1.1 Conceito de ética

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ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL
MÓDULO 2
Índice
1. Ética Geral .............................................................. 3
1.1 Conceito de ética .......................................................... 3
1.2 O conceito de ética e sua relação com a moral ................. 4
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Ética Geral e Profissional - Módulo 2
1. ÉTICA GERAL
1.1 CONCEITO DE ÉTICA
Etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego ethos que significa
morada coletiva e vida coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que
promovam o bem comum ou a justiça no meio social. Devido ao fato de que
os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem
a boa vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra passou
a significar modo de ser ou caráter. Enfim, um modelo de vida que deveria
ser adquirido ou conquistado pelo homem por meio da disciplina rígida que
lhe formaria o caráter e que seria transmitida aos jovens pelos adultos. Na
Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da
moral, uma vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus
defeitos e qualidades. O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi
Aristóteles. Com esse título, Aristóteles escreveu duas obras: ética a
Nicômaco (seu filho) e ética a Eudemo (seu aluno).
Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias de
felicidade da vida presente e de soberano bem. Nos textos antigos, ética
quase sempre parece estar relacionada com desejo inato ao homem de
busca da realização do supremo bem. A filosofia grega preocupa-se com a
reflexão sobre ética desde os primórdios. Isso porque ética, ou a sede de
justiça, é uma das três dimensões da filosofia. As outras duas seriam a
teoria e a sabedoria. Em Roma, ética passa a ser denominada “mores”; que
significa “moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas de
conduta ou princípios que regem a sociedade ou um determinado grupo e
em uma determinada época. Numa palavra: lei.
A ética é histórica, o que se deve ao fato de estar solidificada em
noções de valor, que mudam à medida que se descobrem novas verdades. O
agir ético não será apenas uma simples reprodução de ações das gerações
anteriores, mas uma atividade reflexiva que oriente a ação a seguir num
determinado momento de nossa vida pessoal. Quando surgem
questionamentos sobre a validade de determinados valores ou costumes, e a
realidade exige novos valores que possam orientar a ética, surge a
necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é
impossível a ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa
ação. Aqui aparecem os filósofos que produzem uma reflexão teórica que
oriente a prática ou a crítica do viver ético.
Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu
devo fazer e o que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A
ação ética sempre deve buscar o bem comum e consiste na recusa de todas
as ações que propiciem o mal. O agir ético vai além de um conjunto de
preceitos relacionados a cultura, crenças, ideologias e tradições de uma
sociedade, comunidade ou grupo de pessoas. Muitas vezes nossa ação vai
ao sentido oposto a essas crenças, pois sendo a noção de dever seu principal
valor estrutural, em algumas ocasiões, o nosso dever é justamente indignarse com tais crenças. Uma vez que guiada pela razão e não pelas crenças, a
ética, via de regra, está fundamentada nas ideias de bem e virtude, que
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nossa civilização considera como valores que devem ser perseguidos por
todo ser humano para a promoção da vida, da maneira e onde quer que ela
se manifeste.
1.2 O CONCEITO DE ÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A MORAL
Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma razão
de ser. É que a palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores
(plural), que significa “costumes”. E a palavra “ética” vem do grego e possui
o mesmo significado, ou seja, “costumes”. Por isso, muitos utilizam a
expressão “bons costumes” como sinônimo de moral ou moralidade. Ética e
moral são sinônimos perfeitos, só modificados semanticamente devido às
diferentes línguas de origem das duas palavras. Até o século XVIII, já que a
língua oficial do saber acadêmico era o latim, a palavra usada é moral.
Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras com
sentido diferentes. Kant, por exemplo, define como Moral o conjunto de
princípios gerais (valores civilizatórios) e ética sua aplicação concreta.
Portanto, ética é sempre um agir ético. Outros filósofos concordarão em
designar por moral a teoria dos deveres para com os outros, e por ética a
doutrina de salvação e sabedoria desvinculada de crenças religiosas. Hoje
nós temos duas palavras usadas por muitos autores com o mesmo
significado: “ética” e “moral”.
Devido ao fato de o pensamento kantiano ter uma importância
medular para quem se interessa pela reflexão sobre ética no mundo
capitalista, preferimos compreender que ética diferencia-se de moral. Moral
está mais relacionada a crenças estruturadas em valores acumulados desde
a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais de interação
afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente relacionada à
consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto que a ética é
a exteriorização da conduta humana em sociedade. Além disso, desde o
início os pensadores liberais preferiram a palavra “ética” para expressar
normas de conduta de grupos organizados, como, por exemplo, as
categorias profissionais e seus códigos de ética.
Compreendemos que a moral está muito ligada à cultura e à religião.
Assim, em uma cidade como São Paulo, em que convivem muitas culturas,
podem também coexistir diversos tipos de moral. Esses diversos grupos de
moral específicos sempre se reportam aos valores éticos fundamentais que,
na verdade, são os traços comuns da civilização. Portanto, ética é um
conjunto de valores morais que permitem a permanência da civilização. Sem
esses valores a civilização como conhecemos desapareceria. Seus
fundamentos foram construídos durante todo o processo civilizador, e são
iguais para todos os cidadãos do mundo ocidental, independentemente de
cultura ou religião. Ela carrega fundamentos que tiveram origem no
pensamento cristão na medida em que esses fundamentos contribuíram
para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a transposição
pura e simples dos valores da religião para o campo civilizatório.
Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita
frequência, às vezes até de forma abusiva. Essa insistência com que se fala
de ética hoje se deve ao fato de o capitalismo ter-se mundializado, pois sem
os valores éticos é impossível a reprodução da sociedade capitalista. Isso
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porque o capitalismo é irmão gêmeo da democracia, uma vez que ambos
nascem do pensamento liberal e um não vive sem o outro. Como os pilares
basilares da democracia são a liberdade pessoal, a busca da felicidade e o
individualismo, não há espaço para a vigilância constante das ações
individuais numa sociedade de direitos plenos. Tal sociedade é a única
possível para o bem-estar do Capital.
Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida como algo
que resulta de um poder punitivo explícito, como é o caso da Moral. A
punição que a transgressão do agir ético traz é de consciência individual,
portanto, absolutamente individual, e essa consciência é formada no
processo educativo. Se nossa consciência não considerar a apropriação da
propriedade alheia, por exemplo, como um mal e sim como uma esperteza,
isto é, um bem; não haverá como impedir que façamos uso indevido do que
não é nosso.
Assim, a sociedade capitalista e democrática aceita a existência de
diferentes formas de conduta moral no aspecto privado, desde que a
conduta pública esteja em conformidade com as virtudes que a estruturam,
ou seja, dentro da ética. Entende que a sociedade tem um conjunto de
regras, normas e valores, que não se identifica com os princípios e normas
de nenhuma moral em particular, mas com os valores formadores do núcleo
da civilização, sem os quais a civilização entra na barbárie, a luta de todos
contra todos em que os direitos – inclusive à propriedade e ao lucro – são
destruídos, pois não há como obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres.
A ética é, nesse sentido, a própria defesa da civilização.
Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às
pessoas pelo grupo ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir
de determinada maneira, sendo a consolidação de práticas e costumes
observados no geral pelo receio de uma reprovação social (a pressão é
externa). Partindo desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir
normas de conduta oriundas de um conjunto de crenças inquestionáveis
dentro de sua cultura. No entanto, ética envolve reflexão, por isso não
significa apenas um conjunto de normas, mas vai além. Ela é um conjunto
de juízos valorativos (racionais) construídos pela civilização, assumidos e
manifestados na ação individual de cada um (a pressão é interna). Está
estruturada em valores de conduta. É sempre civilizatória.
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