PALESTRA 20 RAIB a PLANTAS TÓXICAS E MICOTOXINAS QUE AFETAM A REPRODUÇÃO EM RUMINANTES E EQÜINOS NO BRASIL* F. Riet-Correa Universidade Federal de Campina Grande, Hospital Veterinário, CSTR Patos, PB. E-mail: [email protected] Ateleia glazioviana e Tetrapterys spp. Aspidosperma pyrifolium A. pyrifolium, da família Apocynaceae, conhecido popularmente como pereiro causa abortos ou nascimento de animais prematuros em caprinos (MEDEIROS et al., 2004) e provavelmente ovinos e bovinos (SILVA et al., 2006) na região semi-árida do Nordeste. Os caprinos abortam quando ingerem pereiro em diferentes fases de gestação. Os abortos ocorrem principalmente durante o período seco, quando após um período sem chuvas não há mais forragem e o pereiro se mantém ainda verde, como a principal alternativa de alimentação. Ocorre, também, após a ocorrência de chuvas durante o período seco, que fazem com que o pereiro rebrote rapidamente e seja consumido pelas cabras em gestação quando ainda há carência de forragem, ou quando cabras prenhes são colocadas em áreas com pereiro e pouca disponibilidade de forragem. O principal sinal clínico é o aborto ou o nascimento de cabritos prematuros que morrem após o parto. Parece que a planta, mais do que causar aborto induz o parto prematuramente, já que muitos animais nascem vivos e morrem após o parto. Se a gestação está a termo no momento de consumo da planta o cabrito consegue sobreviver. Se a planta for ingerida nos primeiros 34 dias de gestação causa mortalidade embrionária (MEDEIROS et al., 2004). Não há descrições de lesões fetais ou da placenta. Realiza-se pelos dados epidemiológicos. Deve ser realizado o diagnóstico diferencial com outras causas de aborto em caprinos, incluindo toxoplasmose. No entanto, outras causas infecciosas de abortos não têm sido identificadas em caprinos e ovinos no semiárido. Para diminuir ou evitar as alterações reprodutivas causadas pelo consumo de pereiro é necessário evitar que cabras prenhes permaneçam em áreas onde há pereiro, principalmente nas épocas de seca com pouca disponibilidade de forragem. No caso de não ser possível esta medida é provável que a suplementação alimentar das cabras prenhes evite, pelo menos parcialmente, o consumo de pereiro. As intoxicações por A. glazioviana (Leg. papilionoideae), T. acutifolia e T. multiglandulosa (Malpighiaceae) causam abortos e mortalidade perinatal em bovinos e experimentalmente, também em ovinos e caprinos. Alem de aborto e mortalidade perinatal estas 3 plantas causam uma forma nervosa, denominada forma letárgica, com espongiose (status spongiosus) do sistema nervoso central e uma cardiomiopatia crônica com mortes repentinas, sem prévias alterações clínicas ou com manifestação de edemas de declive e morte (TOKARNIA et al., 1989; GAVA & B ARROS, 2001; G AVA et al., 2001). As três enfermedades podem ser observadas em forma conjunta ou isoladamente (GAVA & BARROS, 2001; GAVA et al., 2001). A. glazioviana (timbó, maria-preta, cinamomo bravo), que também tem sido diagnosticada como causa de abortos em ovinos e eqüinos, é a planta tóxica mais importante para a região Oeste do Estado de Santa Catarina e também para o Noroeste do Rio Grande do Sul. Em bovinos os abortos ocorrem em qualquer período gestacional, geralmente entre os meses de novembro e maio. No inverno, de junho a setembro, a planta fica sem folhas. Os animais ingerem a planta quando há escassez de alimentos, principalmente em conseqüência de períodos de seca ou superlotação, e após transportes. A maioria dos abortos se deve à ingestão das folhas verdes das plantas em crescimento, mas algumas vezes podem ocorrer no período de queda das folhas, quando os animais as consomem junto com o pasto. A freqüência de abortos é variável, de 10%-40% das vacas prenhes. Quando a ingestão da planta ocorre no final da gestação e em doses menores que as que causam aborto nascem bezerros fracos que morrem em poucos dias (GAVA & BARROS, 2001; GAVA et al., 2001; GARCIA Y SANTOS et al., 2004). Trabalhos em ovinos demonstraram que alguns destes animais, se atendidos corretamente, podem recuperar-se (GAVA et al., 2003). Tetrapterys acutifolia e T. multiglandulosa são cipós ou arbustos escandentes da família Malpighiaceae *Palestra apresentada no 20a RAIB, escrita com base em: RIET-CORREA, F.; M ÉNDEZ, M.C. Plantas tóxicas e micotoxinas. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A.; BORGES, J.R. (Eds.). Doenças de ruminantes e eqüinos. 3.ed.Santa Maria: Palocci, 2007. Biológico, São Paulo, v.69, n.2, p.63-68, jul./dez., 2007 63 64 20 a RAIB que ocorrem na Região Sudeste do Brasil. T. acutifolia (cipó-ruão, cipó-preto) ocorre na região de Governador Valadares, Estado de Minas Gerais, e em alguns municípios do Estado de Espírito Santo, sendo conhecida pelos nomes populares de “cipó-preto” e “cipóruão”. T. mutiglandulosa (cipó-ferro, cipó-vermelho) ocorre nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul, sendo conhecida popularmente como “cipó-vermelho” ou “cipó-ferro” (TOKARNIA et al., 1987). Recentemente foi diagnosticada a intoxicação por T. multiglandulosa no Mato Grosso do Sul. De 290 vacas, 230 (79,3%) abortaram ou tiveram bezerros que morreram após o parto; sete vacas morreram por insuficiência cardíaca. Quarenta dias após, de 285 novilhas que foram introduzidas no mesmo pasto, morreram 9 de insuficiência cardíaca (CARVALHO et al., 2006). O aborto ocorre em qualquer fase da gestação. Experimentalmente tem sido observado que precedendo o aborto pode ocorrer um estado de letargia, que perdura por 1-3 dias. Algumas vacas permanecem longos períodos em decúbito e podem apresentar algum grau de perda da visão. Em bovinos intoxicados por A. glazioviana descreve-se retenção de placenta e descarga sanguinolenta pela vagina (GAVA & BARROS, 2001; GAVA et al., 2001). Em experimentos em ovinos com A. glazioviana e T. mulglandulosa não foram encontradas lesões na placenta (STIGGER et al., 2001; RAFFI et al., 2004; RIET-CORREA, 2005). Quando a planta é ingerida no período final da gestação, os bezerros nascem fracos, alguns não conseguem se manter em pé, permanecendo de cabeça baixa, não manifestando disposição para mamar. Outros permanecem em pé, com depressão e debilidade. A maioria morre nos primeiros dias de vida, mas alguns animais se recuperam (TOKARNIA et al., 1989; GAVA & B ARROS, 2001; G AVA et al., 2001; GARCIAY SANTOS et al., 2004). Os abortos e a mortalidade perinatal ocorrem em conseqüência das lesões cardíacas e nervosas dos fetos, que ocorrem pela passagem do princípio ativo da planta por via transplacentária (RAFFI et al., 2004; GARCIA Y SANTOS et al., 2004; RIET-CORREA, 2005). Nos fetos abortados e nos animais que morrem após o parto podem observar-se edemas subcutâneos, anasarca, e lesões cardíacas. As lesões histológicas do coração se caracterizam por miócitos tumefeitos, com núcleos grandes e retangulares ou com formas irregulares. Há necrose de miofibras e fibrose multifocal. Algumas miofibras podem apresentar grandes vacúolos. Associada a essas lesões observase infiltrado macrofágico multifocal. No sistema nervoso há vacuolização (espongiose ou status spongiosus) do sistema nervoso central, localizada, principalmente, na substância branca da medula cerebelar e substância branca subcortical, afetando, às vezes, as camadas profundas do córtex cerebral. Pode haver lesões nos pedúnculos cerebelares, ponte, mesencéfalo, cápsula interna, medula oblonga e medula espinhal (GAVA & BARROS, 2001; GAVA et al., 2001; RAFFI et al., 2004; GARCIA Y SANTOS et al., 2004; RIET-CORREA, 2005). Na microscopia eletrônica as lesões do sistema nervoso caracterizam-se por edema intramielínico (RIETCORREA, 2005). Se desconhece o princípio ativo destas três plantas, mas parece evidente que as três tem uma substância semelhantes que causa lesões nos fetos e nos adultos. Experimentalmente doses de 22-35 g/kg de A. glazioviana causam aborto (GAVA & BARROS, 2001; GAVA et al., 2001). T. multiglandulosa causou aborto em caprinos que ingeriram diariamente 10 e 20 g/kg, abortando aos 42-73 dias e aos 17-24 após o início da ingestão, respectivamente (MELO et. al., 2001). Em ovelhas prenhes doses diárias de 1,5 e 3 g/kg, ministradas a partir do 90o dia de gestação causaram aborto entre os dias 110-134 dias de gestação. Ovelhas que receberam diariamente 1 e 1,5 g/kg da planta seca a partir do 120o dia de gestação pariram cordeiros com a forma neonatal da doença (RIET-CORREA, 2005). Stryphnodendron spp. e Enterolobium spp. S. coriaceum, S. obovatum, E. contorttisiliquum, E. gummiferum e E. timbouva, (Leguminosae Mimosoideae) causam aborto e, também, sinais digestivos e fotossensibilização em bovinos. Stryphnodendron coriaceum conhecido como barbatimão, barbatimão do Piauí ou Barbatimão do nordeste é uma planta tóxica importante nos Estados do Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Ceará e Bahia, principalmente em regiões de chapada. A intoxicação, que afeta, principalmente, o sistema digestivo ocorre em bovinos pela ingestão de favas, no período de julho a setembro, quando estas caem e são ingeridas pelos animais (DOBEREINER & CANELA, 1956; TOKARNIA et al., 1991). Os sinais clínicos caracterizam-se por apatia, ressecamento do focinho, anorexia, parada da ruminação, atonia ruminal, tremores musculares, salivação, lacrimejamento e, em alguns casos, diarréia. A morte ocorre a partir do 8º dia. Animais que sobrevivem por mais tempo podem abortar ou apresentar fotossensibilização (TOKARNIA et al., 1991). S. obovatum (barbatimão) causa abortos, sinais digestivos e provavelmente fotossensibilização em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais (TOKARNIA et al., 1998). Os bovinos ingerem as favas quando estão com fome, na época da seca em que estas caem ao chão. E. gummiferum, E. contortisiliquum) e E. timbouva) (orelha de macaco, timbaúva, tamboril, timbó) têm sido descritas como tóxicas para bovinos causando sinais digestivos, abortos e fotossensibilização. E. gummiferum é encontrado em Pernambuco, até São Paulo, Goiás, Tocantins, Biológico, São Paulo, v.69, n.2, p.63-68, jul./dez., 2007 65 20 a RAIB Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. E. contortisiliquum é encontrado em todo o Brasil. E. timbouva é encontrado do Baixo Amazonas até Minas Gerais, no Noroeste de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A intoxicação ocorre pela ingestão dos frutos que caem espontaneamente, estão em galhos derrubados pelo vento ou podas, ou em partes mais baixas da planta, ao alcance dos animais. O período de frutificação é nos meses de agosto a novembro ((TOKARNIA et al., 1960; TOKARNIA et al., 1999; GRECCO et al., 2002; (DEUTSCH et al., 1965; LEMOS et al., 1998). A intoxicação E. contortisiliquum foi descrita, também, em caprinos como causa de aborto e diarréia, sem fotossensibilização (BENÍCIO et al., 2007). Experimentalmente só foi possível causar abortos em bovinos com favas de S. obovatum (TOKARNIA et al., 1998). Com Enterolobium spp. os abortos não têm sido reproduzidos experimentalmente (TOKARNIA et al., 1999). Se desconhece o princípio ativo de Enterolobium spp. e Stryphnodendron spp. Saponinas isoladas de E. gummiferum foram tóxicas para cobaias (CARVALHO et al., 1981), mas não foi demonstrado se essas substâncias são responsáveis pelos diferentes quadros clínicos observados, incluíndo o aborto. Trifolium subterraneum T. subterraneum var. Yarloop foi diagnosticado como causa de estrogenismo em bovinos, no Rio Grande do Sul em uma pastagem composta por 95% de T. subterraneum var. Yarloop e 5% de Lolium multiflorum (PIMENTEL et al., 1977). Os fitoestrógenos dessa leguminosa aumentam na primavera, na fase de crescimento, e diminuem na fase da floração. Os bovinos são menos sensíveis à intoxicação do que os ovinos. Em bovinos podem observar-se baixos percentuais de prenhez, alterações do ciclo estral ou anestro, ovários císticos, mucosa vaginal hiperêmica, cornos uterinos edemaciados e espessados, úbere aumentado de tamanho e edemaciado, com produção de aspecto lácteo, dilatação do canal cervical e abundante secreção mucosa na cavidade vaginal (PIMENTEL et al., 1977). T. subterraneum contém isoflavonas de ação estrogênica, denominadas formononetin, daidzein, biochanin A e genistein. Esses compostos ocorrem na forma de glicosídeos, que são rapidamente hidrolisados durante a mastigação. No rúmen o formononetin e o daidzein são transformados em substâncias estrogênicas biologicamente ativas, denominadas equol e 4-0-metilequol. Formononetin é o fitoestrógeno mais importante do gênero Trifolium.Os diferentes cultivares de T. subterraneum contêm 0,06%2% de formononetin, sendo que concentrações superiores a 0,3% podem causar problemas reprodutivos. Os cultivares com maiores níveis de formononetin são: Yarloop (1,5%), Dwalganup (1,3%), Dinninup (1,2%) e Ceraldton (0,9%). Trifolium pratense contém, também, em algumas ocasiões, concentrações de 1%2% de formononetin. As leguminosas do gênero Medicago e Trifolium repens podem conter substâncias estrogênicas denominadas coumestanos. Actualmente o estrogenismo em pastagens de T. subterraneum é um evento raro, em conseqüência de que mediante trabalhos de seleção genética foram obtidas variedades com baixo conteúdo de estrogênios. No caso de pastagens potencialmente estrogênicas são importantes as medidas de manejo, evitando o pastoreio contínuo das fêmeas destinadas à reprodução. Ergotismo Em éguas o ergotismo por Claviceps purpurea causa falta de desenvolvimento da glândula mamária e agalaxia, liberação prematura do corioalantóide (placenta prévia), placenta aumentada de peso, engrossada e fibrosa, gestação prolongada, parto distócico ou dilatação e contrações diminuídas. Têm sido observados, também, abortos, morte embrionária e anestro. Os potros apresentam debilidade, ausência do reflexo mamário e icterícia discreta. A mortalidade neonatal pode ser superior a 50%. A doença ocorreu em éguas PSI que estavam sendo alimentadas com grãos de aveia que estavam contaminados com grãos de azevém infectados por C. purpurea (RIET-CORREA et al., 1998). Abortos, agalactia, retenção de placenta e falhas reprodutivas, tais como infertilidade e anestro, podem ocorrer durante e após a ocorrência de ergotismo (síndrome distérmica ou ergotismo gangrenoso) em bovinos (RIET-CORREA, 1993). A forma gangrenosa do ergotismo não tem sido diagnosticado no Brasil, más o síndrme distérmico foi descrito em vacas leiteiras ingerido rações contaminadas por C. purpurea (ILHA et al., 2001; ILHA et al., 2003). Mimosa tenuiflora M. tenuiflora e, provavelmente, Mimosa ophthalmocentra causam malformações em caprinos, ovinos e, com menor freqüência, em bovinos no semiárido do Nordeste. Cordeiros, cabritos e bezerros nascem com diversas malformações ósseas: flexão dos membros torácicos (artrogripose) que também podem estar encurtados ou torcidos; malformações dos ossos da cabeça e face, incluindo micrognatia, fendas palatinas primárias (lábio leporino) que ocorrem por hipoplasia ou aplasia unilateral ou bilateral do osso incisivo, fenda palatina secundária (palatosquise); e malformações da coluna vertebral (cifose, escoliose, torcicolo ou hiperlordose). Alguns animais nascem cegos, com diversos graus de opaci- Biológico, São Paulo, v.69, n.2, p.63-68, jul./dez., 2007 66 20 a RAIB dade da córnea e/ou microftalmia, outros com dermóide ocular. Outras malformações incluem acefalia, bicefalia, hidranencefalia, hipoplasia da língua, meningocele e siringocele. Alguns animais apresentam diversas dessas malformações, sendo classificados como monstros (RIET-CORREAet al., 2004; 2006; NÓBREGA et al., 2005). Diversas malformações foram reproduzidas em cabras que ingeriram M. tenuiflora como única forragem verde durante toda a gestação (PIMENTEL et al., 2005) e em ratas que receberam ração contendo 10% de sementes de M. tenuiflora entre os dias 7 e 21 de gestação (FIGUEIREDO et al., 2006). Mortalidade embrionária foi, também, comprovada experimentalmente em caprinos (DANTAS et al., 2007. Dados não publicados). As malformações ocorrem quando os animais ingerem a planta durante a gestação. Não se conhecem as épocas da gestação nas quais os fetos são mais susceptíveis às malformações, mas teoricamente o período mais provável é nos primeiros 60 dias. A freqüência do nascimento de animais com malformações é variável. Em alguns rebanhos ocorrem em forma esporádica com percentuais de 1%10%, mas em outros ocorrem com alta freqüência, que pode ser de até 100% dos animais nascidos. As maiores freqüências têm sido observadas em ovinos e caprinos suplementados com grãos ou subprodutos no final da seca em áreas invadidas por jurema preta, quando após alguma chuva esta planta brota, sem que as chuvas sejam suficientes para a brotação de outras forrageiras. Nesta situação as fêmeas entram em cio em resposta à suplementação, mas como a única forragem verde disponível é a jurema preta os animais ingerem grandes quantidades no início da gestação. O princípio ativo é ainda desconhecido, mas alcalóides derivados da triptamina têm sido isolados das folhas e sementes de M. tenuiflora. É importante evitar o acesso dos ovinos e caprinos a áreas com jurema, principalmente nos primeiros 60 dias de gestação. Considerando que no nordeste, na maioria das fazendas, os bodes e os carneiros permanecem com as cabras e ovelhas durante todo o ano, a adoção de uma estação de monta definida contribuiria para a diminuição da freqüência das malformações. Outras plantas e micotoxinas que causam alterações reprodutivas Alterações reprodutivas caracterizadas por infertilidade, abortos e nascimento de animais fracos podem ocorrer em caprinos durante o consumo de Sida carpinifolia (DRIEMEIER et al., 2000; COLODEL et al., 2002). S. carpinifolia contêm suainsonina, que é responsável pelos sinais nervosos causados pela planta (COLODEL et al., 2002), mas se desconhece se essa substância é, também, responsável pelas alterações reprodutivas. Provavelmente Ipomoea carnea subsp fistulosa (HARAGUCHI et al., 2003), I. sericophylla e I. riedelii spp. (BARBOSA et al., 2006) e Turbina cordata (DANTAS et al., 2007), que ao igual que S. carpinifolia contêm suainsonina, causem, também, alterações reprodutivas. A intoxicação por nitritos e nitratos também pode causar abortos em bovinos, que ocorrem alguns dias após a ingestão (RADOSTIS et al., 1999). Esta intoxicação é freqüente na região semi-árida do Nordeste (MEDEIROS et al., 2003), mas abortos não foram reportados. Abortos em bovinos têm sido descritos em surtos de intoxicação por Ramaria flavo-brunnescens (BARROS, 1958; BAUER et al., 1966; SCHILD et al., 1996), fungo que cresce em matos de eucaliptos e causa ulcerações do sistema digestivo, lesões dos cascos e perda da vassoura da cauda em bovinos. REFERÊNCIAS BARBOSA, R.C.; RIET-CORREA, F.; MEDEIROS, R.M.T.; L IMA, E.F.; BARROS, S.S.; G IMENO, J.E.; MOLYNEUX, R.J.; G ARDNER, D.R. 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