Modelo de Proposta de Projecto PROPOSTA DE TUTORIA DE PROJECTOS Disciplinas de Investigação do Mestrado Integrado em Medicina Orientador responsável (docente ou investigador doutorado da FMUC): Paulo Pereira Centro/Serviço/Instituto: Centro de Oftalmologia - IBILI EMAIL: [email protected] Área Temática do Projecto: Biologia Celular e Molecular. Biologia do Envelhecimento e Doenças Crónicas. Duração do projecto: 2 semestres (indicar especificamente se o projecto é susceptível de ser continuado ao longo do tempo do curso) O projecto é susceptível de ser continuado ao longo do tempo. Financiamento: Sim Não Agência Financiadora: FCT Exigência de competências prévias aos alunos? Sim x Não Quais? Conhecimentos gerais de Biologia Celular e Bioquíimica (não aplicável a alunos do 1º e 2º anos do mestrado integrado) Título do projecto: Diálogo transversal entre a autofagia e a via da ubiquitina-proteassoma: competição ou colaboração? 1 Modelo de Proposta de Projecto Resumo (Max. de 300 palavras): A competência das células para eliminar proteínas lesadas e/ou obsoletas tem uma importância fulcral para o seu funcionamento normal. Uma alteração ou deficiência no funcionamento das vias que conduzem à degradação destas proteínas pode conduzir a diversas patologias. Um exemplo clássico é o das doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson ou a doença de Huntington, onde a acumulação de agregados proteicos é uma das marcas centrais destas patologias. As células possuem várias vias para a degradação e reciclagem de proteínas modificadas. A via da ubiquitina-proteassoma (UPP) é a via melhor documentada. No entanto, nos últimos anos, tem sido sugerido que outras vias como a autofagia, incluindo a macroautofagia e a autofagia mediada por chaperones (CMA), têm um papel relevante na eliminação selectiva de proteínas obsoletas. Até há bem pouco tempo, considerava-se que estas vias funcionavam independente e separadamente. Não obstante, estudos mais recentes sugerem que este paradigma pode ser falso e que vias aparentemente diferentes podem comunicar entre si. Nalguns casos foram já encontrados substratos proteicos que podem ser degradados quer pela via da UPP quer por macroautofagia. Este e outros resultados sugerem que vias aparentemente distintas podem partilhar pontos de contacto e “comunicar”. Neste projecto propõe-se que na sequência de estímulos adequados, as células podem activar simultaneamente vias alternativas para a eliminação de proteínas lesadas. Mais especificamente, procurar-se-á estudar se alguns substratos proteicos podem estar a ser degradados por mais que uma destas vias. Como estimulo de lesão celular serão utilizados os oxisterois, ou óxidos de colesterol. Estes compostos têm propriedades citotóxicas e estão presentes no organismo. Neste projecto propõe-se um novo mecanismo através do qual diferentes vias de degradação proteica podem interagir em resposta a um estimulo específico, de forma a compensarem o funcionamento deficiente de uma destas vias. Esta estratégia contribuiria para minimizar os efeitos tóxicos da acumulação de proteínas lesadas nas células e constituiria assim uma componente estratégica de reparação celular e sobrevivência. 2 Modelo de Proposta de Projecto (área, importância, meios, metodologias, etc.) Objectivos (Max de 500 palavras): Com este estudo pretendemos estudar os efeitos dos oxisteróis como activadores de vias de degradação proteica específicas incluindo autofagia e degradação pela via Ubiquitina-Proteassoma. Procuram-se os mecanismos moleculares que regulam a potencial interacção entre vias de degradação ou resposta ao stress incluindo a UPP, a macroautofagia e a CMA. Mais concretamente procuraremos clarificar se, em resposta a lesões como a induzida pelos oxiesterois, as diferentes vias competem entre si para degradar os substratos, ou se colaboram entre si para minimizar os danos produzidos pela acumulação de proteínas lesadas. Plano de trabalhos (Max de 1500 Palavras): Tarefa 1 Procurar-se-á caracterizar e produzir controlos para as 3 vias de degradação acima referidas: UPP, macroautofagia e CMA. Para este efeito iremos utilizar uma linha celular imortalizada de células do epitélio pigmentado da retina (ARPE-19). Estas células serão incubadas durante espaços de tempo diferentes, na presença ou ausência de diferentes concentrações de oxisteróis. Para verificar se os oxisterois estão a induzir a degradação de proteínas pela via da ubiquitina-proteassoma serão analizados os extractos celulares por western blot, marcando as proteínas com um anticorpo contra a ubiquitina. Desta forma todas as proteínas que estiverem conjugadas com cadeias de poliubiquitina serão marcadas. A conjugação de várias ubiquitinas a uma determinada proteína é um sinal de degradação pelo proteassoma. Assim é possivel verificar se a incubação com os oxisterois aumenta a quantidade de proteínas conjugadas com ubiquitina. Para confirmar que os oxisterois não estão a inibir o proteassoma, mas antes a induzir a degradação de proteínas pela UPP, será analisada a actividade do proteassoma utilizando um substrato fluorogénico. Este substrato emite fluorescência quando clivado e é especifico 3 Modelo de Proposta de Projecto para o proteassoma. Assim é possível relacionar o sinal de fluorescência produzido com a actividade do proteassoma. Para observar a activação da macroautofagia as células com um plasmídeo que codifica a proteína de serão transfectadas fusão EGFP-LC3 e subsequentemente expostas a oxiesterois. A GFP (Green Fluorescent Protein) é uma proteína que emite fluorescência de cor verde quanto excitada com luz azul. A LC3 é uma proteína citoplasmática que é considerada um marcador da macroautofagia. De facto quando há activação da autofagia a LC3 é clivada e translocada para as vesículas autofágicas. Neste caso serão analisados os extractos celulares por western blot, marcando as proteínas com um anticorpo para a GFP. Alternativamente células ARPE-19 serão cultivadas em lamelas de vidro e fixadas para observação por microscopia confocal. A activação da macroautofagia conduz a um aumento da LC3 clivada (LC3-II) e a uma diminuição da LC3 citoplasmática (LC3-I). Paralelamente procura-se avaliar de que forma é que o complexo mTOR é regulado em resposta aos oxisterois. O complexo mTOR é o elemento fulcral na principal via de activação da macroautofagia. A sua activação, nomeadamente através da fosforilação pela Akt, actua como um forte inibidor da macroautofagia. Prevê-se que a presença de oxiesterois conduzirá a uma diminuição dos níveis de Akt na célula. Procurar-se-á assim analisar os níveis celulares de Akt em resposta aos oxiesterois por western blot assim como sobreexpressar esta enzima para tentar recuperar o fenótipo. Para analisar a activação da autofagia mediada por chaperones procede-se à imunoprecipitação da proteína Lamp2. Esta proteína encontra-se na membrana dos lisossomas e é responsável pela entrega de substratos proteicos, que interagem com um complexo de chaperones moleculares, ao lúmen do lisossoma, para subsequente degradação. A imunoprecipitação permitirá ainda coimunoprecipitar proteínas que interagem directamente ou indirectamente com a Lamp2. Depois de imunoprecipitar a Lamp2 as amostras serão analisadas por western blot, marcando com anticorpos para os chaperones moleculares, nomeadamende Hsc70, Hsp90 e Hsp40. Um aumento da actividade da CMA traduz-se por uma maior interacção entre a Lamp2 e os chaperones moleculares referidos. 4 Modelo de Proposta de Projecto Tarefa 2 Com o objectivo de verificar se os oxisteróis podem induzir a degradação de alguns substratos do proteassoma por macroautofagia, as células ARPE-19 serão transfectadas com EGFP-LC3, incubadas na presença de oxisterois e/ou 3-MA, um inibidor da macroautofagia, e fixadas em lamelas. As preparações serão então marcadas com anticorpos para a ubiquitina. O recurso a esta técnica de imunofluorescência permite avaliar a eventual colocalização de vesículas autofagicas com proteínas conjugadas com ubiquitina. Procurar-se-á ainda observar a distribuição subcelular das vesículas recorrendo à marcação dos núcleos com a sonda Hoescht, já que em alguns casos foi observada a localização deste tipo de vesículas autofágicas na região perinuclear, rodeando grandes agregados proteicos (agressomas). Adicionalmente procurar-se-á marcar as células com anticorpos contra a vimentina ou contra a tubulina para confirmar a formação de agressomas, pois existe uma colocalização entre o citosqueleto e estas estruturas. Tarefa 3 A CHIP (carboxyl terminus of Hsc70 Interacting Protein) é uma proteína que interage com o chaperone Hsc70 e que apresenta ao mesmo tempo actividade de ligase de ubiquitina (E3). As ligases de ubiquitina estão na base de uma reacção sequencial que, juntamente com outras enzimas, conjuga ubiquitina às proteínas. A formação de cadeias longas de ubiquitina é um sinal de degradação pelo proteassoma. Considera-se actualmente que proteínas como a CHIP são uma parte essencial do controlo de qualidade proteico efectuando a triagem de proteínas obsoletas. Uma das hipóteses que está na base deste projecto é a que sugere que substratos que seriam normalmente dirigidos para a via da UPP pela CHIP, sejam degradados pela via da CMA, devido à sua relação estreita com os chaperones moleculares. Com este objectivo procurase avaliar se existe interacção entre a maquinaria de CMA e a CHIP. Para isso a Lamp2 de células ARPE-19 incubadas com oxiesterois ou inibidores do 5 Modelo de Proposta de Projecto proteassoma é imunoprecipitada. Procura-se determinar se a CHIP coimunoprecipita com a Lamp2, sugerindo uma interacção entre a duas proteínas. Esta hipótese será ainda confirmada através do isolamento dos lisossomas das ARPE-19, pesquisando-se os extractos por habituais substractos da CHIP. Como controlos as células ARPE-19 serão transfectadas com CHIP mutada no domínio de interacção com a Hsc70. Essas CHIP mutadas vão competir pelos substratos com a CHIP selvagem, actuando como dominantes negativos. (fases, objectivos, metodologias, resultados de cada fase, calendarização, etc.) Competências específicas do projecto a adquirir pelo aluno: O aluno deve participar no desenho de um projecto de investigação e desempenhar algumas tarefas de laboratório que permitam testar e responder a uma hipótese de trabalho. O aluno deve ainda aprender a analisar de modo critico os resultados obtidos e saber discuti-los na forma escrita e oral. O aluno deve ainda saber estabelecer a relevância dos resultados obtidos para o avanço do conhecimento nesta área. (Entre outros requisitos, os alunos deverão ser capazes de formular uma hipótese científica; ser capazes de desenhar um projecto científico e identificar a sua relevância face ao estado do actual do conhecimento; saber desenhar experiências científicas aplicando protocolos específicos; saber interpretar e discutir de forma crítica os resultados obtidos; descrever e expor oralmente os resultados obtidos.) 6 Modelo de Proposta de Projecto 7