ANO XV Nº 124 DEZEMBRO/2000 CFM ESTÁ EMPENHADO NA MELHORIA DA RESIDÊNCIA MÉDICA – PÁGS. 22 E 23 CFM - AMB Arte: Divanir Jr. UMA PARCERIA DE SUCESSO ESPECIAL: O BALANÇO DO PRIMEIRO ANO DE GESTÃO DAS NOVAS DIRETORIAS DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA E DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA MOSTRA QUE O TRABALHO EM CONJUNTO TROUXE EXCELENTES RESULTADOS PROJETO TRAUMA: UMA CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA APROVADO PROJETO QUE AMPLIA PENA DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL PÁG. 4 PÁG. 23 – PÁGS. 7 A 20 POLÍTICA MÉDICA PARA SUA INFORMAÇÃO Marcio Arruda O secretário-geral do CFM, Rubens dos Santos Silva, e o presidente da Associação Médica Brasileira, Eleuses Vieira de Paiva, acompanhados de dirigentes de diversas entidades médicas, foram recebidos em audiência pelo presidente do Congresso Nacional, senador Antônio Carlos Magalhães, no dia 12 de dezembro. Na audiência, o presidente do Senado foi cumprimentado por sua atuação em favor de diversos projetos relacionados à medicina e à saúde pública. Tanto Rubens dos Santos Silva quanto Eleuses Paiva ressaltaram a importância da ação do Congresso para a melhoria das condições de saúde no Brasil. O senador Antônio Carlos Magalhães, por sua vez, destacou a atuação das entidades e comprometeu-se a manter constante apoio às iniciativas legislativas de interesse do setor saúde. MATERNIDADE SEGURA A conselheira e vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Lívia de Barros Garção, participou do I Congresso Brasileiro sobre Maternidade Segura e Saúde Reprodutiva, promovido pela Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília e Instituto Maternidade Segura. O evento foi realizado em Brasília, no período de 15 a 18 de novembro, com a participação de especialistas e dirigentes de entidades médicas do Distrito Federal. Na oportunidade, Lívia Garção participou de reunião com representantes do Ministério da Saúde, Febrasgo, Conselho Federal de Enfermagem e Organização PanAmericana da Saúde (Opas), para a discussão de medidas de combate à mortalidade materna. Médica, realizados em São Paulo no período de 17 a 18 de novembro. Promovido pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Associação Paulista de Medicina (AMP), o evento reuniu dirigentes de entidades médicas de São Paulo e de todo o país, além de autoridades ligadas às áreas de saúde e de defesa do consumidor, para discutir e propor soluções aos problemas do sistema de saúde, tanto público quanto privado. Como representante do CFM, Edson Andrade abordou o tema Autonomia do médico no sistema privado de saúde e participou dos debates sobre os modelos e sistemas privados de saúde. No dia 1º, esteve também presente em Manaus (AM), na II Convenção Nacional do Sistema Unicred. UNIMED CONGRESSO O presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade, participou como palestrante do I Congresso Brasileiro e II Congresso Paulista de Política 2 MEDICINA CONSELHO FEDERAL Os conselheiros Abdon José Murad Neto e Marisa Fratari Tavares de Souza representaram o Conselho Federal de Medicina na 3ª Jornada Médica do Norte de Mato Grosso, realizada entre os dias 17 e 19 no municí- pio de Sinop, com a participação de profissionais e lideranças médicas de toda a região. Durante o evento, promovido pela Unimed Norte do Mato Grosso, os conselheiros discorreram sobre o tema O ato médico e a sociedade contemporânea. FARMACÊUTICOS O conselheiro Roberto Luiz D’Avila representou o Conselho Federal de Medicina no IX Encontro Estadual dos Farmacêuticos e Bioquímicos, VII Congresso Catarinense de Farmacêuticos e Bioquímicos e I Encontro de Farmacêuticos do Mercosul, promovidos pelo Sindicato dos Farmacêuticos, em Santa Catarina. No evento, realizado de 2 a 5 de novembro, Roberto D’Avila participou de mesa-redonda sobre o tema Medicamentos genéricos, da prescrição à dispensação. Contando com a participação de profissionais da saúde, de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e de usuários dos conselhos estaduais e municipais de saúde, o seminário discutiu a política de medicamentos e o desenvolvimento da saúde pública no país. MEDICINA DO TRABALHO O presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Casimiro Pereira Júnior, representou o Conselho Federal de Medicina na 2ª Reunião Ordinária do Grupo de Trabalho Tripartite (GTT) sobre Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt), realizada no mês passado, em São Paulo. Durante o encontro, foi assinado o Regimento Interno do GTT, com a apresentação, pelas bancadas presentes, das posições de conceito, aplicabilidade e urgência no âmbito da referida regional de atuação do Grupo de Trabalho. Os conselheiros Ida Peréa Monteiro, Roni Marques e Mozart Rosa Abelha representaram o Conselho Federal de Medicina na reunião das Câmaras Técnicas de Cirurgia e Obstetrícia da Agência Nacional de Saúde (ANS). Dezembro/2000 UM ANO DE BOM COMBATE Ag. Keystock Caros e caras colegas, V ocês estão recebendo um jornal diferente. Neste fim de ano, o MEDICINA e o JAMB estão unidos em algo muito maior que uma experiência gráfica. Estão unidos para fazer uma prestação de contas conjunta à categoria médica das duas entidades que os editam. Neste ano que finda, procuramos levar uma política para a saúde brasileira que fosse unitária, mas sem perder as características próprias de cada entidade; que fosse voltada para a categoria, mas que não descuidasse dos interesses maiores da sociedade e, por fim, mesmo privilegiando o coletivo, não esquecesse que cada indivíduo traz o todo dentro de si. Foi um ano de boa luta. Se em alguns momentos parecia que a derrota se avizinhava, logo a certeza de estarmos no caminho correto nos proporcionava as forças que necessitávamos para continuar pelejando. Vários foram os campos onde os combates se deram: CADE, planos de saúde, SUS, ensino médico, entre outros. De tudo, restou a sensação do bom combate. De todos, sempre ficou a certeza de que lutávamos por uma profissão constituída por elementos valorosos, dotados de uma qualidade profissional, quer no ponto de vista técnico-científico quanto ético, elevada. Andamos muito; sonhamos mais ainda; e se a meta se afigura longe, isto é apenas um desafio mais forte para caminharmos em frente. Junte-se a nós e vamos todos construir uma sociedade melhor e mais justa. Um abraço amigo de Edson Andrade e Eleuses Paiva MEDICINA CONSELHO FEDERAL Órgão Oficial do Conselho Federal de Medicina PERIODICIDADE MENSAL SGAS 915, Lote 72 - CEP 70 390-150 Brasília (DF) Tel: (61) 346 9800 Fax: (61) 346 0231 http://www.cfm.org.br e-mail: [email protected] DIRETORIA PRESIDENTE EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE 1ª VICE-PRESIDENTE LÍVIA BARROS GARÇÃO 2º VICE-PRESIDENTE MARCO ANTÔNIO BECKER (LICENCIADO) 3º VICE-PRESIDENTE ABDON JOSÉ MURAD NETO SECRETÁRIO-GERAL RUBENS DOS SANTOS SILVA 1º SECRETÁRIO LUIZ SALVADOR DE MIRANDA SÁ JÚNIOR 2º SECRETÁRIO FRANCISCO DAS CHAGAS DIAS MONTEIRO 1º TESOUREIRO GENÁRIO ALVES BARBOSA 2ª TESOUREIRO MARISA FRATARI TAVARES DE SOUZA CORREGEDOR ROBERTO LUIZ D'AVILA CORPO DE CONSELHEIROS Informações e dúvidas sobre planos de saúde no site http://www.planosdesaude.org.br Dezembro/2000 ABDON JOSÉ MURAD NETO (MARANHÃO), ANTONIO HENRIQUE PEDROSA NETO (ALAGOAS), ANTÔNIO GONÇALVES PINHEIRO (PARÁ), DARDEG DE SOUSA ALEIXO (AMAPÁ), EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE (AMAZONAS), EVILÁZIO TEUBNER FERREIRA (MINAS GERAIS), FRANCISCO DAS CHAGAS DIAS MONTEIRO (CEARÁ), GENÁRIO ALVES BARBOSA (PARAÍBA), GERSON ZAFALON MARTINS (PARANÁ), JOSÉ HIRAN DA SILVA GALLO (RONDÔNIA), LÍVIA BARROS GARÇÃO (GOIÁS), LUIZ SALVADOR DE MIRANDA SÁ JÚNIOR (MATO GROSSO DO SUL), LUIZ NÓDGI NOGUEIRA FILHO (PIAUÍ), MARCO ANTÔNIO BECKER (RIO GRANDE DO SUL) LICENCIADO, MAURO BRANDÃO CARNEIRO (RIO DE JANEIRO), MARISA FRATARI TAVARES DE SOUZA (MATO GROSSO), OLIVEIROS GUANAIS DE AGUIAR (BAHIA), PEDRO PABLO MAGALHÃES CHACEL (DISTRITO FEDERAL), REGINA RIBEIRO PARIZI CARVALHO (SÃO PAULO), RICARDO FRÓES CAMARÃO (ACRE), RICARDO JOSÉ BAPTISTA (ESPÍRITO SANTO), ROBERTO LUIZ D'AVILA (SANTA CATARINA), RODRIGO ORLANDO NABUCO TEIXEIRA (SERGIPE), RUBENS DOS SANTOS SILVA (RIO GRANDE DO NORTE), SILO TADEU SILVEIRA DE HOLANDA CAVALCANTI (PERNAMBUCO), SOLIMAR PINHEIRO DA SILVA (TOCANTINS), WIRLANDE SANTOS DA LUZ (RORAIMA) E REMACLO FISCHER JÚNIOR (AMB) CONSELHO EDITORIAL MARCO ANTÔNIO BECKER EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE EVILÁZIO TEUBNER FERREIRA LUIZ NÓDGI NOGUEIRA FILHO LUIZ SALVADOR DE MIRANDA SÁ JR. OLIVEIROS GUANAIS DE AGUIAR CONSELHO CIENTÍFICO LEONARDO MAURICIO DINIZ CONSELHO DE BIOÉTICA SÉRGIO IBIAPINA FERREIRA COSTA GABRIEL OSELKA ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ANTONIO MARCELLO COLABORADORES JOÃO AMÍLCAR SALGADO CÉSAR TEIXEIRA - AMB R EDAÇÃO JALES M ARINHO E DIÇÃO JCL/B RASIL P UBLICIDADE C OLUNA MEDNET ANDERSON ROMAN DIAGRAMAÇÃO E EDIT. ELETRÔNICA DIVANIR JUNIOR - MTB 4536/014/49V S ELEÇÃO DE A RTE NAPOLEÃO M ARCOS DE AQUINO C OPIDESQUE , R EVISÃO E E STILO NAPOLEÃO M ARCOS DE AQUINO SECRETÁRIA DE REDAÇÃO ANA NEVES FOTOLITO SCREEN BUREAU IMPRESSÃO IMPRES TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 280.000 EXEMPLARES JORNALISTA RESPONSÁVEL JALES MARINHO - DRT/DF 1688/86 MUDANÇAS DE ENDEREÇO DEVEM SER COMUNICADAS DIRETAMENTE AO CFM OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFM A PÁGINA “FALA MÉDICO” ESTÁ ABERTA PARA COLABORAÇÕES. OS ARTIGOS DEVEM TER 35 LINHAS. SERÃO OBSERVADOS OS CRITÉRIOS DE ATUALIDADE DO ASSUNTO E ORDEM DE CHEGADA PARA PUBLICAÇÃO MEDICINA CONSELHO FEDERAL 3 BRASIL MÉDICO PROJETO TRAUMA: UMA CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA COORDENADORES PLANTARAM 130 MIL CRUZES NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, REPRESENTANDO AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA NO PAÍS, NO ANO PASSADO. SEGUNDO DADOS DIVULGADOS PELO MOVIMENTO, DESSE TOTAL 38,9 MIL FORAM VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO E OUTROS 30% DE ASSASSINATOS – EXCETUADAS AS VÍTIMAS DE SEQÜELAS, ESTIMADAS EM 300 MIL 4 MEDICINA CONSELHO FEDERAL O presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade, e o conselheiro Roberto D´Avila compareceram ao ato ecumênico realizado no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília, em intenção dos milhares de brasileiros vítimas da violência no país. O ato foi promovido pela Comissão Executiva do Projeto Trauma, criado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), com a participação e apoio financeiro de entidades como o CFM, os conselhos regionais de Medicina, a Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT), o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e o Corpo de Bombeiros, além do Ministério da Saúde. O ato, alusivo à Semana do Trauma, contou com a presença do vicepresidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, e de representantes de todas as igrejas cristãs e evangélicas de Brasília, além do coordenador da Pastoral e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mais do que rezarem pela paz e a não-violência, os promotores do evento distribuíram um manifesto em defesa de uma cultura de paz, conclamando os brasileiros a se comprometerem com o respeito à vida, o combate à exclusão social e às injustiças, a defesa da liberdade de expressão e da diversidade cultural, a preservação da natureza e a maior participação no desenvolvimento das comunidades em que vivem. Falando ao MEDICINA, um dos coordenadores do Projeto Trauma, Dário Birolini, alertou para a necessidade de maior participação da sociedade nesse movimento ressaltando que com isso seria possível reduzir em cerca de 50% as 130 mil mortes que ocorrem anualmente no país pelos mais diversos tipos de trauma. Segundo ele, com maior prevenção e melhor treinamento dos recursos humanos que atuam nos primeiros socorros de acidentados, o número de mortes poderia cair ainda mais. E o mais grave, segundo Birolini, é que essa violência atinge particularmente a população mais jovem, sendo considerada a principal causa de morte. Na faixa etária de até 40 anos, as mortes violentas lideram as estatísticas. Considerando todas as faixas etárias, as mortes por trauma caem para a terceira posição, ultrapassadas apenas pelas doenças cardiovasculares e o câncer – nas Américas, o Brasil ocupa a 5ª posição nos casos de mortes violentas. ses números e equacionar este grave problema social", acrescentou. Birolini disse que o movimento foi iniciado há cerca de quatro anos por médicos ligados à Sociedade Brasileira de Ortopedia, angustiados com o drama vivido pelas vítimas de acidentes e da violência cotidiana e preocupados com a possibilidade de a violência transformar-se em calamidade pública. Com a realização da Primeira e da Segunda Semana do Trauma, o movimento ampliou-se e ganhou o apoio não apenas de entidades médicas mas de lideranças políticas de todo o país. Durante a Semana do Trauma, os coordenadores plantaram 130 mil cruzes na Esplanada dos Ministérios, representando as vítimas da violência no país, no ano passado. Segundo dados divulgados pelo movimento, desse total 38,9 mil foram vítimas de acidentes de trânsito e outros 30% de assassinatos – excetuadas as vítimas de seqüelas, estimadas em 300 mil. Segundo Dario Birolini, os custos para a sociedade não são apenas sociais. O mesmo estudo revela que o país gasta cerca de 8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com o tratamento hospitalar de pessoas traumatizadas, o que representa aproximadamente R$ 100 bilhões, quantia que poderia estar sendo investida em educação, saúde e na melhoria das condições de vida dos brasileiros. Birolini admitiu que com a Semana do Trauma as entidades médicas esperam mobilizar a sociedade e conscientizá-la da necessidade de valorizar a vida e não banalizar a violência. Do Governo e das lideranças políticas disse esperar que se abram para o diálogo construtivo na busca de soluções para o problema que, em sua opinião, não se resolve apenas com mudanças da legislação ou abertura de hospitais, mas sim com a mudança de cultura e conscientização da população. Destacou, ainda, a necessidade de uma melhor formação dos recursos humanos que atuam diretamente com o problema. “Entendo que não bastam hospitais e equipamentos modernos. É fundamental contarmos com médicos, enfermeiros e auxiliares melhor preparados em todo o país para atender a essa crescente demanda", explicou. Desde seu lançamento, o Projeto Trauma já treinou cerca de 13 mil médicos em vários estados, mas a idéia é ampliar ainda mais esses números. Marcio Arruda DURANTE A SEMANA DO TRAUMA, OS Ao considerar o apoio do CFM ao movimento, Edson Andrade destacou a importância da iniciativa da SBOT, lembrando que a classe médica é a primeira a sofrer o impacto dessa tragédia ao atender nos serviços de emergência as vítimas da violência. Explicou que o problema é mais social do que médico e, por isso, considera importante a mobilização das lideranças políticas, de representantes do governo e da própria sociedade na defesa da vida e da cultura da não-violência – que tem um custo social elevadíssimo com a perda de milhares de preciosas vidas, sem falar no ônus para o sistema de saúde, no drama das famílias enlutadas e na angústia dos que carregam pelo resto da vida as seqüelas dos traumas. Edson Andrade reconheceu o acerto da decisão do CFM em apoiar financeiramente o movimento desde o início e mostrou-se satisfeito com os resultados alcançados até agora por entender que as pessoas envolvidas acreditam no sucesso do projeto. “Sabemos que os médicos, isoladamente, não podem mudar esse quadro. Só através de um amplo esforço nacional e de uma política voltada para o combate à violência poderemos reverter es- Dezembro/2000 LEX JULGAMENTO RESOLUÇÃO CFM Nº 1.605/2000 O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, e CONSIDERANDO o disposto no art. 154 do Código Penal Brasileiro e no art. 66 da Lei das Contravenções Penais; CONSIDERANDO a força de lei que possuem os artigos 11 e 102 do Código de Ética Médica, que vedam ao médico a revelação de fato de que venha a ter conhecimento em virtude da profissão, salvo justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente; CONSIDERANDO que o sigilo médico é instituído em favor do paciente, o que encontra suporte na garantia insculpida no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal; CONSIDERANDO que o “dever legal” se restringe à ocorrência de doenças de comunicação obrigatória, de acordo com o disposto no art. 269 do Código Penal, ou à ocorrência de crime de ação penal pública incondicionada, cuja comunicação não exponha o paciente a procedimento criminal conforme os incisos I e II do art. 66 da Lei de Contravenções Penais; CONSIDERANDO que a lei penal só obriga a “comunicação", o que não implica a remessa da ficha ou prontuário médico; CONSIDERANDO que a ficha ou prontuário médico não inclui apenas o atendimento específico, mas toda a situação médica do paciente, cuja revelação poderia fazer com que o mesmo sonegasse informações, prejudicando seu tratamento; CONSIDERANDO a freqüente ocorrência de requisições de autoridades judiciais, policiais e do Ministério Público relativamente a prontuários médicos e fichas médicas; CONSIDERANDO que é ilegal a requisição judicial de documentos médicos quando há outros meios de obtenção da informação necessária como prova; CONSIDERANDO o parecer CFM nº 1.973/2000; CONSIDERANDO o decidido em Sessão Plenária de 15.9.00, R E S O LV E : Art. 1º - O médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica. Art. 2º - Nos casos do art. 269 do Código Penal, onde a comunicação de doença é compulsória, o dever do médico restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do prontuário médico do paciente. Art. 3º - Na investigação da hipótese de cometimento de crime o médico está impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal. Art. 4º - Se na instrução de processo criminal for requisitada, por autoridade judiciária competente, a apresentação do conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizará os documentos ao perito nomeado pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em questionamento. Art. 5º - Se houver autorização expressa do paciente, tanto na solicitação como em documento diverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridade requisitante. Art. 6º - O médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico desde que solicitado pelo paciente ou requisitado pelos Conselhos Federal ou Regional de Medicina. Art. 7º - Para sua defesa judicial, o médico poderá apresentar a ficha ou prontuário médico à autoridade competente, solicitando que a matéria seja mantida em segredo de Justiça. Art. 8º - Nos casos não previstos nesta resolução e sempre que houver conflito no tocante à remessa ou não dos documentos à autoridade requisitante, o médico deverá consultar o Conselho de Medicina, onde mantém sua inscrição, quanto ao procedimento a ser adotado. Art. 9º - Ficam revogadas as disposições em contrário, em especial a Resolução CFM nº 999/80. Brasília-DF, 15 de setembro de 2000 Edson de Oliveira Andrade Presidente Dezembro/2000 Rubens dos Santos Silva Secretário-Geral PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 021/98 - ORIGEM: CRM/DF SUSPENSÌO DO EXERCêCIO PROFISSIONAL POR 30 DIAS Dr. Artur Gil Gomes de Matos Dr. AlbŽrico Fernandes de S‡ EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso contra senten•a terminativa. Manuten•‹o da senten•a. I - O recurso apresentado fora do prazo previsto no art. 41 do C—digo de Processo ƒtico-Profissional, ou seja, ap—s 30 dias da data da intima•‹o do resultado do julgamento, Ž intempestivo, n‹o devendo ser conhecido pelo îrg‹o Revisional. II - Segunda apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Suspens‹o do Exerc’cio Profissional por 30 Dias DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 8/6/2000 PRESIDENTE: Dardeg de Sousa Aleixo RELATOR: Rodrigo Orlando Nabuco Teixeira PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 117/97 - ORIGEM: CRM/DF CENSURA PòBLICA EM PUBLICA‚ÌO OFICIAL Dr. Eduardo Calixto Saliba EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso de apela•‹o. Preliminar argŸida: extin•‹o da pretens‹o punitiva pela prescri•‹o. Infra•‹o aos artigos 2¼, 9¼, 16, 17 e 38 do CEM: o alvo de toda aten•‹o do mŽdico Ž a saœde do ser humano Ð a medicina n‹o pode ser exercida como comŽrcio Ð nenhuma norma regimental ou estatut‡ria poder‡ limitar a escolha por parte do mŽdico do tratamento e diagn—stico a ser utilizado - o mŽdico investido na fun•‹o de dire•‹o deve garantir as condi•›es m’nimas ao desempenho Žtico da profiss‹o Ð acumpliciar-se com exerc’cio ilegal da medicina. Manuten•‹o da pena de ÒCensura Pœblica em Publica•‹o OficialÓ I - O prazo prescricional estabelecido no art. 57 e seguintes do C—digo de Processo ƒtico-Profissional Ž interrompido com a notifica•‹o do denunciado para apresentar defesa, com a protocoliza•‹o desta, com o julgamento condenat—rio e na interposi•‹o do recurso. Sendo assim, existindo alguma destas causas interruptivas do fluxo prescricional, n‹o h‡ que se falar em extin•‹o da pretens‹o punitiva pela prescri•‹o. II - Comete infra•‹o Žtica o mŽdico que, investido na fun•‹o de diretor tŽcnico ou cl’nico, restringe procedimentos ou prescri•›es de outros mŽdicos. III - Preliminares rejeitadas. IV - Apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Censura Pœblica em Publica•‹o Oficial DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 13/7/2000 PRESIDENTE: Gen‡rio Alves Barbosa RELATOR: Dardeg de Sousa Aleixo PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 036/97 - ORIGEM: CRM/SP CENSURA PòBLICA EM PUBLICA‚ÌO OFICIAL Dr. Mecenas Ant™nio David Dr. Gilberto Alves de Souza EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso de apela•‹o. Infra•‹o aos artigos 29 e 57 do CEM: ato danoso praticado ao paciente por imper’cia, neglig•ncia ou imprud•ncia Ð deixar de utilizar todos os meios dispon’veis de diagn—stico e progn—stico existentes. Manuten•‹o da pena de ÒCensura Pœblica em Publica•‹o Oficial". I - Comete delito Žtico o mŽdico que negligencia o atendimento de doente sob seus cuidados, n‹o valorizando sintomas repetidos e nem usando do arsenal diagn—stico poss’vel e dispon’vel no hospital. II - Apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Censura Pœblica em Publica•‹o Oficial DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 13/7/2000 PRESIDENTE: Edson de Oliveira Andrade RELATOR: Ant™nio Gon•alves Pinheiro PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 044/97 - ORIGEM: CRM/SP SUSPENSÌO DO EXERCêCIO PROFISSIONAL POR 30 DIAS Dr. Hedilon Basilio Silveira Jœnior EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso de apela•‹o. Infra•‹o aos artigos 9¼, 65, 93 e 95 do CEM: a medicina n‹o pode ser exercida como comŽrcio Ð aproveitar-se da rela•‹o com o paciente para obter vantagem financeira Ð agenciar, aliciar ou desviar, para cl’nica particular ou institui•›es de qualquer natureza, paciente que tenha atendido em virtude de sua fun•‹o em institui•‹o pœblica Ð cobrar honor‡rios de paciente assistido em institui•‹o que se destina ˆ presta•‹o de servi•o pœblico. Manuten•‹o da pena de ÒSuspens‹o do Exerc’cio Profissional por 30 Dias". I - Comete delito Žtico o mŽdico que aproveita-se de situa•›es decorrentes da rela•‹o mŽdico-paciente para tirar vantagem financeira; que desvia pacientes de institui•‹o pœblica para sua cl’nica particular; que cobra honor‡rios de paciente atendido em institui•‹o que se destina a presta•‹o de servi•os pœblicos; e que comercializa pr—tese usada em seus procedimentos cirœrgicos. II - Apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Suspens‹o do Exerc’cio Profissional por 30 dias DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 8/6/2000 PRESIDENTE: Oliveiros Guanais de Aguiar RELATOR: Francisco das Chagas Dias Monteiro PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 3900-045/99 - ORIGEM: CRM/MG CENSURA PòBLICA EM PUBLICA‚ÌO OFICIAL Dr. Rafael Bastos Pereira Filho EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso de apela•‹o. Infra•‹o aos artigos 131, 132 e 136 do CEM: permitir divulga•‹o de assunto mŽdico em ve’culo de comunica•‹o de massa sem car‡ter de esclarecimento e educa•‹o da coletividade Ð divulgar assunto mŽdico de forma sensacionalista, promocional ou de conteœdo inver’dico Ð participar de anœncio de empresas comerciais de qualquer natureza, valendo-se de sua profiss‹o. Manuten•‹o da pena de ÒCensura Pœblica em Publica•‹o Oficial". I - Comete delito Žtico o mŽdico que permite e participa de propaganda promocional sem conteœdo educacional ou de esclarecimento, visando o aporte de clientela sem outra justificativa. II - Apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Censura Pœblica em Publica•‹o Oficial DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 8/6/2000 PRESIDENTE: Marisa Fratari Tavares de Souza RELATOR: Ant™nio Gon•alves Pinheiro PROCESSO ƒTICO-PROFISSIONAL CFM N¼ 177/97 - ORIGEM: CRM/MG CENSURA PòBLICA EM PUBLICA‚ÌO OFICIAL Dr. Evandro Ferreira Hostal‡cio EMENTA: Processo ƒtico-Profissional. Recurso de apela•‹o. Preliminares argŸidas: atipicidade da conduta antiŽtica Ð erro na grada•‹o da pena Ð julgamento extra-petita. Infra•‹o ao art. 132 do CEM: divulgar assunto mŽdico de forma sensacionalista, promocional ou enganosa. Manuten•‹o da pena de ÒCensura Pœblica em Publica•‹o Oficial". I - N‹o h‡ que se falar em atipicidade da conduta se o voto vencedor mencionou diretamente o delito Žtico praticado pelo denunciado, o qual est‡ devidamente enquadrado no artigo imputado no Òdecisum a quo". II - A gradua•‹o da penalidade a ser aplicada pelos Conselhos de Medicina Ž ato discricion‡rio, desde que enquadrada dentro das penas estabelecidas no art. 22 da Lei n¼ 3.268/57. III - Inexiste julgamento extra-petita se a denœncia dirigida ao Conselho Regional fazia men•‹o ˆ divulga•‹o incorreta de assunto mŽdico, e no julgamento Òa quoÓ o denunciado foi enquadrado como infrator do art. 132 do CEM, por propaganda enganosa, ou seja, divulga•‹o destorcida e antiŽtica. IV - Comete il’cito Žtico o mŽdico que faz propaganda inver’dica, promocional e sensacionalista. V - Preliminares rejeitadas. VI - Apela•‹o conhecida e improvida. PENA (CRM): Censura Pœblica em Publica•‹o Oficial DECISÌO (CFM): Mantida DATA DO JULGAMENTO: 13/7/2000 PRESIDENTE: Ricardo JosŽ Baptista RELATORA: L’via Barros Gar•‹o MEDICINA CONSELHO FEDERAL 5 ÉTICA EM DEBATE BINÔMIO MÉDICO-PACIENTE É vedado ao médico Art. 65 Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médicopaciente para obter vantagem Marcio Arruda LUIZ NÓDGI NOGUEIRA FILHO Graças à confidencialidade - garantia da prevenção do segredo - o paciente abre mão de sua privacidade e partilha os mais íntimos aspectos de sua intimidade, visando oferecer os elementos necessários para a definição de seu problema de saúde e obter orientação e conduta adequadas para sua solução. Instado pela inferioridade circunstancial do momento, misto de sujeição, carência e dependência, o paciente literalmente se entrega ao médico. Este, assim, nessa interação de duas personalidades, reveste-se de características de superioridade e de ascendência tanto mais nítidas quanto maiores sua diligência, atenção e competência. É um fato importante no binômio médico-paciente, que pode se responsabilizar por significativa parcela do processo de cura, mas que deve sempre ser utilizado em benefício do paciente, nunca para prejudicá-lo. O art. 65 do CEM vai além, quando cuida da proibição, para o médico, de auferir vantagem física, emocional, financeira e política, em virtude da relação estabelecida. De um banqueiro, por exemplo, não se pode esperar que condicione ou subordine um empréstimo, mesmo que veladamente, à assinatura de uma apólice de seguro. Do médico, por tratar da própria vida, não é lícito ser menos exigente. Os problemas passíveis de ocorrerem sob essa perspectiva dependem, na maioria das vezes, das circunstâncias em que os fatos se desenvolvem, sendo realmente difícil assinalar a partir de que ponto o médico está tirando proveito. Algumas situações são bastantes claras, como médico que monta ambulatório visando a obtenção de votos. Às vezes, porém, não é fácil configurar vantagem reprovável, porque, e principalmente no caso de sucesso na condução do problema, o paciente se descobre devedor da gentileza ou do benefício, mesmo remunerados, e na primeira oportunidade, se de boa índole, reconhece no médico um amigo e confidente que merece reconhecimento e gratidão, parecendo-lhe justo retribuir à altura e emprestar apoio, solidariedade ou ajuda quando solicitado. Não à-toa, muitos médicos do interior são bem sucedidos nas campanhas eleitorais para prefeito de suas cidades, às custas do agradecimento dos eleitores, seus clientes. Está claro que uma coisa não se deve vincular à outra, mas realmente é impraticável estar seguro, em certas oportunidades, de que o médico se aproveitou indevidamente do clima criado pela consulta. Para que não surjam dú- E DO CONSELHEIRO DO CRM/PI CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA vidas nem questionamentos sobre sua postura, o médico deve agir com muita prudência e procurar esclarecer corretamente o papel de cada um, seu e do cliente, como agentes eventualmente interessados em situações peculiares distintas da consulta médica e que digam respeito a cada qual isoladamente, para cuja solução não deve influir nenhum fator estritamente ligado à relação médico-paciente. física, emocional, financeira ou IMPORTANTE É PREVENIR Marcio Arruda REMACLO FISCHER JÚNIOR política 6 MEDICINA CONSELHO FEDERAL Vivemos um período de aumento no número de denúncias contra médicos nos conselhos de Medicina, na mídia e mesmo na Justiça comum. Além dos interessados em fatos sensacionalistas, e sempre os há, as causas dessa contingência são amplamente conhecidas, entre elas destacam-se as péssimas condições de trabalho associadas a alta demanda de atendimento, o que provoca efetivo prejuízo tanto à qualidade como à relação médico-paciente. A deliberada infração do art. 65 não merece maiores comentários, dada a sua gravidade e aspectos morais pertinentes à atitude aludida em seu teor, com repercussões que maculam não apenas o profissional mas a classe como um todo. Cabe, entretanto, uma reflexão quanto aos aspectos preventivos das questões intituladas vantagem física, emocional, financeira ou política. No exercício da profissão, são diversas as situações em que o médico, sem mesmo o perceber, pode envolver-se e inadvertidamente infringir este artigo; por isso, na relação médicopaciente, mais que nunca é indispensável estar atento àquelas questões. As chamadas vantagens física e emocional a que se refere o artigo são bastantes claras. O médico não pode favorecer-se de sua posição e da confiança nele depositada pelo paciente, muitas vezes fragilizado, para obter benefícios desta natureza. É importante que atente para a prevenção de tais fatos, ou seja, que esteja alerta para a detecção precoce de pacientes em situação de risco para envolvimento emocional de qualquer natureza. Mantendo tal postura poderá prestar os necessários esclarecimentos a este tipo de paciente, bem como rever alguma postura que possa estar sendo mal interpretada. No tocante às vantagens de caráter financeiro ou político, estas sim podem não ser percebidas ou valorizadas. Novamente, faz-se necessária toda atenção para não permitir que conversas informais realizadas em consultório médico ou outro local de trabalho se transformem em verdadeiras reuniões políticas (ou solicitações de voto) ou negociações comerciais ou financeiras, com desdobramentos tanto para a vida do profissional como para a de seu paciente - que sempre poderá alegar ter sido induzido ou constrangido em suas decisões. Como qual- DA CONSELHEIRO REPRESENTANTE ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA NO CFM quer membro da sociedade, é inevitável que o médico, como cidadão, possa desenvolver relações comerciais, políticas e até mesmo afetivas com seus pacientes; entretanto, para sua própria segurança, isto sempre deverá acontecer fora de seu local de trabalho. Dezembro/2000 CFM e AMB, uma parceria que tem conseguido resultados positivos Edição digital: Divanir Jr. Do ponto de vista político, o sucesso das ações este ano implementadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB) representa o melhor exemplo de acerto de uma estreita parceria entre duas entidades que buscam os mesmos objetivos: a defesa e valorização dos profissionais médicos e a melhoria da qualidade do atendimento à população. A partir deste trabalho conjunto, as duas entidades conseguiram viabilizar importantes campanhas e propostas, como a conclusão do Projeto da Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (CINAEM) - recentemente apresentado ao Congresso Nacional, ao Governo e à própria sociedade; a campanha nacional contra os abusos praticados pelas empresas de planos de saúde contra médicos e usuários inclusive com a instalação do serviço de Disque-Denúncia; e a mobilização da categoria contra a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) - que proibiu o uso, pelos planos de saúde, da tabela de honorários instituída pela AMB; além da arregimentação de lideranças do Governo e do Congresso Nacional a favor da reformulação da legislação que regulamentou a atuação dos planos de saúde. Consciente da importância dessa iniciativa, o presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, atribuiu essa parceria como o resultado de um ano extremamente produtivo para ambas as entidades, a classe médica e o encaminhamento das questões que mais angustiam a categoria. “Além de conseguirmos implementar uma ação conjunta do CFM com todos os conselhos regionais, asseguramos que esse processo de interação se estendeu também à Associação Médica Brasileira. Podemos dizer, inclusive, que hoje temos uma pauta única de ação das duas entidades, seja na mobilização da categoria e de toda a sociedade brasileira contra os abusos praticados pelas empresas de planos de saúde, seja na defesa da reformulação do ensino médico ou dos instrumentos de fiscalização dos procedimentos médicos e do exercício profissional, visando principalmente a melhoria do atendimento à saúde dos brasileiros", afirmou. Por isso, admite Edson Andrade, atualmente o CFM não adota nenhum encaminhamento sem antes fazer prévia consulta à direção da AMB, de forma a buscar uma política unitária em defesa da classe médica e da sociedade brasileira. Para o presidente da AMB, Eleuses Vieira de Paiva, “a união das entidades médicas sempre foi um grande anseio de toda a classe. E com razão, pois sabemos que nada é irreversível quando juntamos forças e sustentamos nossas convicções Apontar propostas e alternativas para reverter situações que ameaçavam a dignidade do médico foi o compromisso assumido quando selamos esse pacto com o CFM. Entendo que com a união e mobilização de todos os colegas já conseguimos resgatar e valorizar o verdadeiro papel do médico em nossa sociedade. Porém, nosso trabalho está apenas começando. Temos ainda muitas ações pela frente: a regulamentação dos planos de saúde, a campanha contra a abertura de novas escolas médicas, a lista de procedimentos médicos, diretrizes, residência médica e financiamento público são alguns exemplos. Acreditamos que movidos pela solidariedade e respeito ao ser humano, ao médico e à saúde, o nosso compromisso ético e social prevalecerá". Dezembro/2000 MEDICINA CONSELHO FEDERAL 7 Arte: Divanir Jr. e s p e c i a l Moderniza•‹o tecnol—gica, o desafio maior dos conselhos de Medicina MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 8 Dezembro/2000 Dentre as principais iniciativas do Conselho Federal de Medicina este ano, destaca-se a realização do I e do II Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina do Ano 2000. O primeiro, realizado em março, em Florianópolis (SC); o segundo, em Brasília, em outubro. No encontro de Florianópolis, abordouse a elaboração das tabelas de honorários médicos, numa ação conjunta entre o CFM e a Associação Médica Brasileira (AMB), a reforma do Código de Processo Ético-Profissional, a formação médica e a interiorização da saúde. No de Brasília, discutiu-se a modernização do sistema CFM e CRM, com exposição, realizada por Luiz Roberto Sá, representante da ITC Telecom Brasil, de um projeto de modernização tecnológica. Foram também apresentados os trabalhos das três comissões - de Fiscalização, de Procedimentos Administrativos e de Auditoria Médica - instituídas pela direção do CFM para modernizar os conselhos, facilitar a relação com os associados e melhorar a fiscalização do sistema conselhal e do exercício profissional. Na oportunidade, os conselheiros aprovaram proposta de elaboração de um manual de procedimentos administrativos, visando facilitar a rotina nos conselhos e no dia-a-dia dos associados, e um outro de fiscalização, para ampliar o controle dos conselhos regionais sobre os procedimentos médicos e o exercício profissional, além da minuta de resolução sobre auditoria médica, com vistas ao melhor desempenho dos regionais. Além disso, discutiu-se a postura administrativa dos conselhos diante da nova Lei de Responsabilidade Fiscal, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional - tema abordado pelo chefe da Consultoria Jurídica, Antônio Carlos Mendes, e pelo professor e jurista Inocêncio Mártires Coelho, ex-procurador geral da República. Ao falar da proposta de modernização tecnológica, Luiz Sá explicou que o projeto de informatização prevê que o CFM, os demais conselhos e delegacias se tornem provedores tecnológicos de acesso aos serviços de comunicação com a estrutura oferecida pela empresa, considerando que o sistema já dispõe de uma capilaridade geográfica de penetração. Segundo o presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, os dois encontros represen- taram significativo avanço no esforço do CFM em modernizar as relações com os conselhos regionais e aprimorar os mecanismos de gestão e fiscalização dos conselhos e do exercício profissional, visando maior eficiência dos mesmos no cumprimento de sua missão legal e atendimento à população. Edson Andrade aproveitou a oportunidade para fazer uma prestação de contas preliminar de seu primeiro ano de gestão no CFM. Admitiu que do ponto de vista político a direção teve um ano extremamente produtivo. “Conseguimos implementar uma ação conjunta do CFM com todos os conselhos regionais e avançamos no processo de interação com a AMB. Podemos dizer, inclusive, que hoje temos uma pauta única de ação das duas entidades e nada fazemos sem prévia consulta àquela entidade, de forma a buscarmos uma política unitária em defesa da classe médica. Estamos lutando para que essa parceria inclua também os sindicatos dos médicos", acrescentou. Destacou, ainda, a reformulação administrativa, a limitação dos gastos e a modificação do sistema de auditoria interna, que passou de anual para trimestral. e s p e c i a l Campanha contra abusos dos planos de saœde mobiliza a classe mŽdica to dos usuários mas não assegura aos médicos os meios dignos para exercer a profissão e conquistar a confiança dos pacientes. Por sua vez, Eleuses Vieira denunciou que, em nome de uma suposta racionalização de gastos ou simplesmente de lucro, algumas empresas continuam interferindo na autonomia dos profissionais quando limitam procedimentos médicos que comprometem a qualidade do atendimento, causando riscos à saúde dos pacientes. Por isso, defendeu a mobilização dos médicos, lideranças políticas e da própria sociedade para que se criem as condições necessárias para o bom exercício profis- sional e a garantia de um atendimento de qualidade aos usuários. A partir desses encontros, as entidades médicas decidiram lançar uma campanha nacional para denunciar os abusos cometidos pelos planos de saúde contra médicos e usuários. Os dirigentes do CFM e da AMB entendem que, caso persistam tais abusos, a saúde de cerca de 45 milhões de brasileiros estará em jogo, sem falar da desvalorização do exercício profissional, com as restrições e limitações de toda ordem que por certo refletem negativamente na qualidade do atendimento e na relação de confiança que deve existir entre médico e paciente. James Wardell - Ag. Keystone Este ano, a principal iniciativa do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Médica Brasileira (AMB) foi, sem dúvida, o lançamento da campanha que mobilizou médicos de todo o país contra os abusos praticados pelas empresas operadoras de planos de saúde. A campanha - iniciada em São Paulo pela Associação Paulista de Medicina e, em seguida, abraçada pelo CFM e pela AMB trouxe a Brasília, em junho, representantes de todas as entidades médicas e cerca de 300 profissionais para protestar contra a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - que proibiu o uso da tabela de honorários médicos da AMB pelas operadoras de planos de saúde - e contra a decisão dos planos de saúde limitarem consultas, exames e internações de pacientes e promoverem o descredenciamento de médicos e hospitais que não aceitem suas imposições. Durante a mobilização em Brasília, as entidades reuniram, no Congresso Nacional, representantes da Frente Parlamentar da Saúde que hipotecaram irrestrito apoio à classe e se comprometeram a lutar pela alteração, no Legislativo, da lei que regulamentou a atuação dos planos de saúde. Em seguida, houve um encontro com o vice-presidente da Câmara, deputado Heráclito Fortes, e com o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, que também discordaram da decisão do Cade e ofereceram apoio ao movimento dos médicos. Posteriormente, acompanhados de parlamentares, os representantes das entidades médicas foram também recebidos pelo ministro da Justiça, José Gregori, que se comprometeu a fazer gestões junto ao Cade no sentido de rever a decisão dos conselheiros. Os presidentes do CFM, Edson de Oliveira Andrade, e da AMB, Eleuses Vieira de Paiva, chegaram a defender a criação, no Congresso Nacional, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os abusos praticados por essas empresas. Edson Andrade criticou as limitações da lei sobre os planos de saúde, lembrando que ela garante apenas no papel o direi- O controle das seguradoras A atuação da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina na Câmara Técnica da Agência Nacional de Saúde (ANS), que trata dos reajustes dos planos de saúde, tem sido bastante positiva. É o que garante Samir Bittar, vice-presidente da AMB - região Centro-Oeste, que participou dos últimos encontros. “A ação das duas entidades tem sido importante no sentido de conhecer como o mer- cado atual encara o excesso de mão-de-obra médica, o que reforça a necessidade de buscar mecanismos que sejam eficazes no controle da abertura de novas escolas e qualificação das já existentes". As reuniões, que acontecem no Rio de Janeiro, são quinzenais e o término das discussões está previsto para o começo do ano que vem. Segundo Bittar, as mesmas visam estabelecer parâmetros para que a Agência Nacional de Saúde possa monitorar os aumentos e ter elementos para detectar pontos que possam levar a abusos nos valores repassados aos consumidores. “É fundamental não deixar o mercado totalmente livre, de modo a favorecer apenas ao interesse das operadoras; por outro lado, não se deve estabelecer controle rígido de preços, um mecanismo antiquado e indesejável nos dias atuais", afirmou. MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 9 Dezembro/2000 e s p e c i a l AGB Photo Libra ry Mais recursos para a saœde, uma vit—ria das entidades mŽdicas e da sociedade brasileira A promulgação, pelo Congresso Nacional, da emenda constitucional que vincula recursos orçamentários para a área da saúde foi mais uma vitória do Conselho Federal de Medicina, da Associação Médica Brasileira (AMB), das demais entidades médicas e da própria sociedade brasileira. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) contou com o apoio das entidades médicas desde que foi apresentada no Legislativo pelos deputados Eduardo Jorge (PT-SP), na versão original, e Carlos Mosconi (PSDB-MG). Na opinião do presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade, a chamada PEC da Saúde vem corrigir grave distorção na execução orçamentária nos três níveis de poder, já que sem essa vinculação o setor saúde estava sujeito a todo tipo de restrição, apesar de ser considerado carente de recursos. Segundo ele, corrige também uma distorção federativa, ao obrigar que estados e municípios assumam parte dos desembolsos do setor público com a área da saúde. Para o presidente da AMB, Eleuses Vieira de Paiva, a aprovação da PEC demonstra o comprometimento do Legislativo com a melhoria dos indicadores sociais do país e representa importante avanço na luta de toda a sociedade brasileira por uma assistência médica de melhor qualidade. Com a vigência da PEC, estados e municípios serão obrigados a investir em saúde entre 12% a 15% dos seus respectivos orçamentos, a exemplo do que já ocorria com a educação, embora em maior percentual. Uma lei complementar definirá o percentual a ser gasto pela União. Até que essa nova lei seja aprovada, a União será obrigada a investir este ano pelo menos 5% a mais do que o aplicado no ano passado. Nos próximos quatro anos, o valor a ser aplicado será o do ano anterior corrigido pela variação do Produto Interno Bruto (PIB). Os estados e o DF ficam obrigados a investir 12% da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores e do Imposto sobre Transmissão de Bens Herdados. Os municípios destinarão 15% da receita do Imposto Predial e Territorial Urbano, Imposto Sobre Serviços e Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos. Atualmente, de cada R$ 100,00 gastos com saúde, a União participa com R$ 70,00 e os estados e municípios contribuem com apenas R$ 30,00 - ou às vezes até menos. A maioria dos municípios tem boa participação, o que não vem ocorrendo com vários estados. Com a nova medida, esses setores estarão obrigados a assumir uma parceria nesses gastos, de acordo com o estabelecido em lei. Apoio das entidades mŽdicas foi fundamental para aprova•‹o dos genŽricos MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 10 Dezembro/2000 A contribuição do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Médica Brasileira (AMB) e das demais entidades médicas foi fundamental para a implantação dos remédios genéricos no Brasil. Esse processo, iniciado em 1994 a partir de iniciativa do então ministro da Saúde, Jamil Haddad, só efetivou-se com a aprovação, no ano passado, da lei que introduziu o conceito de medicamento genérico. Mesmo assim, a presença deste tipo de medicamento na vida dos brasileiros, na prática, só ocorreu em 2000, com o registro de vários títulos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVS), responsável pela autorização dos genéricos para comercialização no país. “Os genéricos não deslancharam antes por causa dos interesses econômicos em jogo e falta de vontade política. Por isso, nunca andaram direito", afirmou João Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia e representante da AMB no Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Segundo ele, para uma população onde 36 milhões de pessoas vivem abaixo do nível de pobreza, o medicamento genérico representa uma economia de até 50%. Um exemplo prático da relação entre o uso dos medicamentos genéricos e a redução dos custos no orçamento doméstico está no dia-a-dia dos brasileiros hipertensos. Hoje, 30 milhões de pessoas que têm pressão alta gastam mensalmente, em média, entre R$ 100,00 e R$ 200,00 com medicamentos para o controle da pressão arterial. “É um valor razoável, que não pode deixar de ser considerado. Ainda mais num país onde dois terços da população ganham menos de três salários-mínimos", lembrou Moreira. Recentemente, os genéricos começaram a ser distribuídos na rede pública e o Governo começou a abrir o mercado para o gênero, desenvolvendo uma sistemática própria para autorizar a comercialização. “É uma dinâmica muito positiva", disse Moreira. Atualmente, o registro de um genérico é feito por instituições, e não mais por pessoas. Existem instituições credenciadas pela ANVS, universidades em sua maioria, para avaliar e avalizar a qualidade dos genéricos. “Essa proposta de registro dos genéricos é boa e nós, médicos, com o apoio da população, temos que cobrar sua implementação. A instituição deve receber pela avaliação e no momento e na medida em que haja o registro na ANVS o genérico se tornará mais confiável", completou. Moreira explica que dos medicamentos genéricos que prescreveu para seus pacientes nenhum apresentou problema até agora. “Usamos o produto com a máxima confiança, mas nunca recomendei genéricos para pacientes submetidos a transplantes, embora exista um medicamento genérico autorizado para os mesmos: a ciclosporina", acrescentou. Adicionalmente, recomendou que as pessoas tenham cuidado com o resultado apresentado por esses produtos. Se não for o esperado, recomenda que façam um registro, documentando cientificamente o que saiu errado. A reclamação pode ser posteriormente repassada à Comissão de Ética Médica da localidade onde o médico resida. Caso não exista, deve ser enviada ao Conselho Regional de Medicina e, em última instância, ao CFM. “O que não pode ocorrer é o surgimento de falsas opiniões sobre medicamentos utilizados pela população", afirmou. Se o retorno não for satisfatório, cabe a reclamação. “Temos que ter uma medicação que nos dê segurança e a proposta dos genéricos, da forma como foi feita e como tem que funcionar, é positiva", conclui. e s p e c i a l A pol’tica mŽdica em debate Apoiar a criação de uma CPI para as empresas intermediadoras de saúde e a elaboração de legislação específica que regule a relação entre operadoras e médicos foram algumas das propostas aprovadas para o setor privado de saúde durante o I Congresso Brasileiro e II Congresso Paulista de Política Médica, realizados pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Paulista de Medicina (APM), com apoio dos Conselhos Federal e Regional de Medicina e Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo, nos dias 17 e 18 de novembro, em São Paulo. Segundo o presidente da AMB, Eleuses Paiva, a Lei nº 9.656/98, que regulamentou os planos de saúde, não contemplou a relação entre empresas e médicos. “É preciso disciplinar esse setor", afirma. “Essa brecha na legislação permite que as operadoras pressionem os médicos exigindo produtividade em detrimento ao bom atendimento". Além das principais lideranças médicas de todo o país, o evento reuniu autoridades governamentais e representantes de órgãos públicos e privados, buscando propostas e sugestões que visem aprimorar a assistência médica brasileira. Na abertura do Congresso, o vice-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, elogiou o comprometimento das entidades médicas com o setor saúde. “Essa preocupação das entidades e dos médicos é de extrema importância para a sociedade. O governo do estado estará aberto a receber, naquilo que for inerente ao seu papel, todas as propostas provenientes deste fórum", afirmou Alckmin em seu discurso de abertura. O primeiro dia do evento foi dedicado aos debates relacionados ao setor privado de saúde, destacando-se as Centrais e Departamentos de Convênios; modelos e sistemas privados. O tema Procedimentos médicos: diretrizes e Lista de Procedimentos Médicos contou com a participação de João Bosco Leopoldino, conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, que apresentou o ponto de vista do órgão sobre a LPM. AGB Photo Library PROPOSTAS FINAIS APROVADAS PARA O SETOR PRIVADO DE SAÚDE 1. Basear iniciativas em parcerias resultantes do estreitamento das relações da AMB/federadas com a sociedade, notadamente com os organismos de defesa do consumidor, com nossos representantes nas áreas Legislativa e Executiva, com outras instituições na área de saúde e outras entidades associativas. 2. Apoiar legislação destinada a impedir a criação de novas escolas médicas. 3. Aprovar a criação de uma CPI de planos de saúde. 4. Aprimorar a regulamentação dos planos de saúde, contemplando a relação entre empresas e prestadores de serviços, especificamente o médico e os processos envolvidos no credenciamento ou descredenciamento deste profissional. 5. Envolver a Agência Nacional de Saúde Suplementar na relação entre empresas e prestadores de serviço, também especificamente o médico. 6. Implantar a Lista de Procedimentos “O Cade entende que não é aceitável qualquer tipo de tabela ou lista. O preços devem ser estipulados de acordo com a livre concorrência", afirmou Leopoldino em sua apresentação, fortemente contestada pelos debatedores e Plenária. Ao final, prometeu levar os questionamentos e a preocupação da classe médica aos demais conselheiros do Cade. “Estamos sendo vítimas do rigor da lei", afirmou Remaclo Fischer Jr., representante da AMB no Conselho Federal de Medicina. “As empresas têm seus direitos respeitados através de suas tabelas, mas o Cade, no entanto, julga que nós, médicos, não podemos nos organizar e editar nossa própria lista de procedimentos. Isso é incoerente", completou. No último dia do evento, as discussões tiveram como tema principal o setor público de saúde, especialmente o financiamento e modelos de assistência, com destaque para a proposta de emenda constitucional conhecida como PEC da Saúde, Programa Saúde da Família e hierarquização do serviço público. Participaram das discussões os deputados Arlindo Chinaglia e Eduardo Jorge, um dos autores da PEC. Na opinião do Diretor de Defesa Profissional da AMB, Eduardo da Silva Vaz, o debate foi extremamente importante porque o problema atinge mais de 120 milhões de brasileiros. “Discutimos todos os temas relevantes aos profissionais da medicina e continuaremos zelando pela preservação da dignidade do trabalho médico e boa assistência à população”, afirmou o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral. “Demos um importante passo na busca pelo aprimoramento da assistência médica brasileira", disse Eleuses Vieira de Paiva. Para o secretário da AMB, Amílcar Girón: “É preciso, agora, a partir das propostas, contar não somente com o apoio mas com o efetivo envolvimento de todos aqueles que anseiam por um modelo digno de assistência à nossa população”. Médicos/2000, buscando amparo em legislação específica. 7. Manter aberto diálogo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, municiando-o das informações necessárias para a efetiva compreensão dos problemas existentes no mercado na área da saúde. 8. Concentrar esforços no desenvolvimento e aplicação das diretrizes de procedimentos médicos. 9. Fortalecer os Departamentos/Centrais de Convênios, estruturando-os em conformidade com as realidades regionais, estimulando iniciativas como o Livro Regional de Saúde e outras. 10. Fortalecer o cooperativismo ético, entendendo que neste esforço está compreendida a ampliação da participação da classe médica neste modelo de assistência. 11. Em todas as iniciativas não será abandonado o objetivo fundamental a ser alcançado, que é o credenciamento universal, garantia da liberdade de escolha. Os Congressos contaram com o apoio publicitário de BIC Graphic Brasil e Scheaffer; Aché Laboratórios Farmacêuticos; Connectned Oregon Administradora e Corretora de Seguros Ltda. Icatu Hartford Seguros S/A e Cia. Previdência do Sul - Previsul/Clube Médico. PROPOSTAS FINAIS APROVADAS PARA O SETOR PÚBLICO DE SAÚDE 1. Divulgação, particularmente pelas entidades nacionais, dos dados do IBGE referentes à área da saúde. As entidades devem fazer encartes/publicações para que os médicos brasileiros acessem esses dados que são fundamentais e estão sendo disponibilizados pelo próprio IBGE. 2. Programar fóruns de debates - nacionais e estaduais - com a presença de secretários estaduais e municipais de saúde para debater e propor soluções para os problemas do setor público. 3. Instrumentar tecnicamente os médicos, por intermédio de suas entidades, para que tenham uma atuação mais presente e consistente dentro dos Conselhos de Saúde. 4. Mobilizar a classe médica para estabelecer estratégias e proposições de atuação no processo de regulamentação da PEC. 5. Foi reconhecido o Programa Saúde da Família como importante estratégia de assistência médica. Para seu sucesso, faz-se necessário: inseri-lo na estrutura do SUS, sem prejuízo para o funcionamento das ações básicas nas unidades já instaladas; adotar, nesse sistema, uma política salarial e de recursos humanos semelhante àquela dos profissionais que atuam na rede básica de saúde do SUS; protegê-lo de influências políticas, ou seja, os agentes comunitários e demais profissionais envolvidos não podem desenvolver atuação que possa ser caracterizada como político-partidária; fazer com que os profissionais que atuem no Programa Saúde da Família tenham vínculo de trabalho estável, de acordo com a legislação vigente, junto ao Poder Público; que o ingresso no Programa Saúde da Família seja claro, transparente e unificado para todos os profissionais, fundamentado em concurso público, obedecida a legislação pertinente; que seja assegurada a participação de profissionais médicos nas coordenações estaduais e municipais do Programa Saúde da Família. 6. Dar-se-á apoio à hierarquização da assistência médica pelo SUS, elemento essencial à racionalização do uso dos recursos. Foi sugerido estimular a utilização dos hospitais universitários como parte integrante desse sistema, em nível terciário de atenção. Esses hospitais, além de contarem com infra-estrutura e qualificação para atuação nesse nível, constituem importante fator na formação de recursos humanos para a área da saúde. 7. Apoiar-se-á a estratégia de implantação de consórcios intermunicipais de saúde como política integrada de assistência médica, possibilitando uma maior eficiência do sistema de saúde, permitindo também a racionalização dos recursos. MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 11 Dezembro/2000 Nick White - Ag. Keystone e s p e c i a l Parceria das entidades mŽdicas inclui os pa’ses do Mercosul Nem só de política e economia vive o Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul). Criado em 1991, com a proposta de unificar quatro países - Argentina Uruguai, Paraguai e Brasil -, o bloco tem empreendido esforços para alcançar em 2005 a padronização entre as quatro nações em vários setores da sociedade, médica inclusive. Existe, sim, um espaço para a área da saúde dentro do Mercado Comum; e mais, há, dentro do Grupo do Mercado Comum (GMC) – célula nervosa do Mercosul e responsável pelas discussões técnicas dos assuntos ligados ao bloco –, um subgrupo específico para debater as questões médicas: o subgrupo 11. Nesse subgrupo acontecem as reuniões oficiais do Mercosul ligadas à área da saúde. O diretor de Relações Internacionais da AMB, David Miguel Filho, lembra que a integração entre os parceiros do mercado na área médica também tem seu espaço e se desenvolve intensamente - principalmente a partir de 1993, quando as entidades médicas representativas dos quatro países realizaram o I Encontro Internacional de Médicos para o Mercosul, em Solis, Uruguai. Na época, foi criada a Comissão de Integração dos Médicos para o Mercosul (CIMS) – responsável pela discussão e defesa, junto à comunidade médica, do que se quer para o exercício profissional de medicina nos países-membros do bloco –, que se reúne anualmente. De 1993 até a presente data, o relacionamento entre as comunidades médicas dos parceiros se intensificou. Segundo Remaclo Fisher Jr., vice-presidente da região Sul e conselheiro federal indicado pela Associação Médica Brasileira (AMB), este ano foi muito importante para o processo, aprofundando o conhecimento sobre o tema. “Os últimos doze meses se destacaram por estabelecer uma relação de maior sintonia entre os representantes da comunidade médica e os que compõem o subgrupo 11 do GMC", completou Remaclo. Nessa discussão, destaca-se a participação das entidades médicas e sua capacidade de influir, via conselhos de especialistas da AMB. Pelo cronograma estipulado, as entidades médicas têm até 2003 para definir o que se espera de cada especialista. Para o próximo ano, a expectativa é aprofundar ainda mais as relações e as discussões entre a comunidade médica e o GMC. “Percebemos que há harmonia, o que falta é mostrar para toda a comunidade médica que temos tempo hábil para definir a integração da área médica no Mercosul como um todo. É importante que os médicos saibam o que está acontecendo; e que nada será decidido sem o necessário consenso das partes e de acordo com o que queremos", disse Remaclo. Lembrou, ainda, que os dois representantes da comunidade médica dentro do subgrupo 11 são pessoas altamente afinadas com as entidades representativas da área. “Temos um diálogo bom com os representantes dessas entidades", concluiu. Assessoria parlamentar, mais uma prioridade do CFM e AMB MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 12 Dezembro/2000 Surpreendidos por decisões do Congresso Nacional e de órgãos do Governo que contrariaram os interesses da classe, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) decidiram estreitar suas relações com o Legislativo visando acompanhar mais de perto a discussão de temas que interessam não apenas à classe mas, também, a toda a sociedade. O primeiro passo foi a instalação, em Brasília, de um escritório da AMB, em outubro último, além da manutenção de contatos mais freqüentes com líderes políticos, particularmente da Frente Parlamentar da Saúde, na Câmara e no Senado, ou das comissões permanentes voltadas para as áreas sociais. Segundo o presidente da AMB, Eleuses Vieira de Paiva, muitos dos problemas atualmente enfrentados pela classe médica e pela própria sociedade em termos de atendimento à saúde poderiam ser evitados se as entidades médicas estivessem mais mobilizadas e presentes nos centros de decisão política. A experiência da mobilização conjunta de todas essas entidades junto a lideranças políticas para reformular a legislação que regulamentou a atuação dos planos de saúde ou para rever a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que acarretou sérios problemas à categoria, mostrou aos profissionais médicos a necessidade de uma ação mais presente junto ao Congresso Nacional e aos representantes do Governo federal. Para o presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, a partir da atuação da assessoria parlamentar as entidades médicas terão maior acesso à tramitação de projetos de interesse da classe no Legislativo, opinando, ava- liando ou participando dos debates nas comissões próprias para evitar que os profissionais sejam surpreendidos com decisões que não atendam suas expectativas, ou imperfeições, como a que ocorreu com a legislação que regulamentou a atuação dos planos de saúde - que cuidou mais da relação entre empresa e usuário e menos do médico, peça fundamental nesse processo. “Essa imperfeição é responsável pela série de problemas no setor, pois colocou o médico em rota de colisão com as operadoras, na medida em que essas promovem todo tipo de pressão contra os profissionais para limitar consultas e pedidos de exames e internações, comprometendo a qualidade do atendimento ao usuário e a relação de confiança que norteia a relação médico-paciente", advertiu Edson Andrade. e s p e c i a l ASSESSORIA CONJUNTA reflete no que foi feito e aprovado no Congresso Nacional". Lembra que a inauguração do escritório da AMB em Brasília agilizou bastante o contato entre o Legislativo e a sociedade médica. “Houve consultas formais entre a Frente Parlamentar da Saúde, o CFM e a AMB - cujos representantes foram sempre convidados a participar das discussões. Afinal, entendo que o nosso dever é representar não apenas os eleitores, mas os setores de que fazemos parte", concluiu. O presidente da Subcomissão da Saúde, Carlos Mosconi (PSDB/MG), reforça o já dito pelos colegas da Frente Parlamentar da Saúde. “O bom relacionamento com o setor e uma maior aproximação com a comunidade médica foram importantíssimos para a aprovação da PEC da Saúde. Tivemos uma relação mais estreita este ano, principalmente com o CFM e a AMB, o que foi muito positivo para o encaminhamento de soluções para os problemas da saúde", encerrou. Marcio Arruda Visando evitar a repetição de problemas semelhantes, a assessoria parlamentar permitirá ao CFM e a AMB tratar com mais desenvoltura a relação entre a comunidade médica e o Legislativo. Na opinião de boa parte dos deputados e senadores, nunca a Câmara dos Deputados e o Senado Federal estiveram tão próximos dos interesses dos médicos que compõem a Frente Parlamentar da Saúde – um grupo de aproximadamente 150 parlamentares que defendem os interesses do setor. No Congresso Nacional, a defesa da saúde ocorre em duas comissões não exatamente voltadas para a matéria: a Comissão de Seguridade Social e Família, na Câmara, e a Comissão de Assuntos Sociais, no Senado. Em ambas, existem subgrupos ligados à questão saúde. Nelas, foram discutidos, este ano, os temas considerados mais importantes para a saúde brasileira, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vincula os recursos para a saúde - aprovada com o apoio das entidades médicas. Para o presidente da Comissão de Seguridade Social da Câmara, deputado Cleuber Carneiro (PFL/MG), os trabalhos em relação à área da saúde foram bastante produtivos. “Mantivemos uma relação saudável com as entidades representativas do setor, como o CFM e a AMB, e triplicamos a aprovação dos projetos este ano. O balanço, sem dúvida, foi positivo", completou. Segundo o deputado, foram realizados vários simpósios e encontros no Plenário da comissão e o grande destaque foi a aprovação da PEC da Saúde e a discussão do projeto de reformulação do ensino médico, da Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (Cinaem). O deputado Rafael Guerra (PSDBMG) argumentou que: “Vivemos, este ano, um processo importante de integração entre o Parlamento e a comunidade médica, e isto se Escrit—rio em Bras’lia favorece relacionamento A inauguração do escritório da AMBBrasília, realizada na noite do dia 13 de setembro, mostrou a força e a representatividade da classe médica: reuniu o ministro da Saúde, José Serra, o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, o secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonçalo Veccina Netto, e o secretário de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, Claudio Duarte da Fonseca, além de expressivo número de deputados, senadores, líderes de entidades da área médica, presidentes e representantes das federadas, sociedades de especialidades e outros segmentos ligados à saúde. “A inauguração deste escritório é a concretização de um grande sonho de toda a classe médica. Estamos aqui para colaborar com a política de saúde do país, participar de todos os projetos ligados ao setor", disse o presidente da AMB, Eleuses Paiva, em seu discurso. Edson Andrade, presidente do Conselho Federal de Medicina, destacou a importância da proximidade da AMB em Brasília, o centro das decisões do país. “Inauguramos um momento de união, de uma proposta unificada dos médicos para a sociedade. Estar em Brasília é mais que um gesto de mudança, é olhar para o Brasil com uma dimensão maior. É estar perto daqueles que têm o poder de interferir na saúde e nas condições dessa sociedade", destacou em seu pronunciamento. O escritório AMB-Brasília é o resultado do esforço das 56 sociedades de especialidades e 27 federadas filiadas à AMB e localizase na Torre Leste do Centro Empresarial Varig, unidade 1.104, Bloco B, Quadra 4, ao lado do Setor Hoteleiro Norte. “Nossa idéia era disponibilizar um local próximo ao Congresso e à Esplanada dos Ministérios, para facilitar o acompanhamento de projetos da área da saúde", lembra Aldemir Humberto Soares, secretário-geral da AMB. As federadas e sociedades de especialidades filiadas à AMB poderão utilizar o escritório em Brasília para realizar reuniões. Adicionalmente, receberão orientação de dois assessores: um parlamentar - para os projetos que tramitam no Congresso - e um executivo - que acompanhará planos em desenvolvimento nos ministérios. MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 13 Dezembro/2000 e s p e c i a l Unifica•‹o das especialidades mŽdicas “Para isso, em 2001, vamos realizar o Fórum de Especialidades, de onde pretendemos retirar uma lista única para as nossas entidades", afirma Aldemir Humberto Soares, um dos representantes da AMB na Comissão. “Vamos discutir o que é especialidade, subespecialidade, tendo em vista a integração com o Mercosul, que prevê uma lista única para os quatros países integrantes", completa Lincoln Freire, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Atualmente, a AMB conta com 56 sociedades de especialidades filiadas em seu quadro as- sociativo. O CFM, por sua vez, tem 66 entidades reconhecidas; e a CNRM, 48 especialidades. Uma das funções da Comissão é o estabelecimento de regras para as discussões no Fórum de Especialidades, buscando definir a unidade. “Antes da discussão de qualquer lista única, faz-se necessário unificar o pensamento das entidades", conclui Aldemir. “Este será um trabalho que merecerá ampla discussão", afirma Fábio Jatene, diretor científico e representante da AMB na Comissão. “Por isso, será essencial a participação de todas as especialidades envolvidas", garante. Luiz Carlos Murauskas - Folha Imagem No próximo ano, a AMB e o CFM, juntamente com a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), enfrentarão um novo desafio: a discussão visando a unificação das especialidades médicas brasileiras entre as três entidades. Com essa intenção, foi criada a Comissão de Avaliação das Especialidades Médicas Brasileiras - constituída por dois representantes da AMB, CFM e CNRM -, que tem por objetivo principal abrir discussões com relação à unificação, bem como buscar um consenso quanto ao número e área de atuação de cada especialidade. Entidades ap—iam programa de interioriza•‹o da medicina MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 14 Dezembro/2000 O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira (AMB) apóiam o projeto elaborado pelo Ministério da Saúde, voltado para a interiorização da medicina e que interessa diretamente às duas entidades e aos próprios profissionais de medicina. Como o objetivo das entidades não se limita exclusivamente à defesa da categoria mas, também, à qualidade da assistência médica, tanto o CFM quanto a AMB entendem que estimular a ida de médicos para o interior do país, de forma a cobrir todos os municípios que se ressentem da assistência à saúde, é o caminho natural para se propiciar o atendimento universal e eqüânime a toda a população. Por isso, no âmbito do Ministério da Saúde, as entidades vêm participando ativamente das discussões do projeto para que se chegue a uma proposta que melhor atenda à classe médica e à população-alvo. Segundo revelou o ministro da Saúde, José Serra, em recente palestra na sede do CFM, o programa será implementado de forma voluntária, em cooperação com as entidades médicas, para que torne-se viável do ponto de vista político e eficiente na prática. Em sua apresentação, destacou também outro importante projeto: o Programa Saúde da Família - estruturado com base em equipes médicas e de auxiliares com o propósito de cuidar de grupos de até mil famílias. OBJETIVOS Os vice-presidentes das regiões Centro e Centro-Oeste da Associação Médica Brasilei- ra, Neri João Bottin e Samir Dahas Bittar, que participaram - conjuntamente com o diretor de Defesa Profissional da AMB, Eduardo da Silva Vaz - da reunião sobre “Plano de Interiorização de Trabalho em Saúde", realizada em Brasília nos dias 20 e 21 de novembro, afirmaram que a incrementação do Programa Saúde da Família é de grande interesse. “Existe a disposição de realizar um projeto que atenda às necessidades das comunidades carentes, além de oferecer trabalho a uma equipe de profissionais. A intenção é fazer com que, após a permanência inicial estabelecida pelo MS, haja por parte da iniciativa municipal a fixação definitiva das equipes de saúde nessas localidades", ratificaram. Samir Bittar explica que os estudos ainda estão em andamento, mas a previsão é de que e s p e c i a l até março próximo as propostas estejam aprovadas. “O plano inicial é de fixar, cumprindo escalas de prioridades, 300 equipes de saúde em 150 municípios carentes de assistência médica em todo o Brasil". A inscrição para a participação no programa é aberta a todos os médicos. Logicamente, os recém-formados e aqueles que não conseguem residência médica tendem a ter maior interesse. Por isso, o diretor da AMB entende não haver necessidade de importar profissionais, como defendem alguns setores, pois essa carência é enganosa. “O único problema da ausência de médicos em alguns municípios interioranos deve-se à falta de condições de trabalho e de fixação desses profissio- nais nessas localidades". Pensando nisso, a AMB apresentou propostas que beneficiam a classe médica em geral. Entre os pontos defendidos estão a remuneração compatível com as dificuldades de atuação na região em que o profissional for designado; condições de moradia, alimentação e transporte gratuito; garantia de seguro de vida e de acidentes; e treinamento específico voltado a aspectos epidemiológicos e de medicina comunitária referentes ao local de trabalho. Foi também proposto o recebimento de material didático e de pesquisa para reciclagem profissional, além de permanente tutoramento por parte da universidade mais próxi- ma, onde professores possam servir de suporte e orientação – com utilização da Internet, para casos especiais, caso a equipe necessite –, pagamento realizado diretamente pelo Ministério da Saúde – o que evitaria interferência política – e, finalmente, vantagens aos profissionais que ultrapassassem o período de permanência previsto, tais como pontuações que favorecessem o ingresso na residência médica e em concursos públicos, isenção do serviço militar e incremento no pagamento. “Isto serviria como um estímulo e, com certeza, interagindo melhor com a comunidade e suas patologias regionais, o profissional desempenharia um trabalho de melhor qualidade”, concluiu Samir Bittar. Desde abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) trabalham na elaboração do projeto “Diretrizes para Condutas Médicas”. As normas foram definidas a partir de discussões entre a Diretoria Científica da AMB e especialidades, visando a formulação dos consensos ou protocolos - como também são conhecidos - que orientem procedimentos médicos através de uma linguagem uniformizada. “Espera-se, assim, dar aos médicos suporte científico para suas decisões profissionais frente aos pacientes, às fontes pagadoras e aos eventuais processos de responsabilidade civil”, explica o texto normativo aprovado. “Conforme delineado no início desta gestão, discutimos todos os aspectos necessários para que chegássemos a uma proposta de normatização, incluindo desde o nome do projeto à metodologia a ser empregada”, relata Fábio Jatene, diretor científico da AMB, que, ao lado de Raul Cutait, coordena o projeto. No mês de junho, as sociedades científicas definiram os três temas mais importantes em suas respectivas especialidades, bem como os profissionais que as representarão nas Câmaras Técnicas onde as diretrizes serão elaboradas. “As sociedades que já têm diretrizes estarão adaptando-as à linguagem das normas. As que não têm, irão criá-las também de acordo com a normatização. Certamente, Chris Ryan - Ag. Keystone Diretrizes v‹o normatizar as condutas mŽdicas surgirão temas comuns a mais de uma especialidade e, nesses casos, sugeriremos que as sociedades envolvidas elaborem, juntas, uma diretriz multissocietária”, adianta Jatene. SUPORTE CIENTÍFICO “No Brasil, muitas escolas não formam os médicos de maneira conveniente e 35% dos formados não têm acesso à residência. Com a classe sendo massacrada pelas condições econômicas, sem poder investir na atualização, essas diretrizes vêm preencher um espaço muito importante, dando suporte científico para decisões nas áreas de diagnóstico, tratamento e prevenção”, avalia Raul Cutait. “Nossa intenção com esse projeto é uniformizar o atendimento num nível elevado sem, contudo, engessar a conduta do médico. Não queremos ver o médico submetido a práticas pouco recomendadas, impostas eventualmente por convênios ou outras fontes pagadoras. Vamos favorecer o exercício da boa medicina”, ressalta Fábio Jatene. O trabalho desenvolvido pelas duas entidades contou com a participação de Antonio Vaz Carneiro, diretor do Instituto de Qualidade em Saúde (IQS) – órgão governamental responsável pela elaboração das diretrizes em Portugal –, que, à convite da AMB, esteve em São Paulo para trocar experiências. A seu res- peito, Jatene observou: “Sua vinda foi muito útil, devido ao nível de familiaridade dos assuntos. Ele nos auxiliou bastante, pois eventuais circunstâncias negativas em nosso trabalho poderão ser evitadas com as experiências realizadas em Portugal", A primeira etapa de elaboração do projeto já foi concluída: as especialidades definiram e enviaram para a AMB os temas considerados de maior importância. Ao todo, foram apresentados 126 assuntos, definidos como relevantes pelas sociedades. Na segunda fase do projeto, já em andamento, a AMB enviou às sociedades a metodologia para a elaboração dos consensos, bem como a relação das especialidades que possuem interface. Até 10 de janeiro, as especialidades deverão encaminhar as diretrizes dentro das normas estipuladas. Finalizada a fase de elaboração das “Diretrizes para Condutas Médicas", terá início a etapa de divulgação e implantação, que exigirá empenho ainda maior das entidades envolvidas. “É preciso que as diretrizes sejam conhecidas e adotadas pelos médicos de todo o Brasil. Para isso, serão utilizadas revistas, jornais, Internet, etc. Também está sendo analisada a possibilidade de editar um livro com todas as condutas", observa Jatene. Posteriormente, será realizada uma avaliação do projeto e seu impacto na prática clínica. Daí em diante, novas diretrizes poderão ser elaboradas. MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 15 Dezembro/2000 e s p e c i a l A nova Lista de Procedimentos MŽdicos Um encontro histórico, realizado no dia 16 de dezembro, em Brasília, que reuniu diretores da AMB e conselheiros do CFM, marcou a união das entidades e a aprovação de ações unificadas pelo movimento médico nacional. Além de propostas contra a abertura indiscriminada de novas escolas médicas, “Buscamos uma lista sem distorções ou diferenças entre as especialidades. Esperamos que até o final de nossa gestão ela esteja efetivamente implantada", esclareceu Eleuses Paiva, presidente da AMB. “Há tempos o CFM vinha sofrendo pressões para criar sua própria tabela, o que não foi feito antes para evitar conflito entre as entidades. Esse trabalho prova ser possível a efetivação de uma política médica unificada sem desrespeitar as características de cada entidade", completou Edson Andrade, presidente do CFM Mary Crosby - Ag. Keystone METODOLOGIA projetos comuns de educação médica continuada, sistema privado de saúde e financiamento da saúde pública, o encontro foi decisivo para a discussão e aprovação da elaboração de uma nova Lista de Procedimentos Médicos da AMB/CFM. A proposta de elaboração de uma nova LPM, com a participação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), visa compatibilizar os honorários médicos com as implicações econômicas atuais - garantindo, assim, maior credibilidade ao instrumento – e foi apresentada e aprovada pelos Conselhos Científico e Deliberativo e referendada durante as reuniões do Planejamento Estratégico da AMB no início deste ano - e também pela Plenária, durante o I Encontro Nacional de Conselhos de Medicina, realizado em Florianópolis. Pela primeira vez na história da medicina brasileira os médicos terão uma Lista de Procedimentos Médicos editada pelas duas maiores entidades médicas nacionais e com o respaldo de uma entidade econômica. A convite da AMB, o professor Hélio Zylberstajn, economista da Fipe, expôs em reunião do Conselho Científico as linhas gerais de uma proposta de elaboração da nova LPM. Na avaliação da Fipe, sua construção deve basear-se numa “hierarquia de atos médicos", explicou o economista. “Há que se definir a importância relativa de cada procedimento e seus requisitos, como grau de dificuldade, tempo, etc. Depois, as médias serão ponderadas e chegaremos ao valor do ato médico", resumiu, após minuciosa explanação. A Fipe baseia sua proposta na definição de atributos inerentes ao ato médico e sua importância relativa, escolha de atos-âncora (ou atos típicos) em cada uma das especialidades e a diferenciação entre atos puros e os que envolvam equipamentos e insumos. Confrontados os itens apontados pelas áreas clínica, ci- rúrgica e de SADT, concluiu-se que, no ato médico, o tempo é o fator mais importante. Os demais atributos - como qualificação do profissional, complexidade, insalubridade, etc. - estão sendo definidos. Cada uma das sociedades entregou à Fipe a relação dos seus respectivos atos-âncora, além da listagem completa dos procedimentos da especialidade, limitados em 10% além dos constantes da LPM/99. A partir daí, a Fipe deu início à elaboração propriamente dita da nova LPM, aplicando seus conceitos metodológicos sobre cada procedimento, numa acurada pesquisa junto às especialidades. Outros aspectos serão considerados num passo seguinte: estratégias para negociação e implantação, regionalização e atualizações permanentes. Durante reunião na sede da AMB, em março, o documento preparado pela Fipe foi apresentado às sociedades de especialidades, Ministério da Saúde e entidades de compradores de serviços. O Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde terão participação e constarão como signatários da LPM. “O respaldo do Ministério da Saúde é o primeiro passo para que a Lista seja adotada pelo SUS", acrescentou Eleuses Paiva. Durante a reunião do Conselho Científico, em 19 de outubro, a diretoria da AMB apresentou sua previsão para o prazo de finalização da nova LPM: em março de 2001, a entidade pretende mostrar ao Conselho Superior o resultado do trabalho conjunto realizado pelas sociedades de especialidades e a Fipe. “O Conselho Superior será formado por representantes das empresas de saúde, Cade, Procon, Idec, AMB, CFM e sociedades de especialidades", explica Lúcio Prado Dias, diretor de Economia Médica da AMB. A idéia é colocar à disposição do Conselho os técnicos da Fipe, para eliminar dúvidas, já que a nova LPM envolve mais de 5 mil procedimentos – ressalte-se que o trabalho somente será publicado após aprovação por parte do Conselho. Sinam ser‡ reestruturado MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 16 Dezembro/2000 O Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinam) foi criado em 1998 pela Associação Médica Brasileira e apresentado oficialmente no dia 29 de maio, em Salvador, BA. O sistema tem como base a relação direta entre médico e paciente, sem intermediários. O usuário do sistema paga diretamente ao prestador de serviço apenas o procedimento que usar, valor esse fixado pela Lista de Procedimentos Médicos da AMB. Além de médicos, sua proposta inicial disponibilizava ainda serviços de outros profissionais, como dentistas, nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, além de clínicas e hospitais. Por entender que não possuía estrutura e meios eficientes para controlar os custos de profissionais não-médicos, a atual diretoria promoveu ampla discussão sobre o sistema. Assim, em outubro de 1999, o cadastramento de usuários e prestadores de serviço foi suspenso para reestruturação do sistema. A AMB designou uma Comissão de Reestruturação do Sinam, presidida pelo presidente da Associação Médica de Minas Gerais, José Guerra Lages, e composta por representantes das federadas de Goiânia, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Intensamente discutido em várias reuniões deliberativas da entidade, o resultado deste trabalho foi apresentado durante o Conselho Deliberativo, realizado no mês de agosto, em Vitória, ES. O documento final aprovado prevê apoio ao projeto Sinam, observados os seguintes pré-requisitos: a) a implantação deverá ser feita pelas federadas e regionais, caso a proposta seja avaliada como conveniente pela diretoria da entidade local, respeitadas as características de cada localidade; b) que a operacionalização seja feita pelas Centrais de Convênios, observadas as peculiaridades de seu funcionamento em cada local; c) a assistência deverá se restringir aos e s p e c i a l serviços profissionais médicos, não devendo ser assegurado compromisso com a prestação de assistência hospitalar; d) a assistência deverá ser exclusivamente médica, não incluindo outras categorias profissionais; e) não deverá ser feita cobrança dos usuários, a qualquer título, pelas federadas e regionais; f) os honorários profissionais terão como referência a Lista de Procedimentos Médicos da AMB; g) os profissionais que desejarem participar do sistema deverão assumir o compromisso, por escrito, de acatarem as orientações da LPM, quanto às normas de sua utilização; h) a elaboração de catálogo, com listagem dos profissionais que tenham interesse em participar do sistema, informando a especialidade e locais de atendimento; i) quanto à especialidade, deve conter: área de exercício profissional ______ Em conformidade com o Decreto nº 20.931, de 1932, todo médico é habilitado a exercer sua profissão em qualquer área de atuação. Encontram-se listados, a seguir, os médicos que exercem atividade na área de _____. Ao lado do nome do médico, é assinalado ou não sua certificação com o título de Especialista. O título de Especialista é uma certificação concedida pela Associação Médica Brasileira/Sociedades de Especialidades (TEAMB) e/ou Comissão Nacional de Residência Médica (TERM), com posterior registro no Conselho Federal de Medicina. Para obtenção do título de Especialista da AMB na área de _____, é necessário (especificar pré-requisitos, programa, duração do treinamento, etc); j) recomendar aos usuários a realização de plano de saúde para cobertura exclusiva do GRANDE RISCO (assistência médico-hospitalar, cujo custo é aproximadamente 50% inferior ao plano referência), caso esta orientação seja julgada conveniente pela diretoria da entidade médica local; k) para melhor operacionalização do sistema, sugere-se a realização de convênios entre a associação médica local e instituições, cabendo a estas a produção e entrega aos usuários de catálogos com relação dos profissionais que participam do sistema, não devendo ser cobrado da instituição pagamento a qualquer título; l) em conformidade com a estrutura administrativa da Central de Convênios, poderão ser realizados convênios com serviços e clínicas que desejarem participar do sistema, mediante compromisso escrito de acatarem os valores e normas da LPM. A relação destes serviços constará no mesmo catálogo; m) quanto ao atendimento à pessoa física, poderão ser fornecidos aos interessados os catálogos acima referidos, de forma gratuita, não devendo ser cobrado nenhum valor, a qualquer título, tomando-se o cuidado para que não haja vulgarização do atendimento médico pelo fato dos catálogos serem fornecidos de forma gratuita; n) dentro de 12 meses, só deverão constar do catálogo os médicos sócios, quites, das federadas e da AMB. Robert Talbor, 1672 Resolu•‹o disciplinou propaganda Visando disciplinar a propaganda de equipamentos e produtos farmacêuticos junto à classe médica e zelar pelo desempenho ético da Medicina, prestígio e bom conceito da profissão, o CFM aprovou a Resolução nº 1.595/2000, proibindo a vinculação da prescrição médica ao recebimento de vantagens materiais oferecidas por empresas de fabricação ou comercialização de produtos farmacêuticos e equipamentos médicos. A resolução estabelece, ainda, que os médicos que proferirem palestras ou escreverem artigos para promoção ou divulgação de produtos farmacêuticos e equipamentos para uso na Medicina declarem quem patrocinou suas pesquisas e apresentações. A medida teve ótima repercussão entre as sociedades de especialidades. Para Aldemir Humberto Soares, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), entidade que congrega cerca de 6 mil profissionais, a resolução trará total transparência à categoria. “Além disso, garantirá maior credibilidade à profissão. Os profissionais da radiologia, por força da especialidade, têm um contato muito próximo com empresas de equipamentos, filmes e contrastes. Essa era uma preocupação do CBR e a resolução vem, em boa hora, formalizar a possibilidade de um relacionamento extremamente ético”, afirma. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), com cerca de 10 mil associados, também entende que essa relação deve ter como princípio básico a ética. “Sua regularização, no entanto, se dará pela prática", afirma o presidente da entidade, Gilson Soares Feitosa. “Entendemos como perfeitamente saudável essa resolução do Conselho, por isso vamos adotá-la em todos os congressos promovidos por nossa Sociedade", garante. Para João César Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), a decisão do CFM trará bons resultados para a classe médica. Ele cita como exemplo a França, país que adotou medida semelhante, com punições severas aos profissionais que não cumprem a legislação. “Entendo que essa resolução garantirá total transparência ao setor, beneficiando todo o processo de relacionamento", diz. A Febrasgo – Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, que reúne cerca de 15 mil profissionais, já publicou a resolução do CFM em seu meio informativo. “Foi uma decisão importante e louvável do Conselho, que vem solidificar nossa relação junto à indústria farmacêutica com base em princípios éticos", afirma seu presidente, Edmund Chada Baracat. “Essa resolução do CFM é oportuna, transparente e segue a tendência mundial, já que está sendo adotada em outros países. É extremamente importante para a classe médica e por isso precisa ser amplamente divulgada", opina Fábio Jatene, Diretor Científico da AMB. MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 17 Dezembro/2000 e s p e c i a l Cinaem prepara a transforma•‹o do ensino mŽdico no Brasil Marcio Arruda Em audiência na Câmara dos Deputados, a coordenação da Cinaem apresentou os resultados da terceira fase de atuação No ano 2000, a Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (Cinaem) deu mais um grande passo em direção à imprescindível reformulação do ensino médico no Brasil, com a publicação do relatório de sua terceira fase, intitulado Preparando a transformação da educação médica brasileira, lançado no auditório do Senado Federal, em Brasília, no mês de agosto. O referido relatório é fruto de três oficinas, do IX Fórum Nacional de Avaliação do Ensino Médico e do Seminário Internacional de Acreditação e Certificação Profissional, além da aplicação de testes em alunos de todas as 75 escolas médicas que aderiram a essa fase do projeto. A terceira fase avaliou o crescimento cognitivo durante a graduação, o nível de conhecimento do aluno ao concluir o curso e a curva de crescimento ao longo do curso nas grandes áreas do conhecimento médico. Criado em 1991, o projeto Cinaem - que reúne 12 entidades médicas e de ensino médico, docentes e discentes, entre as quais o CFM, o Cremesp e o Cremerj - é uma proposta revolucionária de transformação da escola médica, tanto na forma como no conteúdo. Na forma, porque - ao envolver os vários segmentos do setor - pressupõe a construção democrática dessa transformação, mostrando-se a alternativa mais inovadora no cenário médico desde a elaboração do Sistema Único de Saúde. No conteúdo, porque não é uma mera mudança de diretrizes curriculares, mas sim de modelo pedagógico. Difere-se profundamente do Provão, que utiliza uma avaliação padrão sem fazer nenhuma crítica ao modelo de ensino atual, nem propor a reformulação pedagógica. A proposta da Cinaem objetiva colocar o aluno de medicina em contato com as necessidades da sociedade, desde o primeiro ano. Trata-se de uma inversão de valores em relação à escola clássica de medicina, que vai da parte para o todo. No projeto, o aluno entra em contato, primeiramente, com o todo, por meio do conhecimento das prioridades em relação à saúde da população – por exemplo, a prevenção de doenças. A partir daí, e paulatinamente, vai aprofundando o seu grau de conhecimento e atuando em procedimentos de maior complexidade. O objetivo precípuo é que o aluno consolide os conhecimentos integrais e terminativos, dando-lhe condições de exercer a medicina junto à coletividade já a partir da formatura, pois terá uma formação clínica sólida. E este processo é uma transformação que atinge a todos: direção da escola, professores e alunos. “No próximo ano, esperamos que o Ministério da Educação efetivamente incorpore as diretrizes curriculares da Cinaem – tal como se comprometeu no último congresso da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Nossa expectativa é que o projeto avance como fruto da discussão coletiva, não só acadêmica, mas prioritariamente com base nas reais necessidades da população brasileira”, diz Regina Parizi Carvalho, conselheira do CFM, presidente do Cremesp e secretária executiva da Cinaem. Em defesa do cooperativismo MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 18 Dezembro/2000 A Associação Médica Brasileira (AMB), assim como outras entidades médicas, sempre defendeu o cooperativismo por entender que o mesmo é um mecanismo ético, proporcionando uma relação médico-paciente direta. Desta forma, vem incentivando suas federadas a criarem os Departamentos de Convênios. Recentemente, seguindo o exemplo de outros estados, o Rio de Janeiro também lançou sua Central de Convênios, formada pelas seguintes entidades: sociedade médica, conselho regional, sindicatos dos médicos e sociedades de especialidades. O princípio básico da Central é o credenciamento universal dos médicos e a plena liberdade de escolha por parte dos pacientes, diferentemente do que ocorre com os planos de saúde. Na Central, os médicos não correm o risco de imposições e os contratos coletivamente negociados permitem o estabelecimento de valores dignos a todos os procedimentos. Visando debater e aprofundar as discussões sobre o cooperativismo, a AMB incluiu este tema no I Congresso Brasileiro e II Congresso Paulista de Política Médica, realizados em novembro, em São Paulo. No documento final, que resume as decisões do evento, consta a seguinte proposta: “Fortalecer o cooperativismo ético, estendendo a ampliação da participação da classe médica neste modelo de assistência". “Acredito e defendo o cooperativismo. Acredito que a retirada do intermediário no bem de consumo é importante. Na relação médicopaciente, sua inexistência é vital. A filosofia do cooperativismo é, sem dúvida, boa, pois tem como base uma relação de princípios éticos e de interesse da classe”, afirma Eleuses Paiva, presidente da AMB. e s p e c i a l AMPLIAÇÃO DA DISCUSSÃO Felizmente, com a participação de pesquisadores de diversos países e após discussões em muitos fóruns internacionais (nos quais a representação brasileira defendeu a manutenção dos padrões éticos atualmente vigentes), a Associação Médica Mundial resolveu adiar sua decisão sobre as modificações na Declaração de Helsinque. Os vários protestos internacionais forçaram a AMM a abrir uma discussão mais ampla, tendo sido anulada a proposta de 1999 e distribuída uma nova versão para avaliação. Foi então decidido que as associações médicas de cada país deveriam facilitar o aprofundamento do assunto, para posterior apreciação na 52ª Assembléia Geral da Associação Médica Mundial. A NOVA PROPOSTA APRESENTADA EM 2000 A Žtica dos ensaios cl’nicos e a nova vers‹o da Declara•‹o de Helsinque Após três anos de discussões, a 52ª Assembléia Geral da Associação Médica Mundial (AMM), realizada em outubro de 2000, em Edimburgo, na Escócia, aprovou o novo texto da Declaração de Helsinque - sua quinta alteração desde que foi adotado pela AMM, em 1964. A Declaração de Helsinque é um marco importantíssimo no estabelecimento de padrões éticos adequados para a pesquisa envolvendo o ser humano, independente de raça, origem ou poder econômico. Além disso, esta Declaração, apesar de originária da Associação Médica Mundial, ou seja, ter sido escrita por e para médicos, tornou-se, por seus méritos, um bem de toda a sociedade. Entretanto, nos últimos três anos houve intensa pressão de pesquisadores e entidades norte-americanas para diminuir as exigências éticas para as pesquisas realizadas em países em desenvolvimento. ANTECEDENTES É inegável que para o desenvolvimento de novos medicamentos, métodos diagnósticos e vacinas faz-se necessária a realização de pesquisas envolvendo a participação de seres humanos. Com a justificativa de que os países pobres não têm mesmo acesso aos tratamentos ideais (os exemplos mais comuns estão relacionados ao acesso a medicamentos para o tratamento da AIDS), surgiram diversas ações no sentido de modificar a Declaração de Helsinque. Os itens mais polêmicos são aqueles relacionados com o acesso aos cuidados de saúde e à utilização de placebo como controle do experimento. PROPOSTA APRESENTADA EM 1999 Em 1999, foi divulgada a primeira proposta de modificação (ver Quadro), a ser apreciada na 51ª Assembléia Geral da Associação Médica Mundial (em Tel Aviv, outubro de 1999), com diversas modificações que, se aprovadas, significariam enorme retrocesso ético. Sobre o acesso à saúde, a proposta era que “em qualquer protocolo biomédico de pesquisa, a todo paciente-sujeito, incluindo aqueles do grupo-controle, se houver, deve ser assegurado que ele ou ela não terão negados o acesso ao melhor método diagnóstico, profilático ou terapêutico que em qualquer outra situação estaria disponível para ele ou ela". Logicamente, se o disponível fosse acesso algum, isto abriria um caminho eticamente justificável para se conduzir o ensaio sem oferecer qualquer tratamento. Em relação à utilização de placebo, a proposta acrescentava o seguinte artigo: "(...) Quando a medida do efeito (end point) não for morte ou incapacidade, placebo ou outros controles sem tratamento poderão ser justificados baseados em sua eficiência” – o que significava que a eficiência (fosse ela baseada em custo, menor número de voluntários necessários ou rapidez para o término da pesquisa) seria justificativa suficiente para não incluir na comparação o procedimento, medicamento ou vacina com eficácia conhecida. Esta modificação avalizaria, por exemplo, pesquisas muito criticadas realizadas em países africanos e na Tailândia, onde o placebo foi comparado à AZT em doses menores e por tempo mais curto, ao invés de comparado com o regime de AZT sabidamente eficaz. Nesta, a noção de acesso aos cuidados de saúde disponíveis foi retirada, mas uma nova modificação foi acrescentada – ao invés de “melhor método comprovado de diagnóstico e terapêutica” foi explicitado que os voluntários deveriam ter acesso “aos métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos provados eficazes.” Tal modificação poderia significar dois pesos, duas medidas: e.g. melhor método comprovado para os países industrializados e qualquer coisa que for provado para o resto. Sobre o item placebo, o artigo acrescido foi felizmente removido, mantendo-se a mesma redação da Declaração de 1996. A FALÁCIA DA URGÊNCIA A urgência para controlar a infecção pelo HIV, utilizada como um dos principais argumentos para estas modificações, tem um sofisma fundamental. Na verdade, a urgência real de diversos países é o acesso a métodos preventivos, terapêuticos ou vacinas eficazes - e não apenas o acesso a ensaios clínicos. Estes, poderão ser realizados em diversos países/comunidades onde os preceitos da Declaração de Helsinque sejam aplicáveis, ou seja, onde haja menor vulnerabilidade. O acesso ao melhor tratamento comprovado trata indivíduos como iguais, independente de raça, poder econômico ou local de moradia e está de acordo com o princípio ético de justiça distributiva. Além disso, a diminuição dos padrões éticos certamente facilitaria o direcionamento das pesquisas para países/comunidades mais pobres e vulneráveis. A 52ª ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL Finalmente, após o recebimento de sugestões das diversas associações médicas nacionais, incluindo a firme posição da Associação Médica Brasileira pela manutenção dos níveis éticos preconizados pela Resolução de 1996 - reforçada pelo Conselho Federal de Medicina e Conselho Nacional de Saúde, entre outros -, a nova versão da Declara- MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 19 Dezembro/2000 e s p e c i a l ção foi apresentada na 52ª Assembléia Geral da Associação Médica Mundial - onde foram incorporadas a maioria das sugestões das associações médicas nacionais, de outras entidades e pessoas e da própria discussão realizada na Assembléia. A DECLARAÇÃO DE HELSINQUE (VERSÃO 2000) Em 7 de outubro de 2000, a nova versão foi aprovada pelo Plenário da 52ª Assembléia. Comparada com a versão de 1996, houve realmente melhorias em alguns pontos e, tão importante quanto, não foram incorporaCOMPARAÇÕES ENTRE O TEXTO DE das quaisquer das modificações propostas em 1999. A palavra “melhor” foi reintroduzida no item 30, sobre o acesso aos cuidados médicos – o qual ficou com a seguinte redação (Quadro 1): “No final do estudo, todos os pacientes participantes devem ter assegurados o acesso aos melhores métodos comprovados profiláticos, diagnósticos e terapêuticos identificados pelo estudo”. Desta maneira, novo conceito foi incluído, ou seja, a obrigação de prover os melhores métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos após a conclusão do estudo – o que significa um avanço significativo, especialmente em ensaios realizados em países em desenvol- 1996, ALGUMAS MODIFICAÇÕES PROPOSTAS 2000, EM EDIMBURGO E O TEXTO APROVADO EM OUTUBRO DE Texto vigente Modificações propostas (1999) ACESSO A CUIDADOS MÉDICOS II. Pesquisa médica combinada §18. Acesso a cuidados com cuidados profissionais médicos: (pesquisa clínica): Em qualquer protocolo 3. Em qualquer estudo médico, biomédico de pesquisa, a todo todos os pacientes – incluindo paciente-sujeito, incluindo aqueles do grupo-controle, se aqueles do grupo-controle, se houver – devem ter houver, deve ser assegurado assegurados o melhor método que ele ou ela não terão comprovado de diagnóstico e negados o acesso ao melhor terapêutica. método diagnóstico, profilático ou terapêutico que em qualquer outra situação estaria disponível para ele ou ela. USO DE PLACEBO Seção II.3: §18. Ensaios clínicos Isto não exclui o uso de controlados: este princípio não placebo inerte em estudos exclui o uso de placebo ou onde métodos diagnósticos ou grupos-controle sem tratamento terapêuticos não existam. se isto for justificado por um protocolo de pesquisa científica e eticamente corretos. §19: Quando a medida do efeito (end point) não for morte ou incapacidade, placebo ou outros controles sem tratamento poderão ser justificados baseados em sua eficiência. Modificações propostas (2000) Modificações aprovadas (Out. 2000) C. Pesquisa médica combinada 30. No final do estudo, todos os com cuidados profissionais: pacientes participantes devem ter assegurados o acesso aos 24b. Em qualquer estudo melhores métodos médico, todos os pacientes – comprovados profiláticos, incluindo aqueles do grupodiagnósticos e terapêuticos controle, se houver – devem ter identificados pelo estudo. assegurados os métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos provados eficazes. 24c. Isto não exclui o uso de placebo inerte em estudos onde métodos diagnósticos ou terapêuticos não existam. 29. Os benefícios, riscos, dificuldades e efetividade de um novo método devem ser testados comparando-os com os melhores métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos atuais. Isto não exclui o uso de placebo ou nenhum tratamento em estudos onde não existam métodos provados de profilaxia, diagnóstico ou tratamento. vimento. Entretanto, dois pontos ainda deixam a desejar: a) No item 30 ainda será possível a interpretação de que em ensaio profilático (vacina, por exemplo), se estiver indicado o tratamento do voluntário vacinado e não protegido pela vacina em teste, os pesquisadores/patrocinadores não teriam a obrigação de prover tal tratamento pois este não foi identificado pelo estudo. Este ponto poderia ter sido corrigido pela substituição de “identificado pelo estudo” por “relevante para o estudo", o que certamente deixaria cristalina a obrigatoriedade da inclusão do melhor tratamento, mesmo que estabelecido fora do contexto deste ensaio. Vale ressaltar que na Assembléia as delegações do Brasil e da África do Sul propuseram esta substituição em todas as oportunidades cabíveis (discussão preliminar e na Plenária final), a qual infelizmente não foi acatada na votação final; b) Não se menciona o acesso, durante o ensaio, aos melhores métodos comprovados profiláticos, diagnósticos e terapêuticos. CONCLUSÕES A luta pela manutenção dos preceitos éticos em pesquisa envolvendo seres humanos, universalmente aplicáveis, é de responsabilidade de todas as entidades e pessoas que desenvolvem tais pesquisas. Na situação acima descrita os benefícios advindos da abertura das discussões para os diversos setores envolvidos com ética e pesquisa deveram-se à união e esforços de cientistas, entidades e ativistas de todo o mundo - e, no Brasil, da Associação Médica Brasileira, do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Nacional de Saúde para evitar que fossem diminuídos os padrões éticos anteriormente definidos na versão 1996 da Declaração de Helsinque. Esta vitória representa um passo importante de uma luta necessária para que se consiga acesso universal à saúde e educação de qualidade. Um congresso para atualiza•‹o tecnol—gica MEDICINA CONSELHO FEDERAL JAMB 20 Dezembro/2000 A AMB e a Fenasoft assinaram uma parceria inédita: em conjunto, estarão organizando e realizando a Meditech 2001 - Feira e Congresso Internacionais de Atualização Tecnológica da Medicina, que acontecerá de 11 a 14 de março de 2001, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo. O evento contará com o Congresso Meditech, onde médicos, profissionais de saúde, administradores hospitalares, empresários da área médica, gerentes de clínicas e laboratórios, além de profissionais ligados aos sistemas de informática em seus mais variados estágios, terão a oportunidade de interagir com os maiores especialistas no uso dessa tecnologia como ferramenta de produtividade no cotidiano da vida do médico - desde o uso básico dos com- putadores até as mais modernas ferramentas e tecnologias de diagnóstico. Paralelamente, será realizada a Feira Meditech, que exporá produtos e equipamentos de última tecnologia dirigidos exclusivamente à área médica. “Há grande procura dos médicos por eventos que unam a face prática com a acadêmica, com uma programação baseada nas necessidades do dia-a-dia e nos desafios do futuro", explica Fábio Jatene, Diretor Científico da AMB. A Meditech, que será um evento anual, torna-se também um evento oficial da AMB e irá abordar tanto o universo de médicos com adiantado uso da informática como os que desejam ingressar na área. A Comissão Científica do evento - formada pelos médicos Fábio Jatene, Aldemir H. Soares, Renato M.E. Sabatini, Umberto Tachinardi, Ruy Tanigawa e Eduardo Massad já definiu o programa preliminar: 1) Como o computador pode facilitar a vida do profissional de saúde; 2) A tecnologia a serviço da gestão dos consultórios, laboratórios, serviços de diagnóstico, clínicas e hospitais; 3) A tecnologia como apoio à atualização científica, educação, diagnóstico e tratamento; 4) A tecnologia dos novos equipamentos ampliando os recursos de diagnóstico e tratamento. Outra novidade é que o evento terá uma home page (www.meditech.com.br) na qual, durante todo o ano, o visitante poderá interagir com as rápidas transformações econômicas, tecnológicas e sociais que afetam diretamente o seu trabalho diário. AGENDA CIENTÍFICA CIRURGIA VASCULAR ANESTESIOLOGIA V ENCONTRO DE CIRURGIA VASCULAR DO CONE SUL XXVI JORNADA DE ANESTESIOLOGIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO I ENCONTRO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA VASCULAR NÃO-INVASIVA RIO DE JANEIRO, 23 A 24 DE MARÇO HOTEL GLÓRIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA INFORMAÇÕES: (21) 537 8100 FOZ DO IGUAÇU, 22 A 24 DE MARÇO MABU RESORT HOTEL SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR - REGIONAL PARANÁ INFORMAÇÕES: (41) 242 0978 CARDIOLOGIA VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL - DIABETES E RISCO CARDÍACO ORLANDO, 17 DE MARÇO MARRIOT ORLANDO WORLD CENTER SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO INFORMAÇÕES: (11) 3179 0044 XXII CONGRESSO DA SOCESP SÃO PAULO, 24 A 26 DE MAIO CENTRO DE CONVENÇÕES DA SOCIEDADE PREVENTÓRIO SANTA CLARA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO INFORMAÇÕES: (11) 289 7610 PEDIATRIA IX CONGRESSO PAULISTA DE PEDIATRIA SÃO PAULO, 24 A 28 DE MARÇO HOTEL MAKSOUD PLAZA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA INFORMAÇÕES: (11) 3849 0379 II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE INFECTOLOGIA EM OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA SÃO PAULO, 27 A 28 DE ABRIL HOTEL TRANSAMÉRICA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA INFORMAÇÕES: (11) 283 4645 ORTOPEDIA IV CONGRESSO BRASILEIRO DE ORTOPEDIA PEDIÁTRICA I CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE ORTOPEDIA PEDIÁTRICA FLORIANÓPOLIS, 28 A 31 DE MARÇO CENTROSUL - CENTRO DE CONVENÇÕES SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA INFORMAÇÕES: (48) 238 0035 GERIATRIA II CONGRESSO CENTRO-OESTE DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA BRASÍLIA, 7 A 9 DE JULHO SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA INFORMAÇÕES: (61) 364 0513 Dezembro/2000 XXXVI JORNADA SUL BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA LONDRINA, 19 A 21 DE ABRIL SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA INFORMAÇÕES: (21) 537 8100 XXXV JORNADA DE ANESTESIOLOGIA DO SUDESTE BRASILEIRO JORNADA PAULISTA DE ANESTESIOLOGIA XI SEMINÁRIO DE ANESTESIOLOGIA EM OBSTETRÍCIA SÃO PAULO, 7 A 9 DE JUNHO HOTEL MAKSOUD PLAZA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA INFORMAÇÕES: (21) 537 8100 PATOLOGIA XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA III EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS APLICADOS À PATOLOGIA SALVADOR, 6 A 10 DE JUNHO CENTRO DE CONVENÇÕES SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA INFORMAÇÕES: (11) 571 5298 FAX: (11) 572 5349 VIII CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL BELO HORIZONTE, 29 DE ABRIL A 1 DE MAIO OURO MINAS PALACE HOTEL SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL INFORMAÇÕES: (11) 5183 7361 FAX: (11) 5184 0841 NEUROLOGIA III CONGRESSO PAULISTA DE NEUROLOGIA SÃO PAULO, 3 A 5 DE MAIO SESC - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA INFORMAÇÕES: (11) 3188 4249 IV CONGRESSO DA SOCIEDADE DE CIRURGIA NEUROLÓGICA DO CONE SUL X JORNADA DA SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO RIO DE JANEIRO RIO DE JANEIRO, 7 A 10 DE JUNHO PORTO REAL RESORT SOCIEDADE DE CIRURGIA NEUROLÓGICA DO CONE SUL E SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO RIO DE JANEIRO INFORMAÇÕES: (24) 231 1991 TRAUMATOLOGIA IX COTESP - CONGRESSO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO SÃO PAULO, 7 A 9 DE JUNHO HOTEL MONTE REAL SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA INFORMAÇÕES: (11) 5184 1716 SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIRURGIA DO JOELHO RIO DE JANEIRO, 26 A 27 DE ABRIL HOSPITAL DE TRAUMATO-ORTOPEDIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA INFORMAÇÕES: (21) 297 7772 II CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM CIRURGIA DO OMBRO E COTOVELO SÃO PAULO, 26 A 28 DE ABRIL ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ARTROSCOPIA INFORMAÇÕES: (11) 3887 3237 NEFROLOGIA VIII ENCONTRO PAULISTA DE NEFROLOGIA VIII ENCONTRO PAULISTA DE ENFERMAGEM EM NEFROLOGIA SÃO PAULO, 9 A 12 DE MAIO SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA INFORMAÇÕES: (11) 7292 2281 CIRURGIA GERAL XVI FÓRUM DE PESQUISA EM CIRURGIA DO NÚCLEO CENTRAL DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES RIO DE JANEIRO, 11 DE OUTUBRO CENTRO DE CONVENÇÕES INFORMAÇÕES: (21) 537 9164 NEUROCIRURGIA X CONGRESSO DE ATUALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA EM NEUROCIRURGIA SÃO PAULO, 18 A 21 DE JULHO CENTRO DE CONVENÇÕES REBOUÇAS SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA INFORMAÇÕES: (11) 288 2638 NUTRIÇÃO III CONGRESSO MUNDIAL DE NUTRIÇÃO EM PEDIATRIA SÃO PAULO, 6 A 9 JULHO HOTEL MAKSOUD PLAZA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA INFORMAÇÕES: (11) 3361 3056 MEDICINA CONSELHO FEDERAL 21 CFM CFM ESTÁ EMPENHADO NA MELHORIA DA RESIDÊNCIA MÉDICA QUE ENTENDER QUE A FORMAÇÃO NA GRADUAÇÃO NÃO É TERMINAL. INFELIZMENTE, TEMOS UMA FORMAÇÃO EXCESSIVAMENTE TEÓRICA, DESUMANIZADA, COMPARTIMENTAD A, DIVORCIADA DAS NECESSIDADES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO. DESTA MANEIRA, O RECÉMFORMADO, SEGUNDO PESQUISAS, NÃO SE SENTE SEGURO PARA EXERCER A PROFISSÃO ASSIM QUE TERMINA A GRADUAÇÃO. ISTO TEM ATRIBUÍDO UM PAPEL À RESIDÊNCIA QUE VAI ALÉM DA FORMAÇÃO ESPECIALISTA, ATINGINDO PATAMARES DE COMPLEMENTAÇÃO DA GRADUAÇÃO. E ESTA CONDIÇÃO É COLOCADA QUASE QUE PELO OBRIGATORIAMENT E PELO MERCADO DE TRABALHO, DE MODO QUE NÃO FAZER RESIDÊNCIA É QUASE SER UM MÉDICO DE SEGUNDA CATEGORIA", ALERTA HÊIDER 22 MEDICINA CONSELHO FEDERAL Ao completar um século de sua criação nos Estados Unidos, ocorrida em 1899, e setenta anos no Brasil, a residência médica, a exemplo do próprio ensino médico, enfrenta hoje problemas cruciais para o futuro da formação profissional e para um atendimento médico de qualidade, social e eticamente comprometido com as demandas da sociedade brasileira e com as necessidades de assistência à saúde. Preocupado com essa realidade, o Conselho Federal de Medicina instituiu uma comissão técnica, coordenada pelo conselheiro Silo Tadeu Silveira de Holanda Cavalcanti, para debater o assunto e tentar apresentar soluções para a superação desses problemas. Paralelamente, participa, em conjunto com a Associação Médica Brasileira (AMB) e outras entidades, da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) que vem discutindo propostas de mudanças do programa de residência visando exatamente melhorar o nível de qualificação dos recém-formados. Segundo a presidente da Comissão Nacional de Residência Médica, Vera Lúcia Vilar de Araújo Bezerra, essas propostas serão apresentadas no fórum nacional da comissão, previsto para março do próximo ano, inclusive com a participação de representantes do CFM e da AMB. Entre as propostas, ela destaca algumas resoluções que deverão ser discutidas e aprovadas com relação à estrutura e pré-requisitos dos programas de residência. Como representante do CFM no CNRM, Silo Tadeu reconhece os problemas existentes, citando principalmente a baixa qualidade da formação e o limitado comprometimento das instituições com os formandos, além do reduzido número de comissões estaduais de residência médica. Por isso, defende o aprimoramento do treinamento para melhorar a qualidade da residência e dos novos profissionais e uma maior participação dos Conselhos Regionais de Medicina nessas comissões estaduais, o que poderia ajudar a melhorar o nível da residência. Além de entender que a participação dos CRMs é importante para agilizar a instalação e funcionamento dos conselhos estaduais, Silo Tadeu defende, inclusive, maior apoio material dos regionais, particularmente nas comissões que mais dependem dessa ajuda. Propõe, também, uma melhor distribuição das instituições de acordo com os programas de residência oferecidos, ampliação das vagas, laboratórios melhor estruturados e maior assistência aos bolsistas, além do aprimoramento da relação ética do processo. “Temos que considerar que a formação técnico-científica é importante para o desempenho do futuro profissional e para o atendimento ao paciente, mas a formação ética serve para a vida como um todo", acrescentou. Silo Tadeu lembra que, além do cumpri- mento da legislação, o CFM também se preocupa com a qualidade do treinamento e dos profissionais. Dessa forma, acha que a CNRM deve voltar a reavaliar as instituições promotoras e mantenedoras visando aumentar o comprometimento das mesmas com os programas e formandos. Para Vera Lúcia, os maiores problemas estão na falta de estrutura dos progra- Arte popular “TEMOS mas de residência médica e na assistência deficiente dos preceptores aos bolsistas. Os residentes, no entanto, apontam outros problemas. Roberto Terranova, presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes, levanta a questão do Fórum das Especialidades - a partir do qual se busca estabelecer uma lista única de especialidades, pré-requisito, duração do programa básico, instalações mínimas das instituições, avaliação, certificação, entre outros – e sugere a revisão dos critérios de credenciamento das instituições, particularmente em relação ao número e tipos de especialidades que mais interessam à sociedade, e sua distribuição no país. Defende a aprovação, pelo Congresso Nacional, do projeto de lei sobre residência médica que, segundo ele, está parado no Legislativo desde 1991. “Apesar de ter sido mutilado ao longo do processo legislativo, entendo que o projeto ainda traz mudanças importantes, como a ampliação da representatividade da sociedade civil organizada na Comissão Nacional de Residência Médica, além da descentralização do poder de recredenciamento, descredenciamento e certificação da comissão, bem como a normatização do auxílio-moradia", explicou Terranova. Na opinião do coordenador geral da Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina, Hêider Aurélio Pinto, a residência médica hoje, além de seu notório papel na formação do especialista, assume uma função na complementação da formação do médico devido à re- conhecida deficiência da escola médica brasileira. Afirma que além da residência não estar preparada para esta função, percebe-se a necessidade de que seja repensada com a máxima urgência, principalmente em relação ao descompasso entre as orientações do programa de formação e as necessidades do sistema de saúde e da população. “Temos que entender que a formação na graduação não é terminal. Infelizmente, temos uma formação excessivamente teórica, desumanizada, compartimentada, divorciada das necessidades de saúde da população. Desta maneira, o recém-formado, segundo pesquisas, não se sente seguro para exercer a profissão assim que termina a graduação. Isto tem atribuído um papel à residência que vai além da formação especialista, atingindo patamares de complementação da graduação. E esta condição é colocada quase que pelo obrigatoriamente pelo mercado de trabalho, de modo que não fazer residência é quase ser um médico de segunda categoria", alerta Hêider. Em sua avaliação, a formação direcionada mais para as especialidades, como acontece atualmente, agrava ainda mais o fosso entre o quadro geral de competências e habilidades médicas necessário para o país e o quadro deficiente constatado. Por outro lado, critica a injusta distribuição territorial das oportunidades, com exagerada concentração de programas de residência na região Sudeste, principalmente em São Paulo, em detrimento das demais. Essa crítica é confirmada pelos próprios dados da Comissão Nacional de Residência Médica. Hoje, a região Norte, por exemplo, dispõe de apenas 170 vagas; a Centro-Oeste, 979; a Nordeste, 1.577; a Sul, 2.367; enquanto a Sudeste tem o número recorde de 9.219 vagas. Diante desse fato, como interiorizar a medicina, como propõe o Ministério da Saúde, com uma distribuição tão desigual de oferta de vagas na residência médica no país? - pergunta Hêider. Além da concentração de vagas, a própria secretaria-executiva da CNRM admite que a oferta permanece praticamente estagnada para alunos que dependem de bolsas pagas pelo MEC. Apesar das 14.312 vagas oferecidas este ano nas 1.900 instituições hospitalares, mais de 1.500 formandos ficaram de fora por falta de vagas. Na última reunião da comissão, por exemplo, foram aprovadas 367 novas vagas nas instituições estaduais, municipais e privadas, contra apenas 23 nas federais. E os problemas não páram por aí, segundo Hêider: “Os direitos garantidos em lei não são respeitados e muito pouco é feito para mudar este quadro. A bolsa está defasada e a oferta de programas é menor que a demanda, levando um número significativo de médicos a ingressarem em especializações que muito pouco Dezembro/2000 CFM oferecem, tanto em termos de formação quanto em termos de suporte (auxílio-alimentação, moradia, bolsa, etc.)". E denuncia um problema que considera ainda mais grave: o protecionismo de certas instituições a seus alunos no exame de seleção. “Isso é vergonhoso, beira a fraude e agride os princípios de uma seleção pública, escrevendo um capítulo negro na história da academia e de alguns serviços de saúde, abrindo uma crise ética em instituições que deveriam zelar por ela", diz. Para ele, a falta de um estudo nacional acerca das necessidades do país em relação à quantidade necessária das especialidades e o pouco comprometimento do governo com a residência têm levado à criação de programas sem necessidade social, pressionados pelo voluntarismo ou pelo mercado. “Por isso, defendo esse estudo para orientar o credenciamento de programas de residência e o estímulo à criação de outros em especialidades e regiões deficitárias, visando solucionar a má distribuição tanto territorial quanto qualitativa das vagas", acrescenta. Vera Lúcia explica que para restringir a corrida por especialidades o programa de R-3 (alunos do terceiro ano) é limitado a 25% das vagas oferecidas para R-1 (alunos do primeiro ano). Além disso, acrescenta que o maior número de vagas nos programas é destinado exatamente à formação da área básica: clínica médica, cirurgia geral, pediatria e ginecologia e obstetrícia. Hêider aponta algumas mudanças necessárias. Em primeiro lugar, transformar a escola médica, garantindo que o curso seja terminal e produza um profissional generalista, que responda às necessidades de saúde da população. Preservar no especialista uma competência de resolução de problemas próprios das especialidades-raízes, além de humanizar a profissão e tornar o profissional mais resolutivo e eficiente. “Para isto, é fundamental debater o processo de formação da residência médica em um contexto envolvendo a problematização das especialidades, a prática médica e o sistema de saúde, lutando para a sua implantação e combatendo programas que são mais uso de mão-de-obra barata do que treinamento em serviço”, afirma. Hêider acredita que a complexidade do problema exige um tratamento em múltiplas frentes e o envolvimento de diversos atores sociais. “Temos também que exigir e forçar o governo a reconhecer a importância da residência médica, cobrando atitudes coerentes com este entendimento. Porém, a sociedade civil organizada não deve assumir uma postura passiva nesta luta, mesmo porque muitas questões dependem só dela. Problematizar esta questão e engajar-se em tentativas de resolução é um dever urgente para quem assume como missão a defesa da vida e a construção de um sistema de saúde como previsto na Constituição, que é uma aspiração da sociedade”, concluiu. Roberto Terranova aproveita a oportunidade e faz um apelo à categoria médica para que, através de suas entidades representativas e por intermédio de cada um, assuma de uma vez por todas o compromisso com a qualidade do processo de formação do médico residente – visando que as discussões acerca desse tema não mais continuem a ser apenas a esquálida utopia do viés teórico-conceitual. PARA OS ESTUDANTES, EVOLUÇÃO FOI QUASE NULA Apesar de existir há 70 anos no país, a residência médica passou a ser reconhecida legalmente a partir de sua regulamentação pelo Decreto nº 8.281/77, que criou a Comissão Nacional e regulamentou a residência médica. Desde então, tem sido aprimorada por sucessivas leis e resoluções, mas enfrenta ainda uma série de problemas decorrentes principalmente do avanço da medicina e das condições das instituições hospitalares acompanharem, na prática, essa evolução. Segundo Roberto Terranova, esse modelo de formação de especialista chegou ao Brasil na década de 30 como resultado do intenso intercâmbio cul- tural Estados Unidos/Brasil, ocorrido naquela época. Após décadas de muitas lutas, somente em 1981, com a Lei nº 6.932, foram definidas as atividades do médico residente e a residência, como modalidade de ensino de pós-graduação, caracterizada por treinamento em serviço. Hoje, às vésperas do segundo milênio, a residência médica completa 101 anos de seu nascimento como conceito da Associação Médica Americana e 23 anos de seu reconhecimento legal pelo Congresso brasileiro. Para Terranova, a residência, que deveria ter atingido um grau de maturidade ao longo destes anos, na prática evoluiu muito pouco. “Ousaria dizer, aliás, que hoje estamos inseridos num cenário que nos reporta à década de 70, momento muito bem descrito por outros colegas como tendência a ser não-treinamento em serviço, mas prestação de serviços com algum treinamento”. Em sua avaliação, o cenário parece ser o mesmo, mas bem diferentes são os atores nele inseridos. “Os médicos residentes que fundaram a ANMR, em 1967, e que dez anos depois deflagraram um movimento nacional de mobilização – a chamada Grande Greve – que resultou na regulamentação dessa atividade, muito pouco têm em comum com a maioria dos nossos colegas da atualidade”. Terranova acredita que o estado catatônico em que se encontra a nossa sociedade se reflete exemplarmente na realidade dos médicos residentes. Segundo ele, o que impera é a total alienação, o conformismo, o medo e, por fim, o silêncio - que infelizmente, quando rompido por alguns poucos, logo é sufocado por aqueles que insistem em deturpar aeticamente o sentido mais nobre do conceito de residência médica. “A meu ver, é preciso resgatar o esforço, a vontade e a raça daqueles companheiros que nas décadas de 60 e 70 lutaram pela valorização e pela dignidade do trabalho médico, em especialidade da residência médica", encerrou. SENADO APROVA PROJETO QUE AMPLIA PENA DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE MÉDICO Depois de aprovado no Senado, será encaminhado à apreciação da Câmara projeto que amplia de 30 dias para até 24 meses a pena de suspensão do exercício profissional de médicos que vierem a ser julgados e processados pelo Conselho Federal de Medicina e Conselhos Regionais. O projeto, de autoria do senador Edson Lobão (PFL-MA), foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado em caráter terminativo e agora vai à apreciação da Câmara. Se também for aprovado naquela Casa, os conselhos de Medicina terão fortalecida sua atuação fiscalizadora, já que pela legislação atual esses órgãos têm como alternativa a aplicação da pena de 30 dias ou cassação do registro profissional, o que poderia sujeitar o médico a uma penalidade branda ou exagerada. Com a iniciativa, o senador maranhense visa atualizar a Lei nº 3.268/57, que regulamenta a atividade dos conselhos de Medicina. Em seu art. 22, a lei prevê Dezembro/2000 pena de suspensão do exercício profissional por apenas 30 dias como uma das alternativas de sanção aplicáveis ao médico infrator. Segundo Abdon José Murad Neto, terceiro vice-presidente do CFM e que idealizou a proposta, há um flagrante distanciamento entre as penas de suspensão por 30 dias e a mais severa, que é a cassação do exercício profissional, o que tem impedido tanto ao CFM como aos Conselhos Regionais a aplicação de uma pena proporcional à gravidade da infração. “Assim, diante das situações limítrofes, em que o profissional muitas vezes é responsabilizado por atos de seus subordinados, mesmo tendo aplicado todos os conhecimentos atualizados da ciência médica – ou nos casos em que o dano decorre do caráter de imprevisibilidade do organismo humano em contato com novas técnicas ou aparelhagem –, os Conselhos de Medicina ficam impossibilitados de adotar a solução mais ade- quada a cada caso, já que a legislação não permite meio-termo”, adverte Abdon Murad. Segundo o senador Edson Lobão, com a atual legislação, os conselhos se vêem na contingência de suspender o médico por apenas 30 dias ou recorrer à punição extrema de cassação do exercício profissional, com risco de uma condenação exorbitante ou uma absolvição, o que desmoraliza os próprios conselhos. Segundo Abdon Murad, a aprovação do projeto é importante para o médico, que passa a ter chance de recuperação com uma pena alternativa, os conselhos e a própria sociedade. Ante tais fatos, o presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, pede o empenho dos conselhos regionais e dos médicos em particular para a realização de um trabalho de convencimento dos deputados federais de seus respectivos estados, com vistas à importância da aprovação do projeto na Câmara. MEDICINA CONSELHO FEDERAL 23 PENSAR E DIZER Arquivo pessoal A LUTA COMUM DE MÉDICOS E PACIENTES “ASSIM COMO OS PACIENTES NÃO DEVEM OPTAR INGENUAMENTE POR SEU PLANO DE SAÚDE, MAS SIM INTERAGIR COM O MESMO, TAMBÉM NÃO PODEMOS ACEITAR AS IMPOSIÇÕES UNILATERAIS DAS EMPRESAS DE PLANOS DE SAÚDE. OBVIAMENTE, SABEMOS DA FRAGILIDADE DOS MÉDICOS, QUANDO, SOZINHOS, VÃO NEGOCIAR COM AS MESMAS. POR ISSO, ESSE É O MOMENTO DE NOS UNIRMOS EM ASSOCIAÇÕES, COOPERATIVAS E OUTRAS FORMAS DE REUNIÕES, SEMPRE EM SINTONIA COM AS ENTIDADES MÉDICAS, REIVINDICANDO COM CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA TODOS OS NOSSOS DIREITOS” Inúmeros acontecimentos, além do crônico déficit de financiamento da saúde pública, têm trazido a nós, médicos e trabalhadores da área de saúde, grande preocupação. Várias iniciativas por parte dos planos de saúde demarcam a clara tendência de implantação da mentalidade do “managed care", com restrição de credenciamentos, procedimentos e a redução dos honorários médicos, freqüentemente colocados em patamares incompatíveis com a dignidade de um bom atendimento. Para garantir o lucro, as empresas do setor tentam transferir todos os custos para os médicos e pacientes - que na verdade são e sempre foram os protagonistas na saúde. Obviamente, essa indigesta conduta das empresas traz grande conturbação e insegurança. O setor vem enfrentando problemas desde a nova regulamentação dos planos de saúde, que continua a ser alterada com freqüência através de medidas provisórias que redundam em inúmeras incertezas, apesar da constante ação de entidades médicas, órgãos de defesa do consumidor e entidades representativas dos usuários. A ação mercantilista do “managed care”, resultante desse tempo de globalização, tem gerado insatisfação em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos. Lá, o governo manifestou, através do presidente Clinton, sua preocupação com a perda da livre escolha pelos pacientes e com o “amordaçamento” dos médicos. Essa estratégia mercantil e impositiva da globalização só tem trazido infelicidade, exclusão social e violência à sociedade, principalmente no setor saúde, onde seguramente se exige uma visão mais humana na relação médico-paciente e mais democrática na relação entre os atores principais: pacientes, médicos e empresas. O que nós, médicos, certamente não podemos fazer é nos omitir nessa transição. Continuamos a manter com nossos pacientes e a sociedade não só o nosso motivo de existência, mas uma parceria que pode ser intensamente sentida no movimento pela regulamentação dos planos de saúde, quando trabalhamos ao lado das entidades representativas dos pacientes. Devemos, de forma transparente, trazer essa realidade à comunidade para que ela se informe e faça, progressivamente, opções mais conscientes do que espera de um verdadeiro plano de saúde. Nesse sentido, destacamos a recente inauguração de um novo site da APM (www.apm.org.br), na Internet, que permite à sociedade obter informações sobre os planos de saúde, bem como manifestar suas reclamações e sugestões. Ressalte-se que este site também possibilita o acesso aos sites dos órgãos de defesa do consumidor (Procon e IDEC), nos quais os usuários podem ter informações sobre o ranking dos planos de saúde e queixas sobre os mesmos. Essa iniciativa importantíssima demonstra “quem é quem” nessa área. Como nem todos têm acesso à Internet, outras realizações já ocorreram em curto prazo, a exemplo da implantação da linha 0800 17 3313, para que essas informações atinjam o maior número possível de usuários. Assim como os pacientes não devem optar ingenuamente por seu plano de saúde, mas sim interagir com o mesmo, também não podemos aceitar as imposições unilaterais das empresas de planos de saúde. Obviamente, sabemos da fragilidade dos médicos, quando, sozinhos, vão negociar com as mesmas. Por isso, esse é o momento de nos unirmos em associações, cooperativas e outras formas de reuniões, sempre em sintonia com as entidades médicas, reivindicando com conhecimento e competência todos os nossos direitos. Se as empresas forem inteligentes, optarão progressivamente por modelos que considerem evidentemente os custos, mas sem perder a visão da necessidade de valorizar pacientes e prestadores de saúde. Dessa forma, convém também lembrar a confecção da nova tabela referencial de honorários da Associação Médica Brasileira (AMB), que está se iniciando e que ocorrerá de forma técnica (com a participação da Fipe e sociedades de especialidades) mas também democrática, com a possibilidade da participação de todos aqueles que desejarem contribuir com alguma opinião, inclusive as empresas de planos de saúde. A atitude coletiva é a forma de combatermos os abusos do poder econômico dos planos de saúde. Assim, estaremos assumindo nossa cidadania e defendendo o trabalho dos prestadores de serviços e o atendimento dos usuários. Por isso, nos causa no mínimo estranheza atitudes de entidades econômicas como o Cade, dificultando a organização coletiva da classe médica, pois todos sabemos, na verdade, quem tem cometido abusos na área da saúde suplementar. Temos a certeza de que a sociedade saberá fazer o seu julgamento, e é esse o árbitro que queremos. JORGE CARLOS MACHADO CURI É DIRETOR DE DEFESA PROFISSIONAL DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA BIOÉTICA Uma publicação do Conselho Federal de Medicina A primeira revista brasileira especializada em bioética e ética médica Veja a revista no site: www.cfm.org.br/revbio.htm 24 MEDICINA CONSELHO FEDERAL Dezembro/2000