UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis - ICEAC Disciplina: Economia Brasileira Curso: Administração Rio Grande 2009 1 7 - Plano de metas de JK – Planejamento estatal e consolidação do PSI O Plano de Metas de JK, é considerado um caso bem- sucedido de formulação e implementação de planejamento. O Estado conseguiu articular grandes somas de investimentos privados de origem externa e interna. Contrário ao projeto nacionalista de Vargas, havia uma forte aceitação da predominância do capital externo, limitando-se o capital nacional ao papel de sócio menor desse processo. 2 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 Planejamento estatal utilizado primeiramente na União Soviética. Evolução das técnicas de planejamento com a utilização de modelos de política econômica e de novos instrumentos, como a programação linear, os modelos econométricos e as matrizes de insumo-produto. 3 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 No Governo Vargas, entre 1951 e 1953, foi constituída a Comissão Mista Brasil - Estados Unidos (CMBEU), com o objetivo de elaborar projetos que seriam financiados pelo Eximbank e pelo Bird. Em 1953, foi constituído o Grupo Misto BNDE - Cepal que constituiu a base do Plano de Metas. 4 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 Fazer um levantamento exaustivo dos principais pontos de estrangulamento da economia brasileira, além de identificar áreas industriais com demanda reprimida, era a função do Grupo Misto. A partir desse diagnóstico, caberia às comissões propor projetos e planos específicos para a superação dos pontos de estrangulamentos, considerando as repercussões e as necessidades criadas pela introdução de novos ramos industriais. 5 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 O Plano de Metas proposto por JK para o período de 1956- 1960 continha um conjunto de 31 metas, incluída a metasíntese: a construção de Brasília. Setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo receberam a maior parte dos investimentos do governo. Subsídios e estímulos para expansão do setor secundário. 6 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 Os empréstimos através do BNDE eram utilizados para financiar os gastos públicos e privados. Os empréstimos de curto prazo voltados para o capital de giro das empresas foi estimulado por meio de repasses do Banco do Brasil, o que causou uma pressão adicional sobre o déficit público. Em função disso, a inflação manteve-se em taxas elevadas durante o governo JK. 7 7.1 Planejamento Estatal: 50 anos em 5 Entre 1957 e 1961, o PIB cresceu à taxa anual de 8,2%, o que resultou em um aumento de 5,1% ao ano na renda per capita, superando o próprio objetivo do Plano de Metas. 8 7.2 Capital estrangeiro e oligopólios O desenvolvimento industrial foi liderado pelo crescimento de dois setores: o produtor de bens de capital; e o produtor de bens de consumo duráveis. Crescimento industrial foi estruturado em um tripé: Empresas estatais. Capital privado estrangeiro. Capital privado nacional (sócio menor). 9 7.2 Capital estrangeiro e oligopólios Transformações estruturais: Oligopolização da economia brasileira quando os principais ramos industriais passaram a ser constituídos por um reduzido número de grandes empresas. Movimentos de transnacionalização com a participação hegemônica do capital internacional na produção manufatureira. 10 7.3 A consolidação da estrutura industrial O Plano de Metas estimulou decisivamente o PSI, especialmente no setor de bens de consumo duráveis, e em importantes áreas do setor de bens de capital. A economia brasileira foi a que mais avançou com o PSI, quer na América Latina, quer no conjunto dos outros países não industrializados. 11 7.3 A consolidação da estrutura industrial Não foi possível obter a autonomia do processo de acumulação, apesar da produção de bens de capital e intermediários ter crescido. O mercado pequeno, não sustentava as escalas de produção requeridas para a fabricação de bens de alta tecnologia. As indústrias dedicavam-se à produção de produtos mais leves, deixando para as importações os mais pesados e especializados. 12 8 - A crise de 1962 – 1967, o PAEG e as bases para o milagre econômico Em 1962 os dados sobre o nível de investimentos e sobre o ritmo de crescimento industrial apontavam para a recessão de 1963. A política de estabilização intentada pelo governo João Goulart, com o Plano Trienal fracassara, agravando a crise e aumentando a tensão política. 13 8 - A crise de 1962 – 1967, o PAEG e as bases para o milagre econômico A partir de 1964, o regime militar e as políticas de estabilização e de transformações institucionais da economia teriam êxito com o Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG. O regime militar aprofundou as características do modelo do Plano de Metas de JK, que seriam as bases do chamado milagre econômico, de 1968-1973. 14 8.1 A primeira crise industrial interna Aumento do PIB entre 1956 e 1962, porém caiu a metade até 1967. Em 1964 a taxa anual de inflação atingiu 90%. Complexidade daquele momento histórico quando se entrelaçavam questões econômicas estruturais com políticas econômicas conjunturais. 15 8.1 A primeira crise industrial interna Para os autores de tradição estruturalista: Seria uma típica crise cíclica. Capacidade ociosa. Dificuldades no setor de bens de consumo duráveis. Para outras posições políticas o início da crise se devia à instabilidade política presente no país após a renúncia de Jânio Quadros, o que teria desestimulado os investimentos. 16 8.2 Crise política e o Plano Trienal de Celso Furtado Jânio Quadros Política Econômica conservadora no enfrentamento dos problemas herdados do governo JK: Governo aceleração inflacionária; déficit fiscal; e pressão sobre o balanço de pagamentos. Março de 1961 - desvalorização cambial de 100%, com objetivo de diminuir a pressão dos subsídios cambiais sobre o déficit público. 17 8.2 Crise política e o Plano Trienal de Celso Furtado A renúncia do presidente, em agosto de 1961, interrompeu a continuidade de sua política econômica. A posse do vice-presidente João Goulart só foi possível com as limitações que lhe seriam impostas pelo regime parlamentarista, resultado do veto dos militares. 18 8.2 Crise política e o Plano Trienal de Celso Furtado No final de 1962, poucos meses antes do plebiscito que restabeleceria o regime presidencialista, foi apresentado por Celso Furtado o Plano Trienal, uma resposta política do governo à aceleração inflacionária e à deterioração econômica externa. 19 8.2 Crise política e o Plano Trienal de Celso Furtado Furtado, o mais importante economista brasileiro estruturalista, elaborou um plano de ações antiinflacionárias bastante ortodoxo, o que para Francisco Oliveira e Ignácio Rangel demonstrava as próprias limitações do enfoque estruturalista. Mais uma vez foi usada a política de contenção de gastos públicos e de liquidez. 20 8.2 Crise política e o Plano Trienal de Celso Furtado A tentativa de estabilização fracassou e provocou o crescimento negativo do PIB per capita: a economia cresceu apenas 0,6% em 1963, com inflação anual de 83,25%. Em julho de 1963, Furtado deixou o governo e o acirramento dos conflitos sindicais e políticos impediu a implementação de qualquer política de gestão econômica mais articulada. Fim do governo com o golpe militar de 1964. 21 8.3 Ruptura democrática e o modelo dependente e associado – 1964 A tomada do poder pelos militares em 1964 pôs fim ao chamado populismo no país. Populistas eram os regimes políticos latino-americanos que incorporaram amplas massas urbanas em um processo político do qual haviam sido excluídas secularmente. Os governos populistas eram acusados pelos conservadores de serem excessivamente redistributivos, pois buscavam distribuir uma renda ainda não existente. 22 8.3 Ruptura democrática e o modelo dependente e associado – 1964 Porém, as evidências empíricas sobre o caso brasileiro desmentem esse raciocínio: o salário mínimo não garantia mais que as condições indispensáveis à sobrevivência do trabalhador e de sua família. Além disso o salário mínimo praticamente não sofreu mudanças em seu valor real. Já o crescimento da produtividade industrial e do PIB, entre 1930 e 1990, levou à quintuplicação do PIB per capita no país. 23 8.3 Ruptura democrática e o modelo dependente e associado – 1964 O regime militar adotou uma postura tecnocrático- modernizante, comprometido com a superação das políticas populistas de João Goulart. E, apesar das críticas ao nacionalismo econômico do governo deposto, manteve um discurso desenvolvimentista. Aumentou a dependência e a dívida externa do país, que foi determinante para os rumos da economia brasileira. 24 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais O PAEG foi elaborado pelo então recém-criado Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica. A equipe econômica do presidente marechal Castelo Branco era liderada por Roberto Campos, ministro do Planejamento, e por Octávio Gouvea de Bulhões, ministro da Fazenda. O plano conseguiu reduzir a taxa de inflação de 90%, em 1964, para menos de 30%, em 1967. 25 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais Objetivos do PAEG: Desenvolvimento econômico. Estabilidade de preços. Atenuação dos desequilíbrios regionais. Correção dos déficits do Balanço de Pagamentos. Controle da inflação. Normalização das relações com os organismo financeiros internacionais. 26 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais Políticas monetárias e creditícia stop-and-go alternando períodos de expansão da moeda e do crédito com outros de forte contração monetária, atingindo a atividade econômica e provocando falências, concordatas e desemprego. Reforma bancária de 1965: Banco Central. Conselho Monetário Nacional (CMN). Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN). 27 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais A criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional da Habitação (BNH) possibilitou o fomento extraordinário da construção habitacional e do saneamento básico, usando recursos da poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A reforma tributária de 1967 criou o sistema tributário ainda hoje existente no país, aumentando a arrecadação e centralizando-a no governo federal. 28 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais Além dos impostos, adquiriram grande importância fundos parafiscais como o FGTS, o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Assistência ao Servidor Público (Pasep). A avaliação do PAEG como programa de estabilização é positiva, apesar de seus custos para uma parcela importante da população. 29 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais O plano reduziu a inflação para faixa de 20% ao ano. As críticas foram no diagnóstico de inflação, erroneamente considerada de demanda, o que resultou em uma política recessiva com altos custos sociais. Segundo Bacha, a política monetária restritiva praticada em 1966 foi equivocada, tendo em vista que a ameaça de retomada do crescimento inflacionário devia-se a pressões dos preços agrícolas. 30 8.4 PAEG – Estabilização e mudanças institucionais Outra linha de críticas é aquela dirigida contra o autoritarismo na implementação das transformações institucionais e na execução da política de estabilização. Criticava-se todo um projeto voltado ao fortalecimento dos grandes oligopólios e ao aprofundamento da desnacionalização da economia. 31 9 - O Milagre Brasileiro: auge e crise O chamado milagre econômico brasileiro (1968 a 1973) foi um período de intenso crescimento do PIB e da produção industrial. O Brasil beneficiou-se do aumento do comércio mundial e dos fluxos financeiros internacionais. Neste período houve predominância na produção de bens duráveis e bens de capital. 32 9 - O Milagre Brasileiro: auge e crise Presença marcante do capital estrangeiro na forma de investimentos diretos por meio de empréstimos. Ao mesmo tempo que houve intenso crescimento econômico e agravaram-se as questões sociais. Aprofundou os problemas decorrentes da enorme dependência em relação ao capital internacional. 33 9.1 A expansão da economia mundial e a economia brasileira entre o pós-guerra e os anos 1970 Foram trinta anos gloriosos da economia capitalista. Altas taxas de crescimento por vários anos: Crescimento da economia mundial. Crescimento mundial do comércio e de capitais. No Brasil esse círculo virtuoso se aprofunda na segunda metade dos anos 1960, com a recuperação do crescimento econômico no final de 1967. 34 9.1 A expansão da economia mundial e a economia brasileira entre o pós-guerra e os anos 1970 Em 1967 governo do General Costa e Silva tem sua equipe econômica liderada por Antônio Delfim Neto. Antônio Delfim Neto dá um novo diagnóstico do processo inflacionário: Componente de custos. Política monetária expansionista. 35 9.1 A expansão da economia mundial e a economia brasileira entre o pós-guerra e os anos 1970 O novo ciclo de crescimento ocorreu nos setores de bens de consumo duráveis e de capital. Matriz do plano de metas Crescimento na abertura estrutural da economia para o exterior. Balança Comercial praticamente equilibrada. A agricultura cresceu dentro de suas taxas históricas. 36 9.2 Financiamento externo: necessidade ou conveniência? O período do milagre econômico foi considerado de crescimento conduzido por financiamento externo. Conseqüência dívida externa. Balança comercial equilibrada (1968 a 1973). O crescimento da dívida externa era de origem financeira. 37 9.3 As contradições do milagre: a questão social Economia bem X Povo mal. Concentração de renda. ↓ do valor real do salário mínimo. ↑ dos acidentes de trabalho. Cresceu o número de pessoas empregadas por família. Quadro social incompatível com o aumento da riqueza nacional. 38 9.3 As contradições do milagre: a questão social O crescimento da produção industrial e agrícola era voltada para a exportação e foi classificada por alguns autores como competitividade espúria, pois estava baseada na agravamento das questões sociais a partir da deterioração da relação salário/câmbio. E para outros como superexploração dos trabalhadores. 39 9.4 Os limites estruturais do crescimento dependente ↑ de importação de bens de produção. Tensão inflacionária e déficits comerciais. 1973 primeiro choque do petróleo. Aumento dos juros internacionais. Em março de 1974 assume o governo o General Geisel, que buscou enfrentar os desequilíbrios estruturais da economia com a implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND. 40 10 - O II PND: fim de um ciclo Com o golpe militar, o governo militar que assumiu a presidência, tinha um projeto geopolítico de afirmação do país como potência, ainda que regional, e de abertura política, com a paulatina transformação do autoritarismo militar. A abertura política “lenta, gradual e segura” deveria conduzir o país, no futuro, a algum tipo ainda não claramente definido de governo civil. 41 41 10.1 O II PND (1975-1979): a fuga para frente Superação dos estrangulamentos estruturais, elaborado sob a orientação de João Paulo dos Reis (ministro do planejamento) : Desenvolvimento do departamento I. Incentivo da agricultura voltada para a produção de alimentos. Os aspectos mais dramáticos da questão social também teriam de ser enfrentados. 42 42 10.1 O II PND (1975-1979): a fuga para frente Partindo da avaliação de que a crise mundial era passageira e de que as condições de financiamento eram favoráveis, o II PND propunha uma “fuga para frente”, assumindo os riscos de aumentar provisoriamente os déficits comerciais e a dívida externa. Mas construindo uma estrutura industrial avançada que para superar conjuntamente a crise e o subdesenvolvimento. 43 43 10.1 O II PND (1975-1979): a fuga para frente Para o governo esses objetivos seriam atingidos com o auxílio de empresas estatais, como produtoras e como grande mercado para as indústrias do setor privado. As empresas multinacionais participariam do processo como coadjuvantes das empresas nacionais, pois não estavam interessadas em realizar grandes investimentos em uma economia de grandes incertezas no mundo todo. 44 10.2 O financiamento externo: a reciclagem dos petrodólares Além do esforço de aumento poupança interna para os projetos do II PND, houve uma grande participação de empréstimos externos no financiamento dos programas de investimento. Segundo Lessa, quem ocupava o centro do palco da industrialização brasileira nesse momento era a grande empresa estatal. 45 45 10.2 O financiamento externo: a reciclagem dos petrodólares As empresas estatais só tinham acesso ao sistema financeiro externo estando impedidas de recorrer ao crédito interno. Elas eram ideais, pois haviam imensos excedentes dos países árabes exportadores de petróleo que começavam a acumular com o aumento dos preços do produto. O Brasil passou a ser um dos únicos grandes tomadores de recursos do sistema financeiro internacional. 46 46 10.3 Os limites do II PND A própria ambição de suas propostas. Para Lessa o II PND era impossível de ser implantado por causa: do gigantismo das propostas. da crise econômica mundial. a partir de 1976 se transformou em letra morta, existindo apenas na retórica oficial. 47 47 10.3 Os limites do II PND Para Antonio Barros de Castro os projetos do II PND eram complexos e de longo prazo de maturação. Ocorreram ataques da imprensa conservadora: Estatização da economia. Os empresários nacionais (sócios do PND) paulatinamente fizeram oposição ao governo militar. As encomendas de bens de capital ao mercado externo eram financiadas pelos fornecedores. 48 48 10.4 A desaceleração e o alongamento do II PND Por causa dos investimentos do II PND ocorreu um déficit em transações correntes e o crescimento da inflação, o que levou as autoridades econômicas a optar pela diminuição das taxas de crescimento industrial. A taxa de crescimento do PIB caiu de 9,8% em 1976 para 4,6% em 1977, e 4,8% em 1978. 49 10.4 A desaceleração e o alongamento do II PND A desaceleração adiou o início das atividades dos grandes projetos nas áreas de energia, química pesada, siderurgia etc. A partir de 1983 houve um superávit comercial de 6,5 bilhões e 1984 de 13 bilhões. Castro e outros analistas interpretaram esses superávits como resultado das transformações estruturais ocorridas na economia brasileira com o II PND. 50 50