Cláudia Jeane de Freitas Soares

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A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO
COM O GRUPO
Pró-ReitoriaDA
de SUBJETIVIDADE
Graduação
A CONSTRUÇÃO
DE
Curso
de Psicologia
ADOLESCENTES:
A RELAÇÃO
DO INDIVÍDUO COM
Trabalho de Conclusão
O GRUPO de Curso
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO
COM O GRUPO
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE
ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM
O GRUPO
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A
RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO
Autor: Cláudia Jeane de Freitas Soares
Orientador: Andrea Dias Garzesi Sobrinho
Brasília - DF
2013
1
CLÁUDIA JEANE DE FREITAS SOARES
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO
INDÍVIDUO COM O GRUPO
Artigo apresentado ao curso de graduação em
Psicologia da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção
do título em Psicologia.
Orientadora: Profª. Ms. Andrea Dias Garzesi
Sobrinho.
Brasília
Novembro/2013
2
Artigo de autoria de Cláudia Jeane de Freitas Soares, intitulada “A
CONTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO
INDIVÍDUO COM O GRUPO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau
em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em 25 de novembro de 2013, defendida e
aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:
______________________________________________________________________
Profª. Msc. Andrea Dias Garzesi Sobrinho
Orientadora
Psicologia-UCB
_______________________________________________________________________
Profª. Msc Maristela Muniz Gusmão
Psicologia-UCB
Brasília
2013
3
CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO
INDIVÍDUO COM O GRUPO
RESUMO
Os estudos sobre adolescência são marcados por concepções polissêmicas, perspectiva
organicista, naturalizante e universal caracterizada por crises e tormenta, mas na concepção
histórico-social, o sujeito é visto numa dialética entre ele e contexto social. O
desenvolvimento do ser humano se dá nas inter-relações, as quais também são relações sociais
que possibilitam a este ser humano vivenciar seu processo de construção da subjetividade. A
subjetividade é um sistema complexo, construída pela dinâmica da sociedade e das pessoas
que a constituem. A formação de grupos sociais entre adolescentes se torna um espaço
importante que possibilita diversas experiências: o contato com o outro, a troca, entre outros
sentimentos, pois é na dinâmica relacional que a subjetividade se constitui. O presente artigo
buscará realizar uma análise das relações entre pares na construção da subjetividade dos
adolescentes. Investigando e identificando de que forma os grupos se formam e como se dá a
interação dos mesmos e de que maneira esta colabora no processo de construção da
subjetividade do sujeito. Para isso, este estudo foi realizado com 12 adolescentes do 9°ano do
ensino fundamental, utilizou-se a abordagem qualitativa e como instrumento o grupo focal, e
na compreensão dos dados, foi realizado a análise do conteúdo. O estudo evidenciou o papel
importante que o grupo desempenha no processo de desenvolvimento do sujeito e de sua
subjetividade, além da influencia que os pensamentos e opiniões dos membros exercem entre
si e consequentemente impacta na maneira de ver e viver o mundo.
Palavras-chaves: Adolescente; subjetividade; grupos.
CONSTRUCTION OF SUBJECTIVITY OF TEENAGERS: THE RELATIONSHIP OF
INDIVIDUAL WITH THE GROUP
ABSTRACT
Studies of adolescence are marked by polysemous concepts, organismic perspective,
naturalizing and characterized by crises and universal storm, but the social-historical
conception, the subject is seen in a dialectic between the individual and the social. The
development of the subject occurs in the interrelationships which are also social relations that
enable the subject to experience the process of construction of subjectivity. Subjectivity is a
complex system, built by the dynamics of society and the people who constitute it. The
formation of social groups among adolescents becomes an important space that allows various
experiences: contact with each other, exchange, among other feelings, this "dynamic" that is
being built with the "other" allows the subject to build your subjectivity. This article will seek
4
to conduct an analysis of peer relationships in the construction of subjectivity adolescents.
Investigating and identifying how groups form and how is the interaction of these and how
this contributes to the construction of individual’s subjectivity. For this reason, this study was
conducted with 12 adolescents 9th grade, we used a qualitative approach and how the focus
group technique, and understanding of the data was conducted content analysis. The study
highlighted the important role the group plays in the development process of the subject and
its subjectivity, beyond that influences the thoughts and opinions of members exert on each
other and consequently impacts on the way to see and experience the world.
Keywords: Adolescents; subjectivity; groups.
INTRODUÇÃO
O ser humano passa por um processo de desenvolvimento e transformação durante
toda sua vida. Porém, na adolescência o indivíduo se depara intensamente com as questões de
sua identidade. Assim como destacam Peres e Rosenburg (1998) a "adolescência" é descrita
como uma fase do desenvolvimento humano, que corresponde à um período de transição entre
a infância e a idade adulta, ocorrendo na segunda década da vida (entre os dez e os vinte anos
de idade); caracteriza-se por transformações biológicas, ligadas à puberdade, que transcendem
às esferas; psicológica e social em direção à maturidade bio-psico-social; constitui um período
"crítico," crucial na vida dos indivíduos, por se tratar de momento de definições de
“identidade". Pois, é na adolescência que o ser humano vivência seu processo de separação
entre o pertencimento e o não pertencimento, a ruptura de uma infância para a vida adulta.
Kalina e Laufer (1974) entendem a adolescência como o segundo grande salto para a
vida; o salto em direção a si mesmo, como ser individual. Considera-se que esse sujeito se
constitui por meio do seu contato com o mundo e nas relações que o permeiam. Assim, como
afirma Morin (1995) o sujeito nunca está só, pois seu desenvolvimento se dá nos interrelacionamentos.
O ser humano é um ser em constante transformação e este se desenvolve ao construir
sua realidade. Durante seu processo de constituição, a subjetividade é histórica, é um processo
de construir conhecimento sobre o sujeito (REY, 2002). Dessa forma, a sociedade e as
relações se tornam imprescindíveis para a compreensão da forma de se apresentar do sujeito.
A interação social é um fenômeno natural que assume a forma de relação social, e
pode ser vivenciada de diversas maneiras, entre uma pessoa e outra, entre uma pessoa e um
grupo, entre grupos e outros. Nas relações que se estabelecem os grupos são uma forma a qual
os seres humanos têm de se organizar, e é por meio deste que vivenciam a interação social. De
acordo com Burnette (2003), o grupo é definido como dois ou mais indivíduos conectados por
meio de relações sociais. Nesse sentido, o grupo é visto como uma entidade percebida a partir
de fatores como similaridade e proximidade entre membros. Os grupos são organismos vivos,
que se desenvolvem, mudam, amadurecem e se dissolvem.
Segundo González-Rey (2003), a subjetividade é um sistema complexo e
plurideterminado, afetado pelo próprio movimento da sociedade e das pessoas que a
constituem, dentro do contínuo movimento das redes de relação que caracterizam o
desenvolvimento social. A subjetividade é como um mundo interno do indivíduo, composto
5
por vários sentimentos, pensamentos e conteúdos que são construídos por meio das suas
vivências.
Deste modo, buscou-se compreender: a partir de quais aspectos os adolescentes
constroem os grupos? Qual a relação entre a formação do grupo com a subjetividade dos
participantes? O grupo tem influência na construção da subjetividade do indivíduo?
Neste sentido, a relevância desta pesquisa contribui para ampliar as discussões no
âmbito acadêmico a respeito da construção de grupos e o que os sujeitos vivenciam por meio
do coletivo. Além de contribuir com reflexões que transcendem a perspectiva de que os
membros que compõem o grupo, os movimenta, mas que o grupo também mobiliza e
transforma esse sujeito, contribuindo para o seu processo de subjetivação.
O presente trabalho utilizou-se da abordagem qualitativa e como instrumento o grupo
focal, pois, segundo Morgan e Krueger (1993), a pesquisa com grupos focais tem por objetivo
captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças,
experiências e reações, de um modo que não seria possível com outros métodos, como por
exemplo, a entrevista, a observação ou questionários. A pesquisa com grupo focal possibilita
emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto
de interação criado, pois permite captação de significados.
REVISÃO DA LITERATURA
1. Compreensão sobre a adolescência
Em meados do Século XVIII, segundo Airés (1981), não existia distinção entre
infância e adolescência, independente da idade e menos ainda tocava-se no assunto de
puberdade. A criança de certo modo se misturava com os adultos e adolescentes, não possuía
diferenciação destes. Ao decorrer dos anos, a criança foi, então, excluída do mundo do
trabalho e de responsabilidades; foi separada do adulto, não participando mais de atividades
nas quais até então a sua presença era usual (Airés,1986). A distinção entre criança e adulto
fez com que a adolescência começasse a ser percebida como um período à parte no
desenvolvimento humano.
Ao longo do tempo, alguns movimentos sociais como: o movimento hippie, da década
de 60, e o juvenil, de 1968, contribuíram para formar um discurso sobre o que é ser
adolescente. Na década de 70, o movimento de ampliação da contracultura juvenil continuou
se expandindo. Mas a história não para e, na década de 80, acontece uma fragmentação nos
movimentos juvenis. Grandes mudanças surgem no plano político. O mesmo acontece no
público da juventude brasileira. Assim como descreve Abramo (1994), a adolescência
contemporânea foi engendrada a partir de um contexto de crises e contestação social, esse
fenômeno facilitou que se plasmasse tal caracterização como a característica própria dos
jovens.
No Século XIX por meio da escolarização e do trabalho, a adolescência começa a ser
reconhecida, pois ocorre o afastamento progressivo da criança em relação ao mundo do
trabalho. “Daí em diante, a adolescência se expandiria, empurrando a infância para trás e a
maturidade para frente” (AIRÉS, 1981, p.47).
A adolescência fora se consolidando como uma fase da vida, apresentando-se de
diversas formas, a depender de seus fatores de ordem histórica, cultural e social, que
colaboraram para um olhar diferenciado da vivência da adolescência.
Considerando a construção histórica e social do conceito de adolescência, pode-se
dizer que esta é a fase de transição relacionada à passagem da infância para a vida adulta na
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sociedade ocidental moderna. “(...) a conexão entre o ato de pensar e as situações não
mecânicas. Em lugar disso, os indivíduos determinam posturas diante de certas situações com
referência nas práticas culturais de que participaram anteriormente.” (ROGOFF, 2005, p.
211).
O período da adolescência depende de uma inserção histórica e cultural, que
determina, portanto, variadas formas de viver a adolescência, de acordo com o gênero, o
grupo social e a geração.
A abordagem sócio-histórica não nega a existência da adolescência enquanto um
conceito importante para a Psicologia. Entretanto não a considera como uma fase
natural do desenvolvimento, mas sim como uma criação histórica da humanidade.
Um fato que passou a fazer parte da cultura enquanto significado, isto é, um
momento interpretado e construído pelos homens, um período constituído
historicamente. (OZELLA, 2003, p.9).
Para McAdams (1996) antes da adolescência, a criança refere-se a si em termos de
traços, atributos, papéis, relações, preferências e outros elementos de diferenciação. Ela só
desenvolve uma identidade quando é capaz de integrar esses elementos sincronicamente (isto
é, de reunir a gama de papéis e relações vividas no presente) isto só ocorre ao longo do tempo,
pois deve haver uma configuração que lhe forneça algum sentido de unidade e de propósito. O
modelo dessa configuração é a história autobiográfica que só emerge mais tardiamente no
desenvolvimento, continuando nos anos de maturidade e velhice. Essas histórias são
construídas pela pessoa em conjunto com o contexto cultural em que está imersa, refletindo
valores e normas socialmente compartilhados.
No processo de desenvolvimento psicológico do ser humano, a construção da
identidade e subjetividade são questões vitais desse período, que se constroem por meio dos
vínculos que são criados com o mundo e se estende por todo o ciclo de vida.
A visão apresentada por González Rey, (2003, 2004) é que a subjetividade se
reorganiza interna e externamente na relação com o outro e com a cultura. O contexto cultural
tem o papel de regular as condições sociais de constituição do senso de si. Assim, a história
de vida do ser humano, embora seja singular, não é um processo interior independente da
sociedade, pois o social constitui o subjetivo. Conforme Lerner e Castellino (2002), as
práticas socioculturais medeiam a formação da autoimagem e das significações acerca de si.
A integração dinâmica desses aspectos resulta numa subjetividade de natureza plural
(HERMANS 2001; OLIVEIRA, 2003).
2. O processo de construção da subjetividade do sujeito
Como já exposto, a adolescência é considerada atualmente como um período
significativo no desenvolvimento do sujeito, por ocorrerem mudanças importantes no
desenvolvimento psíquico, como os pensamentos abstratos, a formação de conceitos, valores,
entre outras questões que colaboram para a constituição da identidade desse indivíduo.
Considerando que o ser humano constitui-se de modo a produzir sua subjetividade.
De acordo com Gonzalez Rey (2003), a subjetividade pode ser definida, "como a organização
dos processos de sentido e significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e
em diferentes níveis do sujeito e na personalidade, assim como nos diferentes espaços sociais
em que o sujeito atua" (REY, 2003, p.108). O sujeito representa um momento de subjetivação
dentro dos espaços sociais em que atua e, simultaneamente, é constituído dentro desses
7
espaços na própria processualidade que caracteriza sua ação dentro deles, a qual está sempre
comprometida direta ou indiretamente com inúmeros sistemas de relação.
Para Furtado (2001), na perspectiva da Psicologia Sócio histórica, a subjetividade é
definida como sendo um campo construído socialmente, que se expressa, porém, no plano
individual, das crenças, valores e comportamentos individuais. O autor afirma que a
“expressão psíquica humana suplanta o arcabouço biológico do indivíduo e passa a constituir
um campo que chamamos de subjetividade” (FURTADO, 2001, p. 75). Os elementos básicos
que constituem o psiquismo - os afetos, os desejos, as emoções e a vontade, eram vistos como
independentes da sociedade e inerentes ao eu. Os estudos buscavam identificar e determinar
os elementos integrantes do psiquismo que ocorriam internamente. Postulava-se a busca do
indivíduo subjetivista no qual se podia detectar uma essência humana. A identidade era vista
como uma característica do indivíduo, como uma manifestação da sua subjetividade
(FIGUEREDO, 1989). O fato social era percebido como exterior a ele (DURKHEIM, 1970).
A relação indivíduo e sociedade é vista como uma interação entre elementos
separados. Muitas vezes o indivíduo é caracterizado como uma mera reprodução da
sociedade, e, às vezes, como independente dela, como se existisse um paralelismo entre eles.
A subjetividade, porém, é construída na organização social e cultural na qual os indivíduos
estão inseridos, mesmo que nem sempre tenha sido entendido dessa forma, pois o privado era
percebido como subjetivo, no sentido de independente da sociedade.
Numa perspectiva mais contemporânea, a subjetividade é tomada como objeto
construído pelo conhecimento e também como campo de experiências do sujeito não implica
naturalmente nem necessariamente interioridade, substância ou permanência. A subjetividade
é construída nas circunstâncias históricas, culturais e sociais nas quais o indivíduo está
inserido e também pelas experiências particulares que ele vivencia no interior dessa cultura. A
singularidade, aquilo que distingue os homens entre si, é determinada concretamente
(FERNÁNDEZ.V & TORREGROSA 1984; BERGER & LUCKMANN, 2002).
González Rey (2003) define subjetividade como os processos e formas de organização
subjetiva dos sujeitos concretos que representam a história única de cada indivíduo dentro de
uma cultura. Ele compreende que a subjetividade humana caracteriza-se no individual e no
social. Estes são momentos que se projetam entre si e se constroem um ao outro
reciprocamente: subjetividade individual e subjetividade social.
Para Bakhtin (2008) é somente através do outro, revelando-se ao outro e com apoio do
outro que o sujeito toma consciência e torna-se si mesmo. A construção do “eu” é um
processo coletivo, os “eus” são autores uns dos outros. Observamos que, ao falar de autoconsciência não se refere ao que ocorre “dentro” do indivíduo, pois o próprio interior está na
fronteira, voltado para fora. É no limiar que as consciências se encontram, dialogam,
divergem, constroem-se, revelam-se. “O próprio ser do sujeito (tanto interno quanto externo)
é convívio mais profundo. Ser significa conviver” (BAKHTIN, 2008, p. 322). Assim, o ser
humano não tem um território interior soberano, não é autossuficiente, não existe apenas
numa consciência.
A partir dessa perspectiva, entende-se que o sujeito possui diversas maneiras
diferentes de subjetivar no decorrer de sua vida, momentos em que o ele pode fixar, manter ou
transformar sua identidade (FOCAULT, 1997). A subjetividade só pode ser compreendida
como produto das relações e mediações sociais.
8
3.0 A relação do adolescente com os grupos sociais
A psicologia social compreende que são os laços sociais que nos tornam humanos. E
os grupos sociais são um jeito peculiar do sujeito se relacionar. Os laços sociais permitem que
os membros do grupo orientem-se, comuniquem-se, e adaptem-se uns aos outros.
Para Michel (2004), o social é o que liga os indivíduos, tornando-os por isso
companheiros, aliados, associados. O social é uma unidade nova, uma referência estruturante
é o que partilham e reconhecem em comum que tornam os indivíduos membros da unidade
criada (grupo, coletivo, sociedade). É também o que os atravessa. O sentimento de
pertencimento corresponde aí ao nível afetivo e, poder-se-ia dizer, é seu primeiro traço
psicológico. Faz com que os membros do grupo digam “nós”.
O grupo aspira à unidade designada pelo “nós” (MICHEL, 2004). Ao mesmo tempo,
cada indivíduo que participa do grupo permanece, quanto tal, sujeito autônomo e
organicamente definido. Os atores sociais, membros do grupo, não deixam de ser pessoas
singulares.
Na Psicologia, o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais, busca compreender a
dinâmica dos mesmos. A vivência dentro de um grupo cria várias possibilidades de
subjetivação para cada sujeito que a experiência. Pensar o grupo como espaço social de
subjetivação requer compreender a complexidade que envolve o fenômeno, pois este é
concomitantemente histórico, cultural, social, individual, coletivo e emocional. As
características dos grupos são características da subjetividade social do momento, composta
por diversas questões que constituem a produção das relações sociais. A subjetividade é
produzida na contínua interação dos espaços sociais e individuais.
Se tratando da constituição subjetiva de sujeitos membros de um grupo e considerando
o desenvolvimento humano como processual, entende-se que o contexto vivido integra a
confrontação entre o mundo psíquico do sujeito e as novas demandas sociais, assim gerando,
em diferentes momentos, novas qualidades no processo de desenvolvimento.
Segundo Guareschi (1996, p. 89) um grupo se constitui por suas relações reveladas na
“vida social”, sendo esta vida construída nas e pelas relações e “as relações podem ser
diferentes, até mesmo contraditórias, dependendo do momento”. Podemos pensar, então, o
grupo como um lugar de subjetividades engendradas na complexidade das redes relacionais
em que os processos sociais, culturais, ideológicos e históricos se interpenetram na “vida”
particular e coletiva.
Atualmente, a sociedade delineia a expressividade dos seres humanos por meio da
relação de pertença a um grupo. A sociedade, de acordo com González Rey (2004, p. 29)
“atua mediante múltiplos mecanismos e relacionamentos que têm uma expressão formal em
órgãos, sistemas de leis, mas têm uma representação informal, no sentido subjetivo que todo
esse sistema possui para os diferentes sujeitos, grupos e classes sociais que integram a
sociedade”.
A família, a escola e os grupos sociais podem ser entendidas como espaços em que a
situação social de desenvolvimento acontece. Esses espaços de expressão permitem a
constituição de subjetividade, são produtores de novos sentidos e significados que se
agregam, transformando o desenvolvimento individual e social de maneira permanente e
integrada.
O grupo exerce uma função sobre as pessoas, ele é um espaço que sujeito pode
vivenciar questões fundamentais como; pertencimento, inclusão e afeição, "as pessoas não se
integrarão em um grupo se ele não trouxer a satisfação de certas necessidades fundamentais
que são: necessidade de inclusão, necessidade de controle e necessidade de afeição."
(BRAGHIROLLI, 1999: 128). Deste modo, os grupos possibilitam ao sujeito experiênciar
9
sensações que são importantes e fazem parte do processo de desenvolvimento do ser humano,
principalmente no período da adolescência no que diz respeito a suas questões de identidade,
pertencente, entre outras sensações.
O grupo promove o contato entre diferentes sujeitos, possibilita novos movimentos e
experiências a partir do encontro com o outro. Ao promover construções coletivas, ele permite
que os sujeitos se diferenciem diante das novas produções. Nesse sentido, o grupo parte tanto
da pluralidade de sujeitos que o compõem quanto produz pluralidade, à medida que os
sujeitos singularizam/subjetivam o que no grupo se desenrola.
Segundo Silva (2006), sujeito coletivo
é um grupo de pessoas que possui uma identidade comum, um juízo comum sobre a
realidade e reconhece-se participante do mesmo “nós-ético”, ou seja, percebe-se
fazendo parte de uma mesma realidade comportamental, que é, por assim dizer,
extensão de suas próprias pessoas. O grupo procura viver em comum-unidade, não
necessariamente sob a mesma determinação geográfica. O que o unifica é,
principalmente, o juízo comum sobre a realidade (p. 94).
Considerando que o grupo é um meio de relação do sujeito e que se constrói pela
pluralidade dele, mas que se constitui também de sua singularidade podemos compreender
que consequentemente na dinâmica do coletivo ocorre também o processo de subjetivação.
Essa diversidade de sujeitos implica uma multiplicidade de formas de existência, modos
históricos de ser, formas de subjetividade entre outras. Somente a subjetividade contempla,
coordena e conhece estas diversas facetas que compõem o indivíduo.
Revela Câmara (1997) que hoje em dia não restam dúvidas que a vida em sociedade é
própria da natureza humana, sendo impossível compreender o ser humano sem considerar o
papel que os grupos têm na vida das pessoas.
Dessa maneira a vida social vai definindo seus tênues contornos por meio do
relacionamento com o outro, os adolescentes delimitam seus espaço sociais. Os diversos
agrupamentos de jovens possibilitam a formação identitária, uma nova via de expressão, um
modo de intensificar suas vivências pessoais e encontrar um núcleo gratificante para
expressão da afetividade gerada em várias instâncias da vida.
DELINEAMENTO METODOLÓGICO
Ao realizar uma pesquisa, deve-se pensar sobre o meio adequado para coletar dados e
responder aos objetivos e hipóteses. A metodologia consiste em definir o método de pesquisa,
os cuidados éticos e delimitar quais serão os passos realizados durante os procedimentos de
análise de dados, pesquisa documental e empírica. Desta forma, a metodologia de pesquisa
constitui-se como etapa fundamental para organização e planejamento das ideias e métodos.
Nessa direção e visando alcançar os objetivos delimitados, optou-se por adotar a
pesquisa qualitativa, pois esta permitiu descrever a complexidade dos conteúdos observados e
vivenciados pelos participantes dos grupos, analisando a interação dos membros, as variáveis
apresentadas, compreendendo e classificando processos dinâmicos observados por meio dos
grupos sociais, e possibilitando mais profundamente o entendimento das particularidades do
comportamento dos indivíduos participantes da pesquisa (RICHARDSON, 1989).
A fim de aprofundar as reflexões e análises sobre questões essenciais para a
compreensão da temática abordada no presente trabalho, foram realizadas pesquisas sobre as
temáticas: Natureza Social, Subjetividade, Grupos Sociais, Adolescência e questões Sócio
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Históricas. Assim, esse método se adequa aos objetivos gerais e específicos do tema em
questão, garantindo que se possa compreender melhor os fenômenos que ocorrem na dinâmica
grupal que esteja relacionada à constituição da subjetividade do sujeito
PARTICIPANTES
O estudo foi realizado com 12 adolescentes, sendo 5 do sexo feminino e 7 do sexo
masculino, com idades entre 14 e 17 anos em uma escola de Ensino fundamental de
Taguatinga- DF, a amostra foi obtida randomicamente, por meio da seleção de quatro
números aleatórios do diário de classe do professor, esses números se referiam aos alunos e
cada um desses escolheu mais dois colegas de sua sala para comporem o grupo, afinal, como
o presente artigo tem por objetivo analisar as interações grupais torna-se indispensável o
convite de membros do mesmo grupo para tornar-se possível as discussões aqui propostas.
LOCAL DA PESQUISA
A Pesquisa foi realizada em uma Escola do Ensino Fundamental de Taguatinga - DF,
que possui 700 alunos distribuídos entre as 20 turmas que vão do 5° ao 9° ano do ensino
fundamental.
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Com o intuito de conhecer os termos, a origem dos nomes dos grupos e como estes se
relacionam com foco na construção da subjetividade, a coleta de dados foi realizada por meio
do grupo focal. Segundo Gatti (2005), o grupo focal permite compreender processos de
construção da realidade, favorecido pelo discurso, pois possibilita uma análise mais apurada
do fenômeno em questão. Além disso, para o alcance dos demais objetivos, pediu-se para que
cada aluno trouxesse dois outros colegas que fazem parte de algum de seus grupos sociais,
pois este vínculo foi de suma importância para execução e análise das atividades. Propôs-se a
realização de atividades práticas que tem como foco a observação dos comportamentos
explícitos apresentados pelos membros e da própria fala verbal.
O grupo focal pode ser utilizado no entendimento das diferentes percepções e atitudes
acerca de um fato, prática, produto ou serviço observação participante. Cabe ressaltar a
diferença entre GF e entrevista em grupo. Esta diferença está na interação do grupo. No GF, o
pesquisador está envolvido na determinação e manutenção do tópico de discussão. Nas
entrevistas em grupo, o pesquisador observa a espontaneidade com que os tópicos são
discutidos, sem interferência. O GF possui uma estrutura organizada que pode incluir
diferentes variações e uma identidade distinta, embora ocupe uma posição intermediária entre
observação participante e entrevista semi-aberta (MORGAN, 1997). A essência do grupo
focal consiste justamente na interação entre os participantes e o pesquisador, que objetiva
colher o máximo de informações a partir da discussão focada em tópicos específicos e
diretivos (por isso é chamado grupo focal).
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• Organização e análise do material
Foram realizados três encontros com atividades em grupo, cada encontro teve um
tempo médio de 1 hora 30 minutos. O primeiro e segundo encontros tiveram o mesmo
formato para coleta de dados, onde os participantes responderam e discutiram entre eles as
questões apresentadas. Já no terceiro encontro, foi transmitido um vídeo para que eles
fizessem suas próprias considerações. Estes encontros tiveram como foco investigar de modo
mais imparcial possível os aspectos atrelados aos objetivos gerais e específicos valorizando o
discurso e analisando a interação dos grupos durante o processo.
Atividades
1° Encontro
Objetivo: A construção da formação do grupo.
Por meio de apresentação em Power Point, foram dadas instruções aos adolescentes
sobre a atividade que dividiram-se em três momentos:
Primeiro momento - Os adolescentes responderam individualmente as quatro questões
do Formulário que receberam.
Duração: 30 minutos.
Questões
Sou membro deste grupo, pois...
Me identifico com esse grupo, porque...
Faço parte deste grupo, pois...
Entrei, ou formei este grupo, porque...
(Figura I) – Questões do primeiro encontro com adolescentes
Segundo momento - Após todos responderem, foram divididos em sub-grupos de três
adolescentes, composto pelos adolescentes que tiveram o número do seu diário sorteado e dos
dois colegas que escolheram. Discutiram entre si e escreveram o que o grupo achava
pertinente para a questão. Após concluir elegeram relatores (pessoa que falou para os demais
sub-grupos quais foram as respostas).
Duração: 30 minutos.
Terceiro momento - Os relatores dos grupos falaram para os demais sub-grupos o que
foi respondido por seus respectivos grupos. O grupo grande discutiu e entraram num consenso
para eleger as respostas que acreditavam ser mais pertinente.
Duração: 30 minutos.
2° Encontro
Objetivo: Analisar a maneira como os adolescentes se percebem no grupo e como se
caracterizam em relação aos nomes de seus respectivos grupos;
Por meio de apresentação em Power Point, foram dadas instruções aos adolescentes
sobre a atividade que dividiram-se em três momentos:
12
Primeiro momento - Os adolescentes responderam individualmente as quatro questões
do Formulário que receberam.
Duração: 30 minutos.
Questões
As características em comum entre eu e os membros do meu grupo são...
Quando estou com os membros deste grupo me sinto...
Costumo me reunir com este grupo para...
Estas palavras definem o meu grupo...
(Figura II) Questões do segundo encontro com adolescentes.
Segundo momento - Após todos responderem, foram divididos em sub-grupos de três
adolescentes, composto pelos adolescentes que tiveram o número do seu diário sorteado e dos
dois colegas que escolheram. Discutiram entre si e escreveram o que o grupo achava
pertinente para a questão. Após concluir elegeram relatores (pessoa que falou para os demais
sub-grupos quais foram as respostas).
Duração: 30 minutos.
Terceiro momento - Os relatores dos grupos falaram para os demais sub-grupos o que
foi respondido por seus respectivos grupos. O grupo grande discutiu e entraram num consenso
para eleger as respostas que acreditavam ser mais pertinente.
Duração: 30 minutos.
3°Atividade:
Objetivo: Interações dos grupos e interferência deste na construção da subjetividade
do sujeito.
Foi transmitido para os adolescentes duas cenas do Filme: Vida de Inseto; 1998 com a
duração de 4 minutos e 2 segundos as duas editadas. As quais mostravam a questão do
coletivo, a organização do grupo de formigas e gafanhotos.
Primeiro momento - Os adolescentes assistiram ao filme e ao término pediu-se que
cada um falasse o que havia achado das cenas assistidas.
Duração: 30 miutos.
Segundo momento – Foi discutido em grupo todos os aspectos observados no filme.
Duração: 40 minutos.
PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS
Conforme revela Bardin (1979) existem três etapas fundamentais no processo de
análise dos dados: a) pré-análise; b) exploração do material; c) tratamento dos resultados
obtidos e interpretações. Desse modo, a primeira etapa consistiu na organização das anotações
que ocorreram durante o grupo focal e a transcrição das filmagens. A exploração do material
que é a segunda etapa teve inicio com a leitura flutuante caminhando para a escolha das
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unidades e classificação que é o processo de agregação para escolha das categorias (sistemas
de codificação).
“A categorização é uma operação de classificação de elementos constituídos de um
conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento (analogia) com os critérios
previamente definidos.” (BARDIN, 1979, p. 117).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As categorias definidas nesta pesquisa foram estruturadas baseadas nas perguntas
norteadoras dos encontros, que tiveram como finalidade promover discussões que
possibilitassem o alcance dos objetivos específicos. Deste modo, as categorias pré-definidas
são: a) Processo de Formação do Grupo; b) Percepção dos adolescentes do Grupo; c) A
relação do grupo e fatores intersubjetivos.
a) Processo de Formação do Grupo
No processo de análise, pôde-se observar no discurso dos participantes que os temas
mais evidentes no que diz respeito ao processo de formação do grupo dá-se por questões
atreladas à afinidade, afetividade e os gostos em comum que existem em comum entre os
membros, além da amizade desde a infância, por realizarem as mesmas atividades, afinidade
frequentarem os mesmos lugares e gostarem das mesmas coisas. Segundo quadro abaixo:
Tabela 1
Categoria I - Processo de Formação do Grupo
Perguntas
norteadoras
Verbalização
" Formamos o grupo pela afinidade,
de brigar(..)" "Fazemos as mesmas
coisas: jogar bola, queimada, jogar
Entrei, ou
no celular". " Porque temos muitas
formei esse
coisas em comum" "Somos
grupo, porque.. parecidos, temos afinidade, porque
somos legais, engraçados e
humildes"
Sou membro
deste grupo,
pois...
" Frequentamos a mesma igreja"
"Nos tornamos amigos de muitos
anos" '' Nos conhecemos desde
pequenos e somos da mesma igreja"
"Somos amigos desde pequenos e
até hoje temos afinidades" "Somos
amigos de infância" "me identifico
com essas pessoas, porque estão
sempre ao meu lado em vários
momentos" "Gostamos de sentar no
mesmo lugar na sala"
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Temas
Formação
Gostos em Comum
Afinidade
Amizade de infância
Frequentam o mesmo lugar
"Gostamos do mesmo estilo
musical" "Praticamos o mesmo
Me identifico
esporte, futebol" "Fazemos muitas
com esse grupo
coisas juntos: como jogar bola,
porque...
brincamos no celular" "Adoramos ir
pras mesmas festas"
"Me acolheram" " Posso contar com
eles sempre" "Temos objetivos
iguais" "Pensamos muito parecido"
Faço parte desse
"Gosto da companhia desses meus
grupo, pois...
amigos" "fazemos as atividades da
igreja juntos" " passamos a maior
parte do dia juntos"
Gostos iguais
Fazem coisas juntos: jogam bola,
jogos no celular
Afeto
Realizam atividades juntos
FONTE: PESQUISA DE CAMPO
Os grupos de adolescentes estudados revelaram que a formação do grupo constituiu-se
das afinidades entre os membros, as quais eles se identificam, por realizarem diversas
atividades juntos, frequentarem o mesmo espaço e possuírem gostos pelas mesmas coisas,
gerando assim, uma afetividade entre os membros e consequentemente a formação do grupo.
A formação do grupo se constitui acerca de aspectos em comum entre os participantes,
assim como revela Moreno (1932), o grupo se une para um fim comum, ou seja, se
estabelecem diante das questões comuns entre si. Aspectos de interesse entre as pessoas faz
com que elas se unam tornando-se uma característica do grupo. Os adolescentes em questão
evidenciam isso quando relevam serem membros do grupo, pois possuem muitas questões em
comum conforme já foi explicitado anteriormente.
Partindo das ideias trazidas por Michel (2004) podemos entender que a formação de
grupos faz parte da relação do sujeito com o social e é de extrema importância na sua
constituição. O ser humano cria diversas maneiras e jeitos de se relacionar, se sentir
pertencente e de partilhar afetos. O grupo é um espaço o qual possibilita eu ele viva essas
questões. Desse modo, é evidente que formar um grupo é um processo que exige um
investimento dos membros, pois é nele que irá buscar formas de se relacionar. A questão do
pertencimento, das trocas afetivas, de sentirem-se acolhidos, o estar junto, esses são aspectos
relevantes para o processo de contato com o coletivo.
No contexto das práticas coletivas, as atividades de interação vão dando contorno à
identidade grupal e fortalecendo a identificação social de seus membros. É o que se constata
em alguns estudos que discutem a construção de identidades a partir de contextos grupais ou
de arranjos sociais (SOUZA, 2009). É na vivencia com esse grupo, que o sujeito se percebe, é
no sentir, no partilhar os afetos, nessa relação coletiva que ele constrói e transforma a sua e a
identidade do grupo que faz parte. São nos contextos interpessoais e socioinstitucionais
específicos, pela mediação de sugestões sociais ocorridas em diferentes práticas da cultura a
qual se organiza em sistemas semióticos, os quais se expressam, consolidam e modificam no
contexto concreto das práticas sociais e da comunicação intersubjetiva.
b) Percepção dos adolescentes do grupo
No quadro abaixo é possível observar os temas que mais aparecem nos discursos dos
adolescentes com relação as suas percepções no grupo. Evidenciando alguns sentimentos
15
como: proteção, coragem, união, amizade e lealdade. Também gostam das mesmas coisas,
ajudam um ao outro, fazem coisas juntos, dão conselhos, fazem bagunça, dialogam e fofocam.
Tabela 2
Categoria II - Percepção dos adolescentes do Grupo
Perguntas
norteadoras
Verbalização
" Gostamos de futebol" " Temos
um grupo de funk e gostamos de
As características dançar" "vestimos o mesmo estilo
em comum entre de roupa" "Somos da mesma
eu e os membros religião" " temos o mesmo gosto
musical" "tocamos instrumentos"
do meu grupo
são...
"Me sinto protegido, pois tenho
outras pessoas comigo" " Estou
alegre e feliz com meus amigos
"corajoso" "capaz de fazer várias
Quando estou com
coisas" "arrisco mais, pois tenho
os membros deste
eles e sei que estarão comigo”
grupo me sinto...
"engraçado" "Com vontade de
fazer os amigos rirem"
“Pertencente de algum grupo, não
gosto de ser sozinho”
"para jogar futebol" "brincar com
eles" matamos aula juntos" "para
Costumo me
conversar, desabafar sobre meus
reunir com este
problemas"
grupo para...
Estas palavras
definem o meu
grupo...
"união" "amizade" "bagunça"
"fofoca" "conselhos" " ajuda"
"lealdade"
Tema
Gostos pelas mesmas coisas
Protegido (a)
Corajosos (as)
Pertencimento
Fazer coisas juntos
Dialogar
união
amizade
bagunça
fofoca
conselhos
ajuda
lealdade
FONTE: PESQUISA DE CAMPO
O grupo é um sistema de relações sociais, onde ocorrem interações entre os membros
(GALLIANO, 1981). Nesse contexto, o grupo permite que os sujeitos envolvidos vivenciem
diversas experiências, uma deles o sentimento e afeto que se manifestam durante a dinâmica
do grupo.
Por meio das falas apresentadas pelos membros participantes da pesquisa foi possível
confirmar que o grupo exerce um papel muito importante na vida desses sujeitos, pois é por
16
meio desse que eles experimentam e partilham de diversos sentimentos. É através das trocas e
elas representam o grupo.
O grupo é um espaço que possibilita que o sujeito experiência questões fundamentais
de pertencimento, inclusão e afeição. “Se integram ao um grupo pela sensações que esse traz
que não de necessidades fundamentais do sujeito: necessidade de inclusão, necessidade de
controle e necessidade de afeição." (BRAGHIROLLI, 1999: 128).
A questão do pertencimento possibilita ao sujeito sentir-se mais encorajado e
protegido, pois ele faz parte de algo e não está sozinho. A percepção que os adolescentes têm
do grupo é o que esse segundo desperta neles em emoção, são as sensações afetivas que eles
têm, fazendo parte e estando com o grupo. Conforme nos revela González Rey (2003) as
emoções constituem um processo de ativação somática produzida por uma experiência, que
pode ser exterior ao sujeito, corporal, psíquica e, no caso dos seres humanos simbólica.
Além dos sentimentos revelados pelos adolescentes que estava relacionado ao
pertencimento do grupo. É relevante ressaltar que não é apenas o fato de fazer parte, mas a
própria dinâmica interna do grupo que possibilita que o sujeito vivencie outros sentimentos
também. Isso se mostra quando falam da lealdade, união, fofoca, essas são questões que
simbolizam a troca no grupo e que os afetos não estão somente no sentimento para com o
grupo, mas também é vivenciado dentro dele, quando partilham seu problemas, seu gostos
musicais, sua religião entre outras.
Segundo Lacerda (1998), o grupo tem função de definir papéis e ajudar na identidade
social dos integrantes. Os adolescentes esperam quando estão em grupos, que sua participação
lhe promova bem estar, experiência, emoções, satisfações e companheirismo.
c) A relação e fatores intersubjetivos
A partir do filme Vida de inseto (1998) e das ideias que este trás de coletivo, os
participantes manifestaram suas falas fazendo uma ligação entre o filme e suas vivências em
grupo.
Na tabela abaixo podemos verificar algumas falas expressas pelos participantes
relacionadas as sensações, pensamentos e sentimentos verbalizados por eles durante a
atividade III que foram ponto de partida para discussões importantes no que diz respeito a
subjetividade e intersubjetividade vivenciada no grupo.
Tabela 3
Categoria III - A relação e fatores
intersubjetivos
Verbalização
“isso não acontece porque quero copiar o que
ele disse, mas eu também penso assim, ou
comecei a pensar porque ele disse”
"Ah é bem igual esse filme mesmo, quando
estou sozinho não tenho coragem de fazer
algumas coisas que faço quando estou com
meus amigos do grupo"
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"é assim mesmo...quando estamos juntos nos
sentimos mais fortes, mais corajosos"
" na maioria das vezes eu mudo de ideia
quando o meu grupo tem opiniões diferente, e
isso não é só naquela hora, mas me fazem
pensar de outros jeitos que eu não tinha
pensado ainda"
"prefiro tomar uma decisão quando conservei
com meu amigos, porque a opinião e
conselhos deles conta muito no jeito como eu
vou fazer as coisas"
FONTE: PESQUISA DE CAMPO
Baseando-se no que afirma González Rey (2003) que a subjetividade caracterizada no
indivíduo e no social, onde são momentos construídos entre si e um ao outro. Pode-se
considerar que os adolescentes em questão estão construindo por meio da relação com o
grupo sua forma de subjetivar, que é constante, tanto no contato e vivencia com o coletivo,
assim como de outras maneiras socialmente.
A partir do que foi verbalizado pelos participantes da pesquisa, podemos verificar que
os adolescentes expressam seus aspectos subjetivos, onde existe sua opinião individual, mas
que também se constrói diante da resposta do outro, da opinião do grupo. González Rey
(2003) diz que o processo de subjetividade são os momentos que se projetam entre si e se
constroem um ao outro reciprocamente: subjetividade individual e subjetividade social. A
subjetividade é produzida na relação das forças que atravessam o sujeito, no movimento, no
ponto de encontro das práticas de objetivação pelo saber/poder com os modos de
subjetivação: formas de reconhecimento de si mesmo como sujeito da norma, de um preceito,
de uma estética de si.
Neste caso, foi possível compreender que o processo de intersubjetividade que a
experiência em grupo possibilita ao adolescente vivenciar novas formas de pensar e se
relacionar com o mundo. A intersubjetividade está ligada e vivenciada no contato com o outro
ou com outros, membros de um grupo. A afetividade tem um grande papel neste processo de
troca, pois esta é gerador de desenvolvimento dos grupos. Considerando, que a
espontaneidade-criatividade sejam a maior forma de expressão afetiva, esta possibilita a
adaptação, mobilidade e flexibilidade do eu. (MORENO, 1974, p. 144).
O autor Lacerda (1998) ainda expõe que o grupo exerce muita influência sobre o
adolescente, pelo fato de os membros terem gostos em comum. Neste sentido, os adolescentes
quando relatam se sentir mais corajoso, mais forte, além das coisas em comum que se tem e
os fortalece naturalmente, pois já não se é um adolescente e sim vários com os mesmos
objetivos.
O autor Fierro (1995) ressalta que aos valores que o grupo preza, costumam afetar os
aspectos superficiais do adolescente, tais como: forma de vestir, preferências e gostos, o estilo
geral de vida. Assim, podemos confirmar que algumas questões quando são de opinião do
grupo reflete na escolha do adolescente, ou seja, a sua subjetividade se constitui nessa relação
intersubjetiva, nessa busca pelo pertencer, pela não rejeição, pelo desejo de afeto, pela
aprovação do outro. Essas questões são fatores vividos por meio das relações sociais, do
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grupo e que se perpetuam durante todo o ciclo de vida do sujeito. Pois, a vida em sociedade
ela desperta no ser humano desejos e sentimentos que o constituem enquanto sujeito.
A subjetividade se constitui no encontro com o outro, em seus momentos de
intersubjetividade, e a partir da interação do sujeito. É nessa dinâmica que ocorre a
ressignificação de si mesmo, viabilizada nos grupos, assim surgem às possibilidades de
produção da subjetividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a perspectiva histórico-cultural apresentada neste trabalho,
compreendemos que ocorreram grandes saltos no que diz respeito ao sujeito e período da
adolescência, bem como a sua constituição e processo de construção da subjetividade que é
construído socialmente.
O adolescente constroem suas relações uma delas é o seu grupo, que se constitui pela
afinidade, onde encontram no outro algo que seja em comum com eles. O grupo permite que
esses indivíduos experimentem de sentimentos que não necessariamente estão ligados apenas
as questões do grupo, aspectos como sentimento de pertencimento e proteção, mas que não
seria possível sem o contato com o outro.
A construção do sujeito é constante e infinita, o seu processo de subjetivação se dá ao
longo de toda sua vida, mas essa construção ela ocorre juntamente no contato com o mundo e
o que o envolve, assim o grupo que faz parte desse meio exerce um importante papel, pois a
dinâmica que existe dentro dele permite que os sujeitos envolvidos passem pelo processo de
intersubjetividade, o qual é possível construir, criar, trocar e entender novas formar de
subjetivar e se constituir no mundo e com ele.
Essa pesquisa teve grande importância acadêmica, pois existem muitos estudos que
revelam as questões do sujeito voltadas para a dinâmica do grupo, no caso desse estudo
buscou-se o contrário. O que e como as relações sociais (o grupo) colaboram para o processo
de construção do sujeito e sua subjetividade, tornando-se importante e interessante perceber
os fenômenos que permeiam essa construção e relação do ser humano com a sociedade.
Conforme o exposto, esse estudo entende a subjetividade como uma construção
histórica, social e cultural, a qual se assenta na dialética entre sujeito e a sociedade. As
relações sociais assumem um papel imprescindível para apreender esse processo e possibilitar
o entendimento das construções de sentido desses adolescentes.
Mesmo com questões importantes aqui levantadas a necessidade do sujeito de criar
grupos os quais se sintam pertencentes, envolvidos afetivamente e participantes ativos da
dinâmica desse grupo. Faz-se importante pensar em novas pesquisas, tomando essa apenas
como um ponto de partida para outros estudos mais aprofundados, que possam investigar
melhor as relações grupais, pois são por meio delas que os sujeitos se constroem. Nesse
estudo só foi possível analisar uma parte do desenvolvimento do sujeito e acreditando numa
perspectiva sócio-histórica e no vasto e rico potencial que o ser humano tem, torna-se
imprescindível que sejam realizado mais estudos que ajudam a compreender e construir novas
formas de se relacionar e consequentemente se subjetivar.
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