10 Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Temporal no

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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Temporal no Maranhão, Mato Grosso e
Rondônia de 1999 a 2012.
Mortality due to Heart Failure: Temporal Analysis in Maranhão, Mato Grosso and
Rondônia from 1999 to 2012.
Carmen Brandão¹ [email protected]
Fernanda Oda¹ [email protected]
Graziella Marques¹ [email protected]
Juliana Fonseca¹ [email protected]
1. Departamento de Epidemiologia e Bioestatística, Instituto de Saúde da Comunidade,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. Rua Marquês do Paraná 303 3º
andar do Anexo. Niterói, Rio de Janeiro, Brasil CEP: 24033-900.
1
Introdução
A Insuficiência Cardíaca (IC) pode ser definida, basicamente, como a
incapacidade do coração assegurar o débito sanguíneo necessário às exigências
metabólicas e fisiológicas do organismo. Considerada um problema de saúde pública, a
IC é responsável por um número expressivo de internações, principalmente após os 60
anos de idade. É uma doença crônica de alta prevalência e com alta taxa de mortalidade.
Apesar disso, têm sido demonstradas tendências de queda na mortalidade por IC em
alguns países, inclusive no Brasil.
Gaui e cols. analisaram as taxas de mortalidade por IC em quatro categorias –
desde o modo restrito, quando a IC é a causa básica de morte, até o modo ampliado que
inclui todos os diagnósticos com presença de IC. Com isso, avaliaram de modo mais
acurado o grande impacto da IC na população por sexo e faixa etária, demonstrando que
os mais idosos têm as maiores taxas de mortalidade e, em todas as faixas etárias, os
homens têm taxas mais elevadas que as mulheres, característica que fica menos evidente
com o avançar da idade. Entretanto, tal estudo analisou apenas três estados – Rio de
Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O objetivo deste estudo é avaliar as taxas de mortalidade por IC, por sexo e faixa
etária nos estados do Maranhão, Mato Grosso e Rondônia, de 1999 a 2012. Portanto,
pretende verificar o impacto da doença na mortalidade de estados com perfis
socioeconômicos diferentes dos estados analisados por Gaui e cols.
2
Métodos
Todos os dados referentes a óbitos e populações são de 1999 a 2012, dos estados
do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e Rondônia (RO). As informações sobre óbitos
foram obtidas a partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) no site do
banco de dados do Sistema Único de Saúde Brasileiro (DATASUS). As informações
sobre a população residente também foram obtidas do DATASUS.
Os dados foram analisados por estado, sexo e faixa etária. As faixas etárias
foram definidas deste modo: 40 a 49 anos e, a partir daí, de 10 em 10 anos até 79 anos e
80 anos ou mais.
A escolha dessas três unidades da federação teve como critérios o perfil
socioeconômico e a escassez de análise desses estados na literatura, pois a maioria dos
estudos sobre IC avaliam estados mais desenvolvidos, por conta do perfil etário mais
idoso e da boa qualidade de preenchimento dos atestados de óbito, ou então analisam o
Brasil como um todo, não possibilitando uma interpretação mais pontual de regiões tão
distintas.
Os registros informatizados dos óbitos utilizaram a classificação de mortalidade
da 10ª Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde da Organização Mundial de Saúde (CID-10), da qual
selecionamos o código I50 (Insuficiência Cardíaca).
Foram construídas taxas de mortalidade, estimadas pela razão entre os óbitos e a
população residente no estado. A análise estatística foi realizada utilizando-se o
programa Excel.
3
Resultados
25
Taxa de mortalidade de IC por sexo
Taxa de mortalidade
20
MT MASCULINO
15
MT FEMININO
MA MASCULINO
10
MA FEMININO
RO MASCULINO
5
RO FEMININO
0
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 1 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, em todas as faixas etárias, do Maranhão (MA), Mato Grosso
(MG) e Rondônia (RO), de 1999-2012;
14
Taxa de mortalidade de IC por sexo, de 40 a 49 anos
Taxa de mortalidade
12
10
MT MASCULINO
MT FEMININO
8
MA MASCULINO
6
MA FEMININO
RO FEMININO
4
RO MASCULINO
2
0
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 2 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, de 40 a 49 anos, do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e
Rondônia (RO), de 1999-2012;
4
50
Taxa de mortalidade de IC por sexo, de 50 a 59 anos
45
MT MASCULINO
Taxa de mortalidade
40
35
MT FEMININO
30
25
MA MASCULINA
20
MA FEMININO
15
10
RO MASCULINO
5
0
RO FEMININO
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 3 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, de 50 a 59 anos, do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e
Rondônia (RO), de 1999-2012;
180
Taxa de mortalidade de IC por sexo, de 60 a 69 anos
160
Taxa de mortalidade
140
MT MASCULINO
120
MT FEMININO
100
MA MASCULINO
80
MA FEMININO
60
RO MASCULINO
40
RO FEMININO
20
0
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 4 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, de 60 a 69 anos, do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e
Rondônia (RO), de 1999-2012;
5
400
Taxa de mortalidade de IC por sexo, de 70 a 79 anos
Taxa de mortalidade
350
300
MT MASCULINO
250
MT FEMININO
MA MASCULINO
200
MA FEMININO
150
RO MASCULINO
100
RO FEMININO
50
0
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 5 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, de 70 a 79 anos, do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e
Rondônia (RO), de 1999-2012;
1400
Taxa de mortalidade de IC por sexo, de 80 anos e mais
1200
Taxa de mortalidade
1000
MT MASCULINO
MT FEMININO
800
MA MASCULINO
600
MA FEMININO
RO MASCULINO
400
RO FEMININO
200
0
Anos
Fonte: SIM/DATASUS
Gráfico 6 - Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca em homens e
mulheres, por ano de ocorrência, por sexo, de 80 anos e mais, do Maranhão (MA), Mato Grosso (MG) e
Rondônia (RO), de 1999-2012;
6
Discussão
Este estudo mostra tendências de queda das taxas de mortalidade por IC, nos
estados do Mato Grosso e Rondônia, de 1999 a 2012, em todas as faixas etárias abaixo
dos 80 anos de idade. Enquanto isso, o estado do Maranhão não mostra uma tendência
de queda da taxa de mortalidade por IC.
Nota-se primeiramente que as oscilações em todos os gráficos construídos foram
grandes, havendo aumentos e diminuições anuais abruptas na taxa de mortalidade por
IC. Pode-se perceber que essas oscilações não ocorrem nos estados mais desenvolvidos
como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Uma hipótese para isso é a
melhor qualidade de atendimento e infraestrutura para a captação de dados de óbito nos
estados mais desenvolvidos.
No gráfico 1, os estados de MT e RO apresentaram queda da taxa de mortalidade
por IC ao longo dos anos, tanto os homens quanto as mulheres. Entretanto, o MA
apresentou crescimento dessa taxa. Essa mesma característica é visível no gráfico 6,
quando analisamos a taxa de mortalidade por IC de homens e mulheres com mais de 80
anos. Em ambos os gráficos, a taxa do MA é inferior às taxas dos outros estados,
enquanto MT e RO têm taxas similares. Tal questão sugere que o MA ainda está em um
estágio anterior da transição epidemiológica quando comparado com MT e RO.
Os gráficos 3 e 4 analisam as taxas de mortalidade nas faixas etárias de 50 a 59 e
de 60 a 69 anos respectivamente. Ambos são os gráficos que apresentam maior
oscilação ao longo dos anos. Mesmo assim, quando analisamos cada estado, podemos
perceber que a taxa dos homens é, em geral, superior a das mulheres.
No gráfico 4, de 60 a 69 anos, é nítida a queda da taxa de IC nos três estados ao
longo dos anos, com exceção das mulheres do MA que apresentaram estabilidade na
taxa de mortalidade por IC. A grande queda nessa taxa é observável nos gráficos 5 (70 a
79 anos) e 6 (80 anos e mais), mas o MA não demonstra queda.
Ultimamente, relatos publicados também têm demonstrado queda da mortalidade
por doenças cardiovasculares em geral. Apesar disso, não é o que se nota nos estados
menos desenvolvidos. Em quase todas as faixas etárias analisadas houve um aumento da
mortalidade em ao menos um estado. Pode-se questionar a qualidade desses relatos que
são feitos, em sua maioria em grandes metrópoles, deixando a margem estados menos
desenvolvidos.
Apesar disso, neste estudo, observa-se também que as taxas de mortalidade por
IC dos homens são maiores do que as das mulheres, em todas as faixas etárias até os 80
anos, sendo que, entre os sexos, as diferenças destas taxas decrescem, aproximando-se
com o avançar da idade. O mesmo acontece nos estados mais desenvolvidos, segundo
demonstra Gaui e cols., não havendo discordâncias nesse aspecto. Vale-se ressaltar que
essa pré-disposição dos homens necessita de maior atenção na saúde básica.
7
Finalmente, é possível notar que tanto os estudos sobre IC quanto a medicina em
geral esta voltada para os grandes tecnopolos, deixando a deriva localidades mais
humildes e que, atualmente, necessitam de mais atenção devido ao crescente numero de
óbitos por IC.
8
Referências
GAUI, E. N.; KLEIN, C. H.; OLIVEIRA, G. M. M. Mortalidade por insuficiência cardíaca:
análise ampliada e tendência temporal em três estados do Brasil. Arq. Bras. Cardiol., São
Paulo, v. 94, n. 1, p. 55-61, Jan. 2010.
REY, L. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003. 950p.
GAUI, E. N.; KLEIN, C. H.; OLIVEIRA, G. M. M. Mortalidade Proporcional por Insuficiência
Cardíaca e Doenças Isquêmicas do Coração nas Regiões do Brasil de 2004 a 2011. Arq. Bras.
Cardiol., São Paulo, v. 107, n. 3, p. 230-238, Sept. 2016.
MANGINI, S. et al. Insuficiência cardíaca descompensada na unidade de emergência de
hospital especializado em cardiologia. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 90, n. 6, p. 433-440,
June 2008.
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