Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Departamento de Economia Variações Cambiais e Inflação: Uma Interpretação do Processo de Pass-through para o Brasil Thiago Neves Pereira Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília para obtenção do grau de Bacharel em Economia Banca Examinadora: Prof. Joaquim Pinto de Andrade (Orientador) Prof. Maurício Barata de Paula Pinto Brasília, 16 de julho de 2003 Agradecimentos Gostaria de agradecer primeiramente os professores que me permitiram a realização de trabalhos de pesquisa sob suas orientações. Ao professor e orientador Joaquim Pinto de Andrade, grande responsável por despertar em mim o interesse pela macroeconomia. A professora Maria Luiza Falcão, minha primeira professora no curso de economia. As professoras Adriana Amado e Maria de Lourdes Mollo pelas discussões teóricas com respeito as diferentes correntes econômicas. Ao professor Maurício Barata de Paula Pinto, por aceitar fazer parte da banca examinadora e pelos ensinamentos sobre economia internacional. Agradeço também a todo corpo docente do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB). Em especial aos professores Jorge Saba Arbache e Maria Eduarda Tannuri pelos conhecimentos na área de econometria. Aos professores Maria Conceição Sampaio de Sousa e Steve de Castro pelas noções sobre microeconomia. Ao professor Charles Curt Muller por provocar o interesse pelas questões relacionadas à economia brasileira. Aos meus colegas de turma pela convivência ao longo do curso. Agradecimentos especiais a Eduardo Ricardo Veiga, Gabriel Ervilha, Gabriel Gomes Strautman, Helano Borges Dias, José Renan Calheiros Filho, Leonardo Almeida Bursztyn, Marcos Joaquim Martins Pereira e Rodrigo Azeredo pelas horas de estudo e diversão compartilhadas durante o curso. Aos meus amigos de infância, pelas discussões sobre economia, que várias vezes se tornaram conversas de bar. Em especial Arédio Alves de Carvalho, José Estevam de Matos Júnior, Olavo Gustave Wagner Gonçalves Dias, Rodrigo Luiz Ribeiro e Rodrigo Reis Barros. Por último agradeço aos meus familiares, ao meu irmão, Murillo Neves Pereira, e principalmente aos meus país, Elder Luiz Pereira e Valdê Lima Neves Pereira, pelos incentivos, apoio e cuidados dedicados a mim, pelos quais eu devo minha eterna gratidão. ii Sumário Resumo ............................................................................................................................... v Abstract .............................................................................................................................. vi Lista de tabelas ................................................................................................................... vii Lista de gráficos ................................................................................................................. viii Introdução ........................................................................................................................... 1 Capítulo 1 - Resenha Teórica ............................................................................................. 4 1.1. Mercado de Câmbio e Determinação da Taxa de Câmbio ................................. 5 1.2. Taxa de Câmbio Fixo .......................................................................................... 7 1.3. Taxa de Câmbio Flutuante ............................................................................... 8 1.4. Regimes Cambiais Intermediários ................................................................... 11 1.5. Lei do Preço Único e Paridade Poder de Compra (PPC) .................................. 12 1.6. Imperfeições de Mercado ............................................................................... 15 1.7. Concorrência Imperfeita ................................................................................. 16 1.7.1. Monopólio ................................................................................................. 17 1.7.2. Oligopólio ................................................................................................. 19 1.8. O Pass-through em Uma Economia Real ........................................................ 20 Capítulo 2 – Inflação e Câmbio: Resenha Histórica ........................................................... 21 2.1. Os Regimes Cambiais no Brasil.......................................................................... 21 2.2. A Natureza da Inflação Brasileira ...................................................................... 22 2.3. Comportamento da Inflação e Câmbio: Período 1980 – 2002............................ 25 O Período de 1980 – 1993 ................................................................................... 26 O Período de 1994 – 2002 ................................................................................... 36 2.4. Considerações sobre a Inflação e o Câmbio ...................................................... 42 Capítulo 3 – Mensuração, Resultados e Fatores do Pass-through...................................... 44 3.1. Forma de Mensuração do Pass-through.............................................................. 44 iii 3.2. Mensuração do Grau de Pass-through para o Brasil .......................................... 45 3.3. Determinantes do Grau de Pass-through ............................................................ 47 3.4. Coleta e Formação dos Dados ............................................................................ 52 Capítulo 4 – Tratamento Econométrico .............................................................................. 54 4.1. Modelo Econométrico......................................................................................... 55 4.2. Modelo de Previsão............................................................................................. 60 4.3. Explicação para os Resultados ........................................................................... 43 Capítulo 5 – Conclusões e Considerações Finais ............................................................... 64 Apêndice ............................................................................................................................ 65 Referências Bibliográficas ................................................................................................. 74 iv Resumo No período posterior a adoção do regime de câmbio flutuante no Brasil, as variações cambiais observadas passaram a provocar maiores impactos sobre as taxa de inflação doméstica. O processo responsável por mudanças na inflação decorrente de variações cambiais é conhecido como pass-through. Recentemente, Goldfajn e Werlang (2000) estudaram esse processo para 71 países entre 1980-1998. No Brasil, ao longo do período estudado (1980-2002), o comportamento desse processo apresentou profundas mudanças, somente ganhando maior relevância após a estabilização econômica de 1994. Uma questão a ser levada em consideração é a possibilidade de variações cambiais levarem a uma espiral inflacionária, uma vez que essas variações se mostraram mais intensas e freqüentes nos últimos vinte anos. O objetivo deste trabalho é primeiro revisar a literatura teórica referente ao pass-through, como também os fatores que o influenciam. Um simples instrumental econométrico foi utilizado para estimar uma regressão para os períodos de 1980-2002 e 1994-2002, o que nos possibilitou fazer um modelo de previsão de inflação para os períodos mais recentes de fortes mudanças no câmbio, ou seja, 1999, 2001 e 2002. Por fim, serão feitas uma revisão teórica e histórica sobre a inflação e o câmbio no Brasil, com a posterior mensuração do grau de pass-through e uma breve análise sobre o seu comportamento. v Abstract In the period after the adoption of floating exchange rates in Brazil, the exchange rate variations provoked larger impacts in domestic rates of inflation. This process of depreciation to inflation as the pass-through. Recently, Goldfajn and Werlang (2000) studied that process for 71 countries from 1980 to 1998. In Brazil, along the period studied were (1980-2002) that process presented deep changes, with more larger relevance after the stabilization of 1994. A subject to be considered is the possibility of exchange variations lead to an inflationary spiral. The aim of this work is first to revise the theoretical literature regarding the pass-through, as well as the factors that influence it. An econometric method was used to estimate a regression for the years from 1980 to 2002 and from 1994 to 2002. The method enabled us to build a model of inflation forecast for the most recent years of strong changes in the exchange rate, especially in 1999, 2001 and 2002. Finally, we present a theoretical and historical revision of the behavior of inflation and of the exchange rate in Brazil, with the subsequent determination of the pass-through coefficient. vi Lista de Tabelas Tabela 2.1: Inflação Mensal (IPCA) – 1980-1985 .................................................. 28 Tabela 2.2: Inflação Mensal (IPCA) – 1986-1989 ................................................ 30 Tabela 2.3: Inflação Mensal (IPCA) – 1990-1993 .................................................. 34 Tabela 2.4: Inflação Mensal (IPCA) – 1994-1998 .................................................. 39 Tabela 2.5: Inflação Mensal (IPCA) – 1999-2002 .................................................. 41 Tabela 3.1 - Valor do Coeficiente de Pass-through com os Meses ........................ 45 Tabela 3.2 - Grau de Pass-Through – 1980-2002 (% a.a) ...................................... 46 Tabela 3.3 – Preços dos Tradables (% a.a.) – 1992-2002....................................... 51 Tabela 4.1 – Coeficientes: Modelo I (1980 – 2002) ............................................... 57 Tabela 4.2 – Coeficientes: Modelo II (1994 – 2002) .............................................. 59 Tabela 4.3 - Inflação Prevista e Corrente – (% a.a) ................................................ 60 Tabela 4.4 - Previsão de Inflação ............................................................................ 61 Tabela A.1: Taxa de Inflação – 1973-1979 ........................................................... 66 Tabela A.2: Variação Real do PIB (% a.a.) 1973-2002 ......................................... 67 Tabela A.3: Balanço de Pagamento e Balança Comercial US$(milhões) - (FOB) – 1980-2002 ...................................................................... 68 Tabela A.4: Superávit Primário – Anual (% PIB) - 1985-2002 ............................. 69 Tabela A.5: Taxa de Juros – Selic (% a.a.) 1974-2002 .......................................... 71 Tabela A.6: Taxa de Desemprego – Média (% a.a.) 1985-2002 ............................ 72 Tabela A.7: Inflação Acumulada e Variação Acumulada do Câmbio (%) 1980-2002 ..................................................................................... 73 vii Lista de Gráficos Gráfico A.1: Evolução da Dívida Pública (total) – (%PIB) 1990-2002 .............................70 viii Introdução Com a adoção do regime de câmbio flutuante nas principais economias do mundo após o colapso do sistema de Bretton Woods, a taxa de câmbio ganhou maior importância na determinação dos preços domésticos. Curiosamente, como observado por Andrade, Divino e Silva (1999), no período pós-Bretton Woods, a mobilidade de capitais tornou as economias em geral mais vulneráveis a choques externos e crises cambiais. Com isso, variações cambiais passaram a transmitir seus choques de forma mais intensa para os níveis de preços domésticos, provocando variações na inflação. O processo responsável pela mudança da inflação doméstica decorrente de uma variação cambial é conhecido como pass-through do câmbio para inflação, não sendo esse processo exclusividade dos regimes de câmbio flutuante. Em janeiro de 1999, com a instauração do regime de câmbio flutuante no Brasil, criou-se grande expectativa quanto ao impacto da mudança de regime cambial sobre a inflação, que vinha seguindo uma trajetória decrescente desde 1994. Contudo, diferentemente do que muitos esperavam, não se iniciou um novo processo inflacionário no país. Nos anos após a mudança do regime cambial, somente em 2000 a taxa de câmbio não apresentou grandes flutuações em seu valor ao longo do ano. Por esse motivo, existe em boa parte da população, um certo receio do retorno da inflação, principalmente depois de períodos de grandes variações cambiais, isto é, o surgimento de uma espiral inflacionária causada pelas mudanças na taxa de câmbio. Esse receio se justifica ainda mais, pois a instabilidade dos mercados internacionais está diretamente relacionada com o processo de globalização financeira, que se acentuou nos últimos anos permitindo um aumento drástico de movimentos especulativos (Plihon, 1995). Em uma situação de bruscos movimentos especulativos de capital, a autoridade monetária pode ficar indefesa contra ataques especulativos, e contra seus conseqüentes impactos sobre o câmbio e a inflação. Cabe ressaltar que nesse trabalho nosso foco não é o estudo especifico das crises cambiais, e sim a variação acumulada do câmbio nos períodos em questão. Não podemos 1 deixar de comentar que as crises cambiais levam a variações da taxa de câmbio, sendo essas acumuladas com o tempo. O principal objetivo deste trabalho é estudar os impactos das variações cambiais sobre a inflação entre 1980 a 2002. Para uma melhor adequação as nossas necessidades, este trabalho foi dividido em quatro capítulos de desenvolvimento da teoria e um para as conclusões. Para uma melhor ilustração do trabalho, tabelas e gráficos estão disponíveis no apêndice. No capítulo 1 serão apresentadas as teorias relevantes para o nosso assunto. Em primeiro lugar serão expostas as teorias sobre o mercado de câmbio e determinação da taxa de câmbio. Em seguida será mostrado como essa determinação ocorre para os diferentes regimes cambiais, sendo tratados essa determinação para os regimes de câmbio fixo, flutuante e regimes intermediários. As teorias utilizadas para a explicação da elevação dos preços em uma economia aberta serão a lei do preço único e a paridade poder de compra. Para a explicação das diferentes trajetórias de ajustamentos dos preços, será levada em consideração a teoria ligada as imperfeições de mercado, como os monopólios e oligopólios, podendo esses setores influenciar a formação dos seus preços. O capítulo 2 é uma revisão histórica do comportamento da inflação e do câmbio ao longo de 1980 a 2002, traçando se um paralelo entre o comportamento das variáveis e o nosso marco teórico. O capítulo 3 consiste em uma exposição sobre a forma de mensuração e a determinação o valor do grau de pass-through para o Brasil entre 1980 e 2002. Em seguida, serão analisadas as variáveis relevantes para o processo do pass-through, isto seguindo os procedimentos do trabalho de Goldfajn e Werlang (2000). Na parte final desse capítulo será apresentada a forma de coleta e composição dos dados das variáveis relevantes ao processo estudado. No capítulo 4 é feito um simples tratamento econométrico, reproduzindo o modelo contido em Goldfajn e Werlang (2000), que relaciona os impactos das variáveis relevantes do pass-through sobre a inflação. Na primeira parte haverá dois modelos econométricos, um referente ao período de 1980 a 2002, e o outro ao período de julho de 1994 a 2002, ou 2 seja, desde a criação do Plano Real. Na segunda parte, existem modelos de previsão de inflação, nos quais são feitas estimações de previsão de inflação para os períodos de grandes variações cambiais desde 1999, isto é, para 1999, 2001 e 2002. O capítulo 5 é o das conclusões e os comentários finais com respeito ao nosso trabalho. Logo após o capítulo 5 estará o apêndice estatístico, bem como as referências bibliográficas utilizadas neste trabalho. 3 Capítulo 1 – Resenha Teórica No final dos anos 60, o sistema de taxa de câmbio fixa de Bretton Woods começou a mostrar sinais de fadiga, isto por causa das crises monetárias internacionais de amplitude e freqüência crescentes. Com o não ajustamento das taxas de câmbio, a obtenção simultânea de equilíbrios interno e externo se tornou difícil para grande parte dos países. Na tentativa de solucionar esses desequilíbrios, passou-se a defender a instauração do sistema de taxas de câmbio flutuantes em substituição as taxas de câmbio fixas, isto seria uma forma de se tentar resolver o problema dos desequilíbrios interno e externo (Johnson, 1969). No início dos anos 70, alguns países como Canadá (1970) e Inglaterra (1972) já adotavam o regime de taxa de câmbio flutuante (Levich, 1983). Em março de 1973, após mais um ciclo de especulações contra o dólar, as autoridades monetárias dos principais países industrializados1 adotaram o sistema de taxas de câmbio flutuantes, o que para muitos, era uma medida temporária e de emergência. Contudo, esse regime é adotado por grande parte dos países ainda hoje. Desde então, as taxas câmbio das principais moedas do mundo comportaram se de acordo com as interações entre oferta e demanda nos mercados de câmbio. Com isso, cresceu o interesse sobre a análise dos impactos da mudança do regime de taxa de câmbio de fixa para a flutuante. Nesse sentido, pesquisas relacionadas aos efeitos de mudanças nas taxas de câmbio sobre os níveis de preços domésticos ganharam destaque. Com as taxas de câmbio sendo determinadas pela livre força dos mercados, estas se tornaram naturalmente mais vulneráveis as flutuações no sentido de apreciação ou depreciação cambial. Um agravante da questão reside no fato de que, nas últimas décadas os fluxos internacionais de capital cresceram de forma ascentuadas, principalmente o fluxo especulativo (Plihon, 1995). Assim, devido o processo de globalização financeira recente, as perturbações no mercado financeiro internacional tendem a provocar movimentos especulativos de capital contra as moedas domésticas (Andrade, Divino e Silva, 1999). Com o aumento das variações cambiais aumentam também as variações na inflação. 1 Países como Estados Unidos, Japão, Itália juntaram-se ao Canadá e Inglaterra permitindo a flutuação independente entre suas moedas. França, Alemanha e mais seis países da Europa Setentrional permitiram que suas moedas flutuassem de forma conjunta. 4 O processo responsável pela mudança da inflação doméstica devido a uma variação da taxa de câmbio é conhecido na teoria econômica como pass-through, e ganhou relevância a partir da adoção do regime de taxas de câmbio flutuantes por diversos países industrializados. Segundo Goldberg e Knetter (1997), a sua definição é a seguinte: a mudança percentual em moeda corrente dos preços dos produtos importados resultante da mudança de um ponto percentual entre a taxa de câmbio dos países exportadores e importadores. Assim, os movimentos na taxa de câmbio influenciam os preços dos produtos importados que ingressam nos países, como também os preços dos produtos exportáveis. As variações nos preços dos produtos importados e exportáveis são transmitidas para os níveis de preços domésticos, isto é, taxas de inflação domésticas. Porém, os preços dos importados, sejam elas produtos finais ou insumos intermediários, também podem sofrer de um mecanismo de transmissão parcial ou completo de pass-through. Vários trabalhos têm revelado que o percentual de mudança no preço dos importados é menos que as mudanças percentuais na taxa de câmbio (Gron e Swenson, 1996). Segundo Dornbusch (1987-A), existem dois modelos de preços relacionados à literatura de economia aberta. O primeiro assume a lei do preço único, já o segundo é relacionado com as imperfeições de mercado, tipo a organização dos mercados, que são responsáveis pela demora no ajustamento dos preços no curto prazo. Para Fisher (1989), um outro fator de suma importância para o modelo de preços em uma economia aberta é o regime de taxa de câmbio usado pelo país, seja regime fixo ou flutuante. Assim, os marcos teóricos sobre quais se apóia os pass-through são a teoria da taxa de câmbio, a teoria do comércio dos bens, em particular na lei do preço único e a paridade poder de compra (PPC) e ainda a teoria de imperfeições de mercado, relacionada à concorrência perfeita e imperfeita. (Fisher, 1989; Feenstra e Kendal, 1994; Dornbusch, 1987-A; e Klein 1990). Abaixo segue uma sucinta exposição das teorias acima anunciadas e as suas relevâncias para o nosso trabalho. 5 1.1. Mercado de Câmbio e Determinação da Taxa de Câmbio Numa economia aberta ao exterior, um novo ativo monetário entra em cena no mercado: a moeda estrangeira. A incorporação das transações com moeda estrangeira na análise do mercado monetário altera o seu funcionamento e o impacto da política monetária. O ponto de partida para examinar a relação entre a moeda doméstica e a estrangeira deve ser o mercado de câmbio, o local onde esses ativos são trocados (Carvalho, 2000). Nos mercados de câmbio podem ser observados quatro níveis de participantes. O primeiro, formando por usuários tradicionais, estão os turistas, importadores, exportadores e investidores que são fornecedores imediato de moeda estrangeira. No segundo nível estão os bancos comerciais, que são o centro dos mercados de câmbio, pois atuam como câmaras de compensação entre usuários e recebedores de câmbio em diversos centros financeiros. No terceiro nível estão as instituições financeiras não bancárias, que devido à desregulamentação do mercado financeiro nos anos 90, estão oferecendo a seus clientes uma variedade de serviços muitos dos quais não disponíveis pelos bancos comerciais, destacando entre eles os serviços envolvendo transações cambiais. No quarto e último nível encontram-se os bancos centrais, vistos como vendedor ou comprador em última instância no mercado de câmbio. As operações ali realizadas refletem a demanda e a oferta por cada uma das moedas, sendo o preço da mercadoria nele negociada a taxa de câmbio (Salvatore, 1998; e Krugman e Obstfeld, 2000). Nesse mercado, uma característica é que o dólar2 se tornou mais do que moeda internacional, “trata-se de uma moeda veículo, isto é, o dólar é também utilizado em transações que não envolvam os Estados Unidos” (Salvatore, 1998, p.249). Atualmente, o euro vem disputando essa função com o dólar, podendo também se consolidar como moeda internacional nos próximos anos. Outra característica desse mercado é a grande quantidade e velocidade de movimentação dos ativos financeiros ao redor do mundo, algo em torno de US$ 1,7 trilhão3 por dia, isto em boa parte se deve aos avanços nas comunicações, o que permitiram uma globalização desse mercado. 2 3 Neste trabalho, quando nos referimos ao dólar, estamos sempre nos referindo ao dólar norte-americano. Ver Plihon (1995) 6 Adotando um procedimento usual, definiremos a taxa de câmbio (E) como a relação entre a moeda doméstica e a moeda estrangeira. Em outras palavras, a taxa de câmbio será aqui sempre referida como sendo o preço da moeda, representado pelo quociente entre moeda local/moeda estrangeira, como por exemplo, E=R$/US$. Isto significa que, uma elevação da taxa de câmbio corresponde a um aumento do preço da moeda estrangeira em relação à moeda doméstica, pois será necessário mais unidades da moeda doméstica em troca de uma unidade da moeda estrangeira. Esta é a razão pela qual se usa a expressão depreciação cambial4 para denominar uma elevação da taxa de cambio, sob regime de câmbio flutuante, a apreciação cambial para designar uma queda da taxa de câmbio. No regime de câmbio fixo, usamos o termo desvalorização cambial para uma elevação da taxa de câmbio e valorização ou revalorização cambial para uma redução da taxa de câmbio. 1.2. Taxa de Câmbio Fixo Um regime de câmbio fixo é aquele em que paridade entre moeda doméstica e a estrangeira é estabelecida por uma decisão do governo ou lei. A manutenção da taxa de câmbio no nível fixado torna-se uma responsabilidade das autoridades monetárias, e para isso, a autoridade monetária precisa dispor da reservas internacionais para intervir no mercado de câmbio, e como isso garantir a manutenção da paridade fixa. Segundo os defensores do regime de taxas de câmbio fixo, esse regime evita excessivas flutuações da taxa de câmbio, o que desestimularia o fluxo do comércio e dos investimentos internacionais. Assim, a taxa de câmbio fixa apresenta-se como um agente redutor da incerteza quanto ao comércio e o investimento internacional, facilitando o desenvolvimento dos mesmos. Outro argumento favorável ao câmbio fixo é com relação à especulação estabilizadora. Com o câmbio flutuante, uma especulação desestabilizadora incorre em ciclos de negócios que se vêem ampliados, isto é, expectativa de altas ou quedas crescentes no valor da taxa de câmbio. Sob um regime de câmbio fixo esse fato não ocorreria, pois as 4 Uma apreciação da taxa de câmbio significa que moeda doméstica está valorizada, isto é, suponha que a taxa de câmbio fosse E=3,50 R$/US$, se essa taxa passasse para E=3,00 R$/US$, a moeda teria sofrido um processo de apreciação cambial. A depreciação seria o contrário, a taxa de câmbio passaria de E=3,50 R$/US$ para E=4,00 R$/US$ . 7 especulações seriam estabilizadoras da taxa de câmbio. Atualmente, “a maioria dos economistas parece acreditar que, em condições “normais”, a especulação tem se mostrado estabilizadora na maior parte dos casos, sob ambos os sistemas” (Salvatore, 1998, p.375). Por último, o câmbio fixo apresenta uma maior disciplina sobre os preços, argumento esse conhecido como a âncora cambial. Com isso, em geral, a inflação é mais elevada sob um regime de taxas de câmbio flexível do que sob um sistema de taxas de câmbio fixas. O pass-through em um regime de câmbio fixo, ocorre quando acontecem os ajustamentos na taxa de câmbio, permitindo os repasses da variação cambial para os preços (Fisher, 1989). 1.3. Taxa de Câmbio Flutuante Nos anos 50, vários autores já defendiam a instauração do sistema de taxas de câmbio flutuantes (Friedman, 1953). Nesse sistema, a autoridade monetária não intervem no mercado de câmbio, sendo a taxa determinada pelo livre jogo entre oferta e demanda de divisas no mercado cambial. O argumento a favor das taxas de câmbio flutuante estava baseado em três alegações principal: (i) Autonomia da Política Monetária. Sob o sistema de taxas fixas de Bretton Woods, os países tinham pouca capacidade de usar a política monetária visando aos equilíbrios interno e externo. Por isso, os defensores das taxas flutuantes ressaltavam que, com o fim da obrigação de vincular os valores da moeda, os bancos centrais restabeleceriam o controle monetário (Obstfeld, 1995). Assim, a autoridade monetária poderia formular políticas monetárias objetivando atingir os equilíbrios interno e externo. Outro argumento é que, as taxas flutuantes permitiriam a cada país seguir políticas domésticas que viessem solucionar os seus dilemas quanto à inflação e ao desemprego. Com taxas fixas, um país que se defronta com um aumento do nível de preços externo sairá do equilíbrio, e por fim, importará inflação internacional. O mecanismo responsável pelo isolamento da inflação entre os países é a paridade poder de compra (PPC). Segundo a PPC, as taxas de câmbio nominais se movem exatamente para compensar as diferenças de inflação entre os países, mantendo inalterada a taxa de câmbio real entre ambos. Desta 8 forma, crises de valorização cambiais que ocorrem sob as taxas de câmbio fixo seriam evitadas. (ii) Simetria. As taxas flutuantes iriam remover as assimetrias nos ajustamentos da taxa de câmbio real, assimetrias essas responsáveis por desacordos entre os países nos anos 60 e início dos anos 70. Como o dólar desempenhava um papel central no sistema monetário internacional, as assimetrias existentes estavam ligadas a ele, e se davam de duas formas. Na primeira, os bancos centrais dos outros países atrelavam suas moedas ao dólar, com isso, acumulavam dólares como reservas internacionais. Desta forma, o banco central americano (Federal Reserve) desempenhava uma função-chave na determinação da oferta mundial de moeda, mas por outro lado, os demais bancos centrais tinham pouca autonomia para determinar suas próprias ofertas domésticas de moeda. A segunda, qualquer país estrangeiro poderia desvalorizar sua moeda em relação ao dólar , em condições de “desequilíbrio estrutural”, contudo, as regras do sistema não davam aos Estados Unidos a opção de desvalorizar em relação às moedas estrangeiras. Para os defensores do sistema de taxas de câmbio flutuantes, os países não mais vinculariam suas taxas de câmbio ao dólar, sendo desnecessário manter reservas em dólares, com isso, cada banco central estaria na posição de conduzir as condições monetárias domésticas. Pelo mesmo motivo, os Estados Unidos não teriam nenhum obstáculo especial para alterar sua taxa de câmbio. Assim, com as taxas flutuantes, todos os países teriam suas taxas de câmbio determinadas simetricamente pelo mercado de câmbio (Krugman e Obstfeld, 2000). (iii) Taxas de Câmbio como Estabilizadores Automáticos. Refere-se a capacidade do sistema de taxas flutuantes de promover ajustes rápidos e sem grandes esforços a certos tipos de mudanças econômicas. Mesmo em situações de ausência de uma política monetária ativa, o ajuste rápido das taxas de câmbio auxiliaria os países a manter os equilíbrios interno e externo, mesmo com mudanças na demanda agregada. Com isso, o movimento da taxa de câmbio flutuante estabilizaria a economia, reduzindo os efeitos de choques externos sobre o produto e o emprego (Krugman e Obstfeld, 2000). Contudo, vários eram os céticos com relação ao bom funcionamento do sistema de taxas de câmbio flutuantes. A experiência com o câmbio flutuante no período entre as guerras mundiais deixou dúvidas sobre o funcionamento de tal sistema. Em seu trabalho, 9 Williamson (1985), criticou o funcionamento do sistema de câmbio flutuante. Os principais argumentos contra tal sistema eram: (i) Disciplina. Segundos os críticos, as taxas de câmbio flutuantes dão mais liberdade no uso da política monetária por parte do governo, com isso, acreditavam que elas levariam à desordem, pois, livres da obrigação de fixar suas taxas de câmbio, os bancos centrais poderiam envolver-se em políticas discricionárias, o que poderia estabelecer uma espiral inflacionária para os países. Por isso, a falta de disciplina no cumprimento de uma política econômica fixa seria um fator de desequilíbrio. (ii) Especulação Desestabilizadora e Distúrbios do Mercado Monetário. A especulação sobre mudanças nas taxas de câmbio poderia levar a instabilidades nos mercados de câmbio, o que iria acentuar as expectativas de depreciação em torno do seu valor de longo prazo. Com o aumento da expectativa de depreciação, aumenta também a expectativa futura de inflação, assim, os países poderiam entrar em um “circulo vicioso” de depreciação e inflação, do qual seria difícil escapar. Além disso, as taxas de câmbio flutuantes tornam a economia mais vulnerável a choques originários no mercado monetário doméstico. (iii) Danos ao Comércio e aos Investimentos Internacionais. As moedas flutuantes tornam os importadores e exportadores mais inseguros, respectivamente, sobre os preços que terão de pagar e receber pelos bens no futuro. Devido às incertezas sobre os preços futuros, tornaria mais cara a entrada no comércio internacional, diminuindo os volumes e os ganhos com o comércio. Similarmente, uma maior incerteza sobre os lucros dos investimentos poderia interferir nos fluxos de capitais internacionais produtivos (Krugman e Obstfeld, 2000). (iv) Políticas Econômicas Descoordenadas. Durante o período de vigência do sistema de Bretton Woods, pode-se notar que suas regras auxiliaram na promoção do comércio internacional, isto porque eliminou as depreciações monetárias que haviam ocorrido durante a Grande Depressão. Argumentava-se que os países novamente poderiam adotar políticas macroeconômicas próprias, com danos sobre o comércio internacional, e conseqüentemente sobre os seus benefícios. (v) A Ilusão da Maior Autonomia. Para os críticos, a taxa de câmbio é uma variável tão importante que as autoridades monetárias não seriam capazes de tomar 10 medidas referentes à política monetária, sem antes considerar seus efeitos sobre a taxa de câmbio. Nesse contexto, a taxa de câmbio possui um papel importante no processo de inflação doméstica. Com taxas flutuantes, uma depreciação da moeda aumenta os preços das importações, o que induz os trabalhadores a demandarem salários mais elevados, a fim de manter o seu padrão de vida. Com isso, salários mais elevados poderiam recair sobre os preços finais dos produtos, o que viabilizaria a inflação pelo aumento do nível de preços dos salários futuros. Segundo os críticos, os benefícios das taxas flutuantes foram exagerados em relação aos seus custos, pois, os formuladores da política macroeconômica teriam de continuar atuando no mercado de câmbio para evitar flutuações excessivas da taxa de câmbio, reduzindo os seus efeitos prejudiciais à economia doméstica. Observando as experiências com as taxas de câmbio flutuantes desde 1973, nota-se que nenhum dos lados do debate sobre a flutuação cambial estavam totalmente certos quanto às suas previsões. O sistema de taxas flutuantes não está totalmente livre de problemas graves, como também não foi o fiasco previsto pelos seus opositores. Hoje, ambos os lados concordam que nenhum sistema de taxas de câmbio funciona bem se os países o adotam sozinho, seguindo os seus próprios interesses (Krugman e Obstfeld, 2000). 1.4. Regimes Cambiais Intermediários Os dois regimes de câmbio citados acima são considerados casos extremos, na realidade, a grande maioria dos países adota um regime intermediário entre o regime fixo e flutuante. Assim, os regimes intermediários desempenham um papel importante no mundo de hoje. Segue abaixo uma sintética explicação sobre os principais tipos de regimes cambiais intermediários. (i) Câmbio Fixo Ajustável: consiste em sistema de câmbio fixo que permitia ajustamentos na taxa de câmbio com o objetivo de corrigir desequilíbrios fundamentais no balanço de pagamento. Esse sistema consistia o mecanismo de ajustamento de Bretton Woods e se mostrou eficaz por um período de 27 anos (1946-73). (ii) Sistema de Minidesvalorizações: as mudanças na taxa de câmbio são feitas como freqüência, obedecendo a uma determinada regra explicita ou implícita. Esse sistema foi muito usado em países que observaram altas taxas de inflação, consistia em um 11 método de manutenção da convivência de preços altos com a sustentação da competitividade de produção doméstica com relação ao resto do mundo. Durante boa parte do século passado, o Brasil utilizou esse regime cambial para a condução da política cambial. O sistema de pequenas desvalorizações periódicas apóia se em dois tipos de política cambial. O primeiro corresponde às minidesvalorizações passivas, as autoridades monetárias intervem na taxa de câmbio com o objetivo de recuperar a inflação passada. O objetivo dessa política é apenas acomodar o câmbio de forma a permitir uma convivência pacífica da economia com a inflação alta. O segundo caso corresponde ao sistema de minidesvalorizações ativas, sendo que as variações da taxa de câmbio se dão por magnitudes constantes e desvinculadas da inflação passada. Essa política usa a taxa de câmbio como uma âncora para a estabilização progressiva dos preços domésticos (Carvalho, 2000). (iii) Sistema de Bandas de Flutuação: é caracterizado como um sistema misto entre os dois extremos. Esse regime é formado por uma paridade central e por um intervalo de flutuação. O mercado determina a taxa de câmbio dentro do intervalo de flutuação, e a autoridade monetária intervem quando a taxa de câmbio se aproxima das extremidades da banda. (iv) Flutuação Administrada: conhecida também como flutuação suja. Neste sistema a autoridade monetária intervem na tentativa de evitar uma volatilidade excessiva da taxa de câmbio, reduzindo os impactos da variação cambial na economia (Salvatore, 1998). 1.5. Lei do Preço Único e Paridade do Poder de Compra (PPC) A lei do preço único estabelece que em mercados concorrenciais, livres de custos de transporte e barreiras oficiais ao comércio, bens idênticos, vendidos em paises diferentes, devem apresentar o mesmo preço quando expressos em termos de uma mesma moeda. Isto significa que quando o comércio é aberto e não dispendioso, bens idênticos devem ser comercializados aos mesmos preços relativos, independente de onde sejam vendidos. Essa 12 hipótese é uma das bases de sustentação da teoria do comércio. Assim, a Lei do preço único pode ser resumido a seguinte fórmula: pi = Epi* (1.1) Na fórmula (1.1), pi e pi* representam respectivamente o preço do bem i em moeda corrente nacional e estrangeira, sendo “E” a taxa de câmbio nominal entre os países. Segundo Goldberg e Knetter (1997), se a lei do preço único for válida para algum produto, esse produto faz parte de um mercado integrado mundialmente, isto é, a localização dos compradores e vendedores é irrelevante para os termos da transação. E mais, se a lei do preço único for válida para todos os produtos comercializados entre dois países, tem-se então a teoria da paridade do poder de compra (PPC), que nos permite reescrever a fórmula (1.1) do seguinte modo: Pi = E.Pi* (1.2) Onde Pi e Pi* representam respectivamente, o nível de preços doméstico e estrangeiro. Assim, PPC estabelece que a taxa de câmbio de equilíbrio entre duas moedas é igual à relação entre os níveis de preços nas duas nações. Contudo, mesmo que a lei do preço único não se mantenha para cada mercadoria individualmente, as forças econômicas por trás da PPC irão auxiliar na equalização do poder de compra da moeda em todos os países, assim, os preços e as taxas de câmbio não irão fugir muito à relação prevista pela PPC. Desta forma, a teoria da PPC estabelece que uma queda no poder de compra interno de uma moeda está associado a uma depreciação proporcional no mercado de câmbio, e um aumento do poder de compra está associado a uma apreciação no mercado de câmbio (Krugman e Obstfeld, 2000). A PPC acima mencionada refere-se a paridade do poder de compra absoluta, podendo ser esta enganosa por várias razões: (i) a PPC fornece a taxa de câmbio que equilibra o comércio de mercadorias e serviços, não levando em consideração os movimentos referentes à conta de capital; (ii) essa versão da teoria sequer fornece a taxa de câmbio que equilibra o comércio de mercadorias e serviços, isto devido à existência de 13 diversas mercadorias e serviços não-comercializados5; (iii) a existência de custos de transportes a barreiras aos comércio (impostos, subsídios e quotas) também destorcem a PPC; (iv) por fim, a diferença de produtividade e concorrência entre os países são outros fatores que levam a PPC a se desviar de seu valor de equilíbrio. Assim, “o comércio internacional tende a igualar os preços dos bens e produtos comerciados entre as nações, mas não os preços dos bens e serviços não-comerciados” (Salvatore, 1998). Na tentativa de superar as limitações da PPC absoluta, criou-se a PPC relativa. Aperfeiçoada, a PPC relativa postula que a mudança da taxa de câmbio ao longo de um período de tempo deve ser proporcional à mudança relativa dos níveis de preços entre as duas nações, mantendo inalterada a taxa de câmbio real entre ambos. Assim, segundo a PPC relativa, uma variação cambial teria todo o seu impacto transferido para o nível de preços doméstico, caracterizando um grau de pass-through completo na economia. Mesmo com as mudanças, a PPC relativa continuou apresentando um dos problemas da PPC absoluta, novamente a questão dos produtos não-comercializados. Os produtos não-comercializados possuem uma presença relativamente elevada nos países desenvolvidos6, sendo incluídos tanto as mercadorias e serviços comercializados e como os não-comercializados nos índices gerais de preços. Assim, a teoria da PPC relativa tenderá a prever taxas de câmbio superestimadas para os países desenvolvidos e subestimadas para países em desenvolvimento, sendo as distorções mais acentuadas quanto maiores as diferenças nos níveis de desenvolvimento dos países (Krugman e Obstfeld, 2000). Além dos problemas envolvendo os produtos não comercializáveis, a PPC também apresenta problemas quanto às barreiras comerciais, como os custos de transporte e as restrições ao comércio. Outros fatores que ainda podem influenciar a PPC são as práticas monopolistas ou oligopolistas nos mercados de bens, e os dados sobre inflação dos países, apoiados em diferentes cestas de bens. Freqüentemente a teoria da paridade do poder de compra é submetida a testes empíricos a respeito de sua validade. Dornbusch (1987-B) concluiu que a teoria da PPC 5 Bens e serviços não-comercializáveis: cimento e tijolos, devido ao elevado custo de transporte; serviços como os de mecânicos, cabeleireiros, consultórios médicos e muitos outros. 6 Um corte de cabelo pode ser US$10 nos Estados Unidos, porém de apenas US$1 no Brasil. (Salvatore, pg.272, 1997) 14 entrou em colapso durante a década de 80, resultado também obtido por Levich (1983). Devido aos problemas relacionados a PPC, existe um certo receio com relação ao seu uso. Como mencionado acima, diante de uma depreciação cambial, a lei do preço único é responsável pela elevação dos preços dos tradables domésticos. Com a depreciação, os produtos internos tornaram-se relativamente mais baratos no mercado internacional, com isso, haverá uma maior demanda externa por esses produtos. Para compensar esse aumento da demanda, os preços dos tradables irão subir em moeda local, restabelecendo a PPC, e conseqüentemente a taxa de câmbio real de equilíbrio entre as nações. A PPC é uma teoria de taxa de câmbio de longo prazo, assim, a taxa de câmbio e os níveis de preços interno e externo deveriam apresentar um ajustamento nos mercados no longo prazo. Isto aconteceria se as variações cambiais fossem completamente transmitidas para os níveis de preço interno e externo. Com isso, toda variação no câmbio seria refletida no nível de preço interno, o que caracterizaria um pass-through igual a 1. Porém, devido à rigidez e as imperfeições existentes na formação dos preços no curto prazo, a PPC se desvia ainda mais de sua taxa de equilíbrio, o que acarreta em um pass-through inferior a 1 no curto prazo. Outro fator importante para o não ajustamento no curto prazo é o regime de taxa de câmbio. Segundo Mussa (1986), as taxas de câmbio flutuantes levam a desvios maiores e mais freqüentes na PPC relativa no curto prazo se comparado com o regime de câmbio fixo. 1.6. Imperfeições de Mercado Como observado acima, a lei o preço único nos garante que as mudanças nas taxas de câmbio serão transmitidas completamente para os preços. Contudo, no mundo real, não é possível determinar com absoluta certeza os impactos de mudanças na taxa de câmbio sobre o preço dos produtos importados e exportáveis. Isto ocorre devido às imperfeições dos mercados, como as estruturas de mercado, que são responsáveis pela rigidez de preços, salários e custos no curto prazo, retardando o ajustamento dos preços no longo prazo (Carlton, 1986). Assim, devido a essas imperfeições, pode-se observar um pass-through incompleto (menor que a variação cambial) para os preços (Gron e Swenson, 1996). 15 Nesta seção serão expostas as principais teorias responsáveis pelo pass-through incompleto nas economias. 1.7. Concorrência Imperfeita Na situação de concorrência perfeita, há um grande número de firmas, que devido ao seu tamanho e tipo de produto (produtos homogêneos), são incapazes de determinar os preços do mercado, considerando os como dados. Diferentemente da concorrência perfeita, as firmas em concorrência imperfeita têm consciência de que podem influenciar a formação dos preços de seus produtos, e que um acréscimo nas vendas é possível somente por meio da redução de preços. Como observado por Krugman e Obstfeld (2000), “a concorrência imperfeita é característica tanto de indústrias nas quais há alguns poucos e grandes produtores como das indústrias nas quais o produto de cada produtor é visto pelos consumidores como intensamente diferenciado dos produtos dos concorrentes” (p.128). Assim, nesta situação, cada firma considera-se como uma formadora de preços, escolhendo o preço de seu produto em vez de ser tomadora de preço. Nos anos 80, o governo tentou interromper o processo inflacionário por meio de congelamentos de preços, sendo o seu principal foco os produtos de setores oligopolizados. Como mencionado, esses setores têm a capacidade de reajustar os seus preços acima dos custos, sendo considerados um dos fatores responsáveis pela manutenção da inflação. Como observado por Coutinho (1987), esse tipo de congelamento não quebra as expectativas inflacionárias dos agentes, não contribuindo para o combate à inflação. Em modelos de concorrência imperfeita, as firmas possuem um certo poder de mercado na determinação dos preços de seus produtos, isto significa dizer que as firmas são capazes de influenciar também a transmissão de pass-through para os seus produtos. Assim, mudanças na taxa de câmbio têm diferentes impactos sobre os preços dos produtos, sendo a organização do mercado desse produto um importante fator para o pass-through. Nesta seção, serão expostas às estruturas de mercado, na qual as firmas possuem um certo poder na formação dos preços. A primeira estrutura a ser estudada é o Monopólio, em seguida será o Oligopólio. 16 1.7.1. Monopólio Acontece quando há uma única firma ofertante no mercado, e por isso ela pode produzir em qualquer ponto da curva de demanda. Com isso, o monopolista reconhece sua influência sobre o preço de mercado, escolhendo o nível de preço e de produção que maximiza seu lucro. Na escolha do ponto ótimo de produção, o comportamento da demanda dos consumidores irá restringir a escolha do monopolista no que tange ao preço e à quantidade. A razão para o monopólio existir é porque outras firmas podem achar não lucrativo ou impossível de entrar no mercado. O mercado monopolista é caracterizado por apresentar barreiras a entrada de novas firmas, barreiras essas que são a fonte de todo poder do monopolista. Há dois tipos principais de barreiras: as barreiras tecnológicas e as barreiras legais. Por outro lado, setores tidos como fundamentais (saneamento básico, bombeiro, polícia), exigem ainda uma participação do governo no seu gerenciamento do mercado, seja por meio de regulação ou pela participação de uma empresa estatal. Muitos monopólios são criados não pela condição econômica, mas sim por uma questão legal. Um bom exemplo seria a Petrobrás, cujo monopólio de exploração do petróleo no Brasil era devido ao direito exclusivo concedido pelo governo federal à empresa. Para uma firma monopolista, a condição para a maximização dos lucros é a seguinte: Max r(y) – c(y) (1.3) Y Onde r(y): é a receita da firma, em função da quantidade produzida, e c(y): é custo da firma, também em função da quantidade produzida. Então, a condição maximização da produção será no ponto onde: RMg7 = CMg (1.4) 7 RMg (y): é a receita marginal em função da produção (y). !r(y) / !y = RMg (y). CMg(y): custo marginal é a derivada da função de custo com relação à quantidade produzida. !c(y) / !y = CMg(y). 17 Sendo RMg a receita marginal, e CMg o custo marginal. Além de já operar num nível ineficiente de produção, pois o seu preço é maior do que o preço de mercado (concorrência perfeita), o monopolista, dependendo do mercado, é capaz de fazer uma discriminação de preços. Esta discriminação pode ocorrer em três graus: o primeiro grau significa que o monopolista vende diferentes unidades de produto por diferentes preços, podendo estes diferir de pessoa para pessoa. Na discriminação de preço de segundo grau o monopolista vende diferentes unidades de produto por diferentes preços, mas cada pessoa que compra a mesma quantidade de bens paga o mesmo preço. Assim, os preços diferem no que tange as unidades do bem, mas não no que diz respeito às pessoas. A discriminação de terceiro grau ocorre quando o monopolista vende seus produtos para pessoas diferentes por diferentes preços, mas cada unidade vendida à determinada pessoa ele o faz ao mesmo preço (Nicholson, 1998). Quando ocorre uma discriminação de preços de terceiro grau, segundo Gron e Swenson (1996) isto pode estar acontecendo no caso de um mercado segmentado. Segundo Goldberg e Knetter (1997), um mercado é segmentado se a localização dos compradores e vendedores influenciar os termos da transação de forma substancial. Isto significa que as empresas vendem o mesmo produto por diferentes preços para diferentes destinos. Um bom exemplo de mercado segmentado pode ser observado em Knetter (1989). Em seu trabalho, o autor observou a existência de segmentação de mercado no setor automobilístico dos Estados Unidos e Alemanha. Os consumidores nesses países pagavam preços diferentes para o mesmo Toyota Celicas fabricado no Japão. Para Fischer (1989), o monopólio é a estrutura de mercado que possibilita o maior pass-through para os preços e conseqüentemente para as taxas de inflação. Outros autores como Blanchard e Kiyotaki (1987) e Svensson (1996) também mostraram a relação entre modelos de mercados monopolistas e os ajustamentos de preços na economia. 18 1.7.2. Oligopólio A estrutura de mercado do monopólio citado acima consiste em um caso extremo. A grande parte das firmas do mundo situam se na estrutura de mercado conhecida como oligopólio. Nessa estrutura, há um grande número de concorrentes no mercado, mas, não o bastante a ponto de desconsiderarmos as suas influências na formação dos preços. Num ambiente oligopolista existem várias formas de uma empresa se comportar, o que nos interessa no momento são as interações estratégicas feitas pelas empresas. Nos oligopólios as políticas de preço das firmas são interdependentes, ao determinar o seu preço, as firmas irão considerar não apenas as respostas dos consumidores, mas também as respostas esperadas dos concorrentes. Assim, de acordo com a estrutura de produção da empresa, ela pode se tornar em um líder ou seguidora de quantidade (Stackelberg) ou um líder ou seguidora de preço (Bertrand) (Nicholson, 1998). Um caso especial de oligopólio é a concorrência monopolística. Nessa estrutura existem duas suposições básicas com relação à interdependência dos preços. A primeira considera que cada firma é apta a diferenciar o seu produto com relação ao dos seus rivais, o que causa uma pequena diferença de preço aos produtos. Ao diferenciar os seus produtos cada firma está isolada de alguma forma da concorrência. A segunda suposição é que cada firma assume que os preços cobrados por seus rivais são dados, isto significa que a firma ignora o impacto de seu preço sobre os preços das outras firmas (Krugman e Obstfeld, 2000). Na estrutura oligopolista é muito freqüente o uso do modelo de Cournot, que postula que cada empresa tem de prever a escolha de produção da outra. Com base nessa previsão, cada empresa escolherá um nível de produção que maximize seu próprio lucro. Existe ainda a interação conhecida como conluio ou cartel. No conluio, as firmas não mais operam independente, a quantidade produzida é determinada de forma conjunta. Com isso, as firmas irão escolher o nível de produção que maximiza os lucros totais da industria, dividindo os lucros entre si. De acordo com as teorias de concorrência imperfeita, em um mercado não competitivo, as firmas têm um certo poder nos ajustamentos de preços, isto foi comprovado em um trabalho por Arrow (1959). Em trabalhos mais recentes, Erceg (1997) e Yun (1996), 19 explicam que, diante de uma depreciação cambial, o aumento dos preços dos insumos importados, em moeda local, são repassados para os preços finais, sendo esse aumento maior quanto maior for a expectativa e a persistência da depreciação. Isto se explica porque, se uma depreciação cambial for apenas momentânea, fruto de um desequilíbrio no mercado monetário, as empresas não irão repassar, na mesma magnitude, os efeitos da depreciação sobre os preços dos insumos. 1.8. O Pass-through em Uma Economia Real Como visto acima, existem dois mecanismos de transmissão das variações cambiais para o preço dos produtos e conseqüentemente para as taxas de inflação interna. O primeiro seria via lei do preço único e PPC, que afirma que toda variação na taxa de câmbio deve ser repassada para os preços dos produtos, e desses para inflação. Não se pode esquecer que a lei do preço único e PPC são referentes a taxas de câmbio de longo prazo. Assim, no longo prazo, variações cambiais serão transmitidas completamente para os preços, o que caracteriza um pass-through completo na economia. Contudo, nas economias modernas, existem vários fatores que retardam ou intensificam a transmissão das variações cambiais para os preços. No curto prazo, fatores como as estruturas de mercado desempenham um papel importante na formação dos preços. Quanto mais a estrutura de mercado do país se aproximar de uma situação de concorrência imperfeita, maior será o poder que as firmas terão na formação e no repasse das variações cambiais para os preços dos seus produtos. Devido às imperfeições de mercado, o passthrough ocorre de forma incompleta, isto é, as variações nos preços dos produtos são menores que a variação na taxa de câmbio (Krugman, 1987). Como observado por Goldfajn e Werlang (2000), o pass-through aumenta ao longo do período, isto para um limite de 12 meses. Assim, como o passar dos meses, o efeito pass-through tende a se ampliar na economia, o que estaria sinalizando para uma aproximação com o pass-through completo, ou seja, aquele relacionado à lei do preço único e PPC. 20 Capítulo 2 – Inflação e Câmbio: Resenha Histórica Como observado no capítulo anterior, a taxa de câmbio se tornou uma importante variável na determinação do nível de preço doméstico. No capítulo 2, será feito primeiro uma breve análise sobre os regimes cambiais utilizados no Brasil entre 1980 e 2002, em seguida uma resenha teórica e histórica sobre a inflação e as políticas cambiais no período estudado, traçando paralelos entre essas variáveis e a sua relevância com relação ao marco teórico desse trabalho. 2.1. Os Regimes Cambiais no Brasil “Os dois principais objetivos de uma política cambial consistente são permitir o maior grau de liberdade possível aos agentes econômicos junto com a maior taxa de estabilidade para a economia” (Zini, 1989, p.114). Para isso, independentemente do regime cambial vigente no país, essa política “pode ser conduzida de acordo com dois princípios alternativos: o enfoque da âncora nominal e o enfoque das metas reais” (Souza, 1993, p.9). Assim, dependendo do momento, pode-se observar um caráter dúbio da política cambial, ou enfatiza a competitividade internacional, fazendo uso de metas reais, ou objetiva a ancoragem de preços pela fixação do câmbio nominal. O Brasil adotou durante o período de 1980 até em março de 1990 o regime de câmbio fixo, caracterizado pela baixa conversibilidade da moeda nacional, isto é, a liberdade que os agentes residentes num país têm para adquirir moeda estrangeira (Barboza, 1997). Durante esse período, o país utilizou constantemente a política de minidesvalorizações, que são pequenos ajustes da taxa de câmbio nominal em curtos intervalos de tempo, no entanto, em alguns momentos o país também fez uso da política de maximização com o objetivo de corrigir desequilíbrios estruturais. Seguindo as tendências globais de liberalização e de desregulamentação dos mercados, associado ainda ao crescimento da preocupação com a abertura comercial e financeira, o Brasil instaurou o regime de câmbio flutuante em 1990. Na realidade, o Brasil implementou um câmbio flutuante administrado, também conhecido como câmbio sujo. Contudo, como observado por Simonsen (1995), a política de minidesvalorizações se 21 manteve até junho de 1994, quando se dá o reinício da utilização do câmbio para a ancoragem dos preços da economia. Em julho de 1994 entra em cena o Plano Real, que tenta utilizar novamente o câmbio para reverter o processo inflacionário brasileiro. De 1994 até início de 1999, o país retornou ao regime de câmbio “fixo”, sendo as desvalorizações feitas via bandas cambiais. Em 1999, com o colapso do regime de âncora cambial, o país retorna ao regime de câmbio flutuante, estando esse vigorando até os dias atuais. O câmbio flutuante tem se mostrado excessivamente volátil desde a sua instauração. Nos anos subseqüentes, apenas em 2000 a taxa de câmbio não apresentou uma variação significativa (ver tabela A.7). A política utilizada pela autoridade monetária para reduzir essa variação é a elevada taxa de juros, que também é utilizada como ferramenta de controle da inflação. Atualmente, a câmbio amortece os impactos dos choques interno e externo, por isso existe o medo do retorno da inflação após períodos de variações exageradas do câmbio. 2.2. A Natureza da Inflação Brasileira No período de descontrole inflacionário (1980-1994), os debates entre as diferentes correntes teóricas sobre as causas da inflação se acirravam nos meios acadêmicos. Existem duas principais visões para a explicação do processo inflacionário brasileiro: a visão ortodoxa e a neo-estruturalista. Para a primeira, o processo de inflação é composto por dois componentes: o exógeno, causado por choques inflacionários que mudam os preços relativos, gerando impulsos inflacionários ou deflacionários; e o endógeno, chamado de tendência inflacionária, é o resíduo de inflação não explicado pelos choques (Barboza, 1997). Para os ortodoxos, o comportamento tendencial seria função das expectativas, sejam elas adaptativas ou racionais. Os agentes econômicos incorporam a evolução dos fatores causadores da expansão monetária, sendo esse elemento fundamental no processo de expansão do nível de preços. Tais expectativas fariam com que os agentes econômicos agissem de forma defensiva, protegendo-se de perdas de renda decorrentes do processo. 22 Para eles, o combate à inflação deve ocorrer do seguinte modo: contenção dos déficits de todos os níveis de governo e controle da expansão dos meios de pagamentos; e conquista dos agentes econômicos com políticas de austeridade estritamente cumpridas. Em suma, o grande problema da inflação para eles era o déficit fiscal, que levava o governo a expandir os meios de pagamentos, como forma de financiar seu déficit, provocando um excesso dos meios de pagamento. De acordo com a teoria quantitativa da moeda (TQM), uma expansão de moeda leva a um aumento na mesma proporção do nível de preços. Contudo, as políticas antiinflacionárias ortodoxas não se mostraram capazes de conter a inflação mesmo em períodos de forte contenção monetária e fiscal, provocando a situação conhecida como estagflação (1981-1984). O fracasso dessa política se deve a expectativa dos agentes econômicos de mais inflação futura, o que os levavam a reajustar os preços como uma forma de se defender da inflação. Para os neo-estruturalistas, a origem da inflação é vista com decorrência do poder do monopólio, de sindicatos e do Estado (Baer, 2003). As companhias em concorrência não perfeita têm o poder de praticar a remarcação de preços, utilizando uma margem fixa superior aos custos. Assim, mesmo em situações de políticas monetária e fiscal restritivas, a reação das empresas será ainda mais pronunciada em termos de aumentos de preços e recomposição das margens de lucro. Para Coutinho (1987), a recomposição das margens de lucro é um processo anticíclico, ou seja, aumenta em períodos recessivos e diminui em períodos de crescimento. O resultado desse processo informal de indexação era o direcionamento do aumento dos custos para os preços. Com isso, cria-se um processo inflacionário de luta por participação na renda entre os diversos setores econômicos, sendo que aqueles setores político e economicamente mais fortes terão maior participação na renda. Segundo Pereira e Nakano (1984), esse processo não acelera a inflação, mas contribui para a manutenção do seu nível. Uma outra corrente neo-estruturalista é aquela que enfatiza o aspecto inercial da inflação brasileira. Para os inercialistas, a tendência inflacionária seria explicada “em termos de inércia inflacionária que resulta de um padrão rígido de comportamento dos agentes econômicos em economias cronicamente inflacionadas” (Lopes, 1986, p.122). Nesse contexto, segundo ele: 23 “os agentes desenvolvem um comportamento fortemente defensivo na formação de preços, o qual em condições normais consiste na tentativa de recompor o pico anterior de renda real no momento de cada reajuste periódico de preços. Quando todos os agentes adotam esta estratégia de recomposição periódica dos picos, a taxa de inflação existente no sistema tende a se perpetuar : a tendência inflacionária torna-se igual à inflação passada” (p.124) Com isso, a variação dos preços relativos tende a se perpetuar na economia, realimentando o processo inflacionário. Como Pereira e Nakano (1984), Lopes (1984) defende um choque heterodoxo para controlar a inflação. Para ele, esse choque consistiria em um congelamento total de preços e salários acompanhado de políticas monetárias e fiscais passivas para a quebra da inércia inflacionária. O congelamento temporário seria seguido por uma descompressão gradual do controle dos preços, e na parte final do ajustamento, seriam permitidos aumentos moderados a fim de corrigir as distorções surgidas com o congelamento (Baer, 2003). No período de 1980-85, o combate à inflação seguiu a cartilha da teoria ortodoxa, influenciada pelos pacotes do FMI, o foco do combate era controlar o déficit fiscal e reduzir absorção interna, porém, essas políticas não tiveram grandes efeitos no controle da inflação. A partir de 1986, ganha força a corrente inercialista, responsável pela criação do Plano Cruzado, mas, como será posteriormente analisado, também não conseguiu controlar de forma duradoura a inflação. Até 1990, outros planos intitulados heterodoxos foram criados, mas como o Plano Cruzado, não obtiveram resultados significativos contra a inflação. A partir de 1990 até a implementação das bases do Plano Real, houve uma mescla entre o receituário ortodoxo e heterodoxo de combate à inflação. Segundo Resende (1989), a complementaridade entre as duas visões era válida, pois ambas tinham o interesse de controlar a inflação. No geral, o fracasso dos planos econômicos da década de 80 e início de 90, se deve ao fato de que cada programa de estabilização atacou apenas um lado do problema, ou apenas o problema do desequilíbrio fiscal ou da inércia inflacionária. Como já observado por Simonsen (1985), o problema da inflação brasileira era o desequilíbrio fiscal e a inércia inflacionária, e para definitivo controle da inflação, deveria se atacar esses dois problemas de forma simultânea. Isto foi definitivamente realizado em 1994, com a criação do Plano Real, que conseguiu controlar e manter as taxas de inflação em patamares baixos. 24 O Plano Real, como será visto a frente, é um plano cujo objetivo principal era atacar o componente inercial e o desequilíbrio fiscal, combatendo os dois problemas crônicos do processo inflacionário. Ainda foi determinada uma reforma monetária, tentando controlar a ampla oferta de moeda. O uso da taxa de câmbio como âncora para os preços foi utilizada seguindo o exemplo de outros planos de estabilização pelo mundo. Um fato que beneficiou essa medida foi à abertura econômica iniciada em 1990, que possibilitou um maior ingresso de produtos importados, aumentando a concorrência e reduzindo o ritmo de aumento dos preços. 2.3. Comportamento da Inflação e Câmbio: Período 1980 – 2002 Antecedentes Para compreendermos melhor o processo inflacionário dos anos 80, temos primeiro de explicar quais foram os responsáveis pelo ressurgimento da inflação no Brasil ainda nos anos 70 (ver tabela A.1). “A maioria dos analistas da economia brasileira das décadas de 1970 e 1980 indicam uma série de choques como a causa do ressurgimento da inflação” (Baer, 2003, p.145). Choques como a primeira e a segunda crise do petróleo crise do petróleo respectivamente em 1973 e 1979, aliados ao aumento das taxa de juros internacionais, causaram dificuldades à obtenção de equilíbrios interno e externo para grande parte dos países do mundo. Nesse contexto, o Brasil não era exceção. Com uma política expansionista desastrosa e resultados poucos satisfatórios com a política de maxidesvalorização do câmbio, a comunidade financeira internacional perdia a confiança no plano de estabilização do ministro Delfin Neto (Carneiro e Modiano, 1992). O país começou a enfrentar dificuldades para renovação de empréstimos, fruto de uma escassez de crédito no mercado internacional, aumentando o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos. Os atrasos quanto à maturação dos projetos ligados ao II PND se tornaram empecilhos à obtenção do equilíbrio estratégico de longo prazo. Por último, o fracasso da política de combate à inflação culminou na perda de confiança no gerenciamento da economia no curto prazo. 25 O Período de 1980 – 1993 De 1980 a agosto 1982, a política cambial esteve marcada por um compasso de espera, ora ocorriam desvalorizações reais para estimular as exportações, ora deixavam o câmbio apreciar para entrar recursos externos e fechar o balanço de pagamentos (Barboza, 1997). No entanto, durante boa parte desse período, o câmbio foi fixado em um patamar abaixo da taxa de equilíbrio, isto é, a taxa de câmbio estava sobrevalorizada. Quando o governo optava por desvalorizações no câmbio, essas ocorriam em uma proporção menor que a inflação. Na medida em que a inflação era maior que a desvalorização, as importações ficavam relativamente mais baratas devido à moeda cada vez mais supervalorizada, o que iria amortecer a inflação e, conseqüentemente, obrigar a indústria interna a racionalizar diante da concorrência estrangeira (Baer, 2003). Com isso, a vantagem conseguida com a maxidesvalorização de 1979, manutenção da competitividade dos produtos nacionais no exterior, foi perdida ao longo de 1980 devido a essa política. Além dos choques externos, os choques internos também desempenharam um papel importante no ressurgimento da inflação. As maxidesvalorizações de 1979 e 1983, juntamente com reveses naturais como secas e enchentes realimentaram o processo inflacionário. Existiam dois tipos básicos de propagação da inflação na economia brasileira. O primeiro mecanismo era “a estrutura oligopolista da grande parte da indústria brasileira, e a atitude permissiva do órgão controlador de preços do Brasil facilitaram o repasse ao consumidor dos aumentos de custos ocasionados por quaisquer choques de oferta” (Baer, 2003, p.150-151). O grau de concentração das industrias brasileiras e o seu poder de influenciar os preços de mercado foram um importante mecanismo de propagação da inflação no Brasil nos anos 80. O segundo mecanismo consistia em garantias do governo para perdas ocorridas devido à inflação, destacando entre esses a indexação de instrumentos financeiros, a provisão de crédito subsidiado à agricultura e o uso de recursos especiais extraorçamentários, que afetou o nível de preços através da geração de dinheiro novo para alimentar o sistema em geral (Baer, 2003). A indexação salarial criada em 1979 não 26 desempenhou, ao menos nos primeiros anos em questão, um forte agente propagador de inflação. A indexação de instrumentos financeiros foi introduzida na era pós-1964 para evitar distorções causadas pela inflação, isto possibilitava ao governo financiar os seus déficits de maneira não-inflacionária e estimulando ainda a poupança. Contudo, na década 80 houve um aumento na luta pela participação e manutenção da renda, criaram-se formas adicionais de indexação, tornando a economia cada vez mais indexada, sendo esse mecanismo de propagação cada vez mais dominante (Barbosa, 1983). “Com os choques externos de década de 70, a indexação financeira se tornou uma força inflacionária duplicada” (Baer, 2003, p.159). As políticas monetárias implementadas entre 1981 a 1983, tiveram um efeito recessivo na economia (ver tabela A.2) e ainda foram incapazes de conter a inflação, que se acelerou no período (ver tabela 2.1). O resultado positivo dessa recessão foi conseguir reverter à posição no balanço de pagamentos do país (ver tabela A.3). Em novembro de 1982, o país recorre ao FMI com intuito de adotar as suas políticas de controle da inflação. Contudo, essas políticas de estabilização mostraram-se pouco eficazes em uma economia altamente indexada. Em fevereiro de 1983, ocorreu uma nova maxidesvalorização do câmbio, seguida de minidesvalorizações até 1985, ajustando a taxa de câmbio de acordo com a inflação interna, nesse período, a política cambial objetiva basicamente o ajustamento externo. A maxidesvalorização de 1983 deu um novo impulso ao processo inflacionário, o que forçava novas desvalorizações (minidesvalorizações) cambiais na tentativa de manutenção da competitividade das exportações. “Nesse esforço de ajustamento externo, o país assume, como suas desvalorizações reais de câmbio e eventuais maxidesvalorizações, não só a perpetuação da inflação como também sua aceleração” (Barboza, 1997, p. 86). Os efeitos das maxidesvalorizações foram ainda ampliados devido ao poder das indústrias oligopolistas de repassar os aumentos de seus custos aos consumidores (Baer, 2003). Outro fator responsável pela aceleração da inflação em 1983 foi os reveses climáticos, as secas e as enchentes daquele ano provocaram quebras de safra e conseqüentemente aumento dos produtos agrícolas (Carneiro e Modiano, 1992). 27 Tabela 2.1: Inflação Mensal (IPCA) – 1980-1985 Taxa Mensal de Inflação - IPCA (% a.m.) Mês 1980 1981 1982 1983 1984 1985 Janeiro 6,62 6,84 6,97 8,64 9,67 11,76 Fevereiro 4,62 6,40 6,64 7,86 9,50 10,87 Março 6,04 4,97 5,71 7,34 8,94 10,16 Abril 5,29 6,46 5,89 6,58 9,54 8,20 Maio 5,70 5,56 6,66 6,48 9,05 7,20 Junho 5,31 5,52 7,10 9,88 10,08 8,49 Julho 5,55 6,26 6,36 10,08 9,72 10,31 Agosto 4,95 5,50 5,97 9,11 9,35 12,05 Setembro 4,23 5,26 5,08 10,30 11,75 11,12 Outubro 9,48 5,08 4,44 8,87 10,44 10,62 Novembro 6,67 5,27 5,29 7,38 10,53 13,97 Dezembro 6,61 5,93 7,81 8,68 11,98 15,07 Taxa Anual 99,25 95,62 104,80 164,01 215,26 242,23 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 Com a dificuldade da implementação das políticas ortodoxas para o controle da inflação, o governo optou em adotar um plano heterodoxo de combate à inflação, já que a inflação dava sinais de estar fugindo ao controle do governo logo no início do ano. Em 28 de fevereiro de 1986 o governo anunciou o Plano Cruzado, que visava atacar os processos inerciais dinâmicos da indexação salarial e financeira, da taxa de câmbio, regulada por minidesvalorizações, e da formação das expectativas dos agentes. Segundo Lopes (1984), existe uma relação entre a fixação de salários e a inflação. Para ele, a inflação poderia se perpetuar caso a mão de obra conseguisse recuperar ou superar o prévio rendimento máximo real em cada ajuste de salário (Lopes, 1984). Desta forma, as parcelas médias da renda do capital e do trabalho seriam consideradas praticamente inalteradas de um período salarial para o outro. Assim, “à medida que os trabalhadores recuperam o pico de seu poder de compra no início de cada período de negociação, os preços precisam subir para restaurar a estrutura de participação relativa do período precedente, derrubando, desta forma, o poder aquisitivo do trabalhador durante o transcorrer de cada período” (Baer, 2003, p.169). Em outras palavras, quanto maior o pico 28 de renda anterior do trabalhador, maior será o ajuste salarial que ele vai buscar no início do período subseqüente, e provavelmente maior será a pressão salarial. Como os agentes agem com o intuito de restaurar e manter os picos das rendas reais, a inflação será considerada com o resultado do “...pico de renda real desejado de cada um deles e da estrutura dos preços médios relativos. Como resultado, se todos os agentes adotarem normas estáveis de ajustes periódicos para manter inalterado os picos de renda, os preços relativos não mudaram, e a taxa de inflação permanecerá constante” (Lopes, 1984, p.169). Assim, os agentes econômicos deveriam aceitar reduções em suas ambições e nas suas rendas reais, e com isso, ver a inflação declinar de forma verdadeira e permanente. Essa queda verdadeira e permanente seria através de um choque heterodoxo, que causasse um congelamento total de preços e salários, acompanhados de políticas fiscais e monetárias passivas. Em um momento antes do congelamento, os salários e preços controlados seriam fixados de acordo com um valor real, deflacionado pelo novo nível de preços congelados, iguais aos valores presumíveis de equilíbrio (por exemplo, suas médias nos seis a doze meses precedentes) (Baer, 2003). Esse congelamento seria temporário e seguido por uma descompressão com afrouxamento gradual do controle de preços. Na última etapa, seriam permitidos aumentos de preços moderados a fim de corrigir as distorções decorrentes do congelamento. Nesse contexto, o congelamento iria interromper o processo gerador de inflação na economia. Assim, em fevereiro de 1986 foi implantado o Plano Cruzado, conhecido como o primeiro plano heterodoxo de estabilização. Na adoção do Plano Cruzado, a taxa de câmbio era favorável as exportações devido à maxidesvalorização de 1983 e a manutenção da política de minidesvalorizações. Não havia referência específica no decreto que criou o Plano Cruzado sobre a taxa de câmbio, mas o governo indicou claramente que pretendia mantê-la fixa (Baer, 2003). O câmbio seria utilizado como uma âncora, servindo para a estabilização dos preços. Contudo, essa medida não surtiu efeitos positivos sobre o controle da inflação. No mês de março a inflação sofreu uma abrupta queda, saindo do patamar de 12,72% em fevereiro para 4,77% em março e 0,78% em abril (ver tabela 2.2), sem recorrer à política ortodoxa de recessão e ou aumento do desemprego (ver tabela A.2 e A.6). Contudo, já no mesmo mês, começaram a aparecer os primeiros indícios de problemas para a manutenção do plano. Havia sinais de que a economia apresentava um excesso de 29 demanda, a distorção de preços relativos entre os produtos sob os congelamentos e aqueles de difícil controle se intensificaram durante a vigência do congelamento (Modiano, 1992). Tabela 2.2: Inflação Mensal (IPCA) – 1986-1989 Taxa Mensal de Inflação - IPCA (% a.m.) Mês 1986 1987 1988 1989 Janeiro 14,37 13,21 18,89 37,49 Fevereiro 12,72 12,64 15,70 16,78 Março 4,77 16,37 17,60 6,82 Abril 0,78 19,10 19,29 8,33 Maio 1,40 21,45 17,42 17,92 Junho 1,27 19,71 22,00 28,65 Julho 1,71 9,21 21,91 27,74 Agosto 3,55 4,87 21,59 33,71 Setembro 1,72 7,78 27,45 37,56 Outubro 1,90 11,22 25,62 39,77 Novembro 5,45 15,08 27,94 47,82 Dezembro 11,65 14,15 28,70 51,50 Taxa Anual 79,66 363,41 980,21 1972,91 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 Com o aumento do poder de compra dos salários, a queda da taxa de juros nominal e o aumento da renda disponível, devido a uma redução do imposto de renda, combinado ainda com a demanda reprimida nos anos anteriores e o congelamento de alguns preços em níveis defasados em relação a seus custos, detonaram um aumento do consumo. Nos seis primeiros meses de 1986, as vendas cresceram 22,8%8, manifestando assim os primeiros sinais de escassez de alguns produtos. Com isso, o governo dispunha de duas políticas econômicas: ou decretava o fim do congelamento de preços ou desacelerava o crescimento do produto via um rápido e severo corte na demanda agregada (Modiano, 1992). Em julho, o governo tentou implementar o “Cruzadinho”, um pacote fiscal elaborado para desaquecer o consumo, mas esse plano se mostrou ineficaz no seu objetivo. 8 Ordem e Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana. Rio de Janeiro, Campus, 1992, Cap. 13, p.362 30 De agosto a 15 de novembro, mesmo com toda a necessidade de realizar os ajustes para a manutenção do plano, a política econômica ficou paralisa. Como observado por Werner Baer (2003): “A recusa do governo em considerar qualquer realinhamento de preços provavelmente foi motivada por dois fatores : primeiro, como o congelamento passou a simbolizar o sucesso político do plano, o presidente Sarney relutava em altera-lo, pelo menos até que tivessem passado as cruciais eleições de novembro para a nova Assembléia Constituinte; segundo, porque o Plano Cruzado permitiu que os salários aumentassem automaticamente toda vez que a inflação acumulada a partir da data-base anual de cada categoria trabalhista atingisse 20%, os planejadores temiam autorizar aumentos de preços que pudessem ativar o gatilho” (p.188) As baixas taxas oficiais de inflação não refletia a inflação real da economia, devido à proliferação do ágio na economia. Em setembro, o resultado da balança comercial se alterou drasticamente (ver tabela A.3), o que levou a uma especulação acerca de uma maxidesvalorização do cruzado. Com a taxa de câmbio sobrevalorizada, as exportações foram desestimuladas, enquanto que as importações eram antecipadas, o que levou a uma maior deteriorização das contas externas nos meses posteriores (Modiano, 1992). Uma semana após as eleições de 15 de novembro, o governo anunciou o Cruzado II, um outro pacote fiscal que objetivava aumentar a arrecadação do governo, através do reajuste de alguns preços públicos e o aumento de impostos indiretos. Contudo, o resultado do Cruzado II foi um choque inflacionário na economia, culminando no fim do congelamento de preços e na elevação dos preços em todos os segmentos da economia. Houve uma rápida volta da indexação na economia, e em janeiro o gatilho salarial disparou pela primeira vez, o que intensificou a aceleração da inflação. O governo reinstituiu as minidesvalorizações cambiais ao cruzado, mas essas se mostraram incapazes de reverter à situação do setor externo. Com isso, em fevereiro de 1987 o governo decretou a suspensão do pagamento da taxa de juros da dívida externa, como uma tentativa de estancar a perde de reservas cambiais (Modiano, 1992). O governo ainda tentou controlar a inflação por meio de um pacto social, tentativa essa completamente fracassada. Em abril a 31 inflação já atingia algo próximo a 20% ao mês, o que marcava o volta do processo inflacionário ao país. Após o Plano Cruzado, os formuladores da política econômica reconheceram a importância de se controlar o déficit público a fim de atingir uma estabilização duradoura, embora isso não tenha representado a implementação de medidas drásticas de austeridade fiscal (Baer, 2003). Entre 1987 a 1989 foram implementados vários planos econômicos, mas todos se mostraram incapazes de controlar a inflação, que se acelerou no período (ver tabela 2.2). Com a adoção de planos heterodoxos de estabilização a partir de 1986, pode-se observar diferentes tratamentos para a taxa de câmbio ao longo do período. Mas uma coisa é certa, as desvalorizações ocorriam de forma descontinua, mas sempre na tentativa de manter a competitividade externa e às necessidades de ajustes no Balanço de Pagamento. Durante o Plano Cruzado o câmbio permaneceu congelado, sem a política de minidesvalorizações. Com a manutenção da taxa de câmbio fixo, a taxa de câmbio real se tornou supervalorizada no período, o que dificultava as exportações e acabou refletindo no saldo da balança comercial (ver tabela A.3). As minidesvalorizações retornam em 1987 até 1990, mas essas sempre ocorreram no sentido de recuperar atrasos cambiais, havendo a sobrevalorização do câmbio em todo o período (Barboza, 1997). Em suma, de 1986 a março de 1990, a taxa de câmbio real seguiu uma trajetória de valorização explicada tanto pela adoção de programas heterodoxos de estabilização quanto pelo fracasso no controle do processo inflacionário (Barboza, 1997). A maior valorização da taxa de câmbio real a partir de 1988 se deve a aceleração do processo inflacionário, sendo que em 1989, a beira da hiperinflação, o Balanço de Pagamento registrou o pior resultado desde 1986 (ver tabela A.3). Em março de 1990, Fernando Collor assume a presidência do Brasil. O país estava à beira da hiperinflação, a dívida pública era elevada e de vencimento de curto prazo. A dívida pública era quase totalmente monetizada, girando diariamente no overnight. Isto é, todas as manhãs os indivíduos e empresas tinham creditado em suas contas o que haviam emprestado ao governo no dia anterior pelo overnight, após examinar o que havia sido creditado, os agentes decidiam se queriam reter o dinheiro em conta para fazer face as despesas, ou caso sobrasse, esse montante era novamente emprestado ao governo. Com o 32 passar dos anos, o overnight era feito automaticamente pelos bancos, dando pouco trabalho aos detentores de contas. Quando o Collor assumiu, o M49 atingia 30% do PIB, existindo o risco permanente de crise de liquidez. Se em resposta a uma ação drástica do governo os agentes decidirem sacar todo o M4 para fazer frente à incerteza, a taxa de inflação atingiria níveis astronômicos e a economia entraria no colapso da hiperinflação. Na tentativa de evitar isso o governo adotou o Plano Collor I, determinando várias medidas. Os primeiros resultados do plano se mostraram animadores. A inflação mensal baixou de 82% no mês de março para 7,59% no mês de maio (ver tabela 2.3). Ocorreu uma extraordinária queda do M4 da ordem de 30% para 9% do PIB. Porém, a redução de liquidez na economia provocou uma queda da atividade econômica. Para o ano de 1990, o superávit primário estabelecido no plano foi atingido, contudo, isso se deve mais a medidas temporárias do que a ajustamentos nos gastos do governo (ver tabela A.4). Com a manutenção dos desequilíbrios nas contas do governo, o déficit público ressurgiu e se acelerou nos anos seguintes. Um outro problema do plano foi o câmbio, que devido aos ajustamentos inferiores a inflação a taxa de câmbio se tornou sobrevalorizada, reduzindo as receitas das exportações. Com a redução das tarifas alfandegárias (por causa do processo de abertura) e aumento do preço do petróleo (por causa da guerra do Golfo) as importações aumentaram o seu valor, o que não chegou a atingir a saldo da balança comercial graças à recessão, que comprimia as importações (Baer, 2003). A partir de julho de 1990 a inflação voltou a se acelerar (ver tabela 2.3), fazendo com que o governo adotasse um novo pacote econômico em fevereiro de 1991, conhecido como Plano Collor II. O Plano Collor II também teve vida curta, a inflação caiu no primeiro momento, mas voltou a se acelerar nos meses seguintes. A diminuição de apoio político com relação à equipe econômica culminou na demissão da então ministra de fazenda Zélia Cardoso de Melo, sendo substituída por Marcílio Marques Moreira, embaixador do Brasil nos Estados Unidos. 9 O M4 era composto por: papel moeda em poder do público, mais depósitos à vista, mais depósitos a prazo, mais depósitos de poupança, mais saldo dos títulos públicos fora da carteira do Banco Central. 33 O ministro Marcílio assumiu o cargo em maio de 1991, e retomou as políticas ortodoxas gradualistas de estabilização (Pereira, 1992). A nova equipe econômica traçou as seguintes metas para o combate à inflação: controle dos gastos públicos; redução na expansão os meios de pagamento; gradual descongelamento de preços; condução responsável da liberação dos ativos financeiros bloqueados e ainda não liberados; e por último, a implantação de uma política monetária restritiva, com forte aumento dos juros (Baer, 2003). Tabela 2.3: Inflação Mensal (IPCA) – 1990-1993 Taxa Mensal de Inflação - IPCA (% a.m.) Mês 1990 1991 1992 1993 Janeiro 67,55 20,75 25,94 30,35 Fevereiro 75,73 20,72 24,32 24,98 Março 82,39 11,92 21,40 27,26 Abril 15,52 4,99 19,93 27,75 Maio 7,59 7,43 24,86 27,69 Junho 11,75 11,19 20,21 30,07 Julho 12,92 12,41 21,83 30,72 Agosto 12,88 15,63 22,14 32,96 Setembro 14,41 15,63 24,63 35,69 Outubro 14,36 20,23 25,24 33,92 Novembro 16,81 25,21 22,49 35,56 Dezembro 18,44 23,71 25,24 36,84 Taxa Anual 1620,97 472,70 1119,10 2477,15 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 A política ortodoxa do ministro Marcílio rendeu alguns resultados positivos. A austeridade fiscal foi obtida, mas o controle monetário não, sendo as principais causas disso a liberação antecipada de ativos financeiros congelados e a expansão das reservas internacionais do país, causada pela alta nos juros domésticos (Pereira, 1992). No final do ano, o descontrole monetário, a crescente desmoralização do governo Collor e a não adoção de medidas inflacionárias rígidas causaram uma explosão das expectativas de inflação dos agentes. 34 Entre 1990 e 1993, o processo de abertura econômica se intensificou, o que culminou na mudança do regime de câmbio fixo para flutuante em 1990 (tratava-se de uma flutuação suja). Mesmo o Banco Central intervindo constantemente no mercado de câmbio, a política cambial assemelhava-se ao período anterior, pois continuava o trade-off entre estabilização interna e ajuste externo (Barboza, 1997). Com a desregulamentação e abertura financeira a taxa de câmbio começou a desempenhar uma função além de variável comercial, agora era também uma variável financeira. Com isso, a taxa de câmbio ganhou mais importância na conduta da política econômica no Brasil, sendo usada como âncora cambial no plano seguinte. Quando Itamar Franco assumiu a presidência, a inflação apresentava-se próxima de 25% ao mês e continuou subindo ao longo de 1993 (ver tabela 2.3). No período de outubro de 1992 a maio de 1993, foi marcado por uma certa indefinição com relação ao futuro do país. O novo presidente não gozava de prestígio político, a economia passava por um período de desaceleração, o processo de privatizações tinha sido suspenso e não havia consenso sobre a implementação de um ajuste fiscal (Baer, 2003). Na área econômica as turbulências se mantinham, de outubro de 1992 a maio de 1993, o presidente substituiu três ministros da fazenda. Em maio assumiu o cargo de ministro Fernando Henrique Cardoso, que priorizou o combate à inflação e a estabilização da economia. Segundo a sua equipe econômica, o principal problema para o combate à inflação no Brasil residia no ajuste fiscal. Por isso, criou-se um imposto temporário sobre as movimentações financeiras (IPMF) e tentou-se também tornar mais eficiente o recolhimento de impostos, dificultando a evasão fiscal. As medidas de controle da austeridade fiscais não pararam por aí. Em junho foi cria o “Plano de Ação Imediata”, que visava cortar os gastos do governo em todas as esferas, e resolver os problemas financeiros dos governos estaduais e municipais, o que culminou na renegociação de suas dívidas como o governo federal (Bacha, 1995). O governo reorganizou o relacionamento contábil entre Banco Central e o Tesouro Nacional, e renegociou a dívida externa com os banco estrangeiros. O governo ainda tomou medidas para impedir que bancos estaduais criassem moeda, prática muito comum nos anos 80 e início de 90. 35 Com essas medidas tomadas, o governo preparou a implementação de um novo plano econômico, que visava combater a inflação em duas frentes: a primeira iria atacar o componente crônico, o desequilíbrio estrutural do setor público; a segunda frente iria atacar a componente inercial. Esse plano econômico ficou conhecido como o Plano Real. O Período de 1994 - 2002 Em dezembro de 1993, as bases do Plano Real foram anunciadas. Tratava-se de um programa de estabilização pré-anunciado em três etapas. O primeiro estágio seria equilibrado o orçamento; no segundo, seria introduzida uma unidade de conta estável para alinhar os preços relativos mais significativos da economia; no terceiro estágio seria estabelecida a conversão dessa unidade de conta na nova moeda do país, isso a uma taxa de paridade semifixa ao dólar (Bacha, 1995). Para atingir o primeiro estágio e conseguir equilibrar o orçamento federal, foram feitos cortes na proposta orçamentária de 1994, criando com isso o Fundo Social de Emergência, que recebeu 15% de toda a receita fiscal, ajudando a realizar um ajuste fiscal temporário. Também foi decretado um aumento coletivo de impostos da ordem de 5%, por fim, ocorreram cortes nos gastos com investimentos públicos, com pessoal e em empresas estatais (Baer, 2003). O principal objetivo do primeiro estágio era demonstrar a capacidade do governo federal de executar as despesas orçadas, sem a necessidade de fazer uso da receita gerada pela inflação. Segundo Bacha (1995), “o orçamento federal era aprovado com um grande déficit, mas, como as despesas eram fixadas em termos nominais enquanto os impostos eram indexados aos níveis de preços, a inflação contribuía para fechar o hiato entre despesas e receitas” (p.8). Na segunda etapa seria introduzida uma unidade de conta estável para alinhar os preços relativos mais significativos da economia. Para isso, em março de 1994, entrou em vigor a Unidade Real de Valor (URV), com uma paridade cambial máxima de um para um com relação ao dólar. A URV permitiu a conversão dos contratos em uma unidade de conta estável, assim, os contratos da economia iriam se beneficiar da indexação, para o seu ajuste 36 seria utilizado três índices de preço amplamente conhecidos na economia, isto também manteve a paridade com o dólar. Com a URV e o alinhamento dos preços relativos, impediu-se que houvesse defasagem nos ajustamentos dos preços, com isso, evitou pressões inflacionárias adicionais. Segundo Bacha (1995), “o mecanismo de indexação defasada fornecia o chamado componente inercial de inflação brasileira, distinto do componente estrutural associa ao déficit operacional ex-ante do orçamento federal” (p. 9). O terceiro estágio entrou em vigência em julho de 1994. Nessa data, a unidade real de valor (URV) seria convertida na nova moeda do país, criando o real. O governo determinou o valor de conversão entre o cruzeiro real e o real10, como também o valor máximo da taxa de câmbio de R$ 1/ US$1. Para manter a paridade o Banco Central se comprometeu em a vender dólares toda vez que seu valor atingisse R$ 1, mas não se criou a obrigação de intervir em situações de queda na taxa (Bacha, 1995). Após a determinação da taxa de câmbio, o governo permitiu a sua livre flutuação, ocorrendo uma apreciação do real logo nos primeiros meses. O significativo influxo de capital estrangeiro, atraído pelas elevadas taxas de juros, contribuiu para que o real permanecesse elevado por muito tempo. Uma taxa de câmbio valorizada atendia a necessidade das autoridades monetárias, que a usava para manter a estabilidade de preços. Esse mecanismo ficou conhecido como âncora cambial e vigorou até 1999. Com o câmbio valorizado, os produtos importados (produtos finais e insumos intermediários) ficaram relativamente mais baratos, isto, aliado ao aumento da abertura econômica iniciada 1990, aumentou a participação de produtos estrangeiros na cesta de consumo do brasileiro. Com o aumento a concorrência entre os produtos, devido à entrada dos importados, fez com que os aumentos dos preços se tornassem mais moderados. A questão da valorização do câmbio gera algumas controvérsias. Segundo Franco (1998), a taxa de câmbio não foi fixada valorizada, devido às forças de mercado ela flutuou, só que no sentido da apreciação. Para Eliana Cardoso (2001), a crise cambial que culminou na ruptura do modelo de âncora cambial em 1999, se encaixa num conhecido padrão de países que privilegiaram a taxa de câmbio para atingir a estabilidade. 10 O valor de conversão entre o cruzeiro real (CR$) e real (R$) de R$ 1 para CR$ 2.750. 37 Os primeiros efeitos de um câmbio valorizado não demoraram a aparecer. Já em janeiro de 1995 a balança comercial registrou um déficit (ver tabela A.3), essa situação veio se prolongar até 1999. A inversão na balança comercial deveu se ao aumento das importações e da desaceleração do crescimento das exportações. Para Baer (2003), o sistema da âncora cambial não poderia se perdurar por muito tempo. Para ele, embora o mecanismo da âncora cambial tenha se mostrado eficaz no curto prazo, para o controle permanente da inflação seria necessário um ajuste fiscal mais fundamental. Os resultados iniciais do Plano Real foram muito satisfatórios (ver tabela 2.4). A inflação caiu de 47% em junho para 6,84% em julho, acentuando a sua queda ainda mais até dezembro. A inflação continuou sua trajetória de queda nos anos seguintes. De 916,46% em 1994, para 22,41% em 1995, reduzindo se ainda até 1,66% em 1998. O Plano Real conseguiu controlar aquele que era o grande problema da economia brasileira desde meados dos anos 70. Contudo, ainda se fazia necessário uma série de ajustes para controlar de forma definitiva a inflação. No final de 1994 e início de 1995 o Plano Real enfrentou sua primeira crise econômica, a crise do México. No primeiro momento, a crise mexicana provocou uma queda no fluxo de capital em direção aos países emergentes, mas, devido à ajuda econômica dos Estados Unidos e do FMI oferecida ao México, retornou a confiança em relação aos mercados emergentes, restabeleceu o fluxo de capital para o Brasil (Cardoso, 2001). Com o fim da inflação, o problema fiscal das contas do governo se tornou mais transparentes. A redução do superávit primário nos anos seguintes a implementação do real (ver tabela A.4), mostra a dificuldade do governo em reduzir seus gastos. As dificuldades de aprovação das reformas administrativa, tributária e da previdência contribuíram para o agravamento do desequilíbrio fiscal. Com o tempo, o aperto fiscal foi sendo afrouxado, em parte, devido à pressão do Congresso, que se mostrou bastante relutante em concordar com uma reforma fiscal radical, que restringisse a autonomia fiscal dos estados e municípios ou afetasse desfavoravelmente as condições de emprego no setor público (Monteiro, 1997). Somente após a crise de 1998 e ao pacote de ajustes imposto pelo FMI, é que o Congresso fez um progresso significativo para a aprovação das reformas fiscais mais essenciais. 38 O financiamento dos déficits do setor público foi possível devido à manutenção de taxas de juros elevadas, o que elevou ainda mais os custos de financiamento da dívida (Baer, 2003). A dívida pública aumentou de forma considerável após a implantação do real (ver gráfico A.1). Tabela 2.4: Inflação Mensal (IPCA) – 1994-1998 Taxa Mensal de Inflação - IPCA (% a.m.) Mês 1994 1995 1996 1997 1998 Janeiro 41,31 1,70 1,34 1,18 0,71 Fevereiro 40,27 1,02 1,03 0,50 0,46 Março 42,75 1,55 0,35 0,51 0,34 Abril 42,68 2,43 1,26 0,88 0,24 Maio 44,03 2,67 1,22 0,41 0,50 Junho 47,43 2,26 1,19 0,54 0,02 Julho 6,84 2,36 1,11 0,22 -0,12 Agosto 1,86 0,99 0,44 -0,02 -0,51 Setembro 1,53 0,99 0,15 0,06 -0,22 Outubro 2,62 1,41 0,30 0,23 0,02 Novembro 2,81 1,47 0,32 0,17 -0,12 Dezembro 1,71 1,56 0,47 0,43 0,33 Taxa Anual 916,46 22,41 9,56 5,22 1,66 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 Com a demora na solução da questão fiscal, o governo passou a utilizar a política monetária para conter a demanda agregada e evitar a retomada da inflação. No início, a política de juros altos tinha como intuito atrair recursos externos para cobrir o déficit em conta corrente, evitando uma redução das reservas internacionais. Mais recentemente a política monetária se tornou a principal política de combate à inflação. A partir de 1997, o país sofreu diversos choques externos, primeiramente com a crise asiática e por último com a crise de Rússia de 1998. Por causa das pendências fiscais do Plano Real, a comunidade internacional ficou receosa quanto a uma possível crise do real. Segundo Paula e Alves Jr (1999), o ataque especulativo de 1997 foi fruto do processo de crise de contágio e de um surto especulativo desencadeado pelos operadores de 39 mercado. Como uma tentativa de reduzir a saída de divisas e superar a crise, o governo brasileiro aumentou as taxas de juros de forma considerável (ver tabela A.5). Em novembro de 1998, foi disponibilizado um pacote de ajuda econômica ao Brasil, para tentar contornar a crise. O programa de ajustes proposto pelo FMI estava sendo cumprido em parte, mas esses de nada adiantaram após a rejeição de propostas tidas como fundamentais para o ajuste fiscal (Baer, 2003). Com isso, os agentes internacionais aumentaram suas dúvidas quanto à situação econômica do país, as saídas de capital se aceleraram, o que reduziu as reservas internacionais. A crise política com alguns governadores aumentou ainda mais a desconfiança sobre o Brasil, o que contribuiu ainda mais para a saída de divisas. Em meados de janeiro de 1999, após o governo perceber que as altas taxas de juros seriam incapazes de conter a saída de divisas, foi permitido a flutuação da taxa de câmbio. Nos primeiros meses o câmbio sofreu uma forte depreciação, mas, depois de março, o câmbio retomou uma trajetória de apreciação praticamente todo o resto do ano. Entre meados de 1994 e início de 1999, o país adotou o regime de bandas cambiais (crawlling-peg), que permitia a flutuação da taxa de câmbio dentro do intervalo estabelecido pela autoridade monetária. Com demonstrado por Andrade, Carneiro e Silva (2000), mesmo sob o regime de bandas cambiais, a autoridade monetária se mostrou extremamente ativa na condução da política monetária. A depreciação de 1999 não teve grande impacto sobre a inflação, que atingiu naquele ano 8,9% (ver tabela 2.5). Para Taylor (1999), a depreciação cambial não teve grande efeito sobre a inflação devido ao lento ciclo econômico vivido pelo país na época, como se pode ver pelas altas taxas de desemprego (ver tabela A.6). No restante do ano, o governo implementou medidas para reduzir os gastos e aumentar os impostos, isto objetivando alcançar a meta de superávit primário estabelecida com o FMI. Na tentativa de dar mais transparência a conduta da política econômica, o governo adotou o sistema de metas inflacionárias (Sicsú, 2002 e Mendonça, 2002). A mudança no câmbio teve um importante impacto sobre a balança comercial (ver tabela A.3), uma vez que os produtos brasileiros tornaram-se mais competitivos externamente e as importações ficaram mais caras. O grande impacto negativo da mudança do câmbio se refletiu sobre as finanças públicas, com o aumento dívida pública (gráfico A.1). 40 O ano de 2000 pode se considerado um dos melhores do Plano Real. A taxa de câmbio se mostrou comportada ao longo do ano, a inflação ficou dentro da meta prevista, atingindo 5,97% ao ano (ver tabela 2.5). Mesmo com as elevadas taxas de juros, o PIB cresceu 4,5% em 2000, sendo o crescimento mais expressivo desde 1995 (ver tabela A.2). Em 2001, outra crise cambial atingiu o Brasil, tendo a sua origem no mês de março e se estendeu de forma acentuada até outubro, quando o câmbio se estabilizou. No início daquele ano, os agentes esperavam que a economia repetisse o bom desempenho de 2000. Porém, devido a diversos choques tanto de origem interna e externa, impossibilitaram a reprodução do bom resultado econômico do ano anterior. No cenário interno, o racionamento de energia elétrica se tornou um empecilho ao crescimento econômico. Já no cenário exterior, fatores como a quebra da Argentina, principal parceiro do mercosul, e os ataques terroristas de 11 de setembro aos Estados Unidos, aumentaram a incerteza quanto à trajetória das economias mundiais, o que contribuiu para desacelerar o ritmo de crescimento da economia brasileira. Tabela 2.5: Inflação Mensal (IPCA) – 1999-2002 Taxa Mensal de Inflação - IPCA (% a.m.) Mês 1999 2000 2001 2002 Janeiro 0,70 0,62 0,57 0,52 Fevereiro 1,05 0,13 0,46 0,36 Março 1,10 0,22 0,38 0,60 Abril 0,56 0,42 0,58 0,80 Maio 0,30 0,01 0,41 0,21 Junho 0,19 0,23 0,52 0,42 Julho 1,09 1,61 1,33 1,19 Agosto 0,56 1,31 0,70 0,65 Setembro 0,31 0,23 0,28 0,72 Outubro 1,19 0,14 0,83 1,31 Novembro 0,95 0,32 0,71 3,02 Dezembro 0,60 0,59 0,65 2,10 Taxa Anual 8,94 5,97 7,67 12,53 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 41 Em 2002, havia grande expectativa quanto à realização das eleições presidenciais de outubro. A falta de esclarecimento com relação à conduta da política econômica por parte dos candidatos a presidente aumentavam as incertezas sobre os destinos da economia brasileira. Outros fatores como a redução dos investimentos externos, a prolongada recessão mundial, puxada pelo desaquecimento de economia americana, e as constantes variações no preço do barril do petróleo intensificavam as variações cambiais. Mesmo o Brasil tendo cumprido as determinações do FMI, o país sofreu uma crise de confiança por parte dos agentes internacionais, que reduziram as linhas de financiamento e a rolagem da dívida externa. Com isso, entre abril e outubro a depreciação acumulada atingiu 62%. Após a eleição de outubro, que confirmou a vitória de Luís Inácio Lula da Silva para presidente, as variações cambiais inverteram sua tendência de depreciação, principalmente depois das primeiras medidas de transição do novo governo. Como em 2001, resultado econômico do país foi bastante ruim. O crescimento do PIB ficou baixo da previsão inicial e a taxa de inflação atingiu os dois dígitos, algo que não acontecia desde 1995. A forte variação cambial afetou mais uma vez a dívida externa, que chegou próxima 60% do PIB (ver gráfico A.1). Por outro lado, depreciação do câmbio deu um novo estimulo as exportações brasileiras, contribuindo assim, para que a balança comercial tivesse o seu melhor resultado desde a criação do real (ver tabela A.3). 2.4. Considerações sobre a Inflação e o Câmbio Como visto acima, os comportamentos da inflação e do câmbio passaram por profundas transformações ao longo do período. Entre 1980 a 1993 as variações cambiais seguiam as mudanças na inflação, tentando assim manter a competitividade dos produtos nacionais no exterior e o equilíbrio no Balanço de Pagamento. Esse comportamento pode ser observado pelos valores da inflação e das variações cambiais na tabela A.7, que ilustram a indexação do câmbio com relação à inflação. As variações no câmbio não aumentavam as taxas de inflação, mas contribuía para a sua perpetuação (Barboza, 1997). Contudo, as mudanças no câmbio ocorriam em menor proporção que a inflação, pois a autoridade monetária procurava utilizar o câmbio valorizado para permitir uma maior 42 entrada de produtos importados, aumentando a concorrência e reduzindo a taxa de remarcação dos preços. Com a adoção do Plano Real, a taxa de câmbio passou a desempenhar um papel de âncora cambial. No início dos anos 80 e no Plano Cruzado essa mesma medida foi utilizada, mas ambas situações não conseguiram obter os resultados esperados (estabilização de preços). O sistema de âncora cambial contribuiu para o combate ao processo inflacionário crônico, mas como observados por Baer (2003), ele não poderia perdurar por muito tempo. Em 1999 esse sistema entrou em colapso, o que culminou na adoção do regime de câmbio flutuante. Com isso, as variações do câmbio não mais seguiram as mudanças na taxa de inflação, passando agora a influenciar as alterações na inflação. Em uma economia cada vez mais aberta ao exterior, a taxa de câmbio tornou-se uma variável importante na determinação da inflação, e conseqüentemente da estabilidade de preços. Sob o regime de câmbio flutuante, a política monetária deve ser conduzida com maior cautela, evitando que variações cambiais levem a significativas mudanças na inflação doméstica. 43 Capítulo 3 – Mensuração, Resultados e Fatores do Pass-through Seguindo a linha de raciocínio dos capítulos anteriores, o capítulo 3 se divide em quatro partes. Na primeira será apresentada a forma de mensuração do pass-through, conforme definido por Goldfajn e Werlang (2000). Na segunda parte são apresentados os valores do grau de pass-through para economia brasileira entre 1980 e 2002, seguido de uma sucinta análise. Na terceira parte são apresentadas as variáveis que podem intensificar o processo de transmissão das variações cambiais para a inflação. Na quarta parte é mostrada onde e como foram obtidos os dados sobre as variáveis que influenciam o processo de pass-through. 3.1. Forma de Mensuração do Pass-through Como salientado no capítulo anterior, o pass-through é o efeito de uma mudança percentual na taxa de câmbio sobre o nível de preço doméstico. Na literatura econômica, existem vários modelos que mensuram o grau de pass-through, sendo que cada autor utiliza o que melhor atende as suas necessidades. Nesse trabalho, iremos reproduzir o modelo utiliza por Goldfajn e Werlang (2000), outros modelos que mensuram o pass-through podem ser encontrados nos trabalhos de Amitrano, De Grauwe e Tullio (1997), Fisher (1989), Klein (1990) e Goldberg e Knetter (1997). Segundo Goldfajn e Werlang (2000), o coeficiente de pass-through é definido como a relação entre a inflação acumulada entre o período t e t + j, " [t, t+ j], e a variação da taxa de câmbio nominal acumulada entre t – 1 e t + j - 1 períodos, NER [t-1, t+j-1], permitindo ao menos um mês de defasagem entre a variação do câmbio e seus impactos iniciais sobre a inflação. Isto é, o grau de pass-through pode ser escrito da seguinte forma: PT t = " [t, t + j] / NER [t - 1, t + j -1] (3.1) Teoricamente, o grau de pass-through próximo a 1 é equivalente a um pass-through completo ou total, enquanto que um coeficiente próximo a 0 (zero) reflete a total inelasticidade dos preços da economia a mudanças na taxa de câmbio nominal (Goldfajn e 44 Werlang, 2000). Contudo, o que se observa na realidade não é bem isso, podendo ser o valor do grau maior do que 1 em alguns casos. Isto acontece por exemplo em situações de um processo inflacionário crônico, como no caso do Brasil, no qual a inflação acumulada era maior que a variação acumulada da taxa de câmbio. Outro caso seria sob um regime de taxa de câmbio fixo, pois os valores da mudança na taxa de câmbio nominal são ou muito pequeno ou nulo, assim, os países sob esse regime apresentam altos graus de transmissão do pass-through. Em geral, o valor do coeficiente de pass-through está entre 0 (zero) e 1 (um) para grande parte das economias do mundo, salvo apenas algumas exceções. Segundo Goldfajn e Werlang (2000), o coeficiente de pass-through aumenta com a expansão dos meses após as variações cambiais, atingindo o seu valor máximo no 12o mês (ver tabela 3.1). Tabela 3.1 – Valor do Coeficiente de Pass-through com os Meses Meses 1 3 6 12 18 Total 0,012 0,169 0,426 0,732 0,701 Fonte: Goldfajn e Werlang (2000) 3.2. Mensuração do Grau de Pass-through para o Brasil Seguindo a definição apresentada acima (fórmula 3.1), foram mensurados os valores do grau de pass-through para a economia brasileira. Como se pode observar, esses valores variam de forma considerável ao longo do período estudado. Os valores da inflação acumulada e variação acumulada do câmbio entre 1980-2002 estão na tabela A.7. O período considerado de inflação crônica (1980-1993) foi dividido em três subperíodos, 1980-1985, 1986-1989 e 1990-1993. Para o período de 1980 a 1985, observase que o grau de transmissão permaneceu acima de 1 para todo o período, exceto para 1983 (ver tabela 3.2). O resultado de 1983 é explicado pela maxidesvalorização do câmbio 45 ocorrida naquele ano. Para os outros anos, a inflação acumulada foi sempre maior que a variação acumulada da taxa de câmbio. Isto nos retrata que a política de minidesvalorização ocorrida no Brasil no período tinha o intuito de recuperar as variações da inflação, mantendo a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e o equilíbrio do balanço de pagamentos, como observado no capítulo anterior. No período de 1986 a 1989, os valores do grau de transmissão não alterou a sua direção. As altas taxas de inflação continuaram sendo o principal determinante do grau, as variações do câmbio também seguiram a tendência de recuperar a alta inflação, tentando assim manter a competitividade externa e o equilíbrio do balanço de pagamentos. Entre 1990 e 1993, a coeficiente cresceu ao longo do período. Isto reflete os efeitos da inflação, que apesar da estabilização de preços conseguida no primeiro momento, a inflação retomou uma trajetória ascendente ao longo do período (ver tabela A.7). Tabela 3.2: Grau de Pass-through – 1980-2002 Valores do Coeficiente de Pass-through 1980 - 2002 Ano Coeficiente Ano Coeficiente 1980 1,05 1992 1 1981 1,04 1993 1,14 1982 1,1 1994 0,89 1983 0,59 1995 1,55 1984 1,01 1996 1,38 1985 1,07 1997 0,22 1986 1,37 1998 0,67 1987 1,13 1999 0,14 1988 1,24 2000 6,37 1989 1,81 2001 0,25 1990 0,87 2002 0,31 1991 0,94 Fonte: Resultado obtido pelo autor, Fonte Primária, Banco Central 46 Para o período de estabilização, período do Plano Real, os valores dos graus de pass-through acima de 1 se devem mais às baixas taxas de variação acumulada no câmbio do que aos efeitos da inflação, pois esta sempre se manteve em níveis considerados baixos. Para os outros anos, principalmente após 1999, com a adoção do regime de câmbio flutuante, as variações no câmbio têm provocado maiores impactos sobre a inflação (ver grau de pass-through valores para 1999, 2001 e 2002), porém, a princípio, pode-se afasta o receio da volta de um processo inflacionário decorrente das mudanças no câmbio. Contudo, deve se tomar medidas permanentes que reduzam a vulnerabilidade externa do país a choque na taxa de câmbio. Nesse sentido, é necessário dar continuidade ao programa de reformas estruturais, demonstrando maior segurança aos investidores externos. Também são válidas medidas que reduzam o ingresso de capital de curto prazo, conhecido como capital especulativo, que recentemente tem se mostrado um elemento instabilizador da taxa de câmbio (Plihon, 1995). 3.3. Determinantes do Grau do Pass-through Após uma desvalorização ou depreciação cambial, a transmissão da mudança da taxa de câmbio para os preços ocorre em diferentes estágios (Amitrano, De Grauwe e Tullio, 1997). Em um primeiro estágio, uma mudança no câmbio, vamos supor uma elevação no valor da sua taxa, aumenta o preço dos produtos importados consumidos no país. Os aumentos dos preços dos produtos importados, sejam esses produtos finais ou insumos não necessariamente acompanham a mesma variação percentual na taxa de câmbio, como observado por Gron e Swenson (1996). Assim, num primeiro momento, como já mencionado, uma depreciação do câmbio provoca de imediato o aumento do preço dos produtos importados em moeda local, e quanto maior for o grau de abertura da economia ao exterior, maior o efeito de uma mudança na taxa de câmbio. Contudo, em um segundo momento, uma depreciação causa também o aumento do preço dos produtos domésticos. Isto ocorre devido ao aumento do preço dos produtos conhecidos como tradables. Os tradables são aqueles produtos que podem ser comercializados internacionalmente, e por isso têm os seus preços cotados em dólar. Com 47 isso, uma depreciação cambial aumenta o preço dos tradables em moeda doméstica, elevando a inflação doméstica. Essa elevação do preço dos tradables obedece ao postulado da lei do preço único. No modelo de Goldfajn e Werlang (2000), as variáveis relevantes para a transmissão da variação na taxa de câmbio para a inflação são: a variação acumulada da taxa de câmbio nominal; a taxa de câmbio real; o estado da demanda agregada; persistência inflacionária e grau de abertura da economia. Variação Acumulada da Taxa de Câmbio Nominal (NER): como visto no capítulo anterior, a taxa de câmbio nominal é definida como o preço da moeda estrangeira em termos da moeda doméstica corrente, podendo essa ser determinada sob o regime de câmbio fixo, flutuante ou intermediário. A magnitude e a natureza da mudança no câmbio são determinantes para as variações nos níveis de preços domésticos. Quanto maior a magnitude da variação da taxa de câmbio, maior será o efeito sobre os preços domésticos. Com relação à natureza da mudança no câmbio, se as mudanças no câmbio forem transitórias, as firmas não irão repassar na mesma magnitude o aumento dos seus custos para os seus produtos finais, decorrentes do aumento dos preços dos insumos importados. Se as mudanças no câmbio forem permanentes, as firmas irão repassar em sua maioria as mudanças dos custos em uma tentativa de recuperar parte dos seus lucros (Erceg, 1997 e Yun, 1996). Taxa de Câmbio Real (RER): é um fator que influencia o processo pass-through. Para Goldfajn e Valdés (1999), uma taxa de câmbio real sobrevalorizada é uma importante variável na composição da inflação futura, pois os agentes criam a expectativa da necessidade de depreciações futuras, como forma de ajustamento dos preços relativos. Entretanto, uma variação cambial que não se apóie no ajustamento dos preços relativos induz a um aumento maior da inflação. Para Dornbusch (1987-A) o ajustamento dos preços relativos é fruto de um desequilíbrio no mercado de trabalho entres os países. Assim, uma taxa de câmbio real sobrevalorizada é positivamente correlacionada com o nosso processo. Isto significa que, quando está sobrevalorizada, os agentes incorporam a expectativa de futuras depreciações na taxa de câmbio. Então, quanto mais sobrevalorizada, maior será o impacto de uma depreciação sobre o nível de preço doméstico, desde que a depreciação não esteja ligada ao ajustamento dos preços relativos. 48 A taxa de câmbio real (RER) é determinada pelo produto da multiplicação entre a taxa de câmbio nominal (E) e o nível de preço internacional (P*), sendo esse produto dividido pelo nível de preço doméstico (P). A fórmula é escrita do seguinte modo: RER = E . P* / P (3.2) Estado da Demanda Agregada (GDP): mede o ciclo de negócios vivido pelo país. Está associado a uma comparação entre o produto interno bruto (PIB) efetivo com o potencial. Quando o PIB efetivo se encontra acima do potencial, a economia esta passando por um período de pressões inflacionárias devido ao excesso de demanda, caracterizando uma inflação de demanda. Como a economia já está passando por um período de pressões inflacionárias, uma mudança na taxa de câmbio tende a intensificar o efeito do pass-through, aumentando ainda mais a variação nos níveis de preços domésticos (Gordon, 1998 e Shimer, 1998). Para Goldfajn e Werlang (2000), num período de recessão, caracterizado por uma fraca demanda agregada e por aumento nas taxas de desemprego, uma variação cambial se reflete em menores efeitos sobres a mudança dos preços, e conseqüentemente sobre a taxa de inflação. Desta forma, a demanda agregada está correlacionada da seguinte forma: quando a economia esta aquecida, PIB efetivo maior que PIB potencial, o impacto de uma variação cambial será mais intenso, o inverso acontecendo em períodos de recessão. Persistência Inflacionária (IPAST): reflete a freqüência que os agentes remarcam seus preços baseando-se nas taxas de inflação passadas (Goldfajn e Werlang, 2000). Isto reflete a capacidade que os agentes têm de repassar as mudanças nos custos de seus produtos para o preço dos seus produtos. Nesse trabalho, a persistência inflacionária também será entendida como a inflação passada. Quanto mais os preços forem reajustados devido aos níveis de inflação passada, maior será o grau de persistência inflacionária. Na literatura econômica, quando os agentes estão reproduzindo a inflação passada para a inflação presente, se diz que a economia está indexada. A indexação da economia é uma forma encontrada pelos agentes de reduzir as perdas causadas por um processo inflacionário. O Brasil é um bom exemplo de uma 49 convivência até certo ponto harmoniosa entre os agentes em um contexto inflacionário em uma economia indexada. A persistência inflacionaria está ligada à persistência de mudanças nos custos que são transmitidos para os preços. Em uma economia que apresenta uma maior organização das firmas, essas tem a maior capacidade de influenciar a formação dos preços dos seus produtos. O poder das firmas de influenciar a formação dos seus preços é caracterizado por uma situação de falha de mercado, isto é, uma concorrência imperfeita. Para Taylor (1999), os baixos níveis de inflação observados no seu trabalho são frutos de uma redução do grau de poder de mercado das firmas, reduzindo assim a sua capacidade de influenciar os preços de mercado. Taylor (1999) também aceita que os baixos níveis das taxas de inflação e a estabilidade dos preços são causados, em parte, pelo novo comportamento da autoridade monetária observada a partir de 1979, também verificado nos trabalhos de Clarida, Gali e Gerter, (1998), e confirmado por Judd e Trehan (1995) e Ball (1999). Segundo Taylor (1999), a persistência inflacionaria é positivamente correlacionada com o pass-through, isto significa que países com passado inflacionário apresentam um maior grau de pass-through se comparados com aqueles de menores de taxas de inflação no passado. Baseado em vários trabalhos, pode-se notar uma redução dos efeitos do passthrough devido à redução do poder de mercado das firmas. McCarthy (1999) mostrou um declínio nesse índice, comparando os graus de pass-through para os seguintes períodos, 1976-1982 e 1983-1998. O resultado inverso também poder ser demonstrado, nos anos de inflação crescente, final dos anos 60 e início dos anos 70, em que Cagan (1978) relatou um aumento do poder de mercado das firmas. Grau de Abertura da Economia (OPE): o grau de abertura do país é definido como a soma das importações (M) e das exportações (X) do país, e dividindo o resultado pelo Produto Interno Bruto (PIB). Isto mede a participação das economias estrangeiras na economia doméstica. Quando um país é relativamente aberto, maior é a participação de produtos importados na cesta de produtos do consumidor. Com isso, uma depreciação cambial tende 50 a aumentar os preços dos produtos importados em moeda corrente, o que por si só, já é capaz de ter influencia sobre a taxa de inflação doméstica. Por outro lado, uma depreciação também provoca um aumento dos produtos domésticos, mas em momento posterior, devido à rigidez dos preços no primeiro instante (Kiley, 1997). Isto ocorre devido ao aumento do preço dos produtos conhecidos como tradables, que são produtos comercializados no exterior e possuem seus preços cotados em dólar. Esta elevação nos preços é explicada para lei do preço único, sendo um outro fator importante na composição da inflação nacional. A tabela 3.3 mostra a evolução dos preços dos tradables desde 1992. Tabela 3.3 –Preços dos Tradables (% a.a.) – 1992-2002 Tradables Ano 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 IPCA - (% a.a.) 1203,72 2514,10 880,24 10,55 2,24 1,50 1,22 11,26 3,64 7,31 14,88 Fonte: IBGE, Indicadores de Preço, março, 2003 Assim, quanto maior o grau de abertura da economia, mais positivamente correlacionada ela estará como o grau de pass-through (Romer, 1993). Então, quanto mais aberto for o país, mais ele estará sujeito a um aumento nas taxas de inflação decorrente de uma variação cambial. 51 3.4. Coleta e Formação dos Dados Nesse trabalho, os dados a serem utilizados no modelo econométrico são de periodização trimestral. No trabalho de Goldfajn e Werlang (2000), os dados utilizados pelos autores eram anuais, mas o contexto do trabalho era diferente. Naquele trabalho foram mensurados os coeficientes de pass-through para 71 países do mundo, para o período de 1980 a 1998. O uso de dados anuais nesse trabalho o número de observações seria pequeno, o que certamente prejudicaria a interpretação dos resultados da regressão. O período a ser estudado nesse trabalho é de 1980 a 2002, um período extremamente rico no comportamento da inflação e da taxa de câmbio no Brasil. Por boa parte do tempo, o Brasil experimentou períodos de altas taxas de inflação, como também períodos mais recentes com a inflação a taxas relativamente mais baixas. O comportamento do câmbio também foi um tanto peculiar, pois por um certo tempo o país utilizou o regime de câmbio fixo, e em outro utilizou o regime de câmbio flutuante. As séries de inflação para o Brasil foram construídas a partir de dados mensais, sendo utilizado o índice de preço ao consumidor amplo (IPCA), índice oficial do governo. A série de inflação é calculada pela inflação acumulada de acordo com a periodização de nossa necessidade. Com isso, a inflação é acumulada para os períodos 1, 3, 6 e 12 meses. Os dados para a construção da série foram encontrados nos sites do instituto de pesquisa econômica aplicada (IPEA) ou do banco central do Brasil (BaCen)11. A variação acumulada da taxa de câmbio nominal também é calculada a partir de dados mensais, e para isso foi utilizada a taxa de câmbio real/dólar, venda, média do período. A variação cambial é a mudança na taxa de câmbio. Diferentemente da inflação, a variação cambial acumulada se inicia no mês anterior a acumulação de inflação e termina também um mês antes. Isto é, para um período trimestral, a inflação acumulada é calculada nos três primeiros meses (janeiro-fevereiro-março), enquanto para o mesmo período a variação cambial acumulada será medida para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, e assim sucessivamente para os outros períodos. Os dados para a construção da série de taxa de câmbio também podem ser encontrados nos sites do IPEA ou do Banco Central. 11 Sites utilizados: IPEA, www.ipeadata.gov.br; BaCen, www.bcb.gov.br; 52 Com relação ao estado da demanda agregada, foi usado o filtro de Hodrick-Prescott para calcular a porcentagem de desvios do PIB efetivo com relação à estimativa da sua tendência, isto é, o PIB potencial. Uma variação positiva indica que a economia do país está em um crescimento mais rápido se comparado com a sua tendência, uma variação negativa representa o oposto (Goldfajn e Werlang, 2000). Neste trabalho foi usado o PIB a preços constantes. Como o PIB trimestral só é disponível para os anos 1990 a 2002, foi usado um índice do PIB até 1980, completando a nossa série. Os dados para construção da série são encontrados novamente nos sites do IPEA e do Banco Central. Para o cálculo da taxa de câmbio real, foi utilizada a taxa de câmbio nominal especificada acima, como também o índice de preço ao consumidor dos Estados Unidos (IPC) e o índice de preço ao consumidor para o Brasil (IPC). Um possível problema neste ponto é quanto à forma de cálculo desse índice, que diverge de país para país (Barboza, 1997). O IPC considera em demasia uma parcela significante dos preços dos produtos internos que não entram no comércio internacional, causando distorções de diversas ordens. A taxa de câmbio real foi submetida ao mesmo processo do PIB, utilizando o filtro de Hodrick-Prescott, para calcular o desvio com relação à taxa de câmbio real potencial. Todos os índices utilizados nesse trabalho usam com ano base 2002. Os dados para construção da série também são encontrados nos sites do IPEA e do Banco Central. O grau de abertura da economia do país é a soma das importações (M) e das exportações (X) do país, sendo dividido esse valor pelo Produto Interno Bruto (PIB) do país. Como nas outras variáveis, os dados necessários para a construção dessa série foram encontrados nos sites do IPEA e do Banco Central. Para a regressão da nossa base de dados, será usado o programa econométrico conhecido como Eviews, por ser amplamente utilizado nos meios acadêmicos e de fácil manuseio. No mercado existem diversos outros softwares para a mesma finalidade, podendo ser citado o SAS, STATA OU SPSS. 53 Capítulo 4 – Tratamento Econométrico No capítulo 4 será apresentado e reproduzido o modelo econométrico utilizado por Goldfajn e Werlang (2000). Esse modelo relaciona variações na inflação, variável dependente, com as variações nas variáveis independentes, variação acumulada da taxa de câmbio nominal, desvio de taxa de câmbio real, desvio do PIB, persistência inflacionária, medida pela inflação passada, e por último a abertura da economia. A estimação dos coeficientes foi feita por meio do método de mínimos quadrados generalizados (MQG), pois esses coeficientes ou estimadores apresentam propriedades estáticas desejáveis para as conclusões desse trabalho. Para maiores informações, deve-se consultar livros técnicos na área de econométria, alguns exemplos são Gujarati (2000) e Johnston e Dinardo (1997). Os critérios de avaliação da significância dos estimadores foram o teste t de significância ou t-estatístico e o teste do valor p. O teste t é um procedimento pelo qual os resultados da amostra são usados para verificar a validade ou a falsidade de uma hipótese (Gujarati, 2000). Isto é, um estimador é estatisticamente significante se o valor do teste se encontrar na região de aceitação ou crítica. Quando o valor do teste estiver fora da região crítica, esse valor é considerado estatisticamente insignificante. Nesse trabalho, quando o valor do teste t for maior que o módulo de 2 (| 2 |), a estatística será estatisticamente significante. O valor p é definido tecnicamente como “o mais baixo nível de significância com o qual a hipótese nula pode ser rejeitada” (Gujarati, 2000, p.122). Em outras palavras, o valor p é probabilidade exata de cometer um dado tipo de erro, ou seja, a probabilidade de representar um valor diferente do verdadeiro coeficiente. Para o valor p, uma estatística é significante se valor for inferior a 5% ou 0,05. Os valores do teste t e do valor p caminham em sentidos contrários, quando o valor de | t | aumenta, o valor de p diminui, assim, a hipótese nula pode ser rejeitada com uma confiança crescente. O teste de White para verificar a presença de heteroscedasticidade foi aplicado para o erro padrão de todas as variáveis, nos diferentes períodos. Por estarmos tratando de séries temporais, não será feita análise dos R2 e dos R2 ajustados, pois ambos costumam a apresentar valores elevados devido à existência de alguma tendência entre as séries. 54 Também foi descartada a análise da significância dos interceptos, por esse valor não ser de suma relevância para a interpretação dos nossos resultados. No modelo original de Goldfajn e Werlang (2000), foi estudado o período entre 1980 a 1998, isto para uma amostra de 71 países. Devido à complexidade de reprodução desse trabalho, procuramos restringir a nossa amostra apenas para o caso do Brasil. Nesse trabalho, iremos expandir e reproduzir o período em questão, de 1980 até 2002, seguindo os procedimentos utilizados por Goldfajn e Werlang (2000). Em seguida, iremos analisar separadamente o período de existência do Plano Real, de julho de 1994 (1994:3) até final de 2002 (2002:4). O período completo (1980-2002) será referente ao modelo I, enquanto que o período de vigência do Plano Real será tratado no modelo II. Também iremos reproduzir o modelo de previsão de inflação de Goldfajn e Werlang (2000), sendo os resultados dos modelos I e II comparados com os encontrados pelos autores para a crise do câmbio de 1999. Com a expansão do período estudado, poderemos analisar as crises cambiais de 2001 e de 2002, sendo também feitas previsões para os anos em questão. Por fim, iremos relacionar os coeficientes12 do trabalho Goldfajn e Werlang (2000) com a nossa base de dados, observando assim, qual a inflação prevista de acordo com os coeficientes dos autores. Esse último procedimento será representado pelo modelo III e utilizamos uma periodização anual dos dados. 4.1. Modelo Econométrico De acordo com a equação abaixo, estão relacionados os efeitos das variáveis independentes ou explicativas sobre a inflação acumulada: " [t , t + j] = #0 + # 1 NER[t – 1, t + j –1] + #2 RER t(-1) + #3 GDP t(-1) + #4 IPAST t(-1) + #5 OPE t(-1) + ut onde a taxa de inflação e a variação da taxa de câmbio são acumuladas durante o período de tempo, e as outras variáveis estão incluídas no tempo t-1. O termo t indica o momento de uso de cada variável. 12 Como observado por Goldfajn e Werlang (2000), o melhor coeficiente para a previsão da inflação futura é aquele decorrente da regressão para toda a amostra de países, para o período de t a t + 12. 55 As regressões foram feitas com o intuito de verificar os efeitos de mudanças na taxa de câmbio sobre a inflação, isto para 1, 3, 6 e 12 meses após o inicio da variação do câmbio. Diferentemente dos resultados observados no trabalho de Goldfajn e Werlang (2000), os resultados encontrados por nós se mostraram, em sua maioria, na contramão dos efeitos esperados. Como será observado abaixo, os resultados não se mostraram estatisticamente significativos em todas as situações, ocorrendo importantes mudanças na interpretação dos dados. De acordo com o período estudado, os valores dos coeficientes das variáveis alteraram os seus valores, em muitos casos, em direções inesperadas a princípio. Na tabela 4.1 e 4.2 estão os resultados obtidos em nosso trabalho. Os impactos da mudança no câmbio e das outras variáveis se iniciam no 1˚ mês após a depreciação ou apreciação do câmbio e se estendem até o 12˚ mês seguinte. Primeiramente serão expostos os resultados para o período completo (1980 a 2002), sendo em seguida analisado os resultados para o outro período (1994 a 2002). No primeiro modelo, os efeitos sobre a inflação no primeiro mês (t para t + 1), mostraram se estatisticamente significantes apenas para a variação acumulada da taxa de câmbio e para o desvio da taxa de câmbio real em relação a sua tendência. Para ambos, o valor t-estatístico foi superior a dois, sendo respectivamente 2,622 e 2,122, e o valor p ficou em um patamar inferior a 0,05 de probabilidade (ver tabela 4.1). Com relação às demais variáveis, desvio do PIB efetivo, persistência inflacionária e abertura da economia, os resultados encontrados não foram significantes. Isto com base nos valores do teste t e do valor p observados para essa regressão. De acordo com essa regressão, uma variação de 1% na taxa de câmbio nominal provoca um aumento na inflação da ordem de aproximadamente 0,5%. Já o desvio de 1% na taxa de câmbio real também provoca um aumento de 0,16% na inflação. Com relação ao desvio do PIB efetivo, 1% de desvio causa um aumento de 0,23% na inflação, enquanto que, uma variação de 1% na persistência inflacionária e na abertura da economia, causa um aumento de 0,24% na inflação no primeiro caso, e uma redução de 0,30% no segundo caso. Os resultados para três meses (t para t + 3), se mostraram mais surpreendentes ainda. Segundo essa regressão, a variação acumulada do câmbio apresenta um resultado considerado inesperado. Uma variação acumulada do câmbio após três meses, provoca uma 56 redução na inflação, isto é, uma variação de 1% no câmbio causa uma redução entorno de 0,30 % na taxa de inflação. A principio, o resultado esperado para essa variável seria um efeito sobre a inflação superior ao observado na regressão anterior, o que não veio a se confirmar. Contudo, a variação acumulada da taxa de câmbio apresentou valores estatisticamente significantes para o período de três meses. Tabela 4.1 – Coeficientes: Modelo I (1980 – 2002) Inflação Acumulada (t até t + 1) Variáveis Coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 0,489662 2,622616 RER desvio 0,165255 2,122783 PIB desvio 0,231239 1,29574 Inflação passada 0,241748 1,399097 Abertura da economia -0,305174 -1,226617 Inflação Acumulada (t até t + 3) Variáveis Coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal -0,298685 -2,457349 RER desvio -0,097631 -0,590501 PIB desvio -0,813212 -2,672278 Inflação passada 5,18908 10,1787 Abertura da economia -0,447 -1,103254 Inflação Acumulada (t até t + 6) Variáveis Coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 1,395282 6,098925 RER desvio 0,542276 0,698588 PIB desvio 2,518888 1,364853 Inflação passada -2,68623 -2,096856 Abertura da economia 0,428969 0,235342 Inflação Acumulada (t até t + 12) Variáveis Coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 1,331108 8,02747 RER desvio 4,447647 1,408096 PIB desvio -7,89193 -0,489279 Inflação passada -10,34372 -1,332865 Abertura da economia -7,664722 -0,572375 valor - p 0,0103 0,0367 0,1986 0,1654 0,2234 valor - p 0,016 0,5564 0,009 0 0,273 valor - p 0 0,4867 0,1759 0,039 0,8145 valor - p 0 0,1627 0,6259 0,1861 0,5686 Fonte: Resultados econométricos obtidos pelo autor Com relação à taxa de câmbio real, o desvio do PIB e a abertura da economia, todas as variáveis apresentaram um efeito negativo na inflação. A taxa de câmbio real seria responsável por uma redução de aproximadamente 0,1% na inflação devido ao desvio com 57 relação a sua tendência. O desvio do PIB e a abertura econômica causariam uma redução na ordem de 0,8% e 0,44% respectivamente. Exceto para o valor do desvio do PIB, os outros dois valores não se mostraram estatisticamente significantes. A inflação passada é a grande responsável pelo aumento da inflação presente, o que evidencia a forte relação de inércia na economia brasileira no curto prazo. Uma variação de 1% na inflação passada causaria um aumento na ordem de 5% na inflação atual. De acordo com o teste t e com o valor p, os valores da inflação passada se apresentaram estatisticamente significantes para o período de três meses. Para o período de seis e doze meses, os resultados obtidos não se mostraram melhores. A inflação passada nos indica que com o passar dos meses, essa variável reduz os efeitos sobre a inflação. Contudo, os valores do seu coeficiente foram em magnitude surpreendente (-2,686 e –10,343 respectivamente). De seis para doze meses, ocorreu uma redução da significância desses dados, sendo os valores dos coeficientes não mais significativos. Os coeficientes da taxa de câmbio real, do desvio do PIB e da abertura da economia variaram de forma considerável os seus efeitos sobre a inflação. Porém, os três valores dos coeficientes não são significantes de acordo com nossos critérios. O coeficiente da taxa de câmbio nominal se manteve estável para os dois períodos, afetando a inflação de forma semelhante. Por outro lado, aumentou a significância estatística do coeficiente, o valor passou de 6,09 para 8,02 para o teste t, o que aumenta a chance ser o verdadeiro valor do coeficiente. Como era de se esperar, o valor do coeficiente de taxa de câmbio nominal ficou acima de 1 (um), o que reflete o passado inflacionário do país, como também foi observado no trabalho de Goldfajn e Werlang (2000). Para o modelo II, a interpretação dos dados continua sendo feita seguindo a interpretação acima. Como no primeiro caso, os valores dos coeficientes sem sempre se mostraram significativos (ver tabela 4.2). Para todos os períodos, apenas os valores da inflação passada foram significativos em todas as situações. A inflação passada atinge seu auge no terceiro mês, o que retrata novamente a inércia inflacionária no curto, como na regressão anterior. O coeficiente de inflação passada se estabiliza para o sexto e o décimo segundo mês, mas continua sendo o maior responsável pela mudança na inflação presente. 58 Os coeficientes relacionados com a variação acumulada do câmbio não se mostraram significativos em nenhum dos casos. Todos os seus valores não foram aprovados com base em nossos critérios de avaliação. Esperava-se a princípio que o valor do coeficiente do câmbio aumentasse com a expansão dos meses, o que não veio a acontecer. Os coeficientes das demais variáveis também não foram significativos em geral, o sendo apenas em uma ou outra situação. No geral, ambos os modelos não apresentaram resultados estatisticamente significativos para os seus coeficientes. No modelo I, os coeficientes obtiveram valores totalmente inesperados por nós para o período de doze meses. Já no modelo II, os valores encontrados foram mais próximos de uma situação realista, mesmo se tratando de uma amostra menor. A curiosidade quanto os resultados dos modelos continuam nos modelos de previsão apresentados abaixo. Tabela 4.2 – Coeficientes: Modelo II (1994 – 2002) Inflação Acumulada (t até t + 1) Variáveis coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 0,030704 0,909495 RER desvio 0,03433 2,622598 PIB desvio 0,038278 1,149899 Inflação passada 0,087805 2,439062 Abertura da economia -0,05189 -1,59186 Inflação Acumulada (t até t + 3) Variáveis coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal -0,00646 -0,948845 RER desvio 0,024182 0,697054 PIB desvio 0,131246 1,519332 Inflação passada 4,283894 2,496894 Abertura da economia -0,01266 -0,171992 Inflação Acumulada (t até t + 6) Variáveis coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 0,071551 1,314912 RER desvio 0,189316 2,254443 PIB desvio 0,395687 2,229221 Inflação passada 0,20665 2,779261 Abertura da economia -0,11052 -0,550699 valor - p 0,3709 0,014 0,2599 0,0213 0,1226 valor - p 0,3508 0,4915 0,1399 0 0,8647 valor - p 0,1992 0,0322 0,034 0,0096 0,5862 59 Inflação Acumulada (t até t + 12) Variáveis coeficiente t - estatístico Taxa de Câmbio Nominal 0,03673 0,62518 RER desvio 0,202889 0,965023 PIB desvio 0,427976 1,044076 Inflação passada 0,499503 6,518387 Abertura da economia 0,014678 0,039854 valor - p 0,5369 0,3428 0,3054 0 0,9685 Fonte: Resultados econométricos obtidos pelo autor 4.2. Modelo de Previsão No trabalho de Goldfajn e Werlang (2000), os autores utilizam o modelo de previsão de inflação, que é usado para analisar a mudança no câmbio sobre a inflação, comparando posteriormente seus resultados com a inflação corrente. Foram estudadas diversas crises cambiais ao longo da década de 9013, tanto em países emergentes como em países desenvolvidos. Os resultados obtidos pelos autores estão na tabela 4.3. Tabela 4.3 - Inflação Prevista e Corrente – (% a.a) Brasil - 99 Inflação Prevista 12,7 Inflação Corrente 8,9 México 94 Inflação Prevista 61,6 Inflação Corrente 51,7 Indonésia 97 185,2 Coréia 97 14,8 82,2 Inglaterra 92 5,7 6,6 Suécia 92 11 1,4 4,6 Tailândia 97 Malásia - 97 Filipinas - 97 18 16,4 21,5 10 Itália - 92 11,8 5,8 Espanha 92 9,8 9,9 Finlândia 92 5,4 4,9 4,7 1,6 Fonte: Goldfajn e Werlang (2000) Como mencionado anteriormente, nesse trabalho será reproduzido o procedimento utilizado por Goldfajn e Werlang (2000), sendo que serão estudadas as crises cambiais brasileiras de 1999, 2001 e 2002. Por meio do uso do modelo de previsão, a inflação prevista será comparada com a inflação atual. O período de inflação acumulada estudada 13 Países com crises cambiais recentes estudados por Goldfajn e Werlang (2000): Brasil (1999), Coréia (1997), Tailândia (1997), Malásia (1997), Filipinas (1997), México (1994), Inglaterra (1992), Suécia (1992), Itália (1992), Espanha (1992) e Finlândia (1992). 60 vai do momento t até t + 12, isto é, do mês posterior ao início da crise cambial até o décimo segundo mês seguinte ao início da crise. Deve-se tomar cuidado com relação aos modelos de previsão da inflação futura para séries temporais, pois em geral, esses modelos não conseguem representar todas as variáveis que influenciam a inflação. O uso de dados do passado para prever o futuro deve ser usado com cautela, para que se evite cometer erros de interpretação e análise dos resultados. Como comentado acima, o modelo III será determinado pela interação entre os coeficientes determinados pelos autores e a nossa base de dados. A crise de 1999 iniciou se em dezembro de 1998, e foi responsável pelo colapso do regime de âncora cambial. Ao longo do período a taxa de câmbio acumulou uma depreciação de 61%, enquanto que a taxa de inflação foi de 8,9%. Segundo Goldfajn e Werlang (2000), a taxa de inflação prevista para o Brasil seria de 12,7%, enquanto que, de acordo como o modelo I, o modelo previa uma inflação de 98% para 1999 (ver tabela 4.4). Quando se utiliza a regressão do período do Plano Real, os resultados encontrados melhoram de forma considerável. Segundo essa regressão, a inflação prevista para o nosso modelo II seria de 6,9% para 1999, bem mais próxima do seu real valor. O modelo III foi aquele que apresentou o valor mais surpreendente, pois o seu valor é de algo entorno de 193% ao ano. As expectativas iniciais dos agentes eram de que a economia iria retomar uma trajetória de crescimento em 2001, dando continuidade o bom desempenho econômico de 2000. Contudo, diversos choques adversos tanto de origem interna e externa trataram de reverter às expectativas. No cenário interno, o racionamento de energia elétrica se tornou um empecilho ao crescimento econômico. No exterior, fatores como a quebra da Argentina, principal parceiro do mercosul, e os ataques terroristas aos Estados Unidos, aumentaram a incerteza quanto à trajetória das economias mundiais, intensificando a direção da economia brasileira rumo a desaceleração. Tabela 4.4 - Previsão de Inflação – (% a.a) Depreciação Goldfajn Modelo I Modelo II Modelo III e Inflação Acumulada Corrente Werlang Crise 1999 61,67 8,94 12,7 98,73 6,89 193,32 Crise 2001 20,87 7,75 na 0,36 8,01 161,30 61 Crise 2002 48,4 16,57 na 51,51 7,17 160,32 Fonte: Resultados econométricos obtidos pelo autor A crise cambial de 2001 teve a sua origem no mês de março e se estendeu de forma acentuada até outubro, quando o câmbio se estabilizou e seguiu uma trajetória de queda até fevereiro. A depreciação acumulada no período foi de 20%, enquanto que a inflação acumulada atingia 7,74%14. De acordo com a nossa primeira regressão, a inflação prevista para o período era de 0,36%. Por outro lado, o modelo II estima que a inflação seria de 8% no ano. Já o modelo III, continuou sendo o mais impreciso, prevendo uma inflação de 161% para 2001. O ano de 2002 era de grande expectativa devido às eleições presidenciais de outubro. A falta de esclarecimento quanto à conduta da política econômica dos candidatos aumentavam as incertezas sobre os destinos da economia brasileira. Outros fatores como a redução dos investimentos externos, a prolongada recessão mundial, puxada pelo desaquecimento de economia americana, e as constantes variações no preço do barril do petróleo intensificaram as variações cambiais. O Brasil ainda sofreu uma crise de confiança por parte dos agentes internacionais, que reduziram as linhas de financiamento e a rolagem da dívida externa. Com isso, entre abril e outubro a depreciação acumulada atingiu 62%. Após a eleição de outubro, e com a confirmação da vitória de Lis Inácio Lula de Silva, as variações cambiais inverteram sua tendência de depreciação, principalmente depois de algumas medidas tomadas pelo governo de transição. Para o período de abril 2002 a março de 2003, a taxa de inflação acumulada atingiu 16,57% e o câmbio acumulava uma depreciação de 48%. Conforme os nossos modelos de previsão, a inflação estimada seria algo entorno de 51% para o período completo, e de 7,17% para o modelo II. Novamente o modelo III se mostrou o mais impreciso na previsão de inflação, pois o valor a inflação seria de aproximadamente 160% para o ano de 2002. Os valores da inflação prevista pelos modelos I e III não foram nada confiáveis, justamente porque esses valores divergiram bastante da inflação corrente. Por esses modelos, uma forte variação cambial levaria a economia a uma espiral inflacionária, exceto 14 Essa inflação acumulada não é a do ano de 2001, e sim, a inflação entre os meses de abril 2001 até março de 2002. 62 para 2001, felizmente essa previsão não veio a concretizar. O modelo II foi aquele que apresentou os melhores resultados, estando o seu valor previsto bem próximo ao valor corrente da inflação. Como na realidade, o modelo II não previa um retorno do processo inflacionário crônico, diferentemente os outros modelos. O uso de dados passados para prever a inflação futura é uma ferramenta muito utilizada em séries temporais. Contudo, não se deve aceitar de forma imediata os resultados, pois como mostrados acima, esses resultados não necessariamente reproduzem os acontecimentos da realidade. Em outras palavras, o futuro é banhado pela incerteza, o que influencia a forma dos impactos das variáveis sobre a inflação. As previsões de softwares econométricos devem ser interpretadas como uma possível tendência da trajetória da inflação, e não como uma verdade absoluta. 4.3. Explicação para os Resultados Diferentemente das nossas expectativas iniciais, não conseguimos reproduzir de forma semelhante os resultados de Goldfajn e Werlang (2000). A primeira explicação para esse fato seria o diferente contexto no qual foram realizados os dois trabalhos. Como mencionado acima, o trabalho dos autores foi com uma amostra de 71 países inclusive o Brasil, o que por si só já explicariam parte das diferenças dos resultados. Com relação aos valores da previsão de inflação, como visto, foram completamente diferentes para cada modelo. Mesmo os modelos I e III apresentando um número maior de observações, 91, os seus resultados se mostraram piores do que o modelo II, que apresenta 34 observações. Os modelos para os períodos completos parecem estar fortemente correlacionados com os valores passados, o que prejudica seus resultados. Para os valores das previsões, os modelos I e III ficam prejudicados pois suas séries não são estacionárias, isto é, não convergem para um valor de longo prazo (Johnston e Dinardo, 1997). Com isso, os valores das previsões apresentam uma variância maior, o que reduz a precisão para os valores da inflação em cada crise. Já o modelo II, apesar do reduzido número de observações, suas séries são mais “estacionárias”, o que possibilita melhores resultados nas suas previsões. 63 Capítulo 5 – Conclusões e Considerações Finais Com a adoção do câmbio flutuante em 1999, a taxa de câmbio passou a influenciar de forma mais direta as variações na inflação doméstica. O processo responsável pela mudança na inflação decorrente de alterações no valor da taxa de câmbio é conhecido como pass-through. O primeiro objetivo desse trabalho era fazer uma revisão teórica sobre o passthrough, sendo esta parte realizada no primeiro capítulo. Foram expostas de forma sucinta as teorias de determinação da taxa de câmbio e os principais regimes cambiais. Em seguida foram relacionadas à teoria da lei do preço único e da paridade poder de compra com os aumentos dos preços em uma economia aberta. Por último, teorias sobre as imperfeições de mercado, responsáveis pelos atrasos nos ajustamentos dos preços em direção ao longo prazo. No capítulo 2 foi feita uma revisão teórica e histórica sobre o comportamento da inflação e câmbio para o Brasil, entre 1980 e 2002. De acordo com nossa revisão, no período de inflação crônica (1980-1993), as variações cambiais acompanhavam as mudanças na inflação, mantendo com isso, a competitividade dos nossos produtos no exterior. No período de estabilização (1994-2002), a taxa de câmbio é utilizada como âncora cambial, com o objetivo de estabilização dos preços. Mesmo esse sistema se mostrando eficiente nos curto prazo, ele entrou em colapso em 1999, dando lugar ao regime de câmbio flutuante. A grande dúvida quanto esse sistema reside na possibilidade de variações cambiais levarem a economia a uma espiral inflacionária, isto porque a partir de 1994 a inflação passou está mais sujeita as mudanças na taxa de câmbio. No capítulo 3 foi definida a forma de mensuração do pass-through, tendo como referência o trabalho de Goldfajn e Werlang (2000). Segundo essa definição, foi determinado o valor do grau de pass-through para o Brasil, entre 1980 e 2002. Em seguida foram apresentadas as variáveis que influenciam a transmissão para os preços e a forma de coleta e formação dos dados, obedecendo ao procedimento utilizado por Goldfajn e Werlang (2000). Os dados por nos construídos foram utilizados em simples regressões e em modelos de previsão de inflação, isto para os recentes períodos de excessivas variações no câmbio (1999, 2001 e 2002). 64 As regressões e os modelos de previsão de inflação estão no capítulo 4. As regressões foram divididas em dois períodos, 1980-2002 e 1994-2002. Os resultados obtidos por nosso não se mostraram significativos no geral. O modelo de previsão foi utilizado para determinar os impactos das variáveis sobre a inflação, analisando a possibilidade de um espiral inflacionária iniciada por variações cambiais. De acordo com nossos resultados, existe a possibilidade do retorno de inflação iniciada por mudanças no câmbio em dois modelos (I e III), entretanto esses modelos não se apresentaram confiáveis em suas previsões. Em outro modelo (II), os resultados foram mais coerentes e precisos, refletindo melhor a realidade. O uso de modelos de previsão não deve ser encarado como uma verdade absoluta, e sim como uma tendência do comportamento da inflação. Como observado por Plihon (1995), os regimes de câmbio estão mais vulneráveis à ataques especulativos devido ao processo de globalização financeira dos anos 90. Como essa maior vulnerabilidade dos países, esses podem ser alvos de excessivas variações cambiais, levando a um possível descontrole dos preços na economia doméstica. Por isso, pesquisas no sentido da compreensão dos efeitos das variações cambiais sobre a inflação ganharam importância em uma economia cada vez mais globalizada. Com isso, podem ser traçadas políticas que visam a redução dos efeitos das variações da taxa de câmbio sobre a inflação. Isto se justifica cada vez mais porque nos últimos anos o Brasil utilizou a política de elevadas taxas de juros, com o objetivo de reduzir as variações cambiais e controlar a inflação. Entretanto, mesmo essa política se mostrando eficiente em seu principal objetivo (controle da inflação), ele também tem inibido a volta do crescimento econômico, sendo registradas taxas de crescimento aquém da necessária à obtenção do equilíbrio e longo prazo. 65 Apêndice Tabela A.1: Taxa de Inflação – 1973-1979 Taxa de Inflação Ano IPC (% a.a.) 1973 22,7 1974 34,8 1975 33,9 1976 47,6 1977 46,2 1978 38,9 1979 55,8 Fonte: Conjuntura Econômica 66 Tabela A.2: Variação Real do PIB (% a.a.) 1973-2002 PIB - var. real Ano Anual - (% a.a.) 1973 13,97 1974 8,15 1975 5,17 1976 10,26 1977 4,93 1978 4,97 1979 6,76 1980 9,20 1981 -4,25 1982 0,83 1983 -2,93 1984 5,40 1985 7,85 1986 7,49 1987 3,53 1988 -0,06 1989 3,16 1990 -4,35 1991 1,03 1992 -0,54 1993 4,92 1994 5,85 1995 4,22 1996 2,66 1997 3,27 1998 0,13 1999 0,79 2000 4,36 2001 1,42 2002 1,52 Fonte: IBGE, Contas Nacionais, março, 2003 67 Tabela A.3: Balanço de Pagamento e Balança Comercial US$(milhões) - (FOB) – 1980-2002 Saldo US$(milhões) - (FOB) Data Bal. de pagamentos Balança comercial 1980 -3471,60 -2822,77 1981 624,70 1202,46 1982 -4541,60 780,07 1983 -24,20 6470,39 1984 7026,70 13089,52 1985 -456,60 12485,52 1986 -3835,70 8304,30 1987 1014,60 11173,10 1988 1248,90 19184,11 1989 886,10 16119,19 1990 480,70 10752,39 1991 -369,00 10579,97 1992 14670,20 15238,89 1993 8708,80 13298,77 1994 7215,20 10466,47 1995 12918,90 -3465,62 1996 8666,10 -5599,04 1997 -7907,16 -6752,89 1998 -7970,21 -6574,50 1999 -7822,04 -1198,87 2000 -2261,65 -697,75 2001 3306,60 2650,47 2002 302,09 13142,99 Fonte: Banco Central, Boletim do Banco Central, março, 2003 68 Tabela A.4: Superávit Primário – Anual (% PIB) - 1985-2002 Superávit Primário Data (% PIB) - 1985-2002 1985 2,61 1986 1,59 1987 -0,99 1988 0,91 1989 -1,03 1990 4,69 1991 2,71 1992 1,57 1993 2,19 1994 5,21 1995 0,27 1996 -0,09 1997 -0,87 1998 0,01 1999 3,23 2000 3,51 2001 3,70 2002 3,96 Fonte: Banco Central, Boletim do Banco Central, março, 2003 69 Gráfico A.1: Evolução da Dívida Pública (total) – (%PIB) 1990-2002 Fonte: Banco Central, Boletim do Banco Central, março, 2003 70 Tabela A.5: Taxa de Juros – Selic (% a.a.) 1974-2002 Taxa de juros- Selic Ano (% a.a.) 1974 1975 1976 17,27 21,86 41,15 1977 41,94 1978 1979 46,40 42,57 1980 46,35 1981 89,27 1982 119,35 1983 199,73 1984 255,51 1985 276,53 1986 66,54 1987 353,00 1988 1057,69 1989 2407,28 1990 1153,22 1991 536,89 1992 1549,24 1993 3060,01 1994 1153,84 1995 53,09 1996 27,41 1997 37,78 1998 28,79 1999 25,59 2000 17,43 2001 17,32 2002 19,17 Fonte: Banco Central, Boletim do Banco Central, março, 2003 71 Tabela A.6: Taxa de Desemprego – Média (% a.a.) 1985-2002 Data 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Taxa de desemprego Média - (%) - RMSP 12,46 9,76 8,95 9,71 8,74 9,90 11,57 14,85 14,65 14,28 13,15 14,94 15,69 18,17 19,26 17,64 17,50 18,95 Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego, março, 2003 72 Tabela A.7: Inflação Acumulada e Variação Acumulada do Câmbio (%) 1980-2002 Ano 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Inflação Câmbio Acumulada (%) Var. Acumulada (%) 99,25 94,36 95,62 92,36 104,80 94,95 164,01 278,79 215,26 213,93 242,23 226,51 79,66 58,00 363,41 320,28 980,21 787,44 1972,91 1087,49 1620,97 1870,76 472,70 501,27 1119,10 1121,93 2477,15 2174,85 916,46 1024,85 22,41 14,45 9,56 6,95 1,66 7,46 5,22 7,80 8,94 61,67 5,97 0,94 7,67 30,55 12,53 40,63 Fonte: IBGE e Banco Central , Boletim do Banco Central, março, 2003 73 Referências Bibliográficas Amitrano, A.; De Grauwe, P. e Tullio, G. “Why Has Inflation Remained So Low After The Large Exchange Rate Depreciations of 1992?”. Journal of common market studies. Vol. 35, 1997. Andrade, J.P., Carneiro, F.G. e Silva, M.L.F. “Constrasting Monetary Policies within the Mercosur Experimente” Economia Aplicada, v. 4, n. 2, abril-junho, 2000. Andrade, J.P., Divino, J.A. e. “Revisitando a História das Crises Cambiais Brasileiras Recentes”. (Texto avulso), Brasília, mimeografado pelo Departamento de Economia, 1999. Arrow, K. “Toward a Theory of Price Adjustment”, in Moses Abromovitz et al., The Allocation of Economic Resources: Essays in Honor of Bernard Francis Hales. Stanford, Stanford University, 1959. Bacha, E. L. “Plano Real: uma Avaliação Preliminar”. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 4-23. Baer, W. A Economia Brasileira, São Paulo, Editora Nobel, Segunda edição, 2003. Ball, L. “Monetary Policy Rules in an Open Economy”, Jonh Taylor (Ed), Monetary Policy Rules. Chicago, University of Chicago Press, 1999. Barbosa, F. A inflação brasileira no pós-guerra. Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1983 Barboza, P. A. “Mudanças Principais da Política Cambial Brasileira nos Anos 80 e 90”. II Prêmio Corecon - SP de excelência em economia. Corecon-SP, São Paulo, 1997. Blanchard, O.J. e Kiyotaki, N. “Monopolistic Competition and the Effects of Aggregate Demand”. American Economic Review, setembro, v.77, 1987, pp. 647-666. Bonelli. R. e Landau, E. “Do Ajuste à Abertura: a Economia Brasileira em Transição para os Anos 90”. Texto para discussão. N.251, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Economia, 1990. Cagan, P. “ The Reduction of Inflation by Slack Demand”, in Contemporary Economic Problem, William J. Fellner (Ed). American Enterprise Institute. Washington, D.C., 1978. Cardoso, Eliana, “A Crise Monetária no Brasil: Migrando da Âncora Cambial para o Regime Flexível”. Revista de Economia Política, vol. 21, n. 3, jul-set., 2001. 74 Carlton, D.W. “The Rigidity of Prices”. American Economic Review, setembro, v.76, 1986, pp. 637-658. Carneiro, D. e Modiano, E. “Ajuste Externo e Desequilíbrio Interno: 1980-1984”. In: M. P. Abreu (organiz.), A Ordem do Progresso - Cem Anos de Política Econômica Republicana. Rio de Janeiro, Campus, 1992, Cap. 12. Carvalho, F.C. Economia Monetária e Financeira: Teoria e Política. Editora: Campus, 2000. Clarida, R.; Gali, J. e Gerter, M. “Monetery Policy Rules in Practice: Some Internatinal Evidence”. European Economic Review, n˚ 42, 1998, pp. 1033 – 1067. Coutinho, P.C. “Política de Controle de Preços”. Anais do Sétimo Encontro Latino Americano da Sociedade Econométrica, agosto, 1987, pp. 683-696. Dornbusch, R. “Exchange Rates and Prices”. American Economic Review, Vol. 77, 1987-A. Dornbusch, R. “Purchasing Power Parity”, in The New Palgrave. Nova York, The Stockton Press, 1987-B, pp.1075 – 1085. Erceg, C. “Nominal Wage Rigidtities and The Propagation of Monetary Disturbances”, Federal Reserve Board, 1997. Feenstra, R. C. e Kendal, J. D. “Pass-Through of Exchange Rate and Purchasing Power Parity”. National Bureau Of Economic Research, n˚ 4842, 1994. Fisher, E. “A model of Exchange Rate Pass-Through. Journal of International Economics, Vol. 26, 1989. Franco, G. “O Plano Real em Perspectiva de Médio Prazo”. Em: Velloso, J.P.R. (coord.), O Brasil e o Mundo no Limiar do Novo Século. São Paulo, vol. 2, José Olympio Editora, 1998. Friedman, M. “The Case for Flexible Exchange Rates”, in Essays in Positive Economics. Chicago: University of Chicago Press, 1953, pp. 157-203. Goldberg, P.K. e Knetter, M. “Goods Prices and Exchange Rates: What Have We Learned?”. Journal of Economic Literature. Vol. 35, 1997. Goldfajn, I e Valdés, R. “The Aftermath of Appreciations”. PUC-RIO, Working Paper n˚ 396, Rio de Janeiro, 1998. 75 Goldfajn, I. e Werlang, S. “The Pass-Through from Depreciation to Inflation: a painel study”. Banco Central do Brasil, Working Paper Series. Brasília, n. 5, setembro 2000. Gordon, R. “Founations of the Goldilocks Economy: Supply Shocks and time TimeVarying NAIRU”. Brooking Papers in Economic Activity, 1998, pp. 297 – 333. Gron, A. e Swenson, D. L. “Incomplete Exchange-Rate Pass-through and Imperfect Competition: The Effect of Local Production. American Economic Review, May, 1996, pp.71-76 Gujarati, D. Econometria Básica. São Paulo, Makron Books, Terceira edição, 2000. Johnson, H. “The Case for Flexible Exchange Rates, 1969”. Federal Reserve Board of St. Louis Review 51, pp. 12-24. Johnston, J. e Dinardo, J. Econometric Methods, Quarta edição, McGraw – Hill, Nova Iorque, 1997 Judd, J. F. e. Trehan B. “Has the Fed Gotten Tougher on Inflation?”. Federal Reserve Bank of San Francisco Weekly Letter, San Francisco, 1995. Knetter, M. “Price Discrimination by U.S. and German Exporters”. American Economic Review, March, v. 79, 1989, pp.71-76. Kiley, M. “Staggered Price Setting, Partial Adjustment, Real Rigidities, and Sunspots”, unpublished paper, Federal Reserve Board, 1997. Klein, M. “Macroeconomic Aspects of Exchange Rate Pass-Through”. Journal of International Money and Finance, Vol. 9, 1990. Krugman, P. “Pricing to Market when the Exchange Rate Changes”. National Bureau Of Economic Research, Working Paper, n. 1926, 1986. Krugman, P. e Obstfeld, M. Economia Internacional – Teoria e Política. São Paulo Makron Books, Quinta edição, 2001. Levich, R. “Empirical Studies of Exchange Rate: Price behavior, Rate Determination and Market Efficiency”. National Bureau Of Economic Research, Working Paper, n. 1112, abril, 1983. Lopes, F. O Choque Heterodoxo, caps. 17 e 18, São Paulo, Editora Campus, 1986. Lopes, F. L. “Inflação Inercial, Hiperinflação e Desinflação: Notas e Conjecturas”. Revista da ANPEC, n.8, novembro, 1984. 76 Mendonça, H. F. de. “Metas para a Taxa de Câmbio, Agregados Monetários e Inflação”. In: Revista de Economia Política, vol. 22, n. 1 (85), jan-mar, 2002, pp.34-52. McCarthy, J. “Pass-through of Exchange Rate and Import Prices to Domestic Inflation in Some Industrialized Countries”, Federal Reserve Bank of New York, 1999. Modiano, E. "A Ópera dos Três Cruzados: 1985-1989". In: M. P. Abreu (org.), A Ordem do Progresso - Cem Anos de Política Econômica Republicana. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1992, Cap. 13. Monteiro, J.V. Economia e Política: Instituições de Estabilização Econômica no Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1997. Mussa, M. “Nominal Exchange Rate and the Behavior of Real Exchange Rates: Evidence and Implications”, in Karl Brunner e Allan H. Meltzer, Real Business Cycles, Real Exchange Rates and Actual Policies, North-Holland, Amsterdam, 1986, pp. 117-214. Nicholson, W. Microeconomic Theory: basic principles and extensions. Sétima edição. Orlando, The Dryden Press, 1998 Paula, L. F. e Alves Jr. A. “Fragilidade Financeira Externa e os Limites da Política Cambial no Real”. Revista de Economia Política, São Paulo, v.19, n.1, jan-mar, 1999, pp.72-93. Pereira, L.C.B "1992 - A Estabilização Necessária". Revista de Economia Política, Vol. 12, n. 3, jul-set., 1992, pp. 91-106. Pereira. L.C.B. e Nakano, Y. Inflação e Recessão. São Paulo, Editora Brasiliense, 1984. Plihon, D. “A Ascensão das Finanças Especulativas”. Economia e Sociedade, v.5, dezembro,1995, pp. 61-78. Obstfeld, M. “International Currency Experience: New lessons and lessons relearned”. Brookings Papers on Economic Activity1: 1995. pp. 119-220. Resende, A. L. “Da Inflação Crônica à Hiperinflação: Observações sobre o Quadro Atual”. Revista de Economia Política, São Paulo, v.9, n.1, jan-mar, 1989, pp. 7-20. Romer, D. “Openness and Inflation”. Quartely Journal of Economics, vol. 108. 1993. Salvatore, D. Economia Internacional. Sexta edição. Rio de Janeiro, Editora LTC, 1998. 77 Sicsú, J. “Flutuação Cambial e Taxa de Juros no Brasil”. In: Revista de Economia Política, vol. 22, n. 1 (85), jan-mar, 2002. Simonsen, M.H.“A Inflação Brasileira: Lições e Perspectivas”. Revista de Economia Política, vol. 5. n˚ 4, out-dez, 1985, pp. 15-30 Simonsen, M.H. 30 Anos de Indexação. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995. Shimer, R. “ Why is Unemployment Rate so Much Lower?” NBER Macroeconomics Annual, vol. 13, B. Bernanke and J. Rotemberg Eds. Cambridge, Massachusetts, MIT Press,1998. Souza, F.E.P. “O Novo Regime Cambial Brasileiro e suas Conseqüências para a Política Econômica”. Textos para Discussão, BNDES, Rio de Janeiro, n.18, nov, 1993. Swenson, D.L. “Explaining Domestic Content: Evidence from Japanese and U.S. Auto Production in the U.S.” in Robert C. Feenstra, ed., Effects of U.S. Trade Protection and Promotion Policies. Chicago, IL: University of Chicago Press, 1986. Taylor, J. “Low inflation, Pass-Through and the Pricing Power of Firms”. Stanford, Stanford University Press, 1999. Williamson, J. The Exchange Rate System.. Policy Analyses in International Economics. Washington, D.C., Segunda edição, Institute for Intenational Economics, 1985. Yun, T. “Nominal Price Rigidity, Wage Supply Endogeneity, and Business Cycles”, Journal of Economics Monetary, Vol.37, 1996, pp. 345-370. Zini, A.A. “A Política Cambial em Discussão”. Revista de Economia Política. São Paulo, v.9, n.1, jan-mar, 1989. 78