FLEXIBILIDADE DO CAPITAL E PRODUÇÃO DO ESPAÇO: A inserção dos Chineses no setor terciário da cidade de Vitória da Conquista - BA Alane Alves Santos* [email protected] Angela Telma Rosa do Carmo** [email protected] Resumo Este artigo procurou a partir de um embasamento teórico discutir a questão atual sobre a flexibilidade do capital e sua influência na produção do espaço. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica no qual procurou-se delinear os conceitos chaves que nortearam os trabalhos. Buscou-se ainda realizar uma breve discussão sobre como se dá o processo de inserção dos chineses no mercado terciário local (Vitória da Conquista). Por fim procurou-se entender o impacto dessa atividade na economia local, bem como discutir questões ligadas aos aspectos socioculturais que permeiam a relação Brasil/China. Palavras chaves: Produção do espaço, imigrante chinês, economia local. Introdução No decorrer da história humana, incontáveis são os motivos pelo qual a população se desloca. Esse movimento está ligado a diversos aspectos políticos, religiosos, sociais, ambientais e, sobretudo, econômicos, sendo o capital, muitos vezes, o fomentador dessa mobilidade social. È importante salientar que neste trabalho a análise empreendida não está restrita somente ao ir e vir das pessoas pelo território mundial, mas como o capital expropria e subordina o trabalho contemporâneo. Optou-se por examinar o conceito de mobilidade pelo fato deste ser o pilar do processo reprodutivo capitalista. O • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. estudo proposto objetiva analisar de que forma a inserção dos chineses, e respectivamente dos seus produtos, interferem no processo sócio econômico da produção do espaço urbano na cidade de Vitória da Conquista, a fim de embasar teoricamente a pesquisa desenvolvida. O estudo busca ainda entender como se dá inserção dos chineses no mercado conquistense visando compreender o impacto na economia local, finalizando com uma discussão acerca dos aspectos socioculturais e suas intervenções no espaço urbano da mesma. Para a produção do presente artigo foi utilizado como procedimentos metodológicos à pesquisa bibliográfica, visto que esta fornece um embasamento teórico acerca do tema abordado. A pesquisa pode ser classificada quanto aos objetivos, em pesquisa exploratória, ao passo que proporcionará maiores informações sobre a questão enfocada. Também é considerada descritiva pelo fato de utilizar-se da observação, análise e interpretação dos aspectos selecionados. Quanto à abordagem classifica-se em qualitativa, visto que a coleta do material ocorre de forma subjetiva. Mobilidade do capital e produção do espaço Dentre as definições que o termo mobilidade possui, destaca-se dentro um caráter da sociologia como “deslocamento de indivíduos, grupos ou elementos culturais no espaço social”, pode ainda, significar “flexibilidade” (MICHAELIS, 1998, p. 854). Botelho (2002), no artigo “Reestruturação produtiva e produção do espaço: o caso da indústria automobilística instalada no Brasil”, embora trate de aspectos específicos sobre o processo de industrialização do setor automotivo no Brasil, a autora traz na introdução de seu texto, elementos que contribuem com discussão aqui empreendida, ao relatar que as últimas décadas do século passado foram • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. marcadas por mudanças nas estratégias de produção e reprodução do capital. Assim, sobre o crescente processo de mobilização do capital e relação com espaço o capital “busca explorar, nos diversos lugares, os diferenciais existentes nas custas de mão-de-obra, matéria-prima, energia, subsídios estatais, etc” (BOTELHO, 2002, p. 1). Ainda, dentro da perspectiva das alterações ocorridas no dois últimos decênios do século anterior, Ghizzo e Rocha (2008), ao discutir “Mobilidade e ajuste espacial em David Harvey” também relatam em sua introdução à questão das mudanças processadas nos planos político, econômico, cultural e social. Os autores citando Harvey expõem que tais transformações recaem sobre a população, podendo intensificar processos migratórios. Benko (2001), no artigo ‘A recomposição dos espaços’, faz observações quanto às últimas décadas do século XX, sobretudo, a uma tendência de certos observadores (economistas, geógrafos, cientistas políticos) a evidenciar alterações no que tange ao espaço, aspectos qualificados pelo autor como ‘deslizamentos de escala’. Considera-se como uma recomposição dos espaços no qual os espaços clássicos (sistema da economia, sociedade e política), transformaram-se progressivamente, ao longo do tempo ocorrendo um deslocamento, conforme o autor “para cima e para baixo”. Localizados na escala superior, o surgimento ou o reforço dos blocos econômico, por outro lado na escala inferior observa-se uma intensificação das unidades territoriais em nível regional. Nesse contexto, Benko (2001, p. 1), define: “o nosso planeta tem assim quatro níveis espaciais pertinentes de análise: o mundial, o supra nacional (blocos econômicos), o nacional (estado nação) e o regional (local ou infracional)”. Passa-se, durante as últimas décadas do século passado, de um modelo econômico internacional para um global, com difuso aproveitamento de ligações entre economias regionais distantes, conectadas entre as mesmas por relações complexas de competição e colaboração (BENKO, 2001). • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. O autor acima referido acrescenta que o processo de mundialização da economia apoiado pelo meio técnico-científico (informação, comunicação), aliados por fatores estruturais (transportes), podem alterar as escalas territoriais, ao menos no que diz respeito às relações de espaço. Sobre o pressuposto “encolhimento” do mercado, as distâncias funcionam como influências sobre a organização das relações econômicas e sociais. Observam-se de um lado, deslocamentos internacionais da atividade econômica e social e por outra vertente chama-se atenção à intensificação do crescimento econômico de determinadas regiões, as quais são, em especial, metropolitanas (BENKO, 2001). Benko (2001, p. 6) ressalta “as regiões, ou melhor, os territórios, tornaram-se, dessa maneira, fontes de vantagens concorrenciais”. Dentro desse contexto, fatores específicos dos distritos industriais resultam em um poder de acomodar negócios, maneiras de cooperação entre capital e trabalho, grandes empresas e fornecedores intermediários, entre a administração pública e a sociedade civil. Sobre essas novas relações espaciais Ghizzo e Rocha (2008), em um dos pontos de discussão “A mobilidade e a produção da organização espacial” compreendem que dentro do sistema capitalista, os capitalistas procuram se livrar das denominadas fronteiras geográficas, em algumas áreas específicas, no qual o capital e a mão-de-obra poderão vim as se vincularem. Tal ponto podem ser constituído por uma fábrica, uma indústria e até mesmo a conformação de uma nova região. Como analisa os autores: Há processos que se concretizam num dado lugar e/ou região, produzindo uma espécie de pressão que extravasa fluxos para o exterior ou os atrai para o interior. No bojo destas relações, os avanços tecnológicos referentes aos transportes e comunicações tornam as fronteiras porosas e instáveis. Além disso, a luta de classes favorece a mobilidade de capitais e/ou força de trabalho para lugares mais privilegiados (...). (GHIZZO; ROCHA, 2008, p. 8). • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. Todavia, como ressalta Harvey apud Ghizzo e Rocha (2008), a mobilidade se exprime também como uma perspectiva para a força de trabalho outra vez deterem os meios de produção e não ficarem alheios na divisão social do trabalho, sob o comando capitalista, transformando em possibilidade de se emanciparem socialmente. Identidade cultural, características e peculiaridades do migrante chinês Pinto (2004), em uma palestra que discutindo a respeito da identidade cultural argüiu em sua introdução que esse tema tem sido de grande relevância e preocupação para as Ciências Sociais. Segundo o wikipédia (2011), Identidade cultural pode ser definida como o sentimento de pertença a um grupo ou cultura em que o indivíduo se sinta influenciado e incluído a esta identidade. Para Hall (2003), identidade cultural é presumidamente identificada como algo fixo ao local de nascimento. Assim expõe que: “a identidade cultural, seja, fixada no nascimento, seja parte da natureza, impressa através do parentesco e da linhagem dos genes, seja constitutiva de nosso eu mais interior. E impermeável! a algo tão "mundano", secular e superficial quanto uma mundana temporária de nosso local de residência. A pobreza, o subdesenvolvimento, a falta de oportunidades — os legados do Império em toda parte — podem folgar as pessoas a migrar, o que causa o espalhamento — a dispersão. Mas cada disseminação carrega consigo a promessa do retorno redentor. (HALL, 2003 p. 433). Por outro lado, o autor argumenta que a identidade cultural não se trata de algo estável e sim de uma composição de elementos provenientes de várias experiências ao longo do seu processo de formação. Tal posicionamento fica claro na exposição abaixo: Acho que a identidade cultural não e fixa, e sempre híbrida. Mas e justamente por resultar de formações históricas especificas, de historias e repertórios culturais de enunciação muito específico,' que ela pode constituir um "posicionamento", ao qual nos podemos • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. chamar provisoriamente de identidade. Isto não e qualquer coisa. Portanto, cada uma dessas historias de identidade esta inscrita nas posições que assumimos e com as quais nos identificamos. Temos que viver esse conjunto de posições de identidade com todas as suas especificidades (HALL, 2003, p.23). Diante desse exposto, faz-se necessário esclarecer que no processo migratório não pode, (ou não poderia) haver uma sobreposição de identidades, culturas e valores, mas sim uma interação entre as mesmas. Dentro deste contexto Oliveira (2007), ao discutir em sua pesquisa “Gestão estratégica sem limites: o perfil o imigrante chinês no Brasil” ressalta que as características e peculiaridades do processo de migração e do imigrante chinês merecem um estudo mais aprofundado, pois a literatura no que diz respeito ao conhecimento do processo de integração deste, em especial, no Brasil é ainda embrionária. Ao analisar a questão do migrante o autor (2007, p. 2) afirma ainda, que estes se tratam de “ (...) co-habitantes ativos de um lugar e co-produtores de uma cultura local (...), as trajetórias de integração são processos de adaptação criativa as condições de vida locais e a re-construção coletiva e cooperativa dos territórios onde vivem”. Embora no caso dos chineses, os mesmos sejam confundidos com outros povos orientais que habitam São Paulo, o imigrante chinês busca a aquisição de um perfil peculiar, procurando “espaço para ter uma identidade e ser diferenciado na cultura brasileira (OLEVEIRA, 2007 p. 3). Pelo o que pode ser distinguível nos variados meios de comunicação (revistas, jornais e mídias em geral) apontam para o imigrante sino-asiático como pessoas que transformam seus anseios em fatos reais. Melman apud Oliveira (2007), relatam ainda que os chineses configuram em uma amostragem distinta em nosso país, ao se comparar aos imigrantes de outros países, quanto aspectos referentes a cultura, língua, hábitos e religião. No que diz respeito à presença do imigrante chinês em nossa nacionalidade, há informações que datam do século XIX pretensões de recebê-los, em substituição • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. à mão-de-obra escrava, todavia, dificuldades como idioma falado e até possíveis dificuldades em adaptação a cultura e a região totalmente distinta da China, foram comentadas. Há registros de que tais imigrantes vieram para o Brasil no período colonial, em um total de 4000 chineses, constam informações oficiais que os primeiros aportaram em São Paulo, em 15 de agosto de 1900, no total de 107 (OLIVEIRA, 2007). Segundo informações do Consulado da China (2003) apud Oliveira (2007), os primeiros imigrantes chineses foram os que tiveram maior dificuldade, já que naquele período o chinês que deixasse sua nacionalidade ficaria sem sua tradição e o direito a sepultar os pais. Ainda, de acordo com levantamentos do Consulado da China (2005) in Oliveira, avaliam que vivam no Brasil, atualmente, por volta de 200 mil chineses, dos quais 80% na cidade de São Paulo. No que se refere à ocupação profissional no Brasil, ocupam-se no diversos setores da economia como: secundário, terciário, em universidades, artes e turismo. Posteriormente, o autor identifica em sua pesquisa: “O ramo de atividade dos participantes da pesquisa concentra-se no comércio (lojas de artigo de decoração, empresa de importação, Câmara de comércio, empresa de informática e fábricas de peças de montagem) e na prestação de serviços (agência de turismo, restaurante, oficina, professora de chinês e de música, consultor de investimentos, dono de hotel)” (OLIVEIRA, 2007, p. 6-7) . Em se tratando das decisões e motivos para escolha do Brasil por parte dos chineses Oliveira (2007, p. 7), evidenciou nos resultados e avaliação dos dados coletados de sua pesquisa que a mesma muita ocorreu de foram espontânea, ou por estímulo de conhecidos como familiares e amigos, apontaram ainda como causa a possibilidade de um conflito político, o aumento do número de filhos, e oportunidade da reunião da família inteira e procura de novas chances no Brasil (OLIVEIRA, 2007). • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. Chineses inseridos no setor terciário de Vitória da Conquista Sendo o pólo de uma mesoregião com aproximadamente 200 km de raio e um total aproximado de 80 municípios, Vitória da Conquista _ BA, procura atender às necessidades de uma população em torno de 2 milhões de habitantes. O que representa 17% da população da Bahia. Refere-se a um entreposto na área do comércio e de serviços que acaba por influenciar economicamente, até mesmos cidades do Norte-Nordeste de Minas Gerais. Vitória da Conquista conta, atualmente, no denominado “centro comercial” com 137 lojas, subdivididas nas mais diversas categorias como de: móveis; calçados; óticas; perfumarias e demais ramos do comércio varejistas (APONTADOR, 2011). Observa-se, ultimamente na cidade de Vitória da Conquista a presença de diversos estabelecimentos empreendidos e administrados por chineses, no setor terciário (na área de alimentação com petiscos orientais e venda de produtos importados voltados para eletrônicos e bijuterias e acessórios femininos). Os empreendimentos estabelecidos em Vitória da Conquista também se encontram dentro do segmento comercial constado por Oliveira (2007), em sua pesquisa sobre o perfil empreendedor do imigrante chinês, na cidade de São Paulo. Atualmente, o comércio dos chineses somam de 4 lanchonetes e 5 lojas, localizadas no centro da cidade Vitória da Conquista, embora tal número de estabelecimento represente pouco mais de 5% do total de estabelecimentos comerciais (137 lojas diversas), localizados no Centro, o número de lojas sob gestão chinesa ganha certa amplitude se comparada com varejistas locais que trabalham com o tipo de mercadoria semelhante. Esses estabelecimentos chamam atenção pelo grande fluxo de pessoas que procuram os serviços ofertados por este público. Essa movimentação pode estar ligada à oferta de produtos, pelo menos ao que se refere ao comércio varejista de produtos de baixo custo. É importante salientar que não existem ainda pesquisas que venha demonstrar o impacto dessa atividade • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. comercial para os varejistas locais, ou seja, não se mediu ainda se há ou não impactos negativos para os demais comerciantes. Dentro de um contexto maior, verifica-se que a nível nacional a presença dos chineses no Brasil faz-se presente desde o século XIX devido ao processo de abolição da escravatura, o que demandou, por parte dos latifundiários, a necessidade pela busca de mão de obra estrangeira ao qual foi suprida, em parte pelos chineses, dedicando-se principalmente, à agricultura Teixeira (1995: 25-40). Durante as décadas de 1980 e 1990, por meio da política de abertura chinesa, o número de pessoas vindas para o Brasil apresentou uma elevação significativa, especialmente de uma geração jovem e instruída que agrupam-se, principalmente no comércio. Fator observado no contexto local. Segundo Shoji (2004), estima-se que há 190 mil entre chineses e seus descendentes morando no Brasil, destes, 120 mil apenas no estado de São Paulo. O objetivo principal dessa imigração, formada principalmente por jovens solteiros, era acumular o máximo de riqueza possível, segundo a sua tradição, para retornar de forma gloriosa para o seu país. No que tange a característica da população chinesa encontrada no município de Vitória da Conquista, observa-se de forma empírica, se tratar de uma população aparentemente jovem, todavia, quanto ao segundo aspecto apontado pelo autor (Shoji) faz-se necessário uma pesquisa In loco com os mesmos, a fim de constatar os motivos pelos quais levaram essa população a escolher esse município. Em se tratando dos aspectos socioculturais, já é possível verificar, de forma empírica, a possibilidade de mudanças nos padrões alimentares das pessoas que se servem nas lanchonetes empreendidas pelos chineses, visto que são ofertados nesses estabelecimentos produtos próprios de seu país de origem, oportunizando a população local a experimentar um cardápio diferenciado. Ainda, dentro dos aspectos socioculturais observa-se que, por parte dos chineses há a necessidade da apreensão do idioma nacional (português) para haver comunicação com os • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. consumidores dos seus produtos. Tal aspecto também é apontado por Oliveira (2007). Vale ressaltar que a análise, embora preliminar deva levar em conta também aspectos econômicos, levando em consideração a dinâmica capitalista avaliando-se dentro de um contexto maior as relações que o Brasil estabelece com os seus pares. Assim, pode-se destacar que dentro de um contexto geral, a presença dos chineses em Vitória da Conquista pode ser encarada dentro fenômeno da flexibilidade do capital e produção do espaço, acompanhando as mudanças nos aspectos políticos, econômicos e sociais ocorridas a partir das últimas décadas do século XX. Vale salientar, que Vitória da Conquista como já mencionado, destaca-se como entreposto no ramo do comércio e serviço, podendo desse modo, se configurar com um espaço peculiar em relação regiões adjacentes. Dentro dessa conjuntura, a escolha por parte dos chineses por este espaço pode encontrar suas raízes, tanto nas condições oferecidas pela cidade (entreposto comercial), como nas características peculiares do imigrante chinês analisadas por Oliveira (2007), como de perfil empreendedor. Pode-se inferir ainda, nessa pretensa análise, que a escolha pelo espaço conquistense como uma possibilidade para promoção e emancipação social do chinês, visto que o tamanho dos estabelecimentos comerciais, localizados em Vitória Conquista –BA, podem ser considerados de médio porte, em uma análise preliminar. A questão da emancipação encontra também respaldo tanto em Oliveira (2007), ao que tange sua característica empreendedora, como em Ghizzo e Rocha (2008), citando Harvey ao ponderar que a mobilidade pode também funcionar para a mão-de-obra como uma perspectiva destes deterem novamente os meios de produção, aqui representado por seus estabelecimentos comerciais. Diante do exposto, nota-se que a questão abordada trata-se de um estudo inicial, o qual necessita de uma pesquisa mais aprofundada acerca dos aspectos aqui levantados como: a questão da geração de renda empreendida pelos chineses se dá em que escalas? Qual o papel do poder público municipal diante dessa nova realidade vivenciada? Por que a escolha do município de Vitória da Conquista por • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. parte dos comerciantes chineses? Há, de fato, algum impacto no que se refere à economia para os comerciantes locais? Assim a pesquisa, embora incipiente, como toda literatura ao que tange ao processo de integração do imigrante chineses no Brasil, apontam caminhos a serem investigados em pesquisa mais aprofundada e convida aos leitores / pesquisadores a se debruçarem sobre o tema, buscando discutir as questões aqui levantadas e como estas se configuram na realidade local. Referências BENKO, Georges. A Recomposição dos Espaços. Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol 1, N 2, Mar, 2001. BOTELHO, Adriana. Reestruturação produtiva e produção do espaço: O caso da indústria automobilística instalada no Brasil. (2002). Revista do Departamento de Geografia,15. Disponível em: www.geografia.ffch.usp.br/publicações. Acesso em: 23 de julho de 2011. GHIZZO, Marcio Roberto; ROCHA, Márcio Mendes. Mobilidade e ajuste espacial em David Harvey. (20..). Disponível em: www.nilsonfraga.com.br/anais . Acesso em: 23 de julho de 2011. HALL, Stuart. Pensando a Diáspora: Reflexões sobre a terra no exterior In: HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003. MICHAELIS. Pequeno dicionário da língua portuguesa: São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998. OLIVEIRA, Jayr Figueiredo. Gestão estratégica sem limites: O empreendedor do imigrante chinês. (20..). Disponível www.aedb.br/seget/artigos07/37.2007.pdf. Acesso em: 23 de julho de 2011. • • perfil em: * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB. PINTO, Mércia de Vasconcelos. Identidade Cultural. Disponível em http://www.arq.ufsc.br/urbanismo5/artigos/artigos_pm.pdf acesso em 27 de Julho de 2011. SHOJI, Rafael. Imigração Chinesa e Coreana. Disponível em: http://www.pucsp.br/rever/rv3_2004/t_shoji.htm . Acesso em: 30 de Junho de 2011. • • * Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Pós Graduada em Análise do Espaço Geográfico pela UESB e consultora da área de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria – SESI – Unidade de Vitória da Conquista. ** Graduação em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós graduando em Especialização Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UESB.