ST Linguística 21: TERMOS DE CLASSE, NOMES CLASSIFICATÓRIOS E SUA RELAÇÃO COM CLASSES NOMINAIS E CLASSIFICADORES Prof. Dr. Eduardo Rivail Ribeiro (UFPA, Museu Goeldi) [email protected] Prof. Dr. Hein van der Voort (Museu Emílio Goeldi) [email protected] Prof. Dr. Sidney Facundes (UFPA e Thammasa University) [email protected] As propriedades de classificadores e classes nominais têm recebido muita atenção na literatura linguística em termos de sua natureza semântica, gramatical, tipológica e, mesmomarginalmente, discursiva (Adams 1986, vários trabalhos em Craig 1986, Corbett 1991,Aikhenvald 2003, entre outros). Pouca atenção, contudo, tem sido dada a sistemas classificatórios também usados com funções derivacionais, onde um nome classificatório (Facundes 1994/2000/2009) frequentemente expande o vocabulário da língua. Em línguas como o português, temos construções sintáticas usadas de forma produtiva em que um elemento recorre em um sintagma ou composto nominal, como pé em pé de manga, pé de abacate, pé delimão etc. Em inglês há as formas em berry, como raspberry, blackberry, blueberry etc. Nessas duas línguas, tais construções não parecem apresentar propriedades particulares em relação aos seus sistemas linguísticos. Em contraste, em línguas como o tailandês (língua do sudeste asiático do grupo sino-tibetano), uma língua frequentemente citada na literatura sobre sistemas classicatórios, existe um subsistema de classificação nominal que consiste de um vasto número de raízes nominais usadas de forma relativamente produtiva na produção de compostos nominais. Apenas uma pequena parcela dessas raízes também se comporta como classificadores numerais, e delas ao menos parte dos classificadores numerais evoluíram (DeLancey 1986). Por exemplo, um classificador numeral típico nessa língua seria khon, usado para pessoas, como em krŭ: sŏng khon (professor dois CLF) 'dois/duas professore(a)s'. Já em formas como :ʻanacondaʼ e :-hàw ʻserpenteʼ, temos a forma : que ocorre sempre na formação do nomes de cobras. Da mesma forma, em ráan-rɔ táw ʻsapatariaʼ e rá:n-n s : ʻlivrariaʼ, rá:n é a forma nominal que entra na formação de nomes de lojas ou quaisquer outros prédios ou casas que vendam algum produto (Facundes 2009). Como essas, há pelo menos algumas centenas de outras formas na língua utilizando 100 ou mais raízes nominais com função derivacional e semântica classificatória. Desse fenômeno surgiu a expressão "termo de classe" (class term), usada para nomear o fenômeno associado a línguas do sudeste asiático. Uma das primeiras descrições detalhadas de um sistema de raízes classificatórias em uma língua amazônica que apresenta alguma similaridades com os termos de classe das línguas do sudeste asiático foi Facundes 1994 e 2000, que foram inspirados pelos trabalhos de Colette Craig/Grinevald. Em Apurinã (Aruák, Brasil), uma raiz como tãta ʻcascaʼ pode ser produtivamente usada para formar novos lexemas, como em ukytãta (olho-casca) ʻóculosʼ. Além disso, diferentemente das línguas sino-tibetanas, ao menos algumas dessas raízes nominais podem ser incorporadas ao verbo, como pe 'pó' em ysunãka-pe-taka (secar-pó-VBLZCAUS) 'fazer a polpa (da mandioca) secar', sendo que, quando incorporada, essa forma pode fazer alusão a propriedades de um elemento mencionado anteriormente no discurso - de forma análoga a uma anáfora; tal alusão pode ocorrer também quando a raiz nominal classificatória ocorre como parte de um composto nominal; e, finalmente, o processo de formação de compostos nominais fazendo uso dessas raízes classificatórias é bastante produtivo na língua, tanto na formação do léxico nativo quanto na formação de neologismos. Portanto, o termo "nome classificatório" vem sendo utilizado no contexto de algumas línguas aruák para nomear esse fenômeno. Seu uso tende a ser relativamente produtivo na formação de compostos nominais; em alguns casos, seja quando essas raízes são incorporadas ao verbo, seja quando elas ocorrem em compostos nominais produtivos, elas podem fazer alusão a propriedades de um referente anteriormente citado no discurso. O objetivo desse simpósio é examinar fenômenos similares, embora não necessariamente idênticos, aos termos de classe e nomes classificatórios, entender a relação entre eles e sistemas clássicos de classificadores (verbais, numerais, nominais etc.), assim como entre eles e classes nominais (i.e. gêneros). Ao final, espera-se chegar a uma compreensão adequada de termos de classe e nomes classificatórios no contexto das línguas amazônicas e da tipologia linguística geral. PALAVRAS-CHAVE: Termos de classe; Nomes classificatórios; Classificação nominal; Nomes compostos.