Entre 2003 e 2011, rendimento dos sem carteira cresceu muito mais Page 1 of 2 Imprimir () Entre 2003 e 2011, rendimento dos sem carteira cresceu muito mais Por Tainara Machado O mercado de trabalho brasileiro ficou mais formal nos últimos oito anos, mas os salários subiram mais para os informais. Entre 2003 e 2011, o rendimento médio real dos trabalhadores sem carteira assinada na iniciativa privada aumentou 39,2%, enquanto o salário dos trabalhadores com carteira avançou 10,9% na mesma comparação. Em 2011, o ganho médio dos trabalhadores informais foi 6,1% maior do que no ano anterior, quase quatro vezes mais do que o reajuste real dos empregados com carteira assinada, de 1,4%. Para os especialistas consultados pelo Valor, os mesmos componentes que criaram essa situação nos últimos anos - setor de serviços aquecido, aumento da escolaridade e valorização do salário mínimo estarão presentes em 2012 e contribuirão para dar continuidade a esse processo. Para Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, o aumento do nível educacional da população como um todo nos últimos anos teve forte efeito sobre os salários da parcela mais pobre. "Tradicionalmente, a categoria informal tem nível educacional mais baixo, mas de 15 anos para cá, a educação melhorou muito, principalmente para a população mais pobre." (/sites/default/files/gn/12/01/arte27esp-121-carteira-a12.jpg) Segundo dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 39,1% dos trabalhadores sem carteira assinada tinham 11 anos ou mais de estudo em 2003. Em 2011, essa proporção saltou para 50,8%. "Com a evolução do nível de escolaridade dos trabalhadores informais, os salários também tendem a ser mais altos", afirmou Menezes Filho. Além disso, a política de valorização do salário mínimo, com aumento real acima de 60% desde 2003, tem impacto relevante sobre os trabalhadores sem carteira assinada, que o usam como um "farol", segundo o professor. http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/2507210/impresso/emprego-e-renda/entre-20... 27/1/2012 Entre 2003 e 2011, rendimento dos sem carteira cresceu muito mais Page 2 of 2 Para José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista da Opus Investimentos, o aumento dos rendimentos dos empregados informais está atrelado mais ao aquecimento do mercado de trabalho e, principalmente, do setor de serviços, do que à recente evolução do salário mínimo. "Em geral, os salários no mercado informal tendem a ser mais flexíveis. Ou seja, é mais barato demitir e contratar quem não tem carteira assinada. Mas com taxa de desemprego muito baixa, os trabalhadores ganham poder de barganha e conseguem negociar aumentos maiores", diz Camargo. Os ganhos reais mais expressivos obtidos pelos trabalhadores informais vieram nos últimos três anos período em que a taxa média de desocupação teve queda importante, passando de 8,1% em 2009 para 6% no ano passado. Além disso, Camargo ressalta que, com a valorização recente do real ante o dólar, a indústria perdeu competitividade, enquanto o setor de serviços ganhou dinamismo. Com a demanda aquecida e um mercado de trabalho apertado, os preços dos serviços subiram, e os salários no setor - que tem parcela importante de trabalhadores informais - subiram mais, proporcionalmente, do que na indústria, setor tradicionalmente mais formalizado. "Os preços finais ao consumidor de serviços como cabeleireiro, manicure e pedreiro aumentaram muito nos últimos anos. Em contrapartida, os rendimentos daqueles que vendem esses serviços também avançou", afirmou Fernando Mattos, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, avalia que, de fato, a migração de trabalhadores informais para o setor de serviços contribuiu para a elevação dos salários dos trabalhadores sem carteira assinada. Azeredo destaca ainda que as estatísticas para o trabalho sem carteira assinada excluem os empregados domésticos, o que poderia, na avaliação dele, inflar ainda mais os números. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o item empregado doméstico teve elevação de 11,38% em 2011. Camargo e Menezes Filho acreditam que a conjunção desses fatores continuará nos próximos anos. Para Camargo, há um limite, que será dado pela pressão inflacionária derivada do mercado de trabalho aquecido. Em sua opinião, é preciso avançar em reformas microeconômicas que elevem a produtividade do trabalho para compensar o aumento de custos. Para Mattos, do Ipea, ao menos no curto prazo essa dinâmica deve continuar, potencializada pelo aumento real de 7,5% do salário mínimo em 2012. Assim, a distância entre os salários dos trabalhadores formais e dos informais tende a diminuir mais. Em dezembro de 2003, um trabalhador que não tinha carteira assinada recebeu, em média, 60% do salário pago ao formal, percentual que subiu para 72% em dezembro de 2011. Para Azeredo, o salto de 12 pontos percentuais em oito anos é reflexo da evolução da conjuntura econômica e indica avanços na redução da desigualdade. "O estreitamento dessa relação significa que está havendo melhora da qualidade dos empregos criados, com menos subempregos na economia." http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/2507210/impresso/emprego-e-renda/entre-20... 27/1/2012