CliNICA - O JornalDentistry

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2014
CIRURGIA MUCOGENGIVAL PARA RECOBRIMENTO DE RECESSÃO
EM ZONA ESTÉTICA
A
etiologia das recessões gengivais é multifactorial,
podendo ocorrer por escovagem traumática, acumulação de placa bacteriana, freios pronunciados, hábitos orais
nocivos, restaurações subgengivais e idade.
Estas recessões estão muitas vezes associadas a deiscências ósseas vestibulares causadas por anomalias anatómicas,
dentes mal-posicionados, tratamento ortodôntico, periodontite, invasão do espaço biológico e trauma oclusal.
Nos casos em que há comprometimento a nível estético ou
manifestações de hiper-sensibilidade, deve ser realizado o
recobrimento radicular, tendo em mente a técnica mais adequada e a sua previsibilidade de acordo com o tipo de defeito.
Miller classificou as recessões em quatro classes:
–
: a recessão não alcança a linha muco-gengival e
não há perda de inserção periodontal interproximal. A técnica mais adequada nestes casos é o reposicionamento
coronal e a previsibilidade é de 100%.
–
: a recessão alcança a linha muco-gengival e não
há perda de inserção periodontal interproximal. Aqui há
necessidade de se recorrer a um enxerto de tecido conjuntivo, mas a previsibilidade mantém-se nos 100%.
–
: a recessão alcança a linha muco-gengival
e há perda de tecido interproximal (osso ou gengiva)
mais coronal que a recessão. A previsibilidade diminui
para 50%.
–
controlo da placa bacteriana, sem trauma da zona enxertada durante os primeiros 15 dias após a intervenção. O
tabaco também deve ser evitado ao máximo, pois diminui a taxa de sucesso dos enxertos. O clínico deve fazer
uma correcta avaliação do defeito com que se depara
(Classe de Miller, profundidade e largura da recessão,
biótipo do paciente e posição/localização – caninos e
molares mais difíceis de recobrir devido a convexidade
das raízes). Em relação à técnica cirúrgica, o mais importante é ter em conta a área avascular do leito receptor, a
espessura do retalho e a sutura sem tensão.
Os enxertos de tecido conjuntivo estão associados a retalhos de recobrimento coronal ou a técnica de túnel.
A maior vantagem da técnica de túnel ou envelope é a eliminação das incisões de descarga e, sendo um retalho de
espessura parcial, permite a conexão do tecido conjuntivo
quer pelo lado do retalho quer pelo periósseo, ocorrendo
uma boa irrigação sanguínea.
Raetzk efectuou um estudo em 10 pacientes, com um total
de 12 recessões, em que alcançou 80% de sucesso após
8 meses com a técnica de túnel. Foi conseguido recobrimento radicular total em 5 casos e aumento da gengiva
queratinizada em todos eles.
Allen tratou 23 recessões em 12 pacientes com Classes
I e II de Miller, relatando 84% de recobrimento radicular,
sendo que o recobrimento total foi obtido em 61% dos
casos. A técnica deste autor assentava num bisel interno
para a remoção do epitélio sulcular, conservando o máximo
possível de tecido gengival e diminuindo o trauma cirúrgico.
As papilas eram mantidas intactas, favorecendo a fixação do
enxerto dentro do envelope.
No entanto, Langer também descreveu alguns insucessos e
complicações decorrentes desta técnica, que podem ocorrer
quando o leito receptor é insuficiente para prover adequado
suprimento sanguíneo ao enxerto, quando existe uma perfuração do retalho, quando o enxerto é de tamanho ou espessura inadequada, quando há ausência de osso interproximal,
falta de tecido gengival para recobrimento, mau posicionamento do enxerto e preparação radicular insuficiente.
O retalho deve estender-se pelo menos a um dente em
mesial e um em distal da recessão para haver mobilidade
adequada da gengiva.
O enxerto é posicionado com dois pontos laterais e 2 pontos
suspensos no dente.
Caso clínico
Paciente do sexo feminino, 30 anos de idade, com uma
retracção Classe I de Miller no dente 11, associada a posição
vestibularizada deste dente.
Foi proposto um enxerto de tecido conjuntivo com a técnica de túnel, para recobrimento radicular e para aumento da
banda de gengiva queratinizada, já que a paciente iria fazer
tratamento ortodôntico a seguir.
a perda de tecido interproximal atinge o nível
da recessão. Qualquer tipo de cirurgia mucogengival é
pouco previsível.
Há diversas técnicas de recobrimento radicular, que
podem ser divididas em enxertos pediculados (retalho
rotacional, retalho de dupla papila ou retalho de reposicionamento coronal) e enxertos livres (gengival livre ou
conjuntivo subepitelial).
Há ainda outras técnicas que envolvem a utilização de
materiais diferenciados, tais como as proteínas derivadas
da matriz do esmalte (Endogain®) ou matrizes colagénicas
(Mucograft ®).
Os resultados destas técnicas dependem de vários factores, que nem sempre podem ser controlados pelo clínico. O paciente deve ser capaz de fazer um rigoroso
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Figuras 1 e 2: Imagens iniciais.
Prof. Doutor Fernando Almeida
Director Clínico da Clínica de Medicina Dentária
dos Carvalhos e Clínica Infante de Sagres
- Director do Centro de Formação FA.
Dra. Ana Pais
Clínica de Medicina Dentária dos Carvalhos
- Centro de Formação FA.
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Figuras 3 a 6: Incisao intra-sulcular com preservação das papilas.
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Figuras 7 e 8: Recolha do tecido conjuntivo no palato e sutura.
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Figuras 9 a 14: Sutura do enxerto de tecido conjuntivo dentro do envelope.
Figura 15: Controlo aos 5 dias.
Figuras 16 e 17: Controlo aos 15 dias e remoção da sutura.
Figura 18: Controlo aos 30 dias.
Figura 19: Controlo aos 60 dias.
Figura 20: Controlo ao final de 1 ano, já no decorrer do tratamento
ortodontico.
Conclusão
O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial associado a um
retalho em túnel tem uma boa previsibilidade em retracções gengivais Classe I e II de Miller. Este tipo de retalho promove uma boa irrigação sanguínea, pois elimina
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a necessidade de incisões de descarga e promove uma
óptima estabilidade do tecido conjuntivo, que é fundamental para o sucesso do enxerto.
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