circuito espacial produtivo da maça e as transformações - Unifal-MG

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CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DA MAÇA E AS
TRANSFORMAÇÕES NO TERRITÓRIO AGRÍCOLA NA
MESORREGIÃO DO CAMPO DAS VERTENTES (MG)
Jaqueline Gonzaga1
E-mail: [email protected]
Márcio Toledo2 – UFSJ
E-mail: [email protected]
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar as transformações no perfil agrícola da
Mesorregião das Vertentes (especificamente as microrregiões de São João del-Rei e
Barbacena) que tem investido cada vez mais no cultivo de frutas de clima temperado.
Para tal, fazemos uma análise dos investimentos na cultura de maça nesses lugares.
Nossas análises buscam, além de demonstrar a transformação no perfil agrícola local,
entender qual é a inserção regional e nacional dos municípios selecionados no circuito
espacial produtivo da maça. Os fatores mais expressivos para essa produção são os
incentivos de empresas que dão apoio aos produtores rurais e o uso de novas
técnicas para o fortalecimento da produção agrícola.
Palavras chave: circuito espacial produtivo, maçã, fruticultura irrigada.
Abstrac: The aim of this research is to analyze the changes in the agricultural profile of
the Mesorregion of Campo das Vertentes (São João del-Rei e Barbacena,), which
have been investing more and more in the culture of fruits from temperate climate. In
order to do that, we perform an analysis of the investments in the apple culture in these
places. Our analyses seek, beyond to demonstrate the change in the local agricultural
profile, to understand what is the regional and national insertion of the selected
counties in the apple productive spatial circuit. The most expressive factors to this
production are the incentives of companies which give support to rural producers and
the use of new techniques for the strengthening of agricultural production.
1
Bolsista do Programa de institucional de iniciação cientifica (PIIC) da Universidade Federal De São João
Del Rei (MG).
2
Professor Adjunto do Departamento de Geociências da UFSJ.
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Key-Words: Productive spatial circuit, Apple, Agriculture, Irrigated Fruit Production.
Eixo temático: Geografia econômica
Introdução
A agricultura no Brasil é, historicamente, umas das principais bases da economia,
desde
os
primórdios
da colonização até
o século
XXI,
evoluindo
das
extensas monoculturas para a diversificação da produção. Inicialmente produtora
de cana-de-açúcar, passando pelo café, cacau e borracha, a agricultura brasileira
apresenta-se como uma das maiores exportadoras do mundo em diferentes
variedades de cereais, frutas, grãos, entre outros. Buscamos aqui compreender o uso
agrícola do espaço na Mesorregião do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, e as
novas dinâmicas que vem mudando esse lugar, modernizando-o.
No atual período, as paisagens rurais correspondem à constituição de uma esfera
cada vez mais artificial, técnico-científica-informacional, substituindo o que era apenas
natural. A modernização da materialidade, e os novos fluxos de relações, conjugam-se
com as ações técnicas e políticas voltadas para a produção agrícola. Há, então, a
formação de um sistema, no qual cada elemento se relaciona com os demais e os
influencia, alterando o seu valor individual e, também, o todo (RAMOS, 2002).
As principais fontes de informações utilizadas nessa pesquisa são bibliografias
relacionadas ao tema e às empresas de apoio aos produtores rurais como a EMATER
e EPAMIG, que tem caráter extensionista e incentivam a produção, oferecendo apoio
técnico.
Por meio de uma análise do cultivo da maça na Mesorregião das Vertentes, fazemos
um debate sobre o uso agrícola do espaço e seus sistemas técnicos atualizados.
Objetivo
O objetivo dessa pesquisa é analisar as transformações do uso agrícola das
microrregiões selecionadas na mesorregião das Vertentes (São João Del Rei e
Barbacena). Para tal, fazemos uma análise dos investimentos no cultivo de frutas de
clima temperado e do crescimento da produção de maçã nesses lugares.
Referencial teórico
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O cultivo da macieira é uma atividade relativamente recente no Brasil. No início da
década de 1970, a produção anual de maçãs era de cerca de 1000 toneladas. Com
incentivos fiscais e apoio à pesquisa e extensão rural, a Região Sul do Brasil
aumentou a produção de maçãs em quantidade e em qualidade, fazendo com que o
país passasse de importador a auto-suficiente e com potencial de exportação. Em
levantamentos feitos pela Associação Brasileira de Produtores de Maçãs (ABPM),
verificou-se que na safra de 2001, aproximadamente 2700 produtores estiveram
envolvidos na cultura e a área plantada foi de cerca de 30000 ha, com produção
estimada de 800000 t. A maçã brasileira já conquistou os mercados consumidores de
outros países, especialmente os europeus, e entre 10 a 20 % da fruta são exportados
para diversos países, principalmente para a Europa. O cultivo da maçã é considerado
bem sucedido pelo Estado (EMBRAPA, 2003). O Brasil destaca-se como um dos
maiores produtores mundiais de frutas, ocupando atualmente a posição de décimo
produtor mundial de maçãs.
Os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina participam como um dos grandes
produtores de frutas de clima temperado, tendo a maçã como principal representante
(GIRARDI, 2004).
O jornal GoodFruitGrower, de janeiro de 2008, publicou o Ranking dos 28 principais
países produtores de maçã, em termos de competitividade internacional, levando em
consideração a eficiência produtiva, infraestrutura, recursos financeiros e mercado. Na
eficiência produtiva, são levadas em consideração a percentagem de novas cultivares,
a densidade de plantio e a produtividade. Na infraestrutura, consideram-se a
capacidade de armazenagem packinghouse3·, a eficiência na distribuição e os
sistemas de marketing, entre outros. Nos recursos financeiros e condições de
mercado, são levados em conta as taxas de juros, a inflação, a disponibilidade de
capital, o controle de qualidade, a exportação, a média do preço de exportação e a
média de distância ao mercado. Neste ranking, o Brasil está em 14º lugar. Quanto à
eficiência produtiva e infraestrutura, relacionada às tecnologias utilizadas, o Brasil está
na 7ª posição, o que demonstra a evolução em termos de inovações tecnológicas
introduzidas na cultura da macieira (PETRI; LEITE; COUTO e FRANCESCATTO,
2011).
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O packinghouse é um galpão que concentra não só a produção, a qualidade e a higienização da fruta, por
meio de máquinas beneficiadoras, como também os aparatos necessários para a logística da distribuição e
comercialização do produto.
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Além de ter infraestruturas como armazenamento e packinghouse, a irrigação também
é de suma importância para o cultivo, pois a ocorrência de deficiência hídrica durante
o período de crescimento dos frutos pode afetar o seu tamanho, bem como a
diferenciação floral para o ciclo seguinte, além de prejudicar a absorção de nutrientes
e o crescimento da planta (ASSAF et all apud CONCEIÇÃO, 2006).
A superfície irrigada com 3121642 hectares no Brasil, em 1996, multiplicou-se cerca
de sete vezes, desde 1960. A região Sudeste se destaca, com 25,2 % das terras
regadas, presentes, sobretudo nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A Região
Sul incorpora, há muito tempo, tecnologias que a tornaram independente dos fatores
climáticos e naturais (SANTOS; SILVEIRA, 2002).
A década de 1970, mesma época em que teve início o cultivo da maçã no Brasil, foi
um período de grande expansão e modernização da agricultura nacional que passava
a responder aos anseios da sociedade urbana-industrial.
Segundo Mendes (1998), as tecnologias recentes de irrigação exercem papel
fundamental para o aumento da produtividade agrícola, sendo um dos principais
instrumentos para a modernização da agricultura brasileira, permitindo enormes
benefícios,
tais
como:
incremento
de
produtividade
da
ordem
de
200%,
proporcionando a redução do custo unitário de produção, utilização do solo durante
todo o ano com até 3 (três) culturas/ano, utilização intensiva de máquinas,
implementos e mão-de-obra ao longo do ano, proporciona oferta de alimentos e outros
produtos agrícolas com regularidade ao longo do ano, diminuindo a sazonalidade, e
proporcionando preços mais favoráveis para o produtor rural.
Metodologia
Para realizarmos essa pesquisa, foram coletados dados primários através de
trabalhos de campo e dados secundários através do website do IBGE; análises de
dados, tabelas, gráficas e mapas; realização de leituras sobre os circuitos espaciais
produtivos, a fruticultura e a produção de maça na Mesorregião das Vertentes, além
da análise das políticas municipais, estaduais e federais voltadas a produção de
frutas.
Resultados e discussões
A agricultura tem ganhado espaço ao longo dos últimos anos na economia do
estado de Minas Gerais, mostrando-se uma atividade em constante expansão e,
despertando interesse na análise da estrutura produtiva do estado, de forma a
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contribuir para a elaboração de políticas públicas para o setor em Minas Gerais
(BASTOS E GOMES, 2011).A mesorregião Campo das Vertentes (fig1) é
constituída por três microrregiões que englobam um to
constituídas por três microrregiões que englobam um total de 36 municípios .
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Com intuito de entender as novas dinâmicas da produção agrícola na Mesorregião do
Campo das Vertentes, foram selecionadas para a pesquisa as microrregiões de
Barbacena e São João Del Rei. Uma primeira análise dos dados revelou que estes
têm aumentado significativamente a área de produção a partir da década de 2000
(tabela1), por isso estuda-los mais detalhada e detidamente.
Tabela 1:Quantidade produzida de maçã na mesorregião das vertentes e nas
microrregiões de Barbacena e São João Del Rei
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Fonte: IBGE 2013.
Atualmente, ainda se observa nos municípios a predominância de pequenas e médias
propriedades e a forte presença da agricultura familiar, permanecendo o vinculo entre
a produção e o mercado local e a sua participação também como forma de
complementação da renda familiar contribuindo também para a economia do município
(GOMES e AGUIAR, 2014).Segundo dados do IBGE, na Mesorregião do Campo das
Vertentes, o crescimento da fruticultura irrigada da maçã, passou de 105 toneladas em
1990 para 3501 em 2011. A área destinada a colheita passou de 4 para 132 hectares
no mesmo período (IBGE, 2013).
Colaboram para o sucesso da cultura da maça nessa porção do território o clima
temperado e o solo. Compõem seus círculos de cooperação a empresa de pesquisa
agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e a empresa de assistência técnica e
extensão rural (EMATER) que desenvolvem o projeto frutifica Minas na região. Esse
projeto acontece em parceria com a ARPA - Associação Regional de Produtores
Associados do Campo das Vertentes (a qual coordena um número de 28 associações
de São João del-Rei e municípios vizinhos). O projeto tende a consolidar como um
projeto regional de fruticultura na Mesorregião das Vertentes e o objetivo principal é
oferecer aos produtores oportunidades de plantio de árvores frutíferas com custo
acessível e fazendo com que a região seja mais produtiva no setor de fruticultura.
Na Mesorregião do Campo das Vertentes, a circulação das mercadorias é facilitada.
Há estradas rurais com acesso facilitado pela conservação e rodovias. Além disso,
ela é servida por importantes rodovias como a BR 040, a BR 265 e a BR 383,
principais acessos aos municípios de Barbacena e São João del-Rei (fig 2). A
localização das cidades facilita o escoamento dos produtos. Como nos alertam
Santos e Silveira (2002), hoje não basta produzir, é indispensável colocar a
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produção em movimento, pois atualmente a circulação que preside a produção. A
criação de fixos produtivos leva o surgimento de fluxos que, por sua vez, exigem
fixos para balizar o seu próprio movimento (SANTOS e SILVEIRA, 2002, p.167).
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Figura 2: Localização e rodovias de acesso aos municípios de Barbacena e São
João del-Rei
Fonte: DER\MG 2014
Os principais destinos da maçã produzida na Mesorregião das Vertentes são os
Ceasas de Barbacena e Belo Horizonte, para os estados do Rio de Janeiro,
mercados locais e Rio Grande do Sul. A estratégia dos produtores é colocar o
produto no mercado durante a entressafra na região sul do país, principal produtora
da fruta. A colheita da maçã na região ocorre durante todo o mês de dezembro e a
fruta vai direto para o mercado consumidor. A ideia é antecipar a safra do Sul do
país. A caixa com 18 quilos de maçã é vendida por uma média de R$ 32 na região.
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Em uma área de 20 mil pés são empregadas70 pessoas durante a colheita
(JORNAL GLOBOMINAS, 2013).
Para a implantação do cultivo de maçã, outras culturas tiveram que deixar de ser
produzidas. A fruta é uma cultura de tipo permanente. Essa substituição de culturas
transforma o perfil do uso agrícola da o território. Os investimentos em máquinas e
insumos tornam-se fundamentais para as novas culturas.
De acordo com Pereira e Toledo (2012) e dados do IBGE (tabela 2), a produção de
grãos na região (milho, feijão, soja e trigo) também apresentou crescimento na
ultima década.
Tabela 2; Área plantada em percentual das lavouras temporárias nas
microrregiões de Barbacena e São João Del Rei-MG
Fonte: IBGE 2013
Se estas não tiveram queda, pressupomos aqui que o cultivo de maçã vem sendo
introduzido em áreas que antes pertenciam à agricultura familiar, onde eram
produzidas hortaliças, frutas ou outras culturas, destinadas apenas para o mercado
local.
Considerações finais
Os condicionantes mais expressivos para as alterações da produção agrícola e
modernização na Mesorregião das Vertentes são o clima e a implantação de novas
técnicas de irrigação, além do uso de insumos. Com a prática da agricultura irrigada
houve aumento da produtividade e da produção.
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As empresas como EPAMIG e EMATER são incentivadoras aos produtores rurais,
pois através destes é possível estabelecer uma comunicação viável com os
pequenos e grandes produtores.
A implantação de novas culturas através do projeto Frutifica Minas nessas
microrregiões é a expressão das mudanças que vem acontecendo no espaço
agrícola da região devido aos incentivos e interesse do estado, aumentando assim
a sua participação no setor da fruticultura no Brasil.
O custo acessível das mudas para plantio que o projeto frutifica Minas oferece e o
apoio da EPAMIG e EMATER favorece os pequenos produtores familiares a investir
na produção de maça em suas propriedades.
Constata-se uma mudança no perfil agrícola da Mesorregião que tradicionalmente
é produtora de leite e derivados e cultiva produtos como feijão, mandioca e milho e
agora vem se instalando novas culturas frutíferas.
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