Operação “leite compensado” e a questão da segurança alimentar: uma análise a partir dos consumidores de leite do município de Panambi-RS Izis Freire Santos (Universidade Federal de Santa Maria) [email protected] Tanice Andreatta (Universidade Federal de Santa Maria) [email protected] Nilson Luiz Costa (Universidade Federal de Santa Maria) [email protected] Paloma de Mattos Fagundes (Universidade Federal de Santa Maria) [email protected] Lidiane Binello (Universidade Federal de Santa Maria) [email protected] Resumo Brasil tem apresentado um consumo crescente de leite e derivados que, pode ser explicado pelo aumento da renda da população. O estado do Rio Grande do Sul possui tradição na produção leiteira, porém no ano de 2013 foram desveladas pelo Ministério Público, através da operação “Leite Compensado”, adulterações na produção de leite. O que gerou preocupações por parte dos consumidores, sobre a segurança dos alimentos que estavam ingerindo. O estudo, de natureza exploratória e quantitativa analisou as percepções e preocupações dos consumidores de leite, do município de Panambi/RS, após as fraudes constatadas no segmento de produção e processamento de leite no estado do Rio Grande do Sul. Para que o mesmo fosse realizado, utilizaram-se questionários aplicados aos consumidores do município, nos meses de abril á maio do ano de 2015. Entre os resultados destaca-se que, os consumidores de leite estão preocupados com o produto consumido, estão com receio da qualidade e das marcas disponíveis no mercado, estão adotando praticas de consumo que não passam por rigor de fiscalizações, ao adquirir o leite cru, diretamente do produtor rural por considerarem ser menos prejudicial á saúde. A partir disto, destaca-se que as falhas e ilegalidades ao longo da cadeia produtiva e a preocupação com a saúde, levam á uma situação de insegurança alimentar, mostrando que a cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul necessita de uma reconstrução de reputação, e uma garantia de que o produto produzido no estado é saudável para o consumo. Palavras chave: Adulteração, Consumidor, Leite, Segurança Alimentar. Operation “compensated milk” and the question of food safety: an analysis from the municipality of milk consumers Panambi –RS Abstract Brazil has shown an increasing consumption of milk and dairy products that can be explained by the increase in income of the population. The state of Rio Grande do Sul has tradition in milk production, but in 2013 was unveiled by the prosecutor, through the operation "Milk Compensated" adulteration in milk production. What has raised concerns among consumers about the safety of the food they were eating. The study, exploratory and quantitative analyzed the perceptions and concerns of consumers of milk, the city of Panambi / RS after fraud detected in milk production and processing segment in the state of Rio Grande do Sul. For it was performed, they used questionnaires to municipal consumers, from April to May 2015. Among the results we highlight that milk consumers are concerned about the product consumed, are afraid of the quality and brands available in the market are adopting consumer practices that do not undergo rigorous inspections by purchasing raw milk directly from farmers because they consider to be less harmful to health. From this, it is emphasized that the flaws and illegalities along the production chain and health concerns, lead to a situation of food insecurity, showing that the milk production chain in Rio Grande do Sul needs a reputation for reconstruction and a guarantee that the product produced in the state is healthy for consumption. Key-words: Consumer, Food Security, Milk, Tampering 1 Introdução De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (2014), o Brasil tem apresentado um consumo crescente de leite e derivados que, em larga medida, são explicados pelo aumento da renda da população, bem como pela diversificação do portfólio de produtos derivados do leite. Conforme o MAPA (2014), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite, com volume de produção de aproximadamente 34 bilhões de litros, em 2013. É recomendado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, que o consumo de leite anual deve estar em torno de 210 litros/ano por pessoa. Porém, no Brasil, esse consumo é de 170 litros/ano por habitante. Nesse contexto, a atividade leiteira possui espaço para crescer e se desenvolver no país (MAPA, 2014). Os nutrientes encontrados no leite são essenciais para a saúde humana, por esta razão pode ser considerado um alimento completo, em decorrência de elementos nutricionais como proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais como cálcio e fósforo (PHILIPPI, 2006). Por outro lado, todos esses componentes são favoráveis à proliferação de microrganismos, o que torna do leite um alimento que deve sofrer um alto de rigor de higiene e de controle de temperatura, desde a etapa da ordenha até o seu processamento, com vistas a mantê-lo saudável até a fase do consumo (GERMANO E GERMANO, 2011). O estado do Rio Grande do Sul possui tradição na produção leiteira, conforme o IBGE (2014). De acordo com a mesma fonte, que tange a aquisição de leite pelas indústrias processadoras no ano de 2013, encontrava-se posicionado em segundo lugar com 14,7%. De acordo com o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no Rio Grande do Sul (2015), o estado possui 198.467 propriedades produtoras de leite, destas 101.570 possuem sua produção destinada apenas para o consumo de suas famílias. Neste somatório, “84.199 vendem para indústrias, cooperativas ou queijarias ou processam a produção em agroindústria própria legalizada. Destes, 82.145 podem ser enquadrados como agricultores familiares, o equivalente a 97,6%” (IGL, 2015, p.29). Em síntese, ao mesmo tempo em que o leite tem um papel fundamental para os consumidores, à medida que reúne uma quantidade de propriedades nutricionais essenciais para o desenvolvimento, por outro, considerando o estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, existe um contingente significativo de agricultores que dependem da renda gerada pela atividade leiteira para a sua reprodução econômica e social e de sua família. No entanto, no ano de 2013 os produtores e consumidores do estado do Rio Grande do Sul, depararam-se com uma série de notícias relacionadas à operação promovida pelo Ministério Público intitulada denominada “Leite Compensado”, a partir dela ocorreu o desvelamento de ações fraudulentas relacionadas á produção de leite. A fraude consistia em elevar a lucratividade por meio do aumento do volume do leite, para tanto, era adicionado ao leite cru formol e ureia. Estes acontecimentos impactaram a cadeia láctea gaúcha como um todo, uma vez que todos os elos sofreram diversos prejuízos. Do ponto de vista dos negócios houve perdas significativas desde o elo do produtor até o elo do varejo, uma vez que reduziu a o consumo, e por consequência, a comercialização de leite. Os eventos de adulteração do leite também redundaram em um impacto negativo na reputação do setor, pois o leite processado no estado, motivado pela qualidade comprometida do produto, sofreu perda de confiança por parte de seus consumidores. Notas divulgadas pela ANVISA mencionando que substâncias como o formol, se ingerido, podem causar uma série de doenças, como diversos tipos de câncer (AGÊNCIA BRASIL, 2013) suscitaram o debate em torno da (in) segurança alimentar e como os consumidores percebem a questão da qualidade dos alimentos. De acordo com Costa et al (2000), tem havido nos últimos anos, por parte dos consumidores, um aumento da preocupação com a segurança alimentar, bem como com a qualidade dos alimentos. Por isso, aspectos como a higiene adequada, métodos de produção, uso de agrotóxicos e biotecnologia são fatores considerados quando se trata de escolher um produto para o consumo (COSTA et al., 2000). Neste sentido, o objetivo neste estudo consistiu identificar a percepção e/ou o comportamento do consumidor de leite do município do município de Panambi- RS, mediante aos eventos de adulteração de leite no estado Rio Grande do Sul. 2 Comportamento e percepção do Consumidor a respeito de produtos agroalimentares Ao observar as os aspectos teóricos das decisões de consumo, sugere-se que uma série de fatores compõe o processo da decisão de compra por produtos. Primeiramente coloca-se em pauta a restrição orçamentária, ou seja, o consumidor escolhe por adquirir ou não adquirir produtos, de acordo com a sua renda. (STIGLITZ; WALSH, 2003). A incessante busca por conhecer o cliente, saber qual são seus desejos, atender as suas expectativas, e inovar em amplas formas, são conhecimentos oriundos dos conceitos de marketing, que visa proporcionar melhores opções de produtos ou serviços, para consumidores. De acordo com Crocco et. al. (2013) o marketing está presente em diversos setores, possuído pesquisadores e praticantes no mundo todo, por esse motivo que novas ideias e ações, podem ser identificadas a todo momento. As necessidades humanas são as impulsionadoras das atividades econômicas e a alimentação é uma das razões pelas quais o agronegócio existe. Porém, atender as expectativas do mercado consumidor é imprescindível para todos aqueles que estão relacionados ao agronegócio (MENDES E JUNIOR, 2010). Segundo Tejon e Xavier (2009, p. 197), conforme o passar do tempo, as preferências humanas por alimentos estão sempre mudando, “o mundo se transforma, aumenta a informação, os desejos são ampliados e isso gera demanda e busca por alimentos diferenciados e diferentes”. O consumo por alimentos continuará aumentado e também com esse crescimento o anseio por produtos novos. Alguns fatores imperam na hora de decidir a compra de alimentos, geralmente devido à importância agregada aos mesmos como “frescor, nutrição, sabor, segurança, preço e conveniência” (NEVES E CASTRO, p. 74, 2011). Apesar de estar no contexto do processo de escolha por parte dos consumidores, o preço muitas vezes não é algo primordial, fatores que dizem respeito à sanidade dos alimentos, benefícios ou malefícios à saúde são levados em consideração. 3 Aspectos da segurança alimentar e qualidade dos alimentos O conceito de segurança alimentar pode ser apresentado de diversas formas, primeiramente está relacionado ao combate á fome. Conforme a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional, todas as pessoas devem ter acesso a alimentos saudáveis, com preços acessíveis, e em quantidades satisfatórias de forma á atender a população. A alimentação é direito de todos e os alimentos produzidos devem ser comprometidos com a saúde (CONSEA, 2006). Para atender a demanda da população por alimentos, torna-se necessário uma intensificação da produção. Para tanto, Conteratto et. al. (2013) sugere que a agricultura familiar deve ser fortificada, recebendo estímulos para produzir e diversificar os seus produtos, desta forma obterá meios de expandir a disponibilidade de comida no mercado, dando sustentabilidade à segurança alimentar. Outro aspecto relevante é a de que a segurança alimentar se trata de princípios de “produção, transporte e armazenamento de alimentos visando manter características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos são adequados para consumo, essas regras visam atender as necessidades comerciais e sanitárias” (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2008, p. 32). Por outro lado, para Carmichael et al. (2007), a insegurança alimentar é caracterizada acesso limitado aos alimentos e inclui problemas com a quantidade de alimentos, qualidade dos alimentos e a incerteza sobre o abastecimento de alimentos afetando a saúde em vários aspectos. De acordo com SAAB (1999), a questão agroalimentar ganha espaço à medida que ocorrem alterações de hábitos, gostos e preferências os consumidores. Neste contexto, ao mesmo tempo que aumenta as exigências dos consumidores, o conceito de qualidade ganha mais importância. Para Toledo (2001), tem se observado uma mudança no conceito de qualidade, de tal maneira que tem aproximado mais da satisfação das preferências do consumidor (visão subjetiva). Essa mudança é o resultado da percepção de diversas características dos objetos diferentemente da “perfeição técnica” mais associada uma visão objetiva (TOLEDO, 2001). Os produtos que possuem industrialização em larga escala, exigem uma maior fiscalização quanto à sua sanidade, e é função do Estado promover meios de inspecionar e regulamentar os meios de produção. O Brasil por sua vez, possui algumas formas de fazer essa fiscalização, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2013) que trabalha nos diversos setores da economia, em que a atividade destes possam atingir a saúde das pessoas, quanto aos alimentos devido as várias inovações tecnológicas possui por objetivo diminuir riscos atrelados ao consumo de alguns ingredientes inseridos nos mesmos. Outro órgão que regulamenta é o RIISPOA-Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (art. 1º, 1952), sendo sua função estabelecer regras e inspecionar sanitariamente alimentos, e os produtos que precisam ser inspecionados se tratam de “animais de açougue, a caça, o pescado, o leite, o ovo, o mel e a cera de abelhas e seus subprodutos derivados”. A inspeção procede sob a ótica indústria para produtos que sejam ou não destinados á alimentação humana, e as etapas que devem passa por esta vistoria se tratam de “recebimento, manipulação, transformação, elaboração, preparo, conservação, acondicionamento, embalagem, depósito, rotulagem, trânsito e consumo de quaisquer produtos e subprodutos, adicionados ou não de vegetais” (RIISPOA, art. 1º, 1952). De acordo com a FAO (2014, p. 21), é necessário estabelecer meios de conexão entre as etapas de produção e o momento que atinge a fase de consumo, colocando em evidência a necessidade de “maior controle da inflação e da volatilidade dos preços dos alimentos, e o acesso a alimentos saudáveis e inócuos”. Os aspectos relacionados à insegurança alimentar e nutricional, a má alimentação, podem ser evidenciados sob os seguintes fatores preponderantes segundo o CONSEA (2006, p.4) “fome, obesidade, doenças, consumo de alimentos de qualidade duvidosa ou prejudicial à saúde, estrutura de produção de alimentos predatória e bens essenciais com preços abusivos e imposição de padrões alimentares que não respeitem a diversidade cultural”. 4 Material e métodos A pesquisa foi realizada com consumidores de leite no município de Panambi – RS. A coleta de dados primários ocorreu no referido município de, geograficamente localizado na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O município possui aproximadamente 38.058 habitantes. Para tanto, utilizou-se como parâmetro de amostra a população economicamente ativa do município, que de acordo com o IPEAData (2015), é de 17.903 indivíduos. Com base na população economicamente ativa, obteve o cálculo de tamanho da amostra, a um nível de confiança de 95%. O resultado do cálculo amostral denotou a necessidade de aplicação de 376 questionários. No entanto, foram aplicados 389 questionários, realizados de forma aleatória. O período de coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e maio do ano de 2015. Foi utilizada a escala Likert, que serviu para identificar a reação ou a intensidade do consumidor mediante a cada questão proposta. O instrumento de coleta de dados possuía 56 questões, 08 destas são de natureza qualitativa, e com questões abertas, as demais, (48 questões) eram fechadas. Através da pesquisa de campo buscou-se contemplar aspectos como a percepção do consumidor de leite quanto aos responsáveis pela adulteração do leite; levantamento dos impactos mercadológicos das adulterações quanto aos preços do produto; identificar a confiança por produtos comercializados diretamente pelos produtores; e analisar o comportamento da demanda perante as mudanças nos preços relacionando-as a renda. 5 Perfil dos consumidores de leite do município de Panambi-RS Para Kotler e Keller (2006), as decisões do comprador também são influenciadas por características pessoais, como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, personalidade, autoimagem, estilo de vida e valores, levando as pessoas a comprarem diferentes artigos e serviços durante a vida (KOTLER; KELLER, 2006). Com base em Kotler e Keller (2006), o perfil do consumidor de leite pode revelar elementos importantes para compreender o comportamento do consumidor de leite município de Panambi (RS), conforme Tabela 1. Percebe-se que 59% dos respondentes são do sexo feminino e 40,87% são do sexo masculino. Em relação à renda mensal média familiar dos respondentes destaca-se que 33,68% possuem renda de 3,1 a 5 salários mínimos e 32,65% sua faixa de renda mensal familiar é de 1,1 a 3 salários mínimos. No que se refere ao número de pessoas que residem no mesmo domicílio, averiguou-se que 33,93% das famílias dos respondentes residem com até três pessoas na mesma casa, e 29,31% destes residem com até quatro pessoas. Quanto à escolaridade dos entrevistados, observa-se que, 25,45% possui o ensino superior incompleto, quando 23,14% conseguiu concluir o ensino médio. O estado civil da amostra encontra que estão 53,47% casados, 30,85% dos pesquisados estão solteiros. Variáveis Sexo Renda Mensal Familiar Número de pessoas na mesma residência Alternativas Entrevistados Porcentagem Feminino 230 59,13% Masculino 159 40,87% Até 1 salário mínimo 09 2,31% De 1,1 a 3 salários mínimos 127 32,65% De 3,1 a 5 salários mínimos 131 33,68% De 5,1 a 7 salários mínimos 62 15,94% De 8,1 a 9 salários mínimos 28 7,20% De 11,1 a 13 salários mínimos 16 4,11% Mais de 13 salários mínimos 09 2,31% Não sabe/ não respondeu 07 1,80% 01 09 2,31% 02 106 27,25% 03 132 33,93% 04 114 29,31% 05 19 4,88% 06 05 1,29% 07 01 0,26% 08 03 0,77% Ensino Fundamental Incompleto 36 9,25% 22 5,66% 44 11,31% 90 23,14% 99 25,45% 68 17,48% 30 7,71% Solteiro 120 30,85% Casado 208 53,47% União Estável 39 10,03% Viúvo 07 1,80% Outro 14 3,60% Não sabe/ não respondeu 01 0,26% Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Escolaridade Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Pós-Graduação Estado Civil Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015). Tabela 1- Perfil geral dos consumidores de leite do município de Panambi – RS Com relação a idade média dos respondentes panambienses identificou-se que a idade média das mulheres está em torno de 36 anos. Entre os homens a idade média foi de 37 anos. Quanto ao questionamento sobre a quantidade consumida de leite em litros semanalmente, verificou-se que 36,25% dos respondentes consomem até 3 litros durante a semana e 20,31% dos entrevistados consomem 1,5 a 2 litros de leite semanalmente (Tabela 2). Variáveis Consumo (litros/semana) Alternativas Porcentagem % Não 3,86% Até 1 14,14% De 1,5 a 2 20,31% De 3 a 4 36,25% De 4,5 a 5 7,71% De 6 a 7 10,80% De 8 a 9 3,86% De 10 a 14 2,83% 37 0,26% Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015). Tabela 2- Sistematização da quantidade leite consumido (litros/semana) Indagados sobre as marcas mais consumidas os respondentes mencionaram a PIÁ (65%), Elegê (63%), Ninho (45%), CCGL (26%), Parmalat (22%), Santa Clara (20%), Mimi (13%), Heja (13%), Italac (10%). Na opinião dos consumidores, estas opções se sobressaíram em relação às marcas preferidas. 5.2 Comportamento dos consumidores de leite de Panambi após os casos de adulteração do leite no RS As notícias relacionadas à operação “Leite Compensado” repercutiram em todo o estado do Rio Grande do Sul, como também no Brasil. Em larga medida a adição de produtos químicos como formol e ureia impactou a aquisição de leite no RS. Dados do IBGE, 2015 (IBGE, 2015, p. 22) demonstram que as indústrias processadoras de todas as regiões brasileiras no ano de 2014 obtiveram aumento na aquisição de leite, com exceção da Região Sul (queda de 3,4%”), muito provavelmente impactos pela perda de confiança dos consumidores na cadeia do leite. Para identificar a visão dos consumidores de leite do município de Panambi-RS quanto as adulterações do leite foi utilizado um conjunto de variáveis, conforme segue: Com o objetivo de identificar a percepção quanto à responsabilização nas adulterações do leite, foi utilizado as variáveis (X1 - a culpa das adulterações é da fiscalização; X2 - a culpa das adulterações é das processadoras (laticínios); X3 - A culpa das adulterações é do intermediários; X4 - a culpa das adulterações é dos produtores rurais). As variáveis (X5 - Após saber das adulterações passei a comprar diretamente do Produtor Rural; X6 - Consumia leite de marcas suspeitas; X7 - Diminui o consumo após saber das adulterações; X8 - Leite adulterado prejudica a saúde; X9 - Troquei de marca após saber das adulterações; X10 - Pago mais, mas compro marcas não envolvidas com adulterações) foram usadas para captar o impacto mercadológico das adulterações no preço do leite. Com intuito de mensurar a confiança no produto ofertado diretamente pelo produtor rural foram utlizadas as variáveis: X11 - O Leite cru é mais saudável e confiável; Prefiro comprar do produtor rural; e finalmente a variável: X12 Considero esta pesquisa relevante, foi usada para obter a opinião do consumidor quanto a necessidade de pesquisas relacionadas ao consumo de derivados lácteos com foco nas adulterações A Figura 1 ilustra a frequência de respostas das questões selecionadas para análise. Questionados sobre o consumo de marcas suspeitas, 51,28% dos respondentes afirmaram consumi-las e 37,69% dos mesmos responderam que não consumiam leite destas marcas. Quanto à diminuição do consumo após o desvelamento das adulterações, 50% dos entrevistados diminuíram o consumo de leite e 35% o mantiveram. Na opinião dos consumidores 60,51% acreditavam que o leite adulterado com adição de substâncias químicas, é prejudicial à saúde, já 25,90% discordaram. Após as adulterações, 51,28% dos consumidores entrevistados concordaram que efetuaram a troca de marca. Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015). Figura 1- Frequência de respostas de consumidores: questões selecionadas A reação dos consumidores tende a estar relacionada com as dificuldades de observar visualmente alterações nas propriedades do leite. De acordo com Grunert (2002), muitas das dimensões qualitativas de um produto não podem ser verificadas antes da compra, como por exemplo, o sabor que demandaria outras formas de garantir a qualidade do produto. Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015). Figura 2- Frequência de respostas de consumidores: questões selecionadas Questionados sobre a possibilidade do leite cru (in natura) ser mais saudável que leite industrializado 54,87% dos entrevistados concordam com essa assertiva. Objetivando captar a confiança dos consumidores de leite, no produto ofertado diretamente pelo produtor rural, foi questionado quanto a preferência por adquirir o leite desta forma. O resultado obtido foi o de que 34,40% das pessoas pesquisadas prefere comprar este tipo de leite. A Figura 2 traz as informações detalhadas da opinião do consumidor, frente às adulterações. Sabe-se que o preço, muitas vezes é um fator preponderante na hora da compra, contudo, na hora da compra de produtos alimentícios alguns fatores se sobrepõem e esse aspecto. Preocupados com a contaminação do leite com substâncias químicas 59,49% dos consumidores entrevistados responderam positivamente que pagaram mais caro por marcas de leite que não estavam envolvidas nas fraudes. Neste contexto, as fraudes do leite, além de causar a “quebra de confiança” ao longo de toda a cadeia, também tem proporcionado o consumo de leite informal. De acordo Franco et al. (2000) pelas suas características nutricionais, o leite é suscetível ao ataque de um número considerável de microrganismos do meio ambiente, do próprio animal, do homem e dos utensílios utilizados na ordenha. Já Maciel et al. (2003), menciona que a qualidade do leite assume destacada importância, por ser uma questão de Saúde Pública, o leite mal produzido e manipulado pode representar uma importante fonte de contaminação das Enfermidades Transmitidas por Alimentos (ETA), em decorrência de microrganismos patogênicos e deterioradores (MACIEL et al., 2003). No Brasil, o leite é obtido sob condições higiênicas e sanitárias, muitas vezes deficiente. Isso ocorre em função de números elevados de microrganismos, e com frequência é possível encontrar produtos lácteos inseguros, elaborados a partir de leite cru, a venda no comércio de todo o território nacional, ameaçando a saúde da população (CERQUEIRA, et al.,1995). Sobre o quanto as pessoas procuraram mais informações do caso 52,50% concordam que buscaram se informar mais sobre as adulterações. Mesmo mais atento às informações sobre a adulteração, muitas dúvidas pairaram quanto a origem e a qualidade do leite. Neste sentido, 46,76% dos respondentes afirmam que tem receio quanto a origem do leite que estão consumindo; 52,60% possui receio da qualidade do leite que consomem, mesmo tendo trocado de marca. Por fim, 34,10% da amostra revela que as adulterações afetaram a sua preferência por determinadas marcas. Na busca de identificar, a percepção dos consumidores quanto à responsabilização nas adulterações do leite, conforme Tabela 3. Questões Compra direto do produtor após as adulterações Procurou mais informações sobre adulterações Discordo Não Concordo parcialmente concordo e parcialment Não sabe ou nem e ou ou não totalmente discordo totalmente respondeu 48,80 15,10 34,40 1,80 30,30 15,40 52,50 1,80 Receio origem mesmo trocando de marca 33,80 17,90 46,70 1,50 Receio qualidade mesmo trocando de marca Adulterações não afetaram preferência marca Culpa dos Produtores Culpa dos Intermediários Culpa da Processadoras Culpa da Fiscalizações 30,20 15,10 52,60 2,10 52,10 12,10 34,10 1,80 59,30 14,90 24,70 1,30 26,70 17,70 53,90 1,80 14,70 18,70 65,20 1,50 8,20 11,50 78,50 1,80 Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015) Tabela 3- Percepção quanto à responsabilização nas adulterações do leite e receio do produto (em %) A pesquisa mostrou que 59,30% dos respondentes discordam que a culpa é dos produtores, 53,90% concordam que a culpa é dos intermediários, 65,20% dos entrevistados concordam que a culpa é da indústria processadora. 78,50% das pessoas pesquisadas afirmam os culpados pela adulteração de leite é da fiscalização, ou melhor, da ausência dela. De um modo geral, os respondentes da pesquisa atribuem um nível elevado de responsabilização à ausência e/ou deficiência de fiscalização. De acordo com Spers (2003), ao analisar a interação dos mecanismos formais e informais que podem contribuir para elevar a percepção da qualidade do alimento pelo consumidor identificou alguns elementos chaves. Para o mecanismo formal, o auto expõe o papel do Estado regulador, e com isso coordenar o controle e correção das falhas de mercado, conferindo um maior grau confiança por parte do consumidor. Já o mecanismo informal, relativo à imagem positiva da marca e da organização, está associado a estratégias de adição de valor ao produto. Já Pereira (2005) infere que os novos padrões de consumo dos consumidores, principalmente no que se refere à segurança dos alimentos e mudanças no estilo de vida, pressionam de maneira positiva todos os agentes da cadeia, gerando oportunidades e introduzindo novas regras e estratégias. Neste contexto, a cadeia de leite, se insere em um mercado dinâmico, formado por consumidores de todas classes sociais, nela inclusos consumidores bem informados, com idade, etnia e nível de renda variados. De acordo com Barendsz (1998), embora os consumidores reconheçam a contaminação microbiológica seja conhecida como a mais ameaçadora à saúde humana, a presença de resíduos químicos também se constitui em uma ameaça, principalmente quando os efeitos são analisados à longo prazo. Se por um lado a contaminação microbiológica pode ser controlada pelas Boas Práticas de Fabricação durante o manuseio e o processamento dos alimentos, a contaminação química é, em geral, muito difícil de ser controlada. 6 Considerações Finais A presente pesquisa teve como objetivo, identificar como os consumidores de leite reagiram em suas decisões de consumo, após saber das fraudes do leite no Rio Grande do Sul. Portanto, pode-se concluir que as adulterações no leite impactaram a opinião dos consumidores, ocorrendo a redução de confiança no produto, afetando a preferência por marcas, e primordialmente está ocorrendo um sentimento de insegurança quanto ao consumo do leite produzido no Rio Grande do Sul. O desvelamento da operação “Leite Compensado”, em alguma medida, trouxe de volta, hábitos de consumo não recomendados, como a compra de leite cru, junto aos produtores rurais, por acreditarem que o leite sendo apenas fervido é mais saudável que o leite industrializado. Observou-se também, que o consumidor está disposto a pagar um preço mais elevado por um produto de qualidade. Baseado neste estudo, destaca-se a necessidade das organizações promoverem a oferta de produtos seguros, de qualidade garantida, para afastar a desconfiança por parte dos consumidores. Para que possam permanecer no mercado e aumentar a lucratividade, ações visando à recuperação da imagem do setor leiteiro gaúcho, precisam ser efetuadas. Referências ANVISA. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim ouvidoria: abril/2013-estatísticas mensais. 2013. Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/institucional/ouvidoria/boletim/2013/83/estatisticas.html>. Acesso em: 04 de Jul. 2015. ANVISA. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para Comprovação da Segurança de Alimentos e Ingredientes Gerência de Produtos Especiais Gerência Geral de Alimentos. Brasília, 2013. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2b84a5004eb5354885fb878a610f4177/Guia+para+Comprova%C3 %A7%C3%A3o+da+Seguran%C3%A7a+de+Alimentos+e+Ingredientes.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 07 Abr. 2016. BARENDSZ, A. W. Food safety and total quality management. Food Control, Kidlington, v. 9, n. 2-3, 1998. CARMICHAEL, S.L.; et.al. 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