A FORMAÇÃO INTEGRAL DO TRABALHADOR: A OMINILATERALIDADE Guenther Carlos de Almeida1- IFG/PUC Goiás Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CAPES Resumo Objetiva-se neste artigo compreender as relações possíveis entre o trabalho em suas dimensões ontológicas, estranhadas e formativas, buscando revelar caminhos para a formação omnilateral do trabalhador. Entende-se que o trabalho constitui atividade que diferencia os homens e mulheres dos demais seres vivos. Esta singularidade se materializa pela transformação dos meios que os humanos dispõem, em elementos que satisfaçam suas necessidades materiais e espirituais, Marx (O capital, publicado em 1885, edição consultada 1988). Em determinadas condições histórico-sociais os seres humanos produzem formas de trabalho que não contemplam tal processo de satisfação de necessidades, e sim da produção de capital. Neste contexto, sob diversas mediações a sociedade se estrutura em grupos que realizam o trabalho e grupos que se apropriam do valor deste trabalho. O trabalho, como atividade que deveria humanizar os sujeitos conferindo-lhes o que de mais complexo é possível, se converte, sob relações sociais fragmentadas e hierárquicas, em atividade que lhe causa estranheza, Marx (Manuscritos econômico-filosóficos, obra escrita em 1844, edição consultada 2010). Sob essa duplicidade valorativa que o trabalho assume, entende-se que é necessário pensar uma educação que confira aos sujeitos elementos que os instrumentalize para compreender e intervir na dinâmica do trabalho contemporâneo. A educação do trabalhador tem sido foco das atenções dos setores produtivos, dos movimentos sociais organizados e da própria classe trabalhadora, revelando, na maioria das vezes, tensões e disputas em torno de uma perspectiva formativa para a classe que vive do trabalho. Assim a questão proposta neste trabalho é: quais são os limites e possibilidades da formação omnilateral do trabalhador? Em busca de esclarecimentos, empreende-se uma pesquisa qualitativa, teórica, com referenciais marxianos e afetos ao marxismo. Para realizar análises ampara-se nas contribuições de Marx (2010) para a conceituação de trabalho, tanto em sua dimensão ontológica, quanto na dimensão estranhada pretende-se compreender elementos fundamentais acerca de seus aspectos formadores e deformadores. Pretende-se ainda alguns elementos centrais do cenário ideológico contemporâneo, especialmente nas críticas de Perry Anderson ao neoliberalismo (1995), assim como nas críticas ao ideário da Pós-modernidade de Ellen Wood (1996) e Maria Célia Moraes (2004). O amparo teórico advém ainda de autores que fomentam o debate crítico sobre os limites da formação humana na lógica do 1 Professor de Educação Física do Instituto Federal de Goiás e doutorando em Educação no PPGE da Pontifícia Universidade Católica de Goiás E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 42779 capital contemporâneo, e que apontam algumas possibilidades emancipatórias na atualidade. Dialoga-se com formulações sobre a formação integral, a politecnia e a omnilateralidade em ensinamentos de Frigotto ( 2001) Ciavatta e Ramos (2011). Ciavata e Ramos (2011, p. 31) apontam que: “o primeiro sentido que atribuímos à integração expressa uma concepção de formação humana que preconiza a integração de todas as dimensões da vida ─ o trabalho, a ciência e a cultura ─ no processo formativo.” Para o conceito de politecnia adotam-se obras de Saviani, tais como: Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos (2007); Educação socialista, pedagogia histórico-crítica e os desafios da luta de classes (2008); O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias (2009). Para Saviani (2008, p.237) a politecnia “implica a união entre escola e trabalho ou, mais especificamente, entre instrução intelectual e trabalho produtivo”. A omnilateralidade estará respaldada em ensinamentos de Manacorda (2007, p.89), considerando que o autor aponta ser a ominilateralidade “[...] a chegada histórica do homem a totalidade de capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de capacidades de consumo e prazeres, em que se deve considerar sobre tudo o gozo daqueles bens espirituais, além dos materiais[...]”. Entende-se que para romper o processo de segregação de alguns sujeitos do acesso à totalidade do gênero humano é necessário materializar uma educação que articule o trabalho, a ciência, a arte, a filosofia, e os demais campos do saber humano, apontando para uma compreensão sistemática e radical das relações humanas, oferecendo os elementos necessários para a transformações das condições de existência desumanas e segregadoras presentes no modo de produção capitalista contemporâneo. Palavras-chave: Trabalho. Princípio Educativo. Omnilateralidade. REFERÊNCIAS ANDERSON, P. Um balanço do neoliberalismo. In: SADER,E. e GENTILI, P. (org.) Pósneoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 9 -23. CIAVATTA, M. e RAMOS, M. Ensino médio e educação profissional no Brasil: dualidade e fragmentação. Retratos da Escola, Brasília, DF, v. 5, n. 8, p. 27-41, jan./jun. 2011. Disponível em: http://www.esforce.org.br. Acesso em: 22 out. 2014. FRIGOTTO, G. Educação e trabalho: bases para debater a educação profissional emancipadora. Perspectiva, Florianópolis, v.19, n.1, p.71-87, jan./jun. 2001. MANACORDA, M.A. Marx e a pedagogia moderna. Campinas, SP: Alínea, 2007. MORAES, M. C. M. O renovado conservadorismo da agenda pós-moderna. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 122, p. 337-357, maio/ago. 2004. MARX, K. O capital: crítica da economia política. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. vol. 1. MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2010. 42780 SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. 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