Crítica no semanário De Groene Amsterdammer Christiaan Weijts https://www.groene.nl/artikel/de-ziel-der-dingen-europese-literatuurprijs. Uma pintura camada a camada, pensamentos que emergem para logo desaparecer, recordações, impressões, sonhos, farrapos de diálogos. Por vezes, repetições literais que, sendo temas recorrentes, reforçam a musicalidade. Este ziguezaguear sem pontuação procura imitar a ininterrupta corrente interior que é um misto de pensar, sentir, falar, sonhar e recordar. Traduzir um livro destes requer uma mão extremamente segura, um ouvido musical e uma sensibilidade especial para encontrar o ritmo certo. O tradutor Harrie Lemmens dispõe visivelmente de todas essas qualidades, tendo sabido criar uma linguagem que traz à superfície uma camada de energia singularmente íntima. Surpreendentamente, esta linguagem não é, de modo algum complicada. Até mesmo a gramática, embora algo caprichosa, não descamba em nenhum momento em poesia experimental conhecida pelo seu carácter impenetrável. Contrariamente ao que se poderia pensar na primeira abordagem, esta obra é justamente o oposto de impenetrável e confusa. É uma prosa certeira, esmerada, que, através de detalhes concretos, penetra naquilo que Flaubert diz ser “a alma das coisas”. (Tradução: Ana Carvalho)