1 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO – MCTI. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA NO TRÓPICO ÚMIDOPPG-ATU AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRITIVA DA BIOMASSA FOLIAR DE LEGUMINOSAS NATIVAS SELECIONADAS PARA ADUBAÇÃO VERDE EM AGROSSISTEMAS DA AMAZÔNIA REJANE ROCHA PINHEIRO GUIMARÃES Manaus, Amazonas Novembro, 2015 i REJANE ROCHA PINHEIRO GUIMARÃES AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRITIVA DA BIOMASSA FOLIAR DE LEGUMINOSAS NATIVAS SELECIONADAS PARA EMPREGO COMO ADUBO VERDE NOS AGROSSISTEMAS DA AMAZÔNIA ORIENTADOR: DR. LUIZ AUGUSTO GOMES DE SOUZA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido (PPG-ATU/ INPA) como requisito para obtenção do título de mestre em Agricultura no Trópico Úmido Manaus, Amazonas Novembro, 2015 ii iii G963a Guimarães, Rejane Rocha Pinheiro Avaliação da qualidade nutritiva da biomassa foliar de leguminosas nativas selecionadas para emprego como adubo verde nos agrossistemas da Amazônia / Rejane Rocha Pinheiro Guimarães. --- Manaus: [s.n.], 2015. 104 f.: il. color. Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015. Orientador: Luiz Augusto Gomes de Souza. Área de concentração: Agricultura no Trópico Úmido. 1. Adubação verde. 2.Febaceae. 3. Matéria orgânica. I.Título CDD 634.9 iv Ao meu esposo Guimarães, meus filhos Pammela, Antônio Luiz, Priscilla e meu neto Fernando Victor pela incansável cumplicidade e ajuda. Dedico v Agradecimentos A Deus, Supremo Criador, pelo dom da vida, e o privilégio de poder ter conseguido concluir este mestrado, e ter me concedido muitas bênçãos. Ao meu marido Lusvaldo Villarouca Guimarães, aos meus filhos Pammela Bell, Antônio Luiz e Priscilla Bell Pinheiro Guimarães e meu neto Fernando Victor que muito me incentivaram e não mediram esforços para que eu chegasse ao fim desta maravilhosa jornada. Ao meu orientador Dr. Luiz Augusto Gomes de Souza, pela confiança, amizade, e pelo ótimo relacionamento profissional, apoio, ajuda e ensinamentos durante a minha vida acadêmica e que servirão para a minha vida profissional. Ao Dr. Hiroshi Noda pelo apoio dado à nossa pesquisa. Aos técnicos do Laboratório de Microbiologia, Manoel Cursino Lopes, Adilson Rodrigues Dantas, Augusto Meireles, Paulino e Marcelo que participaram efetivamente da pesquisa de campo e por todo apoio interno e externo. Aos técnicos do LTSP, Edivaldo, Roberta Kelly, Laura, Gabriela, Jonas Filho e a todos os estagiários que me auxiliaram nas análises. Aos demais funcionários do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que de alguma forma colaboraram para realização deste trabalho e a D. Graça pelo cafezinho diário. A professora Dra. Fernanda Tunes Villani que foi a grande precursora de toda esta minha jornada no campo da agronomia. Ao Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido pela formação oferecida, ao coordenador do programa Dr. Rogerio Hanada, e a secretária do programa D. Valdecira Azevedo, pelos incentivos e ajuda. A todos os meus professores do Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido pela ajuda e paciência nos ensinamentos, principalmente nas aulas de campo. A todos os amigos, colegas de mestrado, pela proveitosa convivência, que de alguma maneira contribuíram para que fosse possível a conclusão desta jornada. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, pela oportunidade de fazer o curso de Pós-Graduação em Agricultura no Tropico Úmido. A CAPES pela concessão da bolsa de estudo que proporcionou mais uma etapa na minha formação profissional. Meus sinceros agradecimentos! vi SUMÁRIO Lista de Figuras............................................................................................................... vi Lista de Tabelas............................................................................................................... vii 1.Introdução Geral.......................................................................................................... 11 2.Objetivos....................................................................................................................... 13 3.Revisão Bibliográfica................................................................................................... 14 3.1.Técnica de Adubação Verde como uma forma condicionadora de solos e de reposição de nutrientes para o cultivo agrícola................................................................. 14 3.2.Efeito das práticas de Adubação Verde nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.............................................................................................................. 19 3.3.Os efeitos dos constituintes químicos foliares na Adubação Verde (Lignina, Celulose, Polifenóis e Nitrogênio) ................................................................................... 20 3.4.Espécies de leguminosas mais recomendadas para adubação verde........................ 23 3.5.Cultivos agrícolas mais beneficiados pelas práticas de adubação verde.................. 27 3.6.Informações gerais sobre as espécies selecionadas para a pesquisa......................... 28 3.6.1.Mata-pasto (Senna reticulata (Willd.) H.S.Irwin & Barneby) ............................. 29 3.6.2.Malição (Mimosa pigra L.) .................................................................................. 29 3.6.3.Ingá-de-metro (Inga edulis Mart.) ........................................................................ 30 3.6.4.Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense (Aubl.) Benth.) ............................ 31 3.6.5.Gipoóca (Entada polyphilla Benth.) ..................................................................... 32 4.Referências Bibliográficas.............................................................................................. 33 Capítulo 1 - Características químicas do solo e dos nutrientes na biomassa foliar de espécies de Fabaceae pré-selecionadas para Adubação Verde na Amazônia Central.............................................................................................................................. 40 Resumo.............................................................................................................................. 41 Abstract.............................................................................................................................. 42 Introdução.......................................................................................................................... 43 Material e Métodos............................................................................................................ 45 Resultados e Discussão...................................................................................................... 48 Conclusão.......................................................................................................................... 75 Referências Bibliográficas................................................................................................ 76 Capítulo 2 – Efeito da procedência na concentração de metabólitos secundários em espécies nativas de leguminosas recomendadas para adubação verde na Amazônia Central........................................................................................................... 79 Resumo............................................................................................................................. 80 Abstract............................................................................................................................. 81 Introdução......................................................................................................................... 82 Material e Métodos........................................................................................................... 85 Resultados......................................................................................................................... 88 Conclusão.......................................................................................................................... 100 Referências Bibliográficas................................................................................................ 101 vii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Sequência de polímeros que ilustram a molécula de celulose...................................20 Figura 2. Arranjo estrutural das moléculas de lignina (a) e polifenóis (b)................................22 Figura 3. Aspectos da planta de mata-pasto (Senna reticulata). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c)...........................................................................................................................29 Figura 4. Aspectos da planta de malição (Mimosa pigra). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c)...........................................................................................................................30 Figura 5. Aspectos da planta de ingá-de-metro (Inga edulis). Limbo foliar (a) floração e (b) sementes (c)...............................................................................................................................31 Figura 6. Aspectos da planta de faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c)...............................................................................................31 Figura 7. Aspectos da planta de gipoóca (Entada polyphylla). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c)...........................................................................................................................32 Capítulo 1 Figura 1. Localização geográfica dos municípios que constituem a região metropolitana de Manaus, na Amazônia Central, Brasil............................................................................45 Figura 2. Determinação dos teores de nitrogênio (a,b), fósforo (c,d), potássio (e,f), cálcio (g,h) e magnésio (i,j) a 5 e 15 cm de profundidade, nos locais de estabelecimento de seis espécies de leguminosas recomendadas para adubação verde na Amazônia Central.......................50 Figura 3. Determinação dos teores de pH em água (a,b), carbono (c,d), alumínio (e,f) e ferro (g,h) a 5 e 15 cm de profundidade, nos locais de estabelecimento de seis espécies de leguminosas recomendadas para adubação verde na Amazônia Central.......................53 Figura 4. Determinação dos teores de nitrogênio (a,b), fósforo (c,d), potássio (e,f), cálcio (g,h) e magnésio (i,j) a 5 e 15 cm de profundidade em solos de seis municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central..........................................................................................................56 Figura 5. Determinação dos teores de pH em água (a,b), carbono (c,d), alumínio (e,f) e ferro (g,h) a 5 e 15 cm de profundidade em solos de seis municípios da região metropolitana viii de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central...........................................................................................................................58 Figura 6. Concentrações de nitrogênio (a), fósforo (b), potássio (c), cálcio (d), magnésio (e), cobre (f), ferro (g), zinco (h) e manganês (i) no tecido foliar de seis espécies de leguminosas recomendadas para adubo verde na Amazônia Central............................62 Figura 7. Concentrações de nitrogênio (a), fósforo (b), potássio (c), cálcio (d), magnésio (e), cobre (f), ferro (g), zinco (h) e manganês (i) em seis municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central...........................................................................................................................64 Capítulo 2 Figura 1. Distribuição relativa da concentração de nitrogênio foliar entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubação verde (a) e teores relativos de N para a média das espécies entre cinco municípios (b) da Amazônia Central......................................89 Figura 2. Distribuição relativa da concentração de fósforo (a) e potássio foliar (b) na biomassa foliar entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubo verde e teores relativos de fósforo (c) e potássio(d) para a média das espécies entre cinco municípios da Amazônia Central.....................................................................................................91 Figura 3. Distribuição relativa da concentração de cálcio (a) e magnésio foliar (b) entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubo verde e teores relativos de cálcio (c) e magnésio (d) para a média das espécies entre municípios da Amazônia Central.......92 Figura 4. Concentrações de celulose (a), lignina (b) e polifenóis (c), no tecido foliar de leguminosas recomendadas para adubo verde na Amazônia Central.............................94 Figura 5. Concentrações de celulose (a), lignina (b) e polifenóis (c), em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central...........................................................................................96 LISTA DE TABELAS Capítulo 1 Tabela 1. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os níveis de cálcio no solo a 5 e 15 cm de profundidade do solo.....................................................................................................67 ix Tabela 2. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os níveis de fósforo no solo a 5 e 15 cm de profundidade do solo.....................................................................................................69 Tabela 3. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre o pH e o alumínio trocável a 15 cm de profundidade do solo.....................................................................................................71 Tabela 4. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os teores de ferro e zinco no tecido foliar......73 Capítulo 2 Tabela 1. Características descritivas do ambiente de coleta de cinco leguminosas em cinco municípios da Amazônia Central................................................................................85 Tabela 2. Efeito da interação entre espécies de leguminosas para adubação verde e procedências sobre os níveis de Celulose na planta, em diferentes municípios da Amazônia Central.*1 .....................................................................................................................99 9 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRITIVA DA BIOMASSA FOLIAR DE LEGUMINOSAS NATIVAS SELECIONADAS PARA EMPREGO COMO ADUBO VERDE NOS AGROSSISTEMAS DA AMAZÔNIA RESUMO – A adubação verde é uma das técnicas mais viáveis e eficientes para o melhoramento das culturas agrícolas de baixo custo, que consiste na adição de matéria orgânica atuando como condicionador de solos, repondo e reciclando os nutrientes e viabilizando a mobilização destes lixiviados ou pouco solúveis em camadas mais profundas do solo e aumentando a CTC. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade nutritiva da biomassa foliar de seis leguminosas nativas pré-selecionadas para emprego como adubo verde na região metropolitana de Manaus. Para a terra-firme, Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), Gipoóca (Entada polyphylla) e Ingá (Inga edulis) e para a várzea Malição (Mimosa pigra) e Mata-pasto (Senna reticulata) em cinco municípios da região metropolitana de Manaus: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. As coletas foram feitas no período de junho a novembro de 2014. O solo foi coletado nas profundidades de 0 – 5 cm e de 5 – 15 cm e a biomassa foliar foi coletada aproximadamente 500 g de cada espécie. As análises de solo e planta foram conduzidas no Laboratório Temático de Solo e Planta (LTSP) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA V8. Para o solo foram determinados pH em H2O, N, P, K+, Ca++, Mg++, Fe, Al3+ e Carbono orgânico e para o tecido vegetal foram determinados N, P, K+, Ca++, Mg++, Cu, Fe, Zn, Mn, lignina, celulose e polifenóis. Adotou-se o delineamento experimental um arranjo fatorial do tipo 5 x 5, considerando-se o fator principal as espécies e fator secundário as procedências, totalizando 25 tratamentos, com três repetições. Para a celulose, lignina e polifenóis foi considerado o arranjo fatorial do tipo 5 x 5 com 25 tratamentos com duas repetições. Os dados obtidos foram submetidos a Anova, e comparados pelo modelo de Tukey (P<0,01). A qualidade nutritiva da biomassa foliar das leguminosas apresentou estabilidade independente de sua procedência e concentrações de nitrogênio superiores a 3,1 %. Na biomassa foliar, somente para as concentrações de ferro e de zinco foram verificadas interações significativas entre espécies e municípios. O ingá e a faveira-camuzé que tem a terra-firme como ambiente preferencial, apresentaram adaptação aos solos com baixa fertilidade natural, nos diferentes municípios visitados. No ambiente da várzea, o mata-pasto destacou-se comparado ao malição e a gipoóca, com biomassa foliar rica em fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Houve interação significativa entre espécies x municípios para os teores de cálcio e fósforo no solo, nas duas profundidades consideradas e para o pH e o alumínio na profundidade de 15 cm. A qualidade da biomassa das espécies foi evidenciada pelos teores de N superiores a 3 %, com pequenas variações na disponibilidade de macronutrientes relacionadas ao ambiente onde se desenvolviam. Há diferenças significativas na concentração de celulose e lignina entre as espécies faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata), selecionadas para adubação verde, porém não em seus teores de polifenóis. Independente da procedência, a síntese de compostos celulósicos em malição foi significativamente maior que em faveira-camuzé e os teores de lignina na biomassa de malição e do ingá foram superiores aos de mata-pasto e faveira-camuzé. Há variação significativa na concentração dos metabólitos secundários lignina, celulose e polifenóis entre procedências e a biomassa foliar coletada em plantas do Careiro da Várzea apresentaram os maiores teores destes compostos. Dentre as leguminosas, a biomassa foliar de mata-pasto e faveira-camuzé apresentaram as menores concentrações de metabólitos secundários, ao passo que malição e ingá as maiores concentrações, com implicações em seu aproveitamento em práticas de adubação verde. Palavras-chave: Nitrogênio, Fabaceae, Matéria Orgânica. 10 EVALUATION OF THE NUTRITIONAL QUALITY OF LEAF BIOMASS OF SELECTED NATIVE LEGUMES FOR USE AS GREEN MANURE IN THE AGRICULTURAL SYSTEMS OF THE AMAZON Abstract: The green manure is one of the most feasible and efficient techniques for improving low cost agricultural crops wich comprises adding organic matter acting as a soil conditioner replacing and recycling nutrients soil and allowing the mobilization of these leached or poorly soluble in most layers deep soil and increasing CTC. This study aimed to evaluate the nutritional quality of leaf biomass six preselected native leguminous for use as green manure in the metropolitan region of Manaus. For upland Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), Gipoóca (Entada polyphylla) and Ingá (Inga edulis) and the foodplain Malição (Mimosa pigra) and Mata-pasto (Senna reticulata) in five municipalities in the metropolitan region of Manaus: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru and Novo Airão. Field work was carried out from June to November 2014. The soil was collected from the depths 0 – 5 cm and 5 – 15 cm and leaf biomass was collected approximately 500g of each species. Soil and plants analyzes were conducted in the Thematic Soil the National Institute for Research in the Amazon INPA V-8. To the soil was determined pH in H2O, N, P, K+, Ca++, Mg++, Fe, Al3+ and Organic Carbon, and the plant tissue was determined N, P, K+, Ca++, Mg++, Cu, Fe, Zn, Mn, lignin, cellulose and polyphenol. The experimental design was adopted factorial arrangement of type 5 x 5, considering the main factor species and secondary factor provenances totaling 25 treatments with three replications. For cellulose, lignin and polyphenols was considered the factorial type 5 x 5 with 25 treatments and two replications. Data were subjected to ANOVA and compared by Tuckey model (P<0,01). The nutritional quality of leaf biomass of leguminous present stability regardless of their origin and nitrogen concentrations greater than 3,1%. In foliar biomass, only for iron and zinc concentrations significant interactions were found between species and municipalities. The ingá and field bean-camuzé that has the dry land as the preferred environment, showed adaptation to soils with low fertility in the different municipalities visited. In the lowland environment, the forest-pasture stood out compared to malição and gipoóca with rich leaf biomass in phosphorus, potassium, calcium and magnesium. There was a significant interaction between species and municipalities for calcium and phosphorus in the soil at both depths considered and the pH and aluminum at a depth of 15 cm. The quality of biomass of the species was evidenced by the N content greater than 3 %, with small variations in the availability of macronutrients related to the environment where it is developed. There are significant differences in the concentration of cellulose and lingnin between species faveiracamuzé, gipoóca, ingá, malição and mata-pasto selected for green manure but not on their polyphenol content. Regardless of origin, the synthesis of cellulose compounds in maliçao was significantly higher than in faveira-camuzé and lignin in biomass malição and ingá were higher tham those of forest-pasture and field faveira-camuzé. There is significant variation in the concentration of secondary metabolites lignin, cellulose and polyphenols among provenances and leaf biomass colleted in Careiro da Várzea plants showed the highest levels of these compounds. Among leguminous, leaf biomass of forest-pasture and field faveira-camuzé had the lowest concentrations of secondary metabolites, while malição and ingá the highest concentrations, with implications for its use in green manure practices. Keywords: Nitrogen, Fabaceae, Organic Matter. 11 1. INTRODUÇÃO GERAL A floresta Amazônica, cobertura florestal mais biodiversa do planeta se desenvolve sobre solos mineralogicamente pobres e de alta acidez (Wandelli, 2013) porém apresenta elevada produtividade primária. Há, neste bioma, que ultrapassa os limites nacionais brasileiros, um número incalculável de espécies vegetais com potencial madeireiro, paisagístico, alimentício, medicinal e para fornecer serviços capazes de contribuir para a sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola como é a adubação verde. Na Amazônia, a biomassa acima do solo, é o seu principal reservatório de nutrientes. Removida a cobertura florestal, com a expansão da fronteira agrícola e de outras atividades baseadas no desmatamento, perde-se um dos principais serviços do ecossistema: a ciclagem de nutrientes que depende da deposição contínua e qualitativa da matéria orgânica inerte e da atividade da fauna do solo bem como de sua biomassa microbiana que regulam suas transformações. Mesmo considerando-se a baixa fertilidade natural dos solos amazônicos, a maior parte dos solos da região têm boa estrutura física e elevada atividade biológica. A cobertura florestal protege o sistema ecológico da ação direta do sol e das chuvas, porém, a progressão de áreas desmatadas refletem na queda crescente da produtividade, o que gera um elevado custo econômico e ambiental. Especificamente nos agrossistemas da Amazônia Central, há necessidade de introdução de novas tecnologias que incrementem a produção e contribuam para a conservação e preservação dos recursos da biodiversidade vegetal, baseados estrategicamente na manutenção ou incremento nos teores de matéria orgânica do solo. A técnica da adubação verde é um conjunto de ações integradas que trazem muitos benefícios ao solo e sistemas agrícolas em geral, protegendo-o contra a erosão, aumentando a capacidade de retenção de água, recuperação da estrutura, aumento da CTC, incremento nos níveis de nitrogênio, controle dos nematoides e plantas invasoras, diversificação da biomassa microbiana e de grupos funcionais relacionados e maior ciclagem de nutrientes para os cultivos (Badejo et al.,2002, Canellas et al., 2004 e Espíndola et al., 2006, Nicoloso et al., 2008). Embora não sejam plantas exclusivas para práticas de adubação verde, muitas espécies de Fabaceae são muito aproveitadas com essa finalidade, pois se destacam das demais espécies, pela capacidade de e fixar N2 (Faria & Campelo, 1999), em simbiose com bactérias do solo conhecidas como rizóbios. A técnica é conhecida secularmente e, para culturas de ciclo curto a biomassa vegetal é triturada e incorporada ao solo, favorecendo a produção especialmente de hortaliças folhosas. Por outro lado, para cultivos perenes, a biomassa das leguminosas pode ser 12 produzida ou não no local, algumas vezes no sistema de aleias, e as espécies adubadeiras são regularmente podadas e depositadas sobre o solo para formação de uma liteira com boa capacidade de reposição de nutrientes essenciais para os cultivos. Assim, as leguminosas podem ser introduzidas ou aproveitadas nos agrossistemas na forma de pré-cultivo, onde o adubo verde produzido precede a cultura principal, que por sua vez se beneficia dos processos de mineralização e ciclagem de nutrientes (Castro et al., 2004). O conhecimento dos processos que mediam a decomposição dos resíduos vegetais é importante pelas condições edafoclimáticas do ambiente tropical, especialmente pela presença de metabólitos secundários que podem mediar a velocidade de decomposição da biomassa fresca adicionada ao solo (Monteiro & GamaRodrigues, 2004). Várias espécies tem sido recomendadas para cultivo nos agrossistemas como plantas para adubação verde, destacando-se entre elas as crotalárias (Crotalaria spp.), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), feijão-guandu (Cajanus cajan) e mucuna-preta (Mucuna pruriens var. utilis). A pesquisa básica desenvolvida por Souza (2012), mudou o enfoque de introdução de espécies, pela identificação daquelas com qualidade nutricional e outras características associadas a plantas indicadas como adubadoras, a partir do levantamento daquelas leguminosas encontradas nos ambientes agrícolas e suas bordas em agrossistemas familiares do município de Manacapuru, AM. Assim, de um grupo diversificado dez espécies foram selecionadas para aproveitamento pelos agricultores da Amazônia Central. Como a seleção das espécies feita por Souza (2012) baseou-se na seleção de plantas que prosperavam em um único município, surgiu a necessidade de avaliar a estabilidade das características químicas de algumas delas, quando amostradas em outras procedências definidas como de outros municípios da região metropolitana da cidade de Manaus. Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a estabilidade das características químicas e de metabólitos secundários das espécies ingá (Inga edulis), mata-pasto (Senna reticulata), faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla) e malição (Mimosa pigra), em cinco diferentes procedências, constituídas por municípios pré-selecionados da Amazônia Central: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. 13 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar a disponibilidade de nutrientes e metabólitos secundários na biomassa foliar de diferentes procedências de cinco espécies de leguminosas nativas não convencionais préselecionadas para adubação verde, que ocorrem naturalmente no ambiente da várzea e da terra firme da Amazônia Central. 2.1Objetivos específicos i. Avaliar a estabilidade da concentração de nutrientes e de metabólitos secundários contidos na biomassa foliar de leguminosas nativas de diferentes procedências. ii. Pesquisar a disponibilidade de nutrientes, pela relação solo-planta, com base na constituição nutritiva da biomassa foliar e características químicas do solo, nos locais onde as espécies se estabelecem. iii. Obter maiores subsídios para consolidar a recomendação de espécies de leguminosas nativas não convencionais, e seu aproveitamento agrícola como plantas para adubação verde. 14 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Técnicas de Adubação Verde como uma forma condicionadora de solos e de reposição de nutrientes para o cultivo agrícola. O ecossistema florestal, tendo o solo, a biomassa vegetal e a liteira como compartimentos, constitui um sistema aberto, que permite a troca de massa e energia com os sistemas adjacentes, de onde recebe energia, nutrientes e água (como transportador), exportando também energia (de menor qualidade), os metabólitos não utilizáveis e água. O sistema florestal é mantido por este fluxo unidirecional entrada → saída, sendo que, no seu interior, grande parte da energia é dissipada para promover uma forte circulação, a qual faz com que se reduzam as perdas, tanto de nutrientes como de compostos ricos em energia. No sistema amazônico, a dinâmica do aproveitamento dos nutrientes é mais intensa no período chuvoso, quando o aumento da umidade favorece as atividades da biota do solo no processo de mineralizar a matéria orgânica acumulada durante o período de baixa precipitação. A estrutura macroscópica da floresta de terra firme está caracterizada por um fluxo fraco de entrada → saída, e um fluxo rápido e maciço de reciclagem (Walker & Franken, 1983). A elevada eficiência na reciclagem de nutrientes observada nas florestas tropicais tem sido correlacionada com a sua alta diversidade biológica; e a reciclagem de nutrientes se contrapõe à lixiviação dos solos, pois representa um mecanismo de conservação de nutrientes no ecossistema, promovendo, ao mesmo tempo, a produtividade biológica e o bom estado nutricional das plantas (Schubart et al., 1984). A exuberância da floresta de terra firme é garantida por um mecanismo particular de disponibilidade e retenção de nutrientes essenciais à sua manutenção, ao lado da existência das condições básicas de calor e umidade (Franken et al., 1985). A ciclagem de nutrientes em florestas envolve um conjunto complexo de mecanismos de realimentação direta e indireta entre o solo e a vegetação. A função desses solos dentro do ecossistema amazônico em geral parece ser mais um substrato para fixação da vegetação do que uma fonte substancial de nutrientes para ela (Fittkau et al., 1975b). Essas florestas para se manterem, em sua maioria, têm de estar reciclando continuamente seus próprios nutrientes, utilizando-se da própria matéria orgânica vegetal em decomposição na superfície do solo. Sem essa cobertura vegetal, esses solos, em geral, seriam de serventia muito restrita ou quase nula (Rodrigues, 1994, 1996). Sioli (1985), aliás, muito 15 bem definiu essa situação ao escrever que “a floresta amazônica vive apenas sobre o solo, mas não do solo”. Entretanto, a maior parte dos solos agricultáveis na Região Amazônica é de reação ácida, com baixa capacidade de troca catiônica (CTC) e baixa fertilidade. Devido à natureza geomorfológica, a planície Amazônica é dividida em duas áreas distintas: a de terra firme de formação terciária apresenta boas características físicas, porém de baixa fertilidade natural e a várzea, planície de inundação contrastando com a terra firme, possuindo os solos mais férteis de toda a bacia amazônica, devido à deposição de sedimentos oriundos dos Andes por meio das inundações anuais, formando assim regularmente novas camadas de solo rico em nutrientes (Quesada et al.,2011). Portanto o solo, nessas condições é um fator limitante para a produtividade e sustentabilidade de sistemas de produção agrícola, com isso torna-se necessário a adição de condicionadores. Nos solos das regiões tropicais e subtropicais, a MOS é a principal responsável pela CTC (em razão da disponibilização de cargas negativas), é fonte de N, P, S e outros nutrientes para as plantas e promove a formação de complexos fosfo-húmicos fracamente retidos pelo solo, o que reduz a fixação de P em função do revestimento das partículas de argila pelo húmus e do menor contato entre o nutriente e as partículas (Novais; Smith, 1999). A adubação verde consiste no uso da biomassa fresca das plantas como adubo, com o objetivo de aumentar a fertilidade e manter as características químicas, físicas e biológicas do solo através da matéria orgânica fornecida por essa fitomassa (Peche Filho, 1999), destacandose como uma alternativa viável na busca da sustentabilidade dos solos agrícolas (Alcântara et al., 2000). A necessidade de adicionar um condicionador de solo é devido a perda de cobertura que se dá mediante a transformação do solo em solo agrícola que passa a ter problemas com a sustentabilidade, pois a disponibilidade de nutrientes diminui e também alguns fatores do clima interferem na ciclagem dos nutrientes (Menyailo et al.,2003). A prevenção da degradação de novas áreas, aliada à baixa fertilidade natural dos solos, têm conduzido à necessidade do uso de práticas de adição de matéria orgânica, destacando-se dentro dessas novas práticas, a adubação verde, como uma alternativa viável na busca da sustentabilidade dos solos agrícolas (Nascimento; Matos, 2007). Ambrosano et al.(2000), na busca de agricultura menos agressiva ao ambiente introduz-se a adubação verde, que é definida como sendo o cultivo de plantas, na mesma área ou em áreas vizinhas, para produzir grande quantidade de massa para ser, após completado seu ciclo vegetativo, incorporada ou deixada sobre o solo para agir como proteção e para atuar positivamente no sistema. Embora sejam 16 utilizadas como adubo verde diferentes plantas, inclusive gramíneas (Poáceas), o uso das leguminosas (Fabaceae) constitui prática mais difundida para esta finalidade. A principal razão de preferência nas leguminosas é a propriedade de fixação do nitrogênio atmosférico através de bactérias do solo abrigadas em vários gêneros bacterianos. Estas bactérias infectam as raízes das leguminosas nodulíferas e nelas desenvolvem estruturas designadas como nódulos, que são o sítio adequado para as reações fisiológicas e bioquímicas que resultam na captação do nitrogênio atmosférico. Segundo Moreira (2008), os registros de gêneros e espécies de bactérias fixadoras de N2 que nodulam Fabaceae são: na Família Rhizobiaceae os gêneros Rhizobium, Sinorhizobium e Allorhizobium; na família Bradyrhizobiaceae, os gêneros Bradyrhizobium e Blastobacter.; na família Xanthobacteraceae o gênero Azorhizobium; na família Hyphomicrobiaceae o gênero Devosia, na família Phyllobacteriaceae os gêneros Phyllobacterium e Mezorhizobium; na família Methylobacteriaceae, o gênero Methylobacterium; na família Brucellaceae o gênero Ochrobactrum e, finalmente, na família Burkolderiaceae os gêneros Burkholderia e Ralstonia. A existência de 13 gêneros de bactérias fixadoras de N2, reconhecida em anos recentes sugere que este número ainda está em elevação, o que será comprovado por novas descrições originais. Além da grande produção de massa, as leguminosas apresentam a matéria orgânica mais rica em minerais (Andrade, 1982). E também apresentam um sistema radicular geralmente bem profundo e ramificado, capaz de extrair nutrientes da camada mais profunda do solo (não prontamente disponíveis), e que é devolvida a camada arável após a incorporação da leguminosa ao solo aumentando as suas disponibilidades para a cultura seguinte, promovendo uma reciclagem de nutrientes devido a sua capacidade de exploração do solo, proporcionando assim, diversos benefícios, sendo esses, químicos, físicos e biológicos. Entre as características desejáveis para a seleção de espécies para adubação verde, destacam-se a produção de matéria seca, capacidade de incrementar nutrientes pela simbiose com microrganismos, cobertura do solo e reciclagem de macronutriente (Chaves e Callegari, 2001). Fontanétti et al. (2006) observaram que a adubação verde pode complementar a adubação com composto com diferenças na produtividade, o que contribuiria na redução dos custos de produção e do aporte de nutrientes externos a propriedade. Entre as várias espécies de famílias botânicas que podem ser cultivadas como adubos verdes, destacam-se aquelas da família Fabaceae. As leguminosas, além de proporcionarem benefícios semelhantes aos de outras espécies, apresentam a capacidade de acumular N pela fixação biológica (Silva et al., 2009). 17 A deficiência de nitrogênio pode causar vários problemas às culturas, como sintomas de clorose generalizada, crescimento reduzido e amarelecimento de folhas velhas (Malavolta et al. 1989). Por outro lado, a pronta disponibilidade do elemento no solo resulta em crescimento rápido, age no metabolismo vegetal, influencia favoravelmente os processos de respiração celular, absorção de nutrientes, síntese proteica e a fotossíntese. Na planta, os sintomas da disponibilidade excessiva de N no solo são as folhas de coloração verde escura, excesso de desenvolvimento, tombamento e maior possibilidade de predação por pragas, pelo atrativo de biomassa com alta concentração de nutrientes. A fonte primária de N para as plantas é o gás N2, que constitui cerca de 79 % dos estoques da atmosfera (Odum, 1983; Stumm e Morgan, 1996). Entretanto, mesmo ocorrendo em abundância na forma gasosa, sua conversão em formas que possam ser utilizadas pelos organismos vivos é uma função altamente especializada, num processo denominado fixação do nitrogênio, quando as formas fixadas do N2 são introduzidas na etapa orgânica do ciclo biogeoquímico (Barbosa, 2007). A entrada de nitrogênio no solo pode ocorrer pela fixação relacionada a fatores físicos, através de descargas elétricas atmosféricas, radiação ultravioleta, chuvas, entre outros, porém, as quantidades de N2 fixadas por estes processos estão aquém da demanda das espécies vegetais espontâneas ou cultivadas. Outra forma de fixação é a química/industrial, realizada com alto custo energético, onde o N2 se liga ao hidrogênio por meio de energia não renovável fornecida por gás natural, petróleo, nafta ou álcool, sob condições de elevada temperatura e pressão, resultando na produção de fertilizantes amoniacais (Barbosa, 2007). É uma contribuição importante de entrada de N2 fixado no sistema solo-planta-animal, porém não é sustentável por queimar combustíveis fósseis. A capacidade de realizar a fixação biológica do nitrogênio permite a planta suprir sua demanda por nitrogênio em solos com deficiência desse nutriente, favorecendo seu crescimento e a formação de matéria orgânica no solo. As leguminosas também são importantes no processo de estabilização da matéria orgânica do solo, pois para cada 10 unidade de carbono sequestrado existe a necessidade de imobilizar, em média, uma unidade de nitrogênio (Sisti et al., 2004). Durante a decomposição dos resíduos vegetais, parte do nitrogênio liberado é rapidamente assimilado (imobilizado) pela biota do solo. O acúmulo de nitrogênio inorgânico no solo só vai ocorrer se a quantidade de nitrogênio liberada pelos resíduos vegetais exceder o seu requerimento pelos microrganismos, que está associado ao fornecimento de carbono, que é a fonte de respiração e crescimento desses seres. Utilizando-se a adubação verde, o material orgânico produzido, geralmente com elevados teores de macro e micronutrientes, proporciona o aumento da capacidade de troca 18 catiônica, da infiltração e da retenção de água no solo, tornando-se mais favoráveis as condições para o desenvolvimento microbiano no solo. Além desses efeitos, algumas plantas utilizadas como adubo verde são alelopáticos a algumas espécies de nematoides e plantas daninhas (ou infestantes) (Miyasaka, 1984). Outra característica importante das leguminosas é a baixa relação C/N, quando comparada a plantas de outras famílias. Este aspecto, aliado à grande presença de compostos solúveis, favorece sua decomposição e mineralização por microrganismos do solo e a reciclagem de nutrientes (Zotarelli, 2000). Ao iniciar essa prática, devem ser escolhidas espécies de adubos verdes adaptadas às condições de clima e solo do local, além de apresentarem como características desejáveis: rusticidade, crescimento inicial rápido, de modo a cobrir o solo e dificultar a presença de plantas espontâneas; sistema radicular bem desenvolvido; elevada produção de biomassa; baixa suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças (Espindola et al., 2006). A mineralização, que consiste na conversão do N da forma orgânica para a inorgânica ou mineral (NH4+ e NH3), é mediada por microrganismos quimiorganotróficos do solo, que utilizam compostos orgânicos como fonte de energia. Esse processo é governado pelas condições edafoclimáticas e características intrínsecas do resíduo; a temperatura, a umidade, os teores de celulose, hemicelulose, lignina, as relações C/N e lignina/N dos resíduos vegetais, a textura do solo, o pH e o tipo de argila são os principais fatores controladores do processo (Carvalho et al., 2011). A composição dos resíduos das diferentes espécies vegetais ou da MOS é extremamente heterogênea. Por isso, o processo de mineralização é realizado por um grupo variado de microrganismos que têm a capacidade de produzir/liberar diferentes enzimas que agem em diferentes fases do processo e promovem a quebra de ligações de proteínas, peptídeos, amidas, aminas, aminoácidos, ácidos nucleicos, etc. (Moreira; Siqueira, 2002). As condições ótimas para a mineralização do N orgânico do solo são aquelas que favorecem a atividade dos microrganismos: pH de 6 a 7, condições aeróbicas, umidade entre 50 % e 70 % da capacidade de campo e temperatura entre 40ºC e 60ºC (Moreira; Siqueira, 2002). Porém, graças à variedade de organismos envolvidos, as reações de mineralização ocorrem em ampla gama de condições de acidez, temperatura e umidade. A imobilização de N constitui-se em fenômeno contrário e ocorre simultaneamente a mineralização. A imobilização é definida como a transformação do N da forma mineral na orgânica. O processo é realizado por microrganismos que incorporam às suas células o N inorgânico disponível no solo, oriundo dos fertilizantes minerais, da mineralização dos resíduos vegetais ou animais ou da MOS. No entanto, com a morte desses microrganismos, o N 19 assimilado pode ser remineralizado ou incorporado às células de outros microrganismos e seguir o caminho da síntese dos compostos nitrogenados mais complexos que gradualmente formam a MOS (Cantarella, 2007). 3.2. Efeitos das práticas de Adubação nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Gerando uma série de alterações no solo, a mais evidente, da adubação verde, ocorre no pH, o que torna-se imprescindível para os nossos solos ácidos, pois, com o aumento da acidez, a disponibilidade de alguns nutrientes diminui ocorrendo o aumento do manganês (Mn) e elementos tóxicos, como o alumínio e metais pesados (Pavan; Chaves, 1998). Empregando-se a adubação verde, o principal benefício obtido é a melhoria da fertilidade do solo no que diz respeito aos seguintes aspectos: enriquecimento em matéria orgânica, aumento da soma de bases, capacidade de troca catiônica (CTC) e redução da acidez potencial (H + Al), com consequente aumento nos teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) em profundidade (Dominguez; Medina, 2000; Menegucci et al., 1995; Muzilli et al., 1989). A adubação verde nas propriedades químicas do solo tem permitido o aporte de quantidades expressivas de fitomassa, possibilitando uma elevação no teor de matéria orgânica do solo ao longo dos anos. Como consequência, obtém-se um aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, o que traz maior retenção de nutrientes junto às partículas do solo, reduzindo perdas por lixiviação (Espindola et al., 2006). Dentre os efeitos benéficos proporcionados pela adubação verde, pode ser destacado o aumento da disponibilidade de nutrientes para as culturas de interesse comercial, a proteção do solo contra erosão, o favorecimento de organismos benéficos para a agricultura e o controle de plantas espontâneas (Espindola, 2006). Além dos efeitos físicos, algumas plantas utilizadas como adubos verdes apresentam efeitos alelopáticos que contribuem para o manejo das plantas invasoras. Porém, seus efeitos benéficos são observados quando sua utilização ocorre com frequência. Torres et al., (2005), observaram, sob uma mesma condição edafoclimática, que a taxa de decomposição está ligada à relação carbono: nitrogênio (C/N) do material sob esse processo. Xu e Hidrata (2005), concluiu que, além da relação C/N, a decomposição da biomassa morta das plantas também está ligada à sua relação lignina: N e carbono: fósforo (C/P). À medida que os microrganismos decompõem um resíduo orgânico (matéria orgânica), ocorre a mineralização, processo pelo qual os nutrientes são convertidos da sua forma orgânica, para sua forma inorgânica ou mineral (Vale et al., 1995). A disponibilização de N orgânico do solo para as plantas passa pelo processo de mineralização, definido como a transformação do N da forma 20 orgânica para a inorgânica (NH4+ ou NH3). O processo é realizado por microrganismos heterotróficos do solo, que utilizam os compostos orgânicos como fonte de energia (Novaes et al., 2007). Para atender às necessidades dos microrganismos decompositores sem precisar recorrer ao N do solo, o resíduo deve ter pelo menos 15 a 17g kg-1 de N, o que corresponde a uma relação C/N de 25 a 30 (Silgram; Shepherd, 1999). O uso de leguminosas com alta capacidade competitiva, como adubo verde, propicia economia no controle de plantas daninhas, por reduzir a produção de sementes e as infestações posteriores dessas plantas interferentes (Silva et al., 1996). 3.3. Os efeitos dos constituintes químicos foliares na adubação verde (Lignina, Celulose, Polifenóis e Nitrogênio). O processo da decomposição pode ser definido como a quebra química de um composto em outros mais simples realizada, principalmente, por microrganismos através do seu metabolismo (Berg; Mcclaugherty, 2008; Swift et al., 1979; Wagner; Wolf,1998). No caso dos resíduos culturais, esse processo envolve um amplo espectro de microrganismos, os quais diferem quanto a sua capacidade de sintetizar as enzimas necessárias à degradação dos diversos compostos orgânicos produzidos pela planta durante a fotossíntese, como proteínas, fosfolipídios e polímeros estruturais (celulose, hemicelulose e lignina) e de reserva (amido). Figura 1. Sequência de polímeros que ilustram a molécula de celulose. Fonte: <www.soq.com.br> Baijukya et al. (2006), estudando a liberação de N das leguminosas utilizadas como cobertura do solo na adubação verde, observaram que a liberação desse nutriente está diretamente relacionada com a relação lignina/N e lignina e polifenóis/N dos resíduos em decomposição. De acordo com esses autores, esses compostos proporcionam proteção física da 21 celulose e outros componentes da parede celular e podem formar complexos com proteínas que protegem e dificultam o processo de decomposição. A partir da decomposição dos resíduos vegetais pode ocorrer uma diminuição na acidez do solo. Isso porque durante a decomposição dos resíduos, são produzidos ácidos orgânicos capazes de complexar íons Al3+ presentes na solução do solo, reduzindo dessa forma, o alumínio do solo. A celulose é a molécula mais predominante da parede celular dessas células vegetativas, contribuindo com 25 % dessa estrutura, sendo compostas por cadeias microfibrilas lineares de D-glicose, fazendo parte do metabolismo primário das plantas promovendo a rigidez, resistência e insolubilidade. Em seguida a substância orgânica mais abundante nas plantas é a lignina, que faz parte do metabolismo secundário juntamente com outros compostos fenólicos, constituindo um grupo quimicamente heterogêneo apresentando uma variedade de funções nos vegetais, bem como a sustentação mecânica de vasos e tecidos vasculares; proteção física contra ataques de patógenos, fitófagos e organismos decompositores, tornando a célula vegetal indigerível para alguns desses animais (Taiz & Zeiger, 2004). A lignina é uma macromolécula tridimensional amorfa encontrada em vegetais associada à celulose na parede celular cuja função é de conferir rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques microbiológicos e mecânicos aos tecidos vegetais. Ela é geralmente mais resistente à decomposição biológica que os outros biopolímeros principais encontrados em resíduos de planta, por causa de sua estrutura química. O teor de lignina em plantas jovens é muitas vezes menor que 5 %, enquanto em plantas maduras podem conter até 15 %. A taxa de decomposição da lignina é lenta comparada com a de celuloses e hemiceluloses (Wagner; Wolf, 1999). Os polifenóis são metabólitos secundários produzidos pelas plantas para, entre outras funções, protege-las da radiação ultravioleta e defendê-las do ataque de herbívoros e patógenos (Hättenschwiler; Vitousek, 2000). Taninos condensados e flavonoides estão entre os principais compostos fenólicos encontrados nos vegetais. Após o manejo dos adubos verdes, os polifenóis dos resíduos culturais, especialmente aqueles de baixo peso molecular, participam da síntese do húmus através da ação de enzimas extracelulares de origem microbiana. Alguns polifenóis podem se ligar a proteínas e formar complexos resistentes à decomposição, além de inibirem a ação enzimática (Vallis; Jones, 1973). Além disso, os polifenóis podem também ligar-se a compostos nitrogenados orgânicos (como aminoácidos e proteínas) nas folhas dos vegetais, tornando o N disponível, ou ligar-se ao N orgânico solúvel liberado das folhas, formando, no solo, complexos de difícil decomposição (Northup et al., 1995). A concentração de polifenóis é geralmente maior em resíduos culturais de plantas maduras do que de plantas jovens (Thomas; 22 Asakawa, 1993), e a capacidade de ligação dos polifenóis a compostos nitrogenados varia em função da sua massa molecular. Essa característica explica por que, somente em alguns estudos há uma boa correlação entre a taxa de decomposição e a liberação de N de resíduos culturais com a concentração de polifenóis. (a) (b) Figura 2. Arranjo estrutural das moléculas de lignina (a) e polifenóis (b). Fonte: <www.infoescola.com.br> A interferência dos compostos fenólicos sobre o processo de mineralização de N se dá pelo fato dos polifenóis formarem estruturas complexas através de ligações estáveis (pontes de hidrogênio, ligações covalentes, entre outras) com grupos nitrogenados (grupos amino, por exemplo), deixando os materiais resistentes à decomposição. Outra interação importante entre compostos fenólicos e o N é a sua ligação com o nitrito (NO-2), resultando na incorporação do N em frações mais recalcitrantes da matéria orgânica do solo diminuindo, assim, sua biodisponibilidade. Embora a concentração de nitrito seja baixa no solo, ele é formado durante o processo de nitrificação; logo, esta ligação causa uma imobilização do N inorgânico no solo (Palm & Sanchez, 1991). Tal ligação assume maior importância em condições de solo ácido. Compostos fenólicos podem também ser capazes de afetar a composição e a atividade dos microrganismos decompositores do solo, influenciando diretamente na mineralização dos nutrientes (Hättenschwiler e Vitousek, 2000). Para o fornecimento de N, o manejo das leguminosas deve ser feito na época da floração, pois é nesse período que elas apresentam grande produção de biomassa, que se encontra tenra e com baixa relação C/N, o que favorece o processo de decomposição e liberação de nutrientes. Numa época mais tardia, a biomassa se encontra mais lenhosa e com relação C/N mais alta, a taxa de decomposição tende a ser mais lenta, proporcionando maior proteção ao solo e contribuindo mais efetivamente para a melhoria de suas características físicas. 23 A degradação de materiais com menor teor de lignina e estreita relação C/N ocorre rapidamente no solo, e isso resulta em elevada mineralização do N, o que diminui o N imobilizado pela microbiota (Vigil; Kissel,1991). Em contrapartida biomassas com relação C/N mais ampla têm maior efeito agregante em razão da decomposição mais lenta e da formação de compostos orgânicos intermediários que estarão contribuindo para o aumento do teor de matéria orgânica no solo (Muzzili, 1996). A relação C/N e o teor de lignina da cobertura vegetal variam de acordo com a espécie de adubo verde utilizada e com a época de corte e adição dos resíduos vegetais ao solo, observando-se relação direta entre ambas propriedades e a idade da planta. Torna-se necessário para uma rápida decomposição que o material seja incorporado ao solo do que deixado na superfície, pois, o processo de incorporação aumenta bastante a superfície de contato do adubo verde com a microbiota do solo (De-Polli; Chada, 1989). 3.4. Espécies de leguminosas mais recomendadas para emprego em práticas de adubação verde. A cascavel (Crotalaria juncea L) é planta anual, arbustiva, de crescimento ereto e determinado podendo atingir de 3,0 a 3,5 m de altura, com potencial de produção de matéria seca em torno de 15 a 20 t ha-1. Com ampla adaptação às regiões tropicais do mundo, mesmo em solos arenosos, soltos e com fertilidade diminuída, embora seja muito sensível ao alumínio do solo. Destaca-se entre as espécies da família das leguminosas que têm sido utilizadas para a finalidade de adubação verde, sendo planta de ciclo anual, arbustiva, de porte ereto e crescimento determinado, alcança uma produtividade entre 40 a 60 toneladas de massa verde e 6 a 8 toneladas de massa seca por ciclo e fixa entre 180 e 300 kg ha-1 de N, dos quais 60 % ficam no solo, 30 % vão para as plantas semeadas após a adubação verde e 10 % se perdem do sistema solo-planta (Formentini et al., 2008; Lopes, Queiroz e Moreira, 2005). Esta espécie é originária da Índia, suas plantas produzem fibras e celulose de alta qualidade, próprias para a indústria de papel e outros fins. Recomendada para adubação verde, em cultivo isolado, intercaladas a perenes, na reforma de canavial ou em rotação com culturas graníferas, é uma das espécies leguminosas de mais rápido crescimento inicial. Sua produção de biomassa fresca e seca se destaca em relação ao feijão-guandu, feijão-de-porco, mucuna-preta, mucuna-rajada e crotalaria-paulina. 24 O guizo-de-cascavel (Crotalaria spectabilis Roth) é uma planta anual, de crescimento ereto e determinado, podendo atingir altura de 1,0 a 1,5 m, com potencial de produção de matéria seca de 4 a 6 t hab-1. Esta espécie é de ampla adaptação ecológica, recomendada para adubação verde, com crescimento inicial lento, sendo sugerida como planta-armadilha em solos infestados por nematoides formadores de galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), por ser má hospedeira/não multiplicadora dos mesmos (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998) e também de Pratylenchus spp. (Monteiro, 1993) e do nematoide do cisto - Heterodera spp. Tem uma produtividade entre 20 a 30 t de massa verde e 4 a 6 t de massa seca por ciclo, fixa entre 60 e 120 kg de nitrogênio por ha-1. O chocalho (Crotalaria paulina Schrank) é uma planta anual, arbustiva, ereta, de crescimento determinado, com desenvolvimento inicial lento e ciclo tardio, podendo atingir 3,0 a 3,5 m de altura e com potencial de produção de 7 a 10 t ha-1 de matéria seca. Essa espécie tem sido utilizada como quebra-ventos, principalmente para proteção de cafezais (Wutke, 1993; Fahl et al.,1998). A crotalária (Crotalaria ochroleuca G. Don) é planta anual, de crescimento arbustivo ereto, que pode atingir 1,5 a 2,0 m de altura. Foi introduzida na região dos Cerrados, devido à possibilidade de desenvolver-se em solos quimicamente “pobres” e com baixos teores de matéria orgânica. Apresenta potencial produtivo de 7 a 10 t ha-1 de matéria seca, podendo atingir valores de até 17 t ha-1 (Amabile et al., 2000). A ervilha-forrageira (Pisum sativum L. subsp. arvense (L.) Asch. & Graeben) é uma planta anual, de rápido crescimento, com a qual se proporciona boa cobertura do solo. Caracteriza-se por apresentar certa rusticidade quanto à fertilidade do solo e também por se desenvolver em temperaturas elevadas. A ervilhaca (Vicia sativa L.) é uma planta anual, decumbente, podendo atingir altura de 50 a 80 cm. Apresenta potencial de produção de 4 a 6 t ha-1 de matéria seca (Cati, 2002). Barradas et al. (2001) determinaram, aos 119 dias após a semeadura, produção de 6,3 t ha-1 de matéria seca na parte aérea, com acúmulo de nitrogênio total de 222,6 kg ha-1. A ervilhaca peluda desenvolve-se em solo de baixa fertilidade com problemas de acidez (baixo pH e presença de alumínio), produzindo grande quantidade de massa, podendo ser empregada como forragem de inverno ou como adubação verde. A ervilhaca comum desenvolve-se em solos corrigidos ou já cultivados, com bons teores de cálcio, fósforo e sem problemas de acidez, podendo ser empregada como forrageira ou adubação verde. O feijão-bravo-do-ceará (Canavalia brasiliensis Benth.) é uma planta anual ou bianual, herbácea, de crescimento prostrado. Apresenta grande potencial de produção de biomassa e 25 rusticidade durante o período de deficiência hídrica, devido ao seu sistema radicular agressivo, sendo favorecida a absorção de água e nutrientes em maiores profundidades no solo (Sodré Filho et al., 2004). Como essa espécie apresenta sensibilidade ao foto periodismo, em semeaduras tardias se tem diminuição da duração da fase vegetativa e, em consequência, diminuição da produção de matéria seca. Por oportuno, cabe informar que a espécie Cratylia floribunda Benth. (sin. Cratylia argentea), leguminosa perene, arbustiva, de grande porte, com muita resistência à seca, também é conhecida pelo nome comum feijão-bravo (Otero, 1952), além de camaratuba, devendo-se sempre identificar ambas as espécies pelo nome científico, a fim de se evitar sua identificação incorreta. O feijão-de-porco (Canavalia ensiformis (L.) DC) é planta anual, ereta, herbácea, com altura de dossel ao redor de 0,8 a 1,0 m e potencial produtivo de 5 a 8 t ha-1 de matéria seca. Suas sementes, de coloração branca, não são recomendadas para consumo humano ou animal, devido aos fatores antinutricionais, mas a espécie se destaca pela ação alelopática no controle de infestantes, principalmente da tiririca (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998). Tem uma produtividade entre 20 a 40 t de massa verde e 4 a 8 de massa seca por ciclo e fixa entre 120 e 280 kg de nitrogênio por ha, sendo indicada para adubação verde, cobertura verde em cultura perene e controle de invasoras, por seu efeito alelopático é muita usada no controle da tiririca. O guandu (Cajanus cajan (L) Millsp) é uma leguminosa de porte ereto, originária da África, muito usada no Brasil, com desenvolvimento inicial lento, ciclo predominantemente semi-perene, de múltiplos usos - adubo verde, alimentação humana e animal, quebra-ventos, e comumente cultivada nas regiões tropicais e subtropicais. Adaptada a uma ampla faixa de precipitação pluvial, é resistente à seca, desenvolvendo-se mais adequadamente em temperaturas mais elevadas, sobretudo na faixa de 18º a 30ºC, sendo obtidos, por ano, 8 a 12 t ha-1 de matéria seca. A maioria dos genótipos é sensível ao foto período, havendo resposta positiva ao florescimento em dias curtos (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998; Amabile et al., 2000). A produção de massa verde é 20 t/ha (variedades anã) e 40 t/ha (variedades normais). A de massa seca fica entre 3 t/ha (variedades anã) e 9 t/ha (variedade normais), a fixação de nitrogênio fica entre 120 e 350 kg/ha/ano. No guandu ocorrem acentuadas reduções na duração da fase vegetativa e na produção de biomassa quando se adia sua semeadura para janeiro a março, quando os dias se tornam mais curtos, devido à sensibilidade ao foto período (Amabile et al., 2000). Nessa espécie, quando semeada na primavera, pode-se atingir produção de até 13 t ha-1 de matéria seca. A maioria dos cultivares tem duração de ciclo normal, mas há aquele com ciclo curto, também conhecido 26 como guandu anão, cujas plantas são anuais, de crescimento arbustivo ereto, com 1,0 a 1,2 m de altura e potencial de produção de 4 a 7 t ha-1 de matéria seca (Calegari, 1995). O labe-labe (Dolichos purpureus L) é planta anual ou bianual, trepadora e hábito de crescimento indeterminado, também chamado de cumandatiá, mangalô, feijão-de-orelha e feijão-frade originário da África. Apresenta ampla adaptação, é tolerante às geadas, pode atingir altura de 0,5 a 1,0 m e tem potencial de produção de massa seca de 5 a 7 t ha-1. (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998). De acordo com a Fundação Instituto de Agronômico do Paraná (IAPAR), 1 t de massa seca de labe-labe contém em média 18 kg de nitrogênio, rico em proteínas 2,55 % na massa verde e 22,12 % na matéria seca. A mucuna-preta (Mucuna pruriens(L.)) DC, conhecida com este nome em todo Brasil, também é identificada como café-do-Mato-Grosso, fava-café, feijão-café, feijão-inglês, olhosde-burro, olhos-de-burrico e pó-de-mico (Silva et al., 2004) é planta anual ou bianual, trepadora, de ampla adaptação, que pode atingir altura de 0,5 a 1,0 m, com potencial de produção de massa vegetal seca de 6 a 8 t ha-1 (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998). Apresenta desenvolvimento vegetativo vigoroso e acentuada rusticidade, adaptando-se bem às condições de deficiência hídrica e de temperaturas altas. Floresce e frutifica de maneira variável, porém não possui reação foto periódica (Amabile et al., 2000). Nessa espécie o crescimento inicial é extremamente rápido e, aos 58 dias após a emergência, tem-se a cobertura de 99 % da superfície do solo (Favero et al, 2001). Além disso, exerce forte e persistente ação inibitória sobre a tiririca (Cyperus rotundus) e o picão-preto (Bidens pilosa), além de ser má hospedeira/não multiplicadora dos nematoides de galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) (Wutke, 1993) e também do nematoide do cisto (Heterodera spp.). É uma das mais importantes plantas para recuperação de solos degradados e para cobertura em adubação verde. Apresenta a propriedade da nodulação e alta eficiência na fixação de N2, em torno de 331 kg de N ha-1, significando uma alta produção de biomassa, com teor de proteína da matéria seca alcançando até 16,38 % e com registros de, em condições favoráveis, produzir 50 t de matéria fresca ha-1. Consegue se adaptar facilmente aos mais diferentes tipos de solo, desde os arenosos até os argilosos, sendo tolerante à seca, sombra, altas temperaturas e ligeiramente resistente ao encharca mento, se estabelecendo rápido, competindo bastante, com as ervas daninhas. A mucuna cinza (Mucuna cinerea sin. Stizolobium cinereum) é planta anual, trepadora, de crescimento inicial rápido e vigoroso, atingindo altura de 1,0 a 1,5 m. É resistente à seca, adaptada aos solos ácidos e tem potencial produtivo de até 9 t ha-1 de massa seca da parte aérea (Calegari,1992; Wutke, 1993). Essa espécie é considerada má hospedeira/não multiplicadora dos nematoides de galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) (Wutke, 1993) e também do 27 nematoide do cisto (Heteroderaspp.). Produz de 40 a 50 t de massa verde e de 6 a 9 t de massa seca e fixa 180 e 350 kg de nitrogênio por ha/safra. Seu desenvolvimento é semelhante ao da mucuna-preta. A mucuna anã (Mucuna deeringiana (Bort.) Merr.) é uma planta anual, herbácea, de crescimento determinado, originária da África, resistente à seca, com altura máxima ao redor de 0,5 m. É utilizada como adubo verde nas ruas de cafezais e de outras culturas perenes, com produção de matéria seca da parte aérea de 4 a 6 t ha-1 (Wutke, 1993; Fahl et al., 1998). Produz de 10 a 20 t de massa verde, 2 a 4 t de massa seca e fixa entre 60 e 120 kg de nitrogênio por ha/safra. É uma planta própria para consórcios com culturas plantadas em espaçamentos menores uma vez que não tem hábito trepador, não competindo assim por luz, sendo ótimas para áreas que terão um tempo menor para disponibilidade. O tremoço-branco, tremoço-amargo (Lupinus albus L.) é uma planta herbácea, anual, de porte ereto, adaptada aos climas temperados e subtropicais, sobretudo na faixa de temperatura entre 15°C e 25°C, podendo atingir altura de 0,8 a 1,5 m. Apresenta elevada produção de massa vegetal seca da ordem de 5 t ha-1 e um sistema radicular pivotante bastante profundo, que pode atingir até mais de 1 m de profundidade (Callegari, 1992; Wutke, 1993; Fahl et al., 1998). 3.5. Cultivos agrícolas mais beneficiados pelas práticas de Adubação Verde. Com a adubação verde o nitrogênio favorece o crescimento vegetativo, expande a área fotossinteticamente ativa e eleva o potencial produtivo da cultura. As hortaliças folhosas apresentam o efeito direto na produtividade devido serem constituídas de folhas, hastes tenras e inflorescência. Ngonajio et al. (2003) verificou que a adubação verde resultava em altas produtividades para a cultura da alface, o que evidencia a aptidão dessa prática para o cultivo dessa folhosa de ciclo curto. Os grandes benefícios encontrados com a introdução de adubos verdes no solo desencadearam alguns estudos relativos a seus efeitos sobre culturas em sucessão. Alves et al., (2004) concluíram que a incorporação do guandu no sistema de produção de cenoura (Daucus carota), beterraba (Beta vulgaris) e feijão-de-vagem (Phaseolus vulgaris) proporcionou elevada produtividade dessas hortaliças e é comparável a cultivos convencionais. Em trabalho similar, Oliveira (2001), avaliando os efeitos da adubação verde pré-cultivo com crotalária e pousio, sobre a cultura do repolho (Brassica oleracea), em sistema orgânico de produção, observou que o pré-cultivo com essa planta (crotalária) promoveu ganhos significativos na 28 produção de massa fresca da parte aérea, do peso médio das “cabeças” em relação ao pousio. Por consequência, verificou-se um aumento de 41 % na produtividade da cultura. O uso de leguminosas como adubação verde em pré-cultivo e consórcio contribuiu significativamente para o fornecimento de N na cultura da berinjela. Nesses casos, a quantidade de N introduzida pela fixação biológica foi suficiente para compensar o N exportado pela colheita de frutos. No entanto, esses dados não apresentaram diferença estatística da vegetação espontânea (Castro et al., 2004). Segundo Perin et al. (2004), trabalhando com crotalária, milheto, crotalária + milheto na adubação verde em pré-cultivo e em consorciado na produção de brócolis, na ausência ou presença de 150 kg ha-1 de N, verificaram que não houve efeito residual dos adubos verdes sobre o diâmetro, o peso das inflorescências e das plantas. Tais resultados indicaram que os adubos verdes proporcionaram o mesmo desempenho que a vegetação espontânea. Linhares et al. (2008a) observaram que adição de jitirana ao solo na cultura de rúcula folha larga influenciou no acréscimo das características agronômicas de altura de planta, número de folhas, massa verde e seca. Fontanétti et al. (2004b), estudando plantas de cobertura (crotalária juncea, mucunapreta e feijão de porco), verificaram que as mesmas não apresentaram efeito significativo na massa fresca de repolho em relação à testemunha (vegetação espontânea), sendo que as mesmas não diferiram significativamente da massa fresca da alface americana. Apesar de absorverem relativamente pequenas quantidades de nutrientes, quando comparadas com outras culturas, em função de seu ciclo curto, as hortaliças folhosas são consideradas exigentes em nutrientes. Tal exigência torna-se cada vez maior à medida que se aproximam do final do ciclo. Isso porque, após uma fase inicial de crescimento lento, que perdura até cerca de dois terços do ciclo, as folhosas apresentam um rápido acúmulo de matéria seca e, consequentemente de nutrientes. Também, por apresentar uma elevada exigência em um tempo relativamente curto, essas hortaliças podem, temporariamente, ficar mais sujeitas às deficiências minerais (Oliveira et al., 2003). Jarillo, 1994; Rupper, 1987, verificaram que a adição de adubo verde pode inibir a germinação ou o estabelecimento de uma planta infestante, como as plantas daninhas, a tiririca (Cyperus rotundus L.) e a mucuna-preta (Mucuna aterrimum) foi a melhor espécie para o controle das principais plantas infestantes presentes na cultura da laranja. 3.6. Informações gerais sobre as espécies selecionadas para a pesquisa. 29 3.6.1 Mata-pasto (Senna reticulata (Willd.) H.S.Irwin & Barneby) É uma leguminosa tolerante à inundação e comumente observado em áreas alagadas. A planta parece estar sempre florida e produz muita biomassa vegetal fresca importante para adubação verde e preparo do composto. É uma arvoreta ou arbusto de pequeno porte, perene, não trepadora, comum no ambiente da várzea, especialmente nas áreas alteradas. Alcança 2,54,0 m de altura, com caule fino de 4,0 cm na altura do peito. A forma do fuste é cilíndrica e a copa é perfeita aberta e espalhada para todos os lados. As flores são pêndulos ascendentes amarelos exuberantes e permanentes. As folhas são compostas, com folíolos grandes, verdeescuros, em 5-7 pares, os frutos são vagens negras com 10,9 cm de comprimento e 1,5 cm de largura, abrigando numerosas sementes pequenas, negras, em seu interior (Figura 3a, b, c). Segundo Souza (2012), um quilo de folhas de mata-pasto contém: 32,0, 7,7, 33,8, 2,1 g de nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio respectivamente e 170, 198, 30, 31 mg de fósforo, ferro, zinco e manganês respectivamente. (a) (b) (c) Figura 3. Aspecto da planta de mata-pasto (Senna reticulata). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c). Fonte: Souza L.A.G. 3.6.2 Malição (Mimosa pigra L.) O malição é uma planta invasora que ocupa as margens dos rios e igarapés onde se estabelece na linha da água. É uma planta que também se estabelece em terra firme por sua rusticidade e capacidade de colonizar áreas abertas e capoeira. As plantas de malição produzem muita biomassa rica em nitrogênio e rápida mineralização da matéria orgânica e são importantes na adubação verde e para o preparo de composto orgânico em camadas alternadas com outros materiais. É um arbusto espinhoso, mas vigoroso, não trepador, geralmente encontrado com floração abundante ou frutos espalmados distribuídos em toda a copa da planta. Apresenta em média 2 m de altura e copa aberta e espalhada, muitas vezes com caules múltiplos. As folhas 30 são compostas, constituídas por numerosos folíolos, em média com 29 pares e são sensíveis ao toque, vergando-se depois de tocadas. As flores são brancas ou rosadas. Os frutos inicialmente são amarelos, mas tornam-se marrons quando maduros, com pelos densos, dourados, ferrugíneos em toda superfície externa, abrigando as sementes em pequenos septos uniloculares, cujos segmentos se desmembram e dispersam em pequenas partes após a maturação. As sementes são duras, achatadas e alongadas como as de arroz, com cores marrons e esverdeadas ou marrons mais claras (Figura 4 a, b, c). Segundo Souza (2012), um quilo de folhas de malição contém: 39,7; 7,1; 20,5 e 2,0 g respectivamente de nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio; e 130, 19, 36, 64 mg respectivamente de fósforo, ferro, zinco e manganês. (a) (b) (c) Figura 4. Aspecto da planta de malição (Mimosa pigra). (a) Limbo foliar; (b) Floração; e, (c) Frutificação. 3.6.3 Ingá-de-metro (Inga edulis Mart.). Ótimas para adubação verde a germinação de suas sementes é rápida e muito fácil, pois possuem 62-67 % de umidade e algumas vezes germinam dentro do próprio fruto, fenômeno conhecido como viviparidade sendo classificadas como recalcitrantes, devido à umidade e de curta viabilidade, podendo ser semeadas diretamente na terra em beira de trilhas e cercas. É uma planta domesticada pelos índios da Amazônia tem 10-12 m de altura e diâmetro de tronco de 15 cm quando cresce em áreas abertas, mas que na mata alcança 40 m de altura e com sua polpa comestível (Figura 5 a, b, c). É uma espécie temporária com ciclo de vida de 10-12 anos, rústica, e bem adaptada à acidez, alumínio tóxico e baixa fertilidade natural dos solos de terra firme da Amazônia. Cresce rápido e floração inicial um ano e meio após o cultivo apresentando alta fertilidade. Suas folhas possuem nectários extraflorais entre cada par de folíolos o que atrai formigas pretas, fornecendo juntamente com os frutos boa forragem para o gado. Segundo Souza (2012) um quilo de folhas de ingá de metro contém: 33,0, 5,2, 12,0, 2,5 g de nitrogênio, 31 potássio, cálcio e magnésio respectivamente e 90, 18, 37, 204 mg de fósforo, ferro, zinco e manganês respectivamente. (a) (b) (c) Figura 5. Aspecto da planta de ingá-de-metro (Inga edulis). Limbo foliar (a) floração e (b) sementes (c). 3.6.4 Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense (Aubl.) Benth.) A faveira-camuzé é uma espécie com bom potencial de uso para produção de lenha em solos de terra firme. Tem alta capacidade de rebrota, tolera bem a poda regular e a constituição foliar com minúsculos folíolos favorece os processos de mineralização da biomassa da planta no preparo do composto orgânico. Nos sistemas agroflorestais pode ser útil para adubar fruteiras em consórcio. É uma árvore perene 7-15 m de altura, muito frequente nas bordas de mata e capoeiras que apresenta a copa muito esgalhada frondosa, com fuste baixo e frutos distribuídos em boa parte dos galhos. A circunferência do tronco pode chegar a 82 cm com diâmetro de tronco de 26 m, que pode ser útil como lenha. As folhas são compostas por folíolos. As flores são em pêndulos avermelhados. Os frutos são vagens marrons escuras a negras quando maduras (Figura 6 a, b, c). A casca da árvore é cinzenta, colonizada por líquens. As raízes possuem um cheiro forte por vezes desagradável de tanino. Segundo Souza (2012) um quilo de folhas de faveira-camuzé contém: 27,8, 3,1, 4,1, 2,3 g de nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio respectivamente e 50, 19, 15, 89 mg de fósforo, ferro, zinco e manganês respectivamente. (a) (b) (c) Figura 6. Aspecto da planta de faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense). Limbo foliar (a) floração e (b) fruto (c). 32 3.6.5 Gipoóca (Entada polyphylla Benth.) A gipoóca é uma planta pioneira que cresce em matas secundárias de terras firmes e na várzea, e tem adaptação a vários tipos de solos, com diferentes texturas. Devido a sua rusticidade, é uma espécie com potencial para recuperação de solos e adubação verde. Seus frutos são dispersos pelo e pela água, facilitando o seu estabelecimento em novos locais. É um cipó trepador, lenhoso, sem espinhos, mas com gavinhas, de crescimento indeterminado, vigoroso, que cresce utilizando outras plantas como suporte, em altura de 4-6 m ou até mais. Suas folhas são compostas com quatro pares de folíolos constituídos por numerosos folíolos miúdos. A massa foliar da espécie é densa e fechada, principalmente quando ocorre em área de população da espécie. Suas flores são brancas, em cachos no formato de uma escova, grandes e dispostos nos ramos terminais. Os frutos são favas grandes, marrons, vistosas, secas e segmentadas com uma só semente alaranjada no interior dos septos individuais. As vagens medem 37 cm de comprimento e possuem 6 cm de largura podendo abrigar entre 14-18 sementes (Figura 7 a, b, c). Segundo Souza (2012), um quilo de folhas de gipoóca contém: 42,1, 7,2, 17,7, 3,5 g de nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio respectivamente e 140, 131, 52, 61 mg de fósforo, ferro, zinco e manganês respectivamente. (a) (b) (c) Figura 7. Aspecto da planta de gipoóca (Entada polyphylla). Limbo foliar (a) floração e (b) frutificação (c). 33 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alcântara, F.A.; Neto, A.E.F.; Paula, M.B.; Mesquita, H.A.; Muniz, J.A. 2000. Adubação verde na recuperação da fertilidade de um Latossolo vermelho-escuro degradado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 35(2): 277-288. Alves, S.M.C.; Abboud, A.C.S.; Ribeiro, R.L.D.; Almeida, D.L. 2004. Balanço do nitrogênio e fósforo em solo com cultivo orgânico de hortaliças após a incorporação de biomassa de guandu. Pesquisa Agropecuária Brasileira. 39 (11): 1111-1117. Amabile, R.F.; Fancelli, A.L.; Carvalho, A.M. 2000. Comportamento de espécies de adubos verdes em diferentes épocas de semeadura e espaçamentos na região dos cerrados. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 35 (1): 47-54. Ambrosano, E.J.; Muraoka, G.M.B.; Trivelin, D.C.O.; Wutke, E.B.; Tamiso, L.G. 2000. O papel das leguminosas para adubação verde em sistemas orgânicos. 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Resumo: As práticas de adubação verde podem contribuir para o aumento ou manutenção da produtividade agrícola em solos de terra-firme e das áreas de várzea da Amazônia Central. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições de fertilidade do solo e qualidade da biomassa foliar de leguminosas nativas recomendadas para adubação verde que crescem espontaneamente em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, AM. As espécies avaliadas foram: faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata). Nos municípios do Careiro da Várzea, Manacapuru, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão as plantas foram localizadas nos ambientes da terra firme e da várzea, dentro ou nas proximidades das áreas agrícolas. Em cada local, foi coletado solo nas profundidades de 5 e 15 cm e biomassa foliar do terço médio da planta, para determinações químicas. As características de solo analisadas foram: o pH em H2O, N, P, K+, Ca++, Mg+, Mn, Fe, Zn e Al³+ e C-orgânico. Nas folhas, foram determinados os teores de N, P, K+, Ca++, Mg+, Fe, Mn e Zn. O delineamento experimental compreendeu um arranjo fatorial 5 x 5, combinando cinco espécies e cinco procedências, com três repetições. Os dados obtidos foram submetidos a Anova, e comparados pelo modelo de Tukey (P<0,01). A qualidade nutritiva da biomassa foliar das leguminosas apresentou estabilidade independente de sua procedência e concentrações de nitrogênio superiores a 3,1 %. Na biomassa foliar, somente para as concentrações de ferro e de zinco foram verificadas interações significativas entre espécies e municípios. O ingá e a faveira-camuzé que tem a terra-firme como ambiente preferencial, apresentaram adaptação aos solos com baixa fertilidade natural, nos diferentes municípios visitados. No ambiente da várzea, o mata-pasto destacou-se comparado ao malição e a gipoóca, com biomassa foliar rica em fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Houve interação significativa entre espécies x municípios para os teores de cálcio e fósforo no solo, nas duas profundidades consideradas e para o pH e o alumínio na profundidade de 15 cm. Palavras-chave: Agroecologia, Leguminosas, Produção Agrícola Sustentável, Nitrogênio. 42 CHEMICAL CHARACTERISTICS OF SOIL AND NUTRIENTS IN LEAF BIOMASS SPECIES OF PRESELECTED FABACEAE FOR GREEN MANURE IN THE CENTRAL AMAZON, BRAZIL Abstract: Green manure practices can contribute to increasing agricultural productivity in upland soils and lowland areas of Central Amazon. The objective of this study was to evaluate soil fertility conditions and quality of leaf biomass of native leguminous recommended for green manure that grow spontaneously in five municipalities in the metropolitan region of Manaus, AM. These species were faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata). In the cities of the Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão plants were located in the mainland and lowland environmentes, in or near agricultural áreas. At each site, it was collected soil at depths of 5 and 15 cm and leaf biomass of the average third of the plant for chemical analysis. The soil characteristics were analysed: pH in H2O, N, P, K+, Ca++, Mg+, Mn, Fe, Zn e Al³+ and Organic Carbon. The leaves were determined the levels of N, P, K+, Ca++, Mg+, Fe, Mn e Zn. The experimental design comprises a 5 x 5 factorial arrangement, combining five species and five provenances, with three replications. Data were subjected to ANOVA and compared by Tuckey model (P<0,01). The nutritional quality of leaf biomass present stability regardless of their origin and nitrogen concentrations greater than 3,1%. In foliar biomass, only for iron and zinc concentrations significant interactions were found between species and municipalities. The ingá and faveira-camuzé that has the dry land as the preferred environment, showed adaptation to soils with low fertility in the different municipalities visited. In the lowland environment, o mata-pasto stood out compared to malição and gipoóca which rich leaf biomass in phosphorus, potassium, calcium and magnesium. There was a significant interaction between species x municipalities for calcium and phosphorus in the soil at both depths considered and the pH and aluminum at a depth of 15 cm. Keywords: Agroecology, Leguminous, Sustainable Agricultural Production, Nitrogen. 43 INTRODUÇÃO Os solos de terra firme do Amazonas não têm quase nutrientes devido à quantidade de chuvas que leva todos os nutrientes, porém os solos de várzea são bem ricos de nutrientes, devido a decomposição de materiais orgânicos, são solos férteis que depois da época das cheias deixa os solos bem mais ricos em nutrientes. Os municípios banhados pelo Rio Negro, também conhecido como o “Rio da Fome”, por apresentar um elevado nível de acidez devido a decomposição de vegetais em seu interior, possuem um solo com pouquíssimos nutrientes, são compostos por areia e argila, o que impossibilita o cultivo de plantações, ao contrário dos rios Solimões e Madeira, que apresentam rios próprios para a agricultura. Nessas condições, é necessário desenvolver estratégias de manejo mais sustentáveis, com o uso de práticas que potencializam a biodiversidade e os processos biológicos, aumentando a eficiência do processo de ciclagem de nutrientes. Em solos Argissolos, o N na forma de amônia (NH3) se encontra adsorvido nas partículas de cargas negativas ou disponível na sua forma inorgânica de nitrato (NO3 ̄). O nitrato porém, é o íon que predomina durante o processo de nutrição das plantas (Luchese et al., 2001). Solos com cobertura mais densa, devido a presença de matéria orgânica e pela presença de leguminosas fixadoras de N2, impedem a perda de nitrogênio por lixiviação. Os solos de várzea, planície de inundação contrastando com a terra firme, possuindo os solos mais férteis de toda a bacia amazônica, devido à deposição de sedimentos oriundos dos Andes por meio das inundações anuais, formando assim regularmente novas camadas de solo rico em nutrientes (Quesada et al.,2011), porém é deficiente em nitrogênio. Portanto o solo, nessas condições é um fator limitante para a produtividade e sustentabilidade de sistemas de produção agrícola, com isso torna-se necessário a adição de condicionadores A entrada de nitrogênio no solo pode ocorrer pela fixação relacionada a fatores físicos, através de descargas elétricas atmosféricas, radiação ultravioleta, chuvas, entre outros, porém, as quantidades de N2 fixadas por estes processos estão aquém da demanda das espécies vegetais espontâneas ou cultivadas. Outra forma de fixação é a química/industrial, realizada com alto custo energético, onde o N2 se liga ao hidrogênio por meio de energia não renovável fornecida por gás natural, petróleo, nafta ou álcool, sob condições de elevada temperatura e pressão, resultando na produção de fertilizantes amoniacais (Barbosa, 2007). É uma contribuição importante de entrada de N2 fixado no sistema solo-planta-animal, porém não é sustentável por queimar combustíveis fósseis. A forma mais sustentável de entrada do nitrogênio ao solo é a biológica FBN, processo pelo qual alguns gêneros de bactérias captam o nitrogênio presente no ar, tornando-o assimilável pelos vegetais. Os rizóbios estabelecem simbiose com as raízes das 44 leguminosas, através de um fina sintonia entre cada raiz e o seu rizóbio específico, formando nódulos, onde essas bactérias ficam alojadas e realizam o processo de captura e fixação do nitrogênio atmosférico. A capacidade de realizar a fixação biológica do nitrogênio permite a planta suprir sua demanda por nitrogênio em solos com deficiência desse nutriente, favorecendo seu crescimento e a formação de matéria orgânica no solo. As leguminosas também são importantes no processo de estabilização da matéria orgânica do solo, pois para cada 10 unidade de carbono sequestrado existe a necessidade de imobilizar, em média, uma unidade de nitrogênio (Sisti et al., 2004). Durante a decomposição dos resíduos vegetais, parte do nitrogênio liberado é rapidamente assimilado (imobilizado) pela biota do solo. O acúmulo de nitrogênio inorgânico no solo só vai ocorrer se a quantidade de nitrogênio liberada pelos resíduos vegetais exceder o seu requerimento pelos microrganismos, que está associado ao fornecimento de carbono, que é a fonte de respiração e crescimento desses seres. Sendo o nitrogênio o elemento mais abundante na atmosfera terrestre (em torno de 79%), estando presente principalmente na forma (N2) e um dos principais macronutrientes importantes aos vegetais. Existem bactérias que realizam simbiose com raízes de plantas e, possuem enzimas com capacidade de redução do nitrogênio atmosférico, transformando-o em amônia e posteriormente em elementos essenciais (Lodeiro et al., 2000). A simbiose em leguminosasbactérias fixadoras de N2 atmosférico é amplamente aceita como alternativa à fertilização química. Bactérias do grupo dos rizóbios têm a capacidade de formar nódulos em raízes e caules de leguminosas e possuem papel importante na agricultura sustentável (Freitas et al., 2007). A ciclagem de nutrientes nos ecossistemas naturais é favorecida por etapas de imobilização e mineralização da biomassa orgânica fresca e esta é condicionada, dentre outros fatores pela relação C/N (Marschner et al. 1990), o que torna vantajoso o manejo de leguminosas nos sistemas de produção agrícola pelos maiores teores de nitrogênio na biomassa, comparado a outras espécies. Segundo Osterroht (2002), as leguminosas utilizadas como cobertura do solo, também contribuem para a diminuição do impacto direto da chuva e dos raios solares no solo, permitindo maior infiltração e menores temperaturas, amenizando as perdas de água, e também atuam na inibição da germinação de plantas espontâneas (Lojka et al. 2012). Este trabalho teve como objetivo avaliar as relações de nutrientes entre solo e planta dos municípios na região metropolitana de Manaus, Amazonas, Brasil. 45 MATERIAL E MÉTODOS As atividades de coleta e bioprospecção foram desenvolvidas em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, no ambiente de terra firme e da várzea do rio Solimões, de junho a dezembro de 2014. No desenvolvimento dos trabalhos de campo, os municípios visitados foram: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. O posicionamento geográfico destes municípios no entorno da cidade de Manaus, está apresentado na Figura 1. Figura 1. Localização geográfica dos municípios que constituem a região metropolitana de Manaus, na Amazônia Central, Brasil. Os locais visitados foram margens de estradas, margens de rios, quintais agroflorestais estabelecidos em agrossistemas familiares, e outros ambientes tais como áreas ruderais, capoeiras, etc., ou outros ambientes onde as espécies prioritárias se estabeleciam naturalmente, ou foram cultivadas. As espécies de Fabaceae nativas pré-selecionadas foram: Para terra firme faveira-camuzé ((Stryphnodendron guianense (Aubl.) Benth), gipoóca (Entada polyphylla Benth.) e ingá (Inga edulis Mart.) e para a várzea malição (Mimosa pigra L.) e mata-pasto (Senna reticulata (Willd)H.S.Irwin & Barneby). Em cada município, foram visitados o ambiente de terra firme e da várzea ou igapó, para a amostragem de biomassa foliar e do solo onde a espécie de leguminosa prosperava, com três repetições para cada espécie. Na coleta feita para a espécie uma distância mínima de 100 m foi obedecida entre matrizes. A coleta de biomassa da parte aérea foi feita com o auxílio de um 46 podão de alumínio com 12 m de amplitude, priorizando-se folhas do terço médio da planta. A quantidade de biomassa fresca coletada foi de 500 g por matriz. Com o auxílio de uma tesoura de poda fez-se uma triagem do material podado, eliminando galhos grossos e ramos mais lenhosos. As amostras de solo foram coletadas na área de projeção da copa da matriz selecionada, na profundidade de 0-5 cm e 5-15 cm, com auxílio de um trado. As coletas foram feitas em locais aleatorizados dentro de cada ambiente, buscando-se uma boa representatividade de cada área. Durante a coleta evitou-se o efeito de borda, concentrando a amostragem no centro dos ambientes. Em seguida, as amostras foram levadas para o Laboratório Temático de Solos e Plantas (LTSP) do INPA, onde foram secas ao ar, destorroadas e peneiradas em uma peneira de malha de 2 mm de espessura. A caracterização química dos solos seguiu a metodologia de Análise Química de Solos, estabelecida pela Embrapa (2011). O Nitrogênio total foi obtido através do método Kjeldahl, que consiste na utilização de uma solução sulfúrica para digestão (H2SO4), solução de H3BO3 como indicador, NaOH para destilação (separação da amônia (NH3) do sulfato de amônia ((NH4)2SO4) e posteriormente uma solução de H2SO4 a 0,01N para titulação. As determinações de P, K+ e Fe foram realizadas através de extração em duplo-ácido, Mehlich-1, e posterior leitura em espectrofotômetro da marca Milton Roy–Spectronic 301 em comprimento de onda 660 nm. Ca2+ e Mg2+ foram determinados em espectrofotômetro de absorção atômica. As análises de pH foram realizadas em pHmetro com eletrodo de vidro, modelo mPA 210/mPA 210P, em água destilada, na proporção de 1:2,5 e agitadas por 45 segundos deixadas em repouso por 1 h e em seguida agitadas novamente para a leitura. O carbono foi determinado pelo método Walkey e Black usando a Dicromatometria que consiste em titulações com o K2Cr2O7, para oxidação da matéria orgânica em meio sulfúrico com FeSO4.7H2O amoniacal. Os teores de Al3+ foram determinados pelo método de titulação com NaOH, utilizando o azul de bromotimol como indicador. A biomassa fresca foi transportada para a sede com fins de caracterização química. Em seguida foram colocadas para secar em estufa a 65°C/72 h até atingir peso constante. Após a secagem, o material foi moído em moinho de facas e armazenado em recipiente vedado. As análises químicas dos tecidos vegetais foram feitas conforme metodologia da Embrapa (2011). O N foi determinado após digestão sulfúrica, seguida pela destilação conforme método Kjeldahl (Sarruge e Haag, 1974), modificado. P, K+, Ca++, Mg+,Cu, Fe, Zn e Mn foram determinados por meio de digestão nitro-perclórica (solução digestora nitroperclórica de HNO3 e HClO2 concentrados na relação 2:1) e posterior leitura. 47 O delineamento experimental empregado foi um arranjo fatorial do tipo 5 x 5, considerando-se o fator principal as espécies (faveira-camuzé, gipoóca, ingá, malição e matapasto) e fator secundário as procedências (Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão), totalizando 25 tratamentos, com três repetições. Os seguintes tratamentos foram definidos: 1. Careiro da várzea x faveira-camuzé 14. Itacoatiara x malição 2. Careiro da várzea x gipoóca 15. Itacoatiara x mata-pasto 3. Careiro da várzea x ingá 16. Manacapuru x faveira-camuzé 4. Careiro da várzea x malição 17. Manacapuru x gipoóca 5. Careiro da várzea x mata-pasto 18. Manacapuru x ingá 6. Iranduba x faveira-camuzé 19. Manacapuru x malição 7. Iranduba x gipoóca 20. Manacapuru x mata-pasto 8. Iranduba x ingá 21. Novo Airão x faveira-camuzé 9. Iranduba x malição 22. Novo Airão x gipoóca 10. Iranduba x mata-pasto 23. Novo Airão x ingá 11. Itacoatiara x faveira-camuzé 24. Novo Airão x malição 12. Itacoatiara x gipoóca 25. Novo Airão x mata-pasto 13. Itacoatiara x ingá Para o processamento dos dados empregou-se a Anova, utilizando o programa Estat (Unesp, versão 2010). As comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey a 1 % de probabilidade. 48 RESULTADOS E DISCUSSÃO Características químicas do solo onde se estabelecem espécies de Fabaceae pré-selecionadas para adubação verde na Amazônia Central, Brasil O grande desafio dos diferentes sistemas agrícolas propostos para a Amazônia Central, no ambiente da terra firme é a acidez elevada, que potencializa a toxidez de alumínio e as reservas limitadas e escassas de nutrientes essenciais. Nos solos da várzea da calha dos rios Solimões-Amazonas, há nutrientes essenciais disponíveis, entretanto a sazonalidade das águas limita a disponibilidade de nitrogênio (Fajardo et al., 2009). Os teores de macronutrientes presentes no solo, a 5 e 15 cm de profundidade, onde se estabelecem as diferentes espécies propostas para uso como adubo verde aqui pesquisadas, variaram nos locais onde as espécies foram localizadas, refletindo as diferenças químicas acentuadas entre solos do ambiente da várzea e da terra firme. Os resultados obtidos para a análise do solo nas duas profundidades consideradas de 5 e 15 cm demonstraram em valores médios a maior concentração de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio nas camadas mais superficiais do solo, conforme pode ser observado na Figura 2. Dentre os macronutrientes considerados foi verificado que a disponibilidade de cálcio e magnésio a 5 e 15 de profundidade (Figura 2g, h; Figura 2i, j) e a de fósforo a 5 cm de profundidade (Figura 2c) variou significativamente (P<0,01) nos locais onde as leguminosas cresciam. Por outro lado, os teores de nitrogênio e potássio no solo nas duas profundidades consideradas não variaram entre as espécies de leguminosas (Figura 2a, b e Figura 2e, f), como também o fósforo a 15 cm de profundidade (Figura 2d). Deve-se considerar que as espécies de leguminosas aqui pesquisadas foram selecionadas para diferentes ambientes, assim, ingá, gipoóca e faveira-camuzé prosperam no ambiente de terra firme e matapasto e malição são plantas preferenciais dos solos de várzea. Considerando-se que o aporte de nitrogênio ao solo é mediado pelas entradas de matéria orgânica, para todas as espécies os valores observados na camada de 5 cm foram maiores que a 15 cm), conforme verificado nas (Figuras 2 a, b). Possivelmente, pelas mesmas razões, os teores de potássio também, para todas as espécies, foram maiores na camada mais superficial do solo (Figura 2 e,f). Entretanto, ressalva-se que nas profundidades de 5 e 15 cm, os teores de nitrogênio e potássio no solo não variaram significativamente entre as espécies pesquisadas. Pois, devido à entrada de matéria orgânica no solo aumenta a CTC, propiciando maior capacidade de retenção de nutrientes, evitando assim que sejam lixiviados. No caso do potássio 49 a matéria orgânica desempenha o papel de adsorção eletrostática. Já o nitrogênio representa 5% da matéria orgânica total, sendo que cerca de 90 a 99% do N total do solo está na forma orgânica. Ambrosano et al., (2009), verificou que na parte aérea de plantas de milho cultivadas em vasos em casa de vegetação, foram determinados valores médios de 45,1% de aproveitamento do N após o cultivo da mucuna-preta e de 37,8% após o da crotalária-júncea em Latossolo Vermelho-Escuro e Argissolo Vermelho-Amarelo, sendo maiores neste último tipo de solo. Por outro lado, como já afirmado, as diferenças nos teores de fósforo no solo nos locais onde as espécies se estabeleciam, só foram significativas na camada de 5 cm, com teores medianos de fósforo onde o mata-pasto se estabelece na várzea, sendo significativamente superior aos encontrados nos solos de terra firme onde o ingá e a faveira-camuzé cresciam com níveis de deficiência deste elemento (Figura 2c). Mas a 15 cm de profundidade os valores de fósforo não variaram significativamente (Figura 2d) e para todas as espécies a disponibilidade deste elemento foi de baixa a deficiente. Fajardo et al., (2009), observaram num estudo feito no baixo rio Solimões/Várzea que os teores de fósforo eram maiores nas camadas superficiais e que diminuíam com a profundidade. Por outro lado nos solos de terra firme de elevada acidez, onde se estabelecem o ingá e a faveira-camuzé foi deficiente devido o fósforo só estar disponível em solos com pH entre 6,0 e 6,5, pois nesta faixa há equilíbrio entre as duas formas de fósforo que as plantas absorvem e não há condições adequadas para formação de compostos insolúveis de fósforo, como por exemplo a formação de fosfatos com o ferro e alumínio, bem presente nos solos de terra firme da Amazônia Central. Nas profundidade de 5 e 15 cm foi observado que o nível de cálcio presente no solo de várzea onde cresce o mata-pasto e o malição foi significativamente superior ao verificado para o ingá e a faveira-camuzé, espécies amostradas na terra firme (Figura 2 g,h). Os níveis de cálcio na terra firme, considerando-se o critério de interpretação de análise de solo da Embrapa (2011), foram inferiores a 2 cmol kg-1, classificando-os como deficientes, e nas duas profundidades consideradas, embora o ingá não tenha diferido significativamente da faveira-camuzé foi encontrado em níveis de Ca quase quatro vezes maior. Os solos de várzea, ambientes onde as espécies mata-pasto e malição se estabelecem, são ricos em nutrientes principalmente o cálcio devido essas áreas serem inundadas pelos rios que vem dos Andes que são ricos em sedimentos. Já o de terra firme onde se estabelecem o ingá e a faveira-camuzé, são solos pobres mineralogicamente e altamente ácidos, pois o cálcio provém das rochas e em solos lixiviados pelas águas das chuvas, estas, contendo gás carbônico, percolam através do solo, e o ácido carbônico formado desloca o cálcio, assim como outros cátions, do complexo coloidal do solo. Ingá Gipoóca Mata-pasto Faveira-camuzé Malição 1,52 a 1,35 a 1,34 a 1,10 a 1,05 a Teste F 1,32 NS 0 1 Espécies Espécies 50 Ingá Gipoóca Mata-pasto Faveira-camuzé Malição 1,22 a 1,12 a 1,10 a 0,97 a 0,92 a 0 2 20,27 a 13,83 ab 12,01 ab 5,61 b 1,76 b 10 20 Ingá Gipoóca Malição Mata-pasto Faveira-camuzé 14,84 a 13,97 a 9,92 a 7,91 a 2,66 a 0 30 Mata-pasto Gipoóca Malição Ingá Faveira-camuzé 0,14 a 0,11 a 0,10 a 0,10 a 0,06 a 0,05 0,1 Mata-pasto Gipoóca Malição Ingá Faveira-camuzé 0,15 0 Espécies 1,22 bc Malição Mata-pasto Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 0,29 c 6 2 4 6 Ca⁺⁺ 15 cm (cmolc.Kg ̄¹) Teste F 11,53** (h) 0,90 a 0,78 ab 0,43 bc 0,38 c 0,17 c 0,5 1 Espécies Espécies Teste F 10,55** 0,15 0,91 bc 0,23 c (g) 0 0,1 3,96 a 2,95 a 2,29 ab 0 2 4 Ca⁺⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) Mata-pasto Malição Ingá Gipoóca Faveira-camuzé 0,05 (f) 3,91 a 3,31 a 2,44 ab Espécies Teste F 14,45** 20 K⁺ 15 cm (cmolс Kg ¹̄ ) (e) 0 15 0,11 a 0,10 a 0,08 a 0,07 a 0,05 a K⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) Mata-pasto Malição Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 10 (d) Espécies Espécies (c) 0 5 Fósforo 15 cm (mg/Kg ̄¹) Teste F 1,35 NS Fósforo 5 cm (mg/Kg ̄¹) Teste F 1,64 NS 1,5 (b) Espécies Espécies (a) 0 1 Nitrogênio 15 cm (g/Kg ̄¹) Nitrogênio 5 cm (g/Kg ̄¹) Mata-pasto Malição Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 0,5 Malição Mata-pasto Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 0,78 a 0,69 ab 0,48 abc 0,32 bc 0,13 c 0 0,5 Mg⁺⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) Mg⁺⁺ 15 cm (cmolc.Kg ̄¹) (i) (j) 1 Figura 2. Determinação dos teores de nitrogênio (a,b), fósforo (c,d), potássio (e,f), cálcio (g,h) e magnésio (i,j) a 5 e 15 cm de profundidade, nos locais de estabelecimento de cinco espécies de leguminosas recomendadas para adubação verde na Amazônia Central.*1, *2 *1 - Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata). *2 - Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade. 51 A disponibilidade de magnésio no solo, em todos os locais amostrados foi deficiente por apresentar valores iguais ou inferiores a 0,90 cmolc kg-1. Mesmo nestas condições, na profundidade de 5 cm o teor de magnésio nos locais onde cresce o mata pasto foi significativamente superior aos locais onde crescia o ingá, a gipoóca e a faveira-camuzé (Figura 2 i). Na profundidade de 15 cm, malição e mata-pasto foram encontrados em solos com teores de magnésio superiores ao da faveira-camuzé (Figura 2 j). As evidências iniciais são de uma alta rusticidade e capacidade de adaptação da faveira-camuzé em solos com baixos estoques de macronutrientes. Não por acaso esta espécie é encontrada nos agrossistemas nas bordas de áreas agrícolas e a floresta, ou mesmo em pastagens e capoeiras já nos primeiros anos (Souza 2012). Foi verificado que os teores de ferro e o pH do solo variaram significativamente nos locais onde as espécies selecionadas se estabelecem, nas duas profundidades consideradas, o mesmo acontecendo para os teores de carbono a 15 cm de profundidade do solo. Entretanto, os níveis de carbono a 5 cm de profundidade e os teores de alumínio trocável no solo não variaram significativamente entre as espécies (Figura 3). O pH do solo variou de mediano a fortemente ácido a 5 e 15 cm de profundidade. As espécies mata-pasto, gipoóca e malição estabeleciam-se em condições de acidez mais favoráveis ao desenvolvimento vegetal, na profundidade de 5 cm, diferindo significativamente da faveira-camuzé que foi encontrada em ambiente de acidez elevada (Figura 3 a). Na profundidade de 15 cm, a acidez do solo foi também mais favorável as plantas de gipoóca e mata-pasto, superando significativamente a acidez mais elevada que no ambiente da ingá e faveira-camuzé (Figura 3b). Em clima úmido, as águas das chuvas que percolam através do solo que contém ácido carbônico resultante da dissolução do gás carbônico na água, removem os íons do complexo coloidal do solo, principalmente de cálcio e magnésio, deixando em seu lugar quantidade equivalente de íon hidrogênio. Com isso, a quantidade de hidrogênio no solo vai aumentando gradativamente, resultando em abaixamento progressivo do pH. Pesquisas realizadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) mostram que as leguminosas apresentam diferentes capacidades de aumentar o pH do solo e de diminuir o conteúdo de Al (Leal et al., 1996; Miyazawa et al., 1993) Como já afirmado, nas condições da Amazônia central, na profundidade de 5 cm os teores de carbono no solo onde as espécies de leguminosas com potencial para adubo verde se estabeleciam não diferiram significativamente entre si (Figura 3 c), e foram considerados medianos (Cochrane et al., 1984). Por outro lado, na profundidade de 15 cm, o solo onde a gipoóca e a ingá se estabeleciam apresentava maiores teores de carbono que o solo onde o malição foi encontrado (Figura 4 d). Ugen (2001), em um sistema agroflorestal de sete anos de idade na Amazônia Central, observou que a presença da Pueraria phaseoloides aumentou 52 significativamente a concentração de C no solo quando comparado com a parcela sem a presença da leguminosa onde o incremento foi de 25,8 g C kg-1 para 30,4 g C kg-1. Os teores de alumínio trocável no solo na profundidade de 5 cm classificaram-se como médios em todos os locais pesquisados (Figura 3e), porém, a 15 cm de profundidade, mesmo sem diferir significativamente nos locais onde as espécies de leguminosas foram encontradas, para ingá e malição os níveis verificados foram altos, por superarem a taxa de 1,00 cmlc kg-1 (Embrapa, 2011), conforme pode ser verificado na Figura 3 f. O alumínio é o metal mais abundante no solo, uma vez que a maior parte dos minerais primários e secundários das rochas formados pela ação do intemperismo, são aluminosilicatos, que, quando decompostos pela água carregada de gás carbônico, liberam o alumínio de forma trocável (Al3+). Trata-se de um íon trivalente anfótero, ou seja em meio ácido ele atua como um cátion e em meio básico ele atua como um ânion, sendo o pH o principal fator que controla a sua disponibilidade no solo. (Malavolta, 1980). Em solos ácidos, um fator relevante é a alta solubilidade de metais pesados, e o Al se avoluma por prevalecer nas soluções presentes nesse tipo de ambiente e toxidez aos vegetais. As raízes apresentam engrossamento e amarelamento nas pontas, degeneradas, tortuosas, com ramificações secundárias, escuras em parte pela oxidação de compostos fenólicos e sem pelos absorventes, com isso causando o entupimento nas raízes, impedindo que as plantas absorvam nutrientes e também o crescimento da raiz, elas ficam grossas e perdem a turgidez, acarretando com isso o tombamento da espécie. E também o alumínio imobiliza o fósforo nas plantas. As plantas ao serem afetadas pelo cátion tóxico apresentam com frequência sintomas de déficit nutricional (fósforo, potássio, cálcio, magnésio e molibdênio), uma vez que ele interfere no processo de absorção, translocação e transporte de nutrientes. (Sivaguru; Horst, 1998; Freitas et al., 2006) Como já conhecido para os solos tropicais, os teores de ferro presentes nos solos pesquisados são elevados, mas há diferenças significativas entre os locais onde as leguminosas selecionadas se estabelecem. Assim, na profundidade de 5 cm, os teores de ferro nos locais onde foram encontradas o malição e o mata-pasto foram significativamente maiores que os da ingá e faveira-camuzé. Nota-se que em média os níveis de ferro onde cresce o malição foram 3,7 vezes maiores que os de faveira-camuzé (Figura 3 g). Esse padrão de disponibilidade de ferro também foi observado na profundidade de 15 cm, onde os níveis de ferro onde crescem as plantas de malição foram 3,4 vezes maiores que no solo onde a faveira-camuzé se estabelece (Figura 3 h). Mata-pasto Gipoóca Malição Ingá Faveira-camuzé 5,59 a 5,56 a 5,38 a 5,14 ab 4,81 b 4 4,5 5 5,5 Espécies Espécies 53 6 5,58 a 5,55 a 5,33 ab 4,92 b 4,85 b 4 pH H₂O 5 cm Teste F 5,37** Gipoóca Mata-pasto Malição Ingá Faveira-camuzé 10 20 C 5 cm (g/Kg ̄¹) Espécies Espécies 21,13 a 20,88 a 19,94 a 17,49 a 17,43 a Gipoóca Ingá Mata-pasto Faveira-camuzé Malição 30 0 Espécies Espécies 0,52 a 0,5 1 Ingá Malição Faveira-camuzé Gipoóca Mata-pasto 1,5 0,59 a 0,57 a 0,5 1 Aluminio 15 cm (cmolc Kg ¹̄ ) 1,5 (f) 454,40 a 415,93 a 290,07 ab 158,80 b 122,93 b 200 400 Fe 5 cm (mg/Kg ̄¹) 600 Espécies (e) Espécies 30 1,13 a 1,06 a 0,87 a 0 Aluminio 5 cm (cmol Kg ¹̄ ) (g) 20 C 15 cm (g/Kg ̄¹) Teste F 4,35** 0,98 a 0,96 a 0,95 a 0,92 a 0 10 (d) Faveira-camuzé Mata-pasto Malição Ingá Gipoóca Malição Mata-pasto Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 6 20,73 a 19,93 a 17,50 ab 15,91 ab 13,51 b (c) 0 5,5 (b) Mata-pasto Ingá Gipoóca Faveira-camuzé Malição Teste F 0,82 NS 5 pH H₂O 15 cm Teste F 6,32** (a) 0 4,5 Malição Mata-pasto Gipoóca Ingá Faveira-camuzé 416,40 a 346,33 ab 324,13 ab 163,20 bc 120,73 c 0 200 400 600 Fe 15 cm (mg/Kg ̄¹) (h) Figura 3. Determinação dos teores de pH em água (a,b), carbono (c,d), alumínio (e,f) e ferro (g,h) a 5 e 15 cm de profundidade, nos locais de estabelecimento de cinco espécies de leguminosas recomendadas para adubação verde na Amazônia Central.*1, *2 *1 - Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla ), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata). *2 - Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade. 54 Características químicas do solo em cinco municípios da Amazônia Central onde se estabelece espécies de Fabaceae pré-selecionadas para adubação verde O ambiente onde se desenvolveu esta pesquisa é caracterizado pelo encontro das águas da bacia do rio Negro com a do rio Solimões, que representam biomas distintos, da região metropolitana de Manaus, variados em seus recursos naturais como solo, água e biodiversidade, embora com fatores climáticos similares. O rio Amazonas recebe essa designação a partir desse encontro de águas. Neste ambiente de ecótono, a agricultura é desenvolvida nas áreas de várzea e de terra firme cada uma com suas particularidades associadas. De acordo com a natureza geomorfológica, a planície Amazônica pode ser dividida em duas áreas distintas: a terra firme de formação terciária e, planície de inundação propriamente dita, denominada várzea ou terreno quaternário recente. Os solos de terra firme apresentam, em geral, boas características físicas mas são de baixa fertilidade natural. Contrastando com a terra firme, as áreas de várzea possuem os solos mais férteis de toda a bacia amazônica, dada à deposição de sedimentos oriundos dos Andes por meio das inundações anuais, formando assim regularmente novas camadas de solo rico em nutrientes (Quesada et al., 2011). Apesar de representar, em termos relativos, uma pequena fração da Amazônia, as áreas de várzeas têm um papel muito importante, porque é nesses solos que se cultiva a maior parte das culturas de ciclo curto na região (Cravo et al.,2002; Alfaia et al., 2007; Fajardo et al., 2009). Entre os municípios visitados, considerando-se a disponibilidade de macronutrientes, houve diferenças significativas nas características químicas do solo que foram mais acentuadas a 5 cm de profundidade, comparadas a 15 cm (Figura 4). Para os macronutrientes, somente os níveis de potássio no solo, nas duas profundidades consideradas, não diferiram significativamente entre os municípios visitados. Por outro lado, na profundidade de 15 cm a disponibilidade de nitrogênio e fósforo (em adicional do potássio), também não variou nos locais visitados dos municípios de Careiro da várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. Na profundidade de 5 cm, os teores de nitrogênio encontrados nos solos do Careiro da várzea superaram significativamente os de Novo Airão (Figura 4 a), entretanto a 15 cm de profundidade os níveis de nitrogênio não diferiram entre os municípios (Figura 4 b). De fato, o nitrogênio é um nutriente que não tem origem na pedogênese e entra no ciclo solo-planta-animal pelo aporte de matéria orgânica, portanto é mais esperado que se acumule nos horizontes superficiais do solo. Estudos de Kreibich et al (2003) mostraram que o fluxo de N mineral no solo a 0-20 cm foi maior próximo de espécies leguminosas do que das não leguminosas, 55 demonstrando a importância das leguminosas na fixação desse nutriente nas áreas de várzea. Por outro lado, Alfaia et al. (2007) salientam a importância do uso das espécies de leguminosas fixadoras de nitrogênio que ocorrem naturalmente no ambiente de várzea como componentes dos sistemas de produção nessas áreas. A maioria dos trabalhos acerca da fertilidade dos solos da Amazônia consideram que o nitrogênio e o fósforo são os elementos mais limitantes ao desenvolvimento vegetal. Assim, somente nos solos de Iranduba os teores de fósforo a 5 cm de profundidade foram medianos, e superaram significativamente os níveis encontrados nos outros municípios (Figura 4 c). Em Itacoatiara os níveis de fósforo foram baixos e nos outros municípios estes foram deficientes, embora não diferissem entre si. A 15 cm de profundidade do solo, os teores de fósforo em todos os municípios foram muito baixos ou considerados deficientes (Figura 4 d). Giacomini et al., (2003), verificaram que 43 % do P contido nos resíduos culturais da ervilhaca, 7 % nos do nabo-forrageiro e 10 % nos da aveia foram liberados nos primeiros 15 dias. Aos 29 dias, a porcentagem de P liberado aumentou para 59 % para a ervilhaca e 29 % para a aveia. Esses resultados confirmam aqueles obtidos por Da Ros (1993), que avaliou a liberação de P por diversas plantas de cobertura e verificou que 64 % do P da ervilhaca e 33 % do P da aveia foram liberados nos primeiros 30 dias após o manejo das plantas. Segundo Carneiro et al., (2004), os adubos verdes estimulam a disponibilidade de P nos solos por estimular a ocorrência de microrganismos (bactérias, fungos e actinomicetos) envolvidos na liberação de enzimas que promovem a solubilização de fosfatos e a liberação de enzimas em exsudatos radiculares e durante a decomposição dos resíduos. Como já mencionado, a disponibilidade de potássio no solo não diferiu entre os municípios pesquisados (Figura 4 e, f), e em todos eles os níveis encontrados foram baixos ou deficientes. Quanto aos níveis de cálcio no solo, somente no município de Iranduba estes foram medianos, tanto a 5 como a 15 cm e superaram significativamente a disponibilidade deste elemento nos demais municípios onde os estoques de cálcio eram de baixo a deficiente (Figura 4 g,h). Um resultado similar foi observado para os estoques de magnésio no solo, que foram somente no município de Iranduba estes foram classificados como baixos e nos demais municípios foram deficientes tanto na profundidade de 5 como de 15 cm (Figura 4 i, j). Observase que nos solos da Amazônia Central as espécies crescem em condições de baixa disponibilidade de nutrientes, o que caracteriza uma variedade de classes de solos tropicais que tem em comum somente a acidez elevada. Careiro da Várzea Itacoatiara Iranduba Manacapuru Novo Airão 1,62 a 1,44 ab 1,25 ab 1,18 ab 0,89 b 0 1 Municípios Municípios 56 Careiro da Várzea Manacapuru Iranduba Itacoatiara Novo Airão 0 2 Nitrogênio 5 cm (g/Kg ̄¹) 0 20 Municípios Municípios 31,51 a 8,45 a 8,01 a 1,89 a 0,14 a 0,11 a 0,09 a 0,09 a 0,07 a 0 0,1 Itacoatiara Manacapuru Iranduba Careiro da Várzea Novo Airão 0,2 K⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) 0,10 a 0,09 a 0,09 a 0,07 a 0,06 a 0 Teste F 0,60 NS 2 4 Municípios Municípios 4,62 a Iranduba Manacapuru Careiro da Várzea Itacoatiara Novo Airão 6 Ca⁺⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) 2 4 6 Ca⁺⁺ 15 cm (cmolc.Kg ̄¹) Teste F 10,80** (h) Municípios Municípios 4,64 a 1,71 b 1,67 b 1,23 b 1,09 b 0 (g) 1,08 a 0,47 b 0,45 b 0,44 b 0,21 b 1 Mg⁺⁺ 5 cm (cmolc.Kg) (i) 0,2 (f) 2,09 b 2,08 b 1,58 b 0,80 b 0 0,1 K⁺ 15 cm ( cmolc.Kg) (e) Iranduba Careiro da Várzea Itacoatiara Manacapuru Novo Airão 20 (d) Itacoatiara Iranduba Manacapuru Careiro da Várzea Novo Airão 0 10 Fósforo 15 cm (mg/Kg ̄¹) Teste F 1,83 NS Municípios Municípios 15,69 a 15,27 a 0 (c) Iranduba Careiro da Várzea Itacoatiara Manacapuru Novo Airão 1,5 Nitrogênio 15 cm (g/Kg ̄¹) Novo Airão Iranduba Manacapuru Itacoatiara Careiro da Várzea 40 Fósforo 5 cm( mg/Kg ̄¹) Teste F 1,36 NS 1 (b) 9,87 b 7,02 b 2,63 b 2,46 b Teste F 13,70** 0,5 Teste F 1,68 NS (a) Iranduba Itacoatiara Novo Airão Careiro da Várzea Manacapuru 1,28 a 1,11 a 1,07 a 1,01 a 0,87 a Iranduba Mancapuru Itacoatiara Careiro da Várzea Novo Airão 2 1,01 a 0,42 b 0,41 b 0,36 b 0,19 b 0 Teste F 9,22** 1 2 Mg⁺⁺ 15 cm ( cmolc.Kg ̄¹) (j) Figura 4. Determinação dos teores de nitrogênio (a,b), fósforo (c,d), potássio (e,f), cálcio (g,h) e magnésio (i,j) a 5 e 15 cm de profundidade em solos de cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central. *2 - Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade. 57 Considerando-se os níveis de carbono, pH do solo e teores de alumínio e ferro, observase que entre os municípios não houve diferenças significativas no pH do solo e nos teores de carbono nem a 5 ou a 15 cm, e para o alumínio somente a 15 cm de profundidade as diferenças foram significativas, entretanto os teores de ferro variaram significativamente nas duas profundidades consideradas (Figura 5). Em todos os locais o pH do solo foi ácido classificados em média na faixa entre 5,0 e 6,0 (Figura 5 a, b). Os estoques de carbono e por conseguinte matéria orgânica do solo também não diferiram entre os municípios e foram considerados como baixos (Figura 5 c, d), o que reforça a estratégia de adoção das práticas de adubação verde nos agrossistemas locais. Muitas espécies de leguminosas tem sido indicadas como plantas adubadoras ou para recuperação de solos degradados por manterem ou elevarem os níveis de carbono e nitrogênio no solo. Reduzir o sequestro de carbono para a atmosfera é um desafio científico dos tempos atuais. Estima-se que 36% de todas as emissões de CO2 ocorridas no Brasil decorrem de incêndios descontrolados, geralmente conduzidos para a implantação de lavouras ou pastagens. Aproximadamente 195 t de CO2 são emitidas por hectare de floresta queimada. É importante salientar que cerca de 30% de C dos solos mundiais encontra-se nos solos dos trópicos, onde existe grande pressão sobre as terras cultivadas e florestas nativas, as quais, se destruídas, contribuirão significativamente para o aumento do C atmosférico; haverá redução no C-CO2 e aumento na sua liberação via oxidação (Moreira e Siqueira, 2006). A existência do sistema de corte e queima na periferia amazônica desencadeia uma série de efeitos negativos tanto em âmbito local quanto global. Entretanto, o crescimento da população aumenta a demanda por terras cultiváveis o que resulta na diminuição do tempo de pousio. Assim sendo, queimadas sucessivas em intervalos cada vez mais curtos conduzem à extinção de espécies mais sensíveis à queima, e ao predomínio das mais resistentes, diminuindo então a biodiversidade da região e empobrecendo os seus ecossistemas. Estabelecendo assim um círculo vicioso em que as carências aumentam a pressão sobre os recursos e a degradação dos recursos aumenta as carências (Moura et al., 2009) A presença de alumínio trocável no solo é dependente do pH e entre os municípios pesquisados não houve diferenças significativas na profundidade de 5 cm, conforme pode ser observado na Figura 5 e. Ainda assim, o alumínio trocável nos municípios de Manacapuru e Careiro da Várzea foram altos nas profundidades de 5 e 15 cm e merecem atenção das práticas agrícolas. A 15 de profundidade no solo, os níveis de alumínio trocável foram mais elevados no município do Careiro da Várzea, superando significativamente os teores observados no município de Novo Airão (Figura 5 f). Itacoatiara Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Manacapuru Municípios Municípios 58 5,50 a 5,45 a 5,24 a 5,17 a 5,11 a 4,5 5 5,5 6 pH H₂O 5 cm Teste F 1,51 NS Itacoatiara Novo Airão Careiro da Várzea Manacapuru Iranduba 5,40 a 5,32 a 5,24 a 5,13 a 5,13 a 4,5 Municípios Municípios (b) 21,99 a 21,63 a 18,88 a 17,54 a 16,82 a 0 20 Careiro da Várzea Itacoatiaraiara Iranduba Novo Airão Manacapuru 20,70 a 17,16 a 17,03 a 16,62 a 16,07 a 0 40 Carbono 5 cm ( g/Kg ̄¹) Teste F 1,40 NS Municípios Municípios 0,74 a 0,63 a 0,34 a 1 Careiro da Várzea Manacapuru Iranduba Itacoatiara Novo Airão 2 Al³⁺ 5 cm (cmolc.Kg ̄¹) Teste F 1,28 a 1,15 ab 0,75 ab 0,67 ab 0,37 b 0 500 Ferro 5 cm (mg/Kg ̄¹) (g) Municípios Municípios Teste F 6,92** 2 (f) 455,20 a 385,47 ab 231,60 bc 196,40 bc 173,47 c 0 1 Al³⁺ 15 cm (cmolc.Kg ̄¹) Teste F 3,55* (e) Careiro da Várzea Iranduba Manacapuru Novo Airão Itacoatiara 40 (d) 1,33 a 1,29 a 0 20 Carbono 15 cm (g/Kg ̄¹) Teste F 1,67 NS (c) Manacapuru Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Novo Airão 5,5 pH H₂O 15 cm Teste F 0,74 NS (a) Careiro da Várzea Itacoatiara Manacapuru Iranduba Novo Airão 5 Careiro da Várzea Iranduba Manacapuru Novo Airão Itacoatiara Teste F 5,52** 409,60 a 385,07 ab 233,53 abc 200,47 bc 142,13 c 0 200 400 600 Ferro 15 cm (mg/Kg ̄¹) (h) Figura 5. Determinação dos teores de pH em água (a,b), carbono (c,d), alumínio (e,f) e ferro (g,h) a 5 e 15 cm de profundidade em solos de cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central. *2 - Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade. 59 Os teores de ferro no solo foram elevados em todos os municípios pesquisados, tanto a 5 como a 15 cm de profundidade. As maiores médias foram verificadas no município de Careiro da Várzea que na camada mais superficial foi encontrado mais ferro que nos municípios de Manacapuru, Novo Airão e Itacoatiara (Figura 5 g). Este efeito significativo também persiste a 15 cm de profundidade onde no Careiro da Várzea há maior disponibilidade de Ferro que nos municípios de Novo Airão e Itacoatiara (Figura 5 h). Teores de nutrientes na biomassa foliar de espécies de Fabaceae pré-selecionadas para adubação verde em cinco municípios da Amazônia Central Uma das características mais destacáveis nas espécies aproveitadas como adubo verde nos agrossistemas é a sua capacidade estratégica de captar nutrientes. Dentre estas estratégias estão o desenvolvimento de sistemas radiculares profundos e vigorosos, associações micorrízicas, habilidade para minimizar a acidez do solo e toxidez de alumínio na rizosfera e também a fixação biológica de N2, por mecanismos associativos ou simbióticos. Especificamente para a simbiose fixadora de N2, essa propriedade foi identificada somente em duas famílias botânicas: Fabaceae e Casuarinaceae (Maishner, 1990). Muitas espécies de Fabaceae já são utilizadas tradicionalmente como plantas adubadoras, e há ainda uma demanda por novas espécies que possam cumprir esse papel funcional nos agrossistemas em busca da sustentabilidade da produção agrícola. A Figura 6 apresenta as concentrações de nutrientes presentes na biomassa foliar das espécies de leguminosas nativas aqui pesquisadas. Como pode ser observado, não houveram diferenças significativas para os teores de nitrogênio e cobre, porém foram significativas para os teores de ferro (P<0,05) e altamente significativas para fósforo, potássio, cálcio, magnésio, zinco e manganês (P<0,01). Nos teores de nutrientes presentes na biomassa foliar, foi verificado que o conjunto das espécies apresentava habilidade eficiente de captação de nitrogênio, o que foi evidenciado pela ausência de diferenças significativas nos teores deste elemento, entre as espécies (Figura 6 a). Sabe-se que das cinco espécies somente o mata-pasto não apresenta habilidade nodulífera e a propriedade da fixação simbiótica de N2, entretanto para todas as espécies os teores de nitrogênio foram superiores a 3 % de concentração o que é adequado para espécies recomendadas para adubação verde. Alguns valores foram ligeiramente superiores aos 3,18 % encontrados por Palm e Sanchez (1991) nas folhas de Inga edulis. A capacidade de absorção e de imobilização de nutrientes de leguminosas segue a mesma tendência da produção de 60 biomassa. Alvarenga et al., (1995) observaram que a produção de biomassa e o acúmulo de nutrientes pela parte aérea, de modo geral, foram maiores no guandu 3,36 % de N seguido pela crotalária-juncea 2,53% de N. Souza (2012) encontrou nas espécies nativas da Amazônia Central, gipoóca, ingá, malição e mata-pasto teores de nitrogênio superiores a 3%. Os resultados permitem evidenciar que o mata pasto apresenta uma alta capacidade de captação de nutrientes, favorecida pelo ambiente edáfico colonizado pelas plantas desta espécie – o solo das áreas de várzea -, o que favoreceu o acúmulo de fósforo, potássio e cálcio em sua biomassa foliar, superando significativamente os teores destes elementos encontrados no ingá, gipoóca e faveira-camuzé (Figuras 6 b, c, d). Destaca-se entre as espécies também a capacidade de absorção de fósforo, potássio e cálcio pelo malição, que também coloniza os solos da várzea. Por outro lado, observa-se que o ambiente da terra firme onde cresce a faveira-camuzé, apresenta limitações químicas que refletem a sua baixa capacidade de absorção de fósforo, potássio e cálcio, comparado as outras espécies avaliadas. O que justifica a característica desses solos como os mais férteis de toda a bacia amazônica, devido à deposição de sedimentos oriundos dos Andes por meio da inundações anuais, formando novas camadas de solo rico em nutriente. O mata-pasto também evidenciou uma alta capacidade de absorção de magnésio representado pelos maiores valores determinados entre as espécies, superando significativamente todas as demais (Figura 6 e). Em média, a biomassa foliar do mata-pasto apresentou 37,14 % a mais de magnésio do que as quatro outras leguminosas avaliadas. Considerando-se que o magnésio é um elemento construtor das moléculas de clorofila uma alta capacidade de absorção deste elemento sugere uma equivalente alta capacidade fotossintética das plantas de mata-pasto nestes ambientes onde foram amostradas. O que nos sugere a indicação dessa leguminosa para adubo verde, pois suas folhas são ricas em nutrientes (Souza, 2012) e devido a sua alta capacidade fotossintética também se caracteriza por acumular uma grande quantidade de biomassa. A capacidade de assimilação fotossintética dessa espécie varia entre 20 a 30 µmol CO2 m-2 s-1 e é uma taxa considerada alta quando comparada a outras espécies (Larcher, 1994). Essa taxa de assimilação é alta por causa da demanda dos drenos de crescimento no início da vida da planta (Parolin, 1997). A espécie necessita de um crescimento muito rápido a fim de um ponto acima do nível do pulso da água, para suportar o período de alagamento, pois não sobrevive quando totalmente submersa (Parolin, 1997). É uma excelente espécie para estudos de regulação fotossintética e alocação de biomassa, como é o caso da característica necessária para planta adubadora. O magnésio apresenta efeito sinérgico na absorção de fósforo, pois, funciona como um carregador desse elemento, explicado pela 61 ativação da ATPase nas membranas contribuindo com a absorção e também pela geração de ATP na fotossíntese e respiração (Prado, 2008). Na absorção de cobre pelas plantas, foi evidenciada uma tendência de que o ingá apresentava maiores teores deste elemento em sua biomassa foliar, comparado ao mata-pasto, porém, para este elemento, o teste F foi não significativo (Figura 6 f). De todo modo, crescendo em solos da terra firme, o ingá absorveu 59,71 % mais cobre que o mata-pasto estabelecido no ambiente da várzea. Sabe-se que o cobre é um dos nutrientes que forma complexos organometálicos com a matéria orgânica e isso aumenta a disponibilidade deste elemento para o desenvolvimento vegetal. Justificando que nos solos de várzea onde se estabelece o mata-pasto, há uma deficiência de acumulo de matéria orgânica (Alfaia, 2007), por conseguinte haverá escassez nos nutrientes que são complexados pelas cargas negativas da matéria orgânica, o que acontece no inverso nos solos de terra firme. Quanto a capacidade de absorção de ferro pelas espécies pesquisadas, foi verificado que as plantas de malição apresentaram significativamente maior conteúdo de ferro que as de faveira-camuzé (Figura 6 g). Desse modo, o malição acumulou 52,90 % mais ferro em sua biomassa foliar que a faveira-camuzé. Essas diferenças na quantidade absorvidas de ferro entre o malição e a faveira-camuzé também se mantiveram para o zinco, embora os maiores valores de zinco na biomassa foliar das espécies tenha sido identificado no ingá e estes teores não diferiram significativamente do malição (Figura 6 h). O ingá e o malição apresentaram significativamente mais zinco que a faveira-camuzé em taxas de 36,64 e 34,78 %, respectivamente. Por fim, para o manganês foi também verificado que o ingá e o malição apresentaram boa capacidade de absorção deste elemento, superando significativamente os teores determinados em gipoóca, faveira-camuzé e mata-pasto (Figura 6 i). O ferro é importante na biossíntese de clorofila e faz parte de classes de proteínas, e nos constituintes enzimáticos que transportam elétrons e também na ativação de enzimas. Sendo essencial para a síntese de proteínas e ajuda a formar alguns sistemas respiratórios enzimáticos. A absorção de ferro é governada pelo fator genético (Prado, 2008). O ferro participa de compostos quelados (com ácidos di e tricarboxílicos), fitoferritina (com P) e Leg H6 (Malavolta, 2006). É pertinente salientar que em plantas de consumo direto pelos humanos tem sido difundidos estudos que objetivam obter genótipos com maior acúmulo de Fe, como medida de saúde pública Grusak & Dellapena (1999). 35,48 a 32,47 a 32,19 a 31,65 a 31,29 a 30 35 40 Nitrogênio (g Kg ̄¹) 0 1 2 Fósforo (g Kg ̄¹) Mata-pasto Malição Ingá Gipoóca Faveira-camuzé 20,71 a 16,61 ab 12,83 bc 8,98 cd 4,47 d 0 10 20 0 200 400 Ferro ( mg Kg ̄¹) (g) Espécies Espécies Teste F 2,87* 2 Ingá Gipoóca Faveira-camuzé Malição Mata-pasto 3 Mg ( g Kg ̄¹) 0 10 20 Zn (mg Kg ̄¹) Teste F 6,60** (h) 20 30 Cu (mg Kg ̄¹) Teste F 2,35 NS 23,47 a 22,80 a 18,33 ab 17,87 ab 14,87 b 0 10 (f) Ingá Maliçao Gipoóca Mata-pasto Faveira-camuzé 600 10 24,00 a 16,93 ab 14,67 ab 12,87 ab 9,67 b (e) 421,93 a 284,73 ab 264,93 ab 251,13 ab 198,73 b 0 1 Teste F 13,12 ** 5 K⁺ (g Kg ̄¹) Teste F 9,50** 2,80 a 1,92 b 1,73 b 1,73 b 1,65 b (d) Malição Ingá Mata-pasto Gipoóca Faveira-camuzé 0 (c) Mata-pasto Malição Ingá Faveira-camuzé Gipoóca 30 Ca⁺⁺ (g Kg ̄¹) Teste F 25,11** 8,65 a 7,44 ab 6,19 bc 4,81 c 4,29 c (b) Espécies Espécies (a) Mata-pasto Malição Ingá Gipoóca Faveira-camuzé 3 Espécies Teste F 1,78 NS 2,45 a 1,92 ab 1,55 b 1,44 bc 1,00 c Espécies 25 Mata-pasto Malição Gipoóca Ingá Faveira-camuzé Espécies Malição Ingá Faveira-camuzé Mata-pasto Gipoóca Espécies Espécies 62 Malição Ingá Gipoóca Faveira-camuzé Mata-pasto 30 143,80 a 116,80 a 66,33 b 63,40 b 56,07 b 0 100 200 Mn ( mg Kg ̄¹) Teste F 26,33** (i) Figura 6. Concentrações de nitrogênio (a), fósforo (b), potássio (c), cálcio (d), magnésio (e), cobre (f), ferro (g), zinco (h) e manganês (i) no tecido foliar de cinco espécies de leguminosas recomendadas para adubo verde na Amazônia Central*¹ *¹ -Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), Gipoóca (Entada polyphylla ), Ingá-de-metro (Inga edulis), Malição (Mimosa pigra) e Mata-pasto (Senna reticulata).*2 Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade. 63 Comparações entre cinco municípios da Amazônia Central na qualidade nutritiva da biomassa foliar onde se estabelecem leguminosas nativas pré-selecionadas para adubação verde Independente das estratégias interespecíficas para a absorção de nutrientes pelos vegetais, a quantidade e a qualidade de nutrientes assimilados é dependente das relações solovegetação. Por se posicionarem na região metropolitana de Manaus, em uma zona de ecótono entre a bacia do rio Negro e do rio Solimões, os diferentes municípios pesquisados são influenciados pelos fatores geomórficos destes dois ambientes. Assim, podemos considerar que o município de Novo Airão pertence a bacia do rio Negro, Manacapuru, Iranduba e Itacoatiara tem ambientes afetados igualmente pelos dois ambientes e o Careiro da Várzea é mais influenciado pela bacia do rio Solimões. A bacia do rio Negro é derivada de sedimentos arenosos muito pobres, caracterizados pela presença da mata de campinarana e de igapó e por águas com altos teores de ácido húmico. A bacia do rio Solimões é influenciada por sedimentos de origem andina, que formam as áreas de várzea com sua fertilidade característica. Podemos avaliar que mesmo em solos deficientes de nutrientes, o benefício que o aporte de matéria orgânica que a adubação verde promove com a utilização das leguminosas nativas aqui pesquisadas, será de total importância para a saúde e manutenção desse solo, e a promoção de uma agricultura sustentável. Mesmo considerando essas diferenças geomórficas determinantes entre as duas bacias, foi verificado que nas áreas onde as leguminosas potencialmente aproveitáveis como adubo verde e selecionadas para esta pesquisa se estabelecem não houve diferenças significativas na absorção foliar de nitrogênio, potássio, cobre, ferro e manganês pelas espécies. Por outro lado, foram verificadas diferenças significativas na qualidade da biomassa foliar nos teores de magnésio e zinco (P<0,05) e altamente significativas para fósforo e cálcio (P<0,01), entre os municípios pesquisados (Figura 7). Como pode ser observado, para o nitrogênio, todos os valores foram superiores a 3,0 %, evidenciando uma boa qualidade da biomassa vegetal em todos os municípios (Figura 7 a). A baixa relação Carbono/Nitrogênio da biomassa vegetal, definida como relação C/N é, nas pesquisas sobre mineralização e compostagem da matéria orgânica, o principal indicador da dinâmica do processo e da disponibilidade de nutrientes para os cultivos. Assim uma baixa relação C/N favorece processos de mineralização e liberação de nutrientes na forma iônica e uma alta relação C/N favorece processos de imobilização, que, mesmo não implicando em perdas no sistema, reduzem a disponibilidade de nutrientes para os cultivos. Souza (2012) também encontrou valores superiores a 3,0% nas espécies: ingá, gipoóca, malição e mata-pasto. 35,33 a 33,70 a 31,54 a 31,40 a 31,12 a 30 35 40 Nitrogênio ( g Kg ̄¹) 0 16,60 a 13,85 ab 13,33 ab 10,15 b 9,69 b 0 Teste F 5,07** 10 Careiro da Várzea Itacoatiara Iranduba Manacapuru Novo Airão 20 Ca⁺⁺ ( g Kg ̄¹) 397,73 a 290,87 ab 285,00 ab 263,60 ab 184,27 b 0 500 Itacoatiara Novo Airão Iranduba Manacapuru Careiro da Várzea (g) 2 Itacoatiara Mancapuru Careiro da Várzea Iranduba Novo Airão 20,33 a 16,73 a 15,87 a 14,87 a 10,33 a 0 4 0 40 Cu ( mg Kg ̄¹) (f) 20 Zn (mg Kg ̄¹) (h) 20 Teste F 1,06 NS 22,27 a 20,33 ab 20,07 ab 19,47 ab 15,20 b Ferro ( mg Kg ̄¹) Teste F 2,42 NS K⁺ (g Kg ̄¹) (e) Municípios Municípios Iranduba Itacoatiara Careiro da Várzea Manacapuru Novo Airão 10 (c) Mg (g Kg ̄¹) (d) 5 Teste F 1,77 NS 2,22 a 2,06 ab 2,06 ab 1,810 ab 1,67 b 0 7,32 a 6,63 a 6,33 a 5,84 a 5,25 a 0 (b) Municípios Municípios Itacoatiara Careiro da Várzea Iranduba Novo Airão Manacapuru Manacapuru Iranduba Novo Airão Careiro da Várzea Itacoatiara 4 Fósforo ( g Kg ̄¹) Teste F 4,29** (a) 2 Municípios Teste F 2,16 NS 2,13 a 1,75 ab 1,60 ab 1,52 b 1,38 b Municípios 25 Iranduba Careiro da Várzea Novo Airão Itacoatiara Manacapuru Municípios Iranduba Novo Airão Itacoatiara Manacapuru Careiro da Várzea Municípios Municípios 64 Itacoatiara Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Manacapuru 40 102,07 a 91,00 a 87,73 a 85,13 a 80,47 a 0 100 200 Mn (mg Kg ̄¹) Teste F 1,15 NS (i) Figura 7. Concentrações de nitrogênio (a), fósforo (b), potássio (c), cálcio (d), magnésio (e), cobre (f), ferro (g), zinco (h) e manganês (i) em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central 65 A decomposição de um resíduo com relação C/N igual a 30, fornece exatamente a quantidade de N necessária aos microrganismos neste processo. Se a C/N for menor, haverá sobra desse elemento, o qual será disponibilizado para as plantas a curto prazo. Se a relação for mais alta, haverá falta de N e os microrganismos passam a competir pelo N disponível com as plantas, processo conhecido como imobilização (Bissani et al., 2004). As leguminosas comumente apresentam altos teores de N na matéria vegetal e produzem, em geral, palhadas de baixa relação C/N, cuja decomposição é relativamente rápida, com expressiva disponibilização de N para as lavouras subsequentes. Gliessman (2001), verificou que a produtividade da leguminosa praticamente dobra nesse sistema conjunto de produção, e a rapidez na disponibilização do N, proveniente dos restos vegetais de cultivos de cobertura, depende da quantidade de N acumulada na sua matéria seca e da sua relação C/N. Na biomassa foliar avaliada das cinco espécies de leguminosas também não foram encontradas diferenças significativas para a absorção de potássio entre os municípios pesquisados, conforme pode ser apresentado pela Figura 7 c. O mesmo foi constatado para os metais pesados cobre, ferro e manganês, cuja absorção pelas plantas não variou significativamente entre os locais de coleta (Figura 7 f, g e i). Mesmo considerando que os teores de ferro não foram significativos entre os municípios pesquisados, o teste de Tukey sugeriu uma tendência de maior acúmulo de ferro em plantas coletadas no município de Iranduba, comparado a plantas coletadas no município de Novo Airão (Figura 7 g) e na biomassa foliar de plantas crescidas em Iranduba havia 53,67 % mais ferro do que nas crescidas em Novo Airão. Com relação ao fósforo, foi verificado que as plantas crescidas no município de Iranduba apresentaram teores deste elemento significativamente maiores (P<0,01) que os encontrados nos municípios de Itacoatiara e Manacapuru (Figura 7 b). Nas plantas de Iranduba os valores de fósforo foram 28,30 % e 34,90 e maiores que em Itacoatiara e Manacapuru, respectivamente. Nos solos de terra firme da Amazônia é amplamente afirmado que nitrogênio e fósforo são os principais condicionantes da produtividade agrícola, assim, uma biomassa mais rica em fósforo favorece as práticas de adubação verde. Foi verificado que em média as leguminosas coletadas no município de Itacoatiara apresentaram significativamente maiores teores de cálcio foliar (P<0,01) que as de Novo Airão e Manacapuru (Figura 7 d). A biomassa foliar das plantas de Itacoatiara apresentavam 38,85 e 41,63 % mais cálcio, respectivamente que as plantas de Novo Airão e Manacapuru. Por outro lado, para o magnésio as maiores concentrações deste elemento foram encontradas em plantas do Careiro da Várzea e estas foram significativamente maiores (P<0,05) que as do município 66 de Novo Airão, em taxas 24,77 % a mais quando se compara estes municípios (Figura 7 e). Por fim, para o zinco, foi verificado que as leguminosas amostradas no município de Itacoatiara apresentaram teores deste elemento em níveis significativamente maiores (P<0,01) que as do Careiro da Várzea, embora ambos se localizem territorialmente em locais margeados pela calha do rio Amazonas (Figura 7 h). Interações entre espécies de leguminosas nativas selecionadas para adubo verde e municípios da Amazônia Central nas características químicas do solo e da biomassa foliar As características químicas do solo nas profundidades de 5 e 15 cm, analisadas nesta pesquisa, não revelaram interações significativas para os teores de carbono, nitrogênio e potássio, mas também para o pH e alumínio a 5 cm e para o magnésio a 15 cm de profundidade. Entretanto, nas duas profundidades de amostragem, houve interações significativas para os teores de cálcio e fósforo, mas também para o pH e o alumínio a 15 cm de profundidade. Na Tabela 1 estão apresentados os resultados obtidos para a interação entre espécies e municípios nos teores de cálcio no solo a 5 e 15 cm de profundidade. Conforme pode ser observado, na profundidade de 5 e 15 cm, os teores de cálcio nas folhas de faveira-camuzé, de gipoóca e da ingá não variaram entre si nos municípios onde foram coletadas. Por outro lado, para a espécie malição os solos em Iranduba, nas duas profundidade consideradas apresentaram mais cálcio que aquelas encontradas nos demais municípios amostrados. Os solos avaliados com a espécie mata-pasto apresentavam maiores teores de cálcio a 5 cm de profundidade no município de Iranduba que foram significativamente maiores (P<0,01) que os encontrados em Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. Em Iranduba, na profundidade de 15 cm, os teores de cálcio encontrados no solo onde plantas de mata-pasto cresciam mantiveram-se significativamente mais elevados que em Manacapuru e Novo Airão. Na avaliação dos teores de cálcio no solo, considerando-se os locais pesquisados foi também verificado que não houveram diferenças significativas entre as espécies de leguminosas nos municípios de Manacapuru e Novo Airão nas duas profundidades de solo avaliadas, mas também no Careiro da Várzea e em Itacoatiara na profundidade de 15 cm (Tabela 1). No Careiro da Várzea, considerando-se a profundidade de 5 cm, os solos onde crescia o mata pasto apresentava maiores teores de cálcio que nos locais de terra firme onde crescia a faveira-camuzé e o ingá. No município de Iranduba, na profundidade de 5 cm, os solos onde cresciam o matapasto e o malição apresentavam maiores teores de cálcio que as demais espécies pesquisadas. Para este mesmo município, na profundidade de 15 cm, os teores de cálcio verificados nos 67 Tabela 1. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os níveis de cálcio no solo a 5 e 15 cm de profundidade do solo.*1 Espécies Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias Careiro da várzea 0,20 a B 2,46 a AB 0,86 a B 2,15 b AB 4,78 ab A Iranduba 0,53 a B 2,93 a B 2,24 a B 9,31 a A 8,08 a A 2,09 b 4,62 a Cálcio (cmolc Kg -1) Procedências Itacoatiara 0,26 a B 2,83 a AB 0,85 a AB 2,69 b AB 3,76 bc A 2,08 b Manacapuru 0,38 a A 3,03 a A 1,24 a A 1,44 b A 1,80 bc A Novo Airão 0,06 a A 0,97 a A 0,90 a A 0,95 b A 1,11 c A 1,58 b 0,80 b 0,37 a A 3,96 a A 0,97 a A 1,45 b A 1,80 b A 0,08 a A 0,17 a A 0,70 a A 3,08 b A 0,89 b A Médias 0,29 C 2,44 AB 1,22 BC 3,31 A 3,91 A -1 Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias 0,12 a A 2,48 a A 0,54 a A 2,02 b A 3,20 ab A 0,40 a C 4,13 a BC 1,92 a BC 10,89 a A 5,84 a B Cálcio (cmolc Kg ) 0,16 a A 0,16 a A 0,44 a A 2,35 b A 3,02 ab A 0,23 C 2,29 AB 0,91 BC 3,96 A 2,95 A 1,67 b 4,64 a 1,23 b 1,71 b 1,09 b Teste F 3,33** e Teste F 3,00** respectivamente para as profundidades de 5 e 15 cm; *2 Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si no nível de 1 % de probabilidade (P<0,01). *1 68 locais onde o malição crescia superaram significativamente todas as demais espécies, e comparativamente, havia 96,36 % mais cálcio que em faveira-camuzé. Por fim, em Itacoatiara, o solo onde crescia o mata-pasto, a 5 cm de profundidade, apresentava maiores teores de cálcio que os solos onde se estabelecia a faveira-camuzé. Considerando-se que o fósforo é um elemento limitante para o desenvolvimento vegetal na região tropical foi observado que nos municípios visitados, na profundidade de 5 cm não havia diferença nos teores de fósforo no solo para as espécies faveira-camuzé, gipoóca e ingá (Tabela 2). A 15 cm de profundidade, também foi constatado que os teores de fósforo não variaram entre os locais amostrados para as espécies faveira-camuzé, gipoóca, malição e matapasto. Os solos onde foi encontrada a espécie malição apresentaram, na profundidade de 5 cm maiores teores de fósforo no município de Iranduba superando significativamente os demais municípios. Para a espécie mata-pasto, no município de Iranduba foi encontrado os teores mais elevados de fósforo a 5 cm de profundidade superando os verificados nos municípios de Careiro da Várzea, Itacoatiara e Manacapuru. Mesmo havendo pouca variação nos teores de fósforo a 15 cm de profundidade nos locais onde as leguminosas cresciam, foi observado que no município de Novo Airão para o ingá, os teores de fósforo foram significativamente maiores (P<0,01) que nos outros locais onde esta espécie foi encontrada. No Careiro da Várzea, Itacoatiara e Manacapuru, os teores de fósforo no solo, nas profundidades de 5 e 15 cm não variaram significativamente entre os locais que as leguminosas foram coletadas. Em Iranduba, a 5 cm de profundidade havia mais fósforo nos locais onde o malição e o mata-pasto cresciam do que a ingá e a faveira camuzé, entretanto, na profundidade de 15 cm os teores de fósforo no solo não diferiram entre as espécies. O inverso foi verificado no município de Novo Airão onde na profundidade de 5 cm o solo não diferiu nos teores de fósforo disponíveis entre as espécies, mas a 15 cm de profundidade havia mais fósforo nos locais onde o ingá foi encontrado que nas demais espécies avaliadas. Os níveis de pH e teores de alumínio trocável no solo são importantes indicadores químicos que condicionam o desenvolvimento vegetal. Mesmo não tendo sido constatadas diferenças significativas nestes indicadores a 5 cm de profundidade do solo, nos locais onde as espécies foram encontradas, houve interações significativas a 15 de profundidade, conforme pode ser observado na Tabela 3. Observou-se que os solos onde se estabeleciam as espécies faveira-camuzé, ingá e o malição apresentaram acidez elevada na profundidade de 15 cm, como já discutido, mas não diferiram significativamente no pH do solo entre os municípios pesquisados. Para a espécie gipoóca, entretanto, foi constatado que a 15 cm de profundidade os solos no município de Iranduba apresentavam acidez significativamente mais elevada que em 69 Tabela 2. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os níveis de fósforo no solo a 5 e 15 cm de profundidade do solo.*1 Espécies Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias Careiro da várzea 1,00 a A 2,75 a A 1,96 a A 3,02 b A 4,39 b A Iranduba 2,13 a B 28,27 a AB 17,82 a B 55,76 a A 55,56 a A 2,63 b 31,51 a Fósforo (mg/Kg -1) Procedências Itacoatiara 1,64 a A 23,58 a A 2,95 a A 6,54 b A 14,62 b A 9,87 b Manacapuru 2,27 a A 2,37 a A 3,81 a A 1,78 b A 2,06 b A Novo Airão 1,76 a A 3,08 a A 1,51 a A 2,05 b A 26,71 ab A 2,46 b 7,02 b 1,05 a A 31,72 a A 3,87 b A 3,10 a A 2,49 a A 9,29 a B 0,84 a B 62,62 a A 2,47 a B 3,23 a B Médias 1,76 B 12,01 AB 5,61 B 13,83 AB 20,27 A -1 Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias 0,86 a A 1,72 a A 2,85 b A 2,07 a A 1,96 a A 1,09 a A 23,18 a A 3,48 b A 30,06 a A 18,54 a A Fósforo (mg/Kg ) 1,04 a A 12,41 a A 1,38 b A 11,90 a A 13,33 a A 2,66 A 13,97 A 14,84 A 9,92 A 7,91 A 1,89 a 15,27 a 8,01 a 8,45 a 15,69 a Teste F 2,27* e Teste F 2,62** respectivamente para as profundidades de 5 e 15 cm; *2 Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si no nível de 1 % de probabilidade (P<0,01). *1 70 Manacapuru. Para o mata-pasto, na profundidade do solo considerada, a acidez do solo foi mais elevada nos municípios de Iranduba e Novo Airão, diferindo significativamente do Careiro da Várzea. Considerando-se os municípios, foi observado que o pH do solo na profundidade de 15 cm não variou em Iranduba e em Novo Airão. No Careiro da Várzea os solos onde o ingá, o malição e a faveira camuzé foram encontrados apresentavam acidez significativamente maior que o mata-pasto. Em Itacoatiara, os solos onde se estabelecia a ingá e a faveira-camuzé apresentavam acidez significativamente maior que o mata-pasto e em Manacapuru a faveiracamuzé, ingá e malição cresciam em solos mais ácidos a 15 de profundidade que o gipoóca. Na profundidade de 15 cm do solo, não foram verificadas diferenças significativas nos teores de alumínio trocável para as espécies faveira-camuzé, gipoóca e mata-pasto (Tabela 3). Nos solos onde o ingá foi coletado, em Careiro da Várzea os teores de alumínio trocável eram excessivos a 15 de profundidade do solo, superando significativamente os encontrados no solo de Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. Para as plantas de malição coletadas em Manacapuru os teores excessivos de alumínio trocável na profundidade considerada superaram significativamente (P<0,05) os encontrados em Iranduba e Novo Airão. Foi também verificado que nos municípios de Iranduba, Itacoatiara e Novo Airão, não havia diferenças significativas nos teores de alumínio trocável entre as espécies pesquisadas. No município de Careiro da Várzea, os locais onde o ingá se estabeleciam apresentavam teores de alumínio trocável muito elevados a 15 de profundidade superando significativamente os teores observados para o matapasto. Os teores de alumínio no solo aqui apresentados para o mata-pasto foram muito baixos e relacionados ao pH do solo que era de 6,43, caracterizando a relação inversa entre o pH e o Al3+ do solo, já que em solos com pH > 6,00 o Al3+ é neutralizando formando Al(OH)3. Pois, quanto mais alumínio no solo, maior é a acidez e menor o pH. Numa faixa entre 6,0 e 6,5, há maior decomposição de matéria orgânica com fornecimento de húmus que, como agente estabilizador dos agregados, proporciona melhor estrutura ao solo. Com o aumento do pH o alumínio passa a não prejudicar tanto o crescimento vegetal, uma vez que se complexifica com outros elementos, como relata Schlindwein (2003). As altas concentrações do alumínio na solução do solo, além de serem tóxicas para a maioria das plantas, podem afetar a normal das raízes, bloqueando os mecanismos de aquisição e transporte de água e nutrientes essenciais, pode causar severas alterações citológicas. Essas anomalias acarretam em menor crescimento das raízes, o que é explicado por problemas de alongamento e divisão celular. Sendo assim, além de impedir o crescimento do sistema radicular quando aliado à períodos de veranico, reduzem de forma drástica a produtividade dos vegetais em solos ácidos, o que inviabiliza o cultivo (Hartwig et al., 2007). 71 Tabela 3. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre o pH e o alumínio trocável a 15 cm de profundidade do solo.*1 Espécies Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias Careiro da várzea 4,89 a B 5,31 ab AB 4,85 a B 4,73 a B 6,43 a A Iranduba 4,78 a A 4,96 b A 5,35 a A 5,81 a A 4,74 c A 5,24 a 5,13 a Al Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias 1,61 a AB 1,07 a AB 2,65 a A 1,06 ab AB 0,03 a B 0,77 a A 0,85 a A 0,89 ab A 0,42 b A 0,81 a A 3+ pH Procedências Itacoatiara 4,79 a B 5,86 ab AB 4,89 a B 5,32 a AB 6,12 ab A Manacapuru 4,55 a B 6,35 a A 4,48 a B 4,99 a B 5,30 abc AB Novo Airão 5,23 a A 5,40 ab A 5,03 a A 5,79 a A 5,17 bc A 5,40 a 5,13 a 5,32 a 0,88 a AB 0,11 a B 0,85 b AB 2,21 a A 1,72 a AB 0,33 a A 0,68 a A 0,53 b A 0,12 b A 0,18 a A Médias 4,85 B 5,58 A 4,92 B 5,33 AB 5,55 A -1 (cmolc kg ) 0,77 a A 0,23 a A 0,75 b A 1,51 ab A 0,12 a A 0,87 A 0,59 A 1,13 A 1,06 A 0,57 A 1,28 a 0,75 ab 0,67 ab 1,15 ab 0,37 b Teste F 2,95** e Teste F 2,10* respectivamente para o pH e o alumínio; *2 Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si no nível de 1 % de probabilidade (P<0,01). *1 72 Houve pouca interação significativa para a concentração de nutrientes na biomassa foliar das espécies de leguminosas nas condições dos cinco municípios onde foram avaliadas e isso evidencia que a escolha das espécies para aproveitamento como plantas para adubação verde se sustenta. Entretanto, a concentração de ferro e zinco na biomassa foliar das plantas apresentou interações significativas entre espécies e municípios, conforme pode ser observado na Tabela 4. Entre as espécies, a concentração de ferro na biomassa foliar das leguminosas não variou significativamente (P<0,01), entre municípios para a faveira-camuzé, gipoóca, ingá e mata-pasto. Para o malição, entretanto, a quantidade de ferro na biomassa foliar das plantas coletadas no município de Iranduba foi significativamente superior à verificada nos demais municípios. Por outro lado, as concentrações de ferro na biomassa foliar das plantas coletadas nos municípios do Careiro da Várzea, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão não variaram significativamente entre as espécies. Somente em Iranduba, foi verificado que o malição apresentou significativamente maiores teores de ferro em sua parte aérea que as demais espécies. O teor elevado de ferro nas folhas de malição em Iranduba, pode ser considerado uma exceção no que foi verificado na interação espécies x município de todos os demais nutrientes (exceto o zinco). Na planta o ferro participa de funções importantes como: respiração, fotossíntese, necessário para a síntese da clorofila, os cloroplastos tem 75% de ferro das células das folhas, além disso participa do transporte eletrônico nos processos de redução via citocromos e ferredoxina, na assimilação do nitrogênio e da FBN (Malavolta, 2006). Considerando-se as interações espécies x municípios nas concentrações de zinco na biomassa foliar das leguminosas, foi verificado que nas espécies gipoóca e mata-pasto os teores de zinco não variaram significativamente entre os municípios visitados. Para a faveira-camuzé, as plantas encontradas no município de Itacoatiara apresentaram teores de Zn na biomassa foliar superiores (P<0,05) aquelas coletadas em Manacapuru. Para o ingá, as plantas avaliadas em Itacoatiara apresentaram maiores teores de Zn nas folhas que aquelas encontradas em Iranduba e para o malição as plantas amostradas em Novo Airão continham maiores teores deste elemento que as do Careiro da Várzea. Por outro lado, nos municípios do Careiro da Várzea e em Iranduba não foram verificadas diferenças significativas nos teores de Zn entre as espécies de leguminosas. No município de Itacoatiara as plantas de ingá apresentaram maiores teores de zinco que as gipóoca e mata-pasto. Em Manacapuru, as plantas de ingá e malição continham mais Zn em sua biomassa foliar que as faveira-camuzé e em Novo Airão as plantas de malição apresentaram significativamente mais Zn em sua biomassa foliar que as de gipoóca. Segundo Fageria et al., (2002), a carência de zinco é limitante da produção agrícola em todo mundo. Cerca de 50% dos solos usados para cereais no mundo inteiro tem pouco Zn disponível o que 73 Tabela 4. Efeito da interação entre espécies de leguminosas e suas respectivas procedências em municípios da Amazônia Central sobre os teores de ferro e zinco no tecido foliar.*1 Espécies Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias Careiro da várzea 262,33 a A 246,33 a A 472,00 a A 247,67 b A 196,67 a A Iranduba 279,00 a B 146,33 a B 173,33 a B 1116,67 a A 273,33 a B 285,00 ab 397,73 a Fe (mg kg-1) Procedências Itacoatiara 217,67 a A 408,00 a A 347,67 a A 308,00 b A 173,00 a A 290,87 ab Manacapuru 118,67 a A 292,67 a A 283,00 a A 183,00 b A 440,67 a A Novo Airão 116,00 a A 162,33 a A 147,67 a A 254,33 b A 241,00 a A 263,60 ab 184,27 b 10,00 b B 18,67 a AB 23,00 ab A 24,67 ab A 21,00 a AB 16,33 ab AB 14,33 a B 24,00 ab AB 28,00 a A 19,00 a AB Médias 198,73 B 251,13 AB 284,73 AB 421,93 A 264,93 AB -1 Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Malição Mata-pasto Médias 11,00 ab A 15,67 a A 21,33 ab A 15,00 b A 13,00 a A 13,67 ab A 26,00 a A 17,33 b A 25,67 ab A 17,67 a A Zn (mg kg ) 23,33 a AB 17,00 a B 31,67 a A 20,67 ab AB 18,67 a B 14,87 B 18,33 AB 23,47 A 22,80 A 17,87 AB 15,20 b 20,07 ab 22,27 a 19,47 ab 20,33 ab Teste F 3,52** e Teste F 1,97* respectivamente para o ferro e para o zinco; *2 Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si no nível de 1 % de probabilidade (P<0,01). *1 74 reduz a produção mas também a qualidade nutricional dos grãos. Com a deficiência do Zn a atividade respiratória diminui, atua na fotossíntese, pois facilita a transferência do Ca para a fixação; controle hormonal e atua na desintoxicação de radicais de superóxidos, eles atingem os lipídeos das membranas que vazam, provocam clorose e necrose, degradam o AIA o que inibe o crescimento dos brotos novos e dos internódios. O propósito principal da pesquisa realizada foi verificar se as espécies de leguminosas recomendadas como adubo verde para os agrossistemas da Amazônia Central apresentavam diferenças na qualidade de sua biomassa foliar entre cinco dos municípios da região metropolitana de Manaus. A principal informações que esta pesquisa revela é que, considerando-se que os teores de nitrogênio na biomassa das plantas é um dos principais indicadores de seu potencial de transferência de nutrientes para cultivos de interesse, todas as espécies apresentaram concentrações de N superiores a 3,00 % em todos os municípios onde foram coletadas evidenciando que podem fornecer esse serviço aos sistema de produção. Considerando-se que a qualidade do solo onde se estabelecem está relacionada a definição pedológica de cada ambiente preferencial das espécies, na terra firme ingá e faveira-camuzé crescem em solos com menor fertilidade que as espécies mata-pasto, gipoóca e malição onde as condições de solo são mais favoráveis. Ainda assim, em cada local, as espécies de leguminosas apresentaram-se promissoras para expansão de seu aproveitamento como plantas adubadoras nos agrossistemas locais. . 75 CONCLUSÕES 1. A qualidade nutritiva da biomassa foliar das espécies faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata) apresentou estabilidade independente de sua amostragem nos municípios de Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão com concentrações de nitrogênio superiores a 3,1 %. 2. Na biomassa foliar das plantas, somente para as concentrações de ferro e de zinco foram verificadas interações significativas entre espécies e municípios. 3. As espécies ingá e faveira-camuzé que tem a terra-firme como ambiente preferencial, apresentaram adaptação aos solos com baixa fertilidade natural, avaliada aos 5 e 15 cm de profundidade, nos diferentes municípios visitados. 4. Entre as espécies do ambiente da várzea, o mata-pasto destacou-se comparado ao malição e a gipoóca, com biomassa foliar rica em fósforo, potássio, cálcio e magnésio. 5. Houve interação significativa entre espécies x municípios para os teores de cálcio e fósforo no solo, nas duas profundidades consideradas e para o pH e o alumínio na profundidade de 15 cm. 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alfaia, S.S.; Neves, A.L.; Ribeiro, G.A.; Fajardo, J.D.V.; Uguen, K.; Ayres, M.I.C.2007. Caracterização dos parâmetros químicos dos solos de várzea em diversos sistemas de uso da terra ao longo da calha dos rios Solimões/Amazonas. In: Noda, S.N. (Org.) Agricultura Familiar na Amazônia das Águas, EDUA, p.67-89. Alvarenga, R.C.; Costa, L.M.; Moura Filho, W.; Regazzi, A.J. 1995 Características de alguns adubos verdes de interesse para a conservação e recuperação de solos. Pesquisa agropecuária Brasileira, Brasilia, DF, V.30, n.2, p.175-185, Fevereiro. Ambrosano, E.J.; Guirado, N.; Ambrosano, G.M.B.; Schammass, E.A.: Muraoka, T.; Cantarella, H.; Camargo, L.F.; Mota, B. 2009.Adubos verdes e amendoins cultivados em rotação com cana-de-açucar. 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Resumo: Muitas espécies de leguminosas tropicais são aproveitadas para adubação verde por produzirem biomassa rica em N, contribuindo para a produção de cultivos associados. Mas, a presença de metabólitos secundários é um dos fatores que podem afetar a velocidade de mineralização da matéria orgânica. O objetivo deste trabalho foi determinar os teores de lignina, celulose e polifenóis na biomassa foliar de diferentes procedências de faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense) e ingá (Inga edulis) do ambiente de terra firme, e, gipoóca (Entada polyphylla), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata), das áreas de várzea de cinco municípios da região metropolitana de Manaus, AM. Os municípios visitados foram: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. Após a localização, as plantas matrizes foram amostradas, dentro ou nas proximidades das áreas agrícolas. Em cada local foi coletado biomassa foliar do terço médio da planta, para determinações químicas. Foram determinados os teores de N, P, K+, Ca++, Mg+. Para os metabólitos secundários foram determinados as concentrações de celulose, lignina e polifenóis. Para comparação dos metabólitos secundários foi adotado um delineamento experimental em arranjo fatorial 5 x 5 (espécies x procedências), com duas repetições. A qualidade da biomassa das espécies foi evidenciada pelos teores de N superiores a 3 %, com pequenas variações na disponibilidade de macronutrientes relacionadas ao ambiente onde se desenvolviam. Há diferenças significativas na concentração de celulose e lignina entre as espécies faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e matapasto (Senna reticulata), selecionadas para adubação verde, porém não em seus teores de polifenóis. Independente da procedência, a síntese de compostos celulósicos em malição foi significativamente maior que em faveira-camuzé e os teores de lignina na biomassa de malição e do ingá foram superiores aos de mata-pasto e faveira-camuzé. Há variação significativa na concentração dos metabólitos secundários lignina, celulose e polifenóis entre procedências e a biomassa foliar coletada em plantas do Careiro da Várzea apresentaram os maiores teores destes compostos. Dentre as leguminosas, a biomassa foliar de mata-pasto e faveira-camuzé apresentaram as menores concentrações de metabólitos secundários, ao passo que malição e ingá as maiores concentrações, com implicações em seu aproveitamento em práticas de adubação verde. Palavras-chave: Fabaceae, Lignina, Celulose, Polifenóis. 81 EFFECT OF ORIGIN IN THE SECONDARY METABOLITES CONCENTRATION OF LEGUMINOUS NATIVE SPECIES RECOMMENDED FOR GREEN MANURE IN CENTRAL AMAZON Abstract: Many species of tropical leguminous are used for green manure for producing biomass rich in N, contibuting to the production of associated crops. But the presence of secondary metabolites is one of the factors that may affect the mineralization rate of organic matter. The objective of this study was to determine the lignin, cellulose and polyphenols in the leaf biomass of diferent origin faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense) and ingá (Inga edulis), the upland environment gipoóca (Entada polyphylla), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata), the lowlands áreas of five municipalities in the metropolitan region of Manaus, AM. The cities visited were: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. After locating the plants were sampled within or near agricultural áreas. At each site was collected leaf biomass middle third of the plant for chemical analysis. The contents of N, P, K+, Ca++, Mg+. For secondary metabolites were determined the concentrations of celulose, lignina and polyphenols. For comparison of secondary metabolites was adopted na experimental design in a factorial arrangement 5 x 5 (origin x species), with two replications. The quality of biomass of the species was evidenced by the N content greater than 3 %, with small variations in the availability of macronutrients related to the environment where it is developed. There are significant differences in the concentration of cellulose and lingnin between species faveiracamuzé, gipoóca, ingá, malição and mata-pasto selected for green manure but not on their polyphenol content. Regardless of origin, the synthesis of cellulose compounds in maliçao was significantly higher than in faveira-camuzé and lignin in biomass malição and ingá were higher tham those of forest-pasture and field faveira-camuzé. There is significant variation in the concentration of secondary metabolites lignin, cellulose and polyphenols among provenances and leaf biomass colleted in Careiro da Várzea plants showed the highest levels of these compounds. Among leguminous, leaf biomass of forest-pasture and field faveira-camuzé had the lowest concentrations of secondary metabolites, while malição and ingá the highest concentrations, with implications for its use in green manure practices. Keywords: Fabaceae, lignina, cellulose, pholyphenols. 82 INTRODUÇÃO O cultivo de leguminosas capazes de realizar simbiose com bactérias fixadoras de N2, além de promover a manutenção da qualidade e quantidade da matéria orgânica do solo, é uma importante fonte de nitrogênio para a cultura de interesse para as agricultores, reduzindo ou dispensando a adubação nitrogenada (Sá & Vargas, 1997). Associada à prática de roçada da vegetação espontânea e cobertura morta, o uso de espécies leguminosas nas práticas de adubação verde, estimula a ciclagem de outros nutrientes, contribui para a melhoria da retenção de água, reduz a exposição do solo aos processos erosivos e melhora o aproveitamento de nutrientes pelos cultivos associados (Cobo et al., 2002). O benefício dos adubos verdes como fonte de nutrientes para a cultura depende da decomposição e liberação de nutrientes e do sincronismo desse processo com a demanda de nutrientes pela planta cultivada. A matéria orgânica desempenha funções fundamentais no sistema solo/planta/animal e está envolvida na dinâmica dos processos físicos, químicos e biológicos (Roscoe et al., 2006). Dentre os metabólitos secundários que desempenham múltiplas funções no desenvolvimento vegetal, a determinação das concentrações de lignina, celulose e polifenóis podem ser adotados como indicadores da qualidade nutricional da biomassa vegetal. Dependendo dos teores determinados na biomassa foliar, é possível identificar quais espécies tem maiores ou menores quantidades desses constituintes e quais devem, portanto, serem utilizadas em práticas agronômicas, visando retardar ou acelerar a sua mineralização. A característica do resíduo adicionado está normalmente relacionada com a composição química do material, representada, principalmente, pelos teores de C, N, P, lignina e polifenóis, juntamente com suas interrelações (Mendonça & Stott, 2003; Thomas & Asakawa, 1993), que são os principais controladores da taxa de decomposição e liberação de nutrientes. A lignina é o biopolímero natural mais abundante na biosfera e responsável por 25 % da fitomassa seca produzida anualmente, sendo recalcitrante devido ao seu alto peso molecular e estrutura química tridimensional que lhe confere estabilidade (Hofrichter, 2002). Por ser uma estrutura muito complexa a sua decomposição é feita por lacases e peroxidases. Os fatores edáficos como aeração, pH, umidade, temperatura e também relação a C/N do resíduo são importantes na decomposição da lignina e interferem na atividade e competição dos decompositores. A decomposição da lignina é favorecida com umidade entre 60% e 100%, temperatura de 25 a 30ºC, relação C/N de aproximadamente 25:1 e pH na faixa ácida. No solo, 83 a lignina ou seus derivados são importantes precursores das substâncias húmicas, importantes no sequestro do carbono (Moreira e Siqueira, 2002). De acordo com Meentemeyer (1978) a lignina é considerada a componente principal que determina as taxas de decomposição. Seu conteúdo aumenta a senescência da planta bem como o processo de decomposição podendo variar de 5 a 40% (Constantinides & Fownes, 1994). Contudo Moreira & Siqueira (2002) ressaltam que a matéria orgânica com teor de lignina acima de 30%, torna praticamente inviável seu uso como adubo orgânico, já que sua decomposição não ocorrerá a tempo de atender as necessidades nutricionais do solo. Segundo Mafongoya (1998) a lignina interage com a parede celular fornecendo proteção mecânica à celulose contra a degradação, acarretando um efeito retardante da decomposição. Altos teores de lignina inibem a decomposição dos resíduos vegetais, favorecendo o estabelecimento de cobertura de solo, enquanto que teores mais baixos desses compostos resultam em decomposição acelerada, consequentemente em ciclagem mais rápida de nutrientes. O teor de lignina em plantas jovens é muitas vezes menor que 5% enquanto em plantas maduras podem conter até 15% (Carvalho et al., 2008; 2009). A celulose é um polissacarídeo de maior ocorrência natural representando a maior parte do CO2 fixado pelas plantas, é o principal componente dos vegetais, é formado por cadeias de unidades de glicose unindo-se ao C-4 da unidade seguinte por uma ligação de glicosídeo ou ligação β 1,4 (Taiz & Zeiger, 2004)). Os compostos celulósicos não são solúveis em água devido seu alto peso molecular e não tem sabor. Sua decomposição ocorre por ação das enzimas (celulases) produzida por uma vasta população fúngica, favorecida por fatores físico-químicos, além da água, como o pH, temperatura e oxigênio (Moreira e Siqueira, 2002).A celulose, embora também interfira no processo da decomposição tem seus efeitos menos relevantes do que as concentrações de lignina e polifenóis, uma vez que é degradado mais rapidamente, diminuindo-se sua porcentagem na matéria orgânica originalmente depositada, enquanto que a lignina, por exemplo, aumenta sua concentração devido a sua recalcitrância (Moreira e Siqueira, 2002). O teor de polifenóis no material vegetal e a capacidade destes em complexar proteínas são atributos que também afetam os processos de decomposição e mineralização líquida de nitrogênio (Monteiro et al., 2002; Palm & Sanchez, 1991). Os polifenóis são metabólitos secundários produzidos pelas plantas para, entre outras funções, protege-las da radiação ultravioleta e defendê-las do ataque de herbívoros e patógenos (Hättenschwiler; Vitousek, 2000). Taninos condensados e flavonoides estão entre os principais compostos fenólicos encontrados nos vegetais. Após o manejo dos adubos verdes, os polifenóis dos resíduos 84 culturais, especialmente aqueles de baixo peso molecular, participam da síntese do húmus através da ação de enzimas extracelulares de origem microbiana. Além disso, os polifenóis podem também ligar-se a compostos nitrogenados orgânicos (como aminoácidos e proteínas) nas folhas dos vegetais, tornando o N disponível, ou ligar-se ao N orgânico solúvel liberado das folhas, formando, no solo, complexos de difícil decomposição (Northup et al., 1995). A concentração de polifenóis é geralmente maior em resíduos culturais de plantas maduras do que de plantas jovens (Thomas; Asakawa, 1993), e a capacidade de ligação dos polifenóis a compostos nitrogenados varia em função da sua massa molecular. Essa característica explica por que, somente em alguns estudos há uma boa correlação entre a taxa de decomposição e a liberação de N de resíduos culturais com a concentração de polifenóis. Em um trabalho de pesquisa, Silva e Souza (2011) determinaram celulose, lignina e polifenóis no material foliar de 17 espécies de leguminosas com potencial para adubação verde no município de Presidente Figueiredo, AM. O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da procedência na concentração dos metabólitos secundários celulose, lignina e polifenóis na biomassa foliar de leguminosas nativas recomendadas para adubação verde, em cinco municípios da região metropolitana de Manaus. 85 MATERIAL E MÉTODOS As atividades de coleta e bioprospecção foram desenvolvidas em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, no ambiente de terra firme e da várzea do rio Solimões, de junho a dezembro de 2014. No desenvolvimento dos trabalhos de campo, os municípios visitados foram: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. Os locais visitados foram margens de estradas, margens de rios, quintais agroflorestais estabelecidos em agrossistemas familiares, e outros ambientes tais como áreas ruderais, capoeiras, etc., ou outros ambientes onde as espécies prioritárias se estabeleciam naturalmente, ou foram cultivadas conforme Tabela 1. Tabela 1. Características descritivas do ambiente de coleta de cinco leguminosas nativas, recomendadas para adubação verde, em cinco municípios da Amazônia Central. Espécies Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense) Gipoóca (Entada polyphylla) Ingá (Inga edulis) Malição (Minosa pigra) Mata-pasto (Senna reticulata) Municípios Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Característica do local Beira de estrada Quintal agroflorestal e beira de estrada Beira de estrada Área agrícola e borda da mata Borda da mata e beira de estrada Beira de estrada Beira de estrada e área agrícola Beira de estrada e área urbana Beira de estrada Beira de estrada e área urbana Área agrícola e quintal agroflorestal Quintal agroflorestal Quintal agroflorestal Quintal agroflorestal e beira de estrada Área degradada e quintal agroflorestal Beira de estrada Margem de rio e beira de estrada Beira de estrada Beira de estrada Margem de rio Beira de estrada Área agrícola Área degradada Área agrícola e beira de estrada Área agrícola e beira de estrada As espécies de Fabaceae nativas pré-selecionadas foram: Para terra firme faveiracamuzé ((Stryphnodendron guianense (Aubl.) Benth.), gipoóca (Entada polyphylla Benth.) e 86 ingá (Inga edulis Mart.) e para a várzea malição (Mimosa pigra L.) e mata-pasto (Senna reticulata (Willd.) H.S. Irwin & Barneby). Em cada município, foram visitados o ambiente de terra firme e da várzea ou igapó, para a amostragem de biomassa foliar e do solo onde a espécie de leguminosa prosperava, com três repetições para cada espécie. Na coleta feita para a espécie uma distância mínima de 100 m foi obedecida entre matrizes. A coleta de biomassa da parte aérea foi feita com o auxílio de um podão de alumínio com 12 m de amplitude, priorizando-se folhas do terço médio da planta. A quantidade de biomassa fresca coletada foi de 500 g por matriz. Com o auxílio de uma tesoura de poda fez-se uma triagem do material podado, eliminando galhos grossos e ramos mais lenhosos. A biomassa fresca foi transportada para a sede com fins de caracterização química. Em seguida foram colocadas para secar em estufa a 65°C/72 h até atingir peso constante. Após a secagem, o material foi moído em moinho de facas e armazenado em recipiente vedado. As análises químicas dos tecidos vegetais foram feitas conforme metodologia da Embrapa (2011). O N foi determinado após digestão sulfúrica, seguida pela destilação conforme método Kjeldahl (Sarruge e Haag, 1974), modificado. P, K+, Ca++, Mg+ foram determinados por meio de digestão nitro-perclórica (solução digestora nitroperclórica de HNO3 e HClO2 concentrados na relação 2:1) e posterior leitura. Foram determinados os teores de lignina e celulose, pela metodologia de Van Soest (1968) através do método de fibra de detergente ácido, que se baseia na separação de diferentes frações constituintes do material, utilizando reagentes específicos denominados detergentes. O teor de polifenóis foi determinado de acordo com a metodologia de Anderson e Ingram (1996), utilizando o reagente de Folin Denis, em meio básico, para o desenvolvimento da cor, o padrão empregado será o ácido tânico e a leitura será feita por colorimetria com comprimento de onda 760 nm. O delineamento experimental empregado foi um arranjo fatorial do tipo 5 x 5, considerando-se o fator principal as espécies (faveira-camuzé, gipoóca, ingá, malição e matapasto) e fator secundário as procedências (Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão), totalizando 25 tratamentos, com três repetições. Para celulose, lignina e polifenóis os tratamentos foram feitos com duas repetições. Os seguintes tratamentos foram definidos: 1. Careiro da várzea x faveira-camuzé 14. Itacoatiara x malição 2. Careiro da várzea x gipoóca 15. Itacoatiara x mata-pasto 3. Careiro da várzea x ingá 16. Manacapuru x faveira-camuzé 87 4. Careiro da várzea x malição 17. Manacapuru x gipoóca 5. Careiro da várzea x mata-pasto 18. Manacapuru x ingá 6. Iranduba x faveira-camuzé 19. Manacapuru x malição 7. Iranduba x gipoóca 20. Manacapuru x mata-pasto 8. Iranduba x ingá 21. Novo Airão x faveira-camuzé 9. Iranduba x malição 22. Novo Airão x gipoóca 10. Iranduba x mata-pasto 23. Novo Airão x ingá 11. Itacoatiara x faveira-camuzé 24. Novo Airão x malição 12. Itacoatiara x gipoóca 25. Novo Airão x mata-pasto 13. Itacoatiara x ingá Para o processamento dos dados empregou-se a Anova, utilizando o programa Estat (Unesp, versão 2010). As comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey a 1 % de probabilidade. 88 RESULTADOS E DISCUSSÃO Distribuição relativa de concentrações e teores entre espécies de leguminosas com potencial para adubo verde e cinco municípios da Amazônia Central. A adubação verde destaca-se como uma alternativa viável na busca da sustentabilidade dos solos agrícolas (Alcântara et al., 2000). Essa prática consiste no uso da biomassa fresca de plantas como adubo verde, com o objetivo de aumentar a fertilidade e manter as características químicas, físicas e biológicas do solo através da matéria orgânica fornecida por essa fitomassa (Peche Filho, 1999). Assim, as leguminosas tropicais nodulíferas são amplamente utilizadas como adubos verdes, uma vez que as espécies dessa família destacam-se das demais pela melhor qualidade da fitomassa produzida (Faria & Campelo, 1999). A distribuição relativa da concentração de nitrogênio foliar entre cinco espécies de leguminosas indicadas para adubação verde e os teores de N para a média das espécies entre cinco municípios da Amazônia Central podem ser observados na Figura 1, com a média de 32,62 g Kg-1 de concentração e teores de N para as cinco espécies e os cinco municípios. Para a média das concentrações de nitrogênio foliar das espécies foi observado que o malição ficou 2,86 g Kg-1 acima da média entre as espécies e as demais foram abaixo da média variando de -0,15 a -1,33 g Kg-1 (Figura 1a) Entre os municípios a média para os teores de N variaram acima de 2,71 g Kg-1 para o Iranduba e 1,08 g Kg-1 para Novo Airão, para o Careiro da Várzea, Itacoatiara e Manacapuru os níveis foram abaixo da média variando de -1,08 a -1,50 g Kg-1 (Figura 1b). Evidencia-se que todos os níveis de N estão acima do recomendado para plantas adubadoras que é 30,00 g Kg-1 ou 3 %, confirmando a recomendação como plantas adubadoras. A Figura 2 apresenta concentrações de fósforo e potássio foliar com média entre as espécies de 1,67 e 6,28g Kg-1 e teores de fósforo e potássio entre cinco municípios com média de 1,67 e 6,27 g Kg-1 respectivamente. Entre as espécies para o fósforo e o potássio: o malição e o mata-pasto tiveram valores acima da média, houve uma diferença nas concentrações de fósforo entre o mata-pasto e a faveira-camuzé, que foi de 0,78 g Kg-1acima para aquele e -0,67 g Kg-1 abaixo para este (Figura 2a), as médias das concentrações de potássio para o mata-pasto foi de 2,37 g Kg-1 acima e para a faveira-camuzé foi de -1,99 abaixo, evidenciando-se uma ampla diferença entre o crescimento relativo destas espécies (Figura 2b). Justificando-se que o malição e o mata-pasto são espécies que crescem em ambiente de várzea, portanto solos ricos em nutrientes depostos pelos Andes 89 3,5 2,86 3 2,5 2 N (g kg--1) 1,5 1 0,5 0 -0,5 Faveira-camuzé Gipoóca Ingá Mata-pasto Malição -0,15 -0,43 -1 -0,97 -1,5 -1,33 -2 Espécies Média 32,62 g (a) 3 2,71 2,5 2 N (g Kg-1) 1,5 1,08 1 0,5 Careiro da Várzea Itacoatiara Manacapuru 0 Iranduba -0,5 Novo Airão -1 -1,08 -1,5 -2 -1,22 -1,50 Municípios Média 32,62 g Kg-1 (b) Figura 1. Distribuição relativa da concentração de nitrogênio foliar entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubação verde (a) e teores relativos de N para a média das espécies entre cinco municípios (b) da Amazônia Central. – Espécies: Faveira camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata) *1 90 Entre os municípios as médias para os teores de fósforo foram acima para o Iranduba e o Careiro da Várzea com valores de 0,45 e 0,08 g Kg-1e para Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão foi de -0,15, -0,29 e -0,08 g Kg-1 respectivamente (Figura 2c). Para o potássio, os municípios de Iranduba e Manacapuru obtiveram valores acima da média de 0,36 e 1,05 g Kg1 , para o Careiro da Várzea, Itacoatiara e Novo Airão os valores abaixo da média foi de -0,43, -1,02 e -0,06 g Kg-1 (Figura 2d). Como já discutido acima, as áreas de várzea possuem os solos mais férteis de toda a bacia amazônica, dada à deposição de sedimentos oriundos dos Andes por meio das inundações anuais, formando assim regularmente novas camadas de solo rico em nutrientes (Quesada et al., 2011) De acordo com a Figura 3, a média das concentrações de cálcio e magnésio foi de 12,72 e 1,97 g Kg-1 entre as espécies e a média dos teores destes mesmos elementos para os municípios foi de 12,72 e 1,96 g Kg-1 respectivamente. Para o cálcio as concentrações do ingá, malição e mata-pasto houve um crescimento relativo de 0,11, 3,89 e 7,99 g Kg-1, porém para a faveiracamuzé houve um decréscimo de -8,25 g Kg-1 (Figura 3a). Nas concentrações de magnésio somente o mata-pasto ficou com valor acima da média 0,83 g Kg-1 e as demais variaram de 0,05 g Kg-1 para o malição e -0,32 g Kg-1 para a gipoóca (Figura 3b). A faveira-camuzé é uma espécie rústica, alta capacidade de rebrota, suas folhas, com pequenos folíolos, favorecem o processo de mineralização durante a adubação verde (Souza, 2012) cresce em áreas que possuem solos de terra firme, que são muito intemperizados e, consequentemente, ácidos e de baixa fertilidade. Acidez essa que controla a solubilidade e a precipitação de compostos químicos de todos os nutrientes essenciais da planta, portanto sendo um fator decisivo para a produção agrícola (Prasad & Power, 1997). Entretanto, Bissani et al., (2004) ressalta que uma planta é capaz de se desenvolver normalmente em pH 4,0, desde que haja suprimento de todos os nutrientes necessários ao seu crescimento, embora o pH esteja relacionado com a disponibilidade destes elementos. Entre os municípios houve um crescimento relativo para o cálcio onde as espécies cresciam no Careiro da Várzea, Iranduba e Itacoatiara 1,13, 0,61 e 3,88 g Kg-1 respectivamente. Porém, onde elas cresciam em Manacapuru e Novo Airão houve um decréscimo de -3,02 e 2,57 g Kg-1 (Figura 3c). O mesmo aconteceu para o magnésio, porém com valores diferentes, onde as espécies se estabeleciam no Careiro da Várzea, Iranduba e Itacoatiara o crescimento foi em torno de 0,26, 0,10 e 0,10 g Kg-1 nessa ordem e um decréscimo de -0,15 g Kg-1 para as espécies que cresciam em Manacapuru e -0,29 g Kg-1 para as espécies que cresciam em Novo Airão (Figura 3d). 91 0,78 0,8 0,6 P (g Kg-1) 0,4 0,25 0,2 Faveira-camuzé 0 -0,2 Gipoóca -0,12 -0,4 Ingá Malição Mata-pasto -0,23 -0,6 -0,8 -0,67 Espécies Média 1,67 g Kg-1 3 2,5 2 1,5 1 0,5 Faveira-camuzé 0 -0,5 -1 -1,5 -2 -1,99 -2,5 K (g Kg-1) 1 2,37 1,16 Gipoóca -0,09 Espécies 0,45 1,05 1 Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Careiro da Várzea K (g Kg-1) P (g Kg-1) 0,08 0 0 -0,08 Novo Airão Itacoatiara Careiro da Várzea Iranduba -0,5 Iranduba Manacapuru -0,06 -0,43 -1 -0,15 -1,02 -0,3 -0,4 0,36 0,5 0,2 -0,2 Média 6,28 g Kg-1 (b) 0,3 -0,1 Mata-pasto 1,5 0,4 0,1 Malição -1,47 (a) 0,5 Ingá -0,29 Municípios (c) Média 1,67 g Kg-1 -1,5 Municípios Média 6,27 g Kg-1 (d) Figura 2. Distribuição relativa da concentração de fósforo (a) e potássio foliar (b) na biomassa foliar entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubo verde e teores relativos de fósforo (c) e potássio(d) para a média das espécies entre cinco municípios da Amazônia Central. *1 – Espécies: Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata). 10 8 6 4 2 Faveira-camuzé 0 -2 -4 -6 -8 -8,25 -10 1 7,99 0,83 0,8 3,89 Gipoóca 0,6 0,11 Ingá Malição Mata-pasto Mg (g Kg-1) Ca (g Kg-1) 92 0,4 0,2 Faveira-camuzé Gipoóca Espécies Média 12,72 g Kg-1 -0,4 -0,23 -0,23 -0,32 (a) 0,3 1,13 0,61 Manacapuru 0 Careiro da Várzea 0,10 0,1 Iranduba Novo Airão Itacoatiara Mg (g Kg-1) Ca (g Kg-1) 0,26 0,10 1 Manacapuru -3 -3,02 Municípios (c) -2,57 Média 12,72 g Kg-1 Novo Airão 0 -0,1 Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara -0,2 -2 -4 Média 1,97 g Kg-1 0,2 3 -1 Espécies Mata-pasto (b) 3,88 4 Malição -0,05 -0,2 5 2 Ingá 0 -3,74 -0,15 -0,3 -0,4 -0,29 Municípios Média 1,96 g Kg-1 (d) Figura 3. Distribuição relativa da concentração de cálcio (a) e magnésio foliar (b) entre cinco espécies de leguminosas com potencial para adubo verde e teores relativos de cálcio (c) e magnésio (d) para a média das espécies entre cinco municípios da Amazônia Central. 93 Concentrações de celulose, lignina e polifenóis no tecido foliar de leguminosas recomendadas para adubo verde na Amazônia Central. A decomposição de resíduos culturais de adubos verdes qualitativamente diferentes, provenientes de leguminosas, poderá ter efeitos positivos ou negativos sobre a produção das culturas e sobre o ambiente: o maior desafio consiste em maximizar os efeitos positivos. Para isso, é preciso entender como os fatores relacionados aos resíduos, ao seu manejo e ao solo e suas interações afetam os processos de decomposição e liberação (mineralização) de nutrientes. Sob condições favoráveis, principalmente de temperatura e umidade, é esperado que a taxa de decomposição seja controlada principalmente pelas características dos resíduos culturais (Jensen et al., 2005). O tamanho das partículas e a qualidade nutritiva (composição bioquímica) estão entre os principais atributos relacionados aos resíduos culturais dos adubos verdes, que refletem sobre as taxas de decomposição e liberação de nutrientes após o manejo das espécies. A Figura 4 apresenta as concentrações de celulose, lignina e polifenóis presentes na biomassa foliar das espécies de leguminosas nativas aqui pesquisadas. Como pode ser observado, não houve diferença significativa para as concentrações de polifenóis, porém foram altamente significativas para os teores de celulose e lignina (P<0,01). Nos teores de celulose presentes na biomassa foliar, podemos observar que para o malição foi de 24,76 % a mais que para a faveira-camuzé sendo significativamente superior (Figura 4a). Para as concentrações de lignina os valores do malição e ingá foram significativamente superior ao da faveira-camuzé, variando entre todas as outras espécies de 18 a 31 %, ou seja 18 %, 186,13 g Kg-1 para a faveira-camuzé e 31 %, 313,07 g Kg-1 para o malição (Figura 4b). Meentemeyer (1978) considera que a lignina é o principal componente que determina as taxas de decomposição. Seu conteúdo aumenta com a senescência da planta bem como durante o processo da decomposição, podendo variar de 5 a 40 % (Constantinides & Fownes, 1994). Moreira e Siqueira (2002) ressaltam que a matéria orgânica com teor de lignina acima de 30 %, torna praticamente inviável seu uso como adubo orgânico, já que sua decomposição não ocorrerá a tempo de atender as necessidades nutricionais das culturas. Cattanio (2008), ao estudar a taxa de decomposição de algumas leguminosas na Amazônia, encontrou valores de celulose semelhantes aos que encontramos que foram 23 % a 30 %, ou seja 230,40 e 306,24 g Kg-1. Silva e Souza (2011) encontraram para o ingá no município de Presidente Figueiredo valores de 25,56 %, 255,6 g Kg-1 de teores de celulose e 36,48 %, 364,8 g Kg-1 de teores de lignina. Em uma pesquisa feita por Weiler (2012), com plantas de cobertura 94 Espécies Malição 306,24 a Ingá 262,28 ab Gipoóca 259,07 ab Mata-pasto 250,62 ab Faveira-camuzé 230,40 b 0 50 100 150 200 Celulose (g Teste F 4,29 ** 250 300 350 Kg-1) (a) Malição 313,07 a Espécies Ingá 307,01 a Gipoóca 286,63 ab Mata-pasto 217,11 bc Faveira-camuzé 186,13 c 0 50 100 150 Lignina (g Teste F 7,80 ** 200 250 300 350 Kg-1) (b) Malição 6,36 a Ingá Espécies 5,25 a Faveira-camuzé 5,07 a Mata-pasto 4,87 a Gipoóca 4,69 a 0 Teste F 1,01 NS 1 2 3 Polifenóis (g 4 5 6 7 Kg-1) (c) Figura 4. Concentrações de celulose (a), lignina (b) e polifenóis (c), no tecido foliar de leguminosas recomendadas para adubo verde na Amazônia Central. *1 Espécies: Faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), Gipoóca (Entada polyphylla), Ingá-de-metro (Inga edulis), Malição (Mimosa pigra) e Mata-pasto (Senna reticulata). *2 Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1% de probabilidade. 95 foi encontrado valores semelhantes às das espécies aqui pesquisas, para a celulose. Dentre as espécies aqui pesquisadas, observa-se que a faveira-camuzé obteve as menores concentrações de celulose e lignina destacando-se das demais, pois essa é uma característica para espécies que mineralizam mais rápido e aumentam a taxa de decomposição, pois concentrações maiores implicam no aproveitamento das práticas de adubação verde. Gessner et al., (2005) relatam que as concentrações de lignina e as proporções de lignina/nitrogênio e carbono/nitrogênio da liteira, em geral, estão correlacionadas com a velocidade de decomposição da maioria dos recursos; a maior quantidade de lignina e carbono nos tecidos vegetais provoca a diminuição da taxa de decomposição, interferindo na atividade dos organismos decompositores. Para os polifenóis, conforme a Figura 4c, não houve diferença significativa entre as espécies, porém, é considerável viável até 3 %, e todos os valores foram bem abaixo desse patamar. Vale ressaltar que os valores encontrados nesta pesquisa são maiores que os valores encontrados por Silva e Souza (2011) num trabalho feito com 17 espécies coletadas em Presidente Figueiredo, e também são maiores que os resultados encontrados por Costa et al. (2005). Mesmo os valores de 0,64 %, 6,36 g Kg-1 para o malição, o mais elevado entre as espécies aqui pesquisadas, não podem ser considerado alto, pois um resíduo vegetal que apresente seu conteúdo de polifenóis de até 3 % é considerado viável (Costa et al., 2005). Concentrações de celulose, lignina e polifenóis em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central. Sendo a adubação verde uma prática que utiliza a matéria orgânica como seu principal produto, torna-se importante entender os processos que interferem na decomposição desses resíduos vegetais. Conforme as condições edafoclimáticas, a velocidade de decomposição da serapilheira varia de acordo com os teores de lignina, polifenóis, celulose, carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre, dentre outros componentes (Monteiro & Gama-Rodrigues, 2004). Dentre esses fatores, merece destaque a composição química dos resíduos, já que a suscetibilidade dos resíduos vegetais à decomposição está associada, principalmente, aos teores de lignina, celulose e polifenóis, além das relações C/N. lignina/N e lignina + polifenóis/N (Carvalho, 2005) Na Figura 5 podemos observar que para as concentrações de celulose e lignina nos cinco municípios da região metropolitana de Manaus onde se estabeleciam leguminosas recomendadas para adubo verde foi altamente significativo (P<0,01) e as concentrações de polifenóis o teste F foi significativo (P<0,05). As concentrações de celulose, nas espécies que cresciam no Careiro da Várzea foi significativamente superior às espécies que se estabeleciam 96 Municípios Careiro da Várzea 314,96 a Iranduba 289,72 ab Itacoatiara 255,62 b Manacapuru 254,49 b Novo Airão 193,82 c 0 50 100 150 200 Celulose (g 250 300 350 Kg-1) Teste F 11,55 ** (a) Municípios Careiro da Várzea 395,01 a Itacoatiara 382,81 a Iranduba 255,35 b Manacapuru 168,13 c Novo Airão 108,65 c 0 50 100 150 200 250 Lignina (g Teste F 38,74 ** 300 350 400 450 Kg-1) (b) Municípios Iranduba 6,67 a Careiro da Várzea 5,90 a Manacapuru 5,64 ab Itacoatiara 4,89 ab Novo Airão 3,14 b 0 1 2 3 4 Polifenóis (g 5 6 7 8 Kg-1) Teste F 4,18 * (c) Figura 5. Concentrações de celulose (a), lignina (b) e polifenóis (c), em cinco municípios da região metropolitana de Manaus, onde se desenvolviam leguminosas para adubação verde na Amazônia Central. *1 Médias seguidas de mesma letra, nas figuras não diferem entre si no nível de 1 e 5% de probabilidade . 97 em Novo Airão em 38,46 % (Figura 5a). Nas concentrações de lignina nos municípios de Careiro da Várzea e Itacoatiara onde crescem as leguminosas aqui pesquisadas foi significativamente superior onde nas que foram coletadas no município de Novo Airão (Figura 5b). Para os teores de polifenóis nos municípios de Iranduba e Careiro da Várzea onde as espécies se estabelecem foi significativamente superior às que se estabelecem em Novo Airão a 5 % (Figura 5c). É pertinente ressaltar que para os três metabólitos secundários para as espécies que se estabelecem no município de Careiro da Várzea se destaca significativamente às espécies que crescem em Novo Airão. Efeito da interação entre espécies de leguminosas para adubação verde e cinco municípios da região metropolitana de Manaus. A decomposição de um resíduo orgânico é um processo complexo determinado pela sua qualidade e pela atividade da biota regulada por fatores ambientais, sendo favorecida, com baixos teor de lignina ou compostos fenólicos e alto teor de materiais solúveis, nitrogênio e partículas de tamanho reduzido com baixa relação C/N, além do próprio teor de N. As leguminosas tropicais são muito utilizadas como adubo verde pois nodulam e fixam nitrogênio (Faria & Campelo, 1999) possuem rusticidade, capacidade de rebrota, e produção de biomassa. O principal benefício da adubação verde é a reciclagem de nutrientes que através da decomposição das folhas, são reciclados tornando-se disponíveis para o cultivo quando esta biomassa vegetal se mineraliza no solo (Souza, 2012). Na Tabela 2 estão apresentados os resultados obtidos para a interação entre espécies e municípios nas concentrações de celulose na planta. Conforme pode ser observado, os teores de celulose para gipoóca e o ingá não variaram entre si nos municípios onde foram coletadas. Por outro lado, para a espécie faveira-camuzé que crescia no Careiro da Várzea, apresentou mais celulose que as que encontradas em Iranduba e Novo Airão com índices de 39,41 % e 55,75 % a mais respectivamente. Para o malição os teores de celulose foram maiores nas encontradas no Careiro da Várzea do que em Novo Airão. Nas concentrações do mata-pasto as maiores encontradas foi em Iranduba do que as demais espécies (P<0,05). Na avaliação dos teores de celulose na planta, considerando-se os locais pesquisados foi também verificado que não houveram diferenças significativas entre as espécies de leguminosas nos municípios de Careiro da Várzea, Itacoatiara, Manacapuru e Novo Airão. No município de Iranduba, onde houve diferença entre os tratamentos, para os solos onde cresciam o mata-pasto observou-se que apresentaram maiores teores de celulose com níveis de concentrações de 50,17 98 % a mais que a faveira-camuzé, confirmando a nossa discussão acima para o destaque da espécie em questão (Tabelas 2). Matos (2005) numa pesquisa feita em Araponga e Pedra Dourada (MG) encontrou valores bem parecidos nas concentrações de celulose para a leguminosa Calopogonium mucunoides 26,7 % , 267 g Kg-1 respectivamente, apresentou os maiores valores de N mineralizados na primeira semana de incubação, 83,5 mg kg-1 (Araponga) e 119,0 mg kg-1 (Pedra Dourada), e totais de N mineralizados após 50 dias na propriedade de Pedra Dourada (242,3 mg kg-1), para as demais leguminosas pesquisadas o autor encontrou concentrações de celulose que variaram de 26,7 a 32,3 %, 267 a 323 g Kg-1. 99 Tabela 2. Efeito da interação entre espécies de leguminosas para adubação verde e procedências sobre os níveis de celulose na planta, em diferentes municípios da Amazônia Central.*1 Procedências Médias Careiro da várzea Iranduba Itacoatiara Manacapuru Novo Airão Faveira-camuzé 335,95 a A 203,55 b C 234,10 ab A 229,75 ab A 148,65 b A 230,40 B Gipoóca 277,55 a A 234,40 a BC 263,55 a A 300,85 a A 219,00 a A 259,07 AB Ingá 311,00 a A 259,65 a BC 300,35 a A 243,35 a A 197,05 a A 262,28 AB Malição 387,00 a A 342,50 ab AB 267,80 ab A 302,35 ab A 231,55 b A 306,24 A Mata-pasto 263,30 b A 408,50 a A 212,30 b A 196,15 b A 172,85 b A 250,62 AB Médias 314,96 a 289,72 ab 255,62 b 254,49 b 193,82 c *1. Teste F 2,79* Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si no nível de 5 % de probabilidade (P<0,05). Espécies 100 CONCLUSÕES Na avaliação dos teores de metabólitos secundários na biomassa foliar de leguminosas nativas, conclui-se: a) A qualidade da biomassa das espécies foi evidenciada pelos teores de N superiores a 3 %, com pequenas variações na disponibilidade de macronutrientes relacionadas ao ambiente onde se desenvolviam. b) Há diferenças significativas na concentração de celulose e lignina entre as espécies faveira-camuzé (Stryphnodendron guianense), gipoóca (Entada polyphylla), ingá (Inga edulis), malição (Mimosa pigra) e mata-pasto (Senna reticulata), selecionadas para adubação verde, porém não em seus teores de polifenóis. c) Independente da procedência, a síntese de compostos celulósicos em malição foi significativamente maior que em faveira-camuzé e os teores de lignina na biomassa de malição e do ingá foram superiores aos de mata-pasto e faveira-camuzé. d) Há variação significativa na concentração dos metabólitos secundários lignina, celulose e polifenóis entre procedências e a biomassa foliar coletada em plantas do Careiro da Várzea apresentaram os maiores teores destes compostos. e) Dentre as leguminosas, a biomassa foliar de mata-pasto e faveira-camuzé apresentaram as menores concentrações de metabólitos secundários, ao passo que malição e ingá as maiores concentrações, com implicações em seu aproveitamento em práticas de adubação verde. 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alcântara, F.A.; Neto, A.E.F.; Paula, M.B.; Mesquita, H.A.; Muniz, J.A. 2000. 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