A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO Pró-ReitoriaDA de SUBJETIVIDADE Graduação A CONSTRUÇÃO DE Curso de Psicologia ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM Trabalho de Conclusão O GRUPO de Curso A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO Autor: Cláudia Jeane de Freitas Soares Orientador: Andrea Dias Garzesi Sobrinho Brasília - DF 2013 1 CLÁUDIA JEANE DE FREITAS SOARES A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDÍVIDUO COM O GRUPO Artigo apresentado ao curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título em Psicologia. Orientadora: Profª. Ms. Andrea Dias Garzesi Sobrinho. Brasília Novembro/2013 2 Artigo de autoria de Cláudia Jeane de Freitas Soares, intitulada “A CONTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em 25 de novembro de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ______________________________________________________________________ Profª. Msc. Andrea Dias Garzesi Sobrinho Orientadora Psicologia-UCB _______________________________________________________________________ Profª. Msc Maristela Muniz Gusmão Psicologia-UCB Brasília 2013 3 CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE ADOLESCENTES: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O GRUPO RESUMO Os estudos sobre adolescência são marcados por concepções polissêmicas, perspectiva organicista, naturalizante e universal caracterizada por crises e tormenta, mas na concepção histórico-social, o sujeito é visto numa dialética entre ele e contexto social. O desenvolvimento do ser humano se dá nas inter-relações, as quais também são relações sociais que possibilitam a este ser humano vivenciar seu processo de construção da subjetividade. A subjetividade é um sistema complexo, construída pela dinâmica da sociedade e das pessoas que a constituem. A formação de grupos sociais entre adolescentes se torna um espaço importante que possibilita diversas experiências: o contato com o outro, a troca, entre outros sentimentos, pois é na dinâmica relacional que a subjetividade se constitui. O presente artigo buscará realizar uma análise das relações entre pares na construção da subjetividade dos adolescentes. Investigando e identificando de que forma os grupos se formam e como se dá a interação dos mesmos e de que maneira esta colabora no processo de construção da subjetividade do sujeito. Para isso, este estudo foi realizado com 12 adolescentes do 9°ano do ensino fundamental, utilizou-se a abordagem qualitativa e como instrumento o grupo focal, e na compreensão dos dados, foi realizado a análise do conteúdo. O estudo evidenciou o papel importante que o grupo desempenha no processo de desenvolvimento do sujeito e de sua subjetividade, além da influencia que os pensamentos e opiniões dos membros exercem entre si e consequentemente impacta na maneira de ver e viver o mundo. Palavras-chaves: Adolescente; subjetividade; grupos. CONSTRUCTION OF SUBJECTIVITY OF TEENAGERS: THE RELATIONSHIP OF INDIVIDUAL WITH THE GROUP ABSTRACT Studies of adolescence are marked by polysemous concepts, organismic perspective, naturalizing and characterized by crises and universal storm, but the social-historical conception, the subject is seen in a dialectic between the individual and the social. The development of the subject occurs in the interrelationships which are also social relations that enable the subject to experience the process of construction of subjectivity. Subjectivity is a complex system, built by the dynamics of society and the people who constitute it. The formation of social groups among adolescents becomes an important space that allows various experiences: contact with each other, exchange, among other feelings, this "dynamic" that is being built with the "other" allows the subject to build your subjectivity. This article will seek 4 to conduct an analysis of peer relationships in the construction of subjectivity adolescents. Investigating and identifying how groups form and how is the interaction of these and how this contributes to the construction of individual’s subjectivity. For this reason, this study was conducted with 12 adolescents 9th grade, we used a qualitative approach and how the focus group technique, and understanding of the data was conducted content analysis. The study highlighted the important role the group plays in the development process of the subject and its subjectivity, beyond that influences the thoughts and opinions of members exert on each other and consequently impacts on the way to see and experience the world. Keywords: Adolescents; subjectivity; groups. INTRODUÇÃO O ser humano passa por um processo de desenvolvimento e transformação durante toda sua vida. Porém, na adolescência o indivíduo se depara intensamente com as questões de sua identidade. Assim como destacam Peres e Rosenburg (1998) a "adolescência" é descrita como uma fase do desenvolvimento humano, que corresponde à um período de transição entre a infância e a idade adulta, ocorrendo na segunda década da vida (entre os dez e os vinte anos de idade); caracteriza-se por transformações biológicas, ligadas à puberdade, que transcendem às esferas; psicológica e social em direção à maturidade bio-psico-social; constitui um período "crítico," crucial na vida dos indivíduos, por se tratar de momento de definições de “identidade". Pois, é na adolescência que o ser humano vivência seu processo de separação entre o pertencimento e o não pertencimento, a ruptura de uma infância para a vida adulta. Kalina e Laufer (1974) entendem a adolescência como o segundo grande salto para a vida; o salto em direção a si mesmo, como ser individual. Considera-se que esse sujeito se constitui por meio do seu contato com o mundo e nas relações que o permeiam. Assim, como afirma Morin (1995) o sujeito nunca está só, pois seu desenvolvimento se dá nos interrelacionamentos. O ser humano é um ser em constante transformação e este se desenvolve ao construir sua realidade. Durante seu processo de constituição, a subjetividade é histórica, é um processo de construir conhecimento sobre o sujeito (REY, 2002). Dessa forma, a sociedade e as relações se tornam imprescindíveis para a compreensão da forma de se apresentar do sujeito. A interação social é um fenômeno natural que assume a forma de relação social, e pode ser vivenciada de diversas maneiras, entre uma pessoa e outra, entre uma pessoa e um grupo, entre grupos e outros. Nas relações que se estabelecem os grupos são uma forma a qual os seres humanos têm de se organizar, e é por meio deste que vivenciam a interação social. De acordo com Burnette (2003), o grupo é definido como dois ou mais indivíduos conectados por meio de relações sociais. Nesse sentido, o grupo é visto como uma entidade percebida a partir de fatores como similaridade e proximidade entre membros. Os grupos são organismos vivos, que se desenvolvem, mudam, amadurecem e se dissolvem. Segundo González-Rey (2003), a subjetividade é um sistema complexo e plurideterminado, afetado pelo próprio movimento da sociedade e das pessoas que a constituem, dentro do contínuo movimento das redes de relação que caracterizam o desenvolvimento social. A subjetividade é como um mundo interno do indivíduo, composto 5 por vários sentimentos, pensamentos e conteúdos que são construídos por meio das suas vivências. Deste modo, buscou-se compreender: a partir de quais aspectos os adolescentes constroem os grupos? Qual a relação entre a formação do grupo com a subjetividade dos participantes? O grupo tem influência na construção da subjetividade do indivíduo? Neste sentido, a relevância desta pesquisa contribui para ampliar as discussões no âmbito acadêmico a respeito da construção de grupos e o que os sujeitos vivenciam por meio do coletivo. Além de contribuir com reflexões que transcendem a perspectiva de que os membros que compõem o grupo, os movimenta, mas que o grupo também mobiliza e transforma esse sujeito, contribuindo para o seu processo de subjetivação. O presente trabalho utilizou-se da abordagem qualitativa e como instrumento o grupo focal, pois, segundo Morgan e Krueger (1993), a pesquisa com grupos focais tem por objetivo captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, de um modo que não seria possível com outros métodos, como por exemplo, a entrevista, a observação ou questionários. A pesquisa com grupo focal possibilita emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, pois permite captação de significados. REVISÃO DA LITERATURA 1. Compreensão sobre a adolescência Em meados do Século XVIII, segundo Airés (1981), não existia distinção entre infância e adolescência, independente da idade e menos ainda tocava-se no assunto de puberdade. A criança de certo modo se misturava com os adultos e adolescentes, não possuía diferenciação destes. Ao decorrer dos anos, a criança foi, então, excluída do mundo do trabalho e de responsabilidades; foi separada do adulto, não participando mais de atividades nas quais até então a sua presença era usual (Airés,1986). A distinção entre criança e adulto fez com que a adolescência começasse a ser percebida como um período à parte no desenvolvimento humano. Ao longo do tempo, alguns movimentos sociais como: o movimento hippie, da década de 60, e o juvenil, de 1968, contribuíram para formar um discurso sobre o que é ser adolescente. Na década de 70, o movimento de ampliação da contracultura juvenil continuou se expandindo. Mas a história não para e, na década de 80, acontece uma fragmentação nos movimentos juvenis. Grandes mudanças surgem no plano político. O mesmo acontece no público da juventude brasileira. Assim como descreve Abramo (1994), a adolescência contemporânea foi engendrada a partir de um contexto de crises e contestação social, esse fenômeno facilitou que se plasmasse tal caracterização como a característica própria dos jovens. No Século XIX por meio da escolarização e do trabalho, a adolescência começa a ser reconhecida, pois ocorre o afastamento progressivo da criança em relação ao mundo do trabalho. “Daí em diante, a adolescência se expandiria, empurrando a infância para trás e a maturidade para frente” (AIRÉS, 1981, p.47). A adolescência fora se consolidando como uma fase da vida, apresentando-se de diversas formas, a depender de seus fatores de ordem histórica, cultural e social, que colaboraram para um olhar diferenciado da vivência da adolescência. Considerando a construção histórica e social do conceito de adolescência, pode-se dizer que esta é a fase de transição relacionada à passagem da infância para a vida adulta na 6 sociedade ocidental moderna. “(...) a conexão entre o ato de pensar e as situações não mecânicas. Em lugar disso, os indivíduos determinam posturas diante de certas situações com referência nas práticas culturais de que participaram anteriormente.” (ROGOFF, 2005, p. 211). O período da adolescência depende de uma inserção histórica e cultural, que determina, portanto, variadas formas de viver a adolescência, de acordo com o gênero, o grupo social e a geração. A abordagem sócio-histórica não nega a existência da adolescência enquanto um conceito importante para a Psicologia. Entretanto não a considera como uma fase natural do desenvolvimento, mas sim como uma criação histórica da humanidade. Um fato que passou a fazer parte da cultura enquanto significado, isto é, um momento interpretado e construído pelos homens, um período constituído historicamente. (OZELLA, 2003, p.9). Para McAdams (1996) antes da adolescência, a criança refere-se a si em termos de traços, atributos, papéis, relações, preferências e outros elementos de diferenciação. Ela só desenvolve uma identidade quando é capaz de integrar esses elementos sincronicamente (isto é, de reunir a gama de papéis e relações vividas no presente) isto só ocorre ao longo do tempo, pois deve haver uma configuração que lhe forneça algum sentido de unidade e de propósito. O modelo dessa configuração é a história autobiográfica que só emerge mais tardiamente no desenvolvimento, continuando nos anos de maturidade e velhice. Essas histórias são construídas pela pessoa em conjunto com o contexto cultural em que está imersa, refletindo valores e normas socialmente compartilhados. No processo de desenvolvimento psicológico do ser humano, a construção da identidade e subjetividade são questões vitais desse período, que se constroem por meio dos vínculos que são criados com o mundo e se estende por todo o ciclo de vida. A visão apresentada por González Rey, (2003, 2004) é que a subjetividade se reorganiza interna e externamente na relação com o outro e com a cultura. O contexto cultural tem o papel de regular as condições sociais de constituição do senso de si. Assim, a história de vida do ser humano, embora seja singular, não é um processo interior independente da sociedade, pois o social constitui o subjetivo. Conforme Lerner e Castellino (2002), as práticas socioculturais medeiam a formação da autoimagem e das significações acerca de si. A integração dinâmica desses aspectos resulta numa subjetividade de natureza plural (HERMANS 2001; OLIVEIRA, 2003). 2. O processo de construção da subjetividade do sujeito Como já exposto, a adolescência é considerada atualmente como um período significativo no desenvolvimento do sujeito, por ocorrerem mudanças importantes no desenvolvimento psíquico, como os pensamentos abstratos, a formação de conceitos, valores, entre outras questões que colaboram para a constituição da identidade desse indivíduo. Considerando que o ser humano constitui-se de modo a produzir sua subjetividade. De acordo com Gonzalez Rey (2003), a subjetividade pode ser definida, "como a organização dos processos de sentido e significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis do sujeito e na personalidade, assim como nos diferentes espaços sociais em que o sujeito atua" (REY, 2003, p.108). O sujeito representa um momento de subjetivação dentro dos espaços sociais em que atua e, simultaneamente, é constituído dentro desses 7 espaços na própria processualidade que caracteriza sua ação dentro deles, a qual está sempre comprometida direta ou indiretamente com inúmeros sistemas de relação. Para Furtado (2001), na perspectiva da Psicologia Sócio histórica, a subjetividade é definida como sendo um campo construído socialmente, que se expressa, porém, no plano individual, das crenças, valores e comportamentos individuais. O autor afirma que a “expressão psíquica humana suplanta o arcabouço biológico do indivíduo e passa a constituir um campo que chamamos de subjetividade” (FURTADO, 2001, p. 75). Os elementos básicos que constituem o psiquismo - os afetos, os desejos, as emoções e a vontade, eram vistos como independentes da sociedade e inerentes ao eu. Os estudos buscavam identificar e determinar os elementos integrantes do psiquismo que ocorriam internamente. Postulava-se a busca do indivíduo subjetivista no qual se podia detectar uma essência humana. A identidade era vista como uma característica do indivíduo, como uma manifestação da sua subjetividade (FIGUEREDO, 1989). O fato social era percebido como exterior a ele (DURKHEIM, 1970). A relação indivíduo e sociedade é vista como uma interação entre elementos separados. Muitas vezes o indivíduo é caracterizado como uma mera reprodução da sociedade, e, às vezes, como independente dela, como se existisse um paralelismo entre eles. A subjetividade, porém, é construída na organização social e cultural na qual os indivíduos estão inseridos, mesmo que nem sempre tenha sido entendido dessa forma, pois o privado era percebido como subjetivo, no sentido de independente da sociedade. Numa perspectiva mais contemporânea, a subjetividade é tomada como objeto construído pelo conhecimento e também como campo de experiências do sujeito não implica naturalmente nem necessariamente interioridade, substância ou permanência. A subjetividade é construída nas circunstâncias históricas, culturais e sociais nas quais o indivíduo está inserido e também pelas experiências particulares que ele vivencia no interior dessa cultura. A singularidade, aquilo que distingue os homens entre si, é determinada concretamente (FERNÁNDEZ.V & TORREGROSA 1984; BERGER & LUCKMANN, 2002). González Rey (2003) define subjetividade como os processos e formas de organização subjetiva dos sujeitos concretos que representam a história única de cada indivíduo dentro de uma cultura. Ele compreende que a subjetividade humana caracteriza-se no individual e no social. Estes são momentos que se projetam entre si e se constroem um ao outro reciprocamente: subjetividade individual e subjetividade social. Para Bakhtin (2008) é somente através do outro, revelando-se ao outro e com apoio do outro que o sujeito toma consciência e torna-se si mesmo. A construção do “eu” é um processo coletivo, os “eus” são autores uns dos outros. Observamos que, ao falar de autoconsciência não se refere ao que ocorre “dentro” do indivíduo, pois o próprio interior está na fronteira, voltado para fora. É no limiar que as consciências se encontram, dialogam, divergem, constroem-se, revelam-se. “O próprio ser do sujeito (tanto interno quanto externo) é convívio mais profundo. Ser significa conviver” (BAKHTIN, 2008, p. 322). Assim, o ser humano não tem um território interior soberano, não é autossuficiente, não existe apenas numa consciência. A partir dessa perspectiva, entende-se que o sujeito possui diversas maneiras diferentes de subjetivar no decorrer de sua vida, momentos em que o ele pode fixar, manter ou transformar sua identidade (FOCAULT, 1997). A subjetividade só pode ser compreendida como produto das relações e mediações sociais. 8 3.0 A relação do adolescente com os grupos sociais A psicologia social compreende que são os laços sociais que nos tornam humanos. E os grupos sociais são um jeito peculiar do sujeito se relacionar. Os laços sociais permitem que os membros do grupo orientem-se, comuniquem-se, e adaptem-se uns aos outros. Para Michel (2004), o social é o que liga os indivíduos, tornando-os por isso companheiros, aliados, associados. O social é uma unidade nova, uma referência estruturante é o que partilham e reconhecem em comum que tornam os indivíduos membros da unidade criada (grupo, coletivo, sociedade). É também o que os atravessa. O sentimento de pertencimento corresponde aí ao nível afetivo e, poder-se-ia dizer, é seu primeiro traço psicológico. Faz com que os membros do grupo digam “nós”. O grupo aspira à unidade designada pelo “nós” (MICHEL, 2004). Ao mesmo tempo, cada indivíduo que participa do grupo permanece, quanto tal, sujeito autônomo e organicamente definido. Os atores sociais, membros do grupo, não deixam de ser pessoas singulares. Na Psicologia, o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais, busca compreender a dinâmica dos mesmos. A vivência dentro de um grupo cria várias possibilidades de subjetivação para cada sujeito que a experiência. Pensar o grupo como espaço social de subjetivação requer compreender a complexidade que envolve o fenômeno, pois este é concomitantemente histórico, cultural, social, individual, coletivo e emocional. As características dos grupos são características da subjetividade social do momento, composta por diversas questões que constituem a produção das relações sociais. A subjetividade é produzida na contínua interação dos espaços sociais e individuais. Se tratando da constituição subjetiva de sujeitos membros de um grupo e considerando o desenvolvimento humano como processual, entende-se que o contexto vivido integra a confrontação entre o mundo psíquico do sujeito e as novas demandas sociais, assim gerando, em diferentes momentos, novas qualidades no processo de desenvolvimento. Segundo Guareschi (1996, p. 89) um grupo se constitui por suas relações reveladas na “vida social”, sendo esta vida construída nas e pelas relações e “as relações podem ser diferentes, até mesmo contraditórias, dependendo do momento”. Podemos pensar, então, o grupo como um lugar de subjetividades engendradas na complexidade das redes relacionais em que os processos sociais, culturais, ideológicos e históricos se interpenetram na “vida” particular e coletiva. Atualmente, a sociedade delineia a expressividade dos seres humanos por meio da relação de pertença a um grupo. A sociedade, de acordo com González Rey (2004, p. 29) “atua mediante múltiplos mecanismos e relacionamentos que têm uma expressão formal em órgãos, sistemas de leis, mas têm uma representação informal, no sentido subjetivo que todo esse sistema possui para os diferentes sujeitos, grupos e classes sociais que integram a sociedade”. A família, a escola e os grupos sociais podem ser entendidas como espaços em que a situação social de desenvolvimento acontece. Esses espaços de expressão permitem a constituição de subjetividade, são produtores de novos sentidos e significados que se agregam, transformando o desenvolvimento individual e social de maneira permanente e integrada. O grupo exerce uma função sobre as pessoas, ele é um espaço que sujeito pode vivenciar questões fundamentais como; pertencimento, inclusão e afeição, "as pessoas não se integrarão em um grupo se ele não trouxer a satisfação de certas necessidades fundamentais que são: necessidade de inclusão, necessidade de controle e necessidade de afeição." (BRAGHIROLLI, 1999: 128). Deste modo, os grupos possibilitam ao sujeito experiênciar 9 sensações que são importantes e fazem parte do processo de desenvolvimento do ser humano, principalmente no período da adolescência no que diz respeito a suas questões de identidade, pertencente, entre outras sensações. O grupo promove o contato entre diferentes sujeitos, possibilita novos movimentos e experiências a partir do encontro com o outro. Ao promover construções coletivas, ele permite que os sujeitos se diferenciem diante das novas produções. Nesse sentido, o grupo parte tanto da pluralidade de sujeitos que o compõem quanto produz pluralidade, à medida que os sujeitos singularizam/subjetivam o que no grupo se desenrola. Segundo Silva (2006), sujeito coletivo é um grupo de pessoas que possui uma identidade comum, um juízo comum sobre a realidade e reconhece-se participante do mesmo “nós-ético”, ou seja, percebe-se fazendo parte de uma mesma realidade comportamental, que é, por assim dizer, extensão de suas próprias pessoas. O grupo procura viver em comum-unidade, não necessariamente sob a mesma determinação geográfica. O que o unifica é, principalmente, o juízo comum sobre a realidade (p. 94). Considerando que o grupo é um meio de relação do sujeito e que se constrói pela pluralidade dele, mas que se constitui também de sua singularidade podemos compreender que consequentemente na dinâmica do coletivo ocorre também o processo de subjetivação. Essa diversidade de sujeitos implica uma multiplicidade de formas de existência, modos históricos de ser, formas de subjetividade entre outras. Somente a subjetividade contempla, coordena e conhece estas diversas facetas que compõem o indivíduo. Revela Câmara (1997) que hoje em dia não restam dúvidas que a vida em sociedade é própria da natureza humana, sendo impossível compreender o ser humano sem considerar o papel que os grupos têm na vida das pessoas. Dessa maneira a vida social vai definindo seus tênues contornos por meio do relacionamento com o outro, os adolescentes delimitam seus espaço sociais. Os diversos agrupamentos de jovens possibilitam a formação identitária, uma nova via de expressão, um modo de intensificar suas vivências pessoais e encontrar um núcleo gratificante para expressão da afetividade gerada em várias instâncias da vida. DELINEAMENTO METODOLÓGICO Ao realizar uma pesquisa, deve-se pensar sobre o meio adequado para coletar dados e responder aos objetivos e hipóteses. A metodologia consiste em definir o método de pesquisa, os cuidados éticos e delimitar quais serão os passos realizados durante os procedimentos de análise de dados, pesquisa documental e empírica. Desta forma, a metodologia de pesquisa constitui-se como etapa fundamental para organização e planejamento das ideias e métodos. Nessa direção e visando alcançar os objetivos delimitados, optou-se por adotar a pesquisa qualitativa, pois esta permitiu descrever a complexidade dos conteúdos observados e vivenciados pelos participantes dos grupos, analisando a interação dos membros, as variáveis apresentadas, compreendendo e classificando processos dinâmicos observados por meio dos grupos sociais, e possibilitando mais profundamente o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos participantes da pesquisa (RICHARDSON, 1989). A fim de aprofundar as reflexões e análises sobre questões essenciais para a compreensão da temática abordada no presente trabalho, foram realizadas pesquisas sobre as temáticas: Natureza Social, Subjetividade, Grupos Sociais, Adolescência e questões Sócio 10 Históricas. Assim, esse método se adequa aos objetivos gerais e específicos do tema em questão, garantindo que se possa compreender melhor os fenômenos que ocorrem na dinâmica grupal que esteja relacionada à constituição da subjetividade do sujeito PARTICIPANTES O estudo foi realizado com 12 adolescentes, sendo 5 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idades entre 14 e 17 anos em uma escola de Ensino fundamental de Taguatinga- DF, a amostra foi obtida randomicamente, por meio da seleção de quatro números aleatórios do diário de classe do professor, esses números se referiam aos alunos e cada um desses escolheu mais dois colegas de sua sala para comporem o grupo, afinal, como o presente artigo tem por objetivo analisar as interações grupais torna-se indispensável o convite de membros do mesmo grupo para tornar-se possível as discussões aqui propostas. LOCAL DA PESQUISA A Pesquisa foi realizada em uma Escola do Ensino Fundamental de Taguatinga - DF, que possui 700 alunos distribuídos entre as 20 turmas que vão do 5° ao 9° ano do ensino fundamental. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS Com o intuito de conhecer os termos, a origem dos nomes dos grupos e como estes se relacionam com foco na construção da subjetividade, a coleta de dados foi realizada por meio do grupo focal. Segundo Gatti (2005), o grupo focal permite compreender processos de construção da realidade, favorecido pelo discurso, pois possibilita uma análise mais apurada do fenômeno em questão. Além disso, para o alcance dos demais objetivos, pediu-se para que cada aluno trouxesse dois outros colegas que fazem parte de algum de seus grupos sociais, pois este vínculo foi de suma importância para execução e análise das atividades. Propôs-se a realização de atividades práticas que tem como foco a observação dos comportamentos explícitos apresentados pelos membros e da própria fala verbal. O grupo focal pode ser utilizado no entendimento das diferentes percepções e atitudes acerca de um fato, prática, produto ou serviço observação participante. Cabe ressaltar a diferença entre GF e entrevista em grupo. Esta diferença está na interação do grupo. No GF, o pesquisador está envolvido na determinação e manutenção do tópico de discussão. Nas entrevistas em grupo, o pesquisador observa a espontaneidade com que os tópicos são discutidos, sem interferência. O GF possui uma estrutura organizada que pode incluir diferentes variações e uma identidade distinta, embora ocupe uma posição intermediária entre observação participante e entrevista semi-aberta (MORGAN, 1997). A essência do grupo focal consiste justamente na interação entre os participantes e o pesquisador, que objetiva colher o máximo de informações a partir da discussão focada em tópicos específicos e diretivos (por isso é chamado grupo focal). 11 • Organização e análise do material Foram realizados três encontros com atividades em grupo, cada encontro teve um tempo médio de 1 hora 30 minutos. O primeiro e segundo encontros tiveram o mesmo formato para coleta de dados, onde os participantes responderam e discutiram entre eles as questões apresentadas. Já no terceiro encontro, foi transmitido um vídeo para que eles fizessem suas próprias considerações. Estes encontros tiveram como foco investigar de modo mais imparcial possível os aspectos atrelados aos objetivos gerais e específicos valorizando o discurso e analisando a interação dos grupos durante o processo. Atividades 1° Encontro Objetivo: A construção da formação do grupo. Por meio de apresentação em Power Point, foram dadas instruções aos adolescentes sobre a atividade que dividiram-se em três momentos: Primeiro momento - Os adolescentes responderam individualmente as quatro questões do Formulário que receberam. Duração: 30 minutos. Questões Sou membro deste grupo, pois... Me identifico com esse grupo, porque... Faço parte deste grupo, pois... Entrei, ou formei este grupo, porque... (Figura I) – Questões do primeiro encontro com adolescentes Segundo momento - Após todos responderem, foram divididos em sub-grupos de três adolescentes, composto pelos adolescentes que tiveram o número do seu diário sorteado e dos dois colegas que escolheram. Discutiram entre si e escreveram o que o grupo achava pertinente para a questão. Após concluir elegeram relatores (pessoa que falou para os demais sub-grupos quais foram as respostas). Duração: 30 minutos. Terceiro momento - Os relatores dos grupos falaram para os demais sub-grupos o que foi respondido por seus respectivos grupos. O grupo grande discutiu e entraram num consenso para eleger as respostas que acreditavam ser mais pertinente. Duração: 30 minutos. 2° Encontro Objetivo: Analisar a maneira como os adolescentes se percebem no grupo e como se caracterizam em relação aos nomes de seus respectivos grupos; Por meio de apresentação em Power Point, foram dadas instruções aos adolescentes sobre a atividade que dividiram-se em três momentos: 12 Primeiro momento - Os adolescentes responderam individualmente as quatro questões do Formulário que receberam. Duração: 30 minutos. Questões As características em comum entre eu e os membros do meu grupo são... Quando estou com os membros deste grupo me sinto... Costumo me reunir com este grupo para... Estas palavras definem o meu grupo... (Figura II) Questões do segundo encontro com adolescentes. Segundo momento - Após todos responderem, foram divididos em sub-grupos de três adolescentes, composto pelos adolescentes que tiveram o número do seu diário sorteado e dos dois colegas que escolheram. Discutiram entre si e escreveram o que o grupo achava pertinente para a questão. Após concluir elegeram relatores (pessoa que falou para os demais sub-grupos quais foram as respostas). Duração: 30 minutos. Terceiro momento - Os relatores dos grupos falaram para os demais sub-grupos o que foi respondido por seus respectivos grupos. O grupo grande discutiu e entraram num consenso para eleger as respostas que acreditavam ser mais pertinente. Duração: 30 minutos. 3°Atividade: Objetivo: Interações dos grupos e interferência deste na construção da subjetividade do sujeito. Foi transmitido para os adolescentes duas cenas do Filme: Vida de Inseto; 1998 com a duração de 4 minutos e 2 segundos as duas editadas. As quais mostravam a questão do coletivo, a organização do grupo de formigas e gafanhotos. Primeiro momento - Os adolescentes assistiram ao filme e ao término pediu-se que cada um falasse o que havia achado das cenas assistidas. Duração: 30 miutos. Segundo momento – Foi discutido em grupo todos os aspectos observados no filme. Duração: 40 minutos. PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS Conforme revela Bardin (1979) existem três etapas fundamentais no processo de análise dos dados: a) pré-análise; b) exploração do material; c) tratamento dos resultados obtidos e interpretações. Desse modo, a primeira etapa consistiu na organização das anotações que ocorreram durante o grupo focal e a transcrição das filmagens. A exploração do material que é a segunda etapa teve inicio com a leitura flutuante caminhando para a escolha das 13 unidades e classificação que é o processo de agregação para escolha das categorias (sistemas de codificação). “A categorização é uma operação de classificação de elementos constituídos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento (analogia) com os critérios previamente definidos.” (BARDIN, 1979, p. 117). RESULTADOS E DISCUSSÃO As categorias definidas nesta pesquisa foram estruturadas baseadas nas perguntas norteadoras dos encontros, que tiveram como finalidade promover discussões que possibilitassem o alcance dos objetivos específicos. Deste modo, as categorias pré-definidas são: a) Processo de Formação do Grupo; b) Percepção dos adolescentes do Grupo; c) A relação do grupo e fatores intersubjetivos. a) Processo de Formação do Grupo No processo de análise, pôde-se observar no discurso dos participantes que os temas mais evidentes no que diz respeito ao processo de formação do grupo dá-se por questões atreladas à afinidade, afetividade e os gostos em comum que existem em comum entre os membros, além da amizade desde a infância, por realizarem as mesmas atividades, afinidade frequentarem os mesmos lugares e gostarem das mesmas coisas. Segundo quadro abaixo: Tabela 1 Categoria I - Processo de Formação do Grupo Perguntas norteadoras Verbalização " Formamos o grupo pela afinidade, de brigar(..)" "Fazemos as mesmas coisas: jogar bola, queimada, jogar Entrei, ou no celular". " Porque temos muitas formei esse coisas em comum" "Somos grupo, porque.. parecidos, temos afinidade, porque somos legais, engraçados e humildes" Sou membro deste grupo, pois... " Frequentamos a mesma igreja" "Nos tornamos amigos de muitos anos" '' Nos conhecemos desde pequenos e somos da mesma igreja" "Somos amigos desde pequenos e até hoje temos afinidades" "Somos amigos de infância" "me identifico com essas pessoas, porque estão sempre ao meu lado em vários momentos" "Gostamos de sentar no mesmo lugar na sala" 14 Temas Formação Gostos em Comum Afinidade Amizade de infância Frequentam o mesmo lugar "Gostamos do mesmo estilo musical" "Praticamos o mesmo Me identifico esporte, futebol" "Fazemos muitas com esse grupo coisas juntos: como jogar bola, porque... brincamos no celular" "Adoramos ir pras mesmas festas" "Me acolheram" " Posso contar com eles sempre" "Temos objetivos iguais" "Pensamos muito parecido" Faço parte desse "Gosto da companhia desses meus grupo, pois... amigos" "fazemos as atividades da igreja juntos" " passamos a maior parte do dia juntos" Gostos iguais Fazem coisas juntos: jogam bola, jogos no celular Afeto Realizam atividades juntos FONTE: PESQUISA DE CAMPO Os grupos de adolescentes estudados revelaram que a formação do grupo constituiu-se das afinidades entre os membros, as quais eles se identificam, por realizarem diversas atividades juntos, frequentarem o mesmo espaço e possuírem gostos pelas mesmas coisas, gerando assim, uma afetividade entre os membros e consequentemente a formação do grupo. A formação do grupo se constitui acerca de aspectos em comum entre os participantes, assim como revela Moreno (1932), o grupo se une para um fim comum, ou seja, se estabelecem diante das questões comuns entre si. Aspectos de interesse entre as pessoas faz com que elas se unam tornando-se uma característica do grupo. Os adolescentes em questão evidenciam isso quando relevam serem membros do grupo, pois possuem muitas questões em comum conforme já foi explicitado anteriormente. Partindo das ideias trazidas por Michel (2004) podemos entender que a formação de grupos faz parte da relação do sujeito com o social e é de extrema importância na sua constituição. O ser humano cria diversas maneiras e jeitos de se relacionar, se sentir pertencente e de partilhar afetos. O grupo é um espaço o qual possibilita eu ele viva essas questões. Desse modo, é evidente que formar um grupo é um processo que exige um investimento dos membros, pois é nele que irá buscar formas de se relacionar. A questão do pertencimento, das trocas afetivas, de sentirem-se acolhidos, o estar junto, esses são aspectos relevantes para o processo de contato com o coletivo. No contexto das práticas coletivas, as atividades de interação vão dando contorno à identidade grupal e fortalecendo a identificação social de seus membros. É o que se constata em alguns estudos que discutem a construção de identidades a partir de contextos grupais ou de arranjos sociais (SOUZA, 2009). É na vivencia com esse grupo, que o sujeito se percebe, é no sentir, no partilhar os afetos, nessa relação coletiva que ele constrói e transforma a sua e a identidade do grupo que faz parte. São nos contextos interpessoais e socioinstitucionais específicos, pela mediação de sugestões sociais ocorridas em diferentes práticas da cultura a qual se organiza em sistemas semióticos, os quais se expressam, consolidam e modificam no contexto concreto das práticas sociais e da comunicação intersubjetiva. b) Percepção dos adolescentes do grupo No quadro abaixo é possível observar os temas que mais aparecem nos discursos dos adolescentes com relação as suas percepções no grupo. Evidenciando alguns sentimentos 15 como: proteção, coragem, união, amizade e lealdade. Também gostam das mesmas coisas, ajudam um ao outro, fazem coisas juntos, dão conselhos, fazem bagunça, dialogam e fofocam. Tabela 2 Categoria II - Percepção dos adolescentes do Grupo Perguntas norteadoras Verbalização " Gostamos de futebol" " Temos um grupo de funk e gostamos de As características dançar" "vestimos o mesmo estilo em comum entre de roupa" "Somos da mesma eu e os membros religião" " temos o mesmo gosto musical" "tocamos instrumentos" do meu grupo são... "Me sinto protegido, pois tenho outras pessoas comigo" " Estou alegre e feliz com meus amigos "corajoso" "capaz de fazer várias Quando estou com coisas" "arrisco mais, pois tenho os membros deste eles e sei que estarão comigo” grupo me sinto... "engraçado" "Com vontade de fazer os amigos rirem" “Pertencente de algum grupo, não gosto de ser sozinho” "para jogar futebol" "brincar com eles" matamos aula juntos" "para Costumo me conversar, desabafar sobre meus reunir com este problemas" grupo para... Estas palavras definem o meu grupo... "união" "amizade" "bagunça" "fofoca" "conselhos" " ajuda" "lealdade" Tema Gostos pelas mesmas coisas Protegido (a) Corajosos (as) Pertencimento Fazer coisas juntos Dialogar união amizade bagunça fofoca conselhos ajuda lealdade FONTE: PESQUISA DE CAMPO O grupo é um sistema de relações sociais, onde ocorrem interações entre os membros (GALLIANO, 1981). Nesse contexto, o grupo permite que os sujeitos envolvidos vivenciem diversas experiências, uma deles o sentimento e afeto que se manifestam durante a dinâmica do grupo. Por meio das falas apresentadas pelos membros participantes da pesquisa foi possível confirmar que o grupo exerce um papel muito importante na vida desses sujeitos, pois é por 16 meio desse que eles experimentam e partilham de diversos sentimentos. É através das trocas e elas representam o grupo. O grupo é um espaço que possibilita que o sujeito experiência questões fundamentais de pertencimento, inclusão e afeição. “Se integram ao um grupo pela sensações que esse traz que não de necessidades fundamentais do sujeito: necessidade de inclusão, necessidade de controle e necessidade de afeição." (BRAGHIROLLI, 1999: 128). A questão do pertencimento possibilita ao sujeito sentir-se mais encorajado e protegido, pois ele faz parte de algo e não está sozinho. A percepção que os adolescentes têm do grupo é o que esse segundo desperta neles em emoção, são as sensações afetivas que eles têm, fazendo parte e estando com o grupo. Conforme nos revela González Rey (2003) as emoções constituem um processo de ativação somática produzida por uma experiência, que pode ser exterior ao sujeito, corporal, psíquica e, no caso dos seres humanos simbólica. Além dos sentimentos revelados pelos adolescentes que estava relacionado ao pertencimento do grupo. É relevante ressaltar que não é apenas o fato de fazer parte, mas a própria dinâmica interna do grupo que possibilita que o sujeito vivencie outros sentimentos também. Isso se mostra quando falam da lealdade, união, fofoca, essas são questões que simbolizam a troca no grupo e que os afetos não estão somente no sentimento para com o grupo, mas também é vivenciado dentro dele, quando partilham seu problemas, seu gostos musicais, sua religião entre outras. Segundo Lacerda (1998), o grupo tem função de definir papéis e ajudar na identidade social dos integrantes. Os adolescentes esperam quando estão em grupos, que sua participação lhe promova bem estar, experiência, emoções, satisfações e companheirismo. c) A relação e fatores intersubjetivos A partir do filme Vida de inseto (1998) e das ideias que este trás de coletivo, os participantes manifestaram suas falas fazendo uma ligação entre o filme e suas vivências em grupo. Na tabela abaixo podemos verificar algumas falas expressas pelos participantes relacionadas as sensações, pensamentos e sentimentos verbalizados por eles durante a atividade III que foram ponto de partida para discussões importantes no que diz respeito a subjetividade e intersubjetividade vivenciada no grupo. Tabela 3 Categoria III - A relação e fatores intersubjetivos Verbalização “isso não acontece porque quero copiar o que ele disse, mas eu também penso assim, ou comecei a pensar porque ele disse” "Ah é bem igual esse filme mesmo, quando estou sozinho não tenho coragem de fazer algumas coisas que faço quando estou com meus amigos do grupo" 17 "é assim mesmo...quando estamos juntos nos sentimos mais fortes, mais corajosos" " na maioria das vezes eu mudo de ideia quando o meu grupo tem opiniões diferente, e isso não é só naquela hora, mas me fazem pensar de outros jeitos que eu não tinha pensado ainda" "prefiro tomar uma decisão quando conservei com meu amigos, porque a opinião e conselhos deles conta muito no jeito como eu vou fazer as coisas" FONTE: PESQUISA DE CAMPO Baseando-se no que afirma González Rey (2003) que a subjetividade caracterizada no indivíduo e no social, onde são momentos construídos entre si e um ao outro. Pode-se considerar que os adolescentes em questão estão construindo por meio da relação com o grupo sua forma de subjetivar, que é constante, tanto no contato e vivencia com o coletivo, assim como de outras maneiras socialmente. A partir do que foi verbalizado pelos participantes da pesquisa, podemos verificar que os adolescentes expressam seus aspectos subjetivos, onde existe sua opinião individual, mas que também se constrói diante da resposta do outro, da opinião do grupo. González Rey (2003) diz que o processo de subjetividade são os momentos que se projetam entre si e se constroem um ao outro reciprocamente: subjetividade individual e subjetividade social. A subjetividade é produzida na relação das forças que atravessam o sujeito, no movimento, no ponto de encontro das práticas de objetivação pelo saber/poder com os modos de subjetivação: formas de reconhecimento de si mesmo como sujeito da norma, de um preceito, de uma estética de si. Neste caso, foi possível compreender que o processo de intersubjetividade que a experiência em grupo possibilita ao adolescente vivenciar novas formas de pensar e se relacionar com o mundo. A intersubjetividade está ligada e vivenciada no contato com o outro ou com outros, membros de um grupo. A afetividade tem um grande papel neste processo de troca, pois esta é gerador de desenvolvimento dos grupos. Considerando, que a espontaneidade-criatividade sejam a maior forma de expressão afetiva, esta possibilita a adaptação, mobilidade e flexibilidade do eu. (MORENO, 1974, p. 144). O autor Lacerda (1998) ainda expõe que o grupo exerce muita influência sobre o adolescente, pelo fato de os membros terem gostos em comum. Neste sentido, os adolescentes quando relatam se sentir mais corajoso, mais forte, além das coisas em comum que se tem e os fortalece naturalmente, pois já não se é um adolescente e sim vários com os mesmos objetivos. O autor Fierro (1995) ressalta que aos valores que o grupo preza, costumam afetar os aspectos superficiais do adolescente, tais como: forma de vestir, preferências e gostos, o estilo geral de vida. Assim, podemos confirmar que algumas questões quando são de opinião do grupo reflete na escolha do adolescente, ou seja, a sua subjetividade se constitui nessa relação intersubjetiva, nessa busca pelo pertencer, pela não rejeição, pelo desejo de afeto, pela aprovação do outro. Essas questões são fatores vividos por meio das relações sociais, do 18 grupo e que se perpetuam durante todo o ciclo de vida do sujeito. Pois, a vida em sociedade ela desperta no ser humano desejos e sentimentos que o constituem enquanto sujeito. A subjetividade se constitui no encontro com o outro, em seus momentos de intersubjetividade, e a partir da interação do sujeito. É nessa dinâmica que ocorre a ressignificação de si mesmo, viabilizada nos grupos, assim surgem às possibilidades de produção da subjetividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a perspectiva histórico-cultural apresentada neste trabalho, compreendemos que ocorreram grandes saltos no que diz respeito ao sujeito e período da adolescência, bem como a sua constituição e processo de construção da subjetividade que é construído socialmente. O adolescente constroem suas relações uma delas é o seu grupo, que se constitui pela afinidade, onde encontram no outro algo que seja em comum com eles. O grupo permite que esses indivíduos experimentem de sentimentos que não necessariamente estão ligados apenas as questões do grupo, aspectos como sentimento de pertencimento e proteção, mas que não seria possível sem o contato com o outro. A construção do sujeito é constante e infinita, o seu processo de subjetivação se dá ao longo de toda sua vida, mas essa construção ela ocorre juntamente no contato com o mundo e o que o envolve, assim o grupo que faz parte desse meio exerce um importante papel, pois a dinâmica que existe dentro dele permite que os sujeitos envolvidos passem pelo processo de intersubjetividade, o qual é possível construir, criar, trocar e entender novas formar de subjetivar e se constituir no mundo e com ele. Essa pesquisa teve grande importância acadêmica, pois existem muitos estudos que revelam as questões do sujeito voltadas para a dinâmica do grupo, no caso desse estudo buscou-se o contrário. O que e como as relações sociais (o grupo) colaboram para o processo de construção do sujeito e sua subjetividade, tornando-se importante e interessante perceber os fenômenos que permeiam essa construção e relação do ser humano com a sociedade. Conforme o exposto, esse estudo entende a subjetividade como uma construção histórica, social e cultural, a qual se assenta na dialética entre sujeito e a sociedade. As relações sociais assumem um papel imprescindível para apreender esse processo e possibilitar o entendimento das construções de sentido desses adolescentes. Mesmo com questões importantes aqui levantadas a necessidade do sujeito de criar grupos os quais se sintam pertencentes, envolvidos afetivamente e participantes ativos da dinâmica desse grupo. Faz-se importante pensar em novas pesquisas, tomando essa apenas como um ponto de partida para outros estudos mais aprofundados, que possam investigar melhor as relações grupais, pois são por meio delas que os sujeitos se constroem. Nesse estudo só foi possível analisar uma parte do desenvolvimento do sujeito e acreditando numa perspectiva sócio-histórica e no vasto e rico potencial que o ser humano tem, torna-se imprescindível que sejam realizado mais estudos que ajudam a compreender e construir novas formas de se relacionar e consequentemente se subjetivar. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, H.W. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta. 1994. ARIÈS, P. História social da criança e da família (2ª ed.). Rio de Janeiro: LTC. 1981. ARIÉS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ganabara. 1986. BAKHTIN, M.M. Criação de uma Prosaística. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: USP, 2008. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução: Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1979. BERGER, P, & LUCKMANN, T. A. A construção social da realidade. Tratado de sociologia do conhecimento. Rio de Janeiro: Vozes. 2002. 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