compreens.2 - cchla

Propaganda
COMPREENSÃO DE CONSTRUÇÕES LINGUÍSTICAS E PERCEPÇÃO DE
EVENTOS - IMAGENS MNEMÔNICAS INFANTIS: UM POSSÍVEL DIÁLOGO
ENTRE A LINGUÍSTICA COGNITIVA E A PSICOLOGIA.
Maria da Conceição dos Santos Josuá
Psicologia - UFRN
Zélia Xavier dos Santos Pegado
Letras - UFRN
RESUMO
O comportamento humano incide, na maioria das vezes, em apresentar procedimentos de
respostas a um determinado esquema mental que reforça o que foi apreendido do meio
ambiente. Neste artigo, pretendemos explanar, por meio de um estudo de caso com uma
criança de cinco, como as construções mentais são experienciadas e introjetadas no meio
familiar. Para efetivação desta pesquisa, realizamos sessões de ludoterapia com a criança
que por meio de seus desenhos evidenciava o comportamento hiperativo e agressivo –
causas do acompanhamento – como advindos dos fatores externos ambientais com os quais
convivia. Esse diagnóstico foi reforçado e clarificado com os resultados apresentados pela
instrumentalização do Teste Projetivo Bender infantil.
Palavras-chave: Afetividade. Esquemas cognitivos. Categorização. Psicologia.
Introdução
Ao longo dos anos, o homem tem se preocupado em investigar o processo de
construção de conhecimento, bem como a forma como significamos e representamos o
mundo e as coisas que nos cercam. No entanto, os estudos não se exaurem, mas perpassam
a antiguidade clássica e ancoram nos dias atuais.
A busca por respostas para tais inquietações faz-nos intuir que a forma como
compreendemos e descrevemos o mundo está relacionada às nossas experiências humanas
apreendidas pelas percepções ambientais e corporais pelas quais somos capazes de
representar e designar imagens mentais.
De acordo com Sternberg (2010), para que possamos descrever ou imaginar algo é
preciso que tenhamos algum tipo de representação mental, algo que signifique, ou que
conheça sobre o que vamos imaginar ou descrever, visto que as coisas não podem existir
em um formato físico no interior da mente. Conforme o autor “Geralmente, você usa a
representação do conhecimento, a forma que assume aquilo que você conhece em sua
mente sobre objetos, ideias, eventos e assim por diante que existem fora de sua mente.”
(STERNBERG, 2010, P.225- grifo do autor)
Na perspectiva do autor, a partir de conhecimentos externos construímos representações
internas do conhecimento em nossas mentes, e, para materializar esse pensamento,
explanaremos, neste trabalho, possíveis contribuições acerca da compreensão de
construções linguísticas e percepções de eventos num diálogo entre a linguística cognitiva e
a psicologia. A consolidação desse diálogo deu-se por meio de um estudo comportamental
realizado após análises de imagens infantis de MJR, uma criança de cinco anos, do sexo
masculino, que foi acompanhada em testes psicológicos e sessões de ludoterapia para
compreensão, por parte dos pais, de suas atitudes ansiogênicas.
1
O limiar entre o sentimento e a dor
Quando o ser humano se encontra em seu limite de sofrimento e não se utiliza de
formas verbais que expressem seus sentimentos de dor e de angústia, tende a manifestá-los
nas mais diversas formas. Uma delas é o adoecimento, manifestação que se sobrepõe a ele e
desencadeia desequilíbrio físico e comportamental. Com essa visão, Cantone (2009)
defende que
A capacidade de elaborar mentalmente um certo grau de angústia e de
suportar a insegurança imposta por um sentimento de ameaça indefinível
depende igualmente do modo de organização psíquica de cada
indivíduo.Toda pessoa tem um limiar de tolerância para o desconhecido e
para o sentimento de falta, correlativos da angústia, além do qual seus
referenciais identificadores são abalados, podendo, assim, repercutir sobre
o seu sentimento de integridade e coerência. A angústia leva, com efeito, à
consciência dos órgãos ou funções, que se encontram habitualmente, em
harmonia silenciosa (CANTONE, 2009)
Com base nessa afirmação, delineamos um estudo de caso no qual observamos que as
inquietações e sofrimento vivenciados pelo paciente decorriam das imagens internas que
tinha construído.
Para acompanhamento clínico de MJR, inicialmente, foi apresentado como queixa, pela
mãe, sono intranquilo. A criança acordava sobressaltada e em prantos muitas vezes durante
a madrugada. Algumas vezes com dores estomacais (angústias), outras vezes com crise de
garganta ou febres repentinas. Por não saber nomear esse sofrimento psíquico e como não
foram diagnosticadas clinicamente as causas dessas reações, MJR passou a ter
acompanhamento psicológico. Além desse fator, o acompanhamento também foi extensivo
à busca do melhoramento de seu desempenho escolar, bem como controlar o
comportamento hiperativo, ou seja, impulsivo, outra queixa apresentada pela mãe.
Durante o período de acompanhamento psicológico com MJR, foram realizadas
algumas atividades lúdicas, que chamamos sessões ludoterapêuticas. Essas atividades
descontraíam MJR que, espontaneamente, narrava suas angústias, viabilizando a interação
entre ele e a profissional. O intercâmbio favoreceu no entendimento do processo
psicológico de compreensão e apreensão de mundo projetado e introjetado pela criança.
De acordo com Damásio (1996), o comportamento hiperativo, agressivo, e o sono
inquieto de MJR, diagnosticados pelos pais, são estados de sofrimento do corpo que
eclodem em agitações biológicas provenientes dos sentimentos. “A essência de um
sentimento (o processo de viver uma emoção) não é uma qualidade mental ilusória
associada a um objeto, mas sim a percepção direta de uma paisagem específica: a paisagem
do corpo.” (DAMÁSIO, 1996, p. 14).
Para o autor além das emoções e sentimentos, que há milênios eram descritos como
alma ou espírito, o corpo pode constituir o quadro de referência indispensável para os
processos neurais que experienciamos como sendo a mente. A interação indissociável entre
o corpo a mente resultam no processo evolutivo e no desenvolvimento individual que
permite a elaboração e construção de conhecimentos, bem como as interpretações que
fazemos do mundo que nos rodeia. As nossas experiências permitem que a mente possa
ocupar-se de coisas reais e imaginárias. Essas ideias estão ancoradas nas seguintes
afirmações:
1) o cérebro humano e o resto do corpo constituem um organismo
indissociável, formando um conjunto integrado por meio de circuitos
reguladores bioquímicos e neurológicos mutuamente interativos
(incluindo componentes endócrinos, imunológicos e neurais autônomos);
2) o organismo interage com o ambiente como um conjunto: a interação
não é nem exclusivamente do corpo nem do cérebro;
3) as operações fisiológicas que denominamos por mente derivam desse
conjunto estrutural e funcional e não apenas do cérebro: os fenômenos
mentais só podem ser cabalmente compreendidos no contexto de um
organismo em interação com o ambiente que o rodeia. O fato de o
ambiente ser, em parte, um produto da atividade do próprio organismo
apenas coloca ainda mais em destaque a complexidade das interações que
devemos ter em conta. (DAMÁSIO. 1996, p.17)
O autor supracitado, ao considerar a relação corpo e cérebro, postula que o cérebro
não só recebe sinais do corpo, mas em alguns de seus setores, de partes de sua própria
estrutura, as quais recebem sinais do corpo que interagem com o meio como um conjunto
gerando respostas comportamentais externas e internas criando, algumas vezes imagens
visuais, auditivas, somatossensoriais.
No item a seguir, discorreremos acerca dos procedimentos adotados para que os
resultados, explicitados nessa experiência clínica, fossem alcançados. Expomos ainda que,
a possibilidade da apreensão dos fenômenos psicológicos de MJR ocorrera também, por
meio da linguagem verbal e não verbal que revelava a categorização da simbologia da
representação de seu mundo.
2 Aspecto metodológico para a análise comportamental
Como o presente estudo pretendia investigar a construção dos esquemas mentais,
considerando o que fora elencado no item anterior a respeito do comportamento humano e a
interação socioambiental, escolhemos fazer sessões de ludoterapia que permitissem ao
paciente narrar por meio de desenhos e jogos as suas angústias. Este procedimento foi
usado porque permite avaliar, em cada tentativa de jogo ou nos desenhos, estímulos de
comparação, de acordo com a ordem previamente descrita pelo paciente, as respostas que
se buscava para as causas do acompanhamento clínico.
A queixa trazida pela família descrevia uma criança agitada, irrequieta, de sono
intranquilo. Para obtermos um diagnóstico inicial da relação familiar, proporcionamos uma
atividade interativa com a mãe e criança. Com a participação da mãe, realizamos uma
sessão lúdica através da Hora do Jogo. Nessa atividade, pudemos perceber, pela linguagem
verbal e não verbal, pequenos indícios das possíveis causas do comportamento da criança.
Esse momento foi importante para seguimento do trabalho, ou seja, o acompanhamento.
2.1 Uso da instrumentalização metodológica
Elucidamos a seguir algumas das atividades realizadas durante as sessões.
I - Instrumentalização metodológica: Massa de modelar - Nesta técnica a criança
materializava seus sentimentos.
Figura 1 - MJR em sessão psicoterapêutica realizando atividade com massa de
modelar
Nessa sessão, foi solicitado que modelasse o que lhe era mais importante. Ao ser
questionado acerca do que estava construindo, a criança verbalizou “Essa é a minha
família.” Modelou a mãe, ele no centro e o pai do outro lado. Todos de mãos dadas. Com
essa representação, a criança expressava valores familiares que lhe eram intrínsecos e ao
mesmo tempo, reforçava-os no gesto pelo qual todos estavam ligados – as mãos dadas.
Naquele momento, ao reproduzir as imagens do pai, mãe e a dele mesmo, pelo seu
conhecimento de mundo, a criança categorizava essas reproduções como sendo família e,
de forma lúdica, externa a importância dessa instituição.
II - Instrumentalização metodológica: Desenhos – Coleta de dados relevantes de
introjeção sociocultural da criança e sua percepção de mundo.
Animais perigosos: dinossauros, cobras e mosquito da dengue.
Figura 2 - Desenhos de JMR
Nessa segunda sessão, MJR identifica, classifica e nomeia os seres dinossauros, cobras
e mosquito da dengue como animais perigosos. Faz uso de suas capacidades cognitivas
quando expressou uma ordem dos seus conhecimentos categorizados.
O dinossauro
Figura 3 - A mãe grávida
As garras do monstro
JMR desenhando
Nessa terceira sessão, pudemos analisar a capacidade de elaboração de conceitos a
partir da linguagem não verbal. Logo após as atividades, quando foi pedido que comentasse
os desenhos, os relatos de MJR foram surpreendentes.
O desenho à esquerda, ele descreveu como sendo um dinossauro atacando sua mãe.
Em seguida, diz que ele matou esse dinossauro perigoso. Em sua fala, reforça que o
dinossauro é um animal que ele admira. É grande, possui força e é bravo e que está
atacando a sua mãe. Mas ele que é uma criança corajosa o matou. Ele é mais forte que o
dinossauro. Nesse mesmo desenho, os traços ondulados acima, eram várias cobras que
queriam destruir sua mãe. Mas ele na sua bravura infantil matou 1700 cobras, enquanto o
pai só tinha matado uma.
No desenho seguinte, ele faz a garra do dinossauro denominando-o de ansiedade.
Inclusive escreve a letra A da ansiedade e já diz que é o que está lhe atacando. E desenha a
ansiedade em forma de monstro que precisa ser destruída.
Por meio dos desenhos MJR começa a elaborar novos conceitos, pois toma
consciência de que a ansiedade é algo ruim, que lhe traz inquietação e falta de atenção. A
partir dessa descoberta começa a nomear seus sintomas.
Como ficou fechada a sessão anterior em torno da ansiedade, no encontro seguinte,
a sessão foi iniciada questionando-se como estava agindo com a ansiedade. MJR começa a
desenhar e durante a atividade vai relatando: “A ansiedade de chifre, orelhas grandes, boca
malvada e espada na mão, dá um nó em si mesma e fica presa”. Conforme desenho abaixo.
Figura 4 - Representação da ansiedade
A tomada de consciência de que precisa ser tratado dessa ansiedade, motivou-o a
aceitar a iniciar um “jogo” que consistia em controlar essa ansiedade exacerbada. Cada
atividade que ele cumpria até o final, sem se estressar, ele ganhava um ponto, enquanto a
ansiedade perdia. O resultado conforme ele colocou no quadro abaixo, consta sua vitória
num placar de 3X0, nesta primeira sessão.
MJR
Figura 5 - Representação do Jogo: MJT contra a ansiedade
Fazer exercícios de psicomotricidade em sua própria casa, para aproximá-lo mais do
pai, também foi uma das atividades desenvolvidas.
III – Instrumentalização metodológica - Teste Bender infantil
Esta técnica desenvolvida por Lauretta Benderi em 1938 é um teste Gestalt Visomotor
que consiste em nove figuras (A, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8) que são apresentadas uma a uma,
para serem copiadas pelo analisando em uma folha em branco. Procura avaliar a percepção
por meio da reprodução das figuras. Parte do pressuposto de que, determinadas por
princípios biológicos e de ação sensório motriz variam em função do padrão de
desenvolvimento e nível maturacional do indivíduo e do seu estado patológico funcional.
Foi construído para fornecer um índice de maturação percepto-motora. Em crianças, sabese que o uso do Bender tem sido voltado para detectar a maturidade para a aprendizagem;
este teste nos permitiu um resultado, onde mostrava a presença da ansiedade e ausência de
uma pessoa1.
1
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-04712005000100003&script=sci_arttextA
Figura 6 - Aplicação do teste de
Bender
IV – Instrumentalização metodológica da Hora do Jogo.
A Hora do Jogo Diagnóstica é uma técnica psicoterápica que permite conhecer a
realidade da criança por meio de sua capacidade lúdica. A metodologia de tal recurso
consiste em observar o brincar das crianças por meio dos indicadores da hora de jogo.
Além desse recurso, as informações sobre a criança acerca de seu contexto sociocultural
são imprescindíveis, pois se procura saber sobre o meio em que ela vive, sua história de
vida, suas reações passadas e presentes.
A hora do jogo, no entanto, possibilita aos psicólogos uma compreensão do mundo
interior da criança pela sua corporidade e assim, fazer os encaminhamentos necessários
direcionando-os, principalmente, na busca de recuperar os aspectos menos preservados da
criança, a fim de resgatar o seu desenvolvimento (BROERING et alt 2007)
Por meio do lúdico, nas sessões com atividades com a hora do jogo, foram
trabalhadas a reconstrução da imagem e dos afetos com relação ao pai. Na foto a seguir,
MJR está sobre uma escada coberta com uma manta visualizando-se nos braços do pai.
Esta técnica objetivava construir laços com o pai.
A criança entra no mundo da imaginação e incorpora o papel que lhe é sugerido
com seriedade e faz uma declaração ao pai. “Pai ..., eu te amo! Eu quero brincar com
você!”.
Figura 7 - Encontro imaginário de MJR com o pai
Em falas anteriores, MJR mostra sua coragem, poder e proteção para com a mãe,
papel que normalmente é atribuído ao Pai. Na memória nosso analisando, ele sente-se o
chefe da família. “ enquanto mato 1700 cobras que querem pegar minha mãe, o meu pai só
mata uma.” Ele denuncia nessa fala que ele é mais forte que o pai.
No item a seguir, por dos exercícios de psicomotricidades, a criança é colocada
diante do pai para contatos mais íntimos, para estreitar laços. Apresentaremos por meio de
fotos de instrumentalização metodológica com exercícios de psicomotricidade.
V – Instrumentalização metodológica: Exercícios de psicomotricidade
O instrumento utilizado para aproximação entre pai e filho foi uma bola de plástico.
Esta técnica objetiva quebrar o gelo entre os dois, além de favorecer na criação de vínculos
de amizades e afetos entre os dois. MJR massageia o pai e em seguida o pai lhe retribui o
afeto.
Estas vivências foram importantes para ajudar a criança a se organizar mentalmente
pela elaboração dessa experiência, que transcorreu cheia de afeto, alegria e muita
descontração.
Em outro momento, os dois entram num duelo corporal. Cada um tenta tomar a bola
por inteiro um do outro. Quem conseguir ficar com a bola, é o vencedor. Nesta técnica, a
criança precisa compreender que ele enquanto criança não é o chefe da família, que é uma
criança e por isso precisa ser protegida pelos pais e ocupar seu espaço enquanto filho. O
pai, em alguns momentos, precisa mostrar para o filho que é o vencedor da parada,
fazendo-o perceber que é forte que ele.
Passados alguns minutos, os dois estão exaustos. É hora de uma parada para uma
conversa com a psicóloga para refletirem juntos o que pai e filho conseguiram apreender.
Com o recurso dessas técnicas de psicomotricidade, alcançamos os resultados
favoráveis para equilíbrio emocional da criança, que resultou no favorecimento de vínculos
familiares. Os antigos domínios formados pelas inter-relações familiares como um amor
muito grande e uma superproteção pela mãe e, pelo pai, uma carência e sentimentos de
superioridade sobre este, modificaram.
Dessa forma, anuímos com Duque e Costa quando postula que “[...]A linguagem está
relacionada com as atividades cognitivas pelos sujeitos conjuntamente. É a partir dessas
atividades que organizamos e damos forma às nossas experiências...”.
De acordo com Johnson (1987), citado por Duque e Costa, esses domínios – que
funcionam como padrões recorrentes, estrategicamente regulando as atividades de
ordenação das experiências – organizam-se como estruturas significativas principalmente a
partir de nossos movimentos corporais no espaço, nossas manipulações de objetos e nossas
interações psicológicas, físicas e sociais. São esses domínios que configuram expectativas
acerca dos objetos, dos eventos, das ações, enfim, de nosso entorno em geral, guiando-nos
no processo de compreensão e estrutura de conhecimento.
4 Os processos cognitivos e as construções linguísticas
Os mecanismos mentais, que são as construções linguísticas, agem sobre a
informação sensorial, buscando a sua interpretação, classificação e organização. Conforme
enunciado aqui, a criança começa a interagir consigo mesma, ou seja, ela apreende seu
problema de uma forma, onde ele se percebe como guerreiro e luta com algo que lhe
incomoda interiormente. Conforme os desenhos na figura 3.
Ele mostra, na figura 4, que a ansiedade, pelo mau que causa nas pessoas, tem uma
forma de monstro com chifres, orelhas grandes e boca enorme. Possui uma espada nas suas
garras e ao lutar com MJR, a ansiedade dá um nó em si mesma e se autodestrói.
Interessante nesse fato é que isso se dá só pela presença de MJR, ou seja, ele supera a
ansiedade.
Constatamos que os processos cognitivos de memória, categorização, atenção,
resolução de problemas, tomadas de decisão, tipos de raciocínio e a linguagem utilizados
por MJR, possibilitaram a construção de esquemas imagéticos cujas estruturas de
conhecimento ocorreram por meio de representações mentais do seu conhecimento. Neste
contexto, as representações são como estados mentais que promove um elo entre o
organismo e um determinado contexto. Têm como característica trazer em si mesmas os
objetos aos quais se referem independentemente de os mesmos estarem ou não em sua
presença.
Por meio da percepção, o nosso analisando faz a materialização dos seus
sentimentos, de tal forma, que podemos acompanhar o desenvolvimento da sua cognição –
que é o conjunto de atividades e processos pelos quais um organismo adquire informação e
desenvolve conhecimentos – e os sentimentos de dor e angústia que o acompanhavam.
Com as análises acima, constatamos que o comportamento intenso e agitado
decorria do deslaço afetivo com o pai, ocasionado pela excessiva carga horária de trabalho
e ingestões alcoólica desse progenitor. Dados esses fatores, verificamos que no seu
contexto sociocultural, MJR sentia falta da presença paterna. Apresentava na sua
corporalidade um sofrimento psíquico que não sabia nomear. A ausência de afetos era
lançada da mente e projetada no corpo. As emoções falam através do corpo e a as
inquietações, insônias, expressões psicossomáticas se manifestam de forma
comportamental e surpreende à mãe dessa criança, que não estava sabendo lidar com esses
sintomas inesperados.
A presença do pai é tão imprescindível quanto à presença da mãe para propiciar
saúde, segurança e alegria ao desenvolvimento psicomotor da criança. Durante os nove
meses da gestação, o feto consegue perceber seu pai por intermédio dos batimentos
cardíaco, produção hormonal e corrente sanguínea da mãe; assim como também, a
influência que ele exerce sobre ela. No entanto, quando este pai se torna ausente por
qualquer motivo, a criança apesar de sua imaturidade, consegue detectar essa falta e passa a
expressá-la por comportamentos inconscientes de rebeldia (JOSUÁ e NEVES, 2010).
Da mesma forma que percebia a ausência paterna nos seus momentos infantis,
também percebia o sofrimento da mãe pelo alcoolismo deste, fazendo-o assumir um novo
papel social na sua família. Sentia-se o chefe da família. Esse sofrimento transformado em
angústia era muito mais forte, impedia-o de ter concentração e causava dificuldades na
aprendizagem escolar. Contudo, os padrões de domínios, formado pela percepção de MJR,
foram resignificados. De acordo com Duque e Costa,
[...] são esses esquemas que nos permitem conhecer e falar sobre tudo
aquilo que nos cerca. Advoga-se, pois, que o aspecto semiológico das
categorias linguísticas decorre, sobremaneira, das inter-relações entre
nossa constituição biológica e nossas experiências no mundo, o que
resulta em estruturas de conhecimento organizadas na forma de domínios
cognitivo-culturais. ( DUQUE E COSTA, 2009)
A conceituação que a criança tinha de que era chefe da família funcionava de forma
distorcida em suas imagens mentais, causando-lhes dores na alma.
Considerações finais
Constatamos, através da linguagem não verbal expressa por MJR, que os esquemas
cognitivos que influenciavam na corporalidade causando angústias eram procedentes da
interação organismo e ambiente, ou seja, dos conflitos familiares. Somando esses
conhecimentos aos coletados, após aplicação do teste Bender, comprovamos a nossa
hipótese de que, o que estava causando a perda da homeostasia da criança era a carência
paterna.
Por meio de seus desenhos, a criança externava um amor muito grande e uma
superproteção à mãe; em relação ao pai, expressava carência e, simultaneamente,
sentimentos de superioridade sobre este. No geral, a criança era acometida de uma angustia
decorrente dessa carência e necessidade de amparo. A devolutiva dessas projeções
conceptuais evidenciou para os pais que as estruturas de conhecimento elaboradas pela
criança vinham de um contexto sociocultural experienciado e introjetado por esta. Fez-se
necessário, no entanto, que a criança vivenciasse um ambiente mais harmônico com a
presença paterna. Foram realizadas sessões de psicomotricidade entre pai e filho, para
favorecer uma reconstrução cognitiva, por meio de novas experiências para que se criarem
laços afetivos familiares.
Os laços afetivos da criança com o pai foram restabelecidos através de exercícios de
psicomotricidade, dessa forma, acreditamos que ao oferecer ferramentas e espaço para que
a criança pudesse se expressar, favoreceu nas ligações com as novas experiências e foi
possível vislumbrarmos o seu mundo e pudermos ajudá-lo. As vivências armazenadas que
funcionavam como padrões de domínios iam sendo resignificados na proporção da
apreensão dos eventos.
REFERÊNCIAS
BARTHOLOMEU, Daniel; RUEDA, Fabián Javier Marín; SISTO, Fermino
Fernandes.Teste de bender e dificuldades de aprendizagem: quão válido é o sistema
koppitz?
Disponível
em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S167704712005000100003&script=sci_arttextA> Acesso em:06.09.2010
_____.BARTHOLOMEU et alt KOCH, Ingedore G Villaça. Desvendando os segredos do
texto. São Paulo: Cortez, 2003.
BROERING, Camilla Volpato, FRANÇA, Grazielle Rocha. Universidade do Vale do
Itajaí, Brasil. Caso clínico: avaliação psicológica de uma criança com capacidade lúdica
inibida.2007.
Disponível:http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0360&area=d5
&subarea >Acesso em: 06.09.2010.
CANTONE, Alaide Degani. Dor e Psicossomática. Entrevista concedida à revista Saúde.
24/03/09 Disponível. em <http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/print.php?
article ID=624. >Acesso em: 08/08/2010
DAMÁSIO Antônio R. O erro de Descartes: emoção razão e o cérebro humano. Tradução
portuguesa Dora Vicente e Georgina Segurado — São Paulo Companhia das Letras 1996.
DUQUE, Paulo Henrique; COSTA, Marcos Antonio. Cognição e práticas discursivas:
Cognitivismo,
Corporalidade
e
construções.
2009.
Disponível
em:
https://sites.google.com/site/cogpradis/cognitivismo-corporalidade-e-construcoes Acesso
em 07.09.2010.
SILVA, A. S. da . A linguística cognitiva: uma breve introdução a um novo paradigma
em linguística. In: revista portuguesa de Humanidades. Vol I (91-2), 1997. P. 59-101
JOSUÁ,Maria da Conceição dos Santos; NEVES, Geórgia Filomena Baeta. Percepção do
mundo infantil através das técnicas: A hora do jogo e do teste Bender XIV Congresso
internacional de testes psicológicos. Campinas. São Paulo.
STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Tradução Anna Maria Dalle Luche,
Roberto Galma. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
SILVA, Augusto Soares. Linguagem, Cultura e Cognição, ou a Linguística Cognitiva»,
in Augusto Soares da Silva, Amadeu Torres & Miguel Gonçalves (orgs.), Linguagem,
Cultura e Cognição: Estudos de Linguística Cognitiva. Coimbra: Almedina, vol. I, 2004,
pp.1-18.
VAN DIJK, T. Cognição, discurso e interação. Apresentação e organização [de] Ingedore
Villaça Koch. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
ZORZI, J. L. Aquisição da Linguagem Infantil. São Paulo: Pancast, 1993.
Wikipédia,
a
enciclopédia
livre.
Disponivel
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lauretta_Bender > Acesso em: 06.09.2010.
i
em:<
Lauretta Bender era uma neuropsiquiátra pediatra; na sua infância era tida pelas autoridades escolares, como
um pouco retardada por apresentar dificuldades de aprendizagens; escrita mal elaborada e lentidão na leitura.
Download