ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO SISTEMA DE MESOESCALA TIPO BRISA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO Amanda Rodrigues de Carvalho Pinto ¹ Jorge Luiz Fernandes de Oliveira ² Reiner Olíbano Rozas ³ ¹ Universidade Federal Fluminense – UFF Departamento de Geografia Instituto de Geociências Avenida Litorânea, s/n, Boa Viagem Niterói, RJ, CEP 24030-340 [email protected] ² Universidade Federal Fluminense – UFF Departamento de Geografia Instituto de Geociências Avenida Litorânea, s/n, Boa Viagem Niterói, RJ, CEP 24030-340 [email protected] ³ Universidade Federal Fluminense – UFF Departamento de Geografia Instituto de Geociências Avenida Litorânea, s/n, Boa Viagem Niterói, RJ, CEP 24030-340 [email protected] RESUMO: As regiões metropolitanas da atualidade tem sido alvo de inúmeros debates e discussões acerca do elevado contingente populacional residente e da densa distribuição espacial das indústrias em seu território. Ambos os fatores implicam, minimamente, em um planejamento urbano/rural prévio, visando mitigar os impactos socioambientais. Para tal, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro – RMRJ – foi estudada sistematicamente, por ser a mais densamente povoada do país e por conter um importante parque industrial para o contexto nacional. Como conseqüência, a região apresenta altos índices de poluição oriundos dessa combinação que, por sua vez, interferem negativamente na qualidade de vida da população. Referente à recirculação dos poluentes, o sistema meteorológico de mesoescala tipo brisa possui importância notória, transportando os poluentes tanto para o litoral quanto para as áreas rurais e de resquícios de Mata Atlântica. Desta feita, concernente ao estudo do clima e sua relação com o planejamento urbano/rural, o presente trabalho objetiva analisar a contribuição desse sistema de mesoescala na recirculação dos poluentes da RMRJ, que agrega áreas urbanas e rurais. Palavras-chave: Região Metropolitana do Rio de Janeiro; Sistema Meteorológico de Mesoescala Tipo Brisa; Poluição Atmosférica. INTRODUÇÃO: A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é caracterizada, como tantas outras regiões de mesma magnitude, por ser um pólo concentrador tanto populacional quanto industrial. A proximidade com o mar e a fácil articulação das redes multimodais facilitam esse processo de concentração, com destaque para o Arco Rodoviário que ligará Itaboraí ao Porto de Itaguaí, que, embora ainda esteja no papel, tem o intuito de dinamizar ainda mais a economia da região. A RMRJ é a mais densamente povoada do país, apresentando cerca de 1.900 hab.km² inseridos em 14.9 % da área total do estado, mas que congrega 80% do total populacional (FEEMA, 2004). Essa ocupação desordenada do espaço urbano gera conflitos devido à reduzida importância dada às temáticas ambientais nas abordagens sociais e econômicas do espaço urbano. Os índices de poluição são elevados, uma vez que nela se encontra a segunda maior concentração de veículos, de indústrias e de fontes de poluentes atmosféricos do país (FEEMA, 2004), implicando de forma incisiva na qualidade de vida da população residente. A fisiografia da RMRJ influencia o transporte de poluentes caracterizado pelo sistema meteorológico de mesoescala tipo brisa. Esse sistema de mesoescala recircula os poluentes emitidos pelas diversas atividades poluidoras, comprometendo a qualidade do ar dos 19 municípios que compõem a RMRJ. Por conseguinte, o presente trabalho tem por objetivo mostrar a dinâmica da componente atmosférica atuante sobre a região, caracterizada por maciça ocupação e pelo grande e crescente número de indústrias. MATERIAIS E MÉTODOS: Para a elaboração do presente trabalho, foi feito um levantamento bibliográfico acerca do assunto e o uso de geotecnologias para a modelagem numérica de eventos atmosféricos. Utilizou-se o Regional Atmospheric Modeling System (RAMS), alimentado com as reanálises do National Center for Environmental Prediction (NCEP), com três grades aninhadas e centradas na área denominada de bacia aérea IV, para o mês de julho, conforme os estudos realizados por Sardemberg et al (2008), Oliveira (2004) e Oliveira et al (2002) para caracterizar o escoamento atmosférico nessa bacia da RMRJ. As análises geradas pelo RAMS são apresentadas nas figuras de 1 a 4, mostrando o escoamento de mesoescala tipo brisa para os horários de 3, 9, 15 e 21 horas UTC. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os resultados obtidos são oriundos das análises geradas pelo programa RAMS e visualizadas pelo Grid Analysis and Display System (GrADS) para o mês supracitado. Na Figura 1, o campo de vento para as 3 UTC sobre a bacia aérea IV possui direção E/W. Ao norte, o escoamento assume a direção N/S, caracterizada pela brisa de montanha, descrevendo a transição de brisa marítima para brisa terrestre. Os ventos são, no geral, de baixa velocidade, exceto os catabáticos próximos a serra dos Órgãos, atingindo valores inferiores a 4 m.s-1 à nordeste da região em questão. Sob esta direção, os poluentes são transportados para as áreas litorâneas (onde se concentra a maioria da população residente na região), atingindo a baía de Guanabara e o oceano. Às 9 UTC (Figura 2) nota-se um aumento na intensidade dos ventos, que agora atingem velocidades superiores a 5 m.s-1. Os ventos sobre a região assumem a direção N/S/NE, transportando os poluentes em direção à baía de Guanabara e o oceano Atlântico. Figura 1 – Campo de vento da bacia aérea IV para às 03 UTC em julho de 1998 Figura 2 – Campo de vento da bacia aérea IV para às 09 UTC em julho de 1998 Na Figura 3, o campo de vento para às 15 UTC assume o comportamento de brisa marítima e apresenta as maiores velocidades do dia, atingindo valores superiores a 8 m.s-1. Comprova-se assim, a teoria de que a intensidade da brisa marítima é superior a da brisa terrestre. Neste caso, a direção dos ventos sobre a bacia aérea IV é S/N, transportando os poluentes para as áreas situadas ao Norte da região. Nessas áreas, localizadas a barlavento da Serra do Mar, predominam a utilização de terras voltadas à agricultura e focos de Mata Atlântica. Como a maior concentração industrial se encontra na área core da Região Metropolitana (Rio de Janeiro, São Gonçalo, Duque de Caxias entre outros), os poluentes nela produzidos são levados para as áreas menos urbanizadas e menos providas de acervo industrial da região, implicando na qualidade do ar local, que ainda apresenta índices satisfatórios. Às 21 UTC (Figura 4) há uma diminuição na intensidade dos ventos e uma alteração na direção, predominando o escoamento de SE/NW sobre a bacia aérea IV, mas que ainda contribui para o transporte de poluentes produzidos na área core da região rumo às áreas rurais. Figura 3 – Campo de vento da bacia aérea IV para às 15 UTC em julho de 1998 Figura 4 – Campo de vento da bacia aérea IV para às 21 UTC em julho de 1998 CONCLUSÕES: O uso de geotecnologias aliadas ao conhecimento fisiográfico da RMRJ proporcionou um maior conhecimento do comportamento do transporte de poluentes na bacia aérea IV. Conhecendo-se melhor a influência do sistema de brisa no transporte de poluentes nessa porção da RMRJ, sugerimos para os projetos industriais futuros na RMRJ, um novo ordenamento territorial das atividades potencialmente poluidoras, visando diminuir os impactos sobre a população residente, tanto nas proximidades desses aglomerados industriais, quanto em áreas predominantemente rurais e de proteção ambiental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Inventário de fontes emissoras de poluentes atmosféricos da região metropolitana do Rio de Janeiro. Governo do Rio de Janeiro, 2004. FERREIRA, M. I. P. et al. desafios à gestão ambiental para a área de influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ, Itaboraí/RJ. In: XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 – 11 outubro 2007. OLIVEIRA, J. L. F. 2004. Análise espacial e modelagem atmosférica: Contribuições ao gerenciamento da qualidade do ar da Bacia Aérea III da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado em Ciências Atmosféricas em Engenharia, COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 330p. OLIVEIRA, J. L. F.; SANTOS, I. A.; LANDAU, L. Diagnóstico climatológico do campo do vento na bacia aérea III da região metropolitana do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA. Foz do Iguaçu: SBMET, 2002. PIRES, I et al. Implantação do Complexo Petroquímico da Petrobras em Itaboraí, RJ. Classificação do uso do solo e da cobertura vegetal das sub-bacias dos rios Cacerebu e Macacu, Bacia Leste da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara. In: Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, SC, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 6051-6057. SARDEMBERG JUNIOR et al. A Localização Geográfica do COMPERJ e sua Relação com o Clima da Região. In: Anais do XVIII Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, Alto Caparaó, MG, Brasil, 24 – 29 agosto 2008.