO PULMONAR..... ......................................................................36 2.2.1. Bases Científicas...........................................................................................37 2.2.2. Suporte Psicossocial....................................................................................38 2.2.3. Programa de Reabilitação Pulmonar...........................................................39 2.3. EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS.......................................................................43 2.4. OXIMETRIA DE PULSO.....................................................................................46 III - MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................49 3.1. TIPO DE PESQUISA..........................................................................................49 3.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA...............................................................................49 3.3. INSTRUMENTOS DE PESQUISA......................................................................50 3.4. COLETA DE DADOS..........................................................................................51 3.5. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS...........................................................................52 IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................53 V - CONCLUSÃO......................................................................................................60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................62 ANEXOS....................................................................................................................67 6 LISTA DE ABREVIATURAS DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica MMSS: Membros Superiores EPAP: Pressão Expiratória Positiva nas Vias Aéreas DEEP 1: Padrão Respiratório Profundo 1 DEEP 2: Padrão Respiratório Profundo 2 FC: Freqüência Cardíaca SpO2: Saturação Periférica de Oxigênio PAS: Pressão Arterial Sistólica PAD: Pressão Arterial Diastólica 7 LISTA DE TABELAS Tabela I: PAS e Exercícios Respiratórios..................................................................54 Tabela II: Peak Flow e Exercícios Respiratórios.......................................................55 Tabela III: FC e SpO2 e Exercícios Respiratórios.....................................................56 Tabela IV: FC e SpO2 e Exercícios Respiratórios propostos separadamente..........58 8 I - INTRODUÇÃO 1.1. PROBLEMA A prevalência da doença pulmonar obstrutiva crônica tem aumentado progressivamente nas últimas décadas (Knorst & Menezes, 2001). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia estima a existência de 7,5 milhões de portadores de DPOC. Segundo Celli (1995) o paciente portador de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) diminui sua atividade física global devido a piora progressiva da função pulmonar, que é traduzida por dispnéia, percepção de cansaço ao realizar qualquer forma de esforço físico. Schol (2002) comenta que a dispnéia e a intolerância ao exercício é consequente à perda de massa muscular e ao mau uso da musculatura ao realizar movimentos, gerando desperdício de energia. O progressivo descondicionamento físico associado à inatividade dá início a um círculo vicioso, em que a piora da dispnéia se associa a esforços físicos cada vez menores, com grave comprometimento da qualidade de vida. Godoy & Godoy (2002), comentam ainda que, a dispnéia está intimamente ligada à ansiedade. Conforme Rodrigues, Viegas & Lima (2002), além do tratamento convencional, a reabilitação pulmonar (RP) é utilizada como alternativa terapêutica no tratamento da DPOC. A estratégia utilizada pela reabilitação pulmonar (RP) é integrar-se ao manejo clínico e à manutenção da estabilidade clínica dos portadores de DPOC, principalmente nos pacientes que, mesmo com tratamento clínico 9 otimizado, continuam sintomáticos e com diminuição de sua função física e social (ATS, 1981). Dentre os objetivos da RP estão a redução dos sintomas, a redução da perda funcional causada pela doença pulmonar e otimização das atividades físicas e sociais, traduzidas em melhora da qualidade de vida, proporcionando ao paciente a maximização e manutenção da independência funcional. Esses objetivos podem ser alcançados através de processos que incluem o exercício físico, a educação do paciente e de seus familiares e a intervenção psicossocial (Ries, 1990). No entanto a reabilitação pulmonar já acontece no serviço de cuidado agudo, podendo às vezes, começar até na sala de emergência, através de medicamentos orais, aerossóis e terapia de oxigênio. Frequentemente, o objetivo durante a reabilitação aguda é aumentar a tolerância de exercício e melhorar as atividades de vida diária, conceder ao paciente o ganho de discernimento de como lidar com sua doença e facilitar sua alta hospitalar (Shankar, 2002). Nesse contexto pergunta-se: qual o comportamento dos parâmetros fisiológicos durante a prescrição de exercícios respiratórios em portadores de DPOC agudizados? 1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Objetivos Geral Observar o comportamento da pressão arterial (P.A.), freqüência cardíaca 10 (F.C.), saturação periférica de oxigênio (SpO2) e pico de fluxo antes e após a realização de exercícios respiratórios em pacientes portadores de DPOC agudizados. 1.2.2. Objetivos específicos Observar se a fisioterapia respiratória hospitalar, através dos exercícios propostos, altera a pressão arterial. Verificar quais exercícios respiratórios demandam maior ou menor esforço (acréscimo ou decréscimo da F.C.). Observar uma melhora ou piora no fornecimento de oxigênio (elevação ou redução da SpO2), resultante deste ou daquele exercício respiratório. Identificar se ocorre alteração na obstrução das vias aéreas com o tipo de fisioterapia respiratória hospitalar proposta Introduzir um programa de reabilitação pulmonar aguda aos indivíduos com DPOC através de exercícios respiratórios, com o intuito de afastar a ansiedade gerada pela dispnéia e facilitar a expectoração. 1.3. JUSTIFICATIVA A dispnéia é o maior desafio para um indivíduo portador de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), durante a realização de suas atividades de vida diária. Alguns fatores são responsáveis por esse déficit respiratório, entre eles, a 11 destruição parcial do tecido pulmonar, que acarreta diminuição da área de troca gasosa, o colapso precoce das vias aéreas e o aumento da complacência pulmonar, levando a alterações no funcionamento dos músculos respiratórios, o que eleva o custo da respiração (West,1996). Além de conviver com a dificuldade gerada pela falta de ar, o indivíduo portador de DPOC pode ter uma piora dos sintomas habituais. Na exacerbação ou agudização, há aumento da dispnéia e outros fatores são advindos, como a purulência e o aumento de volume do escarro. Esses últimos são resultantes, geralmente, de infecção pulmonar, denominada causa primária por ser a causa mais frequente de agudização da DPOC. Entre as demais causas, ou causas secundárias, são descritas, a pneumonia, o pneumotórax, a embolia pulmonar, o derrame pleural, a insuficiência cardíaca descompensada, o uso de medicamentos depressores do centro respiratório, etc (www.pneumoatual.com.br). Bethlem (2001) comenta que a fisioterapia pulmonar constitui componente de grande valor do tratamento das DPOC, sendo útil o seu início o mais precocemente possível. Consta de exercícios respiratórios, exercícios de tosse, drenagem postural de todos os segmentos pulmonares, manobras de higiene brônquica associadas à drenagem postural, praticas de exercícios destinados a coordenar a atividade física com a respiração, movimentação ativa e passiva dos membros superiores e inferiores, inclusive em pacientes hospitalizados, associação com a terapêutica inalatória, podendo as sessões de fisioterapia ser realizadas, após nebulizações de broncodilatadores ou simultaneamente à inalação de oxigênio. Os exercícios respiratórios e a drenagem postural podem ser praticados até em pacientes submetidos ao tratamento de descompensações ventilatórias, inclusive 12 simultanemente ao uso de respiradores. Desse modo, espera-se que a monitoração da P.A., F.C., SpO2 e pico de fluxo durante a realização dos exercícios respiratórios possam demonstrar parâmetros fidedignos na prescrição de indivíduos com DPOC exacerbada. Eventuais respostas hipoxêmicas e grau de esforço resultantes deste ou daquele exercício poderão ser melhores definidas. Ainda é interessante expor que os exercícios respiratórios ajudarão no controle da ansiedade oriunda da dispnéia, bem como a mobilização de secreção pulmonar, facilitando a tosse e assim eliminação do escarro. Outra vantagem ao paciente é a continuação da prática desse tipo de cinesioterapia após a alta hospitalar. 1.4. HIPÓTESES H0 – A P.A., F.C. , SpO2 e o pico de fluxo não se alteram na execução dos exercícios respiratórios. H1 - A P.A. final se eleva com relação à inicial, devido ao incremento no esforço para a realização dos exercícios respiratórios. H2 - O pico de fluxo final aumenta em relação ao inicial, resultado da desobstrução das vias aéreas através da mobilização de secreção. H3 – Exercícios respiratórios associados ao membros superiores: elevação da F.C. e SpO2, pelo esforço dispendido ao movimentar os membros superiores e devido ao aumento no fornecimento de oxigênio resultante da hiperventilação. 13 H4 – EPAP subáquatico com 5 cmH2O: elevação da F.C. e decréscimo da SpO2, através do esforço expiratório necessário para vencer uma pressão de 5 cmH2O com pouco fornecimento de oxigênio. H5 – Respiração diafragmática: decréscimo da F.C. e elevação da SpO2, devido ao esforço reduzido para mobilizar e diafragma e desse modo hiperventilar áreas basais do pulmão, aumentando o fornecimento de oxigênio. 14 II - REVISÃO DE LITERATURA 2.1. DPOC 2.1.1. Introdução Sob esta denominação incluem-se a bronquite crônica e o enfisema pulmonar que, com elevada frequência, coexistem no mesmo paciente com predomínio de um ou de outra. Desse modo, os quadros clínicos e as manifestações radiológicas e funcionais da DPOC podem variar, tanto qualitativa como quantitativamente (Bethlem, 2001). A DPOC parece começar em uma etapa precoce da vida, ainda que não cause sintomas antes da quarta década e só costume levar à invalidez progressiva a partir da sexta ou sétima década (Bethlem, 2001). Os broncopneumopatas obstrutivos crônicos com problemas irreversíveis podem ser mais ou menos grosseiramente incluídos em categorias ou tipos, de acordo com as suas características, já se tornando costumeira a divisão desses pacientes nos seguintes tipos: enfisematoso (tipo A); brônquico (tipo B); intermediário ou misto (Bethlem, 2001). Os casos do tipo A têm predominância de alterações resultantes de enfisema. Assim, neles encontram-se mais frequentemente sinais radiológicos de enfisema, maior tendência a comprometimento da capacidade de difusão pulmonar e história de pouca ou nenhuma tosse produtiva. Sob o ponto de vista da mecânica pulmonar, 15 são observados aumento da compliância estática e redução da retração pulmonar. Elevações acentuadas do volume residual são também verificadas. Devido às anormalidades da mecânica ventilatória, esses pacientes são mais dispnéicos, com regime ventilatório habitualmente lento e profundo, pelo que um nível adequado de ventilação alveolar é mantido nas unidades alveolares ainda não afetadas pela doença, a par de relação ventilação-perfusão satisfatoriamente conservada. Por essas razões, as tensões dos gases no sangue arterial persistem pouco modificadas por tempo considerável (Bethlem, 2001). Os pacientes do tipo B, dominantemente portadores de alterações brônquicas e bronquiolares, apresentam tosse e expectoração significativas, e dispnéia relativamente menos intensa. O exame radiológico mostra pricnipalmente marcas broncovasculares aumentadas e pode evidenciar aumento do coração. Esses pacientes, sob o ponto de vista da mecânica pulmonar, sofrem comumente de maior resistência das vias aéreas. Há condições funcionais que facilitam a ocorrência de hipoventilação alveolar e de distúrbios da relação ventilação-perfusão, razões pelas quais hipoxemia e hipercapnia aparecem com frequência. A disfunção respiratória nesses casos é de tal ordem que pode provocar mais precocemente complicações, tais como a poliglobulia secundária e o cor pulmonale. Os portadores dessa categoria costumam ser cianóticos e pletóricos, devido à hipóxia e à poliglobulia com hipervolemia (Bethlem, 2001). O tipo intermediário engloba os doentes que não podem ser bem enquadrados nos tipos A e B ou os que têm ao mesmo tempo características desses dois (misto). O tipo A corresponde aos doentes habitualmente chamados PP (pink puffers, ou seja, "sopradores róseos", melhor designados de dispnéicos 16 não-cianóticos). Os do tipo B têm como denominação sinônima o tipo BB (blue bloater, isto é, "inchado azul" ou melhor dizendo, pletórico cianótico) (Bethlem, 2001). 2.1.2. Definição A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) caracteriza-se pela presença de obstrução ao fluxo aéreo nos brônquios, com evolução progressiva, reversibilidade parcial ou ausente nos testes de broncodilatação, podendo apresentar, ou não, associada, hiperatividade brônquica (Silveira, 2000). Entende-se por bronquite crônica a condição clínica caracterizada por excesso de secreção mucosa na árvore brônquica, havendo tosse crônica ou de repetição, junto com expectoração, pelo menos em três meses do ano e em dois anos sucessivos (Bethlem, 2001). O enfisema pulmonar é definido em bases anatômicas, ao contrário da bronquite crônica, cuja definição utiliza critérios clínicos. Compreende alterações estruturais do parênquima pulmonar constituindo em aumento do volume dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, com destruição dos septos alveolares. Excluem-se desta definição as condições restritas a uma hiperdistensão dos citados espaços aéreos (por exemplo, hiperdistensão compensadora, hiperdistensão da crise de asma, senil), devendo o enfisema ser considerado como alteração irreversível (Bethlem, 2001). 17 2.1.3. Etiologia Os fatores de risco para o desenvolvimento da DPOC podem estar associados ao meio ambiente (externos) ou ao hospedeiro (internos). Além do tabagismo (externo), outros dois fatores comprovadamente podem levar à DPOC: exposições ocupacionais ou ambientais (externos) e a deficiência de alfa-1-antitripsina (interno) (Silveira, 2000). Nos últimos anos, inúmeros trabalhos referem-se à deficiência da antitripsina alfa-1, principal componente da globulina alfa-1 do plasma sanguíneo, como capaz de acarretar uma predisposição hereditária particularmente ao enfisema (Bethlem, 2001). Enquanto a DPOC está ligada ao tabagismo em cerca de 90% dos casos, em relação à deficiência de alfa-1-antitripsina a encontramos em menos de 1% dos casos (Silveira, 2000). Segundo Bethlem (2001), os relatos a respeito desta deficiência referem-se à maior incidência de DPOC e de suas manifestações entre os homozigotos para esse traço autossômico, correspondendo de 1% a 10% dos casos de enfisema, apesar de ser rara a deficiência homozigótica na população geral. Nos heterozigotos, uma prevalência de DPOC maior do que a esperada é referida segundo hipóteses formuladas; a anitripsina-alfa-1 opor-se-ia à ação de enzimas proteolíticas, liberadas por polimorfonucleares ou macrófagos sobre o parênquima pulmonar ou da lise ou destruição que seriam assim produzida quando a antitripsina-alfa-1 estivesse deficiente. Conforme Bethlem (2001), o hábito de fumar cigarros guarda estreita relação com o desenvolvimento da DPOC. O tabaco possui propriedades de influir no 18 sistema elastase e antielastase, seja aumentando a produção da primeira, seja diminuindo a atividade da segunda; o fumo promove um aumento dos polimorfonucleares circulantes, possibilita um recrutamento de macrófagos alveolares no pulmão, bem como de polimorfonucleares, criando condições que aumentam a liberação de enzimas elastolíticas neste órgão. Por outro lado, ao inativar parcialmente o sistema A1PI por oxidação metionínica, diminui a atividade antielastase. Silveira (2000) comenta as alterações provocadas pela fumaça da combustão do tabaco no trato respiratório: - Constrição brônquica (efeito agudo). - Paralisia e destruição dos cílios. - Inflamação (edema da mucosa brônquica, aumento da produção de muco, prejuízo no transporte ciliar). - Lesão das células de Clara (redução do surfactante). Se o tabagismo for interrompido aqui, tais lesões podem ser revertidas, sanadas. - Hipertrofia de músculo liso e fibrose da parede brônquica. - Aumento da resistência ao fluxo aéreo, distensão e ruptura de alvéolos. - Fibrose de vasos pulmonares. Há bons indícios de que más condições socioeconômicas, alcoolismo, fumaça de combustão de lenha, dióxido de enxofre (SO2), tabagismo passivo na infância, infecções respiratórias na infância (externos), baixo peso ao nascer, hiper-reatividade brônquica, história familiar (internos) também sejam fatores de risco para DPOC (Silveira, 2000). 19 2.1.4. Patologia 2.1.4.1. Brônquite Crônica São aspectos essenciais a hipertrofia e a hiperplasia das glândulas brônquicas produtoras de muco, cuja medida de espessura pode ser feita. A relação entre sua espessura e a da parede brônquica, considerada entre a membrana basal do epitélio e o pericôndrio, constitui o índice de Reid. Brônquios normais possuem índice de Reid igual ou inferior a 0,36, tendo sido verificados valores mais elevados em casos de brônquite crônica. Comprova-se ainda o aumento dessas glândulas pela contagem de seus ácinos no campo microscópico ou pela determinação determinação do diâmetro dos ácinos, sendo dominante o aumento dos ácinos mucosos em relação aos serosos. O exame patológico também pode mostrar hiperplasia das células caliciformes do epitélio das vias aéreas, inclusive nos bronquíolos, onde normalmente tais células são vistas em pequeno número; esta hiperplasia tem distribuição não uniforme. Outras lesões brônquicas são a metaplasia epitelial, a perda de cílios, as alterações inflamatórias com infiltração celular e hiperemia, interessando o parenquima pulmonar circunvizinho, a fibrose e deformidades parietais. Vê-se excesso de muco na luz brônquica e mesmo nos alvéolos, bem como obstrução por muco e dilatações de bronquíolos. Tem sido dado ênfase às lesões de bronquiolite como causa de danos funcionais graves (Bethlem, 2001). 20 2.1.4.2. Enfisema Pulmonar O enfisema é caracterizado, essencialmente, por hiperdistensão alveolar com destruição progressiva dos septos e consequente confluência dos grupos alveolares, tendendo a formar bolhas. À abertura do tórax, durante cirurgia ou exame cadavérico, os pulmões tendem a saltar da cavidade torácica, apresentando-se volumosos, pálidos e um pouco secos, o que atesta a retenção aérea e a redução da perfusão. É difícil a reposição das vísceras na cavidade torácica, atestando a perda da elasticidade e da complacência. Frequentemente, há saída de quantidades anormais de muco da árvore brônquica, mas esse fato não é constante. Ao corte, o parênquima pulmonar exibe consistência friável peculiar e a passagem da lâmina vai provocando um discreto chiado, produzido pelo escapamento de ar das inúmeras coleções de pequenas bolhas e alvéolos distendidos (Bethlem, 2001). Esse quadro encontra correspondência exata ao exame microscópico. Os alvéolos das zonas afetadas apresentam-se aumentados de volume, os septos se acham adelgaçados pela hiperdistensão reinante nas cavidades alveolares. Dependendo do ângulo do corte do micrótomo, podem se ver alvéolos arredondados pela elevação da pressão intra-alveolar. Os septos, além de afiliados, exibem pobreza celular, principalmente quanto às hemácias (Bethlem, 2001). Geralmente existe algum infiltrado inflamatório intersticial e os brônquios e bronquíolos costumam exibir alterações inflamatórias de diversos graus. Lesões vasculares degenerativas, em arteríolas e artérias, tanto pulmonares brônquicas, podem ser reparadas com hialinização da íntima e redução da luz; hipertrofia da 21 camada média muscular também pode ser vista (Bethlem, 2001). Com relação à denominação, quando o enfisema situa-se na parte central do ácino, correspondendo também ao centro do lóbulo e interessando bronquíolos respiratórios e átrios, é chamado enfisema centriacinar ou centrilobular (ECA). Quando o processo destrutivo, em maior ou menor grau, acomete todo o ácino (ou todo lóbulo), constitui o enfisema panacinar ou panlobular (EPA) (Bethlem, 2001). No ECA, as alterações no centro dos ácinos são aparecidas ao lado da integridade da periferia dessas estruturas onde estão localizados os canais e sacos alveolares. No curso evolutivo do processo patológico, os espaços parecem aumentar suas dimensões, até atingir grandes proporções pela confluência com outras lesões, disso resultando a formação de bolhas, cujo tamanho considerável. O enfisema bolhoso é relacionado habitualmente a lesões centriacinares. O ECA é dominantemente localizado na metade superior dos pulmões, estando com freqüência associado à bronquite crônica e lesões bronquiolares obstrutivas sob a forma de estenose fibrose ou de processos inflamatórios; lesões brônquicas com os aspectos encontrados na bronquite crônica tem sido também descritas em associação ao EPA (Bethlem, 2001). No EPA a dominância dos danos estruturais é na metade inferior dos pulmões, podendo haver a formação de bolhas pela confluência das lesões, como no tipo anterior porém menos freqüentemente. Nesta forma de enfisema morfológico verifica-se destruição nos pequenos vasos e capilares pulmonares em conseqüência do comprometimento difuso e amplo de todos os componentes do ácino, desde os bronquíolos respiratórios até os sacos alveolares, notando-se ainda fenestração entre alvéolos, ruptura de fibras elásticas e hiperdistensão (Bethlem, 22 2001). Além do ECA e do EPA, deve ser lembrado o enfisema pericicatricial (ou paracicatricial ou de cicatriz), cujas lesões instalam-se em torno de lesões, inclusive cicatriciais, bronquiolares, parenquimatosas, determinadas por diversas doenças, como as pneumoconioses, a tuberculose, a sarcoidose e a histiocitose X. A distribuição pelos ácinos é irregular sendo variável a extensão pelos pulmões na dependência do processo primitivo (Bethlem, 2001). 2.1.5. Quadro Clínico 2.1.5.1. Bronquite Crônica A tosse e a expectoração, com a duração e incidência anuais citadas na definição da doença, são os sintomas mais característicos, manifestando-se predominantemente em pessoas de meia idade e fumantes de cigarro. A expectoração varia de um caráter mucoso ao aspecto mucopurulento ao francamente purulento; os dois últimos fazem sugerir a ocorrência de infecção broncopulmonar intercorrente. Mesmo na ausência de enfisema pulmonar pode haver dispnéia e incapacidade física, mais acentuada na vigência de infecções broncopulmonares. Sibilância torácica pode ser notada pelo paciente. Para a obtenção da história dos pacientes com bronquite crônica, urge adotar-se atitude cautelosa e hábil, pois muitas vezes a expectoração é interpretada pelos pacientes como inexpressiva conseqüênca natural do fumo, sobretudo nas casos de ausência de dispnéia. A procura do médico deve-se à dificuldade de respirar ou a hemoptises 23 ou escarros sanguíneos provocados pela broncopatia. O exame físico pode ser normal ou mostrar diversidade de alterações: cianose, pletora, sinais devidos à descompensação cardíaca, hipocratismo digital etc. na dependência da existência de distúrbios funcionas e de complicações. Estertores bolhosos roncantes e sibilantes também pode ser ouvidos à ausculta do tórax (Bethlem, 2001). 2.1.5.2. Enfisema Pulmonar A doença incide com maior freqüência em indivíduos do sexo masculino e da raça branca, possivelmente devido a fatores genéticos. O iníco das manifestações do enfisema costuma ocorrer em idades mais avançadas da vida (após 50 anos), embora possa ser encontrada em pessoas mais jovens. É rara em não fumantes; habitualmente os enfisematosos apresentam história do uso de cigarros por muitos anos de sua vida. A consulta ao médico é comumente por dispnéia e cansaço, cuja instalação, longa e insidiosa, se deve à adaptação do nível de atividade física à disfunção pulmonar subjacente. A dispnéia surge quando uma substancial porção do parênquima pulmonar está alterada (+ 50%), evoluindo progressivamente de intensidade. Geralmente, junto com a dispnéia há tosse antiga. Como a bronquite crônica associa-se ao enfisema, em grande número de casos, tosse produtiva crônica pode ser referida pelos pacientes ou comprovada pelo médico. Em outros pacientes, a expectoração está ausente ou é desprezível. Alguns doentes procuram o médico por fadiga fácil ou emagrecimento. A perda de peso é provocada pela menor ingestão alimentar e, quando tem proporções significativas, representa sinal de mau prognóstico na DPOC (Bethlem, 2001). 24 No exame físico, deformidade do tórax estão ou não presentes. O enfisema avançado corresponde ao aspecto considerado mais característico, que é o de um paciente emagrecido e com hipotrofia muscular generalizada, assumindo uma posição dos membros superiores e a fim de fixar a cintura escapular e possibilitar a utilização da musculatura acessória da respiração. Muitos casos são vistos sem modificações da forma do tórax, podendo o tipo de tórax em tonel, atribuído costumeiramente ao enfisema, ser devido apenas à deformação parietal, acompanhada de cifose torácica, causada pelo envelhecimento do indivíduo. Os achados do exame físico são variáveis. É valorizada a redução do murmúrio vesicular como sinal importrante, tendo a destruição do pulmonar sua razão de ser (há mais ar e menos tecido, este último o melhor transmissor de som). A hipofonse de bulhas cardíacas, bem com o ictus cordis pouco intenso ou impalpável, deve-se a hiperdistensão pulmonar e à interposição do pulmão entre o coração e a parede torácica. Em conseqüência do processo funcional obstrutivo interessando estruturas bronquiolares, o tempo expiratório se prolonga. Outros sinais poderão ser evidenciados, como a cianose, o baqueteamento dos dedos e a hipersonoridade à percussão torácica. A hipertensão pulmonar e o cor pulmonale, complicando o enfisema em sua fase mais tardia, podem originar sinais (ver adiante). Se um quadro de grave insuficiência respiratória se instala no curso da doença, as suas repercussões se fazem sentir. Embora constitua uma parcela ínfima da população de doentes com DPOC, certamente inferior a 2%, o quadro de enfisema por deficiência de alfa-1-antitripsina vem merecendo muito destaque na literatura. A dispnéia geralmente se inicia mais cedo do que nos casos usais, na terceira ou quarta década, com ou sem tosse e expectoração anterior. Pode haver 25 antecedentes de infecção respiratória repetida, e de casos semelhantes na família (Bethlem, 2001). 2.1.6. Fisiopatologia 2.1.6.1. Mecânica Respiratória - Fluxos Expiratórios O distúrbio fundamental da função pulmonar na DPOC resulta da redução da luz brônquica pelo processo inflamatório, conduzindo a uma obstrução predominantemente expiratória. Esta pode ser facilmente evidenciada pela espirografia, que mostra a redução do volume expiratório forçado do primeiro segundo (VEF1), do fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da CVF (FEF25-75) ou dos fluxos expiratórios máximos instantâneos determinados pela curva fluxo-volume (Vmax) (Bethlem, 2001). - Volumes Pulmonares Ao passo que nas fases iniciais da DPOC a fisiopatologia da mecânica respiratória é dominada pelo aumento da resistência das vias aéreas, começando pelas periféricas (alentecimento do FEF25-75 e Vmax50) para depois de generalizar por toda a árvore brônquica (redução do VEF1 e do Vmax), as fases mais 26 avançadas são marcadas pela desestruturação do parênquima pulmonar (Bethlem, 2001). Do ponto de vista da mecânica pulmonar verifica-se que a perda da elasticidade pulmonar vem se somar ao aumento da resistência das vias aéreas para reduzir a velocidade dos fluxos expiratórios máximos. É por isso que o valor inicial do VEF1 e o ritmo de sua deterioração se correlacionam relativamente bem com a evolução clínica (Bethlem, 2001). - Resistência das Vias Aéreas e Complacência Nos doentes com DPOC, a resistência das vias aéreas (Raw) está muito elevada, superando várias vezes o normal. É possível que nas fases muito precoces, em que só a porção terminal do espirograma está afetada, a Raw realizada no pletismógrafo ainda esteja normal ou pouco elevada. É que a determinação da Raw reflete a resistência de toda a via aérea e - como os pequenos brônquios, de menos de 2mm contribuem com apenas 25% da resistência total - pode haver alguma obstrução nesse nível sem repercutir de forma significativa sobre a Raw total (Bethlem, 2001). 2.1.6.2. Trocas Gasosas Paralelamente aos distúrbios da mecânica ventilatória, desenrolam-se na DPOC profundas modificações nas trocas gasosas pulmonares. Em alguns doentes, as alterações da mecânica são mais proeminentes (DPOC do tipo PP) e outros 27 podem predominar as modificações nas trocas (DPOC tipo BB) (Bethlem, 2001). A redução da oxigenação do sangue arterial, causando a hipoxemia, é fenômeno extremamente precoce, podendo talvez até anteceder as modificações mecânicas ostensivas, em alguns casos. Os valores de pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) podem variar desde cifras pouco reduzidas (70-75mmHg, mesmo em fases moderadamente avançadas) até valores bem baixos (50-40mmHg, às vezes em casos não tão avançados) (Bethlem, 2001). A outra alteração da troca gasosa, a retenção de gás carbônico com a consequente elevação da pressão parcial de CO2 no sangue arterial (PaCO2), costuma ser um fenômeno tardio, e os valores são bastante semelhantes de doente para doente e também num mesmo caso, a menos que haja intercorrências infecciosas ou outras. Assim, valores de PaCO2 de 50mmHg costumam ocorrer, em alguns casos avançados, e cifras de 55 a 60mmHg são encontrados em um processo muito avançado e de mau prognóstico. Durante as agudizações, encontram-se valores bem mais altos e sobrevém a acidose respiratória (Bethlem, 2001). De acordo com Silva (2000), Emerich (2001) e Bethlem (2001), a transferência do oxigênio do ar inspirado para os tecidos depende do bom desempenho das quatro fases: - ventilação alveolar; - distribuição ventilação/perfusão; - difusão do O2 através da membrana alvéolo-capilar até a hemoglobina; - transporte do O2 pelo setor cardiovascular até os tecidos. 28 O valor da PaO2 reflete se o transporte do O2 do ar ambiente para o sangue está sendo adequado ou não. Em adultos jovens normais, seu valor aproximado é de 95mmHg, podendo variar de 85 a 100mmHg. Cai com o avançar da idade, podendo, em idosos normais, chegar até um mínimo de 70-75mmHg. Existe hipoxemia quando a PaO2 está abaixo destes valores (Silva, 2000). A curva de dissociação da hemoglobina é útil para o melhor entendimento do significado do grau da hipoxemia. Quando a PaO2 é superior a 60 mmHg, quaisquer alterações na tensão de O2 têm mínima influência na saturação da hemoglobina (Hb). Abaixo deste valor, pequenas variações da tensão de O2 levam a grande alteração na concentração do O2 sanguíneo (dessaturação da Hb). Cianose só costuma aparecer quando a SaO2 é inferior a 75%. A curva se desvia para a direita com o aumento da temperatura e da PaCO2 e com a queda do pH. Idem com o aumento do 2,3 difosfoglicerato (DPG) no interior das hemácias, o que ocorre como resultado da hipoxemia crônica. O desvio contrário destas variáveis provoca deslocamento da curva de dissociação da hemoglobina para a esquerda (Silva, 2000). A seguir, Emmerich (2001), descreve as quatro causas fundamentais de hipoxemia: - Distúrbios da relação ventilação/perfusão (V/Q): são considerados as causas mais frequentes de hipoxemia. Quando as unidades pulmonares são pouco ventiladas em relação a sua perfusão, o sangue do capilar pulmonar destas unidades é pobremente oxigenado, resultando em hipoxemia. São exemplos, a atelectasia, a obstrução brônquica, o 29 enfisema pulmonar e a bronquite crônica, a impactação mucosa, a pneumonia e o edema agudo pulmonar. - Defeito difusional: a membrana alveolocapilar pode ocasionalmente estar com sua espessura aumentada de forma anormal, prejudicando a difusão de oxigênio para o capilar pulmonar, resultando em hipoxemia relativa, como ocorre em alguma doenças intersticiais pulmonares (por exemplo, sarcoidose). - Hipoventilação alveolar: o volume minuto pode estar diminuído por condições que impliquem em frequência respiratória e volume corrente baixos. A ventilação alveolar reduz-se por uma diminuição do volume minuto, resultando em hipoxemia. As causas mais frequentes de hipoventilação alveolar incluem a depressão do sistema nervoso central (por exemplo, drogas, anestesia) deformidades torácicas (por exemplo, cifoescoliose), síndrome de Pickwick e doenças neuromusculares. - Shunt Pulmonar: é definido como aquela fração do débito cardíaco que não toma parte nas trocas gasosas. Shunts anatômicos direita-esquerda como na tetralogia de Fallot e nas fístulas arteriovenosas resultam em hipoxemia. Shunts fisiológicos (por exemplo, atelectasias, pneumonias) também cursam com hipoxemia e podem ser corrigidos por cuidados respiratórios adequados. Sua presença indica grave comprometimento da função de oxigenação, sendo seus valores utilizados como índice de prognóstico na síndrome de angústia respiratória aguda e para a titulação do melhor nível de PEEP em pacientes sob suporte ventilatório. O shunt fisiológico é considerado normal até valores de 5%. 30 2.1.7. Complicações Insuficiência Respiratória. As DPOC causam insuficiência respiratória crônica, cuja descompensação instala-se habitualmente devido à infecção broncopulmonar. A mesma descompensação é causada pela ação de drogas, com sedativos, tranquilizantes ou narcóticos, e por oxigenioterapia intempestiva, condições depressoras da função respiratórias a devem ser evitadas. Nessas circunstâncias, defeitos funcionais acentuados têm lugar, com hipoxemia e hipercapnia intensas, correspondendo a quadros clínicos graves. Apesar de ser tratável, tal complicação tem alta mortalidade. As causas de morte mais comuns são: hipercapnia (frequentemente por uso de oxigênio de modo inadequado); hipóxia; acidemia; cor pulmonale agudo; colapso vascular periférico; hemorragia digestiva; trombose da artéria pulmonar; arritmias cardíacas (Bethlem, 2001). Cor Pulmonale. As repercussões sobre o ventrículo direito pouco correlacionam-se com as lesões vasculares na pequena circulação. A hipoxemia e a acidemia, resultantes dos distúrbios funcionais, constituem os fatores mais significativos de cor pulmonale, por provocarem a vasoconstrição de arteríolas pulmonares e consequente aumento da resistência vascular pulmonar. No enfisema panacinar dominante, em que a restrição anatômica do leito vascular é de proporções consideráveis, o cor pulmonale é raro, ao contrário do que ocorre em casos de bronquite crônica acompanhada de problemas funcionais de vulto. Deve ainda ser lembrado o cor pulmonale agudo complicando um estado de mal asmático prolongado com grave insuficiência ventilatória, por corresponder a doença destituída de lesões vasculares pulmonares constituídas (Bethlem, 2001). 31 Outros fatores que contribuem para o desencadeamento do cor pulmonale são: aumento da viscosidade sanguínea, relacionada à elevação mais acentuada do trabalho cardíaco quando os níveis hematócrito excedem 60%; redução do leito vascular pulmonar por restrição do número de vasos e por lesões vasculares propriamente ditas; menor distensibilidade dos vasos de pequena circulação, devido à hipervolemia e ao maior volume sanguíneo no tórax; ação da hipóxia sobre o miocárdio, contribuindo também para a instalação de insuficiência ventricular esquerda, que agrava o cor pulmonale pela congestão retrógrada que acarreta; o déficit da circulação coronária nos pacientes mais idosos, por aterosclerose, também concorrendo para a descompensação (Bethlem, 2001). O cor pulmonale é facilmente diagnosticado na DPOC quando existem sinais evidentes de insuficiência ventricular direita. Entretanto, é conveniente diagnosticar-se o cor pulmonale em fase mais precoce, embora as manifestações da pneumopatia costumeiramente sejam dominantes, encobrindo essa complicação. Podem surgir a iminência de sua ocorrência os níveis elevados do hematócrito e agravação da hipoxemia e da hipercapnia atestada por dosagens repetidas dos gases sanguíneos. O cor pulmonale ao se iniciar faz piorar a dispnéia, podendo provocar alterações da função cerebral e aumento de peso corporal pela insuficiência cardíaca incipiente. Além dos sinais de insuficiência ventricular direita aumento do fígado, turgência venosa no pescoço, edemas periféricos -, o exame físico no cor pulmonale pode mostrar: hiperfonese de P2 associada à falta de acentuação do intervalo do desdobramento dessa bulha cardíaca à inspiração; ritmo de galope audível perto do esterno ou no epigástrico; se for pré-sistólico (quarta bulha ou bulha auricular), indica mais possivelmente hipertensão pulmonar, e se for 32 diastólico, favorece mais a conclusão de falência do ventrículo direito. As radiografias do tórax podem demonstrar área cardíaca indiscutivelmente aumentada nos casos de repercussão muito adiantadas sobre o coração direito ou nos de grandes dilatações agudas.. No entanto, por meio de exames radiológicos seriados, é possível verficar-se o progressivo aumento da imagem do coração à medida que o cor pulmonale aparece (Bethlem, 2001). Poliglobulia. Há estudos mostrando a relação entre hipóxia e poliglobulia, esta constituindo resposta secundária da medula óssea àquela. A eritrocitose secundária vista na DPOC é de menor grau do que a observada em cardiopatias crônicas e em altas altitudes, tendo sido levantadas hipóteses a fim de explicar essa diferença, tais como a depressão molecular pela hipercapnia e pelas infecções respiratórias ou a ocorrência de hemorragia digestiva por úlcera péptica. Apesar de informações pouco precisas encontradas na literatura médica, alguns dados merecem citação. O primeiro seria o da existência de um volume plasmático aumentado que, junto ao volume globular maior, concorreria para o aumento da volemia e explicaria o valor de sua medida. Uma segunda informação refere-se a que a elevação da PaCO2 não reduz as respostas hematológicas. A terceira consiste na possibilidade de aumento de volume da hemácia como resultado da penetração de CO2 no seu interior; a entrada de CO2 levaria a alteração iônica, acarretando em consequência a passagem de água para dentro da hemácia; essa hipótese é contrariada pelas verificações de hematócrito aumentado, porém com concentrações plasmáticas normais de CO2. Uma quarta informação corresponde às dosagens de eritropoietina, realizadas poucas vezes por limitações de ordem técnica; sua elevação foi confirmada em muitos pacientes portadores de 33 poliglobulia, porém nem sempre houve correlação entre os seus níveis e os graus da poliglobulia, interrogando-se como razões a possibilidade de problemas técnicos ou de um efeito retardado da eritropoietina sobre a medula óssea, pelo que a resposta eritropoiética sucedesse de muitos dias a elevação da eritropoietina (Bethlem, 2001). Tromboembolia Pulmonar. Tal complicação ocorre e é confirmada em considerável número de necrópsias de pacientes com graves broncopneumopatias crônicas, atribuindo-se-lhes a causa mortis ou, como se acredita, sendo mais comumente um achado de necrópsia (Bethlem, 2001). Úlcera Péptica. Cerca de uma quarta parte dos casos de DPOC complica-se dessa condição; mais frequentemente é de localização duodenal. Embora tenham sido levantadas hipóteses, o mecanismo da úlcera péptica nesses doentes não foi esclarecido (Bethlem, 2001). Pneumotórax Espontâneo. Constitui problema capaz de responsabilizar-se por grande insuficiência respiratória. Exige a imediata drenagem pleural (Bethlem, 2001). 2.1.8. Prognóstico O mau prognóstico tem sido relacionado às alterações funcionais, como os níveis anormais dos gases no sangue, os distúrbios de difusão e o comprometimento da relação ventilação-perfusão, bem como à ocorrência de cor pulmonale. Entretanto, tais anormalidades são passíveis de tratamento. O cor pulmonale, quando adequadamente tratado, é compatível com sobrevida superior a 34 cinco anos em razoável porcentagem de pacientes, ao contrário dos resultados piores observados nos casos de cor pulmonale devidos à doença vascular pulmonar prmária ou á doença pulmonar intersticial de natureza irreversível (Bethlem, 2001). Os pacientes portadores de DPOC do tipo A (enfisematosos), apesar de apresentarem alterações irreversíveis, correm menos risco do que as do tipo B (bronquíticos), pelas razões já apontadas anteriormente (Bethlem, 2001). 2.1.9. Tratamento O programa terapêutico inclui uma série de medidas desde as de caráter profilático até as destinadas à correção das múltiplas alterações. Geralmente, o tratamento é feito a longo prazo, envolvendo a participação de médicos e pessoal paramédico e a utilização de instalações e material apropriados (Bethlem, 2001). Medidas preventivas. Todos os fatores que causam ou agravam as DPOC devem ser afastados ou combatidos. Nesse sentido é essencial a supressão do fumo, em face de sua ação já bem determinada. As infecções respiratórias devem ser sempre evitadas, tendo em vista a sua participação como causa de descompensação respiratória; os pacientes precisam ser postos a distância das fontes de infecção e tratados com antibióticos logo após os primeiros indícios de surtos de infecção broncopulmonar bacteriana, que praticamente pode ser identificada pela modificação da cor do escarro, de branca para amarelada ou esverdeada (Bethlem, 2001). Cinesioterapia respiratória e reabilitação. A fisioterapia pulmonar constitui componente de grande valor do tratamento das DPOC. É necessária a participação 35 ativa do paciente, cuja colaboração pode ser obtida ao informar-lhe sempre sobre a significação desta terapêutica. O plano fisioterápico visa oferecer o melhor comportamento funcional do paciente, sendo útil o seu início o mais precocemente possível (Bethlem, 2001). Uso de medicamentos. O médico pode lançar mão de diversos medicamentos com vantagens, usando-os criteriosamente em seus pacientes, porém deve saber que não são eles os únicos elementos do tratamento.O emprego de drogas acompanha outras medidas. Os medicamentos mais utilizados são os broncodilatadores, antibióticos, corticosteróides, mucolíticos e fluidificantes. Os broncodilatadores são indicados em especial naqueles casos em que há sinais de broncoespasmo clinicamente detectável e/ou quando testes espirográficos com prova farmacodinâmica positiva assim o indicarem. Sobre os antibióticos, deve ser dada preferência aqueles de maior espectro, levando em conta, sempre que possível, o custo dos mesmos, pois com inusitada frequência, as infecções brônquicas dos pacientes com DPOC possuem como responsáveis mais de um agente patogênico. E no tratamento da DPOC com retenção de secreção, os agentes mucolíticos e fluidificantes atuam objetivando a diminuição da viscosidade da secreção, melhorando a atividade ciliar e fracilitando o deslizamento da camada gel do muco. O lugar dos corticóides no tratamento sintomático da DPOC está sendo melhor definido atualmente. Já existem diversos estudos mostrando que 15% a 30% dos doentes se beneficiam do seu emprego, obtendo melhora de seus sintomas. Contudo, nem sempre há melhora dos parâmetros das provas de função pulmonar, pelo menos em repouso (Bethlem, 2001). Oxigenioterapia de longa duração. Dois grandes estudos multicêntricos 36 estabeleceram a validade da oxigenioterapia de longa duração no tratamento de casos selecionados de DPOC. O ensaio do British Medical Research Council avaliou o emprego do oxigênio por 15 horas ao dia, e o do NIH-Nocturnal Oxygen Therapy Trail (NOTT) comparou um esquema de 12 horas diárias com um de 24 horas. Ficou definitivamente demonstrado que a oxigenioterapia de longa duração pode melhorar a qualidade de vida em casos selecionados e até prolongá-la. O esquema de 24 horas revelou-se superior aos demais (Bethlem, 2001). A administração de oxigênio por períodos tão longos apresenta dificuldades técnicas. Os doentes transportam pequenos cilindros do gás em bolsas, e esses cilindros têm de ser reabastecidos por tanques maiores, no domicílio. Longos tubos permitem aos pacientes circular pela casa, conectados ao reservatório-mãe (Bethlem, 2001). A complexidade e o preço tornam a oxigenioterapia de longa duração impraticável para a quase totalidade de nossos doentes. Todavia, em alguns casos, a indicação é muito forte: pacientes acentuadamente hipoxêmicos, particularmente com manifestações hemodinâmicas e neuropsicológicas. Além de aumento significativo da sobrevida, há melhora discreta da qualidade de vida, principalmente em termo de manifestações neuropsicológicas. Observam-se também pequenas quedas do hematócrito e reduções leves da hipertensão pulmonar. Todas essas melhoras não ocorrem consistentemente com o regime de apenas 12 horas diárias. Não há retenção significativa de CO2; nem fenômenos de intoxicação por oxigênio (Bethlem, 2001). Hoje já há aparelhagem própria e mais cômoda para o emprego da oxigenioterapia a domicílio, embora seja de preço ainda elevado (Bethlem, 2001). 37 2.2. REABILITAÇÃO PULMONAR A reabilitação pulmonar é a "arte da prática médica na qual é formulado um programa multidisciplinar individualizado e que, através do diagnóstico acurado, do suporte emocional e da educação, estabiliza e reverte tanto a fisiopatologia quanto a psicopatologia das doenças pulmonares e tenta fazer com que o paciente recupere sua maior capacidade funcional possível que lhe permite a sua deficiência pulmonar e sua condição de vida (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). O objetivo geral da reabilitação pulmonar é melhorar a qualidade de vida dos pacientes com uma doença pulmonar incapacitante. Segundo a American Thoracic Society, a reabilitação pulmonar possui dois objetivos seguintes: (1) controlar e aliviar os sintomas e as complicações fisiopatológicas do comprometimento respiratório e (2) ensinar aos pacientes como atingir a capacidade máxima para realizar suas atividades cotidianas (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 2.2.1. Bases Científicas Em repouso, um indivíduo mantém a sua homeostase equilibrando a respiração externa, interna e celular. A atividade física, como o exercício, aumenta a demanda energética. Para manter a homeostase durante o exercício, o sistema cardiorrespiratório deve se adaptar. A ventilação e a circulação aumentam para suprir os tecidos e as células com oxigênio adicional e para eliminar os níveis mais elevados de dióxido de carbono produzidos pelo metabolismo. A relação entre a produção de dióxido de carbono (VCO2) e o consumo de oxigênio (VO2) é 38 denominada quociente respiratório (QR) (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). O VO2 e o VCO2 também aumentam de forma linear à medida em que a intensidade do exercício aumenta. Se o organismo não puder liberar oxigênio suficiente para suprir as demandas de energia do metabolismo, os níveis de lactato sérico aumentam acima do normal. Na fisiologia do exercício, este ponto é denominado o início do acúmulo de lactato sérico. Quando este excesso de ácido láctico é tamponado, os níveis de dióxido de carbono aumentam e o estímulo respiratório aumenta. O resultado é um aumento do VCO2 e do VE (denominado limiar ventilatório). Além deste ponto, o metabolismo se torna anaeróbico, a eficácia da produção de energia diminui, o ácido láctico se acumula e a fadiga se manifesta (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). Consequentemente, a reabilitação pulmonar deve incluir esforços para recondicionar fisicamente os pacientes e aumentar a sua tolerância aos exercícios. O recondicionamento envolve o fortalecimento dos grupos musculares essenciais, a melhoria da utilização global de oxigênio e o aumento da resposta cardiovascular do organismo à atividade física (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 2.2.2. Suporte Psicossocial Se o objetivo global da reabilitação pulmonar é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, então o recondicionamento físico isoladamente não é suficiente. De fato, os indicadores psicossociais geralmente são melhores preditores da frequência e da duração das reinternações dos pacientes com DPOC do que as mensurações tradicionais de função pulmonar. Além disso, estudos demonstram que o sucesso 39 relativo do recondicionamento tem um papel menos importante na determinação do término de um programa de recondicionamento pelo paciente do que a satisfação de suas necessidades psicossociais (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). Existe uma relação bem estabelecida entre o nosso bem estar físico, mental e social. A vida cotidiana é repleta dessas relações, como a fadiga física que ocorre após um período de tensão emocional. Muitas dessas associações fazem parte do comportamento humano normal. No entanto, estados emocionais, como o estresse, podem causar ou agravar um problema físico existente. Da mesma maneira, manifestações físicas de doenças, como a dispnéia recorrente, podem piorar o estresse (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). Além disso, a natureza progressiva da DPOC pode afetar negativamente a atitude do paciente em relação a sua doença e reduzir a sua motivação para se adaptar às suas consequências. Frequentemente, o paciente com enfisema progressivo apresenta ansiedade, hostilidade e estresse severos como consequências diretas da incapacidade. Como os pacientes apresentam temor da perda econômica e da morte, eles também podem apresentar hostilidade em relação à doença e, geralmente, às pessoas que os circundam (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). No entanto, mais significativa é a perda da confiança do paciente na sua capacidade de cuidar de si mesmo que pode acompanhar esse comprometimento e a resultante perda do sentimento de dignidade e de auto-estima. Esses fatores podem criar um círculo vicioso de isolamento social e um aumento da frequência de exacerbações agudas da patologia básica (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). É aqui que a ligação entre os componentes de recondicionamento físico e de 40 suporte psicossocial da reabilitação se torna mais evidente. Reduzindo a intolerância ao exercício e melhorando a resposta cardiovascular à atividade física, os pacientes podem desenvolver um estilo de vida mais independente e ativo (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 2.2.3. Programa de Reabilitação Pulmonar - Objetivos · desenvolvimento da respiração diafragmática; · desenvolvimento de técnicas de controle do estresse e de relaxamento; · envolvimento da musculatura esquelética e da musculatura relacionada com a respiração num programa de exercícios físicos diários para o condicionamento; · A adesão a uma higiene, dieta e nutrição adequadas; · O uso adequado de medicações, oxigênio e equipamentos respiratórios (se necessários); · A aplicação de técnicas de limpeza das vias aéreas (quando indicada); · Centralizar no suporte do grupo; · Fornecimento de aconselhamento individual e familiar (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). - Benefícios Uma suposição subjacente de todos os programas de reabilitação pulmonar 41 destinados aos pacientes com distúrbios pulmonares crônicos é de que o processo patológico é progressivo e irreversivel. Baseando-se nessa suposição, nós não podemos esperar melhorias a longo prazo dos indicadores objetivos da função pulmonar como os obtidos através da espirometria ou da gasometria arterial. A literatura de pesquisa mostra claramente que a reabilitação não altera a deterioração progressiva da função pulmonar que ocorre nos distúrbios pulmonares crônicos (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). No entanto, as evidências só são convincentes no que concerne o fato dos programas de reabilitação adequadamente implementados poderem melhorar a utilização global de oxigênio pelo paciente através do aumento da eficácia da utilização da musculatura e da promoção de técnicas de respiração efetiva. Consequentemente, para maximizar os resultados da reabilitação, os programas devem ter atividades de recondicionamento dos grupos musculares relacionados com a respiração e os musculares esqueléticos (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). Naturalmente, os benefícios fisiológicos atualmente são mais aceitáveis pela comunidade científica e são mais fáceis de serem mensurados e comprovados. Os pesquisadores mensuram e comprovam os benefícios os benefícios fisiológicos através da realização de avaliações periódicas do exercício. Por outro lado, os benefícios psicossociais são mais controversos e mais difíceis de serem substanciados. De qualquer maneira, os participantes da reabilitação pulmonar tendem a se sentir melhor, apresentar menos dispnéia e são capazes de levar uma vida mais ativa e produtiva do que aqueles não envolvidos em tais atividades. Finalmente, esses benefícios podem ser os melhores indicadores do sucesso do programa (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 42 - Riscos Potenciais Embora a maioria dos pacientes com DPOC possam ter a expectativa de obtenção de benefícios através do recondicionamento físico e da reabilitação pulmonar, existem certos riscos potenciais. Entre eles, estão incluídos os seguintes: A. Anormalidades cardiovasculares A1. Arritmias cardíacas (podem ser reduzidas com a suplementação de oxigênio durante o exercício) A2. Hipotensão sistêmica B. Anormalidades da gasometria arterial B1. Dessaturação arterial B2. Hipercapnia C. Anormalidades musculares C1. Lesões funcionais ou estruturais C2. Insuficiência e fadiga diafragmáticas C3. Contratura muscular induzida pelo exercício D. Miscelânea D1. Asma induzida pelo exercício (mais comum nos pacientes jovens asmáticos do que nos pacientes com DPOC) D2. Hipoglicemia D3. Desidratação A seleção adequada, a educação, a supervisão e a monitorização do paciente são fatores fundamentais na redução dos riscos possíveis (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 43 - Planejamento do Programa Tipicamente, a prescrição do exercício inclui os quatro componentes relacionados seguintes: - Exercícios aeróbicos para as extremidades inferiores; - Marcha cronometrada; - Exercícios aeróbicos para as extremidades superiores - Treinamento da musculatura ventilatória (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). Para complementar o componente de recondicionamento físico do esforço de reabilitação pulmonar, a parte educacional do programa deve cobrir tópicos que sejam úteis e necessários ao paciente: - Estrutura, função e patologia pulmonares, incluindo uma discussão sobre a dispnéia. - Métodos de controle da respiração. - Métodos de relaxamento e controle do estresse. - Técnicas do exercício e rotinas pessoais. - Eliminação de secreção e técnicas de higiene brônquica. - Oxigenioterapia e aerossolterapia domiciliar. - Medicações. - Orientações dietéticas. - Recreação e aconselhamento vocacional (Stoller, Wilkins & Scanlan, 2000). 44 2.3. EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS Conforme Rodrigues (2003) os músculos respiratórios são caracterizados pela alta resistência à fadiga, pelo aumento importante do fluxo sanguíneo mediante esforço, pela grande capacidade oxidativa e alta densidade capilar, comparando-se com os músculos estriados esqueléticos. O objetivo primário do treinamento dos músculos ventilatórios é a melhoria na força e resistência dos músculos treinados. Com uma melhor função muscular, esses ganhos podem se refletir diretamente em uma melhor eficácia ventilatória não somente durante o repouso, mas também durante a atividade física, o que resulta em uma maior tolerância aos exercícios físicos (Rodrigues, 2003). Segundo Rodrigues (2003), atualmente existem várias modalidades de treinamento da musculatura respiratória: - Treinamento de força - Inspiração máxima - Inspiração contra resistência - Treinamento de resistência - Hiperventilação isocápnica - Inspiração contra resistência No entanto, serão comentados os dois métodos mais utilizados para treinamento muscular inspiratório: o treshold loading e resistive loading. O primeiro consiste na utilização de uma peça bucal conectada a uma válvula unidirecional a qual impõe uma resistência à passagem do fluxo aéreo inspiratório. O paciente inspira contra uma carga fixa e expira sem resistência. Esse sistema utiliza uma 45 válvula unidirecional de spring-load ou com molas, que o torna fluxo-independente, isto é, a pressão de treinamento é fixada e só ocorrerá fluxo inspiratório quando a inspiração vencer a pressão determinada no sistema, independetemente do fluxo inspiratório gerado pelo paciente. A técnica de resistive loading é fluxo-dependente. Consiste na conexão do paciente a resistores cilíndricos com orifícios progressivamente menores, tornando a pressão diretamente proporcional à velocidade do fluxo. Esses dois métodos ainda não foram adequadamente comparados (Rodrigues, 2003). O treinamento muscular respiratório deve ser indicado para pacientes com doenças respiratórias crônicas grau moderado a severo, com distúrbio muscular específico. Entretanto, tem se demonstrado que exercícios com cargas inspiratórias excessivas (> 40% da Pimáx) podem desencadear a fadiga em pacientes graves. Mais ainda, o treinamento muscular em pneumopatas não está isento de riscos, como a fadiga muscular desencadeada pelo aumento do consumo de oxigênio. A literatura descreve que o treinamento inspiratório pode desencadear hipertensão pulmonar em pacientes hipoxêmicos. Em suma, não se pode definir o melhor protocolo de treinamento ventilatório (Rodrigues, 2003). Contudo, existem técnicas de respiração controlada com o objetivo de diminuir a dispnéia e otimizar a função muscular. Utilizadas primariamente por Alvan Barach e William Miller na década de 1950 nos Estados Unidos, percebeu-se que os pacientes com DPOC poderiam diminuir a dispnéia alterando, conscientemente, o padrão respiratório. A respiração diafragmática e a respiração com freno labial (pursed lips) são empregadas com o intuito de diminuir a frequência respiratória, o trabalho respiratório, o aprisionamento de ar e a dispnéia (Rodrigues, 2003). 46 O pursed lips é realizado frequentemente de forma inconsciente pelos pacientes nas situações de aumento de demanda ventilatória e/ou da atividade física. A técnica consiste em uma inspiração nasal seguida de uma expiração oral lenta, com duração de 4 a 6 segundos, com os lábios semicerrados, determinando ausência de fluxo aéreo expiratório pelo nariz. Essa técnica deve ser utilizada durante e após os exercícios, ou qualquer atividade que cause taquipnéia e, consequentemente, aprisionamento de ar. Ela reduz a frequência respiratória, o volume por minuto, o nível de CO2 e aumenta o volume corrente a PaO2 e a SaO2, além de inibir o colapso expiratório dinâmico das vias aéreas. Entretanto, apesar dos incrementos fisiológicos, sua capacidade em reduzir a dispnéia nos portadores de DPOC é controversa (Rodrigues, 2003). A respiração diafragmática, que consiste na expansão consciente da parede abdominal durante o ato inspiratório, teoricamente pode aumentar a eficiência mecânica diafragmática, reduzindo os movimentos costais ineficazes em portadores de DPOC. Alguns estudos mostram que esse tipo de respiração melhora a incursão diafragmática. Entretanto, pesquisas recentes revelam que a adoção dessa modalidade ventilatória desencadeia assincronia do movimento da caixa torácica em portadores de DPOC estáveis, com redução da eficiência mecânica da caixa e aumento do trabalho respiratório, se melhora da distribuição da ventilação nas bases pulmonares (Rodrigues, 2003). 2.4. OXIMETRIA DE PULSO Essa técnica permite a estimativa da SaO2 através da absorção da luz pela 47 hemoglobina durante sua passagem pelo leito capilar. É uma boa alternativa principalmente para a avaliação de resultados terapêuticos. Deve ser um recurso disponível para a rotina do pneumologista, já que seus resultados são acurados e a técnica é simples e de baixo custo (Siva, 2000). A técnica acessível, bem como o resultado obtido da maneira rápida, estimulam sua utilização quase como parte obrigatória do exame físico, trazendo informações importantes quanto ao estágio da doença e resposta às medidas terapêuticas empregadas (Silva, 2003). Indicações: - Deve fazer parte do exame físico, como o "quinto"sinal vital. - Diagnóstico de hipoxemia. - Estadiamento de doenças obstrutivas (DPOC, asma) e restritivas (fibrose pulmonar, colagenoses, proteinose alveolar, etc.) - Acompanhamento de atividade física, seja em testes de exercício, reabilitação ou atividades de rotina. - Indicação e acompanhamento de oxigenioterapia. Monitoração do O2 durante cirurgias e procedimentos (por exemplo, endoscopias, biópsias, polissonografia). Indicação e orientação da ventilação mecânica ou não-invasiva (CPAP ou BiPAP) (Silva, 2003). Princípios: A técnica da oximetria de pulso utiliza, para medida indireta da SaO2, as alterações pulsáteis na transmissão da luz através dos tecidos. Mede a absorção da luz pela mistura de duas formas de hemoglobina no sangue arterial (Hb saturada e 48 Hb reduzida), sendo utilizada duas ondas de luz diferentes em extensão (vermelha e menos vermelha). A absorção destas duas ondas determina uma estimativa da saturação de hemoglobina disponível. A percentagem de luz absorvida durante os batimentos cardíacos depende do grau de oxigenação tecidual. O oxímetro faz a análise fotométrica desta absorção e estima a SaO2 (Silva, 2003). Abaixo, Emmerich (2001), apresenta as principais causas de baixo rendimento da oximetria de pulso: - Interferência de luz ambiente. Na presença de luz ambiental excessiva (lâmpadas frias, radiação infravermelha, luz solar, fototerapia, etc.) o fotodetector pode assimilar esses sinais ópticos incomuns e adicionar a todos os outros recebidos que passam através do leito vascular advindos dos diodos emissores de luz (LEDs). - Cruzamento de vias ópticas. Esse fato pode se dar quando dois sensores diferentes são colocados muito próximos. A luz proveniente de um dos LEDs pode ser recebida pelo sensor vizinho. - Edema. Causa dispersão do sinal luminoso, que não consegue atingir o fotodetector, resultando em leitura enganosa. - Anemia. Em valores de hemoglobina menores que 5 g/dl, a oximetria de pulso é ineficaz. - Polimento de Unhas. Algumas tonalidades de esmalte (azul, preto, verde e vermelho) interferem na leitura do oxímetro de pulso. - Estados de baixa perfusão tissular. Os oxímetros de pulso funcionam, basicamente, pela detecção da onda de pulso arterial para determinarem a saturação de oxigênio. Na vigência de estados de baixa perfusão 49 tissular (choque, hipotermia, doença vascular oclusiva, etc.), a fraca atividade pulsátil interfere na absorção e na leitura do sinal luminoso, podendo ocorrer situações de saturação igual a zero. - Artefatos de mobilidade. Os oxímertros de pulso detectam e equiparam as ondas de pulsos arterial. Qualquer fenômeno mecânico ou óptico que interfira no sinal do pulso arterial compromete a performance do equipamento, criando os chamados artefatos de mobilidade. Qualquer mudança na distância entre os LEDs e o fotodetector pode resultar num erro de leitura do sinal em ambos comprimentos de onda. Caso esse artefato mimetize um batimento vascular, teremos um resultado falso da saturação de oxigênio. 50 III - MATERIAL E MÉTODOS 3.1. TIPO DE PESQUISA Esse trabalho tem como natureza a pesquisa aplicada, descritiva de campo (Marconi & Lakatos, 1999) 3.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA A população da referente pesquisa foi constituída pelos pacientes internados no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), localizado em Tubarão, estado de Santa Catarina. Os critérios de inclusão no estudo foram delimitados pela amostragem não-probabilística intencional, ou seja, indivíduos portadores de DPOC com prescrição de fisioterapia respiratória que consigam sentar no leito, que sejam atendidos pelo pesquisador e que estejam hospitalizados na instituição supracitada no período compreendido entre abril e setembro de 2003. 51 3.3. INSTRUMENTOS DE PESQUISA - Oxímetro de pulso. - Esfignomanômetro e estetescópio. 52 - "Peak flow". 3.4. COLETA DE DADOS Os indivíduos que satisfizeram as especificações acima foram abordados pelo fisioterapeuta do HNSC (pesquisador) e submetidos a fisioterapia hospitalar. Para essa pesquisa foram propostos 3 (três) exercícios respiratórios. Após a breve explicação da cinesioterapia, o fisioterapeuta afere a P.A. e em seguida, orienta o paciente a expirar com força e rapidez no "peak flow" para a obtenção do pico de fluxo (fazem-se três medidas e a mantém-se a melhor). Depois, o pesquisador mede a FC e a SpO2 através do oxímetro de pulso. O indivíduo, então, é incentivado a começar a fisioterapia. Ao término, imediatamente, é feita a 53 verificação da FC e SpO2. Assim, sucessivamente até o terceiro exercício. Após, afere-se novamente o pico de fluxo e a P.A., respectivamente. Todos os resultados são anotados na ficha de controle (vide anexos). É importante destacar que a cinesioterapia respiratória, para fins de estudo, foi realizada durante 3 (três) dias, sendo que a ordem dos exercícios foi rearranjada para que cada sessão fisioterapêutica iniciasse com um exercício diferente (vide anexos). Cabe ressaltar ainda que, a cinesioterapia respiratória foi realizada com oxigenioterapia somente nos casos onde a SpO2 é inferior ou igual a 90%, sendo que na grande maioria dos portares de DPOC ela não foi utilizada. É interessante comentar que aqueles pacientes sob uso de oxigenioterapia com SpO2 maior que 90%, foram desprovidos do suporte de O2 durante a realização dos exercícios respiratórios. 3.5. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS Os resultados foram discutidos e comparados com literaturas afins, demonstrados através de tabelas e tratados por meio de estatística descritiva e inferência estatística. 54 IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a metodologia da pesquisa, foram selecionados 26 pacientes (19 homens e 7 mulheres) que preencheram os requisitos e participaram do trabalho proposto. Dentre os 26 participantes, apenas 22 concluíram os três (3) dias de pesquisa, devido a complicação da patologia de base ou alta hospitalar. A faixa etária média dos pesquisados foi 63,8 para os homens e 65,4 para as mulheres, que possuiam geralmente, como patologias associadas, diabetes melitus tipo 2 (12), hipertensão arterial sistêmica (5), insuficiência cardíaca congestiva (4), neoplasia (2) e cardiopatia isquêmica (1). A causa da internação ocorreu basicamente por broncoinfecção e ou exacerbação da DPOC. Durante a pesquisa, 2 (dois) pacientes fizeram a cinesioterapia respiratória com uso de oxigênio contínuo, 6 (seis) foram afastados da oxigenioterapia e realizaram a fisioterapia sem uso de oxigênio (somente durante os exercícios, conforme protocolo) e, a grande maioria, 18 (dezoito) realizaram os exercícios respiratórios sem uso de oxigênio. Todos eles fizeram nebulização com broncodilatador antes da coleta dos dados, entre quinze (15) minutos e (1) uma hora, especificamente. A inalação era feita com algum simpaticomimético e ou anticolinérgico e ou eventualmente corticóide. Os resultados foram tratados estatisticamente pelo teste ANOVA duas vias, no entanto não houve significância estatística, ou seja, p > 5%. Os dados obtidos demonstram que a pressão arterial sistólica se eleva com a realização dos exercícios respiratórios e decresce no decorrer dos três (3) dias, 55 indicando incremento no sistema cardiovascular durante a fisioterapia (Tabela I). Como é sabido, o organismo reage redistribuindo o fluxo sanguíneo e elevando a perfusão circulatória para os músculos em atividade, devido ao aumento das necessidades metabólicas, resultante do exercício (Araújo, 2001). Com relação à queda da hipertensão arterial sistólica no decorrer dos três dias, supõe-se melhora do condicionamento físico dos portadores de DPOC. No entanto, sugere o indício de efeito crônico do exercício, sendo que é sabido que o efeito hipotensor ocorre somente em indivíduos hipertensos com exercício aeróbico de baixa intensidade a longo prazo (Negrão & Rondon, 2001). A pressão arterial sistólica obtida pode ser classificada como oscilando entre normal - limítrofe e hipertensão leve (130-139, 140-159 mmHg, respectivamente), conforme Riera (2000). Fuji et al. (1996) comentam ainda que a principal complicação cardiovascular, em indivíduos com DPOC, é o desenvolvimento da hipertensão pulmonar, especialmente durante o exercício. Desse modo, o aumento da vascularização pulmonar prejudicaria o transporte de oxigênio para a musculatura esquelética durante o exercício, resultando na redução da capacidade física. Em contrapartida, Montes de Oca, Rassulo & Celli (1996), mostram que os fatores cardiovasculares não possuem papel tão importantes, quando comparados à reserva ventilatória limitada, em indivíduos portadores de DPOC no exercício. 56 Tabela I: PAS e Exercícios Respiratórios PAS inicial PAS final Dia 1 145,3846 (± 1,147319) 148,2308 (±1,209299) Dia 2 139,4 (± 0,881824) 141,76 (± 0,843329) Dia 3 136,8182 (± 0,742544 ) 140,9091 (± 0,815107) Com relação ao pico de fluxo, os dados obtidos mostram que houve uma elevação nesse parâmetro após a prática da fisioterapia respiratória, revelando melhora no fluxo respiratório após a realização desse protocolo (Tabela II). Opdekamp & Sergysels (2003) relatam que são utilizadas técnicas de respiração para aumentar o volume corrente e diminuir a frequência respiratória em pacientes com patologias pulmonares. A drenagem postural também é largamente utilizada, em detrimento da tapotagem e vibrocompressão, que raramente se justifica em adultos. Ratificando esse fato, Peçanha et al. (2004) comentam que as manobras de tapotagem e vibrocompressão exercem efeito obstrutivo sobre a função pulmonar em indivíduos normais. E pelo contrário, a drenagem postural se mostra mais efetiva na mobilização de secreção e consequente aumento do fluxo respiratório, quando comparada às técnicas de respiração (Savci, Ince & Arikan, 2000). Ainda conforme esses autores, a drenagem postural e as técnicas de respiração podem ser usadas em indivíduos com DPOC, de acordo com o quadro do paciente e ou as preferências do fisioterapeuta. 57 Tabela II: Peak Flow e Exercícios Respiratórios Peak Flow inicial Peak Flow final Dia 1 250 (± 6,036379) 258,4615 (± 6,763715) Dia 2 290 (± 7,414869) 296,8 (± 7,934271) Dia 3 283,6364 (± 7,713839) 294,0909 (± 7,747657) Os resultados relacionados à saturação periférica de oxigênio (SaO2) e a frequência cardíaca, mostram alterações pouco significativas, evidenciando que a cinesioterapia respiratória não provoca acréscimo ou decréscimo importantes nessas variáveis (Tabela III). Esses resultados contradizem os trabalhos de Hall, Kyprianou & Fein (2003), Soto & Varkey (2003), Stoller (2002), Sherk & Grossman (2000), que comentam que a fisioterapia respiratória não é indicada em portadores de DPOC agudizada. Esses autores recomendam apenas tratamento medicamentoso (broncodilatadores, metilxantinas, antibióticos e corticóide) e se necessária ventilação invasiva ou não-invasiva. Esses dados corroboram com a concepção de Steier & Petro (2002), que apontam que a fisioterapia respiratória certamente possui muitos efeitos benéficos, no entanto esses dados são incertos e não exatos, mostrando contradição nos resultados. Segundo os autores, existem trabalhos que indicam melhora do mecanismo respiratório e economia do trabalho ventilatório através da fisioterapia, contudo são estudos pouco controlados, onde a indicação da cinesioterapia respiratória ainda se mostra incerta. 58 Tabela III: FC e SpO2 e Exercícios Respiratórios Dia 1 Repouso MMSS EPAP 5cm H2O Diafragma SpO2 94,92308 95,65385 93,38462 94,92308 (± 0,094789) (± 0,100261) (± 0,133712) (± 0,164954) 87 + 6 95 + 10 98 + 14 91 + 9 Dia 2 Repouso EPAP 5cm H2O Diafragma MMSS SpO2 93,96 94,6087 95,2 95,26087 (± 0,187267) (± 0,151529) (± 0,134615) (± 0,162856) 89 + 7 104 + 14 102 + 16 92 + 12 Dia 3 Repouso Diafragma MMSS EPAP 5cm H2O SpO2 95,04545 94,95 95,27273 94,1 (± 0,1038) (± 0,129966) (± 0,114577) (± 0,15278) 84 + 4 102 + 16 103 + 12 97 + 3 FC FC FC Ao analisar cada exercício proposto separadamente, observa-se um pequeno aumento da SpO2 nos exercícios associados aos membros superiores (MMSS) e 59 com pressão positiva nas vias aéreas com cinco (5) cm de água (EPAP 5cm H2O) e discreta diminuição na respiração diafragmática. A FC se elevou após a prática de cada exercício, isoladamente (Tabela IV). Com relação à FC, sabe-se que ocorre um incremento cardiovascular após a prática de exercícios, principalmente quando esses indivíduos são portadores de DPOC que, geralmente descondicionados, elevam a FC após a realização de qualquer esforço (Montes de Oca, Rassulo & Celli,1996). Sobre a SpO2, houve um pequeno aumento nesse parâmetro nos exercícios de MMSS e EPAP 5cm H2O talvez pela hiperventilação e, pelo contrário, no exercício diafragmático a queda da SpO2 aconteceu devido a assincronia do movimento da caixa torácica (Rodrigues, 2003). Embora alguns autores comentem que acontece um aumento na eficiência da mecânica ventilatória e redução do trabalho respiratório (Kisner & Colby, 1998), houve, pelo contrário, redução ventilatória nas bases pulmonares, devido a assincronia biomecânica da caixa torácica, como mostram estudos recentes (Rodrigues, 2003). Contudo, a oscilação da SpO2 neste protocolo de exercícios não foi preocupante, pois sabe-se que entre 90% e 100% de SpO2 não há comprometimento no fornecimento de oxigênio, conforme curva de hipoxemia (Silva, 2001). 60 Tabela IV: FC e SpO2 e Exercícios Respiratórios propostos separadamente Dia 1 MMSS Repouso Após Exercício SpO2 94,92308 (±0,094789) 95,65385 (±0,100261 ) 87 + 6 95 + 10 FC Dia 2 EPAP 5cm H2O SpO2 FC Repouso Após Exercício 93,96 (± 0,187267) 94,6087 (± 0,151529) 89 + 7 104 + 14 Dia 3 Diafragma SpO2 FC Repouso Após Exercício 95,04545 (± 0,1038) 94,95 (± 0,129966) 84 + 4 102 + 16 61 V - CONCLUSÃO Ultimamente, tem sido utilizada uma infinidade de protocolos de exercício físico para pacientes portadores de DPOC. No entanto, ainda existem muitas questões abertas com relação à escolha do melhor método de prescrição de exercício para esse tipo de indivíduo (Killian, Leblanc, Martin, et al, 1992). Além disso, o problema torna-se mais complicado quando o ponto em discussão é a exacerbação ou agudização da DPOC. A grande maioria dos consensos sobre DPOC exacerbada, exlui a fisioterapia respiratória como abordagem terapêutica. Mostrando à primeira vista que, a cinesioterapia respiratóira não traz benefícios nesses casos e ou existem poucos ou nenhum estudos durante a descompensação da DPOC e o exercício físico. Como a fisioterapia proposta nesse trabalho baseou-se substancialmente em exercícios respiratórios é interessante destacar que o método desse estudo elegeu apenas os indivíduos em condições de realizar o protocolo sugerido, isto é, aqueles que conseguiam sentar à beira do leito. Os pacientes possuiam DPOC agudizada por estarem hospitalizados, no entanto estavam num quadro clínico de sub-agudização. Segundo Yohannes & Connolly (2003) exercícios leves diminuem a incapacidade física em indivíduos portadores de DPOC sub-agudizados Os resultados mostraram melhora do fluxo respiratório durante os três dias, facilitando, dessa maneira, a ventilação pulmonar. Os dados referentes PAS, FC e SpO2, revelaram uma discreta oscilação, indicando que não houve problema ou eventual descompensação do quadro durante a realização da fisioterapia respiratória. 62 Ainda, um dos objetivos do trabalho era classificar este ou aquele exercício, correlacionando-o com fornecimento de oxigênio e esforço, através da SpO2 e FC, respectivamente. Contudo, isso não foi possível, talvez devido a amostragem pequena e ou intercorrências por tosse e ou má técnica durante a realização dos exercícios e ou ainda, simplesmente pelos exercícios não produzirem o efeito esperado nos parâmetros SpO2 e FC. Espera-se, com esse trabalho, além de mostrar que a fisioterapia respiratória é segura na DPOC exacerbada e produz melhora no fluxo respiratório, direcionar a prescrição de exercícios para esses indivíduos, fazendo com que eles se tornem ativos e tolerantes em relação à dispnéia. Em detrimento as manobras passivas de tapotagem e vibrocompressão, que deveriam ser usadas apenas em situações onde haja real necessidade de tais tipos de fisioterapia. 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Americana Thoracic Society. ATS statement: pulmonary rehabilitation. Am Rev Respir Dis 1981;124:663-6. Araújo CGS. Fisiologia do Exercício Físico e Hipertensão Arterial: Uma Breve Introdução. Hipertensão 2001; 4:78-84. Azeredo, Carlos Alberto Caetano, et al. EPAP - Pressão Positiva nas Vias Aéreas. Estudo de Revisão. Ver Bras Terap Intens. v. 4. n.2., 1992 Bethlem, Newton. Pneumologia. 4.ed. São Paulo: Atheneu, 2001. Celli, B. R. Pulmonary rehabilitation in patients with COPD. 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Kisner & Colby (1998) dizem que exercícios ativos de amplitude de movimento para ombro também ajudam a expandir o tórax, facilitando a respiração profunda, e geralmente estimulam o reflexo de tosse. O protocolo para este estudo serão 3 (três) repetições com o membro superior direito, 3 (três) repetições com o membro superior esquerdo e 4 (quatro) repetições com os membros superiores direito e esquerdo, totalizando 10 (dez) repetições. Vale ressaltar que o padrão ventilatório será o DEEP 2 e que a flexão estará associada a inspiração (via nasal) e a extensão ligada a expiração (via oral com freno labial). 70 2. EPAP subáquatico com 5 cmH2O De maneira geral, trata-se de um sistema de demanda, na qual a fase inspiratória é realizada sem nenhuma ajuda externa, sem nenhum fluxo adicional. A inspiração é gerada por uma pressão negativa subatmosférica e a expiração realizada contra uma resistência, tornando-a positiva ao seu final (Azeredo, et al, 1992). Durante a terapia por EPAP, o paciente expira contra um resistor de limiar pressórico, normalmente selo d'água, coluna de água e resistor de mola (Slutzky, 1997). Dentre os efeitos obtidos com a aplicação da EPAP, destaca-se: variação na pressão intra-alveolar, aumento da CRF, recrutamento alveolar, redistribuição da água extravascular, diminuição do shunt intrapulmonar, remoção das secreções brônquicas (Azeredo, et al, 1992). Nessa pesquisa serão utilizados um canudo e um copo contendo uma coluna de água com 5 centímetros de altura. Serão realizadas 5 (cinco) repetições, sendo que cada repetição será composta por uma inspiração (via nasal) profunda e uma expiração resistida com os lábios no canudo (pressão de 5 cm H2O) até a VAR. 71 3. Respiração Difragmática A expressão "respiração diafragmática" significa que o diafragma deverá ser seletivamente contraído (Slutzky, 1997). Os exercícios de respiração diafragmática podem ser usados para melhorar a eficiência da ventilação, diminuir o trabalho de respiração, aumentar a excursão do diafragma, e melhorar a troca de gases e oxigenação. Esses exercícios são também usados para mobilizar as secreções pulmonares na drenagem postural (Kisner & Colby, 1998). Para esse estudo serão realizadas 10 (dez) repetições na posição fowler 45o em regime do padrão ventilatório DEEP 1. A inspiração (via nasal) será acompanhada pela elevação do abdômen e a expiração (via oral com freno labial), ao contrário, a depressão do abdômen. Caso aja dificuldade na execução do exercício, o terapeuta poderá auxiliar o paciente colocando a mão sobre abdômen e acompanhar a respiração difragmática, assistindo-a. 72 FICHA DE CONTROLE Nome No do prontuário Idade Patologias associadas Causa da internação Tipo _____________ e dose ______________, respectivamente de broncodilatação 15 minutos a 1 hora antes da fisioterapia Uso de O2 ¢ Contínuo (___l/min) ¢ Pausa para o exercício (___l/min) ¢ Sem uso 1o dia P.A. inicial:______________ P.A. final:______________ Pico de Fluxo inicial:____________ Pico de Fluxo final:_______________ FC SPO2 REPOUSO MMSS EPAP Diafragma 2o dia P.A. inicial:______________ P.A. final:______________ Pico de Fluxo inicial:____________ Pico de Fluxo final:_______________ FC SPO2 REPOUSO EPAP Diafragma MMSS 3o dia P.A. inicial:______________ P.A. final:______________ Pico de Fluxo inicial:____________ Pico de Fluxo final:_______________ FC REPOUSO Diafragma MMSS EPAP SPO2 73