1 Neurociência e Saúde Mental ALTERAÇÃO DA ORIENTAÇÃO Existem duas estruturas temporais, o tempo subjetivo e o tempo objetivo, correspondentes respectivamente ao tempo do eu e ao tempo do mundo. O primeiro equivale ao tempo interior ou verdadeiro; e, o segundo, é o tempo cronológico. Alterações das vivências do tempo e do espaço podem ser observadas em estados patológicos neuróticos e psicóticos e sempre que estiver prejudicada a relação entre o eu e o mundo. Há dias muito agradáveis que nos deixam a impressão de terem transcorrido muito rápido, enquanto a mesma quantidade de tempo passada em situação desagradável parece durar uma eternidade. Também o tempo de espera de algum acontecimento bom parece excessivamente longo. A mesma distância de um dado percurso parecerá maior ou menor, conforme, esteja-se empenhado em percorrê-lo com mais ou menos prazer. Nos estados depressivos e obsessivos, observa-se uma lentificação, retardamento do tempo. Contrariamente ao que ocorre na ansiedade e dependência de drogas. As esquizofrenias alteram as vivências temporais. A perda da continuidade da consciência do tempo também ocorre nos estados de euforia do transtorno do humor. Em relação às alterações espaciais, têm-se as alterações do espaço natural que são aquelas que implicam na quebra da relação do corpo com o seu ambiente produzindo modificações do tamanho e forma observada na macropsia e micropsia; são fenômenos presentes nos delírios, psicoses esquizofrênicas, epilepsias (auras, estados crepusculares) e intoxicações exógenas. No tocante as alterações do espaço intuitivo, relacionam-se a certas fobias, pois envolve conteúdos simbólicos como medo de ficar em lugares fechados, muita gente, etc. Assim sendo, a orientação é um estado psíquico funcional consciente que depende da integridade psíquica que uma vez perturbada altera-se. Esta orientação pode ser autopsíquica e alopsíquicas. O indivíduo está orientado quanto fornece ele próprio dados de sua identificação pessoal, revelando saber quem é, como se chama, que idade tem, qual sua nacionalidade, profissão, estado civil, etc. Este atributo recebe o nome de orientação Autopsíquica. Saber perfeitamente onde se encontra, o dia, o mês e o ano atuais e qual a sua situação em relação ao ambiente, estabelecer associações coerentes entre o momento presente e o passado, ter noção exata do tempo ou da época em que se encontra chama-se orientação Alopsíquica. Donde se infere que a orientação global do indivíduo carece do funcionamento global e associado das funções psíquicas como sensopercepção, atenção, memória, juízo de valor e raciocínio. A avaliação da orientação implica informar-se sobre as noções do indivíduo sobre si, sobre seu estado atual e sobre suas relações com o ambiente. Observa-se na 2 Neurociência e Saúde Mental desorientação autopsíquica que o indivíduo não “sabe quem é” fato este comum em ocorrências que envolvem amnésias traumáticas, obnubilação da consciência e demências. Nos esquizofrênicos pode ocorrer uma orientação verdadeira e falsa simultaneamente, exemplo: paciente internado que diz estar na Igreja por acreditar estar atendendo a um chamado divino e que admite, ao mesmo tempo, estar no hospital se tratando. Já no delirium tremens, tem-se conservada a orientação autopsíquica e desorganizada a alopsíquica. Os deficientes mentais perdem a orientação no tempo, depois no espaço e, por fim, em si. A desorientação global pode surgir nos estados crepusculares epilépticos e histéricos, nas síndromes confusionais psicóticas e infecções agudas. As desorientações podem ser: 1. apática decorrente de alterações da vida instintivo-afetiva. Há lucidez e clareza sensorial com perda do interesse, inibição psíquica do raciocínio. Típica da depressão; 2. amnéstica caracteriza-se pela incapacidade para fixar os acontecimentos, orientar-se no tempo-espaço e em suas relações com as pessoas do ambiente; 3. amencial nos casos de obnubilação da consciência que se acompanham de dificuldades da compreensão e alterações da síntese perceptiva; observado no delirium tremens e nas psicoses orgânicas; 4. delirante observada nas psicoses esquizofrênicas onde, apesar da completa lucidez da consciência, observa-se um tipo de desorientação resultado da adulteração da situação no tempo e no espaço; 5. desdobramento da personalidade se caracteriza pela autossugestão, comum nos histriônicas ocorrendo desorientação autopsíquica com desdobramento em outra personalidade; 6. despersonalização caracterizada por um inexplicável sentimento de estranheza típica dos estados febris e certas intoxicações exógenas. ________________________ Dr. Maurício Aranha - Sócio-Fundador da ANERJ - Associação dos Neurologistas do Estado do Rio de Janeiro. Filiado da SBNeC - Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento da USP. Filiado da APERJ Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (Federada da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria e da WPA - Associação Mundial de Psiquiatria). Pesquisador do Núcleo de Ciências Médicas, Psicologia e Comportamento do Instituto de Ciências Cognitivas. Formação: Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil. Psiquiatria Forense pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Psiquiatria pela Universidade Estácio de Sá, Brasil. Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Grupo de Ação Educacional, Brasil. Psicologia Analítica pela Universidade Hermínio da Silveira e Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, Brasil. Neurolingüística pelo Instituto NLP in Rio & NLP Institut Berlin, Brasil/Alemanha. Neurociência e Saúde Mental pelo Instituto de Neurociências y Salud Mental da Universidade da Catalunya, Espanha. E-mail: [email protected]