pub pub 3 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 04 |AS MELHORES BANDAS DO MUNDO 06 | SOMOS PEQUENOS MAS BONS Raquel Louçã Silva | Directora [email protected] 08 | ELES ‘RULAM’ E OS FÃS PULAM 10 | A ERA DA FUSÃO Editorial Põe no ‘on’, hoje é Dia Mundial da Música! «Sem música a vida seria um crespúsculo», escreveu Nietzsche em ‘O Crepúsculo dos Deuses’. 11 | MOMENTOS BEM VIVIDOS 12 | SOMOS O QUE OUVIMOS? 14 | PORQUÊ PAGAR QUANDO PODES TER DE GRAÇA? 16 | BENJAMINS DA PUBLICIDADE 18 | agenda de concertos Numa altura em que não há dia que passe sem ser Dia Mundial de qualquer coisa, da listagem não poderia deixar de constar, e bem, o Dia Mundial da Música. É hoje, dia 1 de Outubro. Para assinalar a data com propriedade não podemos, ora bolas!, oferecer-te uma mão cheia de CD, nem tão pouco um bilhete para ‘o tal’ concerto mas fazemos melhor, muito melhor, damos-te estas 20 páginas cheinhas de música. Consegues ouvir? Isso é que é preciso! Põe no ‘on’, aperta o cinto e prepara-te para começar numa viagem colossal pelas melhores bandas de sempre do mundo. Dos 50 aos 90 o frenesim é tanto que depois há-de apetecer estacionar para saborear com mais vagar os riffs da actualidade. O que marca o panorama do momento por cá e por lá. Muitos talvez não façam parte da selecção para futuro artigo sobre as bandas que marcaram o início do século, mas isso já são outras considerações que deixamos por tua conta. Ah, já que estacionaste, aproveita e senta-te à mesa para um café com a malta porque também lançamos achas suficientes para alimentar um fogosa discussão. A relação entre a música que cada um ouve e a sua maneira de estar na vida. A moda das bandas que agora disparam no top porque entraram no anúncio tal. Ou a pertinente questão que a indústria musical atravessa com esta história da Internet. Porque isto, porque aquilo, e para terminarmos com a verdadeira cereja no topo do bolo, a agenda de concertos. Que no que toca à música processem-me se quiserem mas defendo com unhas e dentes, mesmo sob tortura, que é em concerto que melhor se vive aquilo que Nietzsche dizia ser a nossa luz. FICHA TÉCNICA Directora Raquel Louçã Silva Conselho de Gerência António Stilwell Zilhão Francisco Pinto Barbosa Gonçalo Sousa Uva Colaboradores João Silva Santos Laura Alves Mariana Seruya Cabral Pedro Quedas Raquel Ramos Tiago Carrasco Projecto gráfico Joana Túlio Paginação Bernardo Simões Correia Marketing Rui Gonçalves e Vanda Filipe Publicidade Margarida Rêgo (Directora Comercial) João Fernandes (Account Senior) Rui Tito Lopes (Account Senior) Sede Redacção | Estrada da Outurela nº 118 Parque Holanda Edifício Holanda 2790-114 Carnaxide Tel | 21 420 13 50 | Fax | 21 420 13 69 Tiragem | 35 000 Distribuição | Gratuita Impressão | Grafedisport Casal Sta. Leopoldina - Queluz de Baixo 2745 Barcarena ISSN 1646-1649 Os álbuns mais vendidos 1.‘Thriller’ (1982) Michael Jackson 108 milhões de exemplares 2.‘Back to Black’ (1980) AC/DC 42 milhões 3.‘The Bodyguard’ (1992) Whitney Houston 42 milhões 4.‘Greatest Hits’ (1976) Eagles 41 milhões 5.‘Dark Side of the Moon’ (1973) Pink Floyd 40 milhões 1967 o ano de ouro 1967 é considerado pela maioria dos especialistas como o melhor ano musical da história. Os Beatles lançaram ‘Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band’, os The Doors lançaram o seu primeiro álbum, os The Velvet Underground surpreenderam com ‘The Velvet Underground and Nico’ e os Jefferson Airplane deram a conhecer ‘Surrealistic Pillow’. Como se não bastasse, foi em 1967 que nasceu Kurt Cobain Viagem dos 50 ate aos 90 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 04 As melhores bandas do mundo De Elvis a Nirvana. De Kraftwerk a Madonna. Os últimos 50 anos do último século estão repletos de grandes músicas e de grandes bandas. Houve os que venderam milhões de discos e os que mobilizaram milhões de pessoas. Na História ficaram os que, década a década, criaram milhões de novas possibilidades musicais e sociais. Tiago Carrasco [email protected] Anos 50 Little Richard Período de actividade: (1951 – presente) «O Rock ‘n’ Roll é malvado, porque o Rock ‘n’ Roll obriga-te a consumir drogas e as drogas fazem com que te tornes homossexual». Chuck Berry Período de actividade: (1955 – presente) «Os rapazes queriam êxito, carros e paixão. Essa era a tendência e nós saltámos para cima dela». Elvis Presley Período de actividade: (1953 – 1977) «A minha voz nasceu por vontade de Deus, não por minha». Miles Davis Período de actividade: (1944 – 1991) «O jazz é como o blues, mas com um pouco de heroína». Ser homossexual e negro nos Estados Unidos dos anos 50, não era tarefa fácil. Little Richard conseguiu sê-lo e ainda fazer música para brancos. Lidou, desde cedo, com o preconceito: chegou a cantar na rua, a lavar pratos e a vender bíblias, mas o seu êxito ‘Tutti-Frutti’, de 1955, catapultou-o para o sucesso. A sua mistura frenética de blues e gospel explodiu e fragmentou a sociedade americana. É considerado um dos ‘arquitectos’ do rock e uma das grandes influências para os Beatles e para os Rolling Stones. Outro dos pioneiros do rock foi Chuck Berry, guitarrista e compositor do Mis souri. John Lennon chegou mesmo a dizer: «Se tentarem dar outro nome ao Rock ‘n’ Roll, terá de ser Chuck Berry». Foi considerado pela revista Rolling Stone como o quinto maior artista de todos os tempos e a sua música de maior sucesso, ‘Johnny B. Goode’, foi uma das obras culturais enviadas para o espaço na sonda Voyager I. Berry combinava as influências dos blues e do country com animadas letras sobre carros e raparigas. Em 1959, foi preso por explorar sexualmente uma índia apache de 15 anos que encontrou durante uma digressão. O caminho estava aberto para a chegada do ‘Rei’. Elvis Presley inovou com os seus movimentos de anca, a poupa, as patilhas e uma voz quente e versátil. Na base estava uma mistura inédita entre as sonoridades afro-americanas de blues e gospel e os ritmos ‘brancos’ de country e pop. Foi o primeiro artista de massas, o segundo mais vendido de sempre, depois dos Beatles, com 600 milhões de discos, e o terceiro com mais singles a liderar as tabelas mundiais (17, contra 18 de Mariah Carey e 20 dos Beatles). Contagiante no palco, contagiado pela hipocondria fora dele, Elvis morreu em 1977 na casa-de-banho da sua mansão em Graceland por motivos ainda hoje desconhecidos. Enquanto o rock dava os primeiros passos, o jazz conquistava múltiplas variantes e dimensões. Apesar de não ser o mais virtuoso dos seus intérpretes, Miles Davis foi o mais inovador de todos os trompetistas. Foi o pioneiro do cool jazz e fez parte do desenvolvimento do jazz modal e do jazz fusion. Ainda hoje, o trompete de Davis é um dos mais procurados para a música ambiente e para a banda sonora de filmes e documentários. E ainda houve o piano de Ray Charles, a guitarra de Johnny Cash e a voz de Sinatra. Beatles ocupam um lugar de destaque. Nunca ninguém vendeu tantos discos, teve tanto mediatismo e influenciou tanta gente como a banda de Liverpool. Lennon, McCartney, Starr e Harrison Anos 60 The Beatles Perído de actividade: (1960 – 1970) «Somos mais famosos do que Jesus Cristo». (John Lennon – Vocalista) já venderam mais de 1000 milhões de discos, puseram 40 êxitos no topo das tabelas britânicas e foram considerados a melhor banda de sempre pela Rolling Stone e pela Billboard. ‘Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band’, de 1967, é considerado o seu melhor álbum. O assassinato de John Lennon, em 1980, terminou com a possibilidade dos Beatles voltarem a tocar juntos. Os Rolling Stones são vistos como os antagonistas dos Beatles nos 60’s mas, na verdade, foram os The Doors que mais se demarcaram do paradigma do rock na época. Com o seu som ácido, marcado pela influência do jazz e pelo uso do sintetizador, abriram as portas da percepção até ao infinito. Sucessos como ‘Riders on the Storm’ e ‘Break on Trough’ fazem com que continuem a vender mais de um milhão de discos por ano. O vocalista Jim Morrison, símbolo de rebeldia e de liberdade, morreu em circunstâncias misteriosas numa banheira de um quarto parisiense. O rock psicadélico e o pop/rock contracenavam com o folk-rock, cujo maior intérprete é o polémico Bob Dylan. Dylan começou por levantar a bandeira da paz e da luta contra a guerra do Vietname, mas, ao contrário de John Lennon e de Jim Morrison, decidiu não agitá-la. Redefiniu-se como poeta e músico e renegou a influência política. Foi criticado por muitos críticos e fãs, mas músicas como ‘Like a Rolling Stone’ ou ‘Masters The Doors Período de actividade: (1965 – 1972) «Vejo-me como um cometa flamejante, uma estrela cadente. Toda a gente pára, olha e exclama: ‘Oh, olha para aquilo!’ Depois, desapareço. E eles nunca voltarão a ver uma coisa como aquela e não vão ser capazes de me esquecer». (Jim Morrison – vocalista). Bob Dylan Período de actividade: (1956 – presente) «Nunca escrevi uma canção política. As canções não podem salvar o mundo. Já ultrapassei isso». Velvet Underground Período de actividade: (1965 – 1973) «Nunca sorrimos, virávamos as costas à plateia e mostrávamos-lhes o dedo. A nossa missão era chatear as pessoas, fazer com que se sentissem desconfortáveis, fazê-las vomitar». (John Cale – Baixista) Eleger quatro bandas na década de 60 é como ir ao Olimpo resgatar quatro deuses gregos para figurarem num templo imortal. Mas, no que toca ao divino, os 05 of War’ tornaram-se tão eternas como o seu talento. Considerado pelo diário britânico ‘Daily Observer’ como o álbum mais influente de sempre, ‘The Velvet Underground and Nico’, acabou por marcar o final dos anos 60. Os The Velvet Underground passaram quase despercebidos na época, mas influenciaram dezenas de artistas nas décadas seguintes. Sem eles não existiriam David Bowie, Jesus and Mary Chain, Depeche Mode ou Joy Division. Financiados e intelectualmente motivados por Andy Wahrol, os The Velvet Underground foram o expoente máximo do experimentalismo musical. Nunca ninguém tinha tocado tão abertamente temas relacionados com sexo, drogas pesadas, sadomasoquismo e prostituição. Anos 70 Kraftwerk Período de actividade: (1970 – presente) «Reproduzimos a grande variedade de sons e músicas existente no cérebro das pessoas». (Ralf Hutter) Pink Floyd Período de Actividade: (1964 – presente) «Não existe um lado negro da lua. Na verdade, ela é toda escura». (Roger Waters – Baixista/Vocalista) Led Zeppelin Período de actividade: (1968 – 1980) «Gosto da ideia de estar sozinho. Gosto da ideia de estar sozinho em muitos aspectos da minha vida. Gosto de me sentir só. Gosto de precisar de coisas». (Robert Plant – Vocalista) Bob Marley Período de actividade: (1961 – 1981) «A erva é a cura de uma nação. O álcool é a destruição». Bob Marley [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Período de actividade: (1961 – 1981) «A erva é a cura de uma nação. O álcool é a destruição». O álbum ‘Dark Side of The Moon’, de 1973, é presença incontornável nas votações de melhores discos do século. Os Pink Floyd foram pioneiros do rock progressivo e agitaram o mercado musical com capas de discos vanguardistas e concertos elaborados. Em 1979, em plena guerra-fria, o álbum ‘The Wall’ deu a primeira machadada no muro de Berlim e o grupo inglês assumiu-se, com as suas letras de tom filosófico e social. Os Pink Floyd já venderam mais de 200 milhões de discos em todo o mundo, mas sofreram várias divisões internas: o fundador Syd Barret foi expulso devido ao vício em drogas e David Gilmour e Rogar Waters bateram-se em tribunal pelos direitos legais das músicas. O movimento punk alastrava-se em Londres e em Nova Iorque ao som de Sex Pistols e de Ramones. No entanto, os Led Zeppelin davam a conhecer a génese do heavy-metal, misturada com aprendizagens retiradas da música celta, índia, clássica e até do reggae. O resultado está hoje à vista: são a única banda na história a colocar todos os seus álbuns no top 10 dos E.U.A, já venderam 300 milhões de discos e lideram o top da VH’1 como a melhor banda de hard-rock. O fim dos Led Zeppelin coincidiu com a morte do baterista John Bonham, sufocado no próprio vómito, em 1980. O grupo voltou a reunir-se em 2007, para um concerto no Estádio de Wembley, com Jason Bonham, filho de John, na bateria. Enquanto os suecos ABBA começavam a levar o público para as pistas de dança, os alemães Kraftwerk aumentaram as opções dos Dj’s ao inventarem a electrónica. ‘Trans –Europe Express’, de 1977, é uma obra urbana e intelectual sem paralelos no seu tempo, tendo os sintetizadores e os primeiros computadores como principais ferramentas. Sem Kraftwerk, não existiria o techno, o house e o electro. Ao mesmo tempo, do Mar das Caraíbas, surgiam batidas de liberdade. Bob Marley e os Wailers punham a Jamaica e o reggae no mapa musical. Marley foi a primeira estrela dos pobres e oprimidos e dos países subdesenvolvidos, abrindo a porta para outras músicas do mundo. Mais tarde, nomes como Cesária Évora e Youssou N’Dour aproveitariam a abertura. Anos 80 Michael Jackson Período de actividade: (1968 – presente) «Quando olho para uma criança, vejo a cara de Deus. É por isso que eu as amo tanto». Madonna Período de actividade: (1982 – presente) «Toda a gente diz que te ama quando está prestes a ejacular-se». Metallica Período de actividade: (1981 – presente) «É tudo divertimento e jogos, até alguém perder um olho. Depois, são divertimentos e jogos que não podes ver». (James Hetfield – Vocalista) The Clash Período de actividade: (1976 – 1986) «Gosto de tocar na América porque sei que não vou levar com uma garrafa de cerveja na cabeça. Aprecio isso». (Joe Strummer – Vocalista) O punk era o parente pobre da cena musical até à chegada dos The Clash. Com ‘London Calling’, de 1979, o grupo londrino mostrou que o punk também podia ser bem tocado. Para isso, puxaram pelas influências do reggae, do funk e do rockabilly e, através das letras vincadamente esquerdistas, demarcaram-se do niilismo dos Sex Pistols e da simplicidade dos Ramones. A Rolling Stone escolheuos como a melhor banda dos 80’s. Aproveitando os ensinamentos de Led Zeppelin, os californianos Metallica encarnaram a figura de reis do heavy-metal. A música vestida de negro e de cabelos longos era dominada por quatro grandes bandas: Anthrax, Megadeath, Slayer e Metallica. A partir de 1986, com o lançamento de ‘Master of Puppets’, o conjunto de Lars Ulrich e de James Hetfield passou a liderar esta corrida, apesar do criticismo pelas incursões por projectos comerciais. Hoje, com 90 milhões de discos vendidos e sete Grammy, são a banda de metal com maior projecção no mundo. Guitarras à parte, os anos 80 ficaram marcados pela projecção das grandes estrelas pop. Michael Jackson, de todas a mais cintilante, embasbacou o mundo com ‘Thriller’, de 1982, o álbum mais vendido da história com 108 milhões de exemplares. Uma fusão de R&B, soul, rock, funk e disco, acompanhada por vertiginosos passos de dança e pelo videoclip mais aclamado de sempre. O menino que começou a cantar com os irmãos nos Jackson Five, que fez uma operação à pele para ficar branco e que se tornou na maior estrela popular mundial nunca deixou de se sentir um menino. Talvez, por isso, tenha sido tantas vezes acusado de pedofilia ao longo da vida. Madonna aproveitou o rasto de sucesso deixado por Michael Jackson para se lançar como a grande diva do estilo pop. Primeiro, apareceu com cruzes góticas ao pescoço. Depois, veio o sexo, o cinema, as pistas de dança e a maturidade. Hoje, tem estatuto e irreverência de sobra para dedicar o seu single ‘Like a Virgin’ ao Papa ou para se crucificar em palco com imagens de crianças africanas, famintas, a rodar na tela. Herdeira de Patti Smith, Aretha Franklin e Janis Joplin, Madonna é, actualmente, uma das mulheres mais respeitadas do mundo. Porque sempre fez o que quis. Longe desta realidade, os Rage Against the Machine (RATM) constituíam-se como a banda com convicções políticas mais marcadas. Fundadores do rapcore, uma fusão de rap, punk e hardcore, os Anos 90 Nirvana Período de actividade: (1987 – 1994) «Prefiro ser odiado pelo que sou, do que ser amado pelo que não sou». (Kurt Cobain – Vocalista) RATM solidarizaram-se com várias causas apoiadas pela extrema-esquerda, como por exemplo, com o Exército Zapatista, no México, ou com os Senderos Luminosos, no Peru. Em 1993, o grupo apareceu despido e de membros atados em palco, em protesto contra a censura de uma das suas músicas. Zack de la Rocha, o vocalista, consegue rimar autênticos discursos políticos sobre as fortes batidas do rock pesado. Se dúvidas haviam, ‘Ok, Computer’ (1997) dissipou-as. Os ingleses Radiohead conseguiram que o seu rock alternativo alicerçado no ‘falsetto’ do vocalista Tom Yorke se tornasse num marco da década. Os temas sobre a alienação moderna e a introdução dos efeitos electrónicos aproximaram o grupo do art-rock e de um registo conceptualista. Em 2007, os Radiohead tornaram-se na primeira banda mediática a lançar um álbum – ‘In Rainbows’– por meio do download digital, em que os compradores pagavam aquilo que queriam. De NWA (Niggaz with Attitude) ficou a música ‘Fuck the Police’, censurada nos Estados Unidos. Mas este grupo de rap californiano significou muito mais do que isso. Marcou o início do gangsta rap, um dos estilos musicais mais recorrentes dos últimos 20 anos. Os seus arranjos musicais em jeito de reportagem áudio, com sirenes, gritos e tiros, foram inovadores e uniram-se às rimas de denúncia. A entrada no novo milénio viria a confirmar o crescimento do hip-hop e o surgimento do movimento indie pelas mãos dos The Strokes. Radiohead Período de actividade: (1988 – actualmente) «Se querem entreter-se, levantem-se e vão ver Hanson» (Thom Yorke – Vocalista) Rage Against the Machine Período de actividade: (1990 – 2000/ presente) «Eu estou nesta banda para dar voz a várias lutas pelo mundo fora. Para mim, a tensão nesta banda é um sacrifício mínimo». (Zack de la Rocha – Vocalista) NWA Período de actividade: (1986 – 1991) «Isto vai forçar as pessoas a desafiaremse a si mesmas e a analisarem em que ponto estamos a nível do racismo». – (Ice Cube) No início da década de 1990, o rock mudou-se para Seattle e mudou a sua identidade para grunge. Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soungarden inundaram o mundo com um rock alternativo que representava uma nova geração vestida com camisa aos quadrados e calças de fato de treino. Kurt Cobain, vocalista de Nirvana, foi a principal figura deste movimento. O álbum ‘Nevermind’ está entre os 30 mais vendidos de sempre. A saúde de Cobain começou a deteriorar-se pelo uso abusivo de drogas e o músico acabaria por falecer em Abril de 1994. [01 OUT 2008] 06 Somos pequenos mas bons Do rock ao indie, do hip hop ao fado vadio, do pop dançável ao metal, o nosso País não se faz apenas de Cristianos Ronaldos e de pastéis de Belém. O panorama da música nacional é, actualmente, feito de inesperadas revelações, mas também de grandes clássicos que nunca passam de moda. Eis algumas sugestões ‘made in Portugal’ que vale a pena ouvir. Pontos Negros Laura Alves Sam the Kid [email protected] Deolinda O fado não é só triste e fatalista. É também airoso e desbocado. Assim é Deolinda, a espevitada figura que dá rosto ao projecto de Ana Bacalhau (voz), Pedro da Silva Martins, Zé Pedro Leitão e Luís José Martins. Os amores e desamores, a Lisboa castiça e bairrista, as cusquices das vizinhas e um certo romantismo kitsch, tudo isto entra no colorido e ecléctico álbum de estreia, ‘Canção ao Lado’, editado em Abril deste ano. Buraka Som Sistema A freguesia da Buraca, na Amadora, nunca mais foi a mesma desde que o conceito de kuduro progressivo entrou no léxico musical. Os Buraka Som Sistema, um colectivo formado por Riot, Lil’John e Conductor, com participação regular de Kalaf, criaram um novo género, misturando no mesmo pote cultural as tradições do kuduro, os ritmos do funk, do reggaeton e do hip hop. Temperado com uma pitada de electrónica, o som dos Buraka nasceu com o EP ‘From Buraka to The World’ e regressou, este ano, com o álbum ‘Black Diamond’ lançado esta segunda-feira. Pontos Negros Se fossem americanos talvez se chamassem Black Dots, numa assumida alusão aos rockeiros White Stripes. Mas em Portugal fala-se português, e os Pontos Negros são uma das bandas revelação deste ano. Afinal, por cá também se faz ‘roque enrole’, e a ban- da de Queluz, composta por Jónatas e David Pires, Lipe e Silas puseram a malta a cantarolar a letra de um ‘Conto de Fadas de Sintra a Lisboa’. O álbum de estreia – ‘Magnífico Material Inútil’ – é editado este mês, revelando que ser suburbano é um estilo de vida, e o facto de serem cristãos evangélicos apenas uma circunstância. Xutos & Pontapés As apresentações são desnecessárias. Tim, Zé Pedro, Kalú, Cabeleira e Gui estão prestes a atingir o impensável numa banda punk/rock portuguesa: os 30 anos de carreira. Ver um concerto de Xutos actualmente é assistir a um encontro de gerações. Avós, pais e netos partilham as mesmas canções e a idade parece não pesar. Nem no palco, nem fora dele. Agraciados por Jorge Sampaio com a Ordem do Infante D. Henrique e inspiração para um musical intitulado ‘Sexta-feira 13’, os Xutos percorreram um longo caminho desde os tempos do ‘Rock Rendez-Vous’, mas continuam a gritar ‘Olá Vida Malvada’ Sam The Kid De Chelas para o mundo, Samuel Mira transformou-se em Sam The Kid e provou que não é preciso ser negro para fazer hip hop. Com quatro álbuns na bagagem, Sam recorre com frequência a samples de discos antigos e vídeos de todo o género, usando os sons e as vozes a seu bel-prazer. Uma rima leva a outra, o improviso flui e, sem karaokes nem retoques, ‘Pratica(mente)’, de Mónica Moitas 10 nomes nacionais do momento [Especial Dia Mundial da Música] 07 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Deolinda 2006, foi considerado um dos melhores álbuns desse ano. ção com ‘Shangri-la’ em 2007. Blasted Mechanism WrayGunn Haverá espaço para uma cultura rockabilly modernizada em Portugal? A resposta é... WrayGunn. Guitarras que exalam sexo, o sensual e o animalesco entrelaçados, concertos vertiginosos e uma carreira solidamente construída de rock, blues e algum saudosismo das décadas de 1950 e 60 fazem da banda liderada por Paulo Furtado um festim para os sentidos. As vozes de Raquel Ralha e de Selma Uamusse trazem valor acrescentado ao projecto, que encontrou a reden- Alegadamente vindos de outro planeta, são uma das mais originais bandas portuguesas. O projecto sofreu algumas alterações ao longo dos anos, sendo que a saída de Karkov no início deste ano provocou uma reviravolta no grupo. A nova voz dos Blasted é Pedro Lousada, ex-Zedisaneonlight, que assumiu o nome Guitshu. O recurso a máscaras alienígenas é a imagem da banda desde o seu começo, tal como a introdução de sonoridades orientais e instrumentos inventados. O último álbum, ‘Sound in Light’, foi Mónica Moitas Fernando Ribeiro, Moonspell lançado num formato inovador, dando a possibilidade de fazer o download de um segundo disco. ght Eternal’, cujo sucesso demonstra que continua a haver lugar para o black metal. Não será um lugar ao sol, mas sim à lua… riações, e o mais recente trabalho, ‘Dreams in Colour’, inclui uma inesperada versão de ‘Rocket Man’ de Elton John. David Fonseca Da Weasel Perdeu-se um fotógrafo, mas ganhouse um músico. Longe vão os tempos dos Silence 4 e David Fonseca tem sabido impor-se na cena pop/rock com os três álbuns gravados a solo, sempre numa atmosfera que remete para o pop dançável dos anos 80. A sua versatilidade levou-o a integrar o aclamado projecto Humanos, com Manuela Azevedo dos Clã e Camané, reinventando temas de António Va- Galardoados com Globos de Ouro e prémios da MTV, dificilmente os Da Weasel imaginariam o sucesso que iriam alcançar quando criaram a banda, em 1993. Um EP e seis álbuns depois – entremeados com uma edição especial de ‘Re-Definições’ e um disco ao vivo – a história da doninha faz-se de muitos singles que o público ouve, canta e não esquece. Os refrões ‘olá nina, quero tratar de ti’ e ‘uh uh yeah Moonspell O nome Morbid God não dirá muito à maioria das pessoas, mas foi por aí que começaram os Moonspell, uma das poucas bandas de gothic/black metal nacionais. 2006 revelou-se um bom ano para a banda liderada por Fernando Ribeiro: o álbum ‘Memorial’ atingiu o top na primeira semana de vendas e, no final do ano, venceram o prémio da categoria Best Portuguese Act dos MTV Europe Music Awards. Sucederam-se ‘Under Satanae’ e ‘Ni- yeah, faz faz dada’ são apenas dois exemplos entre muitos. 10 nomes internacionais do momento [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 08 Eles ‘rulam’ e os fãs pulam Arrastam multidões atrás de si, são extravagantes, vendem milhões de discos e, sejam novatos ou veteranos, têm o mundo na palma da mão. Com estilos musicais e públicos diferentes, eis os sons que, actualmente, fazem o planeta estremecer. Coldplay Metallica P!nk Laura alves [email protected] Vampire Weekend Não sabemos se o Conde Drácula aprecia indie rock, mas talvez o CD dos Vampire Weekend ande a rodar nos night clubs da Transilvânia. A descontracção e leveza que marca o homónimo álbum de estreia destes nova-iorquinos não só provoca uma irresistível vontade de dançar, como também de cantar. Quem esteve este ano nos concertos na Casa da Música, no Porto, e no Alive!, em Lisboa, sabe do que estamos a falar. Não foi à toa que a Rolling Stone incluiu o tema ‘Cape Cod Kwassa Kwassa’ na sua lista das 100 Melhores Canções de 2007 e a revista Spin os elegeu, já este ano, ‘A Melhor Banda Revelação do Ano’. Tokyo Hotel Se nas escolas secundárias fosse obrigatório ter Alemão, ir a um concerto dos Tokyo Hotel poderia ser considerado trabalho de casa. Contudo, talvez desse modo as passagens destes teen-idols por Portugal não tivesse causado tamanha euforia. A moda do emo catapultou os Tokyo Hotel para a ribalta e, num ápice, os gémeos Bill (voz) e Tom Kaulitz (guitarra), juntamente com Gustav Schäfer (bateria) e Georg Listing (baixo), conquistaram prémios, discos de platina e uma legião de fãs pelo mundo inteiro. Amy Winehouse Praticamente não há dia em que não surja nos jornais ou em novos videos na Internet. Seja pelo abuso de drogas, pela conduta descontrolada, pela extrema magreza ou por qualquer outra coisa, excepto pela música. No entanto, Amy Winehouse chegou ao topo porque tem, realmente, talento. Adorada por uns, criticada por outros, o facto é que a cantora britânica, premiada com cinco Grammys, não se livra da fama de eterna rebelde. O estado de saúde debilitado que, aliás, pudemos comprovar durante a sua actuação no último Rock in Rio, dá origem a apostas quanto à longevidade da sua carreira. Caso se confirme o pior cenário, o R&B ficará, sem dúvida, mais pobre. P!nk Baptizada Alecia Beth Moore, P!nk teve, de facto, o cabelo rosa, mas a verdade é que a cantora pop não mantém um novo visual durante muito tempo. Iniciou a carreira musical bastante jovem, com apenas 13 anos, e após algumas experiências menos bem sucedidas, P!ink estreou-se a solo em 2000 com ‘Can’t Take Me Home’, conquistando a dupla platina. A fama consolidou-se ao interpretar, juntamente com Christina Aguilera, Lil’ Kim e Mýa, o tema ‘Lady Marmalade’ para o filme ‘Moulin Rouge’. Dois Grammys e mais quatro álbuns depois – o mais recente, ‘Funhouse’, será lançado este mês no mercado – P!nk tem-se reinventado de forma inteligente. O novo single ‘So What’ atingiu, entretanto, o n.º 1 nas tabelas da Austrália, Nova Zelândia e Canadá. 09 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Madonna Se existe uma rainha da música pop, o título só a ela poderá ser atribuído. Condensar em poucas linhas uma carreira de 25 anos é virtualmente impossível, contudo, apesar do seu meio século de idade (quem diria…), Madonna não pretende ficar por aqui. Ou seja, daqui a um par de anos haverá, de certeza, ainda mais para contar. A recente passagem da diva pelo Parque da Bela Vista esgotou as bilheteiras meses antes do concerto, os fãs passaram a noite a acampar, os noticiários acompanharam de perto o evento, houve tributos à cantora… Polémica e ‘glamorosa’, Madonna é a artista que mais vezes venceu o MTV Video Music Awards – ‘apenas’ 21 prémios… –, os singles que lança vão directos ao topo das tabelas e, por isto e muito mais, é a cantora mais bem paga do mundo. Kanye West Produtor e rapper, Kaney West possui um nome auspicioso, já que ‘Kanye’ significa ‘o único’ em suaíli. West produziu músicas para artistas da cena hip hop e R&B como Alicia Keys e Eminem. A passagem para o rap deu-se com Jay-Z, com quem trabalhou no álbum ‘The Blueprint’. As críticas bastante positivas relativamente à sonoridade do disco facilitaram-lhe a passagem da produção, nos bastidores, para o estrelato, no palco. Já com três álbuns, estando o quarto – ‘808s & Heartbreak’ – previsto para Novembro, o rapper possui fortes convicções sociais e políticas, ficando para a História a polémica frase proferida aquando da devastação causada pelo furacão Katrina em Nova Orleães: «George Bush doesn’t care about black people.» Linkin Park Foi com “Hybrid Theory”, o primeiro álbum, que os Linkin Park convenceram o mundo de imediato. Vencedora de dois Grammys e diversos prémios da MTV, a banda californiana confirmou o sucesso da estreia com “Meteora” e, já no ano passado, “Minutes to Midnight”, entrou directamente para os tops, vendendo 600 mil cópias na primeira semana após o lançamento. O recurso a dois vocalistas é uma das principais marcas de estilo da banda, que conjuga o nu metal com o ritmo do rock e ainda influências do hip hop. Mike Shinoda, MC do grupo, segue o caminho do rap, enquanto Chester reflecte o lado metal dos Linkin Park. Madonna Coldplay ‘Viva la Vida or Death And All His Friends’, o mais recente trabalho dos britânicos Coldplay, foi buscar o nome a um quadro de Frida Khalo, uma opção justificada pela ousadia da obra. O quarto álbum da banda de Chris Martin saiu para o mercado em Junho deste ano, contudo, o single ‘Violet Hill’ foi disponibilizado gratuitamente um mês antes no seu site oficial, garantindo vários milha- res de downloads de imediato. Desde ‘Parachutes’, a carreira dos Coldplay tem sido cimentada de sucessos incontestáveis: temas melancólico-depressivos como ‘Yellow’ e ‘Trouble’, ou plenos de energia, como ‘Speed of Sound’ e ‘Clocks’, fazem dos Coldplay um dos projectos de rock alternativo mais versáteis da actualidade. Metallica No futuro, tavez os dicionários ve- nham a incluir o nome Metallica no significado de ‘heavy metal’. Nascidos na Califórnia em 1981, os Metallica tornaram-se um mito para várias gerações e têm sabido reinventar-se ao longo dos anos, balançando entre o thrash metal, o hard rock e temas mais melódicos, como os lendários ‘Nothing Else Matters’ e ‘Unforgiven’. As passagens de Metallica por Portugal em 2007 e pelo palco do Rock in Rio 2008 con- firmam o estatuto da banda como um dos mais influentes projectos do panorama metal de sempre. O recente lançamento do nono álbum da banda – ‘Death Magnetic’ – é um dos acontecimentos mais falados dos últimos tempos. O estranho mundo das covers Outro modo de fazer a ponte entre mundos musicais opostos, são as covers que permitem aos artistas não só fazer homenagem a clássicos do seu próprio universo criativo, mas também incursões esporádicas em canções que provavelmente nunca sonhariam tocar. Alguns dos melhores exemplos de experiências gloriosamente conseguidas incluem: ‘I Will Survive’, de Gloria Gaynor, pelos Cake; ‘All That She Wants’, dos Ace Of Base, pelos The Kooks; ‘Careless Whisper’ dos Wham, pelos Gossip; ‘No Diggity’, dos Blackstreet, pelos Klaxons; ou ‘Feeling Good’, de Nina Simone, pelos Muse. Mistura de influencias [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 10 A era da fusão Soul e Country. Hard Rock e Reggae. Britpop e Hip Hop. Indie e Fado. Com a crescente tendência para as colaborações artísticas, a única definição que se pode dar à música do século XXI é que não tem definição. Na era da Internet, os rótulos nunca mais serão os mesmos. Buraka Som Sistema Vampire Weekend White Stripes Pedro quedas [email protected] Quando olhamos para o nosso passado musical, para as evoluções e choques que a indústria tem absorvido ao longo dos últimos 100 anos, tentar definir um fio condutor é uma actividade que pode levar uma pessoa à loucura. Mas, mais do que uma ordem geral, é possível definir certas eras musicais que marcaram anos – por vezes décadas – normalmente através de uma dinâmica local, com focos de criatividade centrados em cidades específicas. Falamos do ‘flower power’ de San Francisco, da Motown de Detroit, da ‘Madchester’ em Manchester ou mesmo o grunge, em Seattle. Quando alguns dos nomes mais conhecidos decidiam fugir dos seus rótulos – como quando Ray Charles decidiu cantar country ou os Led Zeppelin gravaram uma música de reggae – tais incursões eram vistas como experiências ou mesmo forte rupturas. Na era da Internet, esse processo tornou-se muito mais natural. Qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, tem acesso quase ilimitado a um sem número de culturas musicais, o que explica a popularidade crescente da ‘world music’ ou fenómenos como os Vampire ências tem-se sentido tanto na revisitação de êxitos das carreiras de Sérgio Godinho ou GNR, como em fenómenos recentes como os Buraka Som Sistema, com a sua exploOne Republic & Timbaland ração electrónica dos ritmos do kuduro. Weekend, com o seu híbrido de pop oci- Um estilo que tem retirado benefícios consideráveis desta tendência tem sido dental com afropop. Um dos exemplos mais flagrantes da o fado, que saiu das tascas escuras para fusão de estilos actual envolve o fenó- os grandes palcos, em grande parte demeno do hip hop e do R&B, e a relação vido ao modo como este tem entrado de influência mútua que têm tido com em esferas que antes evitava – seja todos os outros universos musicais. Isto num sample de uma música de Sam manifesta-se não só na criação de novos The Kid, na louca experimentação da estilos, como o ‘rap rock’, mas também Naifa ou nos imensamente populares em parcerias pontuais que abrem novos Humanos. caminhos. Uma nova era que vê os One Mas, ao contrário do que muitos posRepublic a lançar um single remixado sam pensar, o intercâmbio de culturas por Timbaland, Kanye West a cantar não tem de significar necessariamente a em conjunto com Chris Martin, dos Col- morte do ‘ingrediente’ original. Um ano dplay, ou um dueto entre Alicia Keys e depois de ter tocado no Sudoeste com Jack White, dos White Stripes, no novo os Humanos, o fadista Camané regressou a terras alentejanas para se mostrar filme do James Bond. a solo. E, na tenda do palco secundário, uma multidão de festivaleiros fez silênO ‘melting pot’ português Se durante muitos anos a realidade cio para se ouvir cantar o fado. musical portuguesa andou um passo atrás das tendências mundiais, o panorama actual é consideravelmente mais risonho. A cultura de partilha de influ- 11 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Vodafone Portugal aposta na musica Momentos bem vividos Consciente da importância que a música assume na vida de todos nós, a Vodafone Portugal tem, ao longo dos últimos anos, criado diversas parcerias nesta área. Um concerto, um festival ou uma canção especial que se ouve na rádio, despertam múltiplas emoções e estados de espírito que a Vodafone faz questão de valorizar. Desta forma, a associação da marca aos artistas e eventos musicais de referência faz todo o sentido. Uma década de música Em 2004, 2006 e 2008 a Vodafone patrocinou o maior festival de música do mundo, o Rock in Rio. Este patrocínio enquadra-se perfeitamente na estratégia de comunicação e posicionamento da marca, já que associa a Vodafone ao mais importante acontecimento musical em Portugal durante estes últimos anos, dando continuidade à ligação da marca aos grandes eventos musicais realizados no nosso País, como já tinha acontecido com os MTV Europe Music Awards Lisboa 2005. No âmbito deste evento, tal como no Rock in Rio, a marca promoveu diversas acções de activação do patrocínio, permitindo aos seus clientes ganhar bilhetes para os concertos e festas MTV, bem como para assistir ao vivo ao espectáculo, que se realizou pela primeira vez em Portugal, no Pavilhão Atlântico. Dois anos depois a marca patrocinou a transmissão dos MTV Europe Music Awards 2007 em Portugal e ofereceu a 4 Clientes a oportunidade única de se deslocarem a Munique para assistir à cerimónia de entrega dos cobiçados prémios. A Vodafone apoiou também a digressão dos portugueses The Gift, com os quais lançou o seu álbum AM-FM nos telemóveis Vodafone live!. Numa iniciativa pioneira em Portugal e, provavelmente, em todo o mundo, em Novembro de 2004 foi possível fazer download de faixas musicais inéditas e ouvi-las no telemóvel antes do seu lançamento junto do público. Entre 2005 e 2008 foram efectuados pré-lançamentos exclusivos de vários artistas (Linkin Park, Shakira, Keane, Fergie, The Gift, Now15, Avril Lavigne, Beyonce and Shakira, Ivete Sangalo, Madonna, entre outros) no portal Vodafone live!, permitindo aos clientes adquirir as faixas dos novos álbuns, toques, imagens, RingDings e vídeos, antes dos álbuns estarem à venda nas lojas. Em Julho de 2007 decorreu a transmissão em directo de todos os concertos do Live Earth para o telemóvel dos clientes Vodafone – 24 horas de música ’non-stop’, com concertos realizados em oito cidades de todos os continentes que contaram com a participação de mais de 150 artistas de renome internacional. Já no mês seguinte, os clientes tiveram acesso, em directo e em exclusivo, ao concerto de Pedro Abrunhosa no Porto, com a primeira apresentação de “Luz”, o seu novo álbum. De acordo com os estudos disponíveis, a estratégia seguida pela Vodafone tem sido reconhecida e apreciada pelo mercado. O conjunto de iniciativas que apoia e desenvolve nesta área permite que a Vodafone seja a primeira operadora de telecomunicações que os portugueses reconhecem como ligada à música e, ainda, seja considerada a terceira entre a totalidade das marcas em Portugal com maiores indíces de associação à música. No futuro a Vodafone pautará a sua presença na área da música pela continuação do desenvolvimento e implementação de projectos próprios e inovadores, tendo inclusivamente já preparado um conjunto de acções para este e para o próximo ano e que em breve divulgará. montagem: Bernardo Simões Correia Nos últimos anos, a Vodafone Portugal, líder em inovação no sector nacional das telecomunicações, tem-se preocupado em criar parcerias que reflictam a sua política de comunicação. A música é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa de transmissão de valores e de emoções, além da abrangência que tem em termos de público. Diz-se que a linguagem da música é universal e, de facto, é das formas mais eficazes de comunicar com os outros. A estratégia da marca aposta, claramente, na utilização da música como um transmissor de alegria de viver, inovação, irreverência e espírito ‘cool’. Objectivo? Chegar a um segmento muito especial: os jovens dos 18 aos 35 anos com o lema ‘Viva o momento’. Através dos vários serviços e conteúdos disponibilizados no portal Vodafone live! e das experiências que os patrocínios e eventos realizados proporcionam, a Vodafone procura fazer chegar às pessoas a música que querem, quando querem e onde estiverem, para que possam viver cada momento com a sua música preferida. A Vodafone e a Música A aposta da Vodafone na música em Portugal foi reforçada em 2007 através da concepção e produção de eventos de música originais e inovadores, de formato desenvolvido pela própria Vodafone, como os Concertos Flash, Vodafone House Party e Vodafone SoundClash! Com estas iniciativas, a marca procurou sintonizar os amantes de música com os artistas nacionais, permitindo-lhes participar em iniciativas musicais inéditas no nosso País. Foram realizadas diversas acções nas quais se procurou levar a música às principais cidades de Norte a Sul do País. Destacamse os Concertos Flash em seis cidades; a Vodafone House Party, com um concerto ‘privado’ dos Blasted Mechanism; e o Vodafone SoundClash! que colocou no palco e frente a frente músicos como os GNR, The Gift, Blasted Mechanism e Boss AC. Dizem eles Nuno Silva Metal http://www.myspace.com/ hybridlys «Ainda vives numa sociedade muito fechada. A crítica está sempre presente.» Saul Lopes HipHop http://www.myspace.com/ speaker2007 «Não são as calças largas e o boné ao contrário que vão dizer que sou MC.» Bruno Sousa Electrónica http://www.myspace.com/ bandidosdesesperados «O que eu quero da música electrónica é que me faça dançar, não quero saber se é pró Bush ou pró Obama.» [01 OUT 2008] Somos o que ouvimos? 12 Aquilo que ouvimos influencia o nosso comportamento e o nosso visual? O MU pediu a um MC autodidacta, a um DJ ‘straight edge’ e a um metaleiro violoncelista para defenderem as suas cores, perdão, sons. raquel ramos [email protected] Estou em plena Lisboa à procura de uma BMX roxa, acompanhada, possivelmente, por alguém com o cabelo dessa mesma cor. A expectativa não se cumpre: a bicicleta, ‘sinal’ combinado para reconhecer o representante da música electrónica neste artigo, ficou em casa com um pneu furado e, quanto ao Bruno, apesar de não ter uma imagem comum, vem quase a preto e branco. «Há vários estilos de música electrónica, alguns com uma indumentária característica», explica. «O que mais me agrada em Lisboa [veio dos Açores] é o facto de encontrares vários grupos e poderes dizer ‘identifico-me com aqueles’. Isso [a imagem] é uma mensagem que as pessoas transmitem». Uma mensagem que pode ser contraditória? «Sim, às vezes, por causa dos brincos e do cabelo comprido, as pessoas pensam ‘esse gajo de certeza que fuma drogas e coisas assim’. Também gosto de enganar as pessoas! (risos)», brinca o DJ da dupla Bandidos, que se afirma ‘straight edge’, ou seja, não fuma nem bebe. «Acho extremamente má a associação entre a música e o álcool e as drogas. Há pessoas que vão para os festivais por haver cerveja barata e nem chegam a ouvir o trabalho dos músicos», lamenta. Orgulho e Preconceito «Sempre tive uma imagem diferente», diz Bruno, habituado às críticas, presentes desde os tempos em que começou Matilde Homem Musica vs atitude [Especial Dia Mundial da Música] a comprar a sua própria música até à entrada num curso de Belas-artes, que coincidiu com uma mudança gradual de estilo, de maneira de ser e de preferências músicais. Hoje, a música electrónica, especialmente a francesa, é a sua eleita, mas mantém o gosto pela «energia e raiva» do metal, que iniciou o seu interesse pela música. Fiel aos sons mais pesados do heavy metal, Nuno também se habituou a ver a sua imagem censurada. «Como professor, tinha colegas que falavam do cabelo comprido... e em casa também recebia críticas dos meus pais. Mas, se pensarmos um bocadinho para trás, até aos anos 60, isto já aconteceu. É um reviver com outros estilos musicais». Aos 32 anos, o visual de Nuno está mais suave (conta-me que cortou o cabelo há cerca de mês e meio), «se calhar por causa da idade». «A pessoa começa a cansar-se de ver sempre a mesma imagem no espelho. Já usei calças elásticas, téni-bota e o cabelo comprido até às costas», recorda o baixista dos Last Year of Silence. Com efeito, conforme explica Rui Gomes, investigador do Observatório das Actividades Culturais, «ao longo do processo de transição para a vida adulta, que inclui também a autonomia residencial e a eventual constituição de uma família própria, há um conjunto de códigos de conduta e de convenções que se vão alterando». Amigos, amigos, música à parte? «A música tem um papel central na formação de amizades próximas», con- sidera Rui Gomes. O sociólogo chama a atenção, porém, para outros factores decisivos, como a escola, os vizinhos e os hábitos culturais. «A música pode aparecer não propriamente como uma causa ou consequência do grupo de amigos, mas antes como um meio de expressão do próprio processo de identificação com o mesmo». Os confrontos entre as diferentes ‘tribos’ existem, mas a colaboração entre elas é mais comum do que se poderia julgar. «Mesmo alguma espécie de disputa ritualizada pode fazer parte do convívio entre grupos diversos», explica Rui Gomes. E que o diga Nuno, cujo círculo de amigos foi sempre «eclético». «Nunca pensei: ‘vou juntar-me só àquela malta que ouve heavy metal’. Claro que, até uma certa idade, há sempre aquela piadinha do ‘ah, se calhar o heavy metal [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Largos Horizontes Adrian North, professor de psicologia da Universidade Heriot-Watt, em Edimburgo, passou três anos a tentar responder a uma pergunta: ‘Haverá uma relação entre o gosto musical e a personalidade?’ O estudo foi publicado no início de Setembro, revelando, entre outras conclusões, as parecenças entre os ouvintes da música clássica e os do heavy metal. A hipótese não espanta o metaleiro desta história, que tem inclusive formação em música clássica: «Em termos de rigor musical, são músicas que são trabalhadas, têm alguma quadratura e exigem alguma inteligência.» Contudo, Nuno concorda com Rui Gomes na recusa de uma «relação determinista» entre a música e a personalidade. «Para além da música clássica, até consigo ouvir electrónica, se for boa, e pop-rock também ouço sem problemas. Acho que faz bem ouvir muitas coisas». Exigências do palco É esta mesma atitude que encontro na minha conversa com um fã do hip hop que tem a música no corpo, literalmente: um ‘m’ tatuado no pulso direito e um ‘u’ no esquerdo (que não significam MU, os nossos fãs ainda não são tão devotos!), em recordação de um projecto antigo, Mentes Urbanas. «Pá... eu gosto de todos [os tipos de música]!», conclui Saul, após uma breve reflexão. O jazz e o «rock antigo» («Pink Floyd, Supertramp, Queen...os CD’s do meu pai») têm o seu lugar no pódio, mas o primeiro lugar é do hip hop «sempre, até morrer». MC (mestre de cerimónias) por conta própria, actua sob o nome de Speaker, e é aí, em palco, que o seu estilo muda. «Como podes ver, olha, estou assim, estou de t-shirt. Acho que não estou mal! (risos)... Quando estou em actuação, é um bocado mais arrojado, o meu chapéu tem de estar lá». E os gestos? «(risos) É como a minha mãe diz: ando a apanhar moscas! (risos). Mas deve haver MC’s que rimam com as mãos nos bolsos! (risos)». Terminei todas as entrevistas pedindo um ‘sim’ ou ‘não’ à pergunta «somos o que ouvimos?». Saul deu-me uma resposta curta, sem sombra de hesitação: «Eu sou». Matilde Homem é que é bom’, mas depois também vais aprendendo a ouvir outras coisas». Matilde Homem 13 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 14 Porquê pagar quando podeS ter de graça? A música, cuja definição é complexa e sempre lata, existe desde os primórdios da humanidade; a Internet, um outro conceito de difícil definição e também bastante lato, teve a sua origem no início dos anos 80. A ligação entre as duas, inegável na sociedade actual, deve-se a três grandes acontecimentos. do seu disco In Raibows no seu sítio a troco de qualquer ou mesmo nenhuma quantia monetária – foi a gota de água para a revolução que se esperava no meio e a estocada final na indústria discográfica, levantando mais uma vez a questão fundamental do porquê pagar por algo disponível gratuitamente. João Silva Soares [email protected] Tudo começou com o aparecimento do formato mp3 em 1991 – desde então, tornou-se possível ao utilizador comum de computadores pessoais manipular músicas como quem manipula ficheiros. Só alguns anos mais tarde com o Napster, o primeiro software de partilha de ficheiros dedicado quase e exclusivamente à partilha de ficheiros musicais que apareceu em 1999, é que o fenómeno ganhou magnitude crescente e cada vez mais expressão a uma escala global. Muito recentemente, a massificação do iPod/leitor de mp3 permitiu a fuga em larga escala das músicas, antes confinadas à utilização restrita nos computadores pessoais, para objectos do dia-à-dia. Finalmente, a sua utilização tornou-se fácil e cómoda para o cidadão comum, que actualmente ouve a música que quer durante grande parte da sua existência diária. Nunca antes o homem teve toda a música aos seus pés: com alguns recursos, esforço e sorte, é possível obter qualquer música de qualquer disco de qualquer músico editado em qualquer parte do mundo, por vezes até antes da data oficial de lançamento. Depois de encontrado num computador algures no mundo, o ficheiro é transmitido através da Internet e passa para o leitor de mp3 em segundos, estando imediatamente disponível para a sua audição. Isto vem acontecendo ilegalmente e de uma forma massificada desde o ano 2000, o que foi a causa motriz dos últimos sete anos consecutivos de descida no número de CDs vendidos. A selecção darwiniana e a indústria discográfica A não-resposta, imediata e eficaz, da indústria discográfica ao seu arqui-inimigo, contribuiu em grande parte para o aumentar do problema. Uma opinião válida nos dias de hoje é “o porquê ter de pagar por uma coisa que se pode ter grátis?”, e a essa questão fundamental sem resposta fácil a indústria discográfica ainda não conseguiu responder, senão com processos nos tribunais ineficazes e impopulares. Pequenas expressões de sentido de negócio e proteccionismo de receitas acontecem esporadicamente, mas na realidade não vem da parte das grandes discográficas habituadas aos lucros do formato tradicional com caixa e livrinho mas sim de novas direcções que trazem novidade e ar fresco ao meio. Hoje em dia, as vendas de downloads traduzem cerca de um quarto do total de receitas da indústria musical e o iTunes da Apple é a plataforma de venda individual de músicas na Internet com maior expressão e que vende mais música nos Estados Unidos – desde o seu lancamento em Abril de 2003, demonstra um crescimento exponencial contando recentemente com 5000 milhões de músicas vendidas, 3 mil milhões das quais ocorreram apenas no último ano. Existem também outros formatos de venda: por exemplo uma assinatura mensal na ordem dos 10 euros permite o livre acesso a um catálogo quase-total da música comum dos dias de hoje, certas bandas efectuam venda directa nos seus próprios sítios. Youtube e Myspace projectam novatos Por outro lado, não só a indústria se tenta adaptar a nova realidade trazida pela Internet; as bandas cedo perceberam a potencialidade para a divulgação deste meio. Enquanto antes, era sempre necessário propor um produto às editoras, que por sua vez escolhiam, editavam e distribuíam, hoje em dia cada vez menos se necessita deste intermediário. O sítio myspace é o perfeito exemplo da montra pós-moderna para milhares de bandas de todo o mundo, disponibilizando algumas das suas músicas para audição grátis. O youtube mostra também prestações ao vivo de muitas bandas, embora geralmente não sejam providenciadas pelas próprias mas sim por fãs anónimos destas que decidem a custo do seu tempo e esforço disponibilizar os seus vídeos caseiros. Em relação a telediscos, um outro formato musical, o youtube tem de se restringir aos contornos legais dos direitos de autor, pelo que é comum grandes editoras impossibilitarem a disponibilização dos seus conteúdos protegidos. Inevitavelmente, da mesma forma ilegal que circulam músicas, também se encontram nos sítios habituais vastas colecções de telediscos ou de concertos. É também habitual bandas actuais terem os seu próprios sítios oficiais na Internet onde geralmente está a sua música ou pequenas amostras desta, dependendo isso dos contratos com as editoras e com o cariz comercial ou independente da banda. Hoje em dia existem como existiam anteriormente as bandas de carreira ou da moda apoiadas em todos os aspectos pelas grandes editoras discográficas que com o lucro como objectivo oferecem condições de produção musical inigualáveis e são encarregadas da distribuição e da divulgação, ficando por isso com uma parte do bolo final. Por outro lado, a Internet permitiu uma democratização no mundo da música, sendo agora muito mais fácil para a Ana Free do que foi para os The Gift há mais de 10 anos atrás. Por último, os Radiohead em 2007 contornaram toda a indústria discográfica e ofereceram o download Quem gosta de música sai a ganhar Com a Internet, não só as bandas emergentes têm a vida facilitada mas também os apreciadores de música em geral, quer tanto pelo dramático aumento da oferta de música disponível quer pela facilidade de comunicação em nichos de mercado característica da Internet. A Internet, é nos dias de hoje, o primordial canal de divulgação de música e para além disso, que apresenta o maior potencial futuro. Antes a escolha do consumidor confinava-se à intersecção dos inventários das lojas locais com as recomendações de amigos e conhecidos; os mais aficionados ouviam programas de divulgação na rádio ou liam os hoje históricos críticos de música nos suplementos de jornais dedicados à crítica de música. Paralelamente, hoje em dia existe uma quantidade apreciável de sítios na Internet de divulgação e crítica de música, desde magazines, quer generalistas quer especializadas, com alguma oficialidade e com publicação exclusivamente digital até ao número infinito de blogues de individuais que o fazem por amor à camisola e às suas músicas preferidas. Também existem rádios que emitem na Internet, um fenómeno cada vez mais expressivo e cada vez mais democratizado, sendo possível ao comum mortal obter umas horas semanais para ter o seu próprio programa, feito a partir de sua casa através da Internet. Desta forma, um meio que dantes estava restrito a meia dúzia de profissionais, que ocupavam as mesmas posições que ainda hoje ocupam e ditavam com os seus gostos o que era o bom gosto, está hoje aberto a todos que queiram exprimir a sua opinião. Todavia, muito interesse continua a acontecer no mundo da música para o amante de música. Faz-se mais, inovadora e melhor, ouvem-se e conhecemse muito mais bandas, divulga-se muito mais facilmente, existe cada vez um maior número de concertos e cada vez mais pessoas para os ver. A única coisa onde se perdeu foi na venda de CD. Quem está mal e necessita de reformulação é a indústria discográfica e todo o seu modus operandi. [01 OUT 2008] [Especial Dia Mundial da Música] Musica na internet 15 «Muito recentemente, a massificação do iPod/ leitor de mp3 permitiu a fuga em larga escala das músicas, antes confinadas à utilização restrita nos computadores pessoais, para objectos do dia-à-dia.» Publicidade lança bandas [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] 16 Benjamins da publicidade São filhos da publicidade ‘desenganosa’ e não há zapping que os derrube. É neles que pensamos quando revolvemos neurónios a sonhar com ‘aquela música do anúncio’. Porque o mesmo mundo analógico que nos ensina que ‘O algodão não engana’ é cada vez mais um mecenas que catapulta talentos musicais para a ribalta. mariana cabral [email protected] Voz autêntica na campanha da SuperBock Ninguém muda de canal quando soa a voz de Brandi Carlile. O spot publicitário da conhecida marca de cerveja teve o condão de hipnotizar olhos e ouvidos nacionais com ‘The Story’. Rouco e desconcertante, o timbre de Carlile faz-nos querer ser cerveja para tomar parte nos «momentos autênticos da vida» que vemos passar no anúncio. Anos antes, em 2005, a cantora já tinha sido eleita como um dos ‘10 artistas a manter debaixo de olho’ pela revista Rolling Stone. A Superbock ficou atenta e em 2008 caçou a voz rasteira de Seattle para cantar e encantar os aspirantes a consumir. Nos EUA já não era novidade: depois de tocar na primeira parte dos concertos de The Fray, Chris Isaak ou Tori Amos, o pundonor sem precedentes aconteceria quando escolhem três dos seus temas para melodiar a série Anatomia de Grey. Nós por cá, algo encafuados na cauda da Europa, só demos por ela quando a ouvimos chegar às televisões do nosso lar, sem custos nem portes de envio. É um fenómeno televisivo que actuará em carne e osso no Porto, Coimbra e Lisboa, em Novembro. O jingle mais viciante da história da publicidade Em 2002, a Coca-Cola incubou o êxito de BJ Bobo num spot publicitário destinado ao mercado espanhol. Um ano depois, o sucesso foi tal que o anúncio foi reeditado para cobertura internacional. Ainda se lembram? O grito de guerra ‘Chihuahua!’ convenceu-nos de que é possível tornar uma aborrecida viagem de metro numa alegre rave matutina, apenas com um gole de Coca-Cola. O jingle transportou o cantor suíço para lugares invejáveis nas tabelas europeias, embora o anúncio não tenha sido um acto isolado na carreira de DJ Bobo, cujo início remonta a 1992. Não obstante, é com orgulho que a Coca-Cola pode afirmar que imortalizou o viciante ‘Chihuahua’, elevando-o à categoria dos singles mais vendidos de 2003 a nível internacional. Cantar a poupar tostões Nunca vimos tanta gente com vontade de «virar a vida de pernas para o ar/e procurar uma casa para morar». Apregoando bons spreads no crédito habitação, Ricardo Azevedo conseguiu comprar a prestações um merecido espaço no nosso leitor de mp3. ‘Pequeno T2’ é aquela música trauteável que faz bater o pé ao mesmo tempo que conquista novos fãs a Ricardo Azevedo e potenciais clientes ao Millenium BCP. O ex-vocalista dos EZ Special viu neste binómio a fórmula mágica para lançar um álbum a solo e em português – ‘Prefácio’ promete ser «recheado de grandes canções que falam sobre sonhos, receios, paixões e peripécias», como descreve o site oficial. O sucesso do novo single ‘Entre o sol e a lua’ só prova que é possível conquistar o País com apenas duas assoalhadas. 17 [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Vodafne 007 do mecenato publicitário Se falamos de caça ao talento não podemos deixar de mencionar o grande mecenas de todos os tempos: a Vodafone. O caso modelo? Os Dandy Warhols. O carismático ‘Bohemian Like You’ do álbum ‘Thirteen Tales From Urban Bohemia’ foi a pérola encontrada na missão de salvamento perpetrada pela marca de telecomunicações. Recuemos no tempo: na data original de lançamento, em 2000, o tema nem espreitou as tabelas musicais, remetendo-se a um modesto número 42 do Reino Unido. Contudo, a iniciativa de reanimação parte da operadora, que em 2001 decide ressuscitar o single para a campanha publicitária ‘How Are You?’. O antes e o depois O boom foi quase imediato e entre 2001 e 2004 a música viajou com a marca num semfim de publicidades por todo o globo, contracenando com individualidades como David Beckam. Era caso para dizer que ouvir ‘Bohemian Like You’ na rádio fazia lembrar o anúncio da Vodafone e não o contrário. Em tempos mais recentes, a banda tem sido uma das vozes mais críticas sobre a invasão americana no Iraque mas ‘despe’ a seriedade quando se apresenta amiudadamente em palco como veio ao mundo. Com mais de oito álbuns no bolso, o grupo originário de Portland apresenta agora o álbum ‘Earth to the Dandy Warhols’, já sem paternidades publicitárias. Ídolos, versão publicitária Quem não se lembra do memorável ‘Are you gonna be my girl’ dos australianos Jet? A banda conheceu um arranque sem igual com a nova campanha da Vodafone Live!, da mesma maneira que os Bloc Party desbravaram caminho para um mar de fãs em Portugal, pouco depois do protagonismo da faixa ‘Banquet’ na pantalha publicitária da marca. Os britânicos não se fizeram rogados e aproveitaram a visibilidade para dar a conhecer o álbum de estreia, ‘Silent Alarm’ (2005). Na grelha actual a chuva de estrelas não parece querer abrandar, a avaliar pelo falatório sobre adaptação para ‘Roaming’ do êxito ‘Jamming’, de Bob Marley. Para já, os embaixadores da marca são os Drive By The Argument, que cedem a efervescente ‘The Sega Method’ para a campanha em decurso. Mais um fenómeno em ascensão? «Uma música sexy faz uma marca sexy e vice-versa» O MU falou com João Carvalho Oliveira, Director Criativo da JWT, a empresa responsável pela publicidade da Vodafone, para descobrir a fórmula mágica por trás da escolha das músicas. Como funciona o brainstorming no processo de selecção das músicas para um anúncio? Na mesma medida que funcionam outros brainstormings. Tem de responder à questão: ‘Que música serve melhor a ideia do anúncio e que impacto ela terá on air?’ Num olhar leigo, parece-me que faz mais sentido escolher uma música famosa para dar visibilidade ao produto. Porquê escolher a equação inversa? Porque muitas vezes com grandes marcas é possível e desejável juntar sinergias com outras valências da comunicação e catapultar uma música relativamente desconhecida para que o mainstream a descurava simplesmente por não fazer parte das playlists das editoras e rádios. A música é um referente da marca e ocupa um share of mind importante na cabeça das pessoas. Uma música sexy faz uma marca sexy e vice-versa. O posicionamento da Vodafone deve muito à música. É um património muito importante da marca. Esta relação duplamente vantajosa pode ser o futuro da publicidade? O futuro da publicidade tem tudo menos a ver com fórmulas. Temos de arranjar maneira de nos diferenciarmos todos os dias. Mas é um truque utilizado muitas vezes sem vergonha. Enquanto consumidor de publicidade, quais foram para si as músicas mais bem escolhidas para anúncios? As que me transportaram para um universo que não conhecia e que me puseram só por si a pensar a marca de outra forma foram, por exemplo, ‘Mountain Playstation’, ‘Guiness surfer’ ou ‘Vodafone dandy warhols’. [Especial Dia Mundial da Música] [01 OUT 2008] Recepções aos caloiros Apesar de a maior parte das festas académicas de recepção aos novos alunos já ter decorrido, em algum locais a animação ficou para mais tarde. Espreita lá onde ainda podes ir abanar o esqueleto... Lisboa (Costa de Caparica) Recepção ao Caloiro da Escola Superior de Saúde Egas Moniz De 6 a 10 de Outubro Dia 6 - Prince Wadada Dia 7 - Dino Soulmotion (convidados especiais Pacman e Sam The Kid); Expensive Soul Dia 8 - Tiago Silva Dia 9 - Sugarleaf; Klepht Dia 10 - Tara Perdida Covilhã De 26 de Outubro a 1 de Novembro David Fonseca Buraca Som Sistema (o cartaz ainda não está totalmente confirmado) Faro Decorre ainda até dia 3 de Outubro ExpoFaro Dia 1 - 11º Aniversário da Associação Académica da Universidade do Algarve; Quim Barreiros Dia 2 - Daniel D; Dezperados Dia 3 - Serenata de abertura do ano lectivo Agenda de concertos Dia 1 COIMBRA Orquestra Filarmónica das Beiras Coimbra - Teatro Académico Gil Vicente - 21h30 LISBOA Irmãos Verdades Coliseu - 21h30 LAGOS Wraygunn (Festa da Juventude) Auditório Municipal - 20h00 PORTO Coro Gulbenkian - Casa da Música 12h00 Orquestra Gulbenkian Fundação Calouste Gulbenkian - 19h00 LINDA-A-VELHA Varukers + Crise Total + Dr. Bife e os Psicopratas - Academia Recreativa - 20h00 Frank Bretschneider (EME Festival) Fundação Serralves LISBOA Sheila Jordan Quartet (Jazz No País do Improviso) Lisboa Centro Cultural de Belém - 21h00 R. Kraft + Marina Couto + Rita Zukt + Tânia Pascoal (Lesboa) Instituto Superior de Agronomia da UTL - 23h30 Orquestra Metropolitana de Lisboa & Mário Laginha Lisboa - Centro Cultural de Belém - 21h00 Aki Onda & César Burago & Sei Miguel Museu do Chiado - 22h00 LISBOA Frank Bretschneider + Sanso Xtro + Safe and Sound (EME Festival) - Teatro Ibérico - 21h30 ODIVELAS Trio Maria Viana - Centro Cultural Malaposta - 21h30 Dia 7 ÁGUEDA PORTALEGRE Ensemble Contemporâneus (Dia Mundial da Música) Portalegre - Centro de Artes do Espectáculo - 21h30 Hauschka + Anna Troisi & Carten Goertz + The Beautiful Schizofonic & Tina Frank (EME Festival) Teatro Ibérico - 21h30 PORTO Orquestra Nacional do Porto Estação de Metro de São Bento - 16h30 MAIA Kandia Tertúlia Castelense - 23h00 The Mary Onettes O Meu Mercedes É Maior Que O Teu - 23h00 ODIVELAS Grupo de Música Contemporânea de Lisboa Centro Cultural Malaposta - 21h30 PORTO Orquestra Nacional do Porto - Casa da Música - 18h00 S. JOÃO DA MADEIRA Prana Paços da Cultura - 22h00 PORTALEGRE Factor C (Quina das Beatas) Centro de Artes do Espectáculo - 23h00 My Truly Magnificent Band + Backstage Heroes Eira - 00h00 Dia 2 CASTELO BRANCO Francisco Ceia Centro de Artes do Espectáculo - 21h30 Manifesto (tributo Victor Jara) Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo 21h30 PORTALEGRE Avô Varejeira (Quina das Beatas) Centro de Artes do Espectáculo - 23h00 Luísa Amaro (In-Canto) Centro de Artes do Espectáculo- 21h30 The Band Apart + Before The Torn + Hell In Heaven (End Of Summer Fest) Rock Café - 22h00 PÓVOA DE VARZIM Lena d’Água Casino da Póvoa COIMBRA Norberto Lobo Salão Brazil - 23h00 SINTRA Orquestra Metropolitana de Lisboa Centro Cultural Olga Cadaval 21h30 LISBOA OrchestrUtopica (Festival Expresso Oriente) Culturgest - 21h30 TONDELA José Peixoto Elfdad Quarteto (Jazzin’ Tondela) ACERT - 21h30 SANTARÉM Drum & Bass Live Session - ANALOG (live dnb) Salvaterra de Magos Orquestra Gulbenkian Fundação Calouste Gulbenkian - 21h00 V.N.FAMALICÃO Tango Quattro Casa das Artes - 22h00 SINES Coral Atlântico - Centro de Artes 21h30 VISEU Pedro Carneiro Teatro Viriato TONDELA Freeflow + Quimera Quinteto (Jazzin’ Tondela) - Tondela - ACERT Dia 4 ÁGUEDA V.N.FAMALICÃO Clã + Lufa-Lufa - Casa das Artes 21h30 Greg Haines + Garcia & Machas & Maranha & Mota (EME Festival) - Teatro Ibérico - 21h30 ODIVELAS Duo Fernando Cupertino & Consuelo Quireze Centro Cultural Malaposta - 22h00 TONDELA Carlos Barreto Lokomotiv (Jazzin’ Tondela) ACERT Dia 3 ÁGUEDA Dúmbala Canalla + Pas Par Tout (Festival O Gesto Orelhudo) d’Orfeu – 22h00 ALVAIÁZERE O’QueStrada + Melech Mechaya (Festival do Chícharo) CASTELO BRANCO My Cubic Emotion + Monsieurpo + Iodine (End Of Summer Fest) Rock Café - 22h00 LAGOS Clã (Festa da Juventude) Auditório Municipal - 20h00 LEIRIA Mi And L’au + Mazgani (Fade In Festival) Orfeão Velho - 22h00 O Menino É Lindo + MicroBand (Festival O Gesto Orelhudo) - d’Orfeu - 22h00 ALVAIÁZERE Amélia Muge + Roncos do Diabo + Jah Vai + Companhia Marimbondo (Festival do Chícharo) AMADORA Claudia Leitte Pavilhão União Progresso Venda Nova - 22h00 BEJA High Flying Bird Galeria do Desassossego - 22h00 BRAGA Noctem + Daemogorgon + Darkside of Innocence + Humanart Sala d’Ensaios Caffé (Vila Verde) 21h00 Fernando Tordo & Stardust Orchestra Theatro Circo - 21h30 CASCAIS Seven Colour Eye - Muralhas Rock (Alcabideche) - 23h00 FIGUEIRA DA FOZ Grimlet + Seven Stitches + Switchtense Armazéns Antiga Fábrica - 22h00 FUNDÃO Joakim & His Ectoplasmic Band + Tigersushi Bass System (Imago) Sala de Concertos - 00h00 Lost Locos (Festival O Gesto Orelhudo) - d’Orfeu - 21:45 PORTO Caspian + The Allstar Project - PortoRio - 21h30 The Band Apart + Before The Torn + All Emotions Day + Thirteen Degrees To Chaos Musicbox - 22h00 Tiga (10x10=01) Lux Dia 6 ÁGUEDA Painted Black pre-listening party Catedral Bar (Bairro Alto) The Sight Show + NNY (EME Festival) Lisboa - Teatro Ibérico - 21h30 Jorge Ferraz Trio Lounge - 23h00 18 Der Blaue Reiter + VelgeNaturlig + Frente Católica + Massacre Divino Fábrica de Som - 22h00 PÓVOA DE VARZIM Vítor Espadinha - Casino da Póvoa Dia 5 ALVAIÁZERE Pauliteiros de Miranda + Chocalheiros de Vila Nova de Ficalho (Festival do Chícharo) BRAGA João Frade Trio Theatro Circo - 16h00 CASCAIS Masta Killa + Afu-Ra + Black Company + Dealema + NBC & Os Funks + Mundo Complexo + Bob Da Rage Sense + Nigga Poison + J-Ro + Nerve + Royalistick + Dupla Consciência + PF Cuttin’ + Formula Armada + X-Acto Pavilhão da Quinta dos Lombos - 15h00 LAGOS Da Weasel (Festa da Juventude) Auditório Municipal - 20h00 LISBOA Orquestra de Câmara Portuguesa Centro Cultural de Belém - 19h00 Religious Knives + Gala Drop - Museu do Chiado - 22h00 Keith Caputo - MusicBox - 23h00 PORTALEGRE Galandum Galundaina + Moçoilas + O Semeador (Encontro de Grupos de MÚsica Tradicional Portuguesa) - Centro de Artes do Espectáculo - 17h00 Melingo (Festival O Gesto Orelhudo) d’Orfeu - 21:45 ALMADA Porcupine Tree - Incrível Almadense - 21h00 BRAGA Tim - Theatro Circo - 21h30 ODIVELAS Rodrigo Leal & DManiac (Faça Música, Seja Feliz) Centro Cultural Malaposta - 15h00 PORTO Truls Mørk & Håvard Gimse Casa da Música - 19h30 Dia 8 ÁGUEDA Vaguement La Jungle (Festival O Gesto Orelhudo) - d’Orfeu - 21:45 LISBOA Capitão Fantasma + Deadfly Ensemble + Jellowaste! (Drop Dead Festival) Beach Tiki Party Orquestra Didáctica da Foco Musical Centro Cultural de Belém - 21h00 ODIVELAS Rodrigo Leal & DManiac (Faça Música, Seja Feliz) Centro Cultural Malaposta - 15h00 PORTO Oslo Sinfonietta Casa da Música - 19h30 Quarteto César Latorre Jazz ao Norte Porcupine Tree Teatro Sá da Bandeira - 21h00 pub pub