refletindo sobre as causas dos comportamentos

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REFLETINDO SOBRE AS CAUSAS DOS
COMPORTAMENTOS VIOLENTOS
Gladson de Almeida Prado1
Pode-se acompanhar, mais especificamente no decorrer das
duas últimas décadas, uma crescente preocupação relacionada
ao aumento e à proliferação da violência. Esse fenômeno tem
sido observado não só no Brasil, mas em todo o mundo, uma
vez que há muito a violência e a criminalidade vêm garantindo
um espaço e ganhando destaque nos mais variados meios de
comunicação, principalmente os de massa, em notícias coletadas
e veiculadas em diversas partes de nosso planeta.
As discussões sobre a violência, na maioria das vezes, não aprofundadas e sujeitas à influência da mídia, permeiam a sociedade, nas
suas mais diversas camadas, e incidem sobre a opinião pública, modificando sobremaneira a forma de se pensar sobre o assunto.
Dever-se-ia, então, se questionar sobre quais seriam as variáveis determinantes da violência, quais as contingências favorecedoras, ou quais os agentes reforçadores e punidores poderiam
atuar, nos mais diversos contextos de nossa sociedade, a fim de
manter e alimentar o fenômeno.
Visando demonstrar uma relação entre o ambiente em que
se vive e a apresentação de comportamentos classificados como
violentos, Andery e Sério (1997, p. 435) apontam que
ao olharmos para a violência estamos falando do comportamento humano, ou seja, de relação entre os homens.
Ao discutir a violência, na realidade, estamos analisando
o homem que está sendo produzido e em que condições
este homem está sendo produzido.
Dessa forma, pode-se atentar para o fato de que o homem
mantém relações com o ambiente, sendo que nessas relações
são produzidas alterações em ambas as partes envolvidas, podendo sempre um evento ser o fato gerador de sentimentos
e comportamentos. Souza (1997) classifica qualquer relação
de dependência, entre eventos comportamentais e ambientais,
como contingência.
Sendo assim, o fenômeno da violência pode ser entendido,
também, como sendo originado nas relações dos indivíduos considerados como violentos e o ambiente ou contexto, principalmente social, em que vivem.
De acordo com Andery e Sério (1997), a violência pode ser
entendida como sinônimo de coerção e como a presença de
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Revista de Psicologia - Edição 1
controle aversivo nas interações entre os homens e a natureza.
Pode-se perceber um delineamento do panorama social gerador da violência, pois, ao se analisar as contingências sociais, a partir
da perspectiva apontada até aqui, teremos de um lado, membros
da sociedade, marginalizados, frutos de relações tensas e hostis,
reproduzindo, por meio de seus comportamentos, o retrato das
relações e do ambiente em que viveram. Por outro lado, temos
uma grande parcela da sociedade vivendo acuada, assustada devido ao aumento de ações violentas, reforçando-se, negativamente,
no comportamento de tomar medidas, na maioria das vezes também coercitivas, na tentativa de afastar tais ações.
Segundo a compreensão de Sidman (1995, p. 51), a respeito da coerção:
Na linguagem cotidiana, ser coagido é ser compelido sob
jugo ou ameaça a fazer algo “contra nossa vontade”. Mas
analistas do comportamento afirmam que todo nosso
comportamento é controlado e, neste sentido, tudo que
fazemos é “contra nossa vontade”. “Jugo” e “ameaça”,
entretanto, se aproximam de uma definição comportamental de coerção; esses termos se referem a classes de
consequências, reais ou potenciais, que controlam nosso
comportamento. [...].
No que se refere à punição, Sidman (1995) esclarece que
ela é um mecanismo utilizado com o objetivo de impedir os
comportamentos inaceitáveis, por meio da apresentação de um
estímulo aversivo ou retirada de algo que nos reforça positivamente, compreendendo, respectivamente, a punição positiva e
a punição negativa.
Os comportamentos violentos podem então ser analisados
como produtos de relações praticadas em ambientes hostis, onde
a coerção estaria presente, em suas mais diversas formas, como
por exemplo, a fome, a miséria, o controle excessivo e repressor
das instituições sociais, a segregação social e muitos outros aspectos que se tornam fatores de contribuição à formação do repertório comportamental de quem vive ou transita nesses contextos.
O controle exercido em nossa cultura é, na maioria das vezes, traduzido como agressão, punição e restrição de liberdade,
principalmente no que se refere ao controle social exercido so-
bre as minorias e classes sociais de menor poder aquisitivo, o que
contribui para o aumento da iniqüidade.
Exercido de maneira coercitiva, o controle gera, então, o que
pode ser denominado como contra-agressão ou contra-controle,
por meio do qual os indivíduos, que foram expostos ao controle coercitivo, tentam agir em busca da libertação dessa forma de
controle, mesmo sem terem ciência disso, pois, na maioria das
vezes, as pessoas agem sem refletir sobre o que as leva ou o que
as mantém agindo de determinada forma.
Diante dessas circunstâncias, percebe-se a complexidade a
respeito do quadro social da violência, uma vez que toda a sociedade e todas as instituições sociais estão implicadas na geração,
manutenção e perpetuação do mesmo. Objetiva-se, então, trabalhar no intuito de buscar alternativas de ação que contribuam para
a mudança desse quadro social, utilizando de formas de controle
que sejam experimentadas pelos sujeitos como menos coercitivas
ou, até mesmo, não coercitivas.
Em relação a isso, Sidman (1995) aponta que as melhores
alternativas de ação, contrárias à coerção, estão calcadas na utilização dos esquemas de reforçamento positivo. Seja em casa, nas
instituições, nas escolas e outros contextos sociais, a apresentação e manutenção de estímulos prezerosos (reforçamento positivo) favorecerão respostas que, por sua vez, terão consequências agradáveis, desencadeando comportamentos socialmente
desejados e compartilhados.
No âmbito psicoterapêutico, Skinner (1985) argumenta que
até mesmo a psicoterapia pode ser encarada como um tipo de
agência controladora. Isso se deve ao fato de que ela lida com
espécies de comportamento, promovendo efeitos no campo da
emoção e no comportamento operante do indivíduo. Como o paciente geralmente procura a psicoterapia em decorrência de uma
condição aversiva, um acolhimento, por parte do psicoterapeuta,
inicialmente por meio de uma audiência não punitiva, e a criação de
um ambiente que denote alívio, fazem com que este terapeuta seja
percebido como uma figura que representa o poder.
Nessa perspectiva, o poder controlador da psicoterapia tende a aumentar, na medida em que a interação entre os envolvidos
no processo resulte em produção de alívio para o paciente.
Para evitar que o paciente associe a psicoterapia a mais uma
das agências controladoras que exercem poder, geralmente coercitivo sobre ele, Skinner (1985) recomenda que o terapeuta não
faça um uso consistente do mecanismo da punição. Essa medida
propiciará a emergência dos comportamentos punidos, até então
reprimidos, no repertório do cliente, a fim de que tais comportamentos sejam elaborados na sessão, e de que sejam reduzidos os
efeitos da punição. “A terapia não consiste em libertar um impulso
perturbador, mas na introdução de variáveis que compensem ou
corrijam uma história que produziu o comportamento indesejável”. (SKINNER, 1985, p.358).
Sendo assim, é importante que os indivíduos fiquem atentos às formas de controle que os permeiam para que possam
identificá-las e construir possibilidades de ação que passem a ser
disseminadas pela sociedade, na tentativa de mudar o quadro social atual, relativo à violência.
REFERÊNCIAS
ANDERY, Maria Amália P. A.; SÉRIO, Tereza Maria. A violência urbana: aplica-se
a análise da coerção? In: BANACO, Roberto Alves (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise
do comportamento e terapia cognitivista. São Paulo: ARBytes, 1997. Vol. 1, cap.
41, p. 433–444.
MONKEN, Eliane Maria Freitas (Org.). Orientações para Trabalhos Acadêmicos. Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva. 2004. 17p.
SIDMAN, Murray. Nem todo controle é coerção. In:___. Coerção e Suas Implicações. Campinas: Editorial Psy, 1995. cap. 2, p. 44-64.
_______. Coerção gera coerção. In: ___. Coerção e Suas Implicações. Campinas: Editorial Psy, 1995. cap. 14, p. 220-230.
_______. Existe algum outro caminho? In: ___. Coerção e Suas Implicações.
Campinas: Editorial Psy, 1995. cap. 16, p. 246-275.
SKINNER, B. F. Psicoterapia. In: ___. Ciência e Comportamento Humano.
São Paulo: Martins Fontes, 1985. cap. XXIV, p. 340-362.
SOUZA, Deisy das Graças de. O que é contingência? In: BANACO, Roberto
Alves (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista. São
Paulo: ARBytes, 1997. Vol. 1, cap. 10, p. 82–87.
NOTA DE RODAPÉ
1 Aluno do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio
supervisionado pela professora Maxleila Reis.
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