Próxima aula: Ética III – Kant (ponto 6). Leitura: Rachels, Cap. 10. Perguntas: 1. É deontológica a ética kantiana? 2. São diferentes as duas versões do imperativo categórico? 3. Qual é a função do sistema penal para Kant? Immanuel Kant 1724-1804 Ética III - Kant Princípio básico: O “imperativo categórico” ≠ imperativos hipotéticos “se você deseja obter X, você deve fazer Y” Ética III - Kant Primeira versão (fórmula da lei universal): Aja somente conforme aquela máxima que você pode desejar que se torne uma lei universal. (= Aja de acordo com uma regra que você pode desejar que seja respeitada por todos em todos os momentos.) Ética III - Kant Segunda versão (fórmula do fim em si mesmo): Aja de uma maneira que trate a humanidade, seja em seu nome, seja no nome de outra pessoa, sempre como um fim, nunca como um mero meio. (= Trate a si mesmo e aos demais como agentes autônomos e racionais e não como instrumentos para a realização dos seus objetivos.) Ética III - Kant Obs: tratar alguém como meio ≠ tratar alguém como mero meio (isto é, independentemente do seu real consentimento) Ética III - Kant São versões do mesmo imperativo ou imperativos diferentes? Dão a mesma resposta para questões morais importantes? > É permitido fazer falsas promessas? > É permitido fazer falsas promessas para obter fins benevolentes? Ética III - Kant Como justificar o sistema penal? Visão tradicional: a pena serve para castigar o criminoso. Quem lesa o outro merece punição. Ética III - Kant Visão utilitarista: a pena só está justificada se gera mais felicidade do que infelicidade. O que entra no cálculo? > Impacto social da pena (segurança, sentimento de que a justiça foi feita) > Impacto da pena sobre o criminoso Ética III - Kant Visão kantiana A visão utilitarista viola o imperativo (2ª versão). Punir pelo bem social é tratar o criminoso como meio. A tentativa de reabilitação também! Mesmo que a sociedade civil decida se dissolver com o consentimento de todos... o último assassino na prisão deve ser executado antes que a resolução seja cumprida. (p. 139) Ética III - Kant Crítica comum: reabilitar é desrespeitar a autonomia/racionalidade do criminoso, mas castigá-lo não é? 1. Só se pune o indivíduo que pode ser considerado responsável por seus atos. 2. Indivíduos responsáveis por seus atos são indivíduos autônomos/racionais. Logo, 3. Só se pune o indivíduo autônomo/racional. Obs: o utilitarista teria ressalvas a fazer quanto à premissa 1! Revisão > Kant e o imperativo categórico > Duas versões do imperativo (fórmula da lei universal; fórmula do fim em si mesmo) > Sistema penal e permissibilidade da reabilitação do criminoso: Kant x utilitaristas Próxima aula: Ética IV - O contrato social (ponto 7) Leitura: Rachels, cap. 11 (e Críton) Perguntas: 1. Para Hobbes os homens são maus no estado de natureza? 2. Como é que a teoria do contrato social poderia se usada para justificar a desobediência civil? Thomas Hobbes 1588-1679 Ética IV – O Contrato Social O estado de natureza é a situação em que todos competem agressivamente, sem regras sociais e sem governo. “... constante temor e risco de morte violenta, e a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, brutal e curta... Ética IV – O Contrato Social As pessoas não são más, mas (a) seu altruísmo é limitado; (b) recursos são escassos; (c) todos têm as mesmas necessidades básicas; (d) todos têm mais ou menos as mesmas habilidades. Ética IV – O Contrato Social Solução de Hobbes: Um acordo geral com regras que limitem a violência e a fraude. (O governo também é necessário para coibir eventuais violações.) Ética IV – O Contrato Social Outra maneira de defender a ideia do contrato social – Teoria dos jogos ou teoria das decisões interativas Rachels: “Dilema do prisioneiro” Você confessa Você não confessa João confessa 5 anos cada João livre; você 10 anos João não confessa Você livre; João 10 anos Ambos 1 ano Ética IV – O Contrato Social O dilema é representativo de toda situação em que: (i) nossos interesses não são afetados apenas pelas nossas escolhas e (ii) o bem-estar de todos depende de cooperação. (1) Estranho não usa violência; você usa (2) Estranho não usa violência; você tampouco (3) Estranho usa violência; você também (4) Estranho usa violência; você não Ética IV – O Contrato Social O contrato social abre algum espaço para a justificação da desobediência civil. (ainda que isso não tenha sido reconhecido pelo próprio Hobbes) Ética IV – O Contrato Social Desobediência civil Está justificada para o indivíduo a quem são negados os benefícios do contrato social. Por outro lado, O indivíduo que viola as leis sem justificativa quebra o contrato e se torna punível. Ética IV – O Contrato Social Críticas à teoria do contrato social. 1. O contrato nunca foi firmado de fato. (Nem tacitamente?) 2. Animais não podem fazer parte, logo... não merecem proteção? Críton Alguns argumentos de Críton: (i) Críton e conspiradores não serão prejudicados; (ii) Sócrates será acolhido no exílio; (iii) os filhos de Sócrates ficarão desamparados. Críton Resposta de Sócrates: (i) A desobediência prejudicaria (“aniquilaria”) a República. (ii) Sócrates tem uma dívida de gratidão com a República. (iii) Sócrates firmou um acordo com a República, pois não partiu de lá na maturidade. Revisão – Aula 7 > Hobbes e as condições de vida do estado de natureza: altruísmo limitado, escassez, necessidades e poderes similares > Teoria dos jogos > Desobediência civil e pena > Críticas ao contrato social Próxima aula: Ética V – A ética da virtude (ponto 8) Leitura: Rachels, Cap. 13 Perguntas: 1. O que é uma virtude? 2. As virtudes são as mesmas para todos? Ética V – A Ética da Virtude Teoria que não enfatiza princípios ou regras gerais de conduta. Concentra-se nos “traços do caráter”, nas disposições que definem uma pessoa boa. Ética V – A Ética da Virtude 1. O que é uma virtude? Uma disposição habitualmente manifestada e louvável que o agente também vê como sendo intrinsecamente boa. Ética V – A Ética da Virtude Uma disposição (a) habitualmente manifestada e (b) louvável que (c) o agente também vê como sendo intrinsecamente boa. Ética V – A Ética da Virtude 2. Quais são as virtudes? [Ver lista da p. 178] Ética V – A Ética da Virtude Para Aristóteles, as virtudes são disposições que estão entre extremos. Por exemplo: covarde ----- corajoso ---- imprudente mesquinho --- generoso --- pródigo passivo ------ sereno ------- irascível Ética V – A Ética da Virtude Obs: cuidado com a expressão “meio termo” Ética V – A Ética da Virtude 3. São as mesmas para todos? Depende da virtude. Algumas talvez sejam universais. Outras variam de acordo com a cultura e profissão. Por exemplo: virtudes públicas x virtudes privadas Ética V – A Ética da Virtude Vantagens e desvantagens – Mostra que pessoa boa não é simplesmente aquela que age de acordo com certas regras. Mostra que as pessoas não precisam ser sempre imparciais (amizade, lealdade são virtudes). Não dá orientações precisas sobre como lidar com questões éticas complexas. Revisão > Ética da virtude: O que são virtudes? Quais são as virtudes? São as mesmas para todos? > Vantagens e desvantagens da ética da virtude Próxima aula: Filosofia política I – introdução (ponto 9) Leitura: Nagel, Cap. 8 Perguntas: 1. A desigualdade social é sempre injusta? 2. Quais são as suas causas? Filosofia política I: introdução Ética (filosofia moral): estuda como cada um de nós deve agir. Filosofia política: estuda como agentes públicos devem agir – isto é, como o governo deve agir. Filosofia política I Obs: Anarquismo? Robert Paul Wolff Filosofia política I Mais precisamente: A filosofia política estuda como o governo deve deliberar e agir. Ex: Deve o governo aumentar o imposto de renda? Deve o governo submeter essa questão à votação no Congresso Nacional? Filosofia política I Uma opinião comum é que o governo deve (a) deliberar de forma democrática e (b) agir de forma justa. Filosofia política I (a) significa usar um procedimento decisório que “dê voz” a todas as pessoas interessadas. (b) significa “dar a cada um o que é seu”. Filosofia política I Os dois ideais – (a) e (b) – eventualmente entram em conflito: Ex: Como lidar com uma decisão injusta tomada democraticamente? Filosofia política I Interessa-nos, aqui, a justiça. Em particular: Como deve o governo lidar com a desigualdade social? Filosofia política I O que diz a “internet”: http://blogdomrx.blogspot.com.br/2010/05/porque-os-pobres-sao-pobres.html > Teoria marxista > Teoria biológica > Teoria da estratificação social > Teoria calvinista Filosofia política I A desigualdade social poder ter causas diversas: (a) Discriminação deliberada (b) Diferenças sociais fortuitas (c) Diferenças quanto ao talento dos indivíduos (d) Diferenças quanto ao esforço dos indivíduos Filosofia política I Obs: “direita” e “esquerda”. Desigualdade social? Religiosidade, comportamento sexual, drogas? Revisão > Filosofia política: estuda como governo deve deliberar e agir. > Teoria da democracia: estuda como o governo deve deliberar. > Teoria da justiça: estuda como o governo deve agir. > Desigualdade social e suas causas Próxima aula: Filosofia política II - John Rawls (ponto 10) Leitura obrigatória: Gargarella, pp. 1-15 e 19-31 Pergunta: Quais são e como se relacionam os dois princípios de justiça de Rawls? John Rawls (1921-2002) Filosofia política II Dois princípios de justiça: 1) Princípio da liberdade (PL) Todos têm igual direito a um conjunto de liberdades básicas invioláveis Filosofia política II 2) Princípio da diferença (PD) Diferenças sociais e econômicas existirão, desde que: > Razoavelmente vantajosas para todos > Vinculem-se a empregos e cargos acessíveis a todos Filosofia política II Crítica célebre à teoria do contrato social: o contrato nunca existiu. Filosofia política II O contrato hipotético de Rawls: Que tipo de estado os cidadãos criariam caso se reunissem em condições ideais de deliberação? Filosofia política II Condições ideais são aquelas em que ninguém tem maior poder de barganha. Filosofia política II A “posição original”. Não há idealização sobre a nossa psicologia: > Indivíduos são ambiciosos (≠ invejosos). > Almejam direitos civis e políticos, riqueza, ocupações dignas etc. Filosofia política II Mas os indivíduos deliberam sob o “véu da ignorância”. Desconhecem seu status social, talentos, raça, gênero, ligações políticas e religiosas. Filosofia política II 1) PL: Todos têm igual direito a um conjunto de liberdades básicas invioláveis (direito ao voto, liberdade de expressão e associação, direito de ir e vir etc.) Filosofia política II É de se esperar que os contratantes pensem de acordo com a regra maximin. (1) 10: 8: 1 (2) 7: 6: 2 (3) 5: 4: 4 E se essa também fosse uma opção: 3:3:3? Filosofia política II 2) PD: Diferenças sociais e econômicas existirão, desde que: > Razoavelmente vantajosas para todos (inclusive os menos favorecidos) > Vinculem-se a empregos e cargos (materialmente) acessíveis a todos. Filosofia política II Obs: PL tem prioridade em relação a PD. (Embora o descumprimento de PD possa afetar a implementação de PL) Revisão > Teoria da justiça de Rawls: Princípio da Liberdade, Princípio da Diferença > Contrato hipotético de Rawls: “posição original”, “véu da ignorância” > maximin 1) PL: todos têm igual direito a um conjunto de liberdades básicas invioláveis. 2) PD: diferenças sociais e econômicas existirão, desde que > Sejam razoavelmente vantajosas para todos, e > Vinculem-se a empregos e cargos acessíveis a todos. Próxima aula: Filosofia política III – Nozick (ponto 11) Leitura obrigatória: Gargarella, cap. 2 Perguntas: 1. Quais são os argumentos que Nozick lança contra PD? 2. Quais são os princípios da justiça de Nozick? Robert Nozick (1938-2002) Filosofia política III – Nozick Nozick x Rawls Parte negativa (por que Rawls está errado) Parte positiva (qual é a teoria da justiça correta) Argumentos analógicos 1. Em S1 a maneira correta de agir é M. 2. S1 é análoga a S2 nos aspectos p, q, r... Logo, 3. Em S2 a maneira correta de agir é M. S1: situação hipotética em que a sobrevivência do violinista depende do seu corpo S2: situação em que a sobrevivência de um feto gerado depois de estupro depende do seu corpo 1. Em S1 você tem permissão moral para desligarse do violinista. 2. S1 é análoga a S2, visto que, nas duas, a sobrevivência de outro veio a depender do seu corpo depois de um ato violento, sem o seu consentimento. Logo, 3. Em S2 você tem permissão moral para desligarse do feto. S1: situação hipotética em que nós obrigamos uma indivíduo saudável a sacrificar sua a sua saúde em benefício de um indivíduo doente S2: situação em que nós obrigamos um indivíduo talentoso a ceder os frutos do seu talento em benefício dos outros Contra PD, parte 1. 1. Em S1 não é permitido obrigar um indivíduo saudável a sacrificar sua saúde para beneficiar um doente. 2. S1 é análogo a S2, pois a saúde é tão fortuita quanto o talento. Logo, 3. Em S2 não é permitido obrigar um indivíduo a ceder os frutos do seu talento. Filosofia política III Parte positiva: os princípios de Nozick Tem-se um direito absoluto sobre a riqueza desde que ela seja (i) justamente adquirida e (ii) justamente transferida. Obs: justiça ≠ caridade Filosofia política III (i) Justiça na aquisição de riqueza. Filosofia política III Locke: Toda pessoa pode se apropriar de um recurso desde que deixe quantidade suficiente de recursos de qualidade equivalente para os demais. Nozick (ou o que Locke queria dizer): Toda pessoa pode se apropriar de recursos desde que não prejudique ninguém. Filosofia política III (ii) Justiça na transferência de riqueza. É justa toda transferência consensual entre adultos. Caso Chamberlain. Filosofia política III Para Nozick, desigualdade social é justa desde que resulte de aquisições e transferências justas. Revisão > Robert Nozick > Duas partes da teoria da justiça de Nozick: Parte “negativa” – argumentos contra PD Parte “positiva” – dois princípios de justiça: aquisição e transferência de riqueza Próxima aula: Filosofia Política IV – feminismo (ponto 12) Leitura: Kymlicka, cap. 7, pp. 303-321 e pp. 331-342 Perguntas: 1. É possível dizer que a filosofia política contemporânea é sexista? 2. Por que é que feministas suspeitam da distinção liberal entre “público” e “privado”? Filosofia política IV – Feminismo A filosofia política não costuma ser abertamente sexista como foi no passado. Mas talvez adote uma perspectiva muito masculina... Filosofia política IV Três críticas feministas à filosofia política dominante (Rawls e cia.) 1. A pretensão de “neutralidade quanto ao gênero” não foi satisfeita. Filosofia política IV PD: diferenças sociais e econômicas existirão, mas deverão: > Ser razoavelmente vantajosas para todos > Vincular-se a empregos e cargos acessíveis a todos Filosofia política IV 2. Problemas com a distinção “público x privado” Filosofia política IV O ambiente doméstico é palco de graves injustiças contra a mulheres. Filosofia política IV 3. Ética da justiça x ética do cuidado. Homens e mulheres pensam diferentemente sobre questões morais. Homens → Regras, imparcialidade, cálculo. Mulheres → Compaixão, pessoalidade, negociação. Filosofia política IV Puro preconceito? Talvez não... Filosofia política IV Lawrence Kohlberg: Meninos resolvem conflitos recorrendo a regras universais; meninas enfatizam diálogo e negociação. [Exemplo: Dilema de Heinz.] Revisão A filosofia política de Rawls e cia. é muito masculina: > Discriminação persiste apesar da pretensa “neutralidade quanto ao gênero” > Problemas com a distinção “público e privado” > Ética da justiça x ética do cuidado