a importância do marketing pessoal na primeira fase do ciclo de

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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N. 8, JAN/JUN 2010
MARKETING PESSOAL: A INFLUÊNCIA DA APARÊNCIA
FÍSICA E DAS COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS PARA O
PROFESSOR QUE SE ENCONTRA NA PRIMEIRA FASE DO CICLO DE
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE HUBERMAN
Kelly Aparecida do Nascimento*
Karen Estefan Dutra**
RESUMO
Este estudo tem como objetivo compreender a influência do marketing pessoal a partir da aparência física
e das competências fundamentais para os professores que se encontram na primeira fase do ciclo de
desenvolvimento profissional de Huberman (1995). Enfatiza-se a transição da vida de acadêmico para a
vida de profissional, que é um momento peculiar, marcado por mudanças de hábitos e pelo renascimento
social, já que, geralmente, neste período, o acadêmico deixa o lugar de aluno para ocupar também o de
professor. Com este estudo pretende-se contribuir para que os professores de todas as fases do
desenvolvimento profissional, notadamente os que se encontram em início de carreira, reflitam e
compreendam a necessidade e a relevância de se investir no marketing pessoal, considerando-o aspecto
fundamental para o estabelecimento efetivo desses profissionais no mercado de trabalho.
Palavras chaves: Marketing pessoal. Aparência física. Competências fundamentais.
ABSTRACT
This study aims to understand the influences of personnel marketing in the physical appearance and
essential skills for teachers who are in the first phase of the professional development of Huber man
(1995). We emphasize the transition from academic life to professional life, which is a particular moment,
marked by changes in habits and social rebirth, as generally in this period, the academic leave the place
of a student to take also the place of teacher. This study is intended to help teachers of all phases of
professional development; especially those who are beginning their careers, reflect and understand the
need and importance of the investment in personnel marketing, considering the key issue in the effective
establishment of these professionals in the labor market.
Key-words: Personnel marketing, physical appearance, basic skills, teacher early stage.
*
Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Graduada em Educação Física e Pedagogia. Professora da Faculdade
Vértice e coordenadora do Programa Social. E-mail: [email protected]
**
Doutoranda em Educação. Mestre em Engenharia de Produção. Especialista em Marketing. Graduada em
Administração. Professora da Faculdade Metodista Granbery e da Faculdade Vértice. E-mail: [email protected]
1 MARKETING PESSOAL NA CARREIRA DOCENTE: NECESSIDADE
OU “CAPRICHO”?
Durante a história de vida se constrói uma imagem pessoal e profissional perante a
sociedade. Essas imagens são construídas a partir de ações cotidianas, desde cumprimentar nosso
vizinho até a postura assumida em uma reunião da Instituição em que se atua. A maneira como se
gerencia estas imagens é chamada de marketing pessoal.
O marketing pessoal é uma modalidade que se constitui em uma estratégia para
amenizar e findar o conformismo e o despreparo no que tange ao gerenciamento da carreira.
Shinyashiki (2004d) afirma que esta modalidade contribui para o profissional sair do marasmo.
Dessa forma, este autor considera algumas características do marketing pessoal, destacando que
ele é base para o planejamento de sua imagem pessoal e profissional; permite o reconhecimento
de competências e a forma adequada de expô-las; demonstra como criar, ampliar e gerenciar a
rede de contatos - networking; reforça a autoestima e a coragem para enfrentar os desafios;
amplia a percepção para lidar com as constantes mudanças; discute sobre formas adequadas de
postura e etiqueta profissional e, portanto, desperta para o autodesenvolvimento e o
autogerenciamento de nossa carreira profissional e vida pessoal.
Como constatado na literatura referente ao marketing e à formação de professores –
analisadas separadamente –, há escassez de discussões sobre o assunto. Assim, interessou aqui
refletir sobre o essa ferramenta no âmbito da profissão professor, já que parece existir uma lacuna
em relação à preocupação dos professores, especialmente os que se encontram na primeira fase
do ciclo de desenvolvimento profissional apontada por Huberman (1995).
Considerando, portanto, a profissão professor, antes de a escola proletarizar-se, o
cargo de professora era privilégio das filhas dos grandes proprietários de terras, o patrão (DIAS E
SOUSA, 2002). Geralmente, essas professoras eram mulheres que se vestiam com roupas
consideradas pela sociedade da época como muito bonitas e bem alinhadas. Eram modelos de
educação para os alunos em relação às maneiras de falar, de se comportar e de se vestir.
Segundo Dias e Sousa (2002), com o processo de democratização ocorrido na década
de 1980, em que o aluno da classe popular teve acesso à escola, e com a conquista do mercado de
trabalho pelas mulheres, as filhas dos donos das terras, pertencentes às classes média e alta – que
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até a década de 1960 eram professoras –, foram ocupando lugar nas profissões consideradas de
status, tais como medicina, direito, odontologia, entre outras. A partir desse período, o lugar de
professora passou a ser ocupado pelas mulheres das classes populares.
Este momento histórico foi significativo para perceber que o profissional em início de
carreira precisa preocupar-se com o marketing pessoal, já que se trata de um momento decisivo
de construção e conquista do mercado de trabalho. No entanto, isso não quer dizer que no
decorrer da carreira os professores não devem preocupar-se. Assim, questiona-se se a falta de
investimento no marketing pessoal pode ser um dos motivos que contribui para a situação de
desvalorização em que se encontra a profissão professor; o marketing pessoal é uma necessidade
ou um capricho da profissão professor?
Geralmente, os acadêmicos observam e criticam cada passo dado e cada palavra
falada pelos professores, principalmente os que se encontram em início de carreira. Nesse caso,
parece que a maioria dos alunos carrega naturalmente características do investigador qualitativo,
à medida que para este “nenhum gesto, nenhuma palavra, nenhum silêncio, nenhum olhar, nada
pode ser desprezível aos olhos investigativos” (DIAS E SOUSA, 1999, p.24). Na maioria da
vezes, na sala de aula, os acadêmicos olham para o docente com a percepção suscitada por Dias e
Sousa (1999). Entretanto, com a obtenção do título de graduado, quem ocupará lugares
semelhantes serão eles, até então apenas alunos. A partir daí, como comportar-se diante dessa
comunhão de papéis?
Considerando as indagações e reflexões postas até aqui, este estudo teve como
objetivo compreender a influência do marketing pessoal a partir da aparência física e das
competências fundamentais para os profissionais que se encontram na primeira fase do ciclo de
desenvolvimento profissional de Huberman (1995). Para isso, opta-se por fazer uma revisão
bibliográfica, com trabalhos publicados.
Com este estudo pretende-se contribuir para que os professores de todas as fases do
desenvolvimento profissional, notadamente os que se encontram em início de carreira, reflitam e
compreendam a necessidade e a relevância de se investir no marketing pessoal, considerando-o
aspecto fundamental para o estabelecimento efetivo desses profissionais no mercado de trabalho.
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1.1 O ciclo de desenvolvimento profissional de Huberman (1995)
Segundo Huberman (1995), a carreira parece ser caracterizada em ciclos ou estágios
que influenciam à atuação do profissional. A partir de estudos com docentes, este autor suíço
elaborou um modelo de síntese do desenvolvimento profissional em cinco fases: a primeira fase
denomina-se entrada ou tateamento, e vai de um a três anos de carreira. É caracterizada por um
período de sobrevivência, que engloba a distância entre os ideais elaborados no período de
formação inicial e as realidades cotidianas do contexto escolar. A fase de estabilização, de 4 a 6
anos, caracteriza-se pelo compromisso definitivo com a profissão, pelo processo de nomeação
oficial e pela consolidação de um repertório pedagógico próprio. A fase de diversificação, de 7 a
25 anos, é marcada por experimentações e por questionamentos que influenciam nas
características das fases seguintes. A fase de serenidade, de 25 a 35 anos, caracteriza-se pela
serenidade, oriunda de seu distanciamento afetivo ou pelo seu conservantismo. A última fase,
denominada desinvestimento, ocorre entre os 35 e 40 anos de profissão e que, dependendo das
experiências do profissional, pode ocorrer de maneira serena.
É interessante aprofundar as discussões a respeito da primeira fase, uma vez que no
início da carreira os professores elaboram princípios norteadores de sua posição enquanto
professores. Geralmente, o início da carreira é marcado por momentos de sobrevivência e de
exploração (descoberta). Segundo Huberman (1995), o aspecto da sobrevivência traduz o
“choque do real”, a confrontação inicial com a complexidade das instituições em que os
professores principiantes irão atuar. Nesta fase, emergem as descontinuidades, os riscos, as
decepções, as repressões e as contradições que se entrelaçam com um momento de profundo
aprendizado e de mudanças radicais em seus modos de pensar e de agir perante a profissão. A
vontade de transformar e de buscar o novo está embebida de interrogações sobre o “como
ensinar?”, sobre a relação teórico- prático e sobre a identidade profissional.
Em contrapartida ao aspecto da sobrevivência, Huberman (1995) destaca outro, a
descoberta ou exploração. A descoberta traduz o entusiasmo inicial, a experimentação, a sensação
de estar em responsabilidade e de tornar-se colega num determinado corpo profissional.
Ambos os aspectos influenciam as decisões do profissional de prosseguir ou
abandonar o ofício de professor.
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1.2 Mudanças de hábitos em função do renascimento social: do lugar de aluno
para o lugar de professor
Será observada neste ponto a transição da vida de acadêmico para a vida de
profissional, enfatizando a singularidade desses dois papéis.
A maioria dos acadêmicos dos cursos de formação de professores são alunos
trabalhadores que, antes de ingressar ou no decorrer do curso, já exercem a profissão. Em função
disso, grande parte ainda não possui formação adequada – que inclua, por exemplo, a disciplina
marketing –, e, geralmente, não se atentaram à importância do marketing pessoal a sua inserção
no mercado de trabalho.
Há de se considerar ainda que a sociedade é tolerante aos deslizes profissionais
quando se está em formação acadêmica. Ao contrário do profissional habilitado que, ao falhar,
geralmente, é rotulado pela sociedade como sujeito que denigre a imagem da profissão.
Os professores em início de carreira experimentam um período de mudança de papel,
em que deixam o lugar de aluno nos bancos universitários para assumir também o lugar de
professores nos espaços destinados aos processos educativos. Esse mudar de papel desencadeia
uma ruptura com a maneira de ser e de estar na posição de aluno. Ao universitário são permitidas
posturas que ao professor, principalmente em início de carreira, seriam consideradas
inadequadas. Vestir roupas e sapatos desbotados, pedir carona, frequentar qualquer ambiente,
ficar embriagado, entre outras posturas, que são práticas consideradas naturais e que caracterizam
a vida da maioria dos universitários. Entretanto, em que implicaria se o profissional em início de
carreira assumisse tais posturas diariamente? No momento de uma contratação, em que a escola
terá de optar entre um profissional que apresenta essas características e outro, considerado
modelo, quem assumirá a vaga?
Assim, após a colação de grau, emerge uma pressão social de mudanças de hábitos.
Não se preconiza que o professor não possa fazer o que fazia na posição de acadêmico. No
entanto, não se pode negar que existe uma necessidade maior em ter cautela e bom senso para
que suas atitudes e comportamento não o comprometam, principalmente pelo fato de ser
referencial para os educandos.
Embora as posturas apresentadas sejam aparentemente triviais, o profissional em
início de carreira que compreende a nova relação em que está inserido, ou seja, que emergiram
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novos limites e posturas, em sua maioria postos pela sociedade, terá melhores chances no
mercado de trabalho. Nem sempre as exigências da sociedade em relação ao profissional são
coerentes. Mas, estas independem de se concordar ou não, já que se tornaram condições básicas
para sua atuação.
Tal situação é um processo contínuo e se tornou natural, uma vez que, quanto mais
alto for o cargo assumido pelo profissional, maiores serão as exigências sociais e de status, ou
seja, maiores também serão os gastos para manter-se nele.
1.3 Os rituais profissionais e a influência da aparência física para o profissional
em início de carreira se inserir no mercado de trabalho
Todas as profissões apresentam rituais a serem seguidos e que, geralmente, traduzem
o respeito ou não do indivíduo aos valores e à organização adotados pela sua profissão. Se, por
ventura, um acadêmico ou profissional da área jurídica for a uma entrevista vestindo peças de
malha e calçando tênis corre o risco de sequer ser atendido por empresas sérias. Ilustrando a
profissão professor, se um professor de Educação Física chega à escola para ministrar suas aulas
de calça jeans e sapato poderá perder a autoridade, já que não está com o traje adequado para
exercer sua profissão. Tais exemplos suscitam a importância da apresentação pessoal.
Com efeito, o primeiro julgamento que se faz de um produto é a partir de sua
aparência. Segundo Andrade (2002), com as pessoas não é diferente, pela aparência já se está,
inconscientemente, fazendo um “pré-julgamento” e, por mais precipitado que seja, essa
impressão pode ser a diferença entre uma oportunidade que se abre ou se fecha na vida de cada
pessoa.
Para Shinyashiki (2004b), no processo de conquista por um espaço no mercado de
trabalho, uma primeira imagem bem sucedida poderá abrir portas. Entretanto, uma impressão
inicial negativa é muito mais difícil de ser revertida. Portanto, "a primeira impressão pode até não
ser a que fica, mas marca profundamente, a ponto de favorecer ou prejudicar a imagem que se
pretende construir ao longo de nossa carreira profissional". (SHINYASHIKI, 2004b, p.02).
No início da carreira, a atenção em relação à aparência física do profissional assume
lugar privilegiado. Existem comunidades com costumes muito peculiares, e, se o profissional
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chega para ministrar sua aula trajando indumentária que se contrapõe a esses costumes, poderá
não ser aceito. Assim, o professor observador, discreto e diplomático evitará transtornos, já que,
nessa fase, ele costuma ser alvo de críticas dos profissionais de sua própria classe, sobretudo os
que se encontram em outras fases do desenvolvimento profissional de Huberman (1995).
1.4 O que as lentes não captam: visão humanística do marketing pessoal
traduzida a partir das competências fundamentais
É comum perceber que os autores que tratam do marketing pessoal, geralmente,
concentram-se em fatores externos, tais como a aparência física dos indivíduos, considerando
este fator preponderante para distinguir aqueles que fazem ou não o marketing pessoal.
Evidentemente, tais fatores constituem-se no que é chamado de a primeira impressão,
mas, sozinhos, não garantem o sucesso da carreira profissional e das relações sociais. Pois, como
afirma Shinyashiki (2004c, p. 01), "nos últimos tempos parece que a sociedade foi assolada por
'carinhas bonitas', mas que não tem nada a dizer, não transmitem absolutamente nada e assim
passam desapercebidas".
Assim, existem competências fundamentais que fazem parte do marketing pessoal.
Comungando dessa ideia, Shinyashiki (2004c) sugeriu uma visão humanística desta modalidade.
Este autor afirma que, nessa visão, o profissional integra as técnicas eficazes de divulgação de si
mesmo (o fator externo) às suas habilidades pessoais de personalidade (o conteúdo interno).
Concordando com a visão deste autor, propõem-se algumas competências a serem
desenvolvidas e/ou aperfeiçoadas pelo profissional em início de carreira, visando otimizar sua
entrada e seu estabelecimento efetivo no mercado de trabalho.
As competências que se seguem, e que foram chamadas de competências
fundamentais, constituem-se em sugestões para o profissional que se encontra na primeira fase de
desenvolvimento profissional de Huberman (1995), e não em uma fórmula para o sucesso.
Um dos fundamentos básicos para todo profissional que pretende tornar-se
competente é o planejamento, independentemente de sua área de atuação. Isso se refere,
sobretudo, ao planejamento da carreira profissional. Para Resende (2000, p.22), “a função do
planejamento é identificar e detalhar todo o percurso rumo aos resultados, evitando ou
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diminuindo as possibilidades de erros e imprevistos, que comprometem a qualidade e o sucesso
do trabalho, de maneira contínua, uniforme e flexível”.
Concordando com esse autor, o profissional em início de carreira pode detalhar seu
percurso a partir do estabelecimento de metas a curto, médio e longo prazo. Para isso, ele deve
perguntar-se: Qual é meu objetivo profissional? Como posso tornar-me um profissional
diferenciado? Como pretendo estar profissionalmente daqui a dois, três, quatro e cinco anos? O
que é preciso para atingir minhas metas? Dessa forma, será capaz de planejar as estratégias para
atingir seus anseios. Entretanto, como destaca Werneck (1996), o profissional atento compreende
que visão sem ação é simples sonho e que ação sem visão não leva a parte alguma.
Outro pressuposto básico ao professor em início de carreira é o exercício de uma
relação afetiva com seus alunos. Acredita-se, como Ruben Alves (2004, p.52), que “toda
experiência de aprendizagem inicia-se com uma experiência afetiva”. A sugestão torna-se
pertinente já que, “contrariamente a outros profissionais, o trabalho do professor depende da
„colaboração do aluno” (NÓVOA, 2002, p.23). Labaree (2000 apud NÓVOA, 2002, p. 23), para
fundamentar sua ideia postula que “um cirurgião opera com o doente anestesiado e um advogado
pode defender um cliente silencioso, mas o sucesso do professor depende da cooperação ativa do
aluno”.
O que se destaca é que ninguém ensina ninguém, muito menos quem não quer
aprender. A presença do aluno na escola será produtiva quando o mesmo está a partir de um ato
de sua vontade e não de imposição. Assim, a confiança que os alunos atribuem ao professor
torna-se decisiva no processo de ensino e aprendizagem. O desenvolvimento de tal processo
exige a relação de confiança e empatia entre o professor e o aluno, uma vez que “não aprendemos
de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”
(FERNÁNDEZ, 1991, apud TASSONI, 2004, p. 03).
Para Nascimento (2004), as experiências afetivas presentes na relação professoraluno marcam o objeto do conhecimento, fortalecendo a confiança dos alunos em sua capacidade
de tomar decisões e, consequentemente, auxiliam o desenvolvimento da autonomia moral e
intelectual.
Entretanto, o posicionamento não deve tornar-se veículo de mal entendidos. Embora
se considere a afetividade uma característica significativa na prática docente, o professor que, por
ventura, tentar utilizá-la como receituário de estratégia pedagógica, pode gerar artificialismo e
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não obter sucesso, visto que se trata de uma característica natural de algumas pessoas a ser
lapidada e utilizada em favor do processo de conquista do professor para com os alunos. O que se
quer dizer com isso é que o professor deve ser um sujeito ativo em suas aulas, ou seja, propor as
atividades e participar delas junto de seus alunos. Com o professor de Educação Física isso é
ainda mais evidente, por constituir-se em peculiaridade da profissão.
Embora se assemelhe à visão positivista, se utilizada reflexivamente, a tranquilidade e
o equilíbrio, expressos naturalmente no tom de voz ao conversar com os alunos e, sem dúvida,
com toda a comunidade escolar, contribuirá efetivamente para uma relação mais equilibrada no
ambiente de trabalho.
Suscitada através do tom de voz, a simpatia é considerada por Shinyashiki (2004c)
um dos melhores canais de acesso ao sucesso profissional e pessoal, pois as pessoas gostam de
quem as trata bem. Ser cordial, afetuoso, entusiástico e educado é crucial para manter uma
imagem positiva entre as pessoas de seu relacionamento. Dessa forma, ações simples como um
cumprimento, um sorriso, um abraço ou um olhar positivo podem garantir pontos importantes ao
marketing pessoal. Além disso, saber atender a um pedido, ser prestativo, também pode fazer a
diferença. Muitas vezes, uma ajuda desinteressada pode transformar-se em uma grande amizade
ou a conquista da admiração pelas demais pessoas.
Ficar atento ao feedback é outra consideração importante. Saber o que as pessoas
pensam pode contribuir com a mudança de hábitos e costumes aparentemente triviais, mas que
podem constituir-se no diferencial. Afinal, acredita-se que são os detalhes que tornam as pessoas
especiais.
O marketing pessoal construído pelo acadêmico durante a graduação poderá auxiliar
o futuro professor a adquirir melhores possibilidades no mercado de trabalho e, portanto, a
tornar-se um profissional bem sucedido. A opinião dos professores sobre o acadêmico também
poderá ser decisiva. O percurso acadêmico pode funcionar como um espelho que irá refletir em
nossa carreira profissional durante toda a vida.
Outra estratégia interessante é a técnica do benchmark. Segundo Shinyashiki (2004d),
a expressão benchmark é comumente utilizada no meio empresarial para definir estratégias de
comparação e balizamento entre empresas, produtos e serviços de sucesso. As empresas utilizam
esta técnica para conhecer quem faz melhor algum produto ou serviço e, a partir daí, aprender
com suas estratégias de sucesso e erro.
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Voltando ao profissional em questão, os acadêmicos podem adaptar a técnica do
benchmark aos professores universitários que consideram competentes. O objetivo é tentar
refletir e trazer para a vida profissional características dos profissionais que são admirados, ou
seja, aprender com eles a forma de desenvolver as qualidades que os tornam especiais.
Ter linguagem verbal e escrita bem desenvolvidas também é crucial para o professor
quando se tem a intenção de garantir uma imagem satisfatória diante dos alunos e demais
componentes da comunidade escolar. Tal competência é imperativa ao professor, pois faz parte
de seu ofício profissional, já que se constitui em referencial indispensável à formação do aluno. É
também fundamental que o professor saiba adequar a linguagem às diferentes faixas etárias da
clientela com que trabalha.
Outra competência fundamental para o profissional desenvolver desde o início da
carreira é lidar com os imprevistos. É interessante destacar a situação do professor de Educação
Física, que, geralmente, ministra suas aulas em espaços abertos. Cotidianamente, o professor
desta área de atuação vê-se obrigado a adaptar-se aos diversos ambientes e circunstâncias que
emergem instantaneamente no momento de sua aula ser ministrada. Para Schön (2002), nesses
casos:
o profissional experimenta uma surpresa que o leva a repensar seu processo de
conhecer-na-ação de modo a ir além de regras, fatos, teorias e operações
disponíveis. Ele responde àquilo que é inesperado ou anômalo através da
reestruturação de algumas de suas estratégias de ação, teorias de fenômeno ou
formas de conceber o problema e inventa experimentos imediatos para testar suas
novas compreensões. Ele comporta-se mais como um pesquisador tentando
modelar um sistema especializado do que como um “especialista” cujo
comportamento é modelado. (SCHÖN, 2002, p. 39-40)
Nascimento (2004, p. 75) parece concordar com Schön (2002) quando afirma que
"aprender a lidar com imprevistos e situações desconhecidas é uma característica necessária ao
professor de Educação Física e a qualquer profissional que esteja atuando neste momento
histórico da pós-modernidade".
Se “professor é profissão de quem estuda” (FREIRE, 2002, p.172), outra competência
fundamental a este profissional é ser uma autoridade em seu campo de conhecimento, já que o
aluno, tanto da escola básica como do ensino superior, entra no ambiente escolar com essa
esperança. Não se postula que o professor deva ser uma autoridade em todos os campos de
conhecimento. Mas, como coloca Dias e Sousa (2003, p.08), “todo profissional que busca sua
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competência precisa ter conhecimento profundo em sua área específica e, pelo menos,
„desconfiar‟ das áreas que fazem limites com a sua”. Além disso, é conveniente que o
profissional demonstre interesse e envolvimento pelo assunto que está abordando, uma vez que
isso influencia no processo de conquista dos ouvintes.
A afirmação de Dias e Sousa remete às considerações do professor Júlio Machado
(2004) sobre o significado do talento. Em sua palestra – Arte de se envolver e de se relacionar
bem – ele afirma que talento é aquilo que você faz melhor que os outros. E que, nesse caso, a
estratégia para o sucesso é mesclar o talento com a profissão. Em virtude disso, o professor
pontua que, em vez de ficar corrigindo as fraquezas, o profissional deve desenvolver suas
fortalezas.
Para este professor, isso se traduz em: caso o profissional seja mediano ou fraco em
determinada disciplina, não deve esgotar seus esforços. Ao contrário, se tem facilidade, é
eficiente e tem prazer em estudar outra disciplina, tem que se dedicar ainda mais à compreensão
de seu conteúdo, já que quando se realiza alguma atividade com empenho e motivação o
rendimento é muito maior. Dessa forma, o acadêmico ou profissional passará a ter uma
identidade, uma espécie de slogan, relacionado ao que o professor chamou de desenvolvimento
da fortaleza.
Acredita-se que o sucesso no desenvolvimento das competências que se chamam de
fundamentais está diretamente relacionado à capacidade de desenvolver uma outra, que é a do
professor tornar-se, como postula Pérez Gómez (1997), um investigador da sala de aula, ou seja,
sujeito reflexivo de seu próprio fazer docente. Nesse caso, o professor torna constantemente sua
ação docente objeto do seu próprio olhar, reflete e questiona sua atuação, sua responsabilidade e,
principalmente, as possibilidades de mudança.
Sem dúvida, o profissional cresce e tem maiores possibilidades de tornar-se bem
sucedido quando investiga sua própria prática. O professor que opta por este caminho encara o
ensino como uma forma de investigação e experimentação e, em vez de acatar as determinações
epistemológicas da racionalidade técnica, passa a produzir o conhecimento de sua própria área de
atuação.
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1.5 Características de um profissional de qualidade
Shinyashiki (2004e) considera, como a primeira característica de um profissional
qualificado, a velocidade. O autor aborda esta característica como fundamental, pois é a
capacidade de rapidez do indivíduo para resolver problemas. Aproveita-se para tecer uma
consideração sobre o famoso mal que assola a sociedade da modernidade tardia, o stress. Embora
seja tão depreciado, nem sempre o stress é um vilão a ser evitado. Estudos apresentados pela
mídia evidenciam que, se bem controlado, o stress ativa o sistema nervoso deixando o indivíduo
em alerta, pronto para encarar diversas situações. O desafio é saber regular a ansiedade e a
tensão.
A segunda característica do profissional qualificado é a polivalência, que já foi
referenciada neste texto. Mas, não se pode confundi-la com ecletismo pouco produtivo
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001). É, como afirmou Dias e Sousa (2003), ser autoridade em seu
campo de conhecimento e pelo menos desconfiar das áreas que fazem fronteira com a nossa. A
terceira característica é a visão. Inclui-se, nesse caso, aquele professor que é capaz de olhar o
futuro, de ver o que parece ser invisível, ou seja, de perceber as oportunidades onde os outros não
veem.
A quarta característica é a capacidade de realização. Considera-se tal característica a
mais significativa, uma vez que o desempenho satisfatório nesta traduz a atenção do profissional
em relação às demais. Capacidade de realização é a habilidade do profissional planejar suas
atividades cotidianas e ser capaz de realizá-las.
A última característica do profissional qualificado é entender de gente. No caso dos
profissionais que lidam diretamente com pessoas, como o professor, ela é ainda mais
significativa. Nesse sentido, apresenta-se uma indagação: O objeto de estudo do professor é o
conteúdo a ser ensinado ou o aluno? Infelizmente, muitos professores ainda apostam na
supremacia da primeira opção. No entanto, como é que um professor vai lidar com o aluno se não
conhece suas características e as peculiaridades de sua faixa etária? Por esta razão, o exposto
anteriormente se apresenta de grande valor para uma reflexão do educador nos dias de hoje.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfatizou-se neste texto a influência marketing pessoal e tentou-se fornecer alguns
insigts para o professor que se encontra na primeira fase do ciclo de desenvolvimento profissional
proposto por Huberman (1995), sobretudo os que vivem o momento de transição da vida de
acadêmicos para a vida de profissional.
O propósito com este texto é que os professores se atentem para a importância de
trabalhar o marketing pessoal desde o início da carreira profissional. Sabe-se que os professores
iniciantes não irão desenvolver o marketing pessoal imediatamente. Entretanto, se o profissional
é consciente da existência e da influência das competências fundamentais e da aparência física
como alavanca para inserir-se no mercado de trabalho, poderá aperfeiçoá-las desde o início da
carreira, transformando estes componentes do marketing pessoal num exercício que fará a
diferença em sua carreira.
Se o profissional pretende tornar-se especial, diferenciado, qualificado ou bem
sucedido, precisa fazer algo original. Comece a observar as pessoas ao seu redor, tente
compreender o porquê de algumas delas serem consideradas profissionais de sucesso.
No meio educacional, ainda há muitos profissionais padronizados, aqueles que fazem
sempre a mesma coisa, mas querem que o resultado seja diferente. E ainda costumam atribuir o
sucesso de outros profissionais ao fator sorte, que ele não tem. No entanto, às vezes as pessoas
não se perguntam quantas vezes o profissional de sucesso deve ter optado por passar o final de
semana estudando em vez de dormir ou de se divertir; optado por ir a uma palestra ou um
congresso importante no lugar de ir a uma festa; optado também por comprar livros em vez de
roupas, entre outras coisas.
Em função disso, acredita-se que não existe sorte. Em vez disso, há oportunidades
que o profissional está ou não preparado para assumir. O mercado capitalista é exigente e busca
constantemente resultados. Reclamar do seu trabalho e do mercado saturado, se você faz o
mesmo que todos os profissionais da sua área, não resolverá o problema. O mercado sempre
estará saturado para os profissionais comuns, já que atualmente as pessoas são bem remuneradas
pela sua raridade. No mercado de trabalho não existe lugar para o mero cumpridor de tarefas nem
para o eficiente. Apenas o indispensável permanecerá.
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Conclui-se, fazendo nova analogia para a profissão professor: os despreocupados com
a aparência física e com as competências fundamentais devem se atentar mais para esses pontos,
pois para tornar-se um profissional diferenciado a preparação e as estratégias de marketing
pessoal desde o início da carreira são fundamentais.
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