138 MORFOSSINTAXE E MORFOFONOLOGIA DAS FORMAS NOMINAIS EM -NTE DO PORTUGUÊS DO BRASIL1 Alessandro Boechat de Medeiros, USP Introdução No português, além dos adjetivos -nte derivados de verbos, como comovente ou confiante, há formas em -nte, também aparentemente derivadas de verbos, que se distribuem em contextos tipicamente nominais (por exemplo, co-ocorrem com determinantes sem a presença de [outro] nome e podem ser argumento de verbo). Arrolo alguns exemplos em (1): (1) Absorvente, adoçante, alvejante, amante, aniversariante, assaltante, calmante, concorrente, comandante, descendente, desinfetante, dirigente, estudante, fertilizante, ficante, fumante, governante, militante, navegante, oponente, pisante, presidente, regente, repelente, representante, servente, vigilante, visitante, etc. Chamarei os itens da lista (1) de nominais -nte. Neles, duas características, consideradas conflitantes pela tradição gerativa, saltam aos olhos. A primeira é: diferentemente de formas nominais com outras terminações (como destruição, varrida, desenvolvimento – nominalizações de verbo que denotam eventualidades), todos os exemplos de (1) referem-se a entidades (animadas ou não) que são, assim como o são os sintagmas nominais modificados pelos adjetivos com a mesma terminação, interpretadas como sujeitos de seus verbos de base. Por exemplo, o acompanhante é alguém que acompanha, não o evento de acompanhar ou quem é acompanhado; o desinfetante é algo que desinfeta, mata os germes. A segunda característica é: os contextos de uso das palavras listadas acima indicam que, para muitas delas, os referentes podem ser bem mais específicos que o que sugerem as paráfrases2. Por exemplo, o absorvente, sem informações extras, é algo que absorve fluidos ou excreções do corpo, não qualquer coisa; o pisante, pelo menos para mim, é um calçado fechado (nunca sandália), e não simplesmente algo ou alguém que pisa. O quadro acima expõe uma tensão: ao passo que algumas propriedades dos nominais -nte são essencialmente sintáticas e regulares, como o fato de designarem sempre entidades interpretadas como os sujeitos dos verbos de base, eles apresentam certas idiossincrasias de uso – freqüentemente designam entes muito especiais –, característica normalmente atribuída ao que é puramente lexical. Como lidar com isso? Resposta: adotando um modelo de gramática que elimina a dicotomia sintático-lexical; um modelo no qual a sintaxe “invade” o “léxico”; uma teoria gramatical como a Morfologia Distribuída (Halle & Marantz 1993, Marantz 1997; doravante MD). Os pressupostos dessa teoria permitem formular as quatro perguntas a seguir que, se respondidas, não só nos ajudarão a lidar com o impasse colocado acima, mas também nos trarão um conhecimento muito mais profundo e detalhado das formas estudadas neste artigo. 1) Quais são os morfemas (feixes de traços sintático-semânticos e morfológicos) envolvidos nelas? 2) Que tipos de verbos estas formas não podem tomar como base e por quê? 3) O que explica a especificidade de referentes para alguns nominais -nte? 1 2 Gostaria de agradecer a Ana Paula Scher, aos membros do GREMD e a Miriam Lemle por comentários e idéias. Gostaria de agradecer também à FAPESP pela bolsa de pós-doutorado (2008/00426-0) que possibilita esta pesquisa. Isso me parece ser mais uma indicação de que os itens da lista (1) são, de fato, nomes, não adjetivos. Observe-se que a palavra absorvente, por exemplo, pode modificar nomes variados: uma idéia absorvente, um trabalho absorvente, etc. Já o mesmo não ocorre com o absorvente ou um absorvente. Aqui, a referência é bem específica – é um objeto, um instrumento, não uma pessoa, um evento, uma atividade ou um estado mental... Se tratássemos o absorvente de (1) como adjetivo (assumindo alguma categoria vazia modificada por ele), não saberia como explicar isso. 139 4) Que especificações deve ter a peça vocabular /nt/ para ocorrer onde ocorre: em nominais e adjetivos -nte? Este texto tem como objetivo responder (1) a (4) acima. E tem a seguinte organização. Na seção 2 apresento algumas abordagens para formas semelhantes em línguas como o inglês, o esloveno e o grego; duas delas orientadas pela MD, outra assumindo uma sintaxe lexical (Hale & Keyser 1993). Na seção 3, desenvolvo minhas propostas e respondo as questões formuladas acima. A seção 4 conclui o artigo. 1. Algumas Considerações sobre Outras Abordagens 1.1 van Hout & Roepper 1998 Neste artigo, van Hout e Roepper analisam as nominalizações em -er do inglês em dois contextos distintos, exemplificados abaixo em (2): (2) a. The mower of the lawn just walked in (o cortador da grama acabou de entrar). b. The lawn-mower just walked in (o cortador de grama acabou de entrar). Segundo os autores, em (2a) há implicação de um evento, e mower tem somente leitura agentiva; já em (2b) e o composto lawn-mower tem leitura de instrumento ou de agente e não há um evento envolvido. Na proposta dos autores, alinhada com a noção de sintaxe lexical desenvolvida em Hale & Keyser 1993, mower de (2a) envolve um VP, um Voz-P, um Asp-P e um TP; o composto lawn-mower em (2b), por outro lado, envolve somente um VP, sem os outros núcleos do sistema flexional. Os esquemas a seguir ilustram a idéia: (3) a. NP wi N wy Vj + Nk mow+er TP 3 N -Ø T Asp-P 3 DP 3 4 Asp the lawn Voz-P 3 tk Voz' 3 Voz VP 3 Spec ti b. N' N' 3 N -er V' g V tj 3 VP 3 Spec 3 V mow wy N VP 2 V' Ni + Vj lawn-mow -er N lawn N Spec 2 V' Vj Ni Na estrutura (3a), o nó Voz tem a função de introduzir uma variável de evento, licenciar um 140 complemento e criar uma posição para a introdução de um agente, que será ocupada pelo núcleo nominal -er. O -er nesta posição se cliticiza ao verbo, que passa por sucessivos movimentos de núcleo até cliticizar-se ao N vazio, na posição mais alta. O complemento move-se para especificador de Asp-P onde checa telicidade (observe-se que, no exemplo (2a), o complemento é um tema incremental e é quantificado, e por isso a interpretação télica). O núcleo T é necessário para fechar a variável de evento introduzida por Voz, provavelmente contribuindo com um quantificador existencial para o evento. A presença deste núcleo explica porque na interpretação de (2a) um evento é implicado: para lawn-mower, onde não há núcleo T (ver (3b) acima), não necessariamente houve, em algum momento, um evento de cortar a grama; já o mower of the lawn cortou a grama alguma vez na sua vida. A leitura de entidade que é um agente do evento interno à forma nominal é possível porque o N -er parte de uma posição em que é interpretado como agente do evento – o especificador de Voz-P. Em casos como o da nominalização destruction, por exemplo, teríamos também Voz, Asp, T; mas, como não há um N que parte da posição de especificador de Voz, a interpretação não é a de agente de um evento, mas a de evento com certas propriedades (é o nome de um evento, não de uma entidade). A interpretação de (4b) não tem implicação de evento, como esperado, uma vez que não tem Voz que introduz variável de evento nem T que fecha essa variável. Ali, o nome lawn se move da posição de clítico (irmão de V) para a de especificador de VP, ficando numa posição de escopo em relação ao verbo e restringindo seu significado (trata-se de cortar grama, não de cortar qualquer coisa). Nessa posição, ele vira um clítico do verbo. O complexo verbal, com o nome lawn cliticizado, se cliticiza ao nome onde a terminação -er é gerada, tendo como resultado o composto lawn-mower. Apesar de tratar de formas nominais que guardam certas semelhanças com as listadas em (1), os nominais em -er do inglês estudados por van Hout e Roepper têm algumas propriedades que os tornam inconciliáveis com os nominais -nte do português. Por exemplo, a estrutura de (3a) fornece uma leitura episódica para o evento mais encaixado (ver nota 8), coisa que nunca ocorre nos nominais -nte. De fato, a estrutura (3a) seria mais adequada para explicar uma das leituras das formas nominais em -dor (matador) do português3. Já a outra estrutura é para compostos, sem muita utilidade para o nosso caso. 1.2 Alexiadou 2001 Seguindo o arcabouço teórico da MD, Alexiadou propõe que formas nominais como dancer do inglês ou katharistis (limpador) do grego tenham estruturas com as seguintes características: (1) presença de um verbalizador com traços de agentividade; (2) ausência, em sua estrutura morfossintática, de núcleo com traços aspectuais. A idéia de que essas formas nominais trazem verbalizadores – ou, por outros termos, uma posição de evento – se justifica por certos paralelos que existem entre nominais eventivos com -er e nominalizações de processo como destruction. Segundo a autora, as formas nominais em -er verdadeiramente eventivas tomam sempre complementos, assim como o fazem os nominais de processo (ver Grimshaw 1990 para uma extensa discussão sobre nominais de processo e de resultado); isso fica demonstrado pelo fato de serem modificados por adjetivos como fequent somente na presença dos argumentos internos. Quando o nominal é não-eventivo (ou seja, quando o complemento não é obrigatório), a modificação aspectual com tal adjetivo não é permitida. Os exemplos abaixo (tirados de Alexiadou 2001: 128, 129), ilustram tais propriedades: (4) a. the defender *(of human rights). b. frequent consumer *(of tobacco). c. this machine continues to be our only (*frequent) transmitter. d. this machine continues to be our only transmitter (*to headquarters). Entretanto, há difrerenças importantes entre as formas nominais em -er e os típicos nominais de processo. Ao contrário destes, segundo a autora, os nominais em -er não permitem modificação 3 Por exemplo, para o DP o matador do Chico Mendes a interpretação envolve um evento único de “matar alguém”. Note-se aqui que não necessariamente o matador é um profissional que faz isso habitualmente. Nominais -nte não aceitam essa leitura. Ver seção 3.2 abaixo. 141 com advérbios de modo; tampouco aceitam modificação aspectual, diferentemente de formas nominais como destruction. Vejam-se os exemplos a seguir do grego (Alexiadou 2001: 129): (5) a. *o katharistis tu ktiriu prosektika o limpador o-GEN prédio cuidadosamente b. *o katharistis tu ktiriu epi ena mina telika apolithike o limpador o-GEN prédio por um mês finalmente pegou fogo. Segundo a autora, tais contrastes sugerem que as formas nominais em -er tenham um caráter verbal “diminuído”, mesmo em sua leitura agentiva. Uma vez que as formas nominais em -er tomam complementos e são indiscutivelmente agentivas, postular a presença de um verbalizador é inescapável. Essa característica é parcialmente partilhada pelos nominais de processo. E digo parcialmente porque nos nominais de processo do tipo destruction, diferentemente dos nominais do tipo discutido nesta seção, o verbalizador (cuja presença seria inegável por conta de sua interpretação de processo, não de resultado) não traz traços de agentividade: é, ao contrário, um verbalizador ergativo. Já o fato de as formas nominais em -er não aceitarem modificadores aspectuais (ver exemplo (4d)) leva a autora a dizer o contrário sobre núcleos aspectuais: esses devem estar ausentes. Nesse ponto, os nominais em -er divergem radicalmente dos nominais de processo, que trazem, sempre, nas propostas de Alexiadou, núcleos aspectuais em sua estrutura funcional. Segundo a autora, como resultado da estrutura proposta, as formas nominais em -er não denotam eventos específicos, mas agentes de um evento – ou seja, indivíduos ou classes de indivíduos. A ausência de nós de aspecto parece coerente com tal interpretação, uma vez que aspecto é uma noção relevante para eventos, não para indivíduos. As propostas apresentadas em Alexiadou 2001 parecem ainda estar num estágio inicial ou preliminar, e, portanto, carecem de explicações completas. Por exemplo, não está claro para mim, apesar de a formulação tratar a questão como se fosse trivial, como a estrutura funcional proposta leva à intepretação de indivíduo ou classe de indivíduos, e indivíduos que são agentes dos eventos veiculados pela combinação, mais encaixada, de raiz com verbalizador agentivo. Talvez, o que a autora queira dizer seja o seguinte: os nominais de processo, pelas suas propriedades (ver Alexiadou 2001, capítulo 3), trazem sempre um v com traços de ergatividade; portanto, nominais que tragam traços de agentividade de alguma forma codificados em sua estrutura funcional, pedindo por um argumento externo, não são nominais de processo. De fato, o vezinho com traços de agentividade deve abrir uma posição para, ou introduzir uma variável de, indivíduo – e indivíduo que é, portanto, agente do evento mais encaixado – que tem que ser fechada de alguma forma, possivelmente com uma quantificação existencial veiculada pelo núcleo funcional (número ou determinante) que de fato nominalizará a estrutura. A proposta, entretanto, de não existência de um núcleo aspectual em nominais -er parece não poder ser generalizada para qualquer língua (se de fato vale nos exemplos que ela dá). Veremos a seguir que o esloveno tem nominais semelhantes em muitos aspectos aos estudado por Alexiadou, com a mesma leitura de indivíduo agente (ou instrumento) para o evento denotado pelo verbo mais encaixado, que aceitam modificação aspectual e podem ter uma leitura em que o evento denotado pelo seu verbo de base está em progresso em determinado momento. Pode ser verdade que aspecto não seja uma noção relevante para indivíduos, mas isso não impede que formas nominais com a leitura aqui discutida aceitem modificação aspectual/temporal. Ademais, a idéia de que o vezinho dessas estruturas traz necessariamente traços de agentividade seria problemática para casos como descendente, aniversariante, ficante da lista (1) acima. São exemplos de nominais -nte que não denotam agentes dos verbos de base, até porque os verbos de base não são agentivos. 1.3 Marvin 2002 Estudando as nominalizações de particípio do esloveno, Marvin trata do que ela chama de Nominalizações de Particípio-L Agentivas. Essas nominalizações têm propriedades muito semelhantes às dos nominais em -er do inglês e em -dor e -nte do português. Por exemplo, denotam o argumento externo do evento denotado pela raiz verbal (ou pelo verbo mais encaixado). A interpretação deste 142 argumento externo é sempre a de agente ou de instrumento: (6) a. plavalec/ka = o/a agente do evento de nadar b. morilec/ka = o/a agente do evento de assassinar c. rezalo = a coisa que é o instrumento que realiza o evento de cortar A autora propõe que a previsibilidade da interpretação de “argumento externo” é conseqüência da estrutura na qual o nominalizador é inserido, como mostra o esquema a seguir: (7) 3 T -l vP 3 n -ec v' 3 v Ø √P 5 plav-a No esquema acima, o vezinho é um feixe de traços que reúne os traços [+Ext, +Ag]4: ou seja, ele projeta uma posição de argumento externo e o que ocupa essa posição deve ser interpretado como agente do vP. A postulação de um núcleo como o vezinho, que implica um evento, se justifica por alguns testes semânticos apresentados pela autora. Por exemplo, modificação adverbial: segundo a autora, as nominalizações aqui discutidas podem ser modificadas por advérbios de modo, tempo ou lugar: (8) a. Rezalo na tanke kose (cortador em pedaços finos) – Modo; b. Iztrebljevalec v enem dnevu (exterminador em um dia) – Tempo; c. Sprehajalec po parku (caminhante em parque) – Lugar. As nominalizações de Particípio-L apresentam dois enquadres possíveis de tempo/aspecto para o argumento externo que elas denotam. Podem ser agente/instrumento de um evento habitual ou agente/instrumento de um evento em progresso. O tempo do evento denotado pelo verbo mais encaixado pode ser presente, passado ou futuro. Por exemplo, a palavra plavalec (nadador) pode se referir a alguém que é nadador por profissão (habitual) ou a alguém que está/estava/estará nadando em um momento contextualmente determinado (em progresso). Na proposta de Marvin, o responsável por tais leituras é o T em (7), que alberga traços temporais (S,R)5 e uma variável de evento E; o tempo real do evento vai ser determinado contextualmente. Uma outra propriedade dessas construções que, segundo a autora, corroboraria a presença de um núcleo de tempo/aspecto com certas especificações semânticas é que elas são bem-formadas somente com verbos imperfectivos do esloveno, aqueles sem prefixação perfectiva. Por exemplo, plavalec (nadador) envolve o verbo plavati (nadar) imperfectivo; o acréscimo do prefixo perfectivo ao verbo inviabilizaria a formação da forma nominal em questão: *preplavalec. No que diz respeito aos itens de Vocabulário realizadores dos morfemas da estrutura acima, a peça /ec/ seria especificada para realizar n na posição de especificador de vP; a peça /l/ seria uma peça default (subespecificada) participial, que realiza qualquer núcleo T, de tempo ou aspecto. Entretanto, em (7) acima a ordem de alguns itens está trocada. Se a estrutura fosse linearizada como está, o resultado seria algo como *plavaecl, e não plavalec, o desejado. Como lidar com isso? Marvin propõe 4 5 Marvin segue propostas de Embick 2000, nas quais a tipologia dos vezinhos é definida por combinações dos sinais dos traços de agentividade e argumento externo. A vírgula entre S e R indica coincidência temporal entre o tempo da fala (S) e o tempo de referência (R). Esses dois tempos, junto com o tempo do evento (E), formam a base do sistema tríplice de Reichenbach 1947. Este autor defende a idéia de que as interpretações dos tempos verbais das línguas do mundo podem sair de combinações das relações de antecedência e coincidência entre as três entidades temporais mencionadas. 143 duas coisas para resolver o problema: (a) que o núcleo T traz um traço EPP que força o movimento do n na posição de sujeito do vP para a posição de especificador do TP; (b) que, concatenado ao TP em (7), haja um núcleo (Num) com traços de número, com o qual, posteriormente, se concatena um núcleo determinante D. O núcleo Num tem a função de nominalizar a estrutura, que em (7) é de fato (ainda) verbal. Os movimentos são os seguintes, na ordem: (1) movimento sintático do n de [spec, vP] para [spec, TP]; (2) movimento morfológico da raiz para v; (3) movimento morfológico do complexo raiz+v para T; (4) movimento morfológico do complexo raiz+v+T para n em [spec, TP]. O esquema abaixo ilustra o resultado das operações, evidenciando a ordem correta dos itens. Ao final das operações, temos as relações entre os itens de Vocabulário que permitirão seu correto seqüenciamento. (9) 3 D Num-P 3 Num TP 3 n 2 T 2 -ec v 2 -l √plav-a v T 5 n ..... t ..... T Entretanto, olhando para o esquema (7), me pergunto se podemos realmente afirmar que essa estrutura denota entidades, e não nomes de eventos com agentes. Quero dizer: o núcleo Num, irmão de TP, não faz com que a leitura principal seja a de nome de um evento com agente, e não a de agente de um determinado evento? Se esse núcleo trouxer o traço [plural], por exemplo, de que plural estamos falando: do plural de uma entidade que é sujeito do verbo de base, ou do plural de um evento com um bizarro n agente? O fato de haver um nominalizador na posição de especificador de um vP mais encaixado é suficiente para se obter a leitura de entidade (e não de evento) ao final de tudo? 2. Analisando os Nominais -nte do Português No que segue, apontarei algumas propriedades dessas construções, que as distinguem dos nominais em -er do inglês e das formas nominais do esloveno discutidas acima. A estrutura morfossintática proposta em (15) explicará tais propriedades e responderá à questão (1) da introdução. As questões em (2) e (3) serão respondidas na subseção 3.4 e a questão (4) na subseção 3.5. Apesar das críticas apresentadas acima, a abordagem proposta aqui é, em certa medida, devedora das discutidas nas seções anteriores. Por exemplo, ela, como em van Hout & Roepper 1998 e Marvin 2002, aposta numa abordagem “configuracional”, com o nominalizador ocupando um certa posição em relação ao vP, para explicar a leitura de entidade (não de evento) dos nominais -nte. 2.1 Há um núcleo verbalizador (um vezinho) em tais formas nominais? Existem evidências morfológicas para a postulação de vezinhos nas estruturas dos nominais nte. Por exemplo, em fertilizante, alvejante e adoçante encontramos morfemas verbalizadores (ou que co-ocorrem com verbalizadores) reconhecidos até mesmo pelas gramáticas tradicionais: o -izcausativo (normalmente deadjetival), o -ej- iterativo e o prefixo a-, presente em diversos verbos derivados de nomes (como aterrar ou apedrejar). Em uma teoria realizacional como a MD, essas peças indicam inescapavelmente a presença de morfemas verbalizadores abstratos na estrutura, pois são realizações fonológicas dos mesmos. Ora, assumindo que a análise para os exemplos discutidos neste parágrafo se estenderá a todos os casos, pois todos compartilham as mesmas propriedades, então a conclusão é que os nominais -nte em geral têm, em sua estrutura, vezinhos. 2.2 Há núcleo aspectual na estrutura dos nominais -nte? 144 Olhando com bastante atenção os nominais -nte do português, descobrimos neles uma característica bem sutil e importante: quando o verbo de base seleciona um tema incremental, seu complemento preposicional é preferencialmente plural e/ou partitivo, não quantificado. Quando, junto ao nominal -nte, há um PP com um DP quantificado, a interpretação do nominal mais o PP não aceita leitura télica. Observem-se os exemplos em (9). (9) a. O/um alvejante de roupa, o/um alvejante de roupas, o/um alvejante da camisa do Pedro; b. O/um fertilizante de solo, o/um fertilizante de solos, o/um fertilizante do terreno da fazenda do meu tio. Em o alvejante da camisa do Pedro ou o fertilizante do terreno da fazenda do meu tio, as interpretações são a de alvejante (normalmente) usado na camisa do Pedro ou de fertilizante (normalmente) usado no terreno da fazenda do meu tio. O uso do alvejante não implica que a camisa de Pedro ficou alvejada ou alva nem o uso do fertilizante implica que o terreno da fazenda do meu tio ficou fertilizado ou fértil. Comparemos, entretanto, (9b) com o fertilizador do terreno da fazenda do meu tio, nas paráfrases a seguir. (10) a. O fertilizante do terreno do meu tio = algo (habitualmente) usado no terreno do meu tio, para fertilizar. b. O fertilizador do terreno do meu tio = algo (habitualmente) usado no terreno do meu tio, para fertilizar / alguém ou algo que, habitualmente, fertiliza o terreno do meu tio / alguém ou algo que alguma vez fertilizou o terreno do meu tio. Vemos que em (10b) uma das leituras possíveis (em itálico) envolve um evento culminado, tendo como resultado terreno fertilizado ou fértil. A palavra fertilizante, ao contrário, nunca implica eventos culminados de fertilizar – no máximo, uma espécie de evento genérico de fertilizar –, mesmo com um DP quantificado funcionando como seu complemento (aparentemente, pelo menos). Como explicar isso? Lembremo-nos de que as paráfrases para os nominais -nte envolvem, sempre, o verbo no presente do indicativo. Uma estratégia interessante talvez seja buscar por propriedades compartilhadas entre esse tempo verbal e as formas aqui estudadas. Vejamos os exemplos a seguir, que envolvem um verbo de consumação (o contrário de um verbo de criação): (11) a. João fuma cigarro/cigarros (não charuto/charutos). b. #João fuma um cigarro/o cigarro6. c. João tem fumado cigarro/cigarros. d. João tem fumado um cigarro *(que é fabricado na Índia). Em (11a, c e d), vê-se que a interpretação habitual é compatível somente com complementos não-quantificados; se o complemento for quantificado, ele tem que ser interpretado como um tipo, não como uma entidade particular (por exemplo, (11d), que precisa da oração relativa para ser gramatical). Os exemplos em (12) mostram uma simetria interessante entre o verbo no presente e o nominal -nte derivado: (12) a. Um/o fumante de cigarro/cigarros (não de charuto/charutos). b. Um/o fumante de ?um cigarro/do cigarro *(Marlboro). c. ?O fumante do único cigarro que estava no bolso do Pedro foi o João. Assim como o presente do indicativo (habitual) do verbo fumar, a palavra fumante tem baixa 6 Aqui, o complemento quantificado força uma leitura progressiva, e não habitual, do presente do indicativo. Esta leitura, entretanto, é bastante marginal, talvez por haver no sistema da língua uma forma composta com o gerúndio do verbo expressando mais tipicamente a progressividade: João está fumando um cigarro. 145 tolerância a complementos quantificados, a não ser quando estes denotam tipos, não entidades particulares (ver (12b))7. Tampouco aceita uma leitura em que um evento particular de fumar culminou (ver (12c)). A literatura reconhece uma forte relação entre habitualidade e uma leitura característica/genérica (Carlson 1977) ou caracterizadora (Krifka, Pelletier et al. 1995) do evento/predicado que se lhe associa. Para que se entenda: predicados caracterizadores expressam propriedades dos referentes de seus sujeitos (Krifka, Pelletier et al. 1995)8. Tomemos (11a) como ilustração. Além de um hábito de João, fumar cigarros é uma espécie de propriedade dele: sabemos que ele pertence a um grupo pessoas que fuma cigarros, mas talvez não charutos ou cachimbos, e às quais são reservados setores especiais em restaurantes, por exemplo. A mesma percepção pode ser estendida à palavra fumante em (12): fumar (cigarro) seria uma propriedade e um hábito de seu referente. Com o nosso primeiro exemplo em (9b), fertilizante, a coisa não é diferente. Seu referente tem a propriedade de fertilizar e, talvez, um “hábito potencial” associado. Como vimos antes, palavras como fertilizador têm uma pequena diferença semântica em relação a palavras como fertilizante: há uma leitura em que seu referente é o realizador de uma fertilização particular, de um evento singular, sem qualquer propriedade fertilizadora ou hábito associado. A palavra fertilizador permite, portanto, uma leitura episódica do evento denotado pelo verbo de base (ver (10) acima e nota 8 abaixo); já a palavra fertilizante (ou fumante) veicula, sempre, uma leitura genérica ou caracterizadora do evento. Para explicar tudo isso, proponho a existência de um núcleo/morfema aspectual tanto no presente do indicativo9 quanto nos nominais e adjetivos –nte, cuja função seja, no mais das vezes, fazer com que os eventos tenham uma leitura habitual/genérica. Assim, o predicado verbal mais encaixado será, tipicamente, um predicado caracterizador (de propriedades) de seu sujeito. A resposta para a pergunta-título desta seção é, portanto: sim, há um núcleo aspectual na estrutura dos nominais nte. Observe-se que uma abordagem sintática como essa explica sem embaraços o fato de um tempo verbal (o presente do indicativo), que envolve núcleos sintáticos, e um nominal (-nte), cuja formação é tradicionalmente tratada como derivação dentro do léxico (ver, por exemplo, Anderson 1992), compartilharem tantas propriedades. Para fechar esta seção, gostaria de dar mais uma justificativa para chamar o núcleo de que vim falando até o momento de aspectual: quando os adjetivos terminados em -nte derivam de verbos inacusativos/incoativos, a leitura do evento deixa de ser habitual/genérica e passa a ser outra (semanticamente relacionada à leitura habitual, ver Comrie 1976), a de progressividade ou continuidade temporal do evento. Os exemplos a seguir, tirados de Medeiros 2008, o mostram10. (13) a. #Aquele bêbado cambaleante não está cambaleando agora. b. Aquele filme emocionante não está emocionando agora. Ou seja, o português moderno, se as propostas aqui desenvolvidas estiverem no caminho certo, não carece de um particípio presente. 2.3 E a leitura de argumento externo do verbo encaixado, como se explica? Seguindo Kratzer 1996, assumirei que (a) argumentos externos são licenciados na estrutura pela presença de um núcleo Voz separado do verbalizador ou da raiz verbal (ver também Chomsky 1995, Pylkkänen 2002 e Marantz 1984 para propostas relacionadas) e (b) o núcleo Voz faz parte do sistema flexional, podendo ter traços aspectuais. Partindo destes dois pressupostos, proporei que o núcleo de aspecto envolvido nas formas -nte – cuja função, entre outras coisas, como já dissemos na 7 8 9 10 Os complementos quantificados em (9) para alvejar e fertilizar são permitidos porque seus referentes não deixam de existir ao final do processo; o contrário do que ocorre com cigarro em (12b). Para esses autores, os predicados verbais se dividem em duas classes: os episódicos e os caracterizadores. Os episódicos referem-se a um evento específico, já os caracterizadores se referem a propriedades do referente do sujeito, não a um evento específico. Talvez também no pretérito perfeito composto, ver exemplos (11c e d). Ver também Duffiled 2003 para exemplos do inglês. 146 seção anterior, é produzir a interpretação de evento habitual/genérico – traz traços de Voz (ativa), pedindo, pois, por um argumento externo. Dados os traços albergados pelo núcleo aspectual, o que quer que venha a concatenar-se com a estrutura dominada por este núcleo vai ser interpretado, no mais das vezes, como entidade dotada de propriedades associadas ao processo descrito pelo verbo mais encaixado, que funciona como um predicado caracterizador. Suponhamos que um núcleo nominalizador n é concatenado diretamente com a estrutura a seguir, conforme o esquema (14). Este núcleo funcionará como argumento do núcleo Voz e receberá o papel correspondente – será interpretado como dotado de propriedades iniciadoras ou causadoras de determinada eventualidade, referida pelo verbo de base. (14) n Asp/Voz' (merge) 3 Asp/Voz vP 3 v √P Entretanto, gostaria de propor, tentativamente, que, ao contrário do que acontecia em Marvin 2002 por exemplo, esse núcleo não vai simplesmente ocupar a posição de especificador do sintagma Asp/Voz-P, mas vai projetar sua categoria, como mostra a estrutura a seguir. (15) nP 3 n Asp/Voz-P 3 Asp/Voz vP 3 v √P A idéia (que ainda precisa ser testada) é a seguinte: numa situação em que um núcleo categorizador (como o n) é diretamente combinado com um nível X' qualquer, é o núcleo que projeta, e o que era X' se fecha como um XP irmão desse núcleo; caso seja outra categoria máxima a combinar-se com X', como um DP ou um nP, é o X que continua projetando. Como vemos na estrutura (15), n tem, ali, a dupla função de atribuir a categoria final à estrutura e de ser argumento do núcleo Asp/Voz. Com (15) respondo a questão (1) da introdução. A estrutura (16) a seguir mostra o resultado de todas as operações, inclusive a inserção das peças vocabulares. (16) nP 3 n -e Asp/Voz-P 3 Asp/Voz vP -nt3 v -iz(a)- √P fertil- O fato de o núcleo n projetar a categoria que domina a estrutura evita o que julgo ser problemático na proposta de Marvin (ver seção 2.3 acima). 2.4 Respondendo as questões (2) e (3) da introdução l Questão 2: Ao que parece, os verbos que não são licenciados nessas construções são os inacusativos/estritamente incoativos. A explicação para isso é: o núcleo aspectual envolvido em sua estrutura vem com traços de Voz ativa, que não co-ocorrem com tais verbos, por razões óbvias. Verbos que tenham argumento externo, de um modo geral, podem lhes servir de base; 147 e isso inclui, ainda que com uma raridade que não sei explicar, alguns estativos. l Questão 3: Uma coisa é muito clara nos itens em (1): todos denotam objetos ou pessoas, nunca estados, eventos, atividades ou algo cujo estatuto de entidade seja um tanto duvidoso (como idéias, por exemplo). Observe-se que estados, eventos ou atividades poderiam ter, sem problemas, propriedades causadoras das eventualidades descritas pelos verbos de base (um trabalho absorvente, atitudes concorrentes, idéias repelentes, etc.); no entanto, os nominais nte nunca os tomam como referentes. Acredito que a explicação para isso seja a seguinte: o núcleo n em (16), por si, não consegue introduzir evento, estado ou atividade; logo, o nominal -nte vai ter sempre a leitura de sujeito típico do verbo mais encaixado, leitura de entidade. Ou seja, não é qualquer referente que pode ser tomado porque a estrutura interna do nominal não permite. Essa restrição no universo de referentes responde, em parte, a questão 3. A outra parte da explicação é o uso. O uso ligou a palavra absorvente, por exemplo, a um item de higiene do corpo, mas um item cuja função principal é absorver alguma coisa. Raciocínio semelhante pode ser aplicado a comandante (que, em princípio, só comanda gente dentro das forças armadas), fertilizante (que, se não houver mais informação no contexto, fertiliza o solo para o plantio, não outra coisa), entre muitos outros. 2.5 Que especificação tem o item /nt/ em (15)? A proposta é que esse item tenha como especificação os traços aspectuais responsáveis pela leitura habitual/genérica do evento ou pela leitura progressiva dele (caso dos adjetivos derivados de verbos inacusativos ou incoativos). Há ainda uma especificação de contexto, que o liga à realização de um núcleo aspectual em adjetivos ou nomes. Acredito que essa especificação deva ter em conta traços Φ que claramente ocorrem em adjetivos e nomes, inseridos na estrutura por um núcleo (o enezinho em (15), por exemplo) ou copiados de um nome ou DP (no caso dos adjetivos) num núcleo morfológico de concordância11, inserido sob Asp/Voz. Esses traços seriam [gênero] e [número], não [pessoa], pois a concordância adjetiva não leva em conta esse traço. A regra abaixo ilustra a idéia. Por falta de um nome melhor, vou chamar o feixe de traços aspectuais responsável pelas interpretações discutidas aqui (habitual/genérica e progressiva) de [durativo]. O mesmo feixe de traços aspectuais pode ser realizado por outro item de Vocabulário, desde que o contexto sintático seja diferente. Com (17) respondo a questão (4). (17) a. /nt/ ↔ [durativo]/ ____ [gênero, número] b. /nd/ ↔ [durativo] nas outras situações12. Conclusão Nas subseções de (3) acima, as quatro questões formuladas na introdução foram respondidas. E, com isso, acredito ter mostrado que o impasse levantado na introdução não tinha razão de ser. Melhor: a abordagem que propusemos mostrou propriedades que não seriam vistas se simplesmente jogássemos a formação dos nominais -nte no tradicional armazém de idiossincrasias, o léxico. O que agora falta verificar é se a proposta de 3.3, onde n projeta sua categoria a despeito de ser um argumento do núcleo Asp/Voz, se sustenta. Isso ficará para trabalhos futuros ou para o leitor interessado. Referências 11 12 A inserção do núcleo de concordância seria condicionada pelo contexto sintático: uma estrutura com cópula (predicação) ou com adjunção de um objeto como (14) (mas sem o n e, talvez, com um PRO especificador de Asp/Voz) a um nome deflagraria a regra inserção do núcleo de concordância na Estrutura Morfológica (Halle & Marantz 1994). Nesse núcleo copiam-se os traços Φ relevantes do DP associado. Regra para a inserção do item realizador do gerúndio no português. Claro que há outros itens associados à interpretação durativa, como /i/ (corria) e /v/ (cantava) do pretérito imperfeito ou Ø do presente do indicativo, mas essas marcas seriam mais específicas, ligadas também a traços de tempo. 148 ALEXIADOU, Artemis. Functional Structure in Nominals: Nominalization and Ergativity. John Benjamins Publishing Company, Amsterdã/Filadélfia, 2001. CARLSON, Greg N. “An Unified Analysis of English Bare Plurals”. In Linguistics and Philosophy, 1, p. 413-457, 1977. CHOMSKY, Noam. The Minimalist Program. Cambridge Mass: MIT Press, 1995. COMRIE, Bernard. Aspect: An Introduction to the Study of Verbal Aspect and Related Problems. Cambridge University Press., 1976. DUFFIELD, Nigel. “Flying Squirrels and Dancing Girls: Events, Inadvertent Causes and the Temporal Anchoring of English Present Participles”. University of Sheffield, Ms., 2003. EMBICK, David. “Unaccusative Ayntax and Verbal Alternations”, Ms., MIT, 2000. GRIMSHAW, J. Argument Structure. 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