XII) Anestesia em Oftalmologia - Revista Brasileira de Anestesiologia

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63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
Referências:
1. Krilis M, Zeldovich A, Garrick R, Goldberg I. Vision loss and partial third nerve palsy following contralateral peribulbar anesthesia. J Cataract Refract Surg. 2013;39:132-3.
2. Davis 2nd DB, Mandel MR. Efficacy and complication rate of 16,244
consecutive peribulbar blocks. A prospective multicenter study. J
Cataract Refract Surg. 1994;20:327-37.
XII) Anestesia em Oftalmologia
63-136 AMAUROSE E PARALISIA DO III E DO VI PARES
CRANIANOS CONTRALATERAIS APÓS BLOQUEIO
PERIBULBAR. RELATO DE UM CASO
Fábio Caetano Oliveira Leme, Eduardo Toshiyuki Moro,
Alexandre Alberto Fontana Ferraz, Elton Pereira Teles Júnior*
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, SP, Brasil
Introdução: Durante o bloqueio regional para cirurgia oftalmológica, não se pode afirmar com certeza a posição exata da extremidade da agulha a partir do momento em que essa perfura a pele.
O presente relato descreve um caso caracterizado por amaurose
e perda completa da função do III e do VI par de nervos cranianos
contralaterais, sem alteração do SNC, quando da tentativa de se
fazer a APB.
Relato de caso: Paciente masculino, 75 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica e catarata em olho direito. Submetido
a facectomia por facoemulsificação. Após sedação com fentanil e
midazolam, foi submetido à APB, com a técnica da dupla injeção,
primeiros 3 mL da solução de anestésico local (ropivacaína 1% associada à hialuronidase 20 UI.mL-1) foram depositados por injeção
imediatamente lateral ao forâmen supraorbitário e 3 mL adicionais
por injeção na junção do terço lateral com os dois terços mediais
da rima orbitária inferior. Não houve intercorrências durante a cirurgia. Imediatamente após o término do procedimento, o paciente
relatou ausência de visão no olho contralateral. Foram observadas
acinesia da musculatura inervada pelo III e VI pares cranianos, ptose
palpebral e pupilas de tamanho médio, não responsivas ao estímulo
luminoso. O paciente foi encaminhado à SRPA, onde permaneceu
lúcido e hemodinamicamente estável. Após 4 h da anestesia, houve
recuperação completa da visão, da movimentação das pálpebras e
do globo ocular não operado.
Discussão: Embora a técnica adotada tenha sido a APB, o que
pressupõe que a injeção ocorreu no espaço retrobulbar extraconal, pelas alterações observadas no presente relato presume-se
que houve penetração inadvertida do espaço intraconal. Somente
dessa forma poderia haver lesão da camada meníngea que envolve o nervo óptico, cujo trajeto se faz na porção central do cone
formado pelos músculos extrínsecos do olho. A ausência de sinais
como confusão mental, hiperatividade simpática ou depressão
respiratória reforça a hipótese de que a agulha tenha perfurado
também a bainha do nervo ótico, o que permitiu que a solução
anestésica caminhasse pelo trajeto do nervo, passasse pelo quiasma ótico e se dirigisse para a órbita contralateral. É provável que
a dispersão da solução tenha permitido o bloqueio adicional do III
e VI pares cranianos.
Conclusão: O presente relato descreve uma rara, mas possível,
complicação durante a APB. O respeito às diretrizes técnicas e o uso
de agulhas com o tamanho adequado podem reduzir o risco de tal
complicação, mas não de forma completa.
63-137 ANESTESIA ACIDENTAL DO TRONCO ENCEFÁLICO
APÓS PUNÇÃO DO ESPAÇO SUBARACNOIDE DURANTE
BLOQUEIO OFTALMOLÓGICO
Natália Farias de Almeida, Renato Machado de Almeida Junior,
Andreia Santos Cardoso*, Alcebiades Vitor Leal Filho,
Alvaro Regino de Carvalho Melo, Alexandre Mio Pós
Hospital das Clínicas (HC), Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
Introdução: Os procedimentos cirúrgicos oftalmológicos requerem,
de maneira frequente, o uso de bloqueios anestésicos, técnica que,
apesar de segura e eficiente, apresenta determinados riscos durante a aplicação. Um deles é a injeção acidental, após perfuração
meníngea, do anestésico local no espaço subaracnoide que envolve
o nervo óptico. Essa complicação, embora rara, pode resultar em
anestesia do tronco encefálico. O objetivo deste trabalho é relatar
um caso de anestesia do tronco encefálico após bloqueio oftalmológico ocorrido no Hospital São Geraldo, da Faculdade de Medicina
da UFMG.
Relato de caso: Paciente de 35 anos, sexo feminino, ASA I, com
quadro de descolamento de retina em olho esquerdo, com proposta de vitrectomia posterior e panfotocoagulação. Relato de alergia
a ibuprofeno. Exames laboratoriais normais. Paciente admitida no
centro cirúrgico, foi monitorada com eletrocardiograma, pressão
arterial não invasiva e oximetria de pulso. Parâmetros iniciais: ritmo sinusal regular, FC 76 bpm, PA 130-80 mmHg e SpO2 98%. Encontrava-se muito ansiosa. Foram administrados 2 mg de midazolam
e 30 mcg de clonidina para sedação. Feitos antissepsia do local da
injeção com iodo, instilação de 1 gota de anestalcon, pré-bloqueio
com lidocaína 2% 1 mL (agulha 0,4 mm x 13 mm) e bloqueio peribulbar com bupivacaína 0,75% 5 mL (agulha 0,6 mm x 25 mm). Cerca
de um minuto após o bloqueio, paciente evoluiu com insuficiência
respiratória, com queda da saturação de oxigênio até 75%, incoordenacão motora, proptose e paralisia do olho esquerdo, midríase
contralateral e perda da consciência. Foi prontamente assistida
com dispositivo bolsa-válvula-máscara, com retorno da SpO2 aos níveis normais. Quinze minutos após a instalação do quadro, ocorreu
retorno progressivo da consciência e regressão dos demais sinais,
sem sequelas. Manteve estabilidade hemodinâmica durante todo o
período da assistência. Após estabilização da paciente, observou-se
paralisia completa do olho esquerdo, deu-se início então ao procedimento cirúrgico.
Discussão: A anestesia do tronco encefálico após punção do espaço
subaracnoide que envolve o nervo óptico ocorre de forma rara, é
mais comum nos bloqueios retrobulbares do que nos peribulbares.
Tipicamente, a progressão dos sinais e dos sintomas depende do
volume, da concentração do anestésico usado e da área por onde
o mesmo se dispersa, pode ocorrer, nos casos mais graves, insuficiência respiratória, com necessidade até de intubação orotraqueal.
Assim, é altamente recomendado que material para abordagem de
via aérea e pessoal treinado nessa habilidade estejam disponíveis
sempre que essa técnica anestésica for empregada.
Referência:
1. Ripart J, Lefrant J, de la Coussaye J, et al. Peribulbar versus
retrobulbar anestesia for ophthalmic surgery. Anesthesiology.
2001.
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63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
63-138 ANESTESIA EM PACIENTE COM PERFURAÇÃO
DE GLOBO OCULAR INADVERTIDA APÓS BLOQUEIO
OFTALMOLÓGICO. RELATO DE CASO
Aline Tonin dos Santos*, Leonardo Bruno Oliveira,
Alexandre de Menezes Rodrigues, Rodrigo Rodrigues Alves,
Fernando Cássio do Prado Silva
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Hospital Santa
Genoveva, Uberlândia, MG, Brasil
Introdução: Os bloqueios oftalmológicos são as técnicas anestésicas
mais usadas para as cirurgias de correção de lesões retinianas. Embora raras, complicações anestésicas podem ocorrer. Entre as mais
temidas está a perfuração inadvertida do globo ocular (1:12.000),
que pode levar à perda parcial ou total da visão pelo olho acometido.
Relato de caso: Paciente feminina, 41 anos, 62 kg, estado físico P1,
com descolamento de retina em olho esquerdo, foi levada de outro
serviço com relato de que a cirurgia proposta não havia sido feita
no dia anterior porque ocorrera uma perfuração ocular durante o
bloqueio oftalmológico feito pelo anestesiologista. Optou-se por
venóclise periférica 22 G e sedação com midazolam 2 mg e fentanil
50 mcg. Em seguida, foi feito bloqueio peribulbar em olho esquerdo
com 3 mL de lidocaína 2% sem vasoconstrictor. Após 8 min, observava-se acinesia ocular. As imagens do exame oftalmológico identificaram o descolamento de retina e os prováveis orifícios de entrada
e saída da agulha de punção usada no bloqueio do dia anterior. A
cirurgia ocorreu sem intercorrências e a paciente recebeu alta hospitalar no mesmo dia. Retornou um mês após a cirurgia com queixa
de embaçamento visual. Tomografia ocular mostrou região macular
adequada, espessura retiniana total em fóvea preservada e cicatriz
perifoveal com desorganização de retina neurossensorial.
Discussão: A maior parte das perfurações oculares inadvertidas que
ocorrem durante bloqueios oftalmológicos se relaciona à não observância da técnica adequada e das condições de segurança recomendadas. Estafilomas e alta miopia axial são fatores associados.
A experiência do anestesiologista, associada ao conhecimento das
inúmeras variáveis envolvidas, é o principal ponto que pode ser destacado para a prevenção dessa complicação.
Referências:
1. Duker JS, Belmont JB, Benson WE, et al. Inadvertent globe perforation during retrobulbar and peribulbar anesthesia. Ophthalmology. 1991;98:519-26.
2. Kumar CM, Dowd TC. Complications of ophthalmic regional
blocks: their treatment and prevention. Ophthalmologica.
2006;220:73-82.
63-139 AVALIAÇÃO DO DESLOCAMENTO DO NERVO ÓPTICO
POR ULTRASSONOGRAFIA. ESTUDO OBSERVACIONAL
Luis Henrique Cangiani, Luiz Marciano Cangiani,
Flávio Maia Castilho*, Orlando Domingues de Araújo Pontes,
Lílian Eysink
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Centro Médico de
Campinas, Campinas, SP, Brasil
Justificativa e objetivos: As técnicas de anestesia locorregional
para cirurgias oftalmológicas foram descritas há muitas décadas e
até hoje são praticadas com bons resultados e baixo índice de complicações. Na técnica retrobulbar descrita por Atkinson em 1934, o
paciente mantinha o olho deslocado para cima e para dentro quando a punção era feita. Atualmente, preconiza-se que o olho seja
mantido na posição primária (para frente). O objetivo deste estudo
anatômico é avaliar o deslocamento do nervo óptico por meio de
ultrassonografia transpalpebral, o paciente mantém o olhar na posição primária e quando é solicitado olha para dentro e para cima
conforme a técnica descrita anteriormente.
S59
Método: Foram examinados 21 pacientes (42 olhos). As medidas feitas foram biometria ocular do ponto médio da córnea até a fóvea,
distância do ponto médio escleral posterior até a fóvea, com o olho
na posição primária (D1), e distância do ponto médio escleral posterior até a fóvea com o olho deslocado para cima e para dentro (D2).
A soma de D1+D2 é o deslocamento total do nervo óptico. O aparelho de US foi de uso específico para oftalmologia, com transdutor de
alta frequência, índice térmico 0 e índice mecânico 0,2, para que
não haja lesão retiniana.
Resultado: O deslocamento médio do nervo ótico dos 21 pacientes avaliados foi de 0,85 cm no olho direito e de 0,91 cm no olho
esquerdo. É possível visualizar o nervo óptico a se aproximar da
borda lateral da órbita, ou seja, exatamente no trajeto da agulha.
Os dados biométricos não provocaram grandes alterações no deslocamento do nervo óptico.
Conclusão: Atualmente admite-se que o bloqueio retrobulbar deve
ser feito com o paciente olhando na posição primária, porque quando o olho se desloca para cima e para dentro o nervo óptico é levado para a borda inferolateral da órbita, ou seja, diretamente para
o ponto de inserção da agulha, o que aumenta muito o risco de
punção inadvertida do nervo óptico, lesão neural, injeção direta
de anestésico local dentro do sistema nervoso central ou amaurose
contralateral. Nos pacientes estudados, cinco tiveram deslocamentos maiores do que 1 cm, o maior deslocamento foi de 1,31 cm.
Não há descrição in vivo do deslocamento do nervo óptico avaliado,
em tempo real, por técnica ultrassonográfica. Esse recurso pode ser
usado para avaliar pacientes alto míopes e que podem ser portadores de estafiloma, o que contraindica o bloqueio retrobulbar. Este
estudo descritivo mostra e corrobora o que é preconizado atualmente, que a punção retrobulbar deve ser feita com o paciente olhando
na posição primária (para frente) para que os riscos de complicações graves relacionadas à técnica anestésica sejam minimizados.
Referência:
1. Atkinson WS. Local anesthesia in ophtalmology. Trans Am Ophtalmo Soc. 1934.
2. Lochner P, Coppo L, Cantello R, et al. J Ultrasound. 2014.
63-140 BLOQUEIO EPISCLERAL MODIFICADO EM PACIENTE
COM SÍNDROME DE MARFAN PARA CIRURGIA DE CATARATA
Fernando Antônio Nogueira Cruz Martins, Daniel Espada Lahoz,
Luiz Fernando dos Reis Falcão, Jaqueline Costa Reis,
Jéssica Tessaroli, Ana Luiza de Oliveira Tavora Pinho*
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
Introdução: Mutações no gene da fibrilina-1 (FBN1) causam a síndrome de Marfan (SMF), que é uma doença de herança autossômica dominante do tecido conjuntivo, com alto grau de variabilidade
clínica e manifestações nos sistemas musculoesquelético, ocular e
cardiovascular. As alterações nesses órgãos incluem, entre os vários
problemas: catarata, subluxação de cristalino, descolamento da retina, hipermobilidade das articulações, estatura elevada, aracnodactilia, desvio da coluna e lesões da artéria aorta. Pacientes com
síndrome de Marfan frequentemente fazem uso de fármacos anticoagulantes. A anestesia episcleral, também conhecida como subtenoniana e parabulbar, tem sido usada como uma técnica anestésica
opcional, efetiva e bem tolerada para intervenções do segmento
anterior e posterior do globo ocular, apresenta vantagens similares
às apresentadas pela anestesia peribulbar e retrobulbar, até minimiza possíveis complicações.
Relato de caso: C.L.S., 41 anos, gênero masculino, estado físico
ASA P-III, apresentava síndrome de Marfan, diagnosticado com catarata e subluxação do cristalino do olho esquerdo. Em uso regular
de warfarina. Cirurgia programada: facoemulsificação do cristalino
com implante de lente intraocular. Para o procedimento foi feita
a substituição do fármaco cumarínico pela heparina de baixo peso
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63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
molecular, com controle do INR (2,52-1,76). Optou-se pelo bloqueio
episcleral modificado com o jelco Angiocath - BD 20 GA 1,16” (1,1
×30 mm) associado à sedação consciente. Não houve intercorrências
durante o ato anestésico cirúrgico. Durante o procedimento usou-se
monitorização não invasiva da pressão arterial, oximetria de pulso e
cardioscopia. Punção venosa periférica com cateter de teflon calibre 20 G em membro superior esquerdo e introdução de cateter nasal com oxigênio a 100%. No pós-operatório a evolução foi favorável,
sem ocorrência de eventos adversos relacionados ao procedimento.
Discussão: Em virtude de o paciente usar warfarina para controle da
coagulação, o uso de bloqueios oftálmicos constitui um desafio. No
presente relato, optou-se por fazer o bloqueio episcleral modificado, uma vez que pode ser feito com menos punções oculares do que
o bloqueio episcleral clássico, o que minimiza o risco de hemorragia
em pacientes que usam anticoagulantes. A evolução favorável observada no presente caso clínico indica a possibilidade de uso dessa
técnica de bloqueio em pacientes anticoagulados, o que poderá ser
confirmado com ensaios clínicos futuros.
Referências:
1. Radke RM, Baumgartner H. Diagnosis and treatment of Marfan
syndrome: an update. Heart. 2014;100:1382-91.
2. Kumar CM, Williamson S, Manickam B. A review of sub-Tenon’s
block: current practice and recent development. Eur J Anaesthesiol. 2005;22567-77.
60 mcg IV. Feita intubação traqueal sob laringoscopia direta, observou-se arreflexia total da paciente. Iniciou-se ventilação mecânica
modo VCV + sevoflurano. Paciente manteve adequada PA e SatO2.
Diante desse quadro, foi, então, consentido o procedimento cirúrgico proposto. Ao término, foi interrompida a anestesia inalatória e a
paciente despertou prontamente sem intercorrências.
Discussão: Anestesia do tronco encefálico do SNC por presumida
injeção do anestésico local na bainha do nervo óptico, quando da
tentativa de se fazer uma anestesia retrobulbar periconal, com punção única inferolateral modificada, com uma agulha 25 x 7 mm,
deve ser extremamente valorizada, ressalta-se a importância do seu
diagnóstico e pronto-atendimento.
Referência:
1. Venkatesan VG, Smith A. What’s new in ophthalmic anesthesia.
Curr Opin Anestesiol. 2002;15:615-20.
2. Early M. Clinical anatomy of the eye. 2nd ed. Optometry and Vision Science. 2000:77:231-2.
63-141 BLOQUEIO SUBARACNÓIDEO EM ANESTESIA
EXTRABULBAR PERICONAL
Hospital Geral de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil
Clínica Oftalmolaser, Fortaleza, CE, Brasil
Daniel de Souza Gonçalves*, Iuri Eleuterio,
Américo Luiz Bitarello Gouget, Nivaldo Ribeiro Villela,
Fátima Carneiro Fernandes
Justificativa e objetivos: A escolha da técnica anestésica em oftalmologia é influenciada por alguns fatores. Entre as técnicas anestésicas tópicas usadas atualmente estão a sedação consciente com
2,5 mg de midazolam, associada ao uso de colírio anestésico com
lidocaína gel a 2%, feitos no olho a ser operado cinco minutos antes
da cirurgia e sedação consciente com colírio anestésico e uso de
20 mg lidocaína isobárica na câmara anterior pela equipe cirúrgica. Existem poucos trabalhos no Brasil que descrevem o grau de
satisfação dos pacientes com essas técnicas e a ocorrência de complicações. O objetivo deste trabalho foi comparar o uso de colírio
anestésico à base de tetracaína associado à lidocaína gel (Grupo
1) com o uso de colírio anestésico associado à aplicação de 20 mg
lidocaína isobárica na câmara anterior (Grupo 2) e correlacionar
com eventuais complicações e grau de satisfação dos pacientes e
equipe cirúrgica.
Método: Estudo de coorte prospectivo, não controlado, de pacientes operados pela mesma equipe em 90 dias, entre abril e julho de
2016. Participaram do estudo 84 pacientes divididos aleatoriamente em grupos 1 e 2, com 43 e 41, respectivamente, operados pela
mesma equipe. Ambos foram monitorados com oximetria de pulso,
cardioscopia e pressão arterial. Foram registrados parâmetros vitais
intraoperatórios, escala de satisfação com a anestesia de Iowa (Isas)
e a escala analógica visual da dor (EVA) em diferentes períodos do
pós-operatório.
Resultado: Dos 84 pacientes avaliados, 68,4% eram do sexo feminino, a média foi de 62,4 anos. Tempo cirúrgico médio de 15,6 minutos e todos os parâmetros hemodinâmicos sem maiores alterações.
No fim das cirurgias, a média de escores na escala Isas foi de 2,72 e
2,70 e 8 h após foi de 2,96 e 2,99 nos grupos 1 e 2, respectivamente.
Não houve relato significativo de dor nos trans e pós-operatório.
Em ambos os grupos, houve satisfação em relação ao ato anestésico-cirúrgico. No entanto, dois pacientes do grupo 1 evoluíram com
ceratite da córnea, enquanto o outro grupo não apresentou tal complicação.
Conclusão: Em cirurgias de catarata por facoemulsificação, nos pacientes do grupo 2, obtiveram-se semelhanças em relação ao grau de
satisfação, estabilidade hemodinâmica e controle adequado da dor
com os do grupo 1. Neste estudo, o grupo 2 não apresentou complica-
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ,
Brasil
Introdução: O conhecimento anatômico do olho é de fundamental
importância para a prática anestésica. Os músculos retos do olho
são quatro: inferior, superior, lateral e medial. Eles formam um
cone muscular, dividem o espaço retrobulbar em intraconal (dentro
do cone) e extraconal (fora do cone). No interior desse cone muscular encontra-se a maior parte das inervações sensitivas e motoras
do globo ocular, bem como suas principais artérias. O nervo óptico
localiza-se no centro desse cone e é envolto pelas três camadas
meníngeas, caracteriza-se como uma extensão extracraniana do espaço subaracnóideo. A anestesia retrobulbar é caracterizada pela
injeção de pequenos volumes de anestésico local no espaço retrobulbar intraconal e chama a atenção pelos riscos inerentes da presença da agulha próximo ao nervo óptico e à artéria oftálmica. São
descritas complicações como lesão do nervo óptico, perfuração do
globo ocular, hemorragia retrobulbar e injeção do anestésico local
na bainha do nervo óptico.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 76 anos, estado físico
ASAI, 60 kg, 1,55m, nega uso de medicações regulares. Monitorização básica + venóclise com EC 20G. Oxigênio sob máscara de Hudson
com fluxo de 2 L.min-1. A PA inicial foi de 136 x 70 mmHg e FC era
de 70 bpm. Sedação com 5 mg de diazepam e 50 µg de fentanil e 50
mg de propofol. Assepsia e antissepsia, seguida de punção orbitária
única, inferolateral modificada com o uso de agulha de 25 × 7mm
com injeção de 6 mL de bupivacaína a 1%, com hialuronidase na
concentração de 20 U.mL-1. Não foi observado bloqueio motor após
período de 10 minutos e optou-se por novo bloqueio com a mesma
técnica, porém volume de 4 mL de solução anestésica. Em cinco minutos evolui-se com hipertensão 170 × 84 mmHg e taquicardia (140
bpm), seguida de rebaixamento do nível de consciência, apneia,
dessaturação e midíatre fotoplégia bilateralmente. Iniciada ventilação manual com máscara facial, usou-se oxigênio a 100% + clonidina
63-142 COMPARAÇÃO ENTRE DUAS TÉCNICAS DE
ANESTESIA TÓPICA EM CIRURGIAS DE CATARATA POR
FACOEMULSIFICAÇÃO
Anderson da Silva Costa, Francisco de Lucena Cabral Júnior,
José Carlos Rodrigues Nascimento, Roberta Larissa Xavier dos Santos*,
Aline Menezes Sampaio, Renato Labanca Delgado Perdigão
Document downloaded from http://www.elsevier.es, day 14/06/2017. This copy is for personal use. Any transmission of this document by any media or format is strictly prohibited.
63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
ções do tipo ceratite da córnea. Essa perda difusa de pequenas áreas
do epitélio da superfície corneana, comprovada por biomicrospia em
lâmpada de fenda com injeção fluorosceína, pode estar associada
ao uso e ao tempo de exposição à lidocaína gel. Para comprovação,
estudos com maiores amostras e casuísticas devem ser feitos.
63-143 CONVULSÃO APÓS BLOQUEIO OFTÁLMICO.
RELATO DE CASO
Luciane Costa Assunção*, Bruno Mendes Carmona,
Luis Paulo Araújo Mesquita, Antonio Jorge Ferreira da Silva Júnior,
Carla Vanessa da Silva Alcântara Lima, Amanda Amaral Targino
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Serviço de Anestesia do
Hospital Ophir Loyola (HOL), Belém, PA, Brasil
Introdução: O bloqueio retrobulbar é feito pela injeção de pequenos volumes de anestésico local (AL) no espaço retrobulbar intraconal (3 a 5 mL). Mesmo assim, chama a atenção pelos riscos inerentes
à presença da agulha próximo ao nervo óptico e à artéria oftálmica.
São descritas complicações como lesão do nervo óptico, perfuração
do globo ocular, hemorragia retrobulbar e injeção do AL na bainha
do nervo óptico.
Relato de caso: Paciente, sexo masculino, 73 anos, estado físico
ASA P2, hipertenso em uso de losartana e hidroclorotiazida em doses habituais sem outras comorbidades e/ou alergias, com exames
laboratoriais normais, programado para facectomia com implante
de lente intraocular em olho direito. Após monitorização obrigatória
e venóclise, foi sedado com midazolam 2 mg e fentanil 25 µg. O bloqueio oftálmico foi feito por punção orbitária única no ponto A modificado com agulha de 25 × 7 mm, introduzida perpendicularmente
à pele nos primeiros 10 mm e, depois, com angulação superomedial,
até o canhão da agulha tocar a pele. Subsequentemente, procedeuse à injeção de uma solução anestésica com lidocaína 2% 3 mL e
bupivacaína 0,5% 3 mL com hialuronidase na concentração de 20 UI/
mL. Aproximadamente 10 min após o bloqueio, o paciente apresentou sintomas de desorientação e convulsão clônicas generalizadas.
Nesse momento, fez-se assistência ventilatória manual sob máscara facial com oxigênio a 100% e administrou-se midazolam 5 mg.
A convulsão cessou em aproximadamente 4 min e logo o paciente
retomou sua consciência normal. A oximetria de pulso se manteve
acima de 94% durante o evento, houve registro de hipertensão arterial (200 × 120 mmHg) e taquicardia (130 bpm). O paciente ficou em
observação na sala de recuperação pós-anestésica até normalização
dos sinais vitais. O procedimento cirúrgico foi suspenso.
Discussão: Durante o bloqueio oftálmico, o AL pode atingir o SNC
pela punção inadvertida da artéria oftálmica ou pela punção não intencional das meninges que envolvem o nervo óptico, com dispersão
do AL para o espaço subaracnóideo. A evolução, em geral, é favorável, com a remissão completa dos sintomas em algumas horas, como
nesse caso. Não há consenso quanto à necessidade de suspensão da
intervenção cirúrgica diante dessa complicação.
Referências:
1. Gillart T, Dualé C, Curt I. Ophthalmic regional anasthesia. Curr
Opin Anaesthesiol, 2002;15:503-9.
2. Hamilton RC. A discourse on the complications of retrobulbar and
peribulbar blocked. Am J Ophtalmol. 2000,35:363-72.
63-144 ESTUDO COMPARATIVO, COM ENFOQUE EM
VANTAGENS E DESVANTAGENS ENTRE ANESTESIA
PERIBULBAR VERSUS TÓPICA EM CIRURGIAS PARA
CORREÇÃO DE CATARATA
Francisco de Lucena Cabral Júnior, Anderson da Silva Costa,
Aline Menezes Sampaio*, Patrícia Pereira de Alencar Araripe,
Roberta Larissa Xavier dos Santos, José Carlos Rodrigues Nascimento
S61
Clínica Oftalmolaser, Fortaleza, CE, Brasil
Hospital Geral de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil
Hospital da Mulher de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil
Justificativa e objetivos: Atualmente, podem-se usar diferentes
modalidades anestésicas. O objetivo deste estudo foi examinar e
comparar o resultado da anestesia tópica e peribulbar em facoemulsificação, feita em uma clínica de referência em oftalmologia
de Fortaleza.
Método: A população de estudo consistiu de 30 pacientes operados por facoemulsificação, dos quais 16 foram sob anestesia tópica
(grupo I) e 14 sob anestesia peribulbar (grupo II). Nos casos feitos
com anestesia tópica (grupo I) foram usados 2,5 mg de midazolam
via sublingual, conjuntamente com duas gotas de colírio à base de
cloridrato de tetracaína 1% no pré-anestésico (cerca de 20 minutos
antes de entrar em sala cirúrgica). Foram usadas mais duas gotas
do colírio no momento da anestesia na sala de cirurgia, associadas
a 1-2 mL de lidocaína gel 2%. Nos casos em que foi feita anestesia
peribulbar (grupo II), foi usada ropivacaína 1% associada a 100 mil
unidades de hialuronidase, em um volume total de 4 mL injetados
no espaço peribulbar. Os dados analisados foram: idade, sexo, olho
operado, acuidade visual, presença de desconforto e dor no pósoperatório, o tipo de anestesia e as complicações intraoperatórias.
Resultado: Os resultados mostraram que a dor induzida pela anestesia peribulbar foi maior do que a provocada pela cirurgia com
anestesia tópica. Os pacientes também relataram que era maior o
incômodo durante o ato anestésico quando feita a anestesia peribulbar. Dos 30 pacientes entrevistados, de todos tivemos as informações necessárias e foram incluídos na análise. A média observada
foi de 62 anos, de 44 a 78. Houve predomínio do sexo feminino
com 23 casos (57,5%) foram feitos 21 (52,5%) com anestesia tópica
e 19 (47,5%) com anestesia peribulbar. Não ocorreram complicações intraoperatórias em ambas as técnicas. Houve uma porcentagem maior do grupo 1 em comparação com o grupo 2 em relação
à presença de dor com a anestesia peribulbar em confronto com a
anestesia tópica, bem como a maioria relatou mais conforto com a
técnica de anestesia tópica associada a sedação.
Conclusão: As principais vantagens da cirurgia de catarata sem
anestesia retro ou peribulbar são a rápida recuperação da visão e a
eliminação das complicações associadas à introdução de uma agulha
na órbita. A maior desvantagem da facectomia com anestesia tópica
é a necessidade de maior cooperação do paciente e a mobilidade
ocular e palpebral durante a cirurgia.
Referências:
1. Patel BC, Burns TA, Crandall A, et al. A comparison of topical
and retrobulbar anesthesia for cataract surgery. Ophthalmology.
1996;103:1196-203.
2. Leaming, DV. Practice styles and preferences of ASCRS members.
2001 survey. J Cataract Refract Surg. 2002;28:1681-8.
63-145 INJEÇÃO DE CÉLULAS TRONCO NA DOENÇA DE
STARGARDT DEVE SER FEITA APENAS SOB ANESTESIA
GERAL?
Daniel Espada Lahoz, Jaqueline Costa Reis, Marcia Yumi Matsui*,
David Ferez
Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
Doenças degenerativas da retina são as principais causas de cegueira no mundo e entre as mais estudadas estão as distrofias da retina
mendelianas, nas quais há a ausência ou deficiência de um produto
genético por mutações do gene ABCA4, entre eles a doença de Stargardt. Como uma das formas de tratamento, está sendo introduzido
o uso de células-tronco embrionárias. Apresentamos a seguir um
caso clínico em que foi aplicado esse tratamento.
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S62
S.M.L.S., feminino, 41 anos, 69 kg, 165 cm, ASA 2. Cirurgia proposta = VVPP + FACO + implante de celular tronco. Tempo de cirurgia
50 min, anestesia 1h20. Feito bloqueio oftálmico extraconal com
punção inferolateral em olho esquerdo, com agulha 23G (0,60 × 25
mm), injetados 10 mL da solução de bupivacaína a 0,75% + hialorunidase a 10 UI/mL. Obtido índice de Nicoll > 6. Com resultado eficaz
para o procedimento proposto.
A escolha da técnica anestésica adequada para o procedimento de
vitrectomia via pars plana (VVPP) + Facoemulsificação (Faco) + implantação de lente intraocular (LIO) com injeção de células-tronco
na doença de Stargardt proporciona um ambiente importante para o
bom desempenho do procedimento anestésico-cirúrgico.
Referência:
1. Wiley et al. Cold spring harb perspect. Med. 2015;5:a017160.
2. Vásquez et al. Rev Bras Anestesiol. 2002;52:6, novembro-dezembro.
63-146 PROCEDIMENTO ANÉSTESICO EM UM PACIENTE
COM MUCOPOLISSACARIDOSE. RELATO DE CASO
Rêmulo Orlando Borges da Silva*,
Thaís Spilborghs Haun Amaral Teixeira,
José Fernando Bastos Folgosi, Dailson Mamede Bezerra,
Bruno Oliveira
Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Goiânia, GO,
Brasil
Introdução: A mucopolissacaridose é uma doença genética hereditária, causada por uma deficiência enzimática, que interfere na
capacidade do organismo de metabolizar os mucopolissacarídeos
no lisossomo, resulta em disfunções orgânicas multissistêmicas. As
manifestações são diversas, tais como alterações faciais, cabeça
com volume maior, abdome aumentado, perda auditiva, comprometimento das válvulas do coração, levam a um declínio da função
cardíaca, obstrução das vias respiratórias, rigidez articular, apneia
do sono, aumento do fígado e do baço. Apresentamos um relato de
caso de um paciente com mucopolissacaridose, submetido à anestesia ambulatorial para cirurgia oftálmica.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 13 anos, com história de
mucopolissacaridose, levada para o Hospital de Olhos em Goiânia,
para transplante de córnea à direita. Medicamentos em uso: captopril 12,5mg de 12/12 h, furosemida 20 mg de manhã e reposição
enzimática semanal. A paciente estava cooperativa, acompanhada
pela mãe. O procedimento anestésico e os riscos foram esclarecidos para a família. A paciente apresentava uma via aérea difícil
devido a macroglossia, estenose subglótica, rigidez nas articulações
temporomandibulares, instabilidade atlantoaxial e prognatismo. Foi
monitorada com eletrocardiograma, pressão arterial não invasiva,
oximetria. O material para via aérea difícil, composto por máscara laríngea, guias introdutores, Bougie, estava preparado em sala.
Para a anestesia, foi feito um acesso venoso periférico com jelco nº
22, sedação com midazolam 2 mg e propofol 40 mg, e um bloqueio
peribulbar com 3 mL de ropivacaína a 0,75%. O transplante durou
cerca de 1 h e a paciente permaneceu estável durante todo o tempo
acordada, em ventilação espontânea. Foi mantida na sala de recuperação por 3 h e liberada sem dor ou outras queixas.
Discussão: A recuperação após a anestesia geral quase sempre é lenta e acompanhada de períodos de apneia, broncoespasmo e cianose.
Já foram relatados casos de parada respiratória no pós-operatório.
É muito importante a observação mais cuidadosa no pós-operatório
e os pacientes submetidos a procedimentos de grande porte devem
ser levados para acompanhamento em unidade de terapia intensiva.
Pacientes com essa síndrome apresentam provável via aérea difícil,
a sedação é um método arriscado para tal. Um especialista bem
treinado e capacitado, bem como material disponível em sala, além
de uma equipe multidisciplinar à disposição, são essenciais para o
63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
êxito da abordagem.
Referência:
1. Marcelino M, Marote L, Patuleia MD. Abordagem anestésica das
mucopolissacaridoses. Rev Soc Port Anestesiol. 2016;21:19-22.
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