Ansiedade e medo no contexto gerencial [...] Os sintomas mais comuns de ansiedade e medo no contexto gerencial se refletem nas tendências especificadas a seguir. Além dos sintomas físicos, a ansiedade na gerência produz tendência – às circunstâncias que se seguem. Sensibilidade excessiva A pessoa adquire maior dificuldade em modular emoções e se importuna facilmente com eventos específicos, sobretudo aqueles que lembram dificuldades anteriores. Gerentes tornam-se agressivos quando importunados. Como em determinados setores organizacionais os problemas são recorrentes, esses eventos tornam-se conhecidos pelos pares e subordinados, e menos por superiores – os chefes tentam esconder sua ansiedade e mostrar mais segurança perante os superiores. Por vezes, os subordinados evitam ou adiam a apresentação de fatos e dados que importunam o chefe para reduzir o estresse no trabalho, prejudicando a rapidez e a correção da decisão. Maximização de problemas e concentração nos fatores negativos A ansiedade perturba o funcionamento normal da mente, gerando comportamentos inusitados e a tendência a exagerar a importância de certas situações. Muitos chefes têm dificuldade de perceber dimensões positivas e de se sentirem seguros diante dos problemas. A convivência com situações ameaçadoras enfatiza a consciência sobre fatores negativos. A pessoa tende a perceber qualquer pequena dificuldade como um grande problema. Detalhes negativos em gráficos e tabelas são superanalisados para se estimar possíveis danos. O mesmo acontece nas relações pessoais: exageram-se desconfianças em pares e subordinados. Alguns gerentes chegam a se sentir confusos diante de apoio e afetos manifestos. Gastam tempo para esclarecer informações apenas imaginadas – produzidas na tentativa de ler a mente alheia – e sem muita evidência para apoiar seu pensamento, ou, ainda, agem por profecia auto-realizável – respondem como se as coisas já fossem acontecer da forma imaginada. Dispersão mental e transferência da decisão Diante da pressão para a decisão, algumas pessoas vêem reduzidas suas habilidades de compreender e de julgar eventos. Adquirem uma inibição de pensar, de raciocinar sobre situações problemáticas e, mesmo, de manter atenções afetivas com os colegas. Intensificam o desejo de escapar da situação. A atitude de querer abandonar o problema é normal em situações de perigo, mas impossível na gerência. Como não podem fugir do problema, os gerentes aprendem a se dissociar mentalmente da situação, concentrando-se em outros trabalhos ou delegando excessivamente a decisão. Por exemplo, gerentes muito ansiosos tendem a transferir decisões a outros, ou a deixar as coisas acontecerem para ver se a própria realidade provoca alguma decisão ou acomodação. Não assumem responsabilidades, transferem e adiam decisões. Procuram resolver os problemas pela não-interferência, na tentativa de garantirem tranqüilidade. Como pressões não são transferíveis, elas apenas 1 circulam por outros setores, prejudicando a organização sem ocasionar redução no estado de ansiedade do próprio gestor. Comunicações irrealistas Gerentes tendem a ruminar o problema ou a apresentar a si próprios uma série de hipóteses de solução e de fracasso. Muitas dessas ruminações são provocadas e alimentadas por falsas crenças sobre a realidade; fantasmas já existentes na mente são reativados pelas análises internas. Pensamentos e imagens são aos poucos montados numa lógica por vezes negativa. Em alguns casos, associam-se fatores de medo e de risco em uma sucessão de possibilidades, até se perceber uma verdadeira catástrofe. Essas análises mentais prejudicam o exame mais apurado dos fatos. Apesar de aparentemente próximo do real, na verdade tudo não passa de uma construção imaginária, mais perto da falsidade. Por ser uma imaginação, a conversa consigo próprio não tem elementos para se verificar sua veracidade. Contudo, se não for controlada ou coordenada, ela não só produz mais ansiedade como também torna a comunicação interna excessivamente baseada em dimensões irrealistas. Fonte MOTTA, Paulo Roberto de Mendonça. Ansiedade e medo no trabalho: a percepção do risco nas decisões administrativas. Disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/CLAD/clad0043637.pdf> . Acesso em: 01 set. 2005. 2