212 pela Companhia de Jesus na ação de catequização dos indígenas. Tratava-se de um esforço embrionário, de um impulso de civilidade oferecido ao gentio brasileiro. No discurso do cônego, o termo civilizar desponta como sinônimo de educar e de catequizar. Nesse sentido, pretendia Barbosa disseminar entre os indígenas a rígida ideia de civilização e introjetar noções, como o autocontrole, a ideia da propriedade e refinamento de costumes, comportamento, moral, em síntese, desencadear nos índios o processo civilizador estudado por Norbert Elias (1990, p. 23). A análise do seu discurso permite concluir que os serviços prestados pelos padres da Companhia não estavam circunscritos apenas à esfera religiosa: ao evangelizarem o gentio, os jesuítas atuaram como primeiros educadores na solução dos conflitos de todos os gêneros existentes em terras coloniais. A questão encetada, indubitavelmente, era a própria edificação da nacionalidade brasileira, e a consequente inclusão do país na lista das nações civilizadas. Essa população, uma vez “amalgamada”, deveria ser instruída por meio da educação e da boa política, conditio sine qua non para a criação de um sistema de governo sábio, equilibrado e duradouro. Referências ARNAUT DE TOLEDO, Cezar de Alencar; PEREIRA NETO, Juscelino. Os jesuítas e a educação no Programa da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839). Cadernos de História da Educação, v. 9, n. 2, p. 397-411, jul./dez. 2010. BARBOSA, Januário da Cunha. Discurso. RIHGB, Rio de Janeiro, v. 1 n. 1, p. 9-18, 1839a. BARBOSA, Januário da Cunha. Qual seria hoje o melhor sistema de colonizar os Índios entranhados em nossos sertões. RIHGB, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-18, 1839b. CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. CEZAR, Temístocles. Presentismo, Memória e Poesia: Noções da Escrita da História no Brasil oitocentista. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy (Org.). Escrita, Linguagens, Objetos. Leituras de História Cultural. Porto Alegre: UFRGS, 2004, p. 43-80. ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. vol. I. GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). RIHGB, Rio de Janeiro, n. 388, p. 459-613, jul./set. 1995. GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. A disputa pelo passado na cultura histórica oitocentista no Brasil. In: CARVALHO, José Murilo de. Nação e Cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 93-122.