REFLEXÕES SOBRE ÉTICA1 Ética e moral às vezes são usadas como palavras sinônimas. Porém costuma-se distinguilas em acepções na qual a moral seria os costumes que uma sociedade ou grupo adota e que as pessoas seguem sem questioná-los, e a ética seria as escolhas que cada indivíduo deve fazer diante de situações problemáticas. O sujeito ético seria aquele que se constrói diante de um dilema. Aquele que orienta suas ações a partir de um conjunto de regras dadas, por melhores que estas sejam não pode ser chamado de ético. Esses códigos de ética, podem até ajudar o indivíduo na sua escolha, mas eles não dispensam a pessoa de ter que escolher. Na ética, o resultado não é o mais importante, mas o questionamento que antecede a escolha. Ao contrário, as leis – e os próprios códigos de ética de empresas ou de profissões – são regras que as pessoas seguem mesmo não concordando com elas, visto que no convívio social o que de fato interessa são os resultados externos de minhas ações. A quase ninguém importa o real motivo pelo qual eu não roubo e não mato, mas sim que eu não roube e que eu não mate. Sendo assim, essas leis e esses os códigos de ética, por melhores que sejam, podem produzir uma conduta social melhor, mas não necessariamente farão cidadãos mais éticos. A atitude ética está diretamente relacionada ao questionamento que se faz constantemente aos valores e normas morais. Nunca seremos éticos se apenas seguirmos opiniões préconcebidas. Atualmente lidamos com um quadro de valores que se opõe à uma ética tradicional: se décadas atrás predominava a discriminação étnica, de gênero, e por orientação sexual, hoje, se torna ético aquele que se opõe, mesmo que automaticamente, à essas discriminações. Ser ético é não manifestar preconceitos. Essas mudanças de conduta refletem apenas atitudes externas, e não correspondem a uma reflexão interior. Reforçam que as pessoas, cada vez mais, se dispõem a seguir normas e regras estabelecidas sem compreenderem a real importância destas ações. Não podemos dizer desta forma que a não manifestação de preconceitos reflita uma atitude ética, mas antes uma atitude direcionada por fatores externos, como por exemplo, o medo de uma punição pela lei. Ao contrário do que muitos pensam, ações consideradas ilegais podem ser, ao mesmo tempo, éticas se considerarmos que a atitude ética está muito mais relacionada ao que leva alguém a tomar uma decisão do que o conteúdo dessa decisão propriamente dito. Um bom exemplo disso é Antígona, que concebe o enterro religioso ao seu irmão mesmo diante da proibição do rei, e seu tio, que considerava o sobrinho um traidor. Ela contraria a lei imposta pelo soberano e ainda recusa-se a pedir perdão e até mesmo a negar que foi ela. Essa atitude de romper com uma moral e com leis que nos cercam é o que irá caracterizar a ação ética. A discussão sobre assuntos de grande relevância, como a política, a educação, as desigualdades sociais, as violências, entre outros devem fazer parte do debate público e é preciso que as pessoas reflitam sobre tais assuntos e deixem de reproduzir frases feitas e incoerentes com a realidade. Para tal é preciso também que as opiniões contrárias à moral vigente sejam respeitadas e entendidas como uma possibilidade de ação ética, pois quando a mídia denigre a oposição está também inibindo o debate público no país e consequentemente a reflexão, essencial para a atitude ética. 1 Baseado em: RIBEIRO, Renato Janine. Repensando a ética. Revista Discutindo Filosofia. Escala Educacional. Ano 3. Nº 12. P. 66, pp. 14‐19.