WWW.ALUNONOTA10.COM.BR A Crise de 1929 L ogo após o término da I Grande Guerra, sobretudo a partir de 1922, quando a França e a Inglaterra conseguiram saldar seus débitos com os EUA, a industria de bens de consumo norte-americana teve uma expansão acelerada. Os capitais excedentes foram aplicados em pesquisa e mecanização, sendo aperfeiçoada a produção em série, principalmente de aparelhos eletrodomésticos e automóveis. Favorecida pelas altas taxas protecionistas adotadas pelo governo, a indústria americana prosperou. O crescimento do mercado interno foi estimulado pela compra a crédito. A euforia tomou conta da população, embora as bases desse desenvolvimento desenfreado fossem frágeis.Todos passaram a ter como meta a aquisição de automóveis, rádios, telefones e eletrodomésticos em geral, criando uma falsa aparência de bemestar, consolidada no padrão do modo de vida americano (american way of life). Os EUA, que haviam passado da posição de maiores devedores dos europeus, antes da guerra, para principais credores de diversos países, deixaram-se levar pela onda progressista que influenciou toda a cultura da época. Mas esse crescimento acelerado encobria também a formação de imensas fortunas ilícitas, obtidas com o consentimento de altas figuras do governo, minado pela corrupção. A procura de produtos era sustentada pelos salários crescentes, pelos altos índices de emprego (apenas 5% de desempregados) e pela expansão do crediário. Produtos, outrora artigos de luxo, baixaram de preço, enquanto os salários subiam. O que era luxo passou a ser necessidade. Mas nem tudo era prosperidade. Como afirma o economista norte-americano John Kenneth Galbraith: "Os negros do Sul e os brancos dos Apalaches meridionais continuavam a viver numa pobreza desesperadora. Lindas casas ao estilo inglês antigo, estavam sendo construídas na zona dos clubes ricos, enquanto em pontos mais distantes da cidade encontravam-se as favelas mais infectas fora do Oriente". Foi o período da Lei Seca, com a proibição do fabrico de bebidas alcoólicas, que objetivava resguardar uma sociedade tida como moralmente exemplar. Nada soava mais falso, pois essa proibição só fez estimular o gangsterismo, especializado tanto na manufatura e distribuição de bebidas, como no contrabando, nos jogos de azar, nas drogas e na prostituição. Essa postura conservadora também pode ser observada na desenfreada defesa dos ideais nacionais, que se manifestava contra as minorias não protestantes, imigrantes, negros e judeus, vítimas do braço armado e ilegal dos radicais direitistas da Ku Klux Klan. Entretanto, em meados da década de 20, começaram a aparecer os primeiros sinais de fragilidade desse sistema, tido até então como modelo da sociedade ideal. No campo, o fornecimento de gêneros alimentícios para a Europa em guerra estimulara o aumento das áreas de plantio, principalmente do trigo. Baseando-se nos altos preços do mercado internacional, os agricultores hipotecavam suas terras junto aos bancos a fim de obter financiamentos para a expansão das propriedades e a mecanização da produção. Quando a Europa do pós guerra adotou tarifas protecionistas para se reerguer, a superprodução de grãos norte-americana não encontrou mais mercado e os preços começaram a baixar. Obrigados a pagar altas taxas para o armazenamento de suas enormes safras, os fazendeiros não conseguiram mais resgatar suas dívida acumulada, o que os levou à falência. Nas cidades, a expansão industrial tendeu a concentrar a renda numa pequena camada da população, sem que a classe trabalhadora se beneficiasse dos frutos de seu trabalho. Isso porque os salários permaneceram inalterados, não havendo uma distribuição igualitária das riquezas. Além disso, a mecanização crescente começou a provocar a dispensa de operários, resultando num aumento da massa ociosa, sem proteção contra o desemprego. Essa camada empobrecida, à qual somavam os despossuidos do campo, deixou de consumir pelo simples fato de não ter mais renda alguma. Com o mercado externo já retraído, essa incapacidade interna de consumo generalizou a crise no país, atingindo até mesmo os mais prósperos setores da economia. O Crack da Bolsa de Nova York A bolsa de valores é o lugar onde se negociam ações que representam o capital de uma empresa. De 1920 a 1929, os norteamericanos, incentivados pela prosperidade aparente, compraram desenfreadamente ações das mais diversas empresas. No momento em que algumas delas faliram é que os acionistas se aperceberam de terem pagado muito mais do que elas realmente valiam. Em pânico, todos os investidores passaram a querer vender suas ações, provocando uma vertiginosa baixa no seu valor. Wall Street, o centro financeiro o, entrou em declínio, até que em 24 de outubro - dia conhecido como a quinta-feira negra - milhões de títulos não encontraram compradores. Esse episódio foi o estopim para a grande crise. O otimismo cedeu lugar ao medo. Em três anos, os salários caíram 40%, apenas nos EUA, 4mil bancos faliram, 14 milhões de pessoas ficaram desempregadas e a renda nacional foi reduzida em 50%. A vertiginosa queda nas cotações da Bolsa de Nova York teve catastróficas conseqüências para o país e atingiu todas as nações capitalistas, por causa da dependência entre elas e da intrincada rede de relações econômico-financeiras do sistema. Em linhas gerais, pode-se dizer que a Grande Depressão resultou principalmente da superprodução industrial e agrícola, que foi se evidenciando quando o mercado interno não conseguiu mais absorver a produção que se desenvolvera muito rapidamente para atender à demanda externa durante a guerra. Formou-se então um círculo vicioso: queda de exportações, superprodução, menor lucro, diminuição da produção, desemprego, 55 WWW.ALUNONOTA10.COM.BR A Crise de 1929 maior queda de consumo e assim, sucessivamente, até a queda da Bolsa de Nova York em 1929. A crise estendeu-se às demais nações quando os EUA pediram a repatriação dos capitais emprestados aos europeus, pondo fim ao crédito para estrangeiros. Os países produtores de matériasprimas também foram atingidos, sobretudo os latino-americanos que não encontravam mais onde colocar suas exportações, como o Brasil, com o café, e a Argentina, com o gado. As tradicionais propostas liberais de controle cambial e deflagração não conseguiram deter a Grande Depressão, comprovando de forma definitiva a debilidade do capitalismo concorrencial e a falência desse modelo econômico. O New Deal Os Estados Unidos, até a crise da década de 30, ainda se apoiavam prioritariamente nas teorias dos chamados economistas clássicos do século XVII. A intervenção do Estado na economia era rechaçada pela unanimidade dos empresários. Três anos após o início da crise, Franklin Roosevelt foi eleito presidente dos EUA e percebeu que, para salvar o capitalismo da crise, teria de haver interferência do Estado, ainda que pequena. Elaborou em conjunto com diversos economistas um plano denominado New Deal. Esse plano estimulava os investimentos, prevendo a intervenção do Estado na economia pela construção de estradas, barragens, aeroportos, portos e habitações populares. Os gastos governamentais em atividades produtivas reempregariam contingentes da população, recuperando seu poder de compra. Com isso reapareceria a procura de produtos, incentivando a produção das indústrias, que, por sua vez, readmitiriam trabalhadores, dando prosseguimento ao ciclo de recuperação econômica. O New Deal obteve resultados positivos para a economia norteamericana, e a superação só não se efetuou com maior eficácia porque o programa de investimentos do governo nunca alcançou as proporções necessárias para estabelecer o pleno emprego. O programa proposto esbarrava nas acusações vindas do meio empresarial, assustado com as atividades governamentais além de seus limites tradicionais. Assim, os efeitos econômicos da depressão de 30, apesar de minorados pelo New Deal, só foram totalmente superados com o início da II Guerra Mundial, quando o intervencionismo do Estado na economia foi muito mais efetivo e a possibilidade de exportações norte-americanas ampliou-se. 01. (UNICAMP) Após a 1ª Guerra Mundial os Estados Unidos se tornaram o país mais rico do mundo, consolidando o chamado “sonho americano”. Essa riqueza provinha em grande parte do crescimento e do avanço técnico da indústria, o que por um lado resultava na maior oferta de produtos industrializados baratos, mas por outro ocasionava um crescente desemprego de operários substituídos por máquinas. O desemprego e as altas aplicações de dinheiro no mercado de ações ajudaram a desencadear uma crise de repercussão mundial. Identifique essa crise e analise suas principais conseqüências para os Estados Unidos. 02. (UNICAMP) “Uma família isolada mudava-se de suas terras. 56 O pai pedira dinheiro emprestado ao banco e agora o banco queria as terras. A companhia das terras quer tratores em vez de pequenas famílias nas terras. Se esse trator produzisse os compridos sulcos em nossa própria terra, a gente gostaria do trator, gostaria dele como gostava das terras quando ainda eram da gente. Mas esse trator faz duas coisas diferentes: traça sulcos nas terras e expulsanos dela. Não há quase diferença entre esse trator e um tanque de guerra. Ambos expulsam os homens que lhes barram o caminho, intimidando-os, ferindo-os.” (John Steinbek, AS VINHAS DA IRA, 1972) a) De acordo com o texto, como pode ser caracterizada a situação do camponês norte-americano após a crise de 1929? b) Cite duas medidas adotadas pelo programa de reformas de Roosevelt (New Deal) para solucionar os problemas sociais criados pela crise de 1929. 03. (FUVEST) “A crise atingiu o mundo inteiro. O operário metalúrgico de Pittsburgo, o plantador de café brasileiro, o artesão de Paris e o banqueiro de Londres, todos foram atingidos”. Paul Raynaud - LA FRANCE A SAUVÉ L’EUROPE, T. I. Flamarion O autor se refere à crise mundial de 1929, iniciada nos Estados Unidos, da qual resultou: a) o abalo do liberalismo econômico e a tendência para a prática da intervenção do Estado na economia. b) o aumento do número das sociedades acionárias e da especulação financeira. c) a expansão do sistema de crédito e do financiamento ao consumidor. d) a imediata valorização dos preços da produção industrial e fim da acumulação de estoques. e) o crescimento acelerado das atividades de empresas industriais e comerciais, e o pleno emprego. 04. (VUNESP) A crise capitalista desencadeada em 1929 nos EUA e na Europa Ocidental estendeu-se para a América Latina contribuindo para: a) a revogação de todas as tarifas protecionistas, o intervencionismo estatal e a substituição de importações. b) abalar o poder das oligarquias e o surgimento de regimes populistas e ditaduras conservadoras. c) a modernização do campo através do deslocamento de mãode-obra que sobrevivia precariamente nas cidades. d) Juan Domingo Perón destacar-se como governante populista no México. e) a ruptura da estrutura de espoliação do povo latino-americano. 05. (UFPR) A crise econômica de 1929, por sua profundidade e extensão, atingiu todo o mundo ligado ao capitalismo. Quais foram os efeitos dessa crise no Brasil, sob os aspectos econômico e político? 06. (FAAP) A "Lei Seca". Entrou em vigor a emenda constitucional XVIII, conhecida como "Lei Seca", que proibia a fabricação e venda de bebidas alcoólicas. Motivou o contrabando, a falsificação e o aparecimento do gangsterismo, em algumas cidades norteamericanas, no governo de: a) Roosevelt b) Woodrow Wilson c) Truman d) MacArthur e) Lincon Gabarito 01. 02. 03. a 04. b 05. 06. b