As Intermitências da Morte

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TRATAMENTO RESTAURADOR ATRAUMÁTICO NO BRASIL
RELATO DE EXPERIÊNCIAS
Márcia Cançado Figueiredo ( [email protected] )
- Professora Adjunta da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do RS.
- Coordenadora do Curso Extensão Universitária: Bebê Clínica da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- Coordenadora do Curso Extensão Universitária: Atendimento Odontológico aos indivíduos portadores de necessidades
especiais da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- Mestre e Doutora em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo
Sônia Maria Blauth de Slavutzky ( [email protected] )
- Mestre em Educação e Comunicações - Universidade de Pittsburgh / Pennsyslvania, USA;
- Mestre em Odontologia Social pela UFRGS e Doutora em Odontologia social pela UFF.
• Mircelei Saldanha Sampaio - Professora da Bebe Clinica da Faculdade de Odontologia UFRGS
• Marisa Maltz - Professora Titular da Faculdade de Odontologia UFRGS
• Joseana Barison Sperb - Professora da Especialização em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia UFRGS
• Page William Caufield - Universidade do Alabama -UAB/USA
• ARONITA ROSENBLATT Professora Titular da Disciplina de Odontopediatria da FOP-UPE
• Maria do Carmo Freitas da Costa - ANVISA / MS;
• César Dantas Guimarães - FUNASA - PE;
• Eliana Maria de Oliveira Sá - Consultora do DESAI/FUNASA;
• Eugênia Belém Calazans Coelho - DESAI/FUNASA;
• Maria Aparecida Araujo Guerra - Consultora do DESAI/FUNASA.
1. Restaurações Atraumáticas - Usos e Limitações
Introdução
As restaurações atraumáticas foram definidas por Frencken (1994) como sendo restaurações feitas
sem a utilização de instrumentos rotatórios, sem anestesia e nas quais as camadas mais profundas
do tecido cariado são deixadas sob o material restaurador. O material utilizado para restaurar este
tipo de cavidades é o ionômero de vidro. O ionômero apresenta um bom selamento da cavidade e
se adere ao esmalte e a dentina. Apresenta ainda, biocompatibilidade com a polpa e dentina. As
bases científicas para a realização deste tipo de restaurações partiram dos trabalhos sobre
capeamento pulpar indireto de Aponte em 1966, de Sheiham e McDonald em 1994, que por sua
vez se utilizaram dos conhecimentos relatados por Hojo e outros que estudaram o pH e o perfil
ácido das lesões sob as restaurações e descobriram que este era semelhante ao das lesões
crônicas. A técnica utiliza o conhecimento há muito observado e praticado por cirurgiões dentistas
do mundo inteiro, através do capeamento pulpar indireto. (Fisher, 1972, King, 1965) Com o
advento destes novos materiais restauradores começaram a surgir possibilidades de uso de uma
tecnologia avançada e ao mesmo tempo apropriada (Nadanovsky, 1997) As limitações do uso das
restaurações atraumáticas são, basicamente, devido ao maior desgaste superficial e a menor
dureza do material restaurador quando comparado com os materiais convencionais como o
amálgama e as resinas compostas. Poder-se-ia extrapolar a partir dos resultados que vem sendo
obtidos em muitos estudos de que o uso da broca e da anestesia estaria com os dias contados,
desde que a indústria de materiais odontológicos resolvesse os dois problemas que tem restringido
o uso deste tipo de restaurações. A partir disto, teríamos então aberta a possibilidade de emprego
em muito maior escala destas restaurações que além de serem menos dolorosas e menos
traumáticas preservam uma maior quantidade de tecido dentário. Esta preservação se verifica
devido ao maior controle do operador quando da remoção da dentina cariada. Nada de tecido
dentário são é removido com o instrumento manual, o que, muitas vezes acontece quando o
operador está utilizando instrumentos rotatórios (Elderton, 1983) Esta vantagem, tem entretanto
uma desvantagem quando da abertura das cavidades onde há cárie oculta, isto é, onde a camada
superficial de esmalte está somente com uma pequena abertura e não permite a passagem do
instrumento manual.
A recomendação de Frencken nestes casos é a de que devem ser utilizados recortadores de bordo
ou machados para romper a camada de esmalte socavado e permitir o acesso à dentina cariada
subjacente. Este fator tem sido uma restrição ao uso da técnica, pois é cansativo e traumatizante
para o operador. No trabalho de pesquisa que está sendo realizado por um grupo de
pesquisadores da UFRGS, da UERJ e da Universidade de Londres está sendo proposta uma
modificação da técnica pela utilização da alta rotação somente para a abertura da cavidade e
somente para uso em esmalte. (Nadanovsky,1997 e Slavutzky, 1999)
A partir da divulgação do uso das restaurações atraumáticas para locais onde não havia
consultório odontológico e a medida que estas se mostraram efetivas para tratamento da cárie,
surgiram outras possibilidades para sua utilização. Dentre estas, seu uso em odontopediatria e em
geriatria tem chamado a atenção, pois são duas especialidades onde há em geral, maiores
dificuldades para o cirurgião dentista utilizar a anestesia e a broca, principalmente em pacientes
com pouca tolerância ao trabalho odontológico usual.
Resumidamente, pode-se dizer que o Tratamento Restaurador Atraumático, (ART) executado
atualmente em vários países, embora tenha sido desenvolvido com um outro propósito, contribui
decisivamente, na elucidação da necessidade de remoção completa apenas da dentina infectada,
uma vez que, a restauração do dente é sempre realizada sob um tecido desmineralizado, com um
material adesivo e liberador de flúor (cimento ionômero de vidro).
Obviamente, ainda restam muitas áreas que podem e devem ser futuramente estudadas,
promovendo um tratamento mais adequado das lesões profundas de cárie, em benefício à nossa
sociedade. A própria "Conferência Internacional sobre lesões profundas de cárie" relatada por
LANGELAND em 1969 indica que existe um profundo e antigo interesse da Odontologia em
oferecer ou buscar uma solução para este problema.
Indicações sociais
As indicações sociais para utilização das Restaurações Atraumáticas continuam sendo as mesmas
feitas por Frencken, referendadas pela Organização Mundial da Saúde, ou seja, para situações
onde não existam consultórios odontológicos e os cirurgiões dentistas não tenham possibilidade de
restaurar dentes cariados pelos meios habituais. Incluem-se aí comunidades rurais e excluídos
sociais. Existem também situações onde pacientes vem a procura de atendimento e, devido a dor
e a impossibilidade de conseguir outro tipo de atendimento solicitam ao cirurgião dentista a
extração do dente. Nestes casos, muitos cirurgiões dentistas se enfrentam com uma situação onde
sabem que a peça dentária poderia ser restaurada, mas que se for deixada sem tratamento vai
evoluir e invibializar o tratamento, pois este ao ser mais complexo com o avanço da doença
também exigirá maior complexidade e custo para tratamento. Também nestes casos e, desde que
seja testada a vitalidade pulpar, pode-se recorrer ao uso das restaurações atraumáticas. A
utilização da técnica em escolas da rede pública, mesmo nos grandes centros vem sendo, no
entanto, uma forma de proporcionar atendimento curativo para centenas de crianças na própria
escola. Esta técnica permite que a sala de aula se transforme temporariamente num consultório
odontológico e que ali mesmo as crianças recebam atendimento. A grande vantagem deste
procedimento é que todas cáries em dentes temporários e permanentes são tratadas, impedindo o
desenvolvimento das lesões que de outra forma teriam ficado sem atendimento. Dor e sofrimento
são poupados a muitas dessas crianças, além da adequação da cavidade bucal que oportuniza
uma diminuição da quantidade de bactérias cariogênicas através da eliminação das cavidades. Isto
colabora para a existência de uma dentadura permanente mais saudável. Deve-se salientar,
entretanto que a cada programa curativo realizado na escola deve corresponder igual número de
programas educativos e preventivos. Desta forma estará sendo evitada, tanto a progressão da
doença atual, como a aparição de novos casos.
Indicações Psicológicas
Apesar dos avanços da tecnologia ainda existe um grande número de pessoas que, tendo ou não
passados por traumas no consultório odontológico não se deixam atender pois não suportam o
ruído da alta rotação, nem a vibração do micromotor. Para este tipo de pacientes o uso das
restaurações atraumáticas é de muita importância. No mesmo grupo de pacientes, ou em um grupo
aparte estão aqueles que temem a agulha ou a sensação da anestesia. A restauração atraumática
também nestes casos é providencial. A sua grande limitação seria para os casos onde há
reincidência de cárie e há, portanto necessidade de remoção da restauração anterior. Ressalta-se
ainda os casos de pacientes que não suportam o uso do isolamento absoluto por terem sensação
de muito desconforto. Dentro deste mesmo grupo poder-se-ia incluir o grupo de pais que se
sentem mal de ver os filhos pequenos submetidos ao uso do isolamento absoluto, que embora dê
ao profissional melhores condições de trabalho, pode causar sensações desagradáveis ao
paciente. Neste grupo seria possível também incluir cirurgiões dentistas que pensam que em
muitos casos não se justifica o uso de isolamento absoluto onde o tipo de tratamento não
necessitaria de anestésico, mas a colocação do grampo exigiria tal procedimento. Há ainda
cirurgiões dentistas que questionam o uso do isolamento absoluto devido a dilaceração causada
no tecido gengival quando da aplicação do grampo.
Indicações Clínicas
As indicações clínicas se referem a todos os casos onde se deseja preservar maior quantidade de
tecido dentário, seja esmalte, dentina ou cemento. Quando a remoção do tecido cariado é feita
manualmente, há menor possibilidade de remoção de tecido dentário sadio junto com a remoção
de tecido cariado. A sensibilidade do operador está mais próxima da lesão e a remoção de tecido
sadio seria dificultada com o instrumento manual exigindo maior força do operador para o corte de
tecido sadio somente com a colher de dentina. Uma segunda indicação clinica seria a diminuição
da dor durante o preparo cavitário. Como a restauração atraumática permite que o tecido cariado
mais profundo permaneça, o limite da restauração é aquele onde a maior quantidade possível de
tecido cariado tenha sido removida, mas também quando da sensação dolorosa referida pelo
paciente. Nestes casos, e, onde o cirurgião dentista ficou muito em dúvida vale a mesma indicação
de retorno do paciente ao final de seis meses para que a restauração seja radiografada a fim de
controlar uma possível evolução da cárie. Em todos casos recomenda-se avisar ao paciente a
respeito da condição e pedir que este retorne se tiver dor pós operatória. Seguindo nesta mesma
linha de raciocínio, pode-se prever que a dor pós operatória também seja menor, pois na
restauração atraumática , menor quantidade de tecido dentário é removido.
Uma terceira indicação clínica do uso das restaurações atraumáticas é em geriatria, em diversas
condições. Dentre as principais citamos as restaurações de cáries de raíz, e em todas onde se
deseja a preservação de dentes enquanto se aguarda para realização de outros tratamentos mais
complexos. (Padilha) Uma outra indicação clínica seria para aqueles casos onde não seja possível
no momento, outro tipo de restauração por falta de condições econômicas do paciente, por
impossibilidade do cirurgião dentista realizar outro tipo de restauração, por dor, medo ou pela
inexistência das condições habituais de atendimento. Isto é para casos, onde se não fosse tentada
a restauração atraumática o único tratamento seria a exodontia. Seria a tentativa de dar mais um
tempo até que as condições adversas do momento fossem mudadas.
Indicações Médicas
Sempre que haja contraindicações médicas para o uso de anestesia devido a problemas de
alergia, incompatibilidade medicamentosa, ou outros. A restauração atraumática serve de
importante ferramenta para o cirurgião dentista solucionar o problema de tratamento de cárie do
paciente. Relacionada a esta indicação médica também se encontram os casos onde deve-se
diminuir o stress do paciente frente ao atendimento odontológico. Nestes últimos cita-se a atenção
odontológica a todos pacientes acamados, hospitalizados que estejam em momentos de vida de
grande tensão onde a anestesia ou a broca fossem "a gota dágua" para desencadear uma crise de
angústia ou de stress. As restaurações atraumáticas também são de grande utilidade para pessoas
que por uma ou outra razão não podem ir até um consultório odontológico. Os pacientes chamados
especiais como os com síndrome de Down ou outras seriam indicações médicas para o uso das
restaurações atraumáticas. Em muitos destes casos poderiam até eliminar a indicação de
anestesia geral para atendimento odontológico.
Preparação do local
Antes de iniciar o trabalho e, o local deve ser preparado. Duas mesas escolares colocadas juntas
servem para deitar o paciente. Uma cadeira para o operador e uma para o auxiliar, mais uma mesa
auxiliar são os mínimo necessário. As mesas para o paciente ainda podem ser bancos, como os de
campanha. Como os bancos recomendados por Frencken et al.. Deve haver ainda uma mesa para
o material e instrumental de suporte, um local para lavar e desinfetar o instrumental. No caso de
estar-se utilizando uma sala de aula, junta-se quatro mesas escolares para esta finalidade.
Providenciar também um local para o lixo, que não esteja a mão para os pacientes, pois em geral,
nas comunidades carentes as luvas de borracha e as máscaras atiradas no lixo são coletadas para
brincar.
O local deve abrigar os pacientes e os operadores do frio e do calor excessivos. O controle da
infecção deve ser feito, tanto pela utilização de máscaras e luvas, quanto pela manutenção de
instrumentais e mesa de trabalho rigorosamente limpos e organizados (foto 2) Uma cubeta com
cidex e outra com álcool devem estar à mão para que o material utilizado seja limpo com álcool e
imerso na cubeta com cidex ou similar. No caso de dois ou mais operadores, deve haver pelo
menos duas cubetas com cidex para que o tempo mínimo de desinfecção seja atingido.
A posição de trabalho mais utilizada é a das 12 horas, ou seja o operador atrás da cabeça do
paciente. Para outras posições há maior dificuldade, pois o banco ou cadeira do operador não tem
rodinhas para deslizar, bem como o chão em geral nestes locais mais necessitados não seria liso
para o uso de bancos deslizando sobre rolimãs. A mesa auxiliar e o assistente se posicionarão de
forma a facilitar ao máximo o trabalho do operador. Há muitos casos em que um auxiliar pode
trabalhar concomitantemente com dois operadores, isto é ficar entre duas mesas operatórias.
Características Clínicas do Ionômero de Vidro
Dentre as características mais importantes para a realização das restaurações atraumáticas está a
da adesão deste material ao esmalte e a dentina, de formas a proporcionar um bom selamento
marginal. A lenta e continuada liberação de flúor tem sido responsável pela hipótese de que esta
liberação de flúor seria responsável pela involução da cárie e também pela sua remineralização. O
ionômero apresenta uma boa compatibilidade com a polpa e com a dentina.
Outras razões para utilização de Restaurações Atraumáticas
O desenvolvimento de programas de Restaurações Atraumáticas propicia o desenvolvimento do
espírito de solidariedade entre os alunos de Odontologia e serve para demonstrar aos alunos a
possibilidade de intervir para melhorar as condições de saúde bucal, mesmo fora das condições
usuais de tratamento. Esta experiência proporciona ainda, aos alunos de odontologia uma
integração com a comunidade e lhes oferece meios de atuar mesmo frente a realidades adversas.
Foto 1 - Operador em posição de trabalho, com iluminação por lanterna. Trabalho sendo realizado
em uma sala de aula.
Foto 2 - Atendimento numa sala de aula de uma escola itinerante
2- A ART na visão da Disciplina de Odontopediatria da FOP-UPE
Dra. ARONITA ROSENBLATT - Professora Titular da Disciplina de Odontopediatria da FOP-UPE
O declínio da cárie dentária é uma realidade entre as crianças de 6 a 12 anos, em todo mundo e
também no Brasil mas, a revisão da literatura sugere que a prevalência de cárie em dentes
decíduos parece se manter estável ( LITT, RESIN, TINANOFF, 1995, VEERKAMP e WEERHEIJM,
1995, MILNES,1996, TINANOFF,1998 e outros)
Não há dúvida de que cárie em pré-escolares seja um assunto de maior importância pois acomete
minorias menos favorecidas socioeconomicamente, nos países desenvolvidos e em muitos outros
em desenvolvimento (LITT, RESIN, TINANOFF, 1995, MILNES,1996, MEHROON,1998, e outros).
Essa patologia, além de trazer dor e sofrimento a crianças em uma faixa etária especial, segundo
AYHAN, SUSKAN, TILDIRIM ( 1996), acarreta baixo peso, em torno de 80% do normal e estatura
reduzida.
Na Cidade do Recife, em 1999( ROSENBLATT,1999) registrou-se entre 468 crianças examinadas
clinicamente, entre 6 e 36 meses 28,4%, 133 crianças, apresentavam cárie precoce da infância
com o comprometimento de mais de uma superfície vestibular dos incisivos superiores; incluindo
manchas brancas.
A prevalência da cárie aumentou com a faixa etária, variando de 8,7% na faixa de 12 a 18 meses a
46,2% na faixa de 25 a 36 meses. A associação entre a faixa etária e a ocorrência de cárie é
fortemente significativa .
Aos 5 anos, esta patologia compromete mais de 50% dessas crianças carentes (
MARQUES;COLARES, 2001), com severo comprometimento dos molares decíduos.
Ressalta-se que entre as crianças de classe média e alta, esta patologia, aos 36 meses,
compromete 2% da população e se apresenta como manchas hipoplásicas em incisivos, evoluindo
apenas em molares, com comprometimento aclusal, não apresentando severidade com a idade.
Para o tratamento dessas lesões cariosas de aparecimento precoce, sugere-se a adoção de
técnicas atraumáticas restauradora e psicológicas, para a construção da cidadania do brasileiro do
futuro.
A disciplina de Odontopediatria da FOP-UPE vem realizando restaurações atraumáticas em
molares decíduos e permanentes desde 1991, tendo o controle das mesmas sido procedido
apenas com interesse clínico, com publicações no mesmo nível das observações.
Em uma avaliação completa de um programa comunitário realizado pela Prefeitura municipal de
Camaragibe, o estudo falhou no sentido da perda, no tocante da amostra e dos dentes decíduos
presentes, na ocasião do exame clínico. Outro aspecto que contribuiu para que os resultados não
fossem fidedignos residiu na falta de padronização da técnica restauradora.
Em termos de controle sistematizados com estudo comparativo padronizado, randomizado e duplocego, estamos conduzindo o primeiro trabalho, cujo título é: Eficácia de restaurações simplificadas
utilizando cimentos de ionômero de vidro: aplicabilidade clínica e controle da atividade de cárie que
envolve 245 restaurações em molares decíduos com prévia classificação das cavidades quanto ao
número de faces comprometidas.
As imagens das restaurações estão sendo armazenadas em computador e nos períodos préfixados (6 meses, 1 ano) um examinador externo categorizará as restaurações e classificará os
resultados conforme critérios pré-estabelecidos. Este será o primeiro estudo com resultados
confiáveis e discutido com suporte de uma revisão crítica da literatura.
Quanto aos nossos achados clínicos, as restaurações atraumáticas são superiores em manejo a
qualquer outra forma convencional de restauração que envolva preparos às custas de tecidos
dentários sadios.
Essas restaurações adesivas, tanto de compômero quanto de compósito, têm se constituído em
êxito clínico exceto no tocante ao uso de cimentos onômeros tradicionais(ex.Vidrion,etc) que
sofrem solubilidade excessiva.
É evidente a redução da atividade de cárie nos indivíduos tratados pela referida técnica , embora
não atribuímos ao fato a suposta liberação do flúor e sim à adequação do meio bucal.
Em nossa experiência clínica, após a constatação de que a cárie precoce na infância é uma
doença polarizada, para o atendimento da demanda de até 50% de uma população carente,
acometida da síndrome, a característica atraumática, restauradora e psicológica é adequada e
superior às tradicionais.
3- A inserção do tratamento restaurador atraumático na assistência à saúde bucal dos
povos indígenas no Brasil
O propósito de implantação no Brasil de uma Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas, em consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde - SUS, requer a adoção
de um modelo complementar e diferenciado de organização dos serviços, que levem em conta as
especificidades culturais, epidemiológicas desses povos. Estudos recentes têm demonstrado que
nas populações indígenas, persiste um quadro epidemiológico severo em saúde bucal.
A discussão sistematizada das diretrizes para atenção à saúde bucal dos povos indígenas vem
acontecendo com os Cirurgiões dentistas que trabalham nos 34 Distritos Sanitários Especiais
Indígenas (DSEI), em todo o Brasil, através de oficinas macro regionais (Manaus, Palmas, Curitiba,
Recife).
Em linhas gerais estas diretrizes almejam:
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Garantir a incorporação de procedimentos coletivos e individuais em locais onde não há
consultórios odontológicos
Adequar a prática de controle de infecção intra-bucal onde já existem consultórios
instalados
Propiciar uma ação mais integrada com as outras áreas da saúde e a utilização de outros
espaços sociais para o desenvolvimento de ações coletivas de saúde bucal
Consolidar a prática efetiva de discussão local com a população indígena sobre as ações
desenvolvidas
Utilizar a epidemiologia como instrumento organizador da assistência
Propiciar a mudança do enfoque assistencial (individual para coletivo)
Incorporar a atuação de recursos humanos auxiliares no controle da incidência das
doenças bucais
Organizar a demanda
Estruturar um sistema de informação em saúde bucal que permita o controle e avaliação
das atividades desenvolvidas
Para viabilizar a assistência à saúde bucal, um elenco mínimo de atividades está colocado para ser
universalizado à população indígena. Trata-se de procedimentos coletivos e individuais que estão
em consonância com as Normas Operacionais Básicas do Ministério da Saúde (NOB 96 e NOAS
2001).
Os procedimentos citados (educação em saúde, atividades com flúor, higiene bucal
supervisionada) e o levantamento de necessidades criam condições mais adequadas para o
atendimento clínico individual. Numa primeira fase é feito, em todos os indivíduos, o controle da
infecção intra-bucal - raspagem, polimento / escovação, exodontia, drenagem de abcesso,
pulpotomia, escariação e selamento de cavidades - ART.
A segunda fase das ações de saúde bucal é constituída pela reabilitação funcional e social, através
dos tratamentos com prótese totais e parciais.
A terceira fase consiste na definição, no DSEI, de um sistema de referência e contra- referência
para as especialidades de endodontia, peridontia e tratamento de lesões de mucosa.
A implantação destas diretrizes será discutida com a população indígena, nos Conselhos Locais e
Distritais. Na saúde bucal indígena, o desafio de responder a uma demanda acumulada de
tratamento restaurador, num curto espaço de tempo, de forma "definitiva" (se é que este termo
pode ser aplicado em saúde bucal) requer a adoção de estratégias e ações alternativas.
A técnica do ART favorece a universalização do controle da infecção intra-bucal (1ª fase) pelas
seguintes características:
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•
•
Possui menor número de etapas operatórias que a técnica convencional restauradora
(preparo cavitário mínimo, não é necessária a utilização de anestésico)
Permite a remoção da biomassa infectada em todos os dentes com indicação, numa única
sessão
Não demanda, necessariamente, a utilização de consultório odontológico, garantindo o
atendimento individual a populações que residem em locais de difícil acesso.
O ART possibilita a integralidade das ações na medida em que cria condições para responder a
questões básicas e permitir o acesso ao nível hierárquico especializado. Sua contribuição é valiosa
quando se refere à construção dos Sistemas Locais de Saúde Bucal
4- Experiência com a ART nas ilhas do arquipélago do Rio Guaíba, na cidade de Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
No Brasil ainda observa-se em determinadas regiões, como na Ilha das Flores, uma ilha do
arquipélago do Rio Guaíba, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil um alto índice de
cárie em crianças, que por sua vez também apresentam um elevado nº de UFC de S. mutans por
ml de saliva. Diante deste fato, um novo método de tratamento para a doença cárie denominado
Técnica de Tratamento Restaurador Atraumático (ART), está sendo preconizado pela Organização
Mundial da Saúde. Este, beneficia populações carentes com atividade de cárie e necessidades
restauradoras, que tenham dificuldades de acesso a uma assistência odontológica convencional.
A ART consiste na remoção da dentina infectada das cavidades, usando apenas instrumentos
manuais, sob isolamento relativo, restaurando-as com um material adesivo, Cimento de Ionômero
de Vidro, devido às suas propriedades físicas e químicas. (FRENCKEN,J. et al.,1997)
Por outro lado, a Clorexidina é um antimicrobiano que pode ser usado a longo prazo na terapia
anticáries por reduzir o nível de infecção de S.mutans em crianças (TWETMANN e PETERSSON,
1997) .
O objetivo deste trabalho foi avaliar a remoção de dentina infectada (ART), associada a
desinfecção da cavidade bucal com a clorexidina, nos níveis salivares de S. mutans de crianças
escolares
A população alvo constituiu de crianças residentes nas Ilhas do Arquipélago do Rio Guaíba, Rio
Grande Do Sul, Brasil. A Idade destas Crianças variaram De 6 a 11 anos, apresentavam índices de
ceos e/ou CPOS ³ 4 à 8 e um elevado nº de UFC de S. mutans por ml de saliva ( 106 UFC/ml de
saliva ).
Foram divididas em 2 Grupos
Grupo 1 controle: Remoção parcial da dentina infectada (ART) + aplicação de solução placebo na
cavidade + restauração com Cimento ionômero de vidro KETAC MOLAR (ESPE) + aplicação de
verniz placebo em todas as superfícies dentárias.
Grupo 2 teste: Remoção parcial da dentina infectada (ART) + aplicação de solução de clorexiina à
10% + restauração com Cimento de ionômero de vidro KETAC MOLAR (ESPE) + aplicação de
verniz de clorexidina à 10% em todas as superfícies dentárias.
Seqüência de Procedimentos:
1. Duas coletas de amostra de saliva para avaliação dos níveis salivares de streptoccocos grupo
mutans, antes da realização da ART.
2. Escovação orientada pelo CD pesquisador.
3. Remoção da placa remanescente pelo profissional. Isolamento relativo do campo operatório com
rolos de algodão.
4. Abertura da cavidade com instrumento cortante manual (curetas). Remoção do tecido cariado
(dentina infectada), com movimentos circulares e horizontais a união esmalte dentina, com o uso
de instrumentos manuais(escavadores e curetas dentinárias). Limpeza e secagem da cavidade
com bolinhas de algodão. Aplicação da solução com Clorexidina à 10% no grupo teste e aplicação
de solução placebo no grupo controle.
5. Condicionamento da dentina com solução de ácido poliacrílico a 10% com bolinha de algodão,
por 10 segundos. Imediatamente após lavar a cavidade pelo menos duas vezes com uma bolinha
de algodão umedecida em água.
6. Secagem da cavidade com bolinhas de algodão.
7. Inserção do material restaurador CIV KETAC MOLAR (ESPE) , na cavidade com auxílio de uma
espátula de inserção e/ou de uma seringa centrix.
8. Após a perda do brilho da superfície do CIV KETAC MOLAR (ESPE), compressão digital do
mesmo por 30 segundos.
9. Remoção do excesso do material e ajuste oclusal com instrumento cortante manual.
10. Checar a oclusão
11. Aplicação do verniz de clorexidina em todas as superfícies dos dentes no grupo teste e
aplicação do verniz placebo no grupo controle.
12. Remoção do isolamento relativo.
13. Orientar a criança para não se alimentar pelo menos por uma hora após o término da sessão..
14. Coletar amostras salivares para avaliação dos níveis de estreptococos grupo mutans de cada
paciente após 7 e 30 dias.
A partir dos achados clínicos e microbiológicos bem como das condições sociais e econômicas
precárias encontradas na população estudada, a técnica do tratamento restaurador atraumático,
acrescida de um agente antimicrobiano, o verniz de clorexidina a 10% diminuiu o número de
streptococos do grupo mutans e houve melhora nas condições de saúde bucal destas crianças. Os
resultados obtidos foram analisados e demonstraram uma grande redução no nº de UFC S.mutans
/ ml de saliva no grupo teste após o tratamento (de 1,80x106 passou para 1,00x103 ),
diferentemente do grupo controle que apenas recebeu a ART (de 1,80x106 passou para 9,60x104).
Sem dúvida alguma, A ART é uma técnica viável de se executar em:
• Paciente cárie ativo com necessidade restauradora
• Paciente cárie inativo com necessidade restauradora
• Populações carente s- zona rural
• Faculdades de Odontologia (Clínica de Bebê, crianças especiais e/ou dificuldade
comportamental, etc..)
• Serviços Públicos de Saúde Odontológica
• Clínica privada (Bebês, crianças especiais e/ou dificuldade comportamental, paciente
hospitalizado)
A ART + Clorexidina é uma realidade viável de se aplicar :
• Paciente cárie ativo com com necessidade restauradora com um alto nível de S. mutans
3- A utilização da ART associada a aplicação de um verniz de clorexidina à 10%, é um tratamento
efetivo no controle da doença cárie de crianças com alto nº de UFC S.mutans / ml de saliva e
apresentando uma alta atividade de cárie, característica esta encontrada nas crianças brasileiras.
Data de Publicação do Artigo:
19 de Janeiro de 2004
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