Intoxicação por Amorimia septentrionalis em bovinos no

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Intoxicação por Amorimia septentrionalis em bovinos
no Semiárido Nordestino
Mariani, D. B.; Rocha, B. P.; Almeida, V. M.; Oliveira, J. S.; Riet-Correa, F.; Mendonça, F.S.
Autor Correspondente: [email protected] (Mendonça, F. S.). Programa de Pós-Graduação em Ciência
Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE 52171-900,
PALAVRAS CHAVE: MFA, Morte Súbita, Ruminantes.
INTRODUÇÃO: Amorimia rigida e Amorimia septentrionalis pertencem à família Malpighiaceae, um grupo de
plantas tóxicas de destaque para ruminantes do semiárido nordestino que causam morte súbita após exercício.
Por causar intoxicações principalmente em bovinos, A. rigida tornou-se mais conhecida e importante para a
região nordeste do país [12,4]. Entretanto surtos em ovinos e caprinos no estado da Paraíba foram associados à
ingestão de A. septentrionalis [13] que se distribui especialmente nos Estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco
[6]. Apesar de não serem descritas alterações macroscópicas na maioria dos surtos, novos estudos de casos
espontâneos e experimentais apontam a fibrose cardíaca como sinal de intoxicação por Amorimia spp. A lesão
microscópica mais frequente é a degeneração hidrópica vacuolar nas células epiteliais dos túbulos renais [9,11].
Esse trabalho tem por objetivo relatar a epidemiologia, os sinais clínicos e a patologia de surtos de mortes
súbitas associadas com fibrose cardíaca em bovinos nos Estados de Pernambuco e Paraíba.
MATERIAIS E MÉTODOS: Foram realizadas visitas técnicas para análise detalhada e realização de necropsias
em três bovinos (dois machos e uma fêmea) de idades diferentes, naturalmente intoxicados por A. septentrionalis
entre junho de 2011 e junho de 2013, na Microrregião do Médio Capibaribe, PE (municípios de Passira e
Limoeiro) e na Microrregião de Itabaiana, PB (municípios Salgado e São Félix). As folhas de A. septentrionalis
foram identificadas e posteriormente verificadas quanto à existência de monofluoracetato de sódio (MFA) em
sua composição, conforme metodologia previamente descrita [5]. Amostras de tecidos de mais cinco bovinos que
haviam sido necropsiados pelos veterinários das fazendas foram enviadas ao Laboratório de Diagnóstico Animal
da Universidade Federal Rural de Pernambuco (LDA/UFRPE) para exame histopatológico. Coletaram-se
fragmentos de tecidos das cavidades abdominal e torácica, além do encéfalo e medula espinhal. Os tecidos foram
fixados em solução de formalina a 10%. Fragmentos foram processados de forma rotineira para histologia,
corados pela hematoxina-eosina e avaliados histopatologicamente. Amostras de tecido cardíaco foram também
coradas pelo método de tricrômico de Gomori.
RESULTADOS: Foi possível detectar 0,0021% de MFA nas folhas da planta adulta de A. septentrionalis coletadas
em abril de 2013. No município de Passira, PE, propriedades com média de 100 hectares que criavam bovinos
mestiços da raça nelore foram acompanhados dois surtos. Na propriedade A, de um lote de 50 animais,
morreram 14 no mês de abril de 2011. Outros oito casos de mortes súbitas de bovinos adultos nessa propriedade
ocorreram nos meses de abril a maio de 2012 e 2013. Na propriedade B, dos 180 bovinos criados, 27 adoeceram
e morreram. Os óbitos foram observados principalmente num lote de animais trazidos do sertão do Estado de
Pernambuco 30 dias antes. Na Propriedade C, localizada em Limoeiro, PE, havia um rebanho de 11 bovinos
criados numa área de 3,0 hectares. Após um período de estiagem e degradação da Brachiaria decumbens os
bovinos passaram a consumir A. septentrionalis, fato comprovado durante a inspeção da pastagem em que se
observaram vários espécimes da planta com sinais de depredação. Optou-se por transferir os animais para outra
fazenda, uma vez que cinco bovinos adultos, machos, morreram de forma súbita após terem permanecido por
cerca de 30 dias nessa área. Durante o manejo, outros dois bovinos morreram de forma súbita. Em duas
propriedades situadas em Salgado de São Félix, PB, (fazenda D e E), com total de 37 animais, 12 deles criados de
forma semi-extensiva numa área nativa de pastejo, com aproximadamente 50 ha, morreram de forma súbita, em
abril de 2013. Foram analisados três bovinos que apresentavam sinais clínicos da intoxicação por A.
septentrionalis. Tais sinais consistiram principalmente em lentidão, maior tempo em decúbito esternal,
relutância em se movimentar ou se levantar, cansaço, taquipneia, taquicardia e pulso venoso positivo. Ao serem
forçados a se movimentar, os animais apresentaram instabilidade, tremores musculares e uma única queda
seguida de vocalizações, movimentos de pedalagem e morte em cerca de 5 a 7 minutos. Ao exame macroscópico,
observou-se edema pulmonar e coração com aspecto globular com áreas esbranquiçadas, petéquias e equimoses
no epicárdio, miocárdio e músculos papilares em um bovino. Nos outros dois animais não foram observados
lesões significativas. No primeiro bovino, havia necrose de coagulação no miocárdio com aumento da eosinofilia
do citoplasma dos cardiomiócitos, núcleos picnóticos, cariorrexia e cariólise, além de perda das estriações. Havia
também edema intersticial, infiltrado inflamatório intersticial mononuclear e áreas multifocais de fibrose
cardíaca; essas lesões também foram observadas em duas amostras recebidas no LDA/UFRPE. Nos rins de cinco
bovinos examinados histologicamente também havia degeneração hidrópico vacuolar e necrose das células epiteliais dos túbulos contorcidos.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: A intoxicação por A. septentrionalis no semiárido nordestino já havia sido descrita
em ovinos e caprinos no Estado da Paraíba, onde inicialmente a planta foi classificada como A. rigida [13]. A
concentração de MFA em amostras das folhas da planta nessas pesquisas era similar (cerca de 0,002±0,0009%)
ao deste estudo. Os sinais clínicos apresentados foram semelhantes aos já descritos em bovinos intoxicados por
plantas que contém MFA [12]. O edema pulmonar e o coração de aspecto globoso se devem à insuficiência
cardíaca e foram macroscopicamente, as únicas lesões significativas encontradas na necropsia. Na microscopia,
as lesões cardíacas consistiram em infiltrado inflamatório intersticial mononuclear e áreas multifocais de fibrose.
Até o momento, esses achados foram descritos apenas na intoxicação espontânea por A. exotropica em bovinos
[11], na intoxicação experimental por A. exotropica em coelhos [11] e na intoxicação pela espécie erroneamente
identificada como A. sepium, possivelmente tratando-se de Amorimia amazônica, em ovinos [5]. Em ovinos
experimentalmente intoxicados pelo MFA também pode ser observada fibrose cardíaca [10]. Supõe-se que o
consumo em pequenas quantidades de Amorimia spp. por mais de 40 dias leva a fibrose do miocárdio [11]. Em
outros estudos realizados no Brasil as causas de fibrose cardíaca em bovinos incluem as intoxicações por
Tetrapterys spp. e Ateleia glazioviana [12], entretanto essas plantas não ocorrem na região estudada. No
semiárido nordestino, nas intoxicações por outras plantas que contêm MFA não se tem descrita a fibrose
cardíaca. A intoxicação por Senna obtusifolia também dever ser levada em consideração no diagnóstico
diferencial da doença, pois existem casos descritos em que os principais achados foram vacuolização de células
musculares cardíacas e fibrose focal [7]. Intoxicações acidentais por antibióticos ionóforos [8] e a distrofia
muscular causada deficiência de vitamina E/selênio podem ser outras causas de fibrose cardíaca em bovinos.
Porém, nessas doenças os músculos esqueléticos também são afetados [2]. O controle da intoxicação por A.
septentrionalis em bovinos é difícil. Por isso, formas de controle que têm sido experimentalmente testadas,
incluindo a indução de aversão alimentar condicionada, a administração de doses não tóxicas da planta para
induzir resistência e a administração intraruminal de bactérias aeróbicas que degradam o MFA [1,3]. Porém,
essas técnicas ainda não foram testadas em condições de campo.
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