A INCLUSÃO SOCIAL ATUANDO NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS EM ESCOLAS REGULARES Ana D’Arc Moreira Arcanjo1 Lúcia Helena de Magalhães2 Teresinha Moreira de Magalhães3 RESUMO Este artigo relata a estrutura central da educação envolvendo o desenvolvimento de uma visão mais aprofundada em relação ao tema inclusão. Questões sobre práticas didático-pedagógicas são destacadas, visando um sistema unificado que inclua as crianças portadoras de necessidades educativas especiais. Palavras-chave: Educação, Inclusão, Necessidades Especiais. ABSTRACT This article reports the central structure of education involving the development of a more detailed view on the subject matter inclusion. Questions about teaching-teaching practices are also highlighted, seeking a unified system that includes the children with special educational needs. Key words: Education, Inclusion, Special Needs 1 Ana D’ Arc Moreira Arcanjo, Graduada em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora; PósGraduada em Psicologia e Desenvolvimento Humano pela UFJF, Formação em Terapia CognitivoComportamental. Psicóloga Clínica no Instituto da Família de Juiz de Fora. [email protected] 2 Lúcia Helena de Magalhães, Pós-graduada em Desenvolvimento de Aplicações para Web pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras, Mestre em Sistemas Computacionais/Computação de Alto Desempenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora no Curso de Sistemas para Internet da Faculdade de Ciências Econômicas do Instituto Vianna Júnior e professora da Faculdade de Santos Dumont. [email protected] 3 Teresinha Moreira de Magalhães, Pós Graduada em Redes de Computadores pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras e doutoranda em Sistemas Computacionais/Computação de Alto Desempenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora no Curso de Sistemas para Internet das Faculdades Integradas do Instituto Vianna Júnior. Coordenadora do curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Santos Dumont. [email protected] A INCLUSÃO SOCIAL ATUANDO NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS EM ESCOLAS REGULARES O desenvolvimento social e emocional é um fator fundamental no desenvolvimento da linguagem. Antes que a criança saiba dizer sua primeira palavra, ela estabelece comunicação com os adultos e aprende a interagir com as pessoas em atividades ou jogos. A interação com os colegas é uma força importante para o desenvolvimento das relações e habilidades sociais normais. Assim, uma criança que não tenha experiências adequadas nas relações com seus colegas corre o risco de sofrer algum desajuste posterior (Caballo, 1996). As crianças que sofrem privações de relações sociais – interação ou estimulação escassa ou inadequadas condições físicas – apresentam retardo no desenvolvimento da interação verbal e não-verbal, assim como dificuldades para iniciar a comunicação, o que está estreitamente relacionado com a aquisição de habilidades sociais e pragmáticas que estão relacionadas às regras sociais. O grau de retardo ou alterações do desenvolvimento social e comunicativo depende também do grau de privação ambiental sofrida. Nesse item, incluem-se as crianças classificadas como psicóticas, esquizofrênicas e autistas, cujo desenvolvimento social e emocional está gravemente alterado. Para que seja possível um avanço no desenvolvimento lingüístico dessas crianças é preciso que elas sejam incluídas em um ambiente que propicie tal resultado. Sendo assim, a educação inclusiva passa a ser de fundamental importância na inclusão dessas crianças PNEE (Portadoras de Necessidades Educativas Especiais), principalmente no âmbito escolar (Stainback & Stainback, 1999). A inclusão escolar tem por objetivo planejar programas de intervenções acadêmicas, a fim de auxiliar a criança PNEE na integração no sistema regular de ensino, beneficiando-a com o que a escola poderá lhe oferecer. Neste caso, a sociedade e as instituições de ensino precisam remover os obstáculos existentes em relação à participação das pessoas portadoras de deficiência na convivência em sociedade, mudando, assim, atitudes que mantêm a exclusão social. A educação inclusiva passou a ser a facilitadora do desenvolvimento da linguagem de crianças portadoras de necessidades especiais em escolas regulares, a partir do momento que estas crianças começam a fazer parte do convívio no meio social, possibilitando-as viver em um ambiente estimulador, sua comunicação passará a ser compreendida e desenvolvida entre as outras pessoas. A inclusão social possibilita com que as pessoas, com qualquer quadro de necessidades especiais, se prepararem para assumir posições na sociedade e, conseqüentemente, a sociedade se adaptar para atender as necessidades de todas as pessoas. Para que o portador de necessidades especiais possa fazer parte efetiva do convívio social, é imposto a eles condições de uma aprendizagem igualitária. Para tanto, é importante que as entidades educadoras e os profissionais especializados se qualifiquem para estabelecerem melhores relacionamentos entre as outras crianças no ambiente escolar. Bandura (1979) acreditava que o comportamento social é a relação entre pessoas em relação ao ambiente comum, ele surge porque um organismo é importante para o outro como parte de seu ambiente. A partir do comportamento social entre as pessoas, Bandura, desenvolveu o modelo de aprendizagem social, onde a criança poderá controlar seu comportamento observando a conduta positiva de outra criança. De acordo com Bandura (1979), para que ocorra o desenvolvimento da linguagem em crianças portadoras de deficiências é preciso de uma exposição variada de estímulos ambientais sociais. Com isso a criança poderá observar comportamentos comunicativos, sendo capazes de reproduzir o modelo em resposta a uma situação de contato com o outro. Assim, qualquer aprendizagem que se realize a partir da modelação de um comportamento observado poderá reproduzir uma resposta de forma a se expressar comunicativamente devido aos estímulos de um ambiente favorável. Os métodos de intervenção em linguagem variam desde o trabalho direto com a criança em situações estruturadas até outras formas mais naturais, baseadas nas brincadeiras e no ambiente próximo da criança. Pensava-se que para melhorar a capacidade lingüística da criança era adequado estimular globalmente a linguagem ou treinar aspectos lingüísticos específicos através de sessões clínicas, frequentemente afastadas do contexto onde acontecia - ambiente social (Caballo, 1996). Treinar vocabulário ou sintaxe separado de suas funções comunicativas não é uma boa estratégia. É preciso aguçar o interesse dessas crianças nos aspectos comunicativos, incluindo em ambiente que estimulem suas funções comunicativas. Numa perspectiva funcional, a linguagem não se incide somente nas incapacidades da criança, mas também em sua interação com seu ambiente. A linguagem é um meio de comunicação que a criança portadora de deficiência utiliza na medida em que esteja motivada para isso, onde o outro manifeste interesse em estabelecer uma comunicação com ela ( Stainback & Stainback, 1999). Nesse sentido, sabe-se que para favorecer a linguagem é preciso que a criança PNEE sinta-se estimulada e participe. Portanto, mais que insistir de forma direta que a criança estabeleça uma comunicação, condições devem ser criadas para que a linguagem se desenvolva. Isso dependerá da forma como for organizado o contexto, a situação e a maneira de interagir. Primeiramente, deve-se ter em mente, que o apoio e a intervenção na área da comunicação devem começar antes mesmo de a criança ter sido introduzida no meio escolar, auxiliando os familiares sobre jogos e atividades que fornecem um ambiente linguisticamente estimulante e cognitivamente desafiador para a criança. Dado que a base do desenvolvimento da linguagem é a interação com outras pessoas, o ambiente familiar torna-se intermediador de tal desenvolvimento, uma vez que nele é possível encontrar um ambiente favorável para a comunicação entre varias pessoas (Stainback & Stainback, 1999). O meio escolar, também, possibilita à criança PNEE a aprender a comunicar-se socialmente observando os colegas da escola. Bandura (1979) relata que a aprendizagem social por meio da observação ou imitação envolve sistemas de representação da imaginação e do verbal. A representação imaginária facilita a aprendizagem social, manipulando a função imaginária a ligar cada par de termos (estímulo e resposta) com uma imagem mental, usando estímulos para evocar imagens vividas. Ou seja, os estímulos e as respostas se codificam em imagens ou palavras, representando a memória. Estes estímulos servem como pistas para recuperar a imagem e produzir uma resposta, decodificada pela representação verbal. No sistema de representação verbal o sujeito codifica eventos verbais observados, armazenando-os mentalmente, para, posteriormente, produzir uma resposta verbal. Para que seja possível estabelecer a inclusão de crianças PNEE num ambiente escolar regular, é preciso que estas crianças estejam preparadas para filtrar comportamentos observáveis para evocar uma resposta adequada ao meio que está inserido. Por exemplo, se um colega tocar-lhe a mão como um gesto de cumprimento, o simples fato do toque tenderá a associar a imagem do toque (ou contato com a mão do outro) como resposta de relação (ou amizade, aceitação) com o colega que o estimulou – representação imaginária. Com isso a criança deficiente passará a representar uma imaginação do comportamento (toque de mãos) reproduzindo uma resposta a partir do estímulo verbal (“oi, João”) – representação verbal. Nestas condições, os eventos estimuladores evocam o nome do colega o qual tocou a mão do portador de necessidades especiais, possibilitando-o visualizar a imagem das características físicas daquele colega ao ouvir o nome dele “João” (Bandura, 1979). Em virtude deste sistema de representação é possível estabelecer relações sociais no meio escolar, facilitando a inclusão social na escola e na sociedade como um todo. Pode-se dizer que a maior parte do comportamento humano é aprendida observando o comportamento dos outros. A aprendizagem comunicativa também se dá pela observação ou modelação, que são administradas pela atenção, retenção, produção e motivação (Bandura, 1979). As pessoas não vão aprender a menos que preste atenção a aspectos significativos do comportamento a ser modelado e que os percebam detalhadamente. Os observadores e os modelos se caracterizam em determinar quanto de comportamento imitativo vai ocorrer em uma dada situação, sendo influenciado por uma base de conhecimentos e orientação observados por uma pessoa. A retenção dos comportamentos observados depende das imagens mentais e das representações verbais. O material retido pela memória é criado para corresponder ao conhecimento ou expectativas existentes por parte do observador. À medida que uma criança apresenta dificuldades de obter atenção por um determinado tempo, é preciso uma intermediação para que ocorra a observação do comportamento do outro. Para isso, é necessário que o educador, ou até mesmo o colega, direcione a atenção da criança deficiente em tal comportamento. Com a observação dos modelos, gradualmente, a criança vai se envolvendo de forma a codificar verbalmente os eventos analisados, por exemplo, quando uma criança autista nãoverbal não é capaz de imitar a palavra “bebê”, o educador facilitará o processo modelando os sons componentes e, após terem sido esses elementos estabelecidos através da imitação, a criança reproduzirá a palavra “bebê”. Com o uso de procedimentos de modelação, é possível analisar, gradualmente, boas melhoras na modificação de deficiências comportamentais e comunicativas da criança portadora de necessidade especial (Bandura, 1979). Sendo assim, o educador deve desempenhar suas habilidades comunicativas a fim de se expressar com clareza, escutar e entender a visão da criança, promovendo o desenvolvimento de sua linguagem. A ênfase dada à aprendizagem social por observação, de Bandura, tem por finalidade ressaltar a importância do comportamento do outro para o desenvolvimento da linguagem de crianças com deficiência em ambiente escolar. Se as crianças não fossem expostas a modelos verbais ou gestuais, provavelmente seria impossível ensinar-lhes os tipos de respostas que constituem a linguagem. Em crianças PNEE, quando desenvolvidas as habilidades verbais, é possível estabelecer vínculos comunicativos com outras crianças no ambiente social. Já crianças que não possuem características verbais, passam a lançar mão de pistas comunicativas (expressões corporais, linguagem de sinais, expressões faciais de agrado ou insatisfação, associação de objeto e imagem) para comunicar-se com outras crianças. Este tipo de linguagem torna-se ameaçadora à inclusão social, uma vez que, a maioria dos educadores está despreparada para atuarem como intermediadores neste tipo de expressão comunicativa (Stainback & Stainback, 1999). Nas crianças PNEE a aprendizagem da linguagem é consideravelmente mais difícil. É preciso uma maior estimulação de tal habilidade para que ocorra a comunicação e, conseqüentemente, a interação social entre criança e meio. O papel influente desempenhado pelos processos modeladores na aquisição da linguagem pode ser fornecido pelo envolvimento dos educadores em realizar as seqüências de verbalizações que a criança produz, dando-as um significado e reforçando positivamente quando a criança retornar a verbalizar e por si só fazer a associação apresentada pelo professor (Bandura, 1979). Assim, pode-se representar, por exemplo, quando uma criança diz “... ah, ah, ah,...” sem gesticular ou apontar algo se torna insatisfatória sua tentativa de comunicar-se, mas uma vez que o professor passar apresentar para esta criança que o que está balbuciando significa água, sempre que o disser, a criança só o pronunciará quando sua necessidade de beber água for aquela naquele momento. Com isso, o educador poderá associar outros balbucios e gestos quando a criança portadora de deficiência precisar suprir alguma necessidade, começando, assim, estabelecer uma forma de comunicação. O treinamento da linguagem torna-se conveniente para o estabelecimento de habilidades comunicativas. As crianças são ensinadas a usar a linguagem para iniciar e manter interações sociais, expressar seus desejos e emoções e procurar e trocar informações do seu ambiente (Bandura, 1979). A comunicação das crianças PNEE é promovida de diversas formas. Primeiro, removendo objetos e atividades desejadas até que as crianças expressem seus desejos, sendo ensinadas a influenciar e controlar seu ambiente de modo comunicativo (Bandura, 1979). Segundo, é a receptividade do ambiente, onde a escola deverá deixar em fácil acesso sistemas de símbolo (gravuras, palavras associativas) utilizáveis pela criança deficiente e pelos parceiros (tutor, colegas e equipe educacional) de comunicação; e, em terceiro, sempre que a criança deficiente processe sua comunicação, as pessoas que estiverem participando, deverão deixá-lo concluir sua “conversa” com paciência evitando dominar a comunicação com a intenção de ajudá-lo (Stainback & Stainback, 1999). À medida que o treinamento progride, os procedimentos de treinamento são incorporados nas interações interpessoais, onde os portadores, os colegas da turma, familiares e funcionários da escola, se manifestam em usar o sistema comunicativo para poder interagir uns com os outros. Com o aumento do número de parceiros de comunicação, o aluno deficiente poderá, através do sistema de linguagem apropriado à sua necessidade, aumentar a qualidade e o sucesso de sua inclusão escolar. Para tanto, é importante a participação de toda a comunidade escolar em prol à inclusão dos PNEE no meio escolar. (Stainback & Stainback, 1999). É importante que os educadores tenham em mente que para facilitar a inclusão social de crianças com necessidades especiais em sala de ensino regular é preciso intermediar a comunicação, relacionando o rosto como a fonte da linguagem. O contato face-a-face com a criança possibilita que todos envolvidos com a inclusão participem ativamente da comunicação com essas crianças, sendo, os intermediadores, importantes condutores na interação social. A partir do olhar o professor pode expressar seus sentimentos em relação a criança, e vice-versa, possibilitando uma aproximação ou um afastamento. Nas crianças deficientes o contato com os olhos expressa reações comunicativas importantes. Elas sinalizam se estão sendo apáticas, aversivas ou afetuosas na relação com o meio social, ou seja, o olhar pode revelar a atenção, as emoções e as intenções sociais da criança com o ambiente. Ao planejar sua aula, o professor deve estabelecer expectativas altas e criar oportunidades para todos os alunos comunicarem com sucesso, incluindo alunos PNEE, de todos os níveis sociais e culturais no ambiente escolar. A instituição de educação deve procurar estimular à aprendizagem, promovendo a interação entre as crianças e aumentando as possibilidades lingüísticas da criança PNEE (Mittler, 2003). É evidente que a linguagem da criança PNEE se desenvolve melhor no meio de ensino regular do que em ambientes segregados, isso ocorre, em razão, da maior diversidade de amizades e trocas no ambiente escolar inclusivo. Stainback e Stainback (1999) relatam o caso do aluno Michael como um exemplo de inclusão: “... as amizades dele não existiam quando ele ingressou na segunda série de sua escola fundamental local. Michael era autista, e juntamente com esse rótulo, vinha uma incapacidade de comunicar-se verbalmente, uma tendência de morder os adultos e uma propensão para envolver-se em comportamentos auto- estimulatórios não- característicos de seus colegas. Embora tenha havido uma tentativa de apresentar Michael a seus colegas através de uma estratégia modificada do Currículo de Amigos, houve pouca interação significativa entre ele e seus colegas. Quando a rotina da classe se estabeleceu, os pais de Michael esforçaram-se muito para colaborar com seus professores criando áreas de especialidade para Michael. Pra os estudos sociais, ele levou gravuras e objetos dos países que estavam sendo estudados; freqüentemente tinha muitos suprimentos para projetos de arte ou material manipulativo de matemática em sua carteira; e liderava os alunos na pista de obstáculos montada no playground. O pessoal da escola ajudou seus colegas a desenvolverem um ‘dicionário do Michael’, que proporcionava interpretações dos seus comportamentos: ‘Quando Michael bate palmas, pode estar entediado; você pode convidá-lo para jogar um jogo ou ler um livro com você’. ‘Quando Michael dá um grito, ele está contente e quer que você se aproxime e veja o que ele está fazendo’. Quando os alunos começaram a entender Michael e perceber seus interesses, passaram a ficar mais tempo interagindo com ele. Finalmente, relacionamentos mais significativos desenvolveram-se com dois de seus colegas, que passavam algum tempo na casa de Michael, assim como ele na casa deles (Stainback & Stainback, 1999, p.187)”. No caso citado acima, para que fosse efetivada a inclusão social na sala de aula regular de forma satisfatória, os pais do aluno adaptaram formas de facilitar a participação no contexto da aula. Com isso, foi possível estabelecer melhor relação entre os colegas e a criança deficiente. Uma vez que a escola possibilita a reestruturação de seu currículo, torna-se apropriada à inclusão em escolas regulares de crianças PNEE. Contudo, o caso relatado foi realizado em uma escola estruturada, que contribuiu na organização do ambiente escolar adequado para a criança. Em crianças que apresentam alguma deficiência e, juntamente, desprovida de recursos, ou seja, oriundas de famílias pobres, têm maiores dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Não será só com a reestruturação do currículo escolar que estas crianças poderão desenvolver sua comunicação, dependerá, também, de melhores condições de moradia e alimentação para chegarem ao sucesso. De acordo com Mittler (2003), o baixo rendimento escolar está relacionado com a falta de recursos, até mesmo, a relação social entre as crianças, primordial para o desenvolvimento de habilidades comunicativas. Mittler conduziu um estudo sobre o desenvolvimento da linguagem em crianças de classes sociais diferentes: “Há mais de 30 anos, conduzi um estudo sobre o desenvolvimento da linguagem com cerca de 300 crianças que, após duas semanas, estariam completando o seu quarto aniversário. Das 100 crianças que estavam freqüentando pré-escolas públicas naquele momento, as habilidades de linguagem das crianças de classe social um e dois apresentaram uma média 53 meses, em contraste com crianças de classe social quatro e cinco, que apresentaram uma média de 41 meses, e aquelas crianças da classe social três, cuja média estava em um nível de 48 meses (Mittler, 2003, p. 80)”. Foi observado no estudo de Mittler que crianças de classe social alta a média têm melhores recursos para desenvolver as habilidades de linguagem do que as crianças de classe social baixa. Este estudo foi feito com crianças não portadoras de deficiências, entretanto, fica mais evidente que a situação socioeconômica infere no desenvolvimento da linguagem de crianças com necessidades especiais, pois estas apresentam elementos desencadeadores a mais que as crianças que foram analisadas por Mittler. Isto é apenas uma das dificuldades em promover o desenvolvimento da linguagem e a inclusão social de crianças com necessidades especiais. A pobreza vem acompanhada de insuficiência de nutrientes no organismo da criança, da falta de atendimento especializado apropriado à criança deficiente, da dificuldade escolar, principalmente, da estrutura do estabelecimento de ensino que desprovem de recurso para amparar estas crianças. Esta desigualdade de classes dificulta a interação social entre as crianças e, consequentemente, o desenvolvimento da linguagem. A desigualdade social é observada na criança desde a sua casa até à educação. É preciso que o governo assuma compromissos com a justiça social e as oportunidades igualitárias, podendo, assim, produzir uma educação igual para todos, dando condições às famílias e às escolas para o desenvolvimento das crianças e inclusão do PNEE no meio social. Muitas vezes, o governo não dá suporte às escolas no Brasil efetivar um currículo apropriado às crianças. A Lei de “inclusão para todos” existe, mas efetivá-la no currículo escolar torna-se um obstáculo tanto para a escola como para a sociedade em geral. Assim, maiores reinvidicações devem ser realizadas para colocar em prática a inclusão para todos. A inclusão social tem como base adaptação da sociedade de forma a atender as necessidades especiais de cada pessoa, buscando seu desenvolvimento e exercício à cidadania. Então, para que a inclusão social de crianças PNEE possa ser atendida, é necessária uma adaptação, por parte da sociedade, de um sistema de comunicação que atenda às necessidades de cada portador, aumentando a qualidade da linguagem, a fim de maximizar a relação do deficiente com o meio social (Stainback & Stainbach, 1999). O ensino inclusivo não pode ocorrer espontaneamente, é preciso que ocorram mudanças para a sua realização, principalmente nas formas de comunicação com os portadores de deficiência. Mas isso só será possível surgir com o tempo. As mudanças envolvem a estrutura do setor central de educação, a organização de cada escola e a didática da sala de aula (Stainback & Stainback, 1999). CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, cada escola deve estimular o desenvolvimento da equipe de educadores para a melhoria contínua do ensino regular, preparando os professores para a integração entre todos os alunos. E propor a estruturação de um currículo unificado como meio de dirigir o diálogo igualitário entre os estudantes. Na realidade, a inclusão do portador de necessidades especiais no meio escolar somente se dá quando ele desenvolve um mínimo nível lingüístico, que lhe permita se comunicar com seus colegas e aprender de forma autônoma. Infelizmente, esse nível se consegue em pouquíssimas ocasiões, o certo seria a sociedade desenvolver habilidades para comunicar com os portadores de necessidades especiais estabelecendo uma comunicação unificada. Por conseguinte, é necessário insistir na necessidade de um sistema compartilhado de comunicação como requisito para a inclusão social. Em um mundo que se nos abre cada dia mais através da comunicação, é preciso conhecer as modalidades que a inclusão apresenta para o portador não ficar marginalizado. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDURA, A. Modificação do Comportamento. (E. Nick, Trad.) Rio de Janeiro: Interamericana, 1979. CABALLO, V. E. 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