O GIRASSOL NA ALIMENTAÇÃO HUMANA Desde muito antes cultivado na Europa como planta ornamental, foi apenas em 1.716, na Inglaterra, que se idealizou um método suficiente prático de extração do óleo da semente de girassol. A expansão da cultura para o Centro e Leste Europeu foi bastante lenta e chegou à União Soviética somente no século XIX, instalando-se em solos da Ucrânia, Kuban e Sibéria. De lá o girassol se difundiu para Romênia, Hungria, Bulgária e Iugoslávia, tornandose rapidamente a principal semente oleaginosa nestes países. Contudo, a cultura atingiu, de modo definitivo, uma posição importante na agricultura européia somente após o primeiro conflito mundial graças às múltiplas vantagens que oferece: capacidade de resistir à seca do verão, boa produtividade, garantia de um produto que se presta à extração do óleo de ótima qualidade do ponto de vista nutricional, da estabilidade e das principais características físicas e químicas. A semente encerra de 20 a 50% de casca e de 50 a 80% de amêndoa. Os lipídeos representam cerca de 45 a 65% na amêndoa e de 1 a 5% na casca; as proteínas, 0 a 30% na amêndoa e 2 a 6% na casca; os carboidratos, 10 a 25% na amêndoa e 85 a 95% na casca; e, os minerais, 3 a 5% e 2 a 4%, respectivamente. A composição química da casca do girassol consiste principalmente de liginina, pentosanas e constituintes celulósicos. Geralmente, as cascas contém mais liginina e menores quantidades de pentosanas e celulose do que outros resíduos agrícolas comuns como a palha, o bagaço de cana de açúcar e o sabugo de milho. As cascas podem ser utilizadas para produção de furfural ou para alimentação animal como elemento fibroso. Grande parte dos lipídeos das cascas de girassol é encontrada sob forma de ceras (ácidos graxos de C14 a C28, principalmente C20 esterificados a álcoois graxos C12 a C30, principalmente C22, C24 e C26). O óleo bruto de girassol apresenta alguns fosfatídeos e material mucilaginoso. Uma vez refinado é adequado a frituras devido ao seu alto ponto de fumaça. Sua composição em ácidos graxos o torna bastante indicado para consumo humano. Apresenta baixos teores de ácidos graxos saturados palmítico e esteárico e pequenas quantidades de palmitoleíco que se deve a boa qualidade de conservação do óleo de girassol. A proporção de porcentagem de ácidos graxos saturados de conservação do óleo de girassol. A proporção de porcentagem de ácidos graxos saturados para insaturados no óleo de girassol é de 15:85, sendo que o óleo pode apresentar 2% ou menos de ácido linolênico. Análises de variedades brasileiras revelaram teores de até 90% de ácidos graxos insaturados (oléico e linoléico) com menos do que 0,5% de ácido linolênico. Os teores de ácido linoléico apresentam uma correlação negativa com a temperatura. Lipídeos de sementes cultivadas em altas temperaturas apresentam menores teores de ácidos graxos mais insaturados. O conteúdo e a qualidade da proteína da semente de girassol dependem de fatores genéticos e ambientais. Na amêndoa das variedades ricas em óleo, os lipídeos e proteínas somam 80 a 83% e estão inversamente correlacionadas. A composição aminoacídica está abaixo de algumas proteínas animais, mas se compara à de outras oleaginosas. A semente de girassol que apresenta cerca de 20% de proteína, quando processada integralmente, fornece um farelo com 25 a 37% de proteína deficiente nos aminoácidos sulfurados e lisina. Farelo de sementes descascadas apresentam até 45-50% de proteína. Em 1948, Smith & Johnsen detectaram a presença de ácido clorogênico, um ácido fenólico, através da cor ocre formada pela adição de hidróxido de sódio ao farelo. Teores percentuais maiores de ácido clorogênico são encontrados nas amêndoas do que nas cascas de girassol. A principal localização do ácido clorogênio é a aleurona. O ácido clorogênico presente no farelo não afeta do ponto de vista nutricional. Entretanto, na preparação de isolados protéicos, durante a extração da proteína em pH alcalino, esse ácido fenólico se oxida e adquire uma coloração verde escura a marrom, afetando as características organolépticas e nutricionais do isolado protéico devido à interação do ácido clorogênico oxidado com a proteína. Estudos de extração de óleo de girassol com etanol anidro e hidratado realizados no Laboratório de Óleos e Gorduras do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da ESALQ-USP confirmaram tanto a eficiência do álcool anidro como solvente extrator de óleo vegetal, bem como introduziram a vantagem da extração do ácido clorogênico com álcool hidratado a 90º GL, em sequência, produzindo matéria-prima isenta de ácido fenólico e adequada para processamento a concentrado e isolado protéico. A eficiência da remoção do ácido clorogênico está diretamente relacionada à granulometria da massa preparada para a extração. Não se encontra registro de consumo humano de girassol oleaginoso. Sua alta porcentagem de casca certamente é um impedimento. Amêndoas de girassol não oleaginosos podem ser tostadas e salgadas. Ainda é pequeno o emprego na alimentação humana de farinhas ou farelos. Referências são encontradas na literatura de administração de grãos e farelos de girassol a animais, substituindo parte da ração ocupada por algodão, milho ou soja. De aplicação direta na alimentação resta o óleo. Hoje já existe o girassol alto oléico, variedade desenvolvida para fornecer um óleo de alta estabilidade à frituras sem necessidade de hidrogenação seletiva. Disponível no mercado brasileiro, o óleo de girassol ao lado dos óleos de milho e soja representam a opção nutricional em óleos polinsaturados contrapondo-se aos óleos monoinsaturados disponíveis, canola e oliva. O consumo de óleos vegetais, quer poli que monoinsaturados, em substituição às gorduras animais, concorre para a redução de incidência de doenças coronárias. Pesquisas sugerem que o ácido linoléico (polinsaturados) reduz moderadamente o colesterol plasmático e os níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade), enquanto que o ácido oléico (monoinsaturado) é neutro em relação à LDL, porém eleva modestamente a HDL (lipoproteína de alta densidade) que se encarrega de transportar o colesterol sanguíneo para excreção hepática. Profª. Drª. Marisa A. B. Regitano-d’Arce. Dep. De Ciência e Tec. Agroind. da Escola Superior de Agric. “Luiz de Queiroz”USP cx 09,CEP 13.418-900 Piracicaba, SP. E-mail: [email protected]