O QUE ABALA O CORAÇÃO DO EXECUTIVO Por Gilberto Ururahy. Desde a Antiguidade, o coração é o símbolo das emoções. Os egípcios o enxergavam como o centro da inteligência. Os indianos o veem como a sede da vida afetiva. O cristianismo introduziu uma nova dimensão para o coração: a da caridade e da bondade. Seu grafismo atual, estilizado e padronizado, viabiliza a venda de produtos de consumo e estimula as pessoas a gostar de lugares. A publicidade se utiliza muito do símbolo para atingir as pessoas. Talvez, porque busque na imagem romântica uma maneira de fazê-las sonhar e afastá-las, momentaneamente, de um mundo cada vez duro, representado por uma competição acirrada nos mercados, muitas vezes recheada por puxadas de tapete, falta de ética, frustrações e, ainda, exclusões sociais enormes, aumento da violência urbana, instabilidade política e econômica, bolsões de miséria por todo o lado, crescimento do terrorismo internacional, guerras. Tudo sob o manto da globalização. Nesse ambiente, dançando na corda tensa da vida, sustentada, de um lado, por um estilo de vida competitivo e obsessivo por resultados e, de outro, por hábitos insalubres, o coração do executivo é um equilibrista. Pesquisa realizada com base nos exames preventivos de mais de 25 mil executivos homens e mulheres, nos últimos 14 anos, constatou que o mais poético e dinâmico de nossos órgãos é a vítima, muitas vezes fatal, desse fenômeno que a economia transferiu para a medicina. Assim, torna-se importante, correlacioná-lo com o aumento dos percentuais de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças coronarianas: estresse crônico, excesso de peso corporal, hipertensão arterial, alterações das gorduras sanguíneas, sedentarismo, tabagismo, diabetes e histórico familiar. A pesquisa confirma estudos semelhantes feitos em países desenvolvidos que mostram as doenças cardiovasculares à frente das internações hospitalares e das mortes súbitas. Quatro em cada 10 óbitos registrados nos EUA são causados por doenças do coração O alarmante percentual (40% dos óbitos) repetese na Argentina e no Brasil. Aqui, segundo a OMS, os homens são as maiores vítimas: cerca de 70% das mortes de pessoas do sexo masculino ocorrem por doenças isquêmicas do coração. A fonte estatística com base nos check-ups anuais de executivos, permite conferir ao estresse crônico o status de inimigo número 1 do homem globalizado. Pano de fundo de várias doenças, a pesquisa revela que 70% dos executivos convivem constantemente com altos níveis de estresse. A exposição permanente a doses exageradas dos hormônios gerados pelo estresse (adrenalina e cortisol) provoca aumento da pressão arterial, taquicardia, baixa da imunidade, úlceras, enfarte do miocárdio, insônia e queda do desejo sexual, entre outras alterações. Sobrecarregado, o coração sofre. As alterações das gorduras sanguíneas constituem a principal causa de formação de placas nas artérias coronárias e estão relacionadas com maus hábitos alimentares, a vida sedentária e o tabagismo. Os dados demonstram que 45% dos executivos apresentam elevações nas gorduras sanguíneas. A hipertensão arterial é uma das principais causas do enfarte do miocárdio, do acidente vascular cerebral e da insuficiência renal. Sem apresentar sintomas na maioria das vezes, 19% dos executivos examinados são hipertensos. O fumo é outro algoz do coração. Mata 100 mil brasileiros por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer. O tabagista tem quatro vezes mais chances de desenvolver enfarte agudo do miocárdio do que o não fumante. A pesquisa demonstra que, entre os examinados, 40% das mulheres são fumantes contra 35% dos homens. A obesidade também é sério fator de risco e difícil de ser tratada. O indivíduo sedentário, que ingere calorias em excesso, pode tomar-se obeso e desenvolver hipertensão arterial, alterações das gorduras sanguíneas, diabetes e doença coronariana. Dos executivos examinados, entre homens e mulheres, 60% encontram-se com peso acima da normalidade. O sedentarismo, por sua vez, facilita o aumento da pressão arterial, do peso corporal e faz com que o organismo produza menos colesterol “bom” (HDL), aumentando os fatores de risco que levam à aterosclerose. O diabetes também contribui para o desenvolvimento de doença coronariana, doença da retina, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial. Além de facilitar as infecções, acometendo de 6% a 7% da população de executivos. Quanto maior o número de fatores de risco diagnosticados em um indivíduo, maior é a possibilidade de desenvolvimento de uma doença coronariana. Pesquisadores da clínica constataram que 72% dos executivos apresentavam vários fatores concomitantemente, sendo que 8% dos examinados já tinham enfartado e 3% desenvolveram arritmias cardíacas graves. Ressalte-se que 60% dos pacientes que apresentaram esses fatores de risco têm entre 40 e 49 anos. Portanto, não surpreende que as doenças cardiovasculares estejam se desenvolvendo junto a uma população cada vez mais jovem. No caso das mulheres, constata-se essa indesejada igualdade. A Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta para a epidemia de enfartes do miocárdio em mulheres jovens. Além da identificação dos fatores de risco citados aqui, o check-up médico permite o diagnóstico de doenças nas suas diversas fases e, quanto mais precoce o diagnóstico, maior é a possibilidade de cura. No entanto, mais importante do que diagnosticar doenças é, a partir da prevenção continuada, promover saúde, evitando-se, assim, surpresas e consequências indesejadas.