CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DAIANA TEREZA DA SILVA REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA São José 2009 DAIANA TEREZA DA SILVA REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA Relatório apresentado como requisito à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia pelo Centro Universitário Municipal de São José. Professora Orientadora: MSc. Izabel Cristina Feijó de Andrade. São José 2009 DAIANA TEREZA DA SILVA REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA Trabalho de Conclusão de Curso elaborado com requisito final para a aprovação no Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ. Avaliado no dia 11 do mês de dezembro do ano de 2009 por: Prof. MSc. Izabel Cristina Feijó de Andrade Orientadora Prof. Dra. Jaqueline Aparecida Martins Zarbato Schmitt Membro Examinador Prof. MSc. Marli Lúcia Lisboa Membro Examinador Como é por dentro outra pessoa Quem é que o saberá sonhar? A alma de outrem é outro universo Com que não há comunicação possível, Com que não há verdadeiro entendimento. Nada sabemos da alma Senão da nossa; As dos outros são olhares, São gestos, são palavras, Com a suposição de qualquer semelhança No fundo. Fernando Pessoa RESUMO O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H) pode ser considerado, nos dias atuais, a dificuldade mais frequente apresentada na infância. Este transtorno é caracterizado pela falta de atenção, a hiperatividade e a impulsividade, e pode afetar a aprendizagem escolar da criança e as relações sociais vivenciadas na escola e na família. O objetivo geral deste estudo é conhecer o impacto que a hiperatividade exerce sobre as famílias e em especial nas mães, buscando relacionar também a integração família-escola frente a esta questão. A metodologia de pesquisa buscou investigar o estresse em doze mães de crianças com TDA/H e as estratégias utilizadas por elas para lidar com os problemas dos filhos, que frequentam uma escola da rede particular de ensino de São José – SC e possuem entre seis a doze anos de idade. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram o “Inventário de Coping Parental” e o “Questionário de Estresse para Pais”. A partir das informações obtidas, foi possível perceber que o comportamento hiperativo pode afetar no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança. Observou-se também, que as mães podem apresentar um desgaste físico e psicológico, pelo fato de que na maioria das vezes, são elas que passam mais tempo com a criança, além de enfrentarem problemas na relação conjugal, de autoestima e um nível significativo de estresse. Desta forma, fica evidente a importância da integração entre os membros da família e da relação família-escola para o desenvolvimento da criança hiperativa em todos os aspectos e a diminuição dos problemas enfrentados por todos que com ela convive. Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Criança. Família. Mães. Escola. SUMÁRIO I INTRODUÇÃO ..........................................................................................................1 II METODOLOGIA ......................................................................................................6 REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA .................8 1 – Conhecendo a hiperatividade.........................................................................8 2 – A criança hiperativa e a família ....................................................................15 3 – A criança hiperativa e a relação família-escola...........................................23 IV DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS..............................................................28 4.1 Inventário de Coping Parental ......................................................................29 4.2 Questionário de estresse para pais .............................................................37 V CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................41 VI REFERÊNCIAS ....................................................................................................43 VII ANEXOS..............................................................................................................47 1 I INTRODUÇÃO O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H) é um dos problemas mais atuais, que vem afetando muitas crianças. “Estima-se que a hiperatividade na idade pré-escolar esteja na faixa dos 10%, na idade escolar em 45% das crianças, e em 10% no grupo dos adolescentes” (TOPCZEWSKI, 1999, p. 23). Com base nesses dados, é “provável a existência de 1 a 3 crianças “hiperativas” em uma classe regular” (ORJALES, 2007, p. 295). A hiperatividade pode trazer para a vida cotidiana da criança dificuldades em casa e na escola, tais como: problemas de concentração, desatenção e impulsividade. Essas características costumam repercutir de maneira adversa no desempenho escolar, na capacidade cognitiva e nas interações sociais. (HALPERN E RODHE, 2004). As dificuldades encontradas pelas crianças hiperativas, muitas vezes, podem ser confundidas e encaradas como indisciplina, em que a criança é considerada sem limites e desrespeitosa perante as regras. Porém, os comportamentos que apresentam, não são propositais. Elas enfrentam dificuldades verdadeiras em se adequar socialmente da forma considerada correta, por isso precisam de ajuda e apoio, pois acima de tudo, são sujeitos de direitos. A criança hiperativa pode ser considerada um desafio para todas as pessoas que convivem com ela, como os professores, os amigos, e principalmente para a família, e dentro deste ambiente familiar, as mães ainda detém o maior cuidado. Desta forma, elas podem acabar sendo afetadas pelo transtorno. A família é a primeira instituição na qual a criança está inserida desde o nascimento, por isso, é possível perceber a importância, assim como, a influência dos familiares no desenvolvimento e crescimento de qualquer criança, seja qual for a idade. A Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, a qual estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Artigo 2º diz que: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 2 Considera-se que “as relações entre a escola e a família, além de supostos ideais comuns, baseiam-se na divisão do trabalho de educação de crianças e jovens, e envolvem expectativas recíprocas” (CARVALHO, 2004, p. 01). Desta forma, a interação entre a comunidade familiar e a comunidade escolar se torna indiscutível para qualquer criança, e não deixará de ser no caso de crianças hiperativas. Assim como a família, a escola também tem papel fundamental no processo de desenvolvimento da criança, por isso é necessário que seja realizado um trabalho em conjunto entre a escola e a família, principalmente quando se trata de crianças TDA/H. A parceria entre essas instituições pode promover uma melhor interação com a criança e o conhecimento de suas dificuldades e possibilidades, podendo beneficiar a criança, e consequentemente todo o meio em que ela vive. A escola e os profissionais que nela trabalham, precisam estar preparados para lidarem com este transtorno. É preciso ter conhecimento sobre suas características e manifestações, além da busca permanente por alternativas que otimizem o relacionamento entre o meio em que a criança está inserida e também a aquisição e a apropriação do saber, pois “o acesso ao conhecimento a às diferentes fontes de sua produção deve ser garantido a todos os alunos, fazendo-se as adaptações necessárias, de acordo com as características de cada um” (REIS, 2006, p. 86). Voltando o olhar para as famílias, percebe-se que estas acabam sendo afetadas, especialmente as mães (TAYLOR apud BELLÉ, 2007), pois tendem a ser “acusadas” pela falta de controle sobre o comportamento disruptivo dos filhos (BARKLEY, 2002). Desta forma, pode-se dizer que na relação mãe-filho hiperativo, existe indícios de que é um momento estressor para as mães. (BARKLEY, 2002; TAYLOR, apud BELLÉ, 2007). A família deve ser a primeira a ajudar a criança hiperativa, deve conhecer os obstáculos que ela se depara, aprendendo a melhor maneira de lidar com ela. A busca por orientação, estratégias para melhorar o convívio em casa, na instituição escolar e na comunidade, devem ser primordiais dentro do grupo familiar. Embora possam ser encontradas pesquisas que investiguem aspectos etiológicos e abordagens terapêuticas para a hiperatividade, há poucos estudos que se dedicam a investigar o impacto deste transtorno sobre as mães em relação ao estresse e a adaptação psicossocial (JONES & PASSEY; RASHAP apud BELLÉ, 3 2007), bem como, poucos são os estudos que dissertam acerca das crianças hiperativas e as escolas, como também a importância do trabalho compartilhado entre escola e família da criança hiperativa. Através de uma busca de referenciais no formato on-line, foi possível encontrar alguns estudos que contribuíram para as reflexões deste trabalho. No site Scientific Electronic Library Online, mais conhecido como SCIELO, utilizando-se para a busca, as palavras-chaves: “hiperatividade”, “hiperatividade e escola” e “hiperatividade e família”, teve-se acesso a artigos que tratavam sobre a hiperatividade e o desempenho escolar, conflitos conjugais entre pais de hiperativos, as relações familiares de crianças hiperativas, relação entre a família da criança com o transtorno e a escola. Desta forma, foi possível encontrar cinco artigos relacionados com o tema em questão: (ARAÚJO, MATTOS E PASTURA, 2005) (BORGES, COUTINHO, FORTES, MATTOS E SCHMITZ, 2009), (CALIMAM, 2008), (GUILHERME, MATTOS, REGALLA E SERRA-PINHEIRO, 2007) e (HALPERN E ROHDE, 2004). Foram encontrados também, outros artigos que tratavam de questões clínicas e terapêuticas e aspectos relacionados à comorbidades. Em outro site, chamado Domínio Público, ao fazer a busca através das palavras-chave: “hiperatividade” e “transtorno de déficit de atenção”, obteve-se acesso a outros trabalhos que dissertavam sobre a hiperatividade em adultos, a associação de genes e ao tratamento medicamentoso. Sobre o tema pesquisado, foram encontrados seis trabalhos: (ANDRADE, 2006), (BELLÉ, 2007), (KUNRATH, 2006), (REIS, 2006), (RIBEIRO, 2008) e (TUCHTENHAGEN, 2007). Em relação a materiais bibliográficos, mais especificamente, a livros, foram encontradas muitas referências que falavam sobre a Hiperatividade, as quais incluíam abordagens escolares e familiares, além de apresentarem as características e implicações do transtorno. Dentre os autores, podem ser citados: (BARKLEY, 2002), (CYPEL, 2000), (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003), (JONES, 2004), (ORJALES, 2007), (SILVA, 2003), (TOPCZEWSKI, 1999). Sendo assim, serão utilizados no decorrer deste estudo, os referenciais acima citados, para que se possa refletir um pouco mais a respeito da temática do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e seu impacto na família, e principalmente nas mães das crianças com este diagnóstico. Entre as razões que justificam a realização deste estudo, pode-se destacar: 4 1. As mães ainda assumem mais responsabilidade nos cuidados dos filhos, podendo haver sobrecarga (WAGNER, PREDEBOM, MOSMANN & VERZA, 2005), 2. Os prejuízos à saúde mental das mães, decorrentes desta sobrecarga, podem comprometer o seu envolvimento positivo com o filho (KASHDAN E COLS apud BELLÉ, 2007). 3. “As crianças hiperativas vêm vivenciando crescentes problemas na escola nos últimos 20 anos” (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 110), estes podem refletir-se também nas famílias. O estudo deste tema pretende trazer uma contribuição para a Academia, despertando em outros acadêmicos o interesse em realizar novas pesquisas em busca de outras indagações e possibilidades sobre o assunto. Além de ser uma forma de legitimar o conhecimento, os resultados desse estudo podem, também, se estender à sociedade, de forma a colaborar com o esclarecimento de suas dúvidas e dificuldades em relação à hiperatividade, contribuindo assim, para uma melhor compreensão dos problemas que as crianças hiperativas enfrentam diariamente, sejam na família ou na escola. As crianças hiperativas necessitam de apoio e consideração por parte de todas as pessoas que convivem com ela. São crianças geralmente bastante inteligentes e curiosas, mas que não conseguem se concentrar e controlar seu comportamento impulsivo. A família, assim como os membros da escola, precisam ter paciência, tranquilidade e compreensão dos desafios que essas crianças enfrentam, para que possam oferecer o apoio e o auxílio que elas tanto necessitam. Percebe-se que nos dias de hoje, a figura feminina representada pela mãe, ainda detém a maior parte das responsabilidades e cuidados com os filhos. De maneira geral, é a mãe que leva para a escola, que vai às reuniões, que ajuda nas lições de casa, que leva para passear, enfim, que passa mais tempo com a criança. Desta forma, em se tratando de crianças hiperativas, que já exigem de mais dedicação e paciência, pode existir uma tendência em a família, principalmente as mães, também serem afetadas. 5 O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade envolve diversos problemas não somente para aqueles que apresentam esta psicopatologia, mas também para os que convivem com eles. As famílias de crianças com TDAH, pela intensa convivência com as mesmas, são diretamente afetadas pelos problemas comuns a este transtorno. Por tal razão, o TDAH vem sendo considerado pela literatura um evento estressor para as famílias, especialmente para as mães, impondo uma necessidade de adaptação psicossocial familiar. (BELLÉ, 2007, p.26). Diante disso, surge a seguinte questão: qual o impacto que o Transtorno de Déficit de Atenção – TDA/H, exerce nas famílias e em especial nas mães? O objetivo central deste estudo está pautado em conhecer o impacto que o Transtorno de Déficit de Atenção – TDA/H exerce sobre as famílias e em especial nas mães. Também será apresentado um breve histórico do transtorno e definições sobre hiperatividade, além de classificar as categorias nas quais as crianças podem apresentar problemas no seu desenvolvimento social (familiar ou escolar), apontar a importância da família e da relação família-escola, e identificar o nível de estresse das mães, suas conquistas e anseios. Ou seja, o estudo tem seu foco sobre as mães e as dificuldades e níveis de estresse enfrentados com relação à hiperatividade de seu filho, porém, sem desconsiderar o papel da escola frente a esta questão. Segundo Ribeiro (2008, p. 26) Conhecer melhor a experiência da vivência do TDHA sob o ponto de vista dos pais nos possibilita uma reflexão em maior profundidade sobre as formas de interação das famílias. Conhecer suas dificuldades no cotidiano, suas crenças, seus valores, suas atitudes e tendências, suas percepções e as atribuições de significados no relacionamento intrafamiliar pode nos ajudar a compreender melhor o fenômeno crescente do TDAH em nossa sociedade. Para a realização deste trabalho, foram coletadas as informações no ano de 2009, com doze mães de crianças hiperativas, sendo elas de família de classe média. Essas crianças são estudantes de uma escola da rede particular de ensino do Município de São José – SC, sendo oito meninos e quatro meninas que possuem entre seis a doze anos de idade. E vale a pena ressaltar que todas essas crianças têm diagnóstico médico comprovando o transtorno. 6 II METODOLOGIA Para realização desse estudo, optou-se pela pesquisa qualitativa e quantitativa de cunho bibliográfico e documental. Bibliográfico, pois a revisão da literatura oferece suporte para o embasamento dos conhecimentos teóricos à luz da teoria do conhecimento. Documental, para certificação e veracidade dos dados previamente constituídos. A abordagem quantitativa de pesquisa refere-se à mensuração de dados, através do uso de instrumentos objetivos. “Significa quantificar opiniões, dados, nas formas de coletas de informações, assim como também o emprego de recursos e técnicas estatísticas” (UNIVALI, 2003, p. 33). A pesquisa qualitativa analisa e problematiza os problemas ou apontamentos surgidos no estudo. Este tipo de pesquisa “tem se preocupado com os significados dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores, representações sociais, que permeiam a rede de relações sociais” (UNIVALI, 2003, p. 34). Desta forma, a partir dos dados coletados através da pesquisa quantitativa, pode-se refletir, analisar e descrever hipóteses para a questão pesquisada, o que se dá através da pesquisa qualitativa, permitindo assim interpretações e a construção de conceitos. De acordo com Minayo (1993) as pesquisas qualitativas e quantitativas são diferentes, mas se completam para a compreensão da realidade social. Assim sendo, este estudo buscou investigar o estresse em mães de crianças com TDA/H e as estratégias que elas utilizam para lidar com os problemas dos filhos. Os instrumentos utilizados na avaliação das mães foram os seguintes: 1. Inventário de Coping Parental (MCCUBBIN 1987 apud BELLÉ 2007); 2. Questionário de estresse para pais (FRIEDRICH, GREENBERG & CRNIC 1993 apud BELLÉ 2007). De acordo com Bellé “Coping pode ser definido como um conjunto de esforços de controle, emitidos como uma resposta comportamental ou cognitiva ao estresse, visando reduzir seu efeito aversivo” (2007, p.16). Segundo Antoniazzi, 7 Dell’aglio e Bandeira (1998, p.01) “O conceito de coping tem sido descrito como o conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressantes”. Nesta concepção, Coping pode ser entendido como as estratégias ou atitudes que as pessoas adotam para lidar com certos acontecimentos e situações. No caso deste estudo, Coping pode ser encarado como as estratégias que as mães pesquisadas utilizam diariamente para conviver, da melhor maneira possível, na medida de suas possibilidades, com a criança hiperativa. Segundo Barbosa e Oliveira (2008, p. 38) [...] para dominar situações estressoras ou se adaptar a elas, o indivíduo desenvolve habilidades denominadas coping ou enfrentamento. Ela define coping como uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção de controle pessoal. O coping envolve a interação entre o organismo e o ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover a adaptação às circunstâncias estressantes. O Inventário de Coping Parental conta com quarenta e cinco estratégias relacionadas ao convívio familiar e conjugal, a auto-estima e diversão dos pais, ao tratamento medicamentoso e diálogo com outros pais e profissionais. Para as respostas, os entrevistados devem escolher as estratégias que considerem mais positivas, na tentativa de melhorar o relacionamento familiar, de acordo com a utilidade de cada uma. Para cada uma das estratégias, podem ser utilizadas quatro opções, sendo elas: (3) extremamente útil; (2) moderadamente útil; (1) minimamente útil e (0) não útil. O Questionário de estresse para pais possui trinta e duas questões, cujas respostas são avaliadas nas opções de verdadeiro ou falso. Dentre os fatores inclusos neste questionário estão: as limitações da criança, a preocupação dos pais e o relacionamento familiar. “Este instrumento avalia o estresse e os recursos dos pais de crianças com transtornos do desenvolvimento, e foi adaptado para o Brasil por Freitas e cols. (2005)” (BELLÉ, 2007, p. 38). Os dados obtidos através destes instrumentos serão analisados e confrontados no decorrer deste trabalho, utilizando-se de embasamentos teóricos e buscando-se reflexão acerca do tema, procurando contribuir no processo de mudança. 8 REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA 1 – Conhecendo a hiperatividade A hiperatividade é um dos problemas que aparece com elevada incidência nos dias atuais e pode ser considerada a dificuldade mais frequente apresentada na infância, perdurando até a fase adulta, já que se trata de um transtorno incurável. As crianças hiperativas apresentam muitos problemas e comportamentos, que podem até ser considerados comuns e característicos do período da infância, porém, eles aparecem de forma mais exagerada, o que as leva a ter que administrar esses problemas na sua vida diária, durante toda a sua infância, adolescência e adultez. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003). A hiperatividade recebeu outras denominações no decorrer de seus estudos e pesquisas pelas características que os hiperativos podem apresentar. Em diferentes momentos do século XX, vários termos foram utilizados para se referir a esse transtorno. No ano de 1902, em suas palestras, o pediatra George Frederick Still falou sobre crianças agressivas, desatentas, com dificuldade de seguir regras, comportamentos que poderiam ter causa orgânica com maior relevância sobre o resultado de uma má educação. (HALPERN E ROHDE, 2004; SILVA, 2003). Dessa forma, a hiperatividade ficou conhecida como Doença de “Still”. (KUNRATH, 2006). Outros termos como, “Distúrbio de Comportamento Pós-Encefalite”, “Lesão Cerebral Mínima”, “Disfunção Cerebral Mínima”, “Reação Hipercinética da Infância”, também foram utilizados para designar esse problema. (KUNRATH, 2006; HALPERN E ROHDE, 2004; SILVA, 2003). A nomenclatura “hiperatividade infantil” foi utilizada entre os anos de 1957 e 1960 por Laufer e Stella Chess, ficando conhecida como “Síndrome da Criança Hiperativa”. (SILVA, 2003). Na década de 80, Gabriel Weiss, através de pesquisas de longo prazo, apontou a persistência da hiperatividade e problemas de atenção até a vida adulta, contribuindo, dessa forma, para que fosse reconhecido que o problema não era exclusivo da infância. (SILVA, 2003). Weiss teve sua teoria afirmada com a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM-III), que culminou em significativas mudanças em variados aspectos e trouxe uma nova 9 denominação para a hiperatividade: Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). (SILVA, 2003). Na quarta edição do DSM-IV, publicado pela Associação de Psiquiatria Americana (APA) em 1994, utilizou-se o termo “Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade” (TDA/H) para se referir a esse problema, subdividindo-o em três categorias, sendo elas: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tipo predominantemente desatento, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tipo predominantemente hiperativo-impulsivo e Transtorno de Déficit de Atenção /Hiperatividade tipo combinado. (ORJALES, 2007; TUCHTENHAGEN, 2007; REIS, 2006; HALPERN E ROHDE, 2004). Dessa forma, este estudo utilizará o termo Hiperatividade ou Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDA/H quando for se tratar deste problema, visto que essa denominação pode ser considerada a mais atual. É importante destacar ainda que, ser hiperativo não depende de classe social, raça ou religião, “mesmo no lar mais estruturado e seguro uma criança DDA irá comportar-se como tal”. (SILVA, 2003, p. 57). No ano de 2004 os Estados Unidos reconheceu o TDA/H através da Resolução 370 como um problema que precisa ser tratado, pois abala a saúde pública. Por causa desta Resolução, esse transtorno ganhou espaço nas datas oficiais do país, que proclamou o “Dia da Consciência Nacional sobre o TDAH”, comemorado em 7 de setembro. (CALIMAN, 2008). Da mesma maneira que são encontradas diversas nomenclaturas para a hiperatividade, encontram-se também, variadas definições. Todos os apontamentos a respeito do TDA/H trazem muitas contribuições. Eles são de grande valia para que se entenda e esclareça um pouco mais sobre esse transtorno. De acordo com Orjales (2007, p. 295) quando se aborda a questão da hiperatividade, está se referindo: [...] a um quadro sintomatológico de base neurológica que pode degenerar em problemas importantes e que pouco tem a ver com a criança travessa ou malcriada ou com a criança agitada e indisciplinada. [...] Na verdade, quando se utiliza esse termo no contexto da psicopatologia infantil, faz-se referência [...] a um transtorno cuja base sintomatológica é o déficit de atenção, a hiperatividade motora e a impulsividade. 10 Segundo a autora Ana Beatriz Barbosa Silva, médica, com pós-graduação em Psiquiatria e especialização em Medicina do Comportamento pela Universidade de Chicago, conhecida por seus estudos sobre personalidades e comportamentos, a hiperatividade: [...] deriva de um funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral, isto significa que substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas neurotransmissores, apresentam-se alteradas quantitativa e/ou qualitativamente no interior dos sistemas cerebrais que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade e atividade física e mental no comportamento humano. (SILVA, 2003, p. 176). Para Abram Topczewski, Mestre de Neurologia, Doutor em Neurociências e Neuropediatria, formado pela Escola Médica do RJ, entre outras formações, “a hiperatividade é um sintoma que não tem definição precisa aceita unanimemente, mas todos concordam que compromete de modo marcante o comportamento do indivíduo, pois interfere nas suas relações sociais, familiares e no seu trabalho”. (TOPCZEWSKI, 1999, p.23). Diversos autores, em seus estudos sugerem que a incidência da hiperatividade não é igual em ambos os gêneros (masculino e feminino). É possível encontrar uma predominância no sexo masculino, com proporções de 10/1 em relação ao sexo feminino (BIRD et al. apud ORJALES, 2007), ou ainda em razões menores de 3/1 (1999) e 2/1 (HALPERN E ROHDE, 2004; SILVA, 2003). Porém, esses mesmos autores concordam que, entre as meninas prevalece o tipo sem hiperatividade e nos meninos o comportamento impulsivo e hiperativo fica em maior evidência. No sexo feminino, então, o tipo hiperativo é menos frequente, o que predomina mais são os problemas de atenção. No entanto, ainda existem dúvidas por parte de alguns autores sobre a questão da supremacia masculina no diagnóstico da hiperatividade, ou se ocorre uma subdiagnostificação no sexo feminino. Alguns estudiosos tentam argumentar o motivo desta maioridade, conforme aponta Silva (2003, p. 39) 11 Diferentemente dos homens, mulheres com DDA podem muitas vezes passar incógnitas aos olhos mais atentos. Entre elas, predomina o tipo sem hiperatividade, ao contrário de seus pares masculinos. Tal diferença, determinada por particularidades biológicas dos sexos, além do auxílio do componente cultural, pode contribuir para a aparente superioridade numérica da população masculina entre os que têm o diagnóstico de DDA. As causas precisas e verdadeiras da hiperatividade ainda são muito discutidas e pesquisadas, apesar de vários estudos já tentarem apontá-las. Na literatura é possível encontrar autores que acreditam que o transtorno esteja relacionado a fatores genéticos e ambientais. (HALPERN E ROHDE, 2004). Entre os fatores ambientais que podem ser encontrados estão: problemas emocionais, desentendimentos familiares, comportamentos agressivos, baixa renda familiar, problemas durante a gestação, uso de álcool e drogas, encefalites, traumatismo craniano, intoxicações por chumbo, entre outros. (REIS, 2006; HALPERN E ROHDE, 2004; TOPCZEWSKI, 1999). Segundo o renomado Dr. Russel Barkley, uma das maiores autoridades em TDA/H (KUNRATH, 2006), as pesquisas sobre a genética molecular levam a acreditar que esse problema seja um “transtorno predominantemente originário de uma base genética/ hereditária” (BARKLEY apud REIS, 2002). Outros autores (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003; SILVA, 2003; TOPCZEWSKI, 1999) também acreditam que entre todas as possíveis causas da hiperatividade, a hereditariedade seja a mais frequente. De acordo com Silva (2003) o comportamento hiperativo nasce de um trio de sintomas: dificuldades de atenção, impulsividade e hiperatividade, o qual chama de “trio de base alterada”. Esses sintomas só são característicos do TDA/H quando ocorrem de forma mais exagerada do que o comum. Os problemas de atenção são considerados indispensáveis para se diagnosticar um hiperativo. Algumas manifestações de desvio de atenção são facilmente observadas, como: não conseguir se concentrar nas atividades, dificuldades para seguir instruções até o fim, esquecer com frequência e dificuldades para se organizar. Esses manifestos acabam representando em dificuldades de aprendizagem desde o início de vida escolar e também podem desencadear em um isolamento social. (ORJALES, 2007; REIS, 2002; TOPCZEWSKI, 1999). 12 Os sinais de impulsividade estão ligados à falta de controle motor e emocional, a criança, então, age sem pensar nas consequências, apresentam impulsividade verbal, ou seja, dizem o que vem à cabeça, têm dificuldades de aguardar a sua vez, costumam interferir nas atividades das outras pessoas, entre outros. (ORJALES, 2007; SILVA, 2003). As manifestações da conduta hiperativa, física ou até mesmo mental são muito fáceis de identificar. Alguns sintomas podem ser destacados, como: estar sempre em movimento, seja correndo ou movimentando pés e mãos, falar demasiadamente, apresentar dificuldades para permanecerem sentadas, seja para comer, assistir televisão e até mesmo em sala de aula, apresentam dificuldades em participar de brincadeiras tranquilas, entre outros. (ORJALES, 2007; TOPCZEWSKI, 1999). Além dessas manifestações, a criança hiperativa ainda pode apresentar baixa auto-estima, pouca tolerância a frustrações, problemas emocionais, como depressão, problemas de relacionamento social, agressividade, ansiedade e transtorno no sono. (ORJALES, 2007; SILVA, 2003). Segundo Andrade apud Reis (2002, p.70), “a todos os sinais do TDAH, o rendimento escolar abaixo do esperado, poderá ser acrescido, o que geralmente desencadeia problemas nas esferas afetiva e emocional”. Pode ser encontrada comumente, uma visão errônea sobre os comportamentos e atitudes da criança TDA/H. É de conhecimento de todas as pessoas que as crianças costumam ser alegres e agitadas, gostam de correr e não demonstram cansaço, no caso da criança hiperativa, esses comportamentos são mais acentuados e persistentes. O verdadeiro comportamento hiperativo faz com que a criança apresente dificuldades em se concentrar, em ficar relaxada, em respeitar e entender as regras, não por teimosia, mas por não percebê-las. É possível verificar que em muitos momentos, as crianças podem apresentar um comportamento agitado, ansioso e desobediente, porém essa condição não garante, muito menos confirma um caso de TDA/H. Essas crianças podem aparentar serem hiperativas, ou apresentarem características da hiperatividade, mas podem simplesmente, estarem passando por um momento difícil, conturbado, porém, passageiro e temporário, o que não caracteriza hiperatividade. No entanto, em ambas as situações, é necessário que se faça um acompanhamento e investigação, para saber da persistência e possíveis soluções. 13 Em alguns casos, a criança hiperativa pode ser vista com pouca inteligência, e até mesmo ser considerada com idade mental inferior. Essa visão pode ser um equívoco, pois a criança hiperativa é geralmente muito inteligente, sua mente inquieta é rica em informações, apenas não consegue se organizar mentalmente, a ponto de colocar seu potencial em prática para concluir uma tarefa, por exemplo. Segundo Silva (2003, p. 92), “a mente DDA, em meio à confusão resultante do intenso bombardeio de idéias, é capaz de entender o mundo sob ângulos habitualmente não explorados.” Muitas vezes, a própria criança não entende porque é diferente das outras crianças, e com isso, se sente incapaz e sua auto-estima fica cada vez mais diminuída. Embora que a criança hiperativa apresente um comportamento desatento, inquieto, tenha dificuldades em terminar as tarefas, em permanecer sentada ou interrompa a fala do outro, ela é muito inteligente e criativa. Segundo Silva, “o funcionamento cerebral DDA favorece o exercício da atividade humana mais transcendente que existe: a criatividade” (2003, p. 92). É possível afirmar ainda que, “a maioria dos pacientes hiperativos apresenta o nível de inteligência normal, sendo que alguns podem até apresentar o nível de inteligência acima do normal” (TOPCZEWSKI, 1999, p. 47). Para embasar esta inteligência e criatividade que as crianças hiperativas podem apresentar, a já mencionada autora Ana Beatriz Barbosa Silva, em seu livro “Mentes Inquietas” (2003), citou alguns nomes de personalidades, consideradas pela sociedade seres geniais, que possivelmente apresentaram indícios de comportamentos tipicamente hiperativos. Dentre eles: Albert Einstein – demonstrou o sintoma da hiperconcentração, “impaciente e inquieto, desprezava aqueles que tinham medo de quebrar protocolos e conceitos tradicionais” (p. 115); Fernando Pessoa – demonstrou inquietude e desorganização. “Ia da tristeza à alegria em curtos espaços de tempo, indicando ser uma personalidade inquieta e de humor instável” (p. 116); Henry Ford – demonstrou inquietude. “Um provável DDA desbravador que deu uma carona para o desenvolvimento da humanidade” (p. 117); James Dean – ator que demonstrou ter hiperfoco, “pessoa inquieta, rebelde, avessa às normas e convenções, e extremamente impulsiva” (p. 118); 14 Leonardo da Vinci – demonstrou habilidades como inventor e músico, além da pintura. “Uma mente movida por uma inquietação inacreditavelmente desbravadora” (p. 118); Ludwig van Beethoven – demonstrou inquietação, “era acometido de devaneios e distrações” (p. 119); Marlon Brando – ator que demonstrou baixa auto-estima, “intuição, ousadia e capacidade criativa” (p. 120); Vincent van Gogh – demonstrou sentimento de rejeição, “inquieto, polêmico, com instabilidade de humor” (p. 121), Wolfgang Amadeus Mozart – demonstrava impulsividade, “mostrava-se resistente às normas estabelecidas” (p.122). É importante salientar ainda que, os problemas causados pelo TDA/H podem variar em gravidade de acordo com a criança, e a maneira que as pessoas a sua volta lidam com ela e toleram as suas atitudes. Muitas vezes em que a criança aparenta ser hiperativa, pode estar relacionada com o grau de tolerância das pessoas que convivem com ela. Em ambientes no qual não são priorizados e valorizados comportamentos disciplinados, a criança é vista sem o transtorno. Ao contrário, a criança é vista hiperativa, pois a capacidade de tolerância dos adultos a sua volta para com suas atitudes é menor. Por isso, é importante frisar que para ser considerado TDA/H, é preciso que o comportamento acelerado, agitado, distraído, impulsivo, seja algo persistente e exacerbado. Então, é preciso que se tenha um diagnóstico correto, avaliado cuidadosamente por uma equipe multidisciplinar, para que a criança realmente hiperativa seja tratada e estimulada corretamente, e para que seja evitado um tratamento inadequado para uma criança que é normalmente ativa. A psicóloga Vânia Lúcia de Moraes Ribeiro, em sua dissertação de Mestrado para a Faculdade de Medicina do Estado de Minas Gerais, levantou algumas hipóteses que, podem servir de embasamento para explicar o aumento do interesse, nos dias atuais, em relação à hiperatividade. Um exemplo foi, o avanço científico na área da saúde e a mudança na forma do olhar para a criança. A autora destacou ainda que, 15 Este conjunto de manifestações apresentadas pelos portadores de TDHA não constitui em si mesmo um problema, mas torna-se problema diante das novas organizações sociais, que implicam exigências que ultrapassam as possibilidades de adequação do sujeito. (RIBEIRO, 2008, p. 19). Esse apontamento exposto pela autora pode ser considerado muito relevante para se pensar no modo grosseiro como muitas das crianças hiperativas são vistas e tratadas. Será que todas as crianças precisam se comportar de uma mesma maneira? Até que ponto é preciso ter atenção àquilo que não lhe interessa? Existem, com certeza, muitas questões que ainda não foram respondidas e muitas reflexões a serem feitas em relação ao TDA/H. Porém, “é fato que os sinais e sintomas do TDAH trazem hoje um sofrimento ao qual a sociedade não dá resposta” (RIBEIRO, 2008, p.21), por isso, é tão importante que a família, a escola e a própria criança, tenham conhecimentos suficientes para administrar os problemas e superar os desafios encontrados diariamente. 2 – A criança hiperativa e a família Qualquer que seja a forma da sua estrutura, a família mantém-se como o meio inicial básico para as relações da criança com o mundo, podendo ser um dos melhores contextos para compartilhar e ajudar seus membros nas dificuldades vivenciadas. Conforme Ribeiro (2008, p. 41) O convívio familiar e o tipo de relações sociais que aí se estabelece são muito importantes na construção da identidade. A criança vai estruturar seu mundo a partir dos diálogos estabelecidos na família, na escola e na comunidade. As crianças hiperativas enfrentam diariamente muitos problemas, talvez até mais do que crianças sem o transtorno. Desta forma, é imprescindível o apoio da família, tratada aqui não como somente pai e mãe, mas sim, como todos que convivem com a criança em casa, seja ela órfã, com pais homossexuais, criada pelos avós, tios ou adotiva. O ambiente familiar é um dos primeiros contextos que a criança tem contato. É a partir desse contato com a família que surgirão as primeiras relações sociais e 16 afetivas da criança. De acordo com a Teoria Ecológica Sistêmica do Desenvolvimento Humano, proposta por Brofrenbrenner (1979/1996) a família é um dos microsistemas que mais influencia no desenvolvimento do indivíduo. (KUNRATH, 2006). A Lei nº. 8.069 de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 4° coloca que: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SC). O ambiente familiar é a base inicial para que a criança desenvolva sua afetividade e sociabilidade. Nesse contexto de interação com o outro, agindo como seres sociais, ela forma as primeiras regras, conhecimentos, valores, que são tão necessários para se viver em família e em sociedade. Segundo Vygotsky (1991), o social é de extrema importância na construção do sujeito, e o desenvolvimento não depende apenas de uma dimensão biológica, mas também e principalmente, depende da aprendizagem, do cultural, que acontece através de interações sociais. Considera-se então, que a questão do aspecto social é importantíssima para o processo de constituição do sujeito. Dessa forma, a mediação é indispensável para essa mesma constituição de indivíduo. No que se refere à aprendizagem, a mediação do professor (a) é essencial. No caso da família, os responsáveis pela criança precisam fazer essa mediação entre ela e a socialização das situações que a cerca. Mediando a relação da criança com o mundo, a família colabora para a sua formação. Por isso, O papel dos pais é imprescindível para a recuperação da criança hiperativa. Os pais representam a fonte de segurança, os modelos a seguir, o reflexo daquilo que os filhos sentem que são, a base fundamental sobre a qual constroem sua própria escala de valores, o abono afetivo que permite a eles crescer e o conceito de disciplina e autoridade que faz com que se organizem. (ORJALES, 2007, p. 306). 17 A criança TDA/H está mais propensa a enfrentar dificuldades em seu cotidiano do que uma criança sem o transtorno, logo sua família também poderá ser afetada, principalmente as mães, já que elas costumam passar mais tempo com os filhos. Conforme Bellé “estudos sobre a interação entre mães e crianças com TDAH demonstram que crianças com o transtorno iniciam mais interação com a mãe e solicitam mais a ajuda delas do que crianças sem o transtorno” (2007, p. 14). Pode-se considerar que, o fato dos maiores cuidados e responsabilidades na educação dos filhos estarem relacionados com a figura feminina, é uma condição cultural, que ainda se encontra presente nos dias de hoje. Em muitas famílias, o pai é o profissional que trabalha fora e a mãe é a profissional do lar, a responsável pelos cuidados domésticos e familiares. Em relação à criança hiperativa, Muitas vezes deixa-se que a mãe aguente a pressão da interação do diaa-dia com o filho hiperativo. Ela precisa preparar o filho para a escola de manhã, recebê-lo após a escola, dar contas das tarefas do lar e, ao mesmo tempo, cuidar da criança e lidar com o dever de casa, os amigos e a rotina na hora de dormir. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 123). Pelo fato das mães ainda assumirem os maiores cuidados com os filhos, elas acabam por se desgastarem e se fragilizarem um pouco mais. Quando se trata de uma criança hiperativa as dificuldades encontradas são muitas. A sobrecarga das responsabilidades em disciplinar o comportamento da criança, cuidar da casa, preparar a comida, auxiliar nas tarefas da escola, pode gerar um desconforto, uma exaustão para as mães, que muitas vezes, se sentem impotentes e cansadas. De acordo com Barkley (apud KUNRATH, 2006, p. 20) [...] normalmente as mães assumem mais os cuidados com os filhos e, no caso de crianças com TDA-H, isso se torna uma situação bastante estressante. Como na maior parte do tempo as interações ocorrem entre as mães e as crianças, e não entre os pais e as crianças, essas mães acreditam que as dificuldades ocorrem mais com elas. A criança TDA/H acaba tornando-se um desafio e muitas vezes, um transtorno para toda a família por causa do seu comportamento inquieto e acelerado. Por isso, todos os membros da família devem ajudá-la a conviver e a enfrentar as barreiras com as quais se depara, buscando apoio e estratégias. 18 Em muitos casos, percebe-se que a responsabilidade no tratamento da hiperatividade recai somente sobre a mãe. De modo geral, é a figura materna que participa ativamente no processo de melhora da criança, indo às consultas, cuidando do tratamento, ouvindo as orientações. O pai, na maioria das vezes, alega que não pode comparecer nas consultas por estar muito ocupado. Outras vezes, até mesmo nega o problema da criança. E ainda, “não são poucas as vezes em que os pais atribuem às mães a culpa pela relação difícil com o filho, embora eles participem muito pouco no sentido de ajudar a melhorar esta relação” (TOPCZEWSKI, 1999, p.52). Torna-se importante frisar que em momento algum o pai está isento dos cuidados com a criança, pelo contrário, é indispensável a união e participação dos pais e de toda a família para ajudar na melhora da criança hiperativa, e também na melhora do convívio familiar. O psicólogo Sam Goldstein e o neurologista Michel Goldstein, ambos especialistas em hiperatividade, afirmam que: É importante que os cônjuges se apóiem mutuamente. É muito frequente vermos apenas as mães durante a avaliação e tratamento. Em muitos casos, somos informados de que o pai admite a existência do problema, mas prefere não participar. Em outras situações, o pai discorda da natureza dos problemas do filho, opta por uma das muitas concepções erradas e, de fato transforma-se num obstáculo significativo para a melhora da vida do seu filho hiperativo. A menos que os pais consigam trabalhar juntos, é virtualmente impossível promover uma mudança positiva em casa. (2003, p. 129). A criança hiperativa pode, muitas vezes, ser vista como um incômodo para todos que convivem com ela, começando por sua família e em seguida pela escola. É bastante comum os pais, em especial as mães, se sentirem cansadas, tanto com desgastes físicos, quanto com emocionais e psicológicos, o que pode ser explicado pelo fato de ouvirem mais frequentemente as reclamações das pessoas a respeito da criança, e também, de presenciarem e de participarem dos conflitos. Segundo Topczewski (1999, p.52) “é comum os pais se sentirem desorientados e fragilizados diante uma situação que não conseguem avaliar e controlar”. Por isso, se torna indiscutível a presença de uma família unida e consciente das dificuldades que a criança hiperativa tem em se adequar, e também das habilidades que ela possui. Muitas vezes, os pais ou responsáveis, se 19 preocupam em educar e controlar o comportamento inquieto e desatento da criança hiperativa dentro dos padrões considerados “normais” para uma criança. De acordo com Goldstein e Goldstein (2003, p. 74) A criança difícil, entretanto, pode frustrar, provocar raiva e irritar os pais em virtude da incapacidade da criança de reagir às expectativas deles. Como adultos, alimentamos certas expectativas referentes ao modo como as crianças deveriam se comportar. Quando elas não correspondem a isso, nós as culpamos, culpamos a nós mesmos ou fazemos ambas as coisas. Este processo, certamente, tem um impacto negativo nas ligações e no tipo de relação que essa criança e seus pais são capazes de desenvolver. Uma relação pai/mãe-filho comprometida terá um efeito negativo duradouro sobre esta criança. No ambiente familiar, o comportamento inconstante, agitado e desatento que a criança hiperativa apresenta, muitas vezes, gera conflitos não só com os pais ou responsáveis, mas também com seus primos e primas, tios e tias, avôs e avós, e principalmente, irmãos e irmãs, talvez pelo fato destes passarem mais tempos juntos. A criança hiperativa tem comportamentos que podem desagradar seus irmãos, como por exemplo, interromper as brincadeiras, impor as suas vontades, ser impacientes. Os irmãos também se descontentam com a atenção extra que a criança hiperativa costuma receber dos pais, que em vários momentos a isenta das tarefas e obrigações. “Elas vêem o irmão hiperativo escapar impune das coisas que faz e não compreendem por que também não podem” (JONES, 2004, p.60). Assim, várias reações são possíveis: Alguns reagem com raiva e frustração, pois esta criança é dispensada de atividades e responsabilidades ou tem mais oportunidades de ganhar recompensas pelo comportamento que rotineiramente se espera deles sem recompensa. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 123). Essas questões podem levar ao desencadeamento de ciúmes e inveja, criando, muitas vezes, um sentimento de amor-ódio entre os irmãos. A criança TDA/H pode ser considerada por seus irmãos a culpada por todos os acontecimentos e confusões, mesmo quando não tem culpa, já que é normal ela se envolver nessas situações. De acordo com Goldstein e Goldstein (2003, p. 123) a criança hiperativa na relação com seus irmãos e irmãs “transforma-se num cômodo 20 bode expiatório. Ela pode levar a culpa por tudo, desde o prato que foi quebrado até pelo fato de o passeio no parque de diversões ter sido abreviado”. Percebe-se que “As crianças hiperativas não vivenciam tantas interações positivas com adultos, amigos e professores, como as outras crianças” (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 129) por isso, muitas vezes, é bastante comum ela receber rótulos com os nomes mais variados, como pestinha, cabeça-devento, mal educada, travessa, irresponsável, desajeitada, entre outras designações pejorativas, que nada colaboram para a melhoria do comportamento da criança. Muitas vezes, a própria família faz uso desses nomes, podendo contribuir para que a criança se sinta cada vez mais incapaz e frustrada. É importante encontrar maneiras de elevar a auto-estima de seu filho e interromper esse círculo vicioso de fracassos. Quando você tem um filho hiperativo, é sempre fácil ver todas as coisas ruins que ele faz e criticá-lo constantemente. Não é bom uma criança escutar o dia inteiro: “não faça isso, não faça aquilo, pare, largue isso, você é muito barulhento, você nunca escuta o que eu digo!”, isso diminui a sua auto-estima. Ela passa a acreditar em todas essas coisas sobre si mesma e, portanto, esforça-se menos para mudar. (JONES, 2004, p. 64). Por essas questões, se torna imprescindível: Procurar mudar o foco de visão dos pais em relação à criança, passando a destacar suas competências, sua inteligência e criatividade, a facilidade em fazer amigos e outros pontos positivos; e que não vejam ou qualifiquem o filho somente como relaxado, irresponsável, preguiçoso, vagabundo e outros adjetivos que servem mais para sepultar seu ego já minguado. (CYPEL, 2000, p.72). Em muitos casos, a falta de informação e conhecimento sobre o TDA/H por parte das pessoas que convivem com a criança assim diagnosticada, pode resultar em uma visão de criança fracassada, que estará condenada a um futuro sem sucesso, o que não colabora em absolutamente nada para o crescimento e desenvolvimento desta criança. Cabe ressaltar que a criança hiperativa, quando corretamente estimulada e tratada, pode conseguir controlar seus impulsos e seus comportamentos desatentos e impulsivos. Dessa forma, se torna indispensável que todos os membros da família estejam dispostos a colaborarem na tarefa de conhecer as dificuldades da criança, ajudando-a a enfrentá-las. Além disso, 21 Os pais não devem pensar que o fato de seu filho ter recebido o diagnóstico de DDAH determinará um futuro triste para ele; longe disso. A maior parte das crianças hiperativas vai superar seus problemas e, se sua energia puder ser aproveitada em uma direção positiva, elas poderão se tornar grandes realizadoras. (JONES, 2004, p. 119). Os pais ou responsáveis devem reservar uma parte do seu dia para se dedicar à criança TDA/H, ajudando-a nas atividades, e até mesmo participando das brincadeiras. Manter um contato mais próximo com a criança, disponibilizar um tempo para dar atenção a ela, pode facilitar na percepção de suas dificuldades, de seus medos e seus anseios. Assim, se torna mais fácil auxiliá-la e instruí-la, além de colaborar para o fortalecimento dos laços afetivos da família e também, de conquistar ou reconquistar a autoconfiança e a auto-estima da criança hiperativa. Segundo Goldstein e Goldstein (2003, p. 128) Os pais de crianças hiperativas muitas vezes se tornam tão aprisionados na sua tarefa de controlar que negligenciam oportunidades importantes de diversão. É importante despender parte de cada dia numa atividade agradável. É muito importante que a família busque encontrar alguma atividade que a criança se envolva, que participe, que ela tenha prazer em realizá-la. Essas atividades podem ser conjuntas com os membros da família, em um ambiente seguro e alegre, onde ocorra troca de experiências e aprendizagem de forma mútua. A criança hiperativa precisa de momentos agradáveis com seus familiares, como toda a criança, pois uma relação família-criança conturbada, sem momentos de alegria, poderá resultar em um efeito negativo, muitas vezes duradouro, sobre a vida desta criança. A família deve incentivar a criança nas atividades em que ela se identifique, seja nas atividades escolares, esportivas, artísticas ou musicais. Mesmo quando existir dificuldade em encontrar atividades prazerosas para a criança, a família não deve desistir e, ainda mais, tentar buscar caminhos e sugestões para que a criança encontre algo que lhe proporcione bem estar, já que não é tão frequente a criança hiperativa ter interações positivas com as outras pessoas. De acordo com Goldstein e Goldstein (2003, p. 129/130) 22 [...] é muito importante que você ajude seu filho hiperativo a desenvolver seus talentos. Determine no que ele é bom, estimule-o e desenvolva-o, seja dança, atletismo ou coleção de selos. Seu filho deve ser capaz de encontrar alguma coisa na vida que consiga realizar e se sinta bem em relação a isso. Pode-se dizer que, no relacionamento entre a criança TDA/H e os membros de sua família, os momentos de conflito estão mais presentes. A criança hiperativa exige muita paciência e dedicação, seu comportamento inconstante e acelerado pode causar transtornos estressantes para os familiares, principalmente para as mães, conforme pode ser visto anteriormente. As famílias com uma ou mais crianças com TDA/H experimentam diferenças fundamentais em sua vida cotidiana, com as quais outras famílias não têm de lidar. O transtorno altera drasticamente a vida dessas famílias, já que há mais tensão e mais discussão. (KUNRATH, 2006, p. 45). Percebe-se que “o relacionamento com os pais, professores e irmãos é muitas vezes, prejudicado pelo estresse provocado pelo comportamento inconstante e imprevisível” (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 20), desta forma, se faz necessário que todo o grupo familiar esteja preparado para enfrentar as dificuldades e buscar artifícios para superá-las. Para isso acontecer, a família precisa procurar caminhos que visem o melhor tratamento para a criança hiperativa. De maneira geral, são aconselháveis diversos tipos de tratamentos médicos e também não médicos para que se consiga ajudar a criança TDA/H a controlar e lidar com seu comportamento. Segundo Topczewski (1999, p. 76) Existe, sem dúvida, tratamento para a hiperatividade, mas é necessário que se tome uma série de medidas, porque o quadro é pluridimensional: no caso, deve ser um trabalho conjunto que envolve orientação familiar, orientação psicológica, psicopedagógica, a participação da escola, complementado pelo tratamento com medicamento. Porém, na maioria das vezes, os pais também precisam de apoio para lidar com as situações difíceis que seu filho hiperativo desprende. Muitas vezes, os pais ou responsáveis, especialmente as mães, encontram-se em um nível de estresse tão alto que não conseguem proporcionar o apoio que o filho hiperativo tanto 23 necessita. Outras vezes, os pais não se percebem como pessoas que também precisam de ajuda e de orientação para lidar com as situações conturbadas. Alguns autores (ORJALES, 2007; JONES, 2004; GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003; CYPEL, 2000; TOPCZEWSKI, 1999) acreditam que o treinamento, a terapia e a orientação psicológica para pais, também sejam profundamente necessários para ajudar a entender a melhor maneira de lidar com o filho hiperativo, além de aumentar a confiança e diminuir o estresse. Através deste tipo de atendimento para pais, eles podem buscar informações e esclarecimentos sobre o transtorno, além de entendimento, que pode servir de base para que sejam administradas de maneira mais positiva as dificuldades encontradas pelo filho hiperativo. Muitos psiquiatras, trabalhando com crianças problemáticas, começaram a perceber que muitos problemas envolvem toda a família e não apenas as crianças. A terapia familiar inclui os pais, a criança e algumas vezes os outros irmãos e pode ser útil quando uma criança com DDAH é apenas parte do problema. [...] Ter um filho hiperativo pode prejudicar toda a família e os relacionamentos entre os outros membros, que podem discordar com relação à forma de lidar com ele. Nessas circunstâncias, toda a família pode se beneficiar da oportunidade de falar com um terapeuta sobre todas as questões envolvidas. (JONES, 2004, p. 81). Percebe-se, portanto, a relevância de toda a família estar preparada para lidar e entender as dificuldades que a criança TDA/H apresenta, dividindo as tarefas e apoiando-se. É fato que a criança hiperativa exige mais dedicação, paciência e compreensão, o que pode causar certo desconforto familiar. Porém, uma família unida e bem preparada, pode ser capaz de promover uma melhora significativa na vida da criança hiperativa, e consequentemente, na vida familiar. 3 – A criança hiperativa e a relação família-escola Percebe-se que o comportamento da criança hiperativa, a sua agitação, a inquietude, a falta de atenção, pode refletir-se também na escola, já que a criança, em idade escolar, passa uma parte do seu dia neste ambiente. Assim, na maioria das vezes, a relação da criança TDA/H com os professores e as outras crianças da sala de aula também pode ser afetada, além de sua aprendizagem. 24 A dificuldade que a criança hiperativa apresenta em se concentrar, em ficar parada em um mesmo lugar, em levar uma lição até o fim, vai de encontro com a postura que a escola vem exigindo da criança e também do adulto, por isso, muitas vezes, é difícil para a criança hiperativa satisfazer as exigências escolares. Em muitos casos, a instituição escolar também pode considerar a criança hiperativa como bagunceira, irresponsável e indisciplinada, e até mesmo culpar a família por não colocar limites na criança, levando a um isolamento social dentro da própria escola. Os amigos, muitas vezes, evitam brincar com essa criança e os professores acabam não sabendo o que fazer e as estratégias a tomar. De acordo com Topczewski (1999, p. 59) “a tendência natural para o aluno que não consegue atingir os objetivos propostos é ser excluído e, também, desvalorizado, o que compromete o seu estado emocional, social e familiar”. A família e a escola são instituições que visam o crescimento pessoal, o desenvolvimento cognitivo e a inserção participante na sociedade. Este processo começa primeiro na família, e em seguida é dividido com a escola, e por isso, o trabalho em conjunto dessas duas instituições é extremamente importante e positivo para que a criança se torne um ser crítico e com autonomia. Segundo Dessen e Polonia (2007, p. 09) “os conhecimentos oriundos da vivência familiar podem ser empregados como mediadores para a construção dos conhecimentos científicos trabalhados na escola”. O núcleo familiar deve trabalhar em parceria com o núcleo escolar e viceversa. Em se tratando de crianças hiperativas não deve ser diferente, os pais ou responsáveis por essas crianças devem ter uma relação de troca com os professores, e quem se beneficiará é a criança, logo sua família e a escola também serão beneficiadas. Os pais [...] devem trabalhar para ajudar os professores a entender que existem valores e potenciais em toda criança. Os pais devem trabalhar para ajudar os professores a aprenderem a procurar, nutrir e reforçar aquilo que existe de positivo na criança hiperativa e a entender que com o passar do tempo essa criança pode e deve se tornar um membro que colabora para a comunidade escolar. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 111). As dificuldades provenientes do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade podem levar ao comprometimento da aprendizagem e do 25 processo de aquisição do conhecimento da criança. Normalmente, para a criança hiperativa é muito difícil prestar atenção na explicação do professor, tais explicações que estão, em muitos casos, descontextualizadas com o meio em que a criança vive, o que dificulta a apropriação do conhecimento. De acordo com Reis (2006, p. 86) “as dificuldades acadêmicas tem sido apontadas como uma das principais consequências do transtorno. Além disso, as relações professor-aluno podem afetar positiva ou negativamente o desempenho acadêmico e social do aluno com TDAH”. Verifica-se ainda que “as crianças com TDAH podem apresentar dificuldades em atividades de leitura, de escrita, de interpretação de textos e situações problemas” (ANDRADE, 2006, p. 48). Porém, é preciso deixar claro que essas crianças são capazes de aprender e interagir com outras pessoas, apesar de encontrarem dificuldades, barreiras e muitas vezes, sofrerem preconceitos. Desta forma, a colaboração tanto da escola, quanto da família é indispensável para que a criança hiperativa consiga enfrentar os seus problemas. Percebe-se que tanto a família quanto a escola, precisam ter conhecimento sobre o transtorno, as suas características e implicações, para que possam buscar alternativas e preparar estratégias para o relacionamento e aprendizagem dessas crianças. Pois, conforme afirma Araújo (apud ARAÚJO, MATTOS e PASTURA, 2005, p. 01) O desempenho escolar depende de diferentes fatores: características da escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade dos pais, presença dos pais e interação dos pais com escola e deveres) e do próprio indivíduo. A interação entre a família e a escola pode proporcionar à criança hiperativa as melhorias no seu comportamento. Os pais podem trocar experiências com os professores, bem como ajudá-los nas escolhas das melhores estratégias. No caso de desconhecimento do transtorno por parte da família, a escola ajudar a esclarecer as dúvidas. Os professores também precisam saber lidar com a criança hiperativa, conhecer o contexto em que elas estão inseridas, seus desafios e anseios, e uma das formas de se conseguir alcançar esse objetivo é estando integrada à família. 26 [...] os pais devem ser francos em relação aos problemas do seu filho e tolerantes em relação à postura do professor. Devem estar dispostos a ajudar os professores a compreender a história de seu filho e ser pacientes quando os professores expressam frustração em relação aos problemas escolares da criança. O sucesso na escola é essencial para o seu filho hiperativo. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 129). Os educadores precisam estar engajados com a família e preparados para enfrentar os desafios desencadeados pela hiperatividade. Conforme já foi possível ser visto, a criança em função do transtorno, geralmente apresenta problemas escolares, não só no relacionamento com os colegas, professores e profissionais da instituição, como também problemas relacionados à aprendizagem. É necessário ainda que o professor consiga estabelecer um vínculo de confiança entre a família da criança hiperativa e a escola, e entre a própria relação com a criança, desta forma, a percepção das dificuldades e necessidades dessas crianças fica mais visível. Para tanto, muitas vezes os professores precisam estar capacitados e preparados para buscar recursos que auxiliem a sua prática pedagógica, visando o desenvolvimento da criança TDA/H como um todo. Muitos pesquisadores concordam que o professor não pode eliminar os sintomas do transtorno, mas pode ajudar a minimizar o problema. Para isso é importante que a formação profissional do professor contemple a reflexão sobre as dificuldades de aprendizagem ou de relacionamento apresentados por alunos com TDAH [...]. (REIS, 2006, p. 87). Percebe-se que para administrar os típicos comportamentos da hiperatividade, é preciso, acima de tudo, conhecimento. A partir deste conhecimento, a intervenção da família, da escola e de outros profissionais se faz primordial para dar suporte à criança hiperativa, ajudando-a a superar as dificuldades que encontra. Sabe-se que muitas são as famílias que não apresentam condições, em nível de escolaridade, para auxiliar nos deveres e trabalhos escolares, o que muitas vezes pode gerar um sentimento de culpa. Neste caso, a escola pode buscar alternativas para ajudar a esclarecer e informar os pais ou responsáveis pela criança hiperativa das estratégias que eles podem adotar no ambiente familiar, dialogando e trocando experiências. De fato, “as dificuldades acadêmicas têm sido apontadas como uma das principais consequências do transtorno” (REIS, 2006, p. 86) e partindo desta questão, alguns autores (ORJALES, 2007; TOLEDO E SIMÃO apud REIS, 2006) 27 apontaram em seus estudos algumas estratégias que podem ser utilizadas pelo professor em sala de aula, considerando-as bastante eficazes para se trabalhar com a criança hiperativa no ambiente escolar. Dentre as estratégias que podem ser citadas estão: utilização de normas objetivas e claras, ambiente organizado, carteira da criança TDA/H próxima a do professor e ao quadro, propiciar atividades de movimento (apagar o quadro, fechar a sala quando todos saírem para o lanche, ter na sala jogos de raciocínio e de colorir para quando terminarem as tarefas, etc.), distribuir elogios, dar atenção, entre outras estratégias. Pode-se afirmar que, a partir do momento em que a escola e a família aprendem a lidar com a criança hiperativa, o relacionamento com esta criança será beneficiado, assim como com todas as pessoas que ela convive. “A adoção de estratégias que permitam aos pais acompanharem as atividades curriculares da escola, beneficiam tanto a escola quanto a família” (DESSEN E POLONIA, 2007, p. 10). A parceria escola-família, mais uma vez se torna indiscutível e inseparável, quando se deseja o melhor para a criança. . 28 IV DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A partir das respostas dadas pelas mães pesquisadas, respostas estas que foram obtidas através dos instrumentos de coletas de dados chamados “Inventário de Coping Parental” e “Questionário de Estresse para Pais”, foi possível fazer algumas análises e considerações em relação à criança hiperativa, o seu convívio familiar e escolar, bem como análises sobre o modo das mães encararem o transtorno, as estratégias mais utilizadas no relacionamento com a criança, o quanto essas estratégias são ou podem ser úteis para o convívio no núcleo familiar, o estresse que essas crianças podem causar nas mães e a repercussão deste estresse na família, na escola e na sociedade em geral, entre outras questões. No primeiro instrumento de coleta de dados mencionado, algumas estratégias diziam respeito a questões semelhantes. Desta forma, tomando por base a relação e a integração existente entre algumas estratégias, foi possível fazer um agrupamento, onde se pode relacioná-las e dividi-las em sete categorias, que incluem as estratégias: “acreditar no filho (a)”, “convívio familiar”, “relação conjugal”, “medicamentosa”, “dialogar com outras pessoas”, “diversão e lazer” e “cuidado pessoal”. Estas categorias serão apresentadas a seguir, através de gráficos construídos com base nas respostas das mães, juntamente com a porcentagem de cada resposta, além de serem refletidas à luz de referenciais bibliográficos. Já no segundo instrumento de coleta de dados mencionado, muitas das questões também se assemelhavam, por isso, utilizando-se dessa relação e integração existente entre algumas perguntas, foi possível fazer um agrupamento, através de uma tabela. Esta tabela está dividida em três categorias, sendo elas: “estresse da mãe”, “dificuldade do filho (a)” e “dificuldade da família”, cada categoria está subdividida entre subcategorias, todas inter-relacionadas. A tabela apresenta ainda a porcentagem correspondente a frequência que apareceram as respostas das mães e também será alvo de alguns apontamentos, que serão apresentados a seguir. 29 4.1 Inventário de Coping Parental Gráfico 1 Categoria: acreditar no filho(a) Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na Categoria “acreditar no filho (a)”, que inclui as estratégias de investir na criança e ter pensamentos positivos em relação à sua melhora, percebe-se que todas as mães concordam que estas atitudes são extremamente úteis para lidar com os problemas relativos ao filho. De acordo com Goldstein e Goldstein é extremamente importante os pais acreditarem na capacidade dos filhos e investirem no seu processo de desenvolvimento. Eles dizem aos pais: “É preciso que você acredite que com a sua ajuda, com o apoio adequado da comunidade e com intervenção, seu filho hiperativo pode e terá êxito” (2003, p. 128). Entende-se que o fato de depositar confiança, apontar soluções e investir no relacionamento com a criança hiperativa, procurando incentivá-la com palavras positivas, ao invés de focar somente naquilo que não deve ser feito, pode ser uma estratégia bastante relevante para um melhor entrosamento familiar. A escola também tem o papel de incentivar as crianças hiperativas, de acreditar no seu potencial e tentar expandi-lo, sendo que os professores devem estar frente a isso. De acordo com Orjales (2007, p. 313) 30 Uma vez que a criança comece a trabalhar, o professor reforça essa atitude prestando atenção nela discretamente: por exemplo, passa pelas mesas e para um pouco para ver o que está fazendo, diz que algo está muito bom, acaricia sua cabeça enquanto anda [...]. Não pode ser aceitável o fato de a escola desprezar a criança hiperativa, porque elas apresentam dificuldades na atenção e são inquietas. É notável que o comportamento da criança TDA/H pode exigir que o professor dispense mais intervenção e mediação, mas este profissional precisa estar preparado e disposto a colaborar no que for preciso. Gráfico 2 Categoria: convívio familiar Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “convívio familiar”, a qual se constitui de estratégias relacionadas à realização de atividades em família, entre mãe e filho e ajuda dos outros membros da família, observa-se que as respostas foram diversificadas. Das mães estudadas, 40% consideraram que essas estratégias são moderadamente úteis, 40% minimamente úteis e apenas 20% das mães responderam a opção extremamente útil. Pode-se dizer que, para a maioria dessas mães, a utilização dessas estratégias não foi tão positiva quanto deveria ser, talvez pelo fato de que é frequente os momentos de discórdia, tensão e conflito na relação familiar da criança hiperativa. Segundo Goldstein e Goldstein (2003, p. 124) 31 É justo dizer que a criança hiperativa se torna o problema da família. Em famílias com mais de uma criança hiperativa, o impacto é ainda maior. Em famílias nas quais os temperamentos dos pais e da criança não se engrenam, os problemas podem se intensificar. “O hiperativo é a causa de frequentes transtornos domésticos bem conhecidos” (TOPCZEWSKI, 1999, p. 59), por isso, pode ser difícil para a família dedicar-se nas atividades com a criança hiperativa. Porém, é muito importante para a criança se relacionar com os membros de sua família, em atividades que proporcionem alegria e interação. Assim como o convívio familiar, o convívio escolar também é importante para a criança hiperativa. É na escola que as crianças desenvolvem a sociabilidade, o espírito coletivo, a troca com o outro e a integração. Gráfico 3 Categoria: relação conjugal Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “relação conjugal”, onde estão presentes as estratégias de diálogos, confiança e divertimento entre o casal, a maioria (75%) das mães considerou essas estratégias moderadamente úteis, enquanto 25% das mães consideraram extremamente úteis. Conforme já pode ser visto, as mães costumam passar mais tempo com seus filhos do que a figura paterna, que muitas vezes não aceita o problema do filho. Com 32 isso, a relação do casal pode também ser comprometida, causando discórdias e distanciamento na relação marido-mulher. De acordo com Topczewski Com certa frequência, a vida doméstica se torna mais difícil, os encontros não mais denotam prazer, mas justamente o oposto, ou seja, o desprazer. A vida do casal se altera, comprometendo, também, a sua relação afetiva e sexual, em particular [...] O comportamento hiperativo pode desestabilizar a relação do casal, que deve procurar administrar, em conjunto, os desvios comportamentais apresentados pelo filho, pois as discórdias do casal têm repercussão negativa relevante sobre o comportamento emocional da criança, o que agrava a hiperatividade. (1999, p.57). Apesar das barreiras encontradas no relacionamento com o filho hiperativo, é imprescindível que os pais tenham uma relação consistente, baseada no apoio e compreensão, para que possam auxiliar no desenvolvimento e na conquista da autonomia de seu filho. Gráfico 4 Categoria: medicamentosa Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “medicamentosa”, estão inclusas as estratégias relacionadas ao acompanhamento médico em casa e em consultório, medicamentos e diálogos com equipe médica. Para esta categoria, 50% das mães disseram minimamente útil, 38% disseram moderadamente útil e somente 12% disseram extremamente útil. Pode-se 33 perceber que a maioria das mães não considerou positivas essas estratégias, ou para elas, estas estratégias não são tão eficazes para lidarem com a criança hiperativa. Para os autores Rohde e Halpern (2004, p. 11) “O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções psicossociais e psicofarmacológicas”. A orientação com psicólogo, médicos, terapeutas é tão importante quanto o uso de medicamentos, porém a medicação só deve ser adquirida após a consideração de seus benefícios e possíveis malefícios. De acordo com Topczewski (1999, p. 79) “Os benefícios com a terapia medicamentosa podem ser observados de maneira substancial com a diminuição da hiperatividade, melhoria do humor, do nível de atenção e concentração”. Porém, antes de qualquer atitude, os pais devem encaminhar a criança hiperativa ao acompanhamento médico, e este deve orientar quais medidas devem ser adotadas. Gráfico 5 Categoria: dialogar com outras pessoas Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “dialogar com outras pessoas”, onde as estratégias dizem respeito a dialogar com outros pais e profissionais para trocar experiências, se informar sobre o transtorno e se sentir importante e querido, 50% das mães escolheram a opção extremamente útil e 50% escolheram a opção moderadamente útil. 34 Os pais, principalmente as mães, às vezes, podem buscar o afastamento das relações sociais, como forma de evitar possíveis problemas relacionados à criança TDA/H. Porém, isto não deve acontecer, eles precisam buscar apoio para enfrentar as dificuldades provenientes da relação com o filho hiperativo, e muitas vezes a conversa com outras pessoas, sejam pais, professores, médicos ou psicólogos são muito relevantes. “É também importante que você se junte a um grupo de apoio aos pais. Pais que apóiam outros pais constituem um componente essencial de qualquer programa eficaz de orientação” (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 128). A família precisa estar em uma busca constante pelas melhores estratégias a serem utilizadas no relacionamento familiar e social. Lembre-se de que nenhum tratamento eficiente pode nascer de posturas passivas. É preciso se informar, estudar, debater, trocar idéias, experiências, conhecer sobre remédios, terapias, alimentação, esportes e tudo que possa contribuir para a melhoria e a auto-superação. (SILVA, 2003, p. 194). O diálogo dos pais ou responsáveis com outras pessoas pode ser relevante não somente para ajudar a criança hiperativa, como também para que possam se sentir mais confiantes e bem consigo mesmos. Considera-se também que o diálogo entre a família e a escola é essencial para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança hiperativa, além de colaborar para minimizar os seus problemas e os problemas da família e da escola que estão relacionados ao transtorno. É importante que as instituições escolar e familiar trabalhem em conjunto, auxiliando uma a outra, trocando experiências, dialogando e se apoiando. “O elo para essa cooperação pode ser estabelecido através do diálogo, da confiança e do respeito” (ANDRADE, 2006, p. 95). 35 Gráfico 6 Categoria: diversão e lazer Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “diversão e lazer”, que inclui as estratégias de divertimento das mães com amigos, envolvimento em atividades sociais e a prática de hobbies, 57% das mães pesquisadas consideraram essas estratégias minimamente úteis, 28% consideraram não úteis e 15% consideraram extremamente úteis. É possível observar que é muito comum, na relação de pais de crianças hiperativas, que “Frequentemente, muitos pais estão sobrecarregados pelas exigências diárias para cuidar do seu filho hiperativo que sobra pouco ou nenhum tempo para o divertimento ou prazer”. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 124). Muitos pais, especialmente mães de crianças hiperativas deixam de lado sua própria vida social, até mesmo profissional, para se dedicar exclusivamente ao filho. “Os pais de uma criança hiperativa podem acabar se tornando isolados e solitários” (JONES, 2004, p. 38). Esta situação, com o tempo, tende a trazer problemas psicológicos, de depressão e de estresse às mães cuidadoras. [...] com frequência encontramos, no consultório, mães estafadas e irritadas, por conta de noites mal dormidas durante vários meses. Devido ao desgaste físico e emocional, estas mães se tornam intolerantes e impacientes, comprometendo de maneira marcante a relação afetiva com a criança e o equilíbrio de todo o ambiente doméstico. (TOPCZEWSKI, 1999, p. 34). 36 É importante que a família, os pais e as mães estejam sadios mentalmente e fisicamente, para poderem ajudar no controle da hiperatividade do filho. “Quanto melhor integrados estiverem os pais, tanto no sentido emocional, quanto no comportamental, melhor estará o filho” (KUNRATH, 2006, p. 51). A presença de uma família unida e feliz pode trazer resultados positivos em relação à melhora da criança. Gráfico 7 Categoria: cuidado pessoal Extremamente útil Moderadamente útil Minimamente útil Não útil Na categoria “cuidado pessoal” (relacionado à mãe), onde estão contidas as estratégias de manter-se em forma e bem vestida, comer, dormir, desenvolver-se como pessoa e tornar-se mais auto confiante, 45% das mães consideraram que essas estratégias são moderadamente úteis para otimizar o relacionamento com a criança hiperativa, 35% das mães consideraram extremamente úteis e 20% delas consideraram minimamente útil o uso dessas estratégias. De acordo com Harpin (apud RIBEIRO, 2008, p. 89) “Os pais ficam mais cansados e têm menos tempo para si mesmos e os níveis de insatisfação e de problemas emocionais são maiores”. Por isso, pode ser comum o fato das mães não investirem nessas estratégias, ou não utilizá-las por não conseguirem bons resultados. 37 4.2 Questionário de estresse para pais Categorias Subcategorias Frequência Estresse da mãe Frustração Preocupação Cansaço Incômodo Tensão Tristeza Vergonha 82% Dificuldades do filho (a) Atenção Comunicação Autonomia 50% Aceitação Adaptação Interação 50% Dificuldades da família Na categoria “estresse da mãe”, onde estão presentes as subcategorias “frustração”, “preocupação”, “cansaço”, “incômodo”, “tensão”, “tristeza” e “vergonha”, percebe-se que a maioria das mães, ou seja, 82% delas consideraram a presença desses sentimentos, que podem ser considerados elementos geradores de estresse. Com base nas pesquisas, é possível afirmar que por questões culturais, ainda são as mães que passam mais tempo com os filhos. “[...] para as mulheres é delegada a responsabilidade do cuidado de toda a família, como uma obrigação moral socioculturalmente construída”. (NEVES E CABRAL, 2007, p.553). De modo geral, as mães é que costumam dedicar-se mais aos filhos, são elas que cuidam da criança, que ajudam a fazer os deveres escolares, que frequentam as reuniões pedagógicas, que levam para passear. “São as mães que recebem as reclamações escolares, sentem diretamente as dificuldades no relacionamento com os filhos, e muitas vezes devem lidar com a questão sem a participação efetiva dos pais”. (TOPCZEWSKI, 1999, p. 29). 38 Desta forma, é comum as mães se sentirem cansadas, preocupadas e muitas vezes, frustradas em relação ao filho hiperativo e si mesma, isso acaba, na maioria das vezes “[...]afetando sua vida pessoal, profissional e social” (MILLER, apud BARBOSA E OLIVEIRA, 2008, p. 37). Segundo Neves e Cabral (2007, p. 557) “A exposição permanente da pessoa a um estresse crônico pode repercutir na sua saúde física e mental, portanto, em seu bem-estar”. Por isso, se torna imprescindível a atenção à saúde e desenvolvimento pessoal dessas mães, assim como à saúde e desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança hiperativa. As mães precisam estar preparadas para lidar da melhor maneira com a criança hiperativa, buscando perceber as estratégias positivas e úteis para tentar diminuir as situações problemáticas, e com isso, reduzir seu nível de estresse. Toda a família precisa estar disposta a conhecer o TDA/H, suas características e possíveis práticas para procurar conter as situações típicas do transtorno. Assim, todo grupo familiar poderá ser beneficiado, principalmente as mães e a criança hiperativa. Na categoria “dificuldades do filho (a)”, que integram as subcategorias “atenção”, “comunicação” e “autonomia”, 50% das mães pesquisadas apontaram a presença desses problemas em relação a sua criança TDA/H. Conforme já pode ser visto anteriormente, um dos principais sintomas desse transtorno é a falta de atenção, o que também pode ser verificado nas respostas das mães. “Estudos neuropsicológicos indicaram que crianças com TDAH têm um desempenho prejudicado em tarefas que demandam funções cognitivas como atenção, percepção, planejamento e organização” (REIS, 2006, p. 60). Constata-se que alguns autores (ORJALES, 2007; SILVA 2003; TOPCZEWSKI, 1999) destacam a questão da comunicação de crianças hiperativas. Segundo eles, é possível verificar que as crianças TDA/H falam demasiadamente e em ritmo acelerado. Além disso, “seu impulso verbal pode continuar a lhe trazer sérios problemas, principalmente em situações em que esteja sob forte impacto afetivo ou sob pressão pessoal” (SILVA, 2003, p. 24). Observa-se que as características do TDA/H (desatenção, impulsividade e hiperatividade) podem comprometer o desenvolvimento da autonomia da criança hiperativa se ela não for corretamente estimulada. “A criança hiperativa se caracteriza por uma desorganização pessoal interna e externa, que faz com que seja mais difícil se comportar de uma forma autônoma” (ORJALES, 2007, p. 298). 39 Desta forma, a família se torna a primeira instituição e em seguida a escola, que deve buscar promover a autonomia da criança hiperativa, tentando diminuir a interferência e dependência de uma pessoa adulta. Pode-se afirmar que as típicas características da hiperatividade podem causar problemas escolares para as crianças e provocar situações de estresse e constrangimento para os pais, pois muitas vezes, outras pessoas podem considerar que os pais não são bons educadores e a criança ainda pode ser vista como desagradável e mal educada. Percebemos que os pais, com crianças TDA-H muitas vezes, encontramse mais estressados e cansados, devido à dificuldade em fazer com que seus filhos cumpram o que lhes é solicitado. Assim, sentimentos de impotência, ineficácia, bem como a falta de compreensão do que está acontecendo, parecem ser comuns entre os pais de crianças com esse transtorno. (KUNRATH, 2006, p. 22). Na categoria “dificuldades da família”, expressadas pelas subcategorias “aceitação“, “adaptação” e “interação”, a frequência desses problemas, apresentada através das respostas das mães, foi também de 50%. A família da criança hiperativa, em função dos problemas apresentados em decorrência do transtorno, pode também ser atingida. Comumente, os membros familiares entram em conflito com a criança hiperativa, por causa do seu comportamento impulsivo e inquieto. Os desentendimentos são frequentes, e demandam mais interrupções por parte dos pais. De acordo com Silva (2003, p. 61) “Frequentemente, as situações provocadas pela impulsividade ou distração da criança DDA denotam brigas entre outros membros da família. O pai briga com a mãe, o irmão com o pai, a mãe com a avó e todos com a criança!”. Desta forma, a integração e a relação familiar também podem ser afetadas negativamente. Os pais ou responsáveis, em especial as mães, podem propender a terem problemas emocionais e psicológicos, além de participação diária em situações estressantes. Em muitos casos, as mães podem até mesmo, adotar alternativas de distanciamento social, acreditando que evitar os momentos conturbados seja a solução para os problemas. Pode-se dizer que, é difícil para o pai e a mãe 40 [...] descobrir que os outros pais evitam seu filho e não o convidam para ir à sua casa após a primeira visita de uma criança do tipo “furacão”. [...] As crianças hiperativas podem ser destrutivas e difíceis em grupos de mães e filhos, em grupos de recreação, dessa forma aumentando o isolamento dos pais. (JONES, 2004, p. 38). Percebe-se que, a família é indispensável no processo de desenvolvimento de qualquer criança, principalmente quando se trata de crianças que necessitam de mais de orientação, como no caso das hiperativas. A importância da família na determinação do comportamento humano não pode ser negada. Ela é uma das responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo, emocional e social de uma criança, bem como pela criação e manutenção de um ambiente propício ao desenvolvimento. (BARBOSA E OLIVEIRA, 2008, p. 36). Pode-se considerar que os pais de crianças hiperativas, em especial as mães, precisam de paciência e dedicação diárias na sua relação com o filho hiperativo. Uma relação entre a criança hiperativa e sua família pautada no respeito, no diálogo e, sobretudo na compreensão, “minimizará as chances de seu filho vir a desenvolver os problemas emocionais secundários, como depressão ou problemas mais graves de conduta” (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003, p. 128). E também auxiliará na redução das situações problemáticas e constrangedoras comumente vivenciadas pelos membros da família. Por fim, com a integração da família e da escola é possível ajudar a criança hiperativa a buscar alternativas e estratégias eficazes para o controle do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Com os membros destas instituições dispostos a colaborarem no processo de desenvolvimento desta criança como um todo, pode-se haver uma diminuição significativa nos desentendimentos, nas situações problemáticas e estressantes e consequentemente, todos que convivem com a criança hiperativa serão beneficiados, os professores, os colegas, os familiares e principalmente as mães. 41 V CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se perceber que o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um problema muito frequente nos dias de hoje. Suas características de desatenção, impulsividade e hiperatividade podem afetar tanto a criança assim diagnosticada, como o ambiente familiar e escolar em que ela está inserida. Por causa desse comportamento, é comum que essa criança seja vista como bagunceira, desobediente e outros nomes pejorativos, que apenas colaboram para a diminuição da sua auto-estima. Ressalta-se que as crianças hiperativas, pelo seu comportamento impulsivo, desatencioso e inquieto, estão mais suscetíveis a enfrentarem problemas durante toda a sua vida, o que acaba por refletir na família, principalmente nas mães, já que estas costumam estar mais presentes no convívio com o filho, e refletem também no núcleo escolar desta criança. Entende-se que o ambiente familiar é o primeiro que a criança tem contato, neste ambiente ficam evidenciadas as relações iniciais de socialização e interação, sendo que depois são divididas e trabalhadas também na escola. Esses dois ambientes, escolar e familiar, são extremamente importantes para o desenvolvimento de qualquer pessoa. Verificou-se que as crianças hiperativas podem apresentar muitos problemas relacionados à aprendizagem e ao relacionamento social. O seu comportamento faz com que muitas pessoas a evitem e a sua falta de atenção dificulta o entendimento das explicações do professor durante as aulas. A intervenção do professor é indispensável para a criança hiperativa, devendo haver uma relação consistente entre a família e a escola, para que sejam adotadas estratégias eficazes para melhorar o comportamento dessa criança. A família pode proporcionar o conhecimento das dificuldades da criança aos professores, e estes podem buscar novas estratégias. Ao interpretar e analisar as informações extraídas a partir da utilização dos instrumentos de coleta de dados, pode-se perceber que as mães pesquisadas demonstraram dificuldades em lidar com as demandas do filho hiperativo, além de apresentarem um nível significativo de estresse. Foi observada a presença 42 significativa de sentimentos que são possíveis desencadeadores de estresse, como: frustração, tensão e cansaço. Na maioria das vezes, estes sentimentos afetam mais as mães, pelo fato de que são elas que dedicam a maior parte do dia no convívio com a criança. Pode ser visto também, que segundo a literatura, a figura paterna fica mais distante do problema, em muitos casos por não acreditar que ele exista. As mães também apresentaram dificuldades na relação marido e mulher, na sua própria auto-estima e bem estar pessoal. Elas tendem a deixar de lado sua vida e o seu trabalho, para cuidar e se dedicar ao filho, o que pode atrapalhar na sua realização pessoal, logo o convívio entre toda a família também poderá ser afetado. A escola tem um papel importante na relação entre a família e a criança TDA/H. Se a escola, juntamente com a família conseguir administrar os problemas que essas crianças enfrentam, os fatores estressantes causados pelas características do transtorno podem ser minimizados. Assim sendo, fica evidenciada a extrema necessidade da família e da escola buscar recursos para conhecer esse transtorno, suas características, seus sintomas e as possíveis estratégias para tentar lidar com os problemas que ele desencadeia. Com a ajuda, o apoio, o respeito e a compreensão de todo o grupo familiar e escolar, a criança hiperativa terá mais condições e oportunidades de se tornar um ser autônomo, capaz de enfrentar situações conturbadas de maneira equilibrada. Desta forma, o convívio com todas as pessoas a sua volta será beneficiado. Para concluir, cabe afirmar que é necessária a constante busca e reflexão seja por parte de educadores ou de pais acerca das implicações sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade sobre a vida da criança e consequentemente sobre a vida de todos que a cercam. É preciso continuar a ver e rever as questões que estão intrínsecas ao transtorno, pois o conhecimento não é algo pronto e acabado, mas ao contrário, se faz e refaz constantemente, buscando novas respostas e novas indagações. 43 VI REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria da C. de Oliveira. A prática pedagógica de professores de alunos com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. 2006. 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São Paulo: Martins Fontes, 1991. 47 VII ANEXOS ANEXO 1 – Inventário de Coping Parental ANEXO 2 – Questionário de estresse para pais ANEXO 3 – Declaração 48 ANEXO 1 – Inventário de Coping Parental 1. Acreditar que meu filho vai melhorar. ( ) 2. Investir em meu filho. ( ) 3. Realizar atividades com meu filho. ( ) 4. Acreditar que as coisas sempre vão dar certo. ( ) 5. Dizer a mim mesma que eu tenho muitas coisas pelas quais agradecer. ( ) 6. Construir um relacionamento mais íntimo com meu esposo. ( ) 7. Conversar sobre sentimentos pessoais e preocupações com meu esposo. ( ) 8. Realizar atividades com meus familiares. ( ) 9. Acreditar em Deus. ( ) 10. Cuidar bem do acompanhamento médico em casa. ( ) 11. Acreditar que meu filho está tendo o melhor atendimento médico possível. ( ) 12. Tentar manter a estabilidade familiar. ( ) 13. Realizar atividade juntos, como uma família. ( ) 14. Confiar em meu esposo ou ex-esposo para ajudar apoiar a mim e a meu filho. ( ) 15. Mostrar que sou forte. ( ) 16. Ter a ajuda de outros membros da família com as tarefas domésticas. ( ) 17. Ter meu filho sendo atendido nas condições médicas, em clínicas/hospitais regularmente. ( ) 18. Acreditar que o centro médico/hospital tem em mente o melhor para minha família. ( ) 19. Encorajar o filho sob condições médicas a ser mais independente. ( ) 20. Envolvimento em atividades sociais com amigos. ( ) 21. Conseguir afastar-se das atividades domésticas para um descanso. ( ) 22. Sair sozinho. ( ) 23. Comer. ( ) 24. Dormir. ( ) 25. Permitir-me ficar com raiva. ( ) 26. Comprar presentes para mim e/ou para outros membros da família. ( ) 27. Concentrar-se em hobbies. ( ) 28. Trabalhar fora. ( ) 29. Tornar-se mais auto-confiante e independente. ( ) 30. Manter-me em forma e bem arrumada. ( ) 49 31. Conversar com alguém (que não seja médico ou psicólogo) sobre como eu me sinto. ( ) 32. Manter relacionamentos e amizades que me ajudem a sentir-me importante e querida. ( ) 33. Divertir com os amigos em nossa casa. ( ) 34. Investir tempo e energia em meu trabalho. ( ) 35. Sair regularmente com meu esposo. ( ) 36. Construir relacionamentos íntimos com as pessoas. ( ) 37. Desenvolver-me como pessoa. ( ) 38. Conversar com outros pais no mesmo tipo de situação e aprender sobre suas experiências. ( ) 39. Conversar com a equipe médica quando visitamos o centro médico. ( ) 40. Ler como outras pessoas na mesma situação lidam com as coisas. ( ) 41. Ler mais sobre o problema médico que me preocupa. ( ) 42. Explicar nossa situação familiar para amigos e vizinhos para que eles entendam. ( ) 43. Ter certeza que os tratamentos médicos prescrito para a criança são realizados em casa diariamente. ( ) 44. Conversar com outras pessoas na mesma situação que eu. ( ) 45. Conversar com o médico sobre minhas preocupações a respeito de meu filho. ( ) Instruções para o preenchimento: Para cada estratégia utilizada para lidar com os problemas relativos ao seu filho, lembre-se o quanto ela foi útil e escreva um número ao lado da alternativa escolhida: (3) Extremamente útil (2) Moderadamente útil (1) Minimamente útil (0) Não útil 50 ANEXO 2 – Questionário de estresse para pais 1. Meu (minha) filho (a) não se comunica com outras crianças de sua faixa etária. V( ) ( )F 2. Os outros membros da família têm que ficar sempre cheios de cuidados por causa dele (a). V( ) ( )F 3. Nossa família concorda com coisas importantes. V( ) ( )F 4. Eu me preocupo com o que pode acontecer com ele (a) quando eu não estiver mais presente. V( ) ( )F 5. Ele (a) é limitado (a) quanto ao tipo de trabalho que poderá fazer para viver. V( ) ( )F 6. Eu acabei me conformando com a idéia de que meu (minha) filho (a) poderá ter que acabar indo viver em algum tipo de instituição. V( ) ( )F 7. Eu desisti de muitas coisas que eu queria realizar só para cuidar dele (a). V( ) ( )F 8. Ele (a) está bem adaptado ao ambiente social da família. V( ) ( )F 9. Eu me sinto incomodada pelo fato de que meu (minha) filho (a) será sempre desta maneira. V( ) ( )F 10. Eu me sinto tensa quando tenho que ir a algum lugar público com ele (a). V( ) ( )F 11. Levar ele junto para as férias acaba estragando a alegria de toda a família. V( ) ( )F 12. Eu me sinto deprimida com o rumo que minha vida tomou. V( ) ( )F 13. Algumas vezes eu me sinto constrangida e envergonhada por causa dele (a). V( ) ( )F 14. Ele (a) não faz tantas coisas quanto poderia fazer. V( ) ( )F 15. É muito difícil se comunicar com ele (a) porque tem sempre dificuldade de compreender o que é dito. 16. Ele (a) é super protegido (a). V( ) V( ) ( )F ( )F 17. Meu (minha) filho (a) tem muito tempo livre. V( ) ( )F 18. Eu fico frustrada pelo fato dele (a) não levar uma vida normal. V( ) 19. O tempo custa a passar para ele (a), principalmente nas horas livres. V( ) ( )F 20. Ele (a) não consegue prestar atenção por muito tempo. V( ) ( )F ( )F 51 21. Eu me preocupo com o que vai acontecer com ele(a) a medida que for ficando mais velho(a). V( ) ( )F 22. Eu estou sempre tão cansada que nunca consigo aproveitar. V( ) 23. Existe muita raiva e ressentimento em nossa família. ( )F 24. Ele (a) pode tomar um ônibus sozinho (a). V( ) V( ) ( )F ( )F 25. As constantes exigências impostas pelo cuidado dele (a) limitam o meu crescimento e desenvolvimento pessoal. V( ) ( )F 26. Eu me sinto triste quando penso nele (a). V( ) ( )F 27. Eu me preocupo frequentemente com o que vai acontecer com ele (a), quando não puder cuidar dele (a). V( ) ( )F 28. As pessoas não conseguem entender o que ele (a) tenta falar. V( ) ( )F 29. Tomar conta dele (a) é uma fonte de estresse para mim. 30. Ele (a) sempre será um problema para nós. V( ) 31. Ele (a) precisa usar fraldas ou plásticos na cama. 32. Eu estou sempre preocupada. V( ) V( ) ( )F ( )F V( ) ( )F ( )F Instruções para o preenchimento: 1. Responda com relação ao seu filho hiperativo. 2. Em cada questão você deverá marcar V (se a alternativa com relação à criança for verdadeira) e F (se for falsa). 52 ANEXO 3 – Declaração DECLARO para os devidos fins que o relatório intitulado: REFLEXÕES SOBRE A CRIANÇA HIPERATIVA: FAMÍLIA E ESCOLA, resultante do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) do curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ de autoria de: DAIANA TEREZA DA SILVA, está de acordo com o Manual de Metodologia USJ 2008, se encontra dentro das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e segue a norma culta da Língua Portuguesa. São José, 15 de Janeiro de 2010. DECLARAÇÃO DA PESQUISADORA DECLARO, para fins de realização de pesquisa, ter elaborado esta Declaração, cumprindo as exigências éticas. São José, 15 de Janeiro de 2010. _____________________________________ Assinatura da Pesquisadora