UNIVERSIDADE FEDERALDE GOIÁS CAMPUS JATAÍ TCCG – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA ULTRA-SONOGRAFIA NA REPRODUÇÃO DA FÊMEA BOVINA Orientadora: Profa. Dra. Carla Afonso da Silva Bitencourt Braga Supervisor: Médico Veterinário Rodrigo Mendes Untura JATAÍ 2007 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (GPT/BC/UFG) Souza, Fabiano Rodrigues de. S729u Ultra-sonografia na reprodução da fêmea bovina / Fabiano Rodrigues de Souza. – 2007. xii,40 f. : il., figs., tabs., qds. Orientadora: Profa. Dra.. Carla Afonso da Silva Bitencourt Braga; Supervisor: Médico Veterinário Rodrigo Mendes Untura. Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Goiás. Medicina Veterinária. Campus Jataí, 2007. Bibliografia: f. 37-40. Inclui listas de figuras, tabelas e de quadros. 1. Bovino – Reprodução 2. Ultra-sonografia veterinária I. Braga, Carla Afonso da Silva Bitencourt II. Untura, Rodrigo Mendes III. Universidade Federal de Goiás. Medicina Veterinária. Campus Jataí IV. Titulo. CDU: 619:636.2.082 FABIANO RODRIGUES DE SOUZA ULTRA-SONOGRAFIA NA REPRODUÇÃO DA FÊMEA BOVINA Trabalho de conclusão curso de graduação em medicina veterinária apresentado para obtenção do grau de bacharel em Medicina Veterinária, junto à Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí. Orientadora: Profa. Dra. Carla Afonso da Silva Bitencourt Braga Supervisor: Médico Veterinário Rodrigo Mendes Untura JATAÍ 2007 “Dedico esse trabalho primeiramente a Deus por ter me feito chegar até aqui. Pelo seu amor para com minha vida, pela sua graça e misericórdia para comigo. Obrigado Senhor por tudo que já fizestes, por tudo que estás fazendo e por tudo que vais fazer. Dedico também aos meus pais pelo amor, apoio e torcida.” Agradecimentos Primeiramente, a Deus por ter me proporcionado o sonho de ser veterinário e me dar à graça de realizá-lo. Por que á sete anos atrás o Senhor deu sentido a minha vida, quem conhece minha vida sabe do que estou falando. Obrigado Senhor, pois se cheguei até aqui é porque permitistes. Por todas as vezes que me fortaleceu e que me fez acreditar. Acima de tudo, obrigado por me amar mesmo eu sendo pecador. Aos meus pais, Sebastião e Leonilda, pela educação e pelo homem que vocês fizeram de mim. Pelo apoio financeiro, foi indispensável. Pelo exemplo de coragem e determinação. Com certeza a expectativa de dividir essa conquista com vocês foi uma grande motivação durante esses anos. Aos meus irmãos Adriana e Cristiano e ao meu cunhado Thiago. Sem dúvida nenhuma vocês sãos os melhores amigos que Deus me deu. Obrigado por existirem e principalmente por acreditarem em mim. Amo vocês. Ao meu sobrinho André por ter trazido mais alegria e unidade a nossa família. Aos meus líderes Bp. Fábio Sousa e Bp. Priscíla Sousa pelo exemplo de homem e mulher de Deus que são. Pelos conselhos e pelas orações a meu favor. Também, à Igreja Apostólica Fonte da Vida em Goiânia e em Jataí, pois sem dúvida se tornaram família para mim. Aos meus avós, João e Antônia, muito obrigado pelo carinho, torcida e orações. A todos os meus tios, e em especial Alaor, Evanete, Laurencí e Luziano. Vocês fazem parte dessa conquista. Aos amigos de Goiânia que fazem parte da minha família, em especial João Victor, João Alves e Jônatas. A pessoa que se tornou mais um irmão para mim, dividindo quatro anos e meio de esforço e dificuldades. Deus foi benigno comigo quando escolheu você para compartilhar essa jornada. Muito obrigado a você e a sua família Raphael. A cada colega da Universidade e em especial, Heriton, Pedro, Poliane, Talita e Yara. E ainda, ao colega que com certeza se tornou amigo, Thiago Vilar. A todos os professores da UFG Jataí, em especial a minha orientadora de estágio e amiga professora Carla, ao meu orientador de iniciação científica e amigo professor Fabiano Sant’ana, a professora Lorena, ao meu amigo e companheiro professor Silvio Oliveira. Com certeza o veterinário que serei é fruto do esforço e carinho de cada um de vocês. A coordenadora de estágio, professora Alana. Muito obrigado pela paciência, respeito e carinho. A cada funcionário, da manutenção a administração, muito obrigado por fazerem dessa universidade um local maravilhoso para se estudar. Aos amigos que conquistei em Jataí que com certeza fizeram essa conquista chegar mais rápida. Não poderia esquecer de agradecer aos fazendeiros, vendedores e demais viajantes da BR 060 de Goiânia a Jataí por todas as caronas. Muito obrigado por me ajudarem a matar a saudade da família e dos amigos de Goiânia, e também por ajudarem a economizar uma fortuna que com certeza eu não tinha. Obrigado por cada informação e cada história de vida que compartilharam comigo durante as viagens. A todos que minha memória não alcançou aqui, mas que diretamente ou indiretamente participaram dessa trajetória. Muito obrigado! “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para glória de Deus.” Apóstolo Paulo FABIANO RODRIGUES DE SOUZA Trabalho de conclusão de curso de graduação em medicina veterinária, defendido e aprovado em 21 de dezembro de 2007, pela seguinte banca examinadora: a Profa. Dra. Carla Afonso da Silva Bitencourt Braga Presidente da Banca a Prof. Dr. Silvio Luiz de Oliveira Membro da Banca a Profa. Msc. Lorenna Cardoso Rezende Membro da Banca SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 1.1 Local de estágio........................................................................................... 3 1.2 Atividades acompanhadas e desenvolvidas no estágio supervisionado..... 4 2 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO.............................................. 6 2.1 Princípios da ultra-sonografia...................................................................... 6 2.2 Aplicações práticas da técnica ultra-sonográfica......................................... 12 2.2.1 Guia para punção folicular de oócitos.......................................................... 12 2.2.2 Ultra-sonografia no monitoramento ovariano............................................... 13 2.2.3 Ultra-sonografia no monitoramento uterino................................................. 19 2.2.3.1 Estado fisiológico......................................................................................... 19 2.2.3.2 Estado patológico........................................................................................ 21 2.2.4 Ultra-sonografia no diagnóstico de prenhez e desenvolvimento fetal......... 23 2.2.5 Uso da ultra-sonografia na sexagem fetal................................................... 28 2.2.6 Perda embrionária....................................................................................... 31 3 CONCLUSÃO.............................................................................................. 35 REFERÊNCIAS............................................................................................ 37 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Imagem ultra-sonográfica em que as setas vermelhas apontam para uma área anecóicas e as setas azuis apontam para uma área ecogência.......................................................... Aparelho de ultra-som veterinário Pie Medical modelo Falco vet com transdutor linear 5.0/7.5 e transdutor EV convexo 5.0/7.5 Mhz R10 para aspiração folicular.................................. Exemplos de transdutores para uso na medicina veterinária: A, B e C - Transdutor setorial; D, E e F - Transdutor linear....... Figura ilustra a posição do transdutor e o feixe de ultra-som sendo projetado sobre o trato reprodutivo da fêmea................. Imagem ultra-sonográfica com diferentes transdutores: A Transdutores setoriais (imagem em formato de “pizza”); B Transdutores lineares (imagem em formato retangular)................................................................................. Imagem ultra-sonográfica de um ovário bovino bem delimitado, com um folículo (setas vermelhas) presente.......... Imagens ultra-sonográficas de ovários superestimulados, através de hormônios reprodutivos, à produção de um grande 7 8 9 10 10 14 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 número de folículos dominantes................................................ Imagem ultra-sonográfica de corpo lúteo de fêmeas bovinas: A - Corpo Lúteo maciço; B - Corpo Lúteo com cavidade.......... Imagem ultra-sonográfica de um ovário cístico......................... Imagem ultra-sonográfica de um útero não-gravídico de ecogenicidade normal............................................................... Imagens ultra-sonográficas patologias uterinas: A Endometrite, com fluído hipoecogênico e paredes uterinas espessadas; B - Piometra, presença de fluído hiperecogênico, de caracter purulento no interior do órgão................................. Imagem ultra-sonográfica de um útero com inflamação intensa. Epitélio espessado e muito edema.............................. Figura ilustra a posição do transdutor no reto da fêmea bovina e a projeção do feixe de ultra-som para formar a imagem fetal Imagem ultra-sonográfica de um útero gravídico, visualizável a vesícula embrionária no lúmen do órgão............................... Imagem ultra-sonográfica de um útero gravídico de 32 dias, visualizável apenas a vesícula embrionária no lúmen do órgão......................................................................................... Imagens ultra-sonográficas para sexagem fetal: A e B - Fetos fêmeas, com vistas ventrais, em que observa o as primeiras vértebras coccigenas (seta azul) e o tubérculo genital (seta vermelha).................................................................................. Imagens ultra-sonográficas para sexagem fetal: A e B - Fetos machos, com vistas ventrais, em que observa o cordão umbilical (seta azul) e o tubérculo genital (seta vermelha)...... Imagens ultra-sonográfica de um feto macho. As setas “scr” indicam a bolsa escrotal e a seta “tes” aponta para os testículos. Observe que a bolsa ainda encontra-se vazia com as gônadas ainda presente na cavidade abdominal................. Imagem ultra-sonográfica de um útero que se encontrava gravídico, porém ocorreu morte embrionária, com desaparecimento do embrião e alterações na ecotextura da vesícula embrionária.................................................................. Imagem ultrasonografica do útero. Vesícula embrionária repleta de debrides celulares provenientes de morte embrionária precoce.................................................................. Imagem ultrasonografica do útero preenchido com conteúdo purulento. Visualização de conteúdo hiperecogênico na luz do útero característico de conteúdo purulento resultado de infecção...................................................................................... 16 17 18 20 21 22 23 24 25 29 29 31 32 33 33 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Atividades desenvolvidas no Grupo Elite durante o período de estágio curricular supervisionado, no período de três de setembro a nove de novembro de 2007. ...................................................................... 5 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Identificação e características observadas pela ultra-sonografia das estruturas fetais ao longo da gestação ............................................. 27 1 INTRODUÇÃO A atual palavra de ordem no contexto da bovinocultura do país é a "eficiência". Cada vez mais o controle das etapas relacionadas à produção se tornam imprescindíveis para o sucesso da exploração. Com o desenvolvimento da técnica de ultra-sonografia aplicada à reprodução de bovinos, novas perspectivas surgem para melhorar o controle destas atividades, visando a aumentar o desempenho reprodutivo dos rebanhos. A relação custo-benefício é a principal variável a ser observada na incorporação de novas tecnologias pelas empresas, em qualquer setor produtivo. Sem as informações corretas sobre esta condição, a aplicação de certas técnicas, em determinadas situações, pode trazer resultados diferentes dos esperados, o que às vezes diminui a credibilidade e o interesse para a mesma. A utilização da técnica de ultra-sonografia cresceu muito nas últimas décadas. A razão disto é a eficiência da técnica em responder algumas questões sobre o ciclo estral e patologias reprodutivas das fêmeas bovinas que outras técnicas de diagnóstico não o fazem (RIBADU & NAKAO, 1999). Até o início da utilização da ultra-sonografia em medicina veterinária, a avaliação semiológica do trato reprodutivo, e particularmente dos ovários de grandes animais, estava limitada aos achados oriundos da técnica de palpação retal e de técnicas invasivas, como a laparotomia e laparoscopia. A técnica de ultra-sonografia transretal demonstrou ter múltiplas aplicações na avaliação morfológica e funcional do aparelho reprodutor feminino em eqüinos e ovinos e também em outras espécies (PIERSON et al., 1988). As vantagens da ultra-sonografia são muitas. É um método não-invasivo e que permite repetidas avaliações sem prejudicar o desempenho reprodutivo animal. Pode ser utilizado no diagnóstico precoce de prenhez, predizer a idade, o sexo e acompanhar o desenvolvimento fetal. Além disso, de acordo com FRICKE (2002), é possível monitorar a involução uterina pós-parto, e desordens uterinas (endometrite, piometra, hidrometra) e ovarianas (cistos foliculares, tumores ovarianos). O uso do ultra-som possibilitou grandes avanços no estudo da fisiologia ovariana, particularmente na caracterização do padrão de crescimento folicular, desenvolvimento, manutenção e regressão luteal, e ocorrências durante a fase inicial da gestação (PIERSON & GINTER, 1988). A obtenção de oócitos disponíveis para produção in vitro de embriões (PIV) ocorre através da técnica de aspiração folicular transvaginal, ou OPU (ovum pick up). Há mais de uma década a OPU tem sido a melhor opção para a recuperação de oócitos in vivo na espécie bovina. Valendo-se das possibilidades da ultra-sonografia, CALLESEN et al. (1987) relataram pela primeira vez o uso desta técnica para a obtenção de oócitos bovinos, através da punção ovariana transcutânea na região paralombar. Um ano depois, PIETERSE et al., (1988) descreveram a aspiração folicular transvaginal guiada pela imagem ultrasonográfica, que tornou viável o aproveitamento de oócitos bovinos, sem as limitações dos procedimentos existentes até então. Após avaliações iniciais, a técnica mostrou-se simples e aplicável, viabilizando a obtenção repetida de oócitos destinados aos procedimentos in vitro, inclusive com citações de aumento no número de folículos recrutados após várias semanas de aspirações foliculares. Outro aspecto favorável da OPU/PIV é a possibilidade de se conseguir embriões mesmo em fêmeas gestantes. Isto é possível porque os ovários mantêm sua atividade durante a prenhez, tornando viável a recuperação dos oócitos. Se a técnica de OPU for bem conduzida, não há qualquer risco à gestação e pode-se realizar a aspiração folicular até o terceiro mês de gestação, ou até o período em que o médico veterinário conseguir manipular os ovários sem que seja necessária uma tração vigorosa. Devido o desenvolvimento de projetos de extensão, difusão do conhecimento e as mudanças culturais, muitos produtores já conhecem o impacto negativo que baixos índices reprodutivos podem representar tecnicamente e financeiramente. Torna-se, portanto, um tema bastante interessante, já que a cada dia, mais produtores desejam obter os benefícios que o uso desta técnica oferece. Entretanto, no Brasil, devido a pouca utilização dessa tecnologia à campo, muitas pessoas do meio pecuário ainda desconhecem as aplicações práticas da ultra-sonografia na reprodução, e de que forma esta técnica pode contribuir para a melhoria da eficiência reprodutiva dos rebanhos bovinos. 1.1 Local de estágio O estágio supervisionado foi realizado no Grupo Elite, composto pelas seguintes empresas: Elite Biotecnologia, Elite Shop Bovino, Elite Expotation Genetics, Elite Gestão Rural, Elite Treinamentos, Elite Representações e Elite Doadoras e Receptoras. O estágio foi realizado na área de biotecnologia aplicada a reprodução de fêmeas bovinas, durante o período de 03 de setembro a 09 de novembro de 2007, perfazendo um total de 400 horas, quando foram acompanhadas atividades de avaliação de doadoras e receptoras de embriões, aspiração folicular, diagnóstico precoce de gestação por ultra-sonografia, diagnóstico e tratamento de patologias reprodutivas, exames de brucelose, seleção de oócitos para fertilização in vitro (FIV), sexagem fetal por ultrasonografia e transferência de embriões (inovulação). O Grupo Elite é umas das empresas do Espaço Rural, um condomínio de empresas do meio rural, onde também se encontram a Lagoa da Serra/Topgens, Meio Rural Agromarketing, Café Rural e a In Vitro Brasil. Está localizado em Goiânia – GO, na Alameda Ricardo Paranhos, número 960, Espaço Rural, Salas 4 / 6, Qd. 250, Lt. 14, St. Marista. A empresa conta ainda com o suporte de uma central de receptoras (EMBRIO), no município de Nerópolis a 30 km de Goiânia, de propriedade da família da sócia Lúcia Mundin.. O Grupo Elite é dirigido pelas três sócias, Lúcia Mundin, Márcia Carneiro e Simone de Fátima, cada uma sendo responsável por uma área do Grupo. O Espaço Rural, e dentro dele o Grupo Elite, foi criado em maio de 2007 com a intenção de proporcionar conforto e comodidade ao produtor rural, agregando-se empresas das mais variadas áreas do agronegócio. A Biotecnologia da reprodução da fêmea bovina é o know how do Grupo Elite, com ênfase principal na produção de prenhez por meio da FIV. O grupo tem prestado serviços nessa área em diversos estados como Goiás, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e Tocantins. Pouco tempo atrás o principal mercado do Espaço Rural eram os criadores de animais de elite, que são premiados em exposições, ou de linhagens de animais de alto valor zootécnico e comercial. Até porque, a tecnologia de FIV ainda não se mostra viável para o rebanho comercial. Com a elevação dos preços do leite, o produtor tem procurado essa tecnologia, visto que, o rebanho leiteiro brasileiro é de baixíssima produção e, esta tecnologia se mostra como mais uma ferramenta a ser aliada na busca de melhorias significativa nos índices da pecuária leiteira nacional em curto prazo de tempo. Mensalmente, o Grupo Elite junto com o laboratório In Vitro Brasil é responsável pela produção de cerca de 400 embriões por meio de FIV. Esses embriões são transferidos para receptoras de produtores gerando em torno de 40% de prenhez. Aliado ao serviço de produção in vitro de embriões e a transferência para as receptoras, também faz-se o diagnóstico precoce de gestação, com 23 dias após a transferência e a sexagem fetal 53 dias após a transferência, ou seja, 30 e 60 dias após a FIV, respectivamente. Antes da punção folicular de oócitos ou da transferência de embriões, as doadoras e receptoras, respectivamente, são avaliadas pela ultra-sonografia quanto à ecogenicidade de corpo lúteo, tamanho dos folículos, presença de líquido e tonicidade do útero. 1.2 Atividades acompanhadas e desenvolvidas no estágio supervisionado O acompanhamento e desenvolvimento de atividades estagiadas se realizaram na sede da empresa em Goiânia, na central de receptoras na cidade de Nerópolis – GO, nas centrais de transferência de embriões e nas propriedades rurais assistidas pelo Grupo Elite, em Goiás e no Distrito Federal. Durante o período de estágio foi possível acompanhar atividades de avaliação de doadoras e receptoras de embriões, aspiração folicular, diagnóstico precoce de gestação por ultra-sonografia, diagnóstico e tratamento de patologias reprodutivas, exames de brucelose, seleção de oócitos para FIV, sexagem fetal por ultra-sonografia e transferência de embriões, estando estas discriminadas na Tabela 1. TABELA 1: Atividades desenvolvidas pelo Grupo Elite durante o período de estágio curricular supervisionado, no período de três de setembro a nove de novembro de 2007. ATIVIDADES ACOMPANHADAS E MESES DESENVOLVIDAS Avaliação de doadoras de oócitos Avaliação de receptoras de embriões Aspiração folicular (OPU) Seleção e classificação de oócitos para FIV Transferência de embriões Diagnóstico precoce de gestação Sexagem fetal Diagnóstico de patologias reprodutivas Exames de brucelose TOTAL Set. Out. Nov. Total 36 55 35 126 281 438 123 842 31 49 25 105 31 49 25 105 218 351 105 674 59 37 96 114 24 138 52 68 13 133 480 162 207 849 1302 1233 533 3068 % 4,11 27,44 3,42 3,42 21,98 3,13 4,50 4,33 27,67 100 2 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO 2.1 Princípios da Ultra-sonografia O som é um movimento vibratório de um corpo sonoro que se propaga pelo ar (340m/s), nos líquidos (1425m/s) e nos sólidos (maior velocidade e mais variável), sofrendo reflexão (produção de ecos) quando encontra um obstáculo fixo. Já o ultra-som é definido como um som de alta freqüência, usualmente de 5 a 7 milhões de ciclos por segundo (MHz) acima da média normal audível pelo homem (16000 a 20000Hz). A ultra-sonografia utiliza ondas sonoras de alta freqüência para produzir imagem de tecidos e órgãos internos (PIERSON et al., 1988). As ondas acústicas do ultra-som são produzidas pela compressão e descompressão alternadas das moléculas dos tecidos adjacentes (GINTER, 1995). As ondas sonoras de pressão, inaudíveis ao ouvido humano (RIBADU & NAKAO, 1999) são geradas pela vibração de cristais com propriedades piezoelétricas, presentes no transdutor do aparelho, quando submetidas a correntes elétricas alternadas. Como característica, estas têm a propriedade de se propagar pelos tecidos orgânicos. (GRIFFIN & GINTHER, 1992). Quando aplicado em superfícies corpóreas, o som encontra tecidos de diferentes composições e uma parte das ondas sonoras é refletida de volta ao transdutor. A densidade e a organização de um tecido determina que proporção da onda ultra-sonográfica será refletida. O eco que retorna é convertido em impulsos elétricos capazes de formar uma imagem no monitor do aparelho (PIERSON et al., 1988). Cada tecido apresenta um padrão ultra-sonográfico próprio. Tecidos de diferentes resistências acústicas, quando em contato, produzem interfaces que permitem diferenciá-los. Os cristais agem, ao mesmo tempo, como transmissores e como receptores. As ondas refletidas pelos tecidos são reconvertidas pelos cristais do transdutor em pulsos elétricos. Os pulsos são amplificados, compensados para diferenças de intensidade e utilizados por um receptor na geração de uma imagem bidimensional. Assim, as características dos tecidos determinam qual será a proporção do som que será refletida (PIERSON et al., 1988). Líquidos, por exemplo, refletem pouco o som e formam imagens negras, tecnicamente chamadas de não-ecogênicas ou anecóicas (Figura 1 - Setas vermelhas). Da mesma forma, tecidos densos refletem grande fração do som emitido, formando imagens claras ou também denominadas de ecogênicas (Figura 1 - Setas Azuis) ou ecóicas (RIBADU & NAKAO, 1999). FIGURA 1 - Imagem ultrasonográfica de cisto folicular em ovário bovino em que as setas vermelhas apontam para uma área anecóicas e as setas azuis apontam para uma área ecogência. Fonte: http://drostproject.vetmed.ufl.edu/bovine/ Existem basicamente quatro modelos de imagem ultra-sonográfica utilizados na medicina humana e veterinária (MOURA & MERKT, 1996). O modo-A forma uma imagem unidimensional, fornecendo a amplitude e a profundidade das ondas no tecido (MOURA & MERKT, 1996). Já o modo-B produz uma imagem bidimensional em tempo real e consiste de um conjunto de ecos ultra-sonográficos dispostos em um plano lado a lado (MOURA & MERKT, 1996). Na reprodução bovina, o modo-B é o mais utilizado, pois permite um exame detalhado do trato reprodutivo (RIBADU & NAKAO, 1999). O modo-M é uma adaptação do modo-B para avaliação de estruturas em movimento, principalmente coração (MOURA & MERKT, 1996). O último modo denominado Doppler permite estudar a dinâmica normal e patológica da circulação sanguínea no coração e nos vasos, através da velocidade do sangue circulante (MOURA & MERKT, 1996). Os procedimentos realizados e acompanhados durante o estágio eram todos em aparelhos regulados para o módulo B. O equipamento utilizado na medicina veterinária consiste de duas partes básicas interligadas por um cabo de fibra óptica: (FIGURA 2) a) corpo principal - composto de computador e monitor, responsáveis pela origem da energia, recebimento, amplificação e conversão dos sinais, culminando com a exposição visual (sonograma) das ondas sonoras captadas pelo transdutor; b) transdutor - produz as ondas sonoras e capta sua reflexão da superfície tissular, por meio de cristais piezelétricos que transformam corrente elétrica em ondas sonoras e vice-versa. FIGURA 2 – Aparelho de ultra-sonografia veterinário Pie Medical modelo Falco vet® com transdutor linear 5.0/7.5 e transdutor EV convexo 5.0/7.5 MHz R10 para aspiração folicular. Fonte: http://www.nutricell.com.br/_site2007/produtos/ O tempo entre a emissão do pulso elétrico e o retorno do eco é utilizado no cálculo da distância entre a estrutura e o transdutor. Um tecido mais distante do transdutor, no momento da análise, apresenta imagem na porção inferior da tela (REEVES, 1984). Os aparelhos de ultra-som podem ser equipados com transdutores de várias freqüências: 3,5; 5,0; 6,0; 7,5 e 8,0 MHz. Baixas freqüências penetram muito no tecido, porém produzem uma imagem de baixa resolução, quando comparadas às de alta freqüência. Diz-se, então, que a penetração, ou seja, a capacidade de atingir determinadas estruturas é inversamente proporcional a freqüência utilizada; já a resolução, que é a capacidade de discriminar espacialmente duas estruturas, aumenta proporcionalmente com a freqüência. Na veterinária, as freqüências mais utilizadas são de 3½, 5 ou 7½MHz. A resolução das imagens geradas por equipamentos de 3,5MHz, apesar de apresentarem imagens em torno de 12 a 15 cm de profundidade só permitem a visualização de estruturas de 6 a 8 mm e, portanto, a qualidade das imagens geradas é inadequada para a visualização de estruturas menores que 6 mm, servindo para as avaliações de gestações mais tardias. Já o equipamento de 5MHz é suficiente para a identificação de estruturas de 3 a 5 mm a uma profundidade de 8 a 10 cm, tornando-se ideais para os exames rotineiros do trato genital dos grandes animais e em gestações iniciais. No entanto, para aumentar a qualidade das imagens podem ser utilizados transdutores de 7,5MHz, com a profundidade ficando restrita à apenas 4 a 5 cm, mas de ótimo uso para a avaliação de estruturas próximas ao transdutor. Assim, transdutores de baixa freqüência (3,5 MHz) são utilizados para visualização de estruturas grandes e distantes do transdutor (PIERSON et al., 1988). Aqueles de maior freqüência (5,0-7,5 MHz) são mais indicados para exames em que o transdutor está próximo as estruturas, como é o caso do exame do trato reprodutivo das fêmeas bovinas (PIERSON et al., 1988; RIBADU & NAKAO, 1999). Além disso, os transdutores podem ser: Setoriais : Transdutor micro convexo 5.0/7.5 Mhz, R17 (Figura 3D); Transdutor convexo 3.5/5.0 Mhz, R40 HiD (Figura 3E); Transdutor EV convexo 5.0/7.5 Mhz R10 (Figura 3F), sendo o ultimo utilizado para aspiração folicular Lineares: Transdutor linear 8.0 Mhz, 4cm (Figura 3A); Transdutor linear 5.0/7.5 Mhz ou 6.0/8.0 Mhz (Figura 3B); Transdutor linear 3.5 Mhz 18 cm (Figura 3C). FIGURA 3 - Exemplos de transdutores para uso na medicina veterinária: A, B e C - Transdutor setorial; D, E e F - Transdutor linear. Fonte: http://www.nutricell.com.br/_site2007/produtos/ultra_som_vet/falco.html#ultra A ultra-sonografia trans-retal é utilizada para o exame do trato reprodutivo da fêmea bovina (Figura 4), sendo as sondas lineares as mais indicadas (RIBADU & NAKAO, 1999), devido à proximidade do transdutor no interior do reto às estruturas reprodutivas de interesse (GRIFFIN & GINTHER, 1992), demonstrada na Figura 5. FIGURA 4 - Figura ilustra a posição do transdutor e o feixe de ultra-som sendo projetado sobre o trato reprodutivo da fêmea bovina. Fonte: http://drostproject.vetmed.ufl.edu/bovine/ Os transdutores setoriais formam imagens em formato de “pizza” (Figura 4A) enquanto os lineares formam imagens retangulares (Figura 4B), (RIBADU & NAKAO, 1999). FIGURA 5 - Imagem ultra-sonográfica com diferentes transdutores: A - Transdutores setoriais (imagem em formato de “pizza”), Fígado e vesícula biliar de um cão; B - Transdutores lineares (imagem em formato retangular), cisto ovariano bovino. Fonte: http://www.esaote-piemedical.com/products&services/aquila/aquila.html No local de estágio havia quatro aparelhos de ultra-som com transdutores lineares. Um dos aparelhos possuía também um Transdutor EV micro-convexo 5.0 Mhz para aspiração folicular com uma sonda WTA. Uma vez que este é o mais utilizado para OPU. A produção da imagem e a interpretação dependem da interação de quatro fatores: operador, aparelho, ambiente e animal (PIERSON et al., 1988). A preparação e as precauções para a ultra-sonografia trans-retal são semelhantes as da palpação retal (PIERSON et al., 1988; GRIFFIN & GINTHER, 1992). Importante ressaltar que antes de se iniciar o exame ultra-sonográfico nos grandes animais é necessária a realização da palpação transretal dos órgãos reprodutivos internos, com a finalidade da localização e orientação espacial inicial, bem como a remoção das fezes presentes no reto para evitar interferências na propagação das ondas sonoras. Em seguida, o transdutor é introduzido no reto e movimentado de um lado a outro, sobre a genitália interna (ovários, cornos e corpo uterino), produzindo imagens longitudinais do útero, ou girando 90º de modo a mudar o plano de longitudinal para transversal em relação ao eixo do corpo, obtendo, assim, secções transversais do útero. No estágio pode-se observar que a avaliação reprodutiva do animal pelo toque retal e a retirada das fezes é de suma importância para a qualidade do serviço técnico. A presença de fezes no reto do animal dificultava a realização da técnica pela formação de artefatos ecogênicos na imagem do ultra-som, como afirmado por PIERSON et al., (1988) e GRIFFIN & GINTHER (1992). Assim, a ultra-sonografia serve como uma ferramenta para auxiliar procedimentos na área da reprodução da fêmea bovina, não podendo descartar métodos tradicionais como o toque retal, que também são ferramentas de suma importância. Durante o estágio a empresa ministrou um curso de ultra-sonografia na reprodução de bovinos. 2.2 Aplicações práticas da técnica ultra-sonográfica 2.2.1 Guia para punção folicular de oócitos (OPU) Outra aplicação importante da ultra-sonografia é no auxilio a aspiração de folículos antrais. Com o crescimento da técnica de fecundação in vitro, houve maior demanda para aspiração folicular de oócitos via ultra-sonografia (VIANA et al., 2003). Potencialmente podem ser aspirados todos os folículos visíveis de acordo com a resolução do equipamento (FERNANDES, 2006). Utiliza-se uma probe geralmente setorial, ou mais recentemente microconvexa colocada via vaginal, acoplada a uma guia de punção. Requer muita habilidade do técnico que manuseia o equipamento, a fim de evitar lesões nos órgão genitais, principalmente ovários. Vários trabalhos têm procurado adequar o ritmo de coleta de oócitos no sentido de maximizar a produção e minimizar as lesões que a técnica provoca na fêmea doadora (FERNANDES, 2006). Nas atividades acompanhadas, os procedimentos de OPU eram realizados com uma probe micro-convexa acoplada a uma guia de aspiração. Além da aspiração, o ultra-som possibilitou estimar o número de oócitos que seriam encontrados na pesquisa no laboratório, através da visualização da imagem ultra-sonográfica dos folículos à serem aspirados. Foi observado que animais obesos, com escore corporal acima de 3,75 numa escala de zero a cinco, apresentavam maior número de patologias reprodutivas, e que ocorreu uma redução quantitativa e qualitativa nos oócitos desses animais, além de apresentarem maior dificuldade para a realização da OPU. Este tipo de problema foi mais comum nos animais de exposição, os quais eram confinados em baias. PIETERSE et al.(1988) afirmam que a aspiração folicular pode ser feita até aproximadamente o terceiro mês de gestação, porém, durante o estágio observou-se que a aspiração folicular pode ser feita até o sexto mês. Entretanto, pode ocorrer dificuldade para se alcançar os ovários, principalmente o ipsilateral ao corno gestante devido à prenhez avançada. Os autores também relatam um aumento no número de folículos visualizados na imagem ultra-sonográfica após várias semanas de aspiração, no entanto, observou-se que, o animal normalmente mantém o mesmo número de folículos visualizados pelo ultra-som nas primeiras aspirações após regulares serviços de aspiração. Algo muito importante observado foi a diferença no manejo e nos resultados obtidos na bovinocultura leiteira e de corte quando se trabalha com biotecnologias reprodutivas, como a diferença no número de prenhez por aspiração. Enquanto na raça zebuína têm-se índices de 2,5 a 3,2 prenhez por aspiração, nos animais taurinos esses índices caem para 1,2 a 1,5. Essa disparidade de resultados se justifica pelo fato de se conseguir uma menor quantidade de oócitos por OPU e uma maior dificuldade para seleção dos mesmos, além de outros fatores inerentes ao animal e ambiente. 2.2.2 Ultra-sonografia no monitoramento ovariano A ultra-sonografia é um método seguro para o monitoramento ovariano (PIERSON & GINTHER, 1988). Com o uso desse método diagnóstico é possível identificar e mensurar folículos e corpo lúteo (PIERSON & GINTHER, 1988; GRIFFIN & GINTHER, 1992; RIBADU & NAKAO, 1999), acompanhar a dinâmica folicular (PIERSON & GINTHER, 1988; SIROIS & FORTUNE 1988) e patologias ovarianas (FRICKE, 2002). GRIFFIN & GINTHER (1992) relatam que somente após a utilização da ultra-sonografia na espécie bovina foi possível o estudo mais detalhado da dinâmica folicular. A presença de cistos era facilmente visualizada pela ultra-sonografia durante o estágio, entretanto não era feita a diferenciação entre cistos foliculares e luteínicos. Quando se observava cisto na OPU era realizada a punção dos mesmos. No monitor, os folículos aparecem-se esféricos e negros (anecóicos) (PIERSON & GINTHER, 1998), devido a sua natureza vesicular (MOURA & MERKT, 1996), circunscritos por áreas mais claras do tecido ovariano (Figura 6). Alguns folículos podem apresentar-se em formato elíptico (mais achatados), sendo este fato atribuído a compressão entre folículos adjacentes ou corpo lúteo ou ainda o próprio estroma ovariano (GRIFFIN & GINTHER, 1992). Até folículos pequenos, de 2 a 3 mm de diâmetro, podem ser visualizados, quantificados e sequencialmente monitorados (PIERSON & GINTHER, 1988). Além de pequenos folículos eram visualizados ainda pequenos pontos ecogênicos no ovário característicos de excesso de procedimento errado de OPU. Segundo o veterinário Rodrigo Untura, supervisor do estágio, esses pontos são pequenas fibroses que ocorrem devido ao excesso de lesões causadas pela agulha de aspiração ao estroma ovariano. Essas lesões podem reduzir a funcionalidade do ovário e encurtar a vida funcional do mesmo. FIGURA 6 - Imagem ultra-sonográfica de um ovário bovino bem delimitado, com um folículo presente (setas vermelhas). Fonte: http://drostproject.vetmed.ufl.edu/bovine/ GRIFFIN & GINTHER (1992) relataram que se estimou um alto coeficiente de correlação entre a ultra-sonografia e a peça necropsiada quanto ao tamanho e o número dos folículos presentes nos ovários. Em estudo com 50 ovelhas, VIÑOLES et al. (2004) testaram a acurácia da ultra-sonografia na mensuração do tamanho e do número de folículos e corpo lúteo, pelo exame ultra-sonográfico ante-mortem e a análise visual pos-mortem. Os resultados sugerem que a ultra-sonografia apresenta alta acurácia para determinar o número e o tamanho de corpo lúteo e folículos maiores de 4 mm de diâmetro, porém sua sensibilidade diminui com a diminuição do diâmetro dos folículos (VIÑOLES et al., 2004). Através da visualização do útero e do ovário com seus folículos, pelo ultra-som os veterinários relatavam com acurácia a data do último cio dos animais, que era confirmada pelos peões responsáveis pela visualização de cios nas fazendas. Faziam previsão da data da ovulação e após os trinta dias de gestação era relatada a idade do embrião e, após os 60 dias, o sexo do feto. RUIZ-CORTÉS & OLIVERA-ANGEL (1999) classificaram, em estudo sobre a dinâmica folicular ovariana em 17 vacas zebuínas lactantes, o número de folículos presentes nos ovários, a presença de folículos dominantes e subordinados, a duração da onda de crescimento folicular e o período de crescimento e regressão dos folículos. Da mesma forma, SIROIS & FORTUNE (1988) caracterizaram a dinâmica folicular completa de dez novilhas holandesas com o uso da ultra-sonografia em tempo real. A ultra-sonografia não só é capaz de identificar os folículos, mas também é capaz de classificá-los quanto a sua ecotextura (TOM et al., 1998). Estes autores, em estudo da ecotextura da imagem folicular, chegaram à conclusão que a imagem ultra-sonográfica representa a fase fisiológica dos folículos. Os autores verificaram que a homogeneidade do antrum e a ecotextura da parede dos folículos podem refletir a fase de crescimento, dominância ou atresia dos mesmos. Em um outro estudo, VASSENA et al. (2003) concluíram também, que a ecotextura do estroma perifolicular está relacionado com a competência do oócito presente no folículo. Além disso, concluíram que a presença do corpo lúteo e/ou do folículo dominante não interfere na ecogenicidade dos folículos subordinados (VASSENA et al., 2003). No estágio os folículos só eram classificados pelo tamanho, geralmente em ovulátorios e pré-ovulatórios. Já com a visualização do corpo lúteo era facilmente diagnosticada a idade deste e a fase reprodutiva do animal. Os corpos lúteos mais novos, após a ovulação, apresentavam uma ecotextura mais fácil de ser visualizada na imagem ultra-sonográfica, enquanto os que se encontravam no fim do diestro apresentavam uma leve diferenciação da ecotextura do estroma ovariano na imagem ultra-sonográfica. Esta diferença de textura e ecogênicidade são de grande auxilio para se identificar a fase reprodutiva do animal. Da mesma forma que em fêmeas normais, a ultra-sonografia pode ser utilizada para o monitoramento de animais superestimulados (PIERSON & GINTHER, 1988) conforme a Figura 7, o que é comprovado pelo estudo de SINGH et al. (2004). FIGURA 7 - Imagens ultra-sonográficas de ovários superestimulados, através de hormônios reprodutivos, com produção de um grande número de folículos dominantes. Fonte: Adaptado de PIERSON et al. (1988). A ovulação é facilmente percebida, pois verifica-se o desaparecimento do folículo ovulatório que estava presente no exame anterior e a formação do corpo hemorrágico (PIERSON & GINTHER, 1988; RIBADU & NAKAO, 1999). Na prática era observada com facilidade a ovulação quando se avaliavam os animais no dia anterior, porém também eram visualizados vários folículos em crescimento. Após a ovulação também se observava um aumento fisiológico na quantidade de muco uterino e maior relaxamento da musculatura do órgão. A visualização do corpo lúteo, em média, foi possível aproximadamente no terceiro dia após a ovulação, mas em vários animais eram visualizados dois dias após a ovulação, já em outros, quatro dias. Este fato se assemelha ao relatado por RIBADU & NAKAO (1999), que também descrevem que a identificação do corpo lúteo ocorre três dias depois da ovulação, o qual aparece como uma área ecogenicamente distinta do estroma ovariano. Muitos podem ser massas compactas (Figura 8A) ou possuírem cavidade contendo fluídos (Figura 8B). Uma cavidade central se forma em aproximadamente 70% dos corpos lúteos. As cavidades centrais não possuem efeito significativo sobre fertilidade, duração do ciclo ou concentração plasmática de progesterona. (FRICKE, 2002). O corpo lúteo é geralmente visível aproximadamente até a ovulação subseqüente, às vezes até dois ou três dias após a próxima ovulação. Daí em diante, o CL não pode ser distinguido do estroma ovariano (PIERSON & GINTHER, 1988). FIGURA 8 - Imagem ultra-sonográfica de corpo lúteo de fêmeas bovinas: A - Corpo Lúteo maciço; B - Corpo Lúteo com cavidade. Fonte: Adaptado de http://drostproject.vetmed.ufl.edu/bovine/ Com relação à cavidade central que ocorre no corpo lúteo, a afirmação de FRICKE (2002) coincide com o encontrado no estágio, sendo que 70% ou mais dos corpos lúteos observados na ultra-sonografia possuem cavidade e são classificados em cavitários. Nenhuma relação com fertilidade ou outro parâmetro reprodutivo foi relatado pelo supervisor do estágio em relação a presença dessa cavidade. Na maioria das vezes o corpo lúteo só era visualizado até a ovulação subseqüente, entretanto, em vários casos ele permanecia por vários dias, sendo visualizado na ultra-sonografia menos ecogênico que o da ovulação atual. Quanto a ecotextura e tamanho, TOM et al. (1998) verificaram significativas mudanças quanto a ecogenicidade do corpo lúteo durante os processos de crescimento, regressão e produção de progesterona. A ecogenicidade do corpo lúteo aumenta durante o crescimento, diminui na sua máxima função (produção de progesterona), e aumenta drasticamente no início da regressão. O aumento da ecogenicidade no início da regressão luteal coincide com as quedas das concentrações plasmáticas de progesterona. Tais mudanças parecem ser atribuídas às alterações histológicas e bioquímicas do tecido luteal (TOM et al., 1998). Através das alterações na ecogêniciade do corpo lúteo semelhantes às descritas por TOM et al., (1998), era possível classificar a idade do corpo lúteo e a fase reprodutiva do animal. Contudo, nenhuma explicação foi dada a respeito dessa mudança de ecotextura. Observa-se que um dos grandes benefícios do monitoramento ovariano é a detecção de animais não-ciclícos, o que promove baixa eficiência reprodutiva em gado de corte. A acurácia na identificação de estruturas ovarianas e determinação da ciclicidade pelo uso da ultra-sonografia facilitam a escolha dos protocolos de sincronização a serem utilizados nas matrizes (BEAL et al., 1992). Na maioria das fazendas de leite visitadas a prescrição do protocolo de sincronização ou de tratamento era de acordo com a avaliação reprodutiva do animal, sendo que, em cada situação era sugerido um protocolo para a situação particular do animal. Nas fazendas de corte isso também ocorria, mas como a proporção de anormalidades era menor, quase sempre os protocolos eram apenas para sincronização de receptoras e não para tratamento de patologias. Normalmente, o diagnóstico de cistos ovarianos é realizado por palpação, pela presença de uma estrutura fluída, de maior tamanho no ovário (Figura 9) (FRICKE, 2002). Este mesmo autor relata que a diferenciação entre um cisto folicular e luteal se torna complicada somente pela palpação retal. A acucária no diagnóstico com o uso da ultra-sonografia é de 90% para cistos luteais e de 75% para cistos foliculares. FIGURA 9 - Imagem ultra-sonográfica de um cisto ovariano de uma fêmea bovina. Fonte: Untura (2007). Todas as doadoras de oócitos avaliadas estavam aptas a serem aspiradas, no entanto algumas delas apresentavam cistos foliculares e/ou luteínicos, o que não impediu a aspiração. Porém, observou-se uma diminuição significativa do número e da qualidade dos oócitos aspirados. Alguns animais com cistos ovarianos apresentavam atividade folicular observada na ultrasonografia, contudo, quando feita a OPU não se encontravam oócitos viáveis na seleção e classificação. Outros já apresentavam número menor e qualidade reduzida. A presença de cistos era facilmente visualizada pela ultra-sonografia, entretanto não era feita a diferenciação entre cistos foliculares e luteínicos. Quando se observavam cistos na OPU era realizada a punção dos mesmos. No caso de cistos observados na avaliação de receptoras, os animais eram descartados e indicava-se o tratamento hormonal. Após tratamento, principalmente a base de GnRH, os animais deveriam ser emprenhados, pois, a maioria dos animais tratados voltava a apresentar cisto novamente quando não emprenhados. Nas receptoras avaliadas observou-se que, animais com escore corporal muito baixo geralmente apresentavam-se em anestro, não sendo observada atividade folicular à ultra-sonografia, sendo esta a patologia reprodutiva mais encontrada, seguida da presença de cistos, mortes embrionárias precoces e infecções uterinas. 2.2.3 Ultra-sonografia no monitoramento uterino 2.2.3.1 Estado fisiológico A ultra-sonografia também é utilizada na avaliação das mudanças morfológicas que ocorrem no útero (Figura 10). As imagens dos cornos uterinos mostram características do estágio do ciclo estral. As características visíveis pelo ultra-som envolvem a espessura do corpo do útero, evidências de aumento de vascularização, edema e acúmulo de fluídos intrauterino, intracervical e intravaginal (PIERSON & GINTHER, 1988). FIGURA 10 - Imagem ultrasonográfica de um útero nãogravídico de ecogenicidade normal. Fonte: Untura (2007). O aumento fisiológico na quantidade de muco uterino foi facilmente visualizado durante o estágio nos animais próximos a ovulação. Também se observou alterações na ecotextura do útero e do epitélio uterino de acordo com a fase do ciclo estral do animal. Deve-se ajustar a posição do transdutor para obter uma boa imagem do corno uterino. Em geral, uma visão do corno é mais útil em seções sagitais, pois seções angulares são mais difíceis de interpretar. Seções transversais podem auxiliar no diagnóstico de algum conteúdo na luz. Um exame sistemático dos cornos uterinos é recomendado iniciando-se pela cérvix e progredindo distalmente ao longo de cada um dos cornos uterinos. A aparência ultrasonográfica do útero e das estruturas presente nos ovários auxilia a determinação do estágio do ciclo estral. O período do estro caracteriza-se por expansões edematosas do endométrio. Nesta fase, a ecotextura varia entre áreas hiper e hipoecogênicas. Já no diestro, a ecotextura é marcada por uma imagem mais homogênea (GRIFFIN & GINTHER, 1992). Durante o estro era observado um grande aumento de muco e edema no útero, facilmente visualizados na ultra-sonografia. O acompanhamento da involução uterina também pode ser assistido através da ultra-sonografia, sendo possível a avaliação do diâmetro das estruturas do trato reprodutivo, espessura da parede do útero, ecotextura e acúmulo de fluídos no lúmen uterino, sendo este fato relatado por RIBADU & NAKAO (1999). Além do acompanhamento da involução uterina, a ultra-sonografia proporcionou o diagnóstico preciso de casos de abortos que não eram identificados pelos peões ou mesmo omitidos por eles. Também era possível identificar com facilidade, animais que tinham sofrido retenção de placenta há vários dias, através da visualização do epitélio uterino pela ultra-sonografia. 2.2.3.2 Estado patológico A ultra-sonografia pode auxiliar no diagnóstico de patologias uterinas incluindo as endometrites (Figura 11A), piometra (Figura 11B), maceração fetal e mumificação fetal. FIGURA 11 - Imagens ultra-sonográficas de patologias uterinas: A Endometrite, com fluído hipoecogênico e paredes uterinas espessadas; B - Piometra, presença de fluído hiperecogênico, de caráter purulento, no interior do órgão. Fonte: http://drostproject.vetmed.ufl.edu/bovine/ O útero em condições inflamatórias é caracterizado pela distensão do lúmen com variados graus de ecotextura (Figura 12). O grau de ecogenicidade depende da consistência do fluído (RIBADU & NAKAO, 1999). FIGURA 12 – Imagem ultrasonográfica de um útero com inflamação intensa. Epitélio espessado e muito edema. Fonte: UNTURA (2007). De acordo com o tipo de patologia ocorrido era observado um grau de ecotextura diferente no útero. No caso de infecções era observado aumento de volume uterino e presença de conteúdo piogênico, caracterizado por grânulos hiperecóicos na luz do útero. No caso de maceração fetal, os ossos do feto podem ser visualizados suspensos em um fluido anecóico e com a parede uterina espessada. Já nos casos de mumificação fetal, observa-se a estrutura do feto na completa ausência de fluídos anecóicos no interior do útero (RIBADU & NAKAO, 1999). Quando ocorrido maceração fetal, eram observados grânulos de tecidos hiperecóicos de vários tamanhos imersos em fluido anecóico no lúmem uterino. A parede do útero se apresentava extremamente espessada e edematosa caracterizada por vários graus de ecogênicidade. Durante o estágio não foi diagnosticado nenhum caso de mumificação fetal, mas, de acordo com o supervisor do estágio, as características dessa patologia são semelhantes às descritas por RIBADU & NAKAO (1999). A ultra-sonografia também pode auxiliar no diagnóstico de hidrometra e mucometra em bovinos (RIBADU & NAKAO, 1999). Em uma visita na central de receptoras da empresa, pôde ser observado um animal com grande volume de muco no lúmem uterino, característico de mucometra crônica. Foi indicada a drenagem do conteúdo, infusão uterina de antibiótico e antibiótico-terapia sistêmica. Vacas com endometrite ou piometra, o fluído endometrial pode ser incorretamente interpretado com fluídos de um feto e um diagnóstico incorreto de prenhez pode ocorrer (KASTELIC et al., 1988). Entretanto, se o técnico for bem treinado dificilmente vai confundir uma endometrite com uma gestação. Na gestação podem ser visualizadas estruturas como vesícula embrionária, membrana amniótica e alantoideana. Dos casos de diagnóstico de gestação precoce acompanhados durante todo estágio, houve 100% de precisão. 2.2.4 Ultra-sonografia no diagnóstico de prenhez e desenvolvimento fetal Em qualquer método de diagnostico de gestação em bovinos, o que principalmente interessa ao técnico na prática, ou seja, a maior atenção deve ser sempre dispensada às fêmeas não gestantes. É imprescindível que para cada um destes animais seja feito um exame minucioso de todo o genital seguido de uma recomendação de qual procedimento executar para tornar esta fêmea gestante o mais rápido possível. Neste quesito, a ultra-sonografia é insuperável, pois além de permitir um diagnóstico acurado e precoce, permite naquelas fêmeas não gestantes uma excelente avaliação de todo trato genital. Na prática, dois métodos são utilizados para diagnóstico imediato de prenhez na fêmea bovina: a palpação retal e a ultra-sonografia, mostrado na Figura 13 (ROMANO et al., 2006). FIGURA 13 - Figura ilustra a posição do transdutor no reto da fêmea bovina e a projeção do feixe de ultra-som para formar a imagem fetal. Fonte: PIERSON et al. (1988). A principal vantagem do uso da ultra-sonografia em relação à palpação retal é a detecção mais precoce da presença do concepto no útero. Além disso, a não manipulação direta do trato reprodutivo pela ultra-sonografia reduz também o risco de indução de morte embrionária de forma iatrogênica (BEAL et al., 1992). Nos casos acompanhados, a ultra-sonografia entrava sempre como uma ferramenta auxiliar para diagnóstico de prenhez, pois sempre era feito o diagnóstico por palpação retal antes e depois confirmado pela ultra-sonografia. A detecção da vesícula embrionária era realizada á partir dos 23 dias após a transferência do embrião. A facilidade na realização do diagnóstico de prenhez com auxilio do ultra-som proporcionou uma mínima manipulação do concepto, o que, com certeza, diminuía a perdas gestacionais. O diagnóstico precoce de prenhez é realizado pela detecção de uma discreta estrutura anecóica no interior do lúmen uterino, chamada de vesícula embrionária (Figura 14). FIGURA 14 - Imagem ultra-sonográfica de um útero gravídico, com visualização da vesícula embrionária no lúmen do órgão. Fonte: SANCHES (2007). O diagnóstico precoce de prenhez pode ser confirmado basicamente pelo alongamento da vesícula embrionária e pela presença do feto (Figura 15). FIGURA 15 - Imagem ultra- sonográfica de um útero gravídico de 32 dias, visualizável apenas a vesícula embrionária no lúmen do órgão. Fonte: SANCHES (2007). Segundo KÄHN (1994) a vesícula embrionária nos bovinos pode ser visualizada pela primeira vez aos 11,7 dias após a ovulação. No entanto, uma melhor acurácia só é vista a partir do 17º dia pós-ovulação, onde a vesícula embrionária pode ser visualizada no corno que a abriga, aparecendo como uma área anecóica, estreita e comprida no “corte” longitudinal, e circular no transversal (2 a 4 mm diâmetro) ( TOTEY, 1991). Até o 16o dia de gestação, a vesícula embrionária apresenta um processo de elongação e não está ocupando completamente o corno uterino, o qual apresenta fluido livre, confundindo o operador. O diagnóstico preciso após o 17o dia de gestação é fornecido pela utilização de transdutor de alta freqüência (7,5MHz), o qual apresenta um alto poder de resolução e melhora a qualidade da imagem (PETER, 1992). Entre os dias 17 e 20, as secções hipoecóicas da vesícula embrionária são visíveis em várias regiões do corno gravídico. Por volta do 19º dia, a expansão da vesícula é ainda maior e resulta na distensão óbvia do lúmen uterino, usualmente próxima ao meio do corno uterino gravídico na mesma área onde ela apareceu primeiro (KÄHN, 1994). BEAL et al. (1988) e KASTELIC et al. (1988) relataram que existem trabalhos reportando o diagnóstico por ultra-sonografia a partir do 11º dia de prenhez. Entretanto, trabalhos mais recentes confirmam que a detecção do embrião é somente 100% confiável após o 24º dia de gestação (ROSILES et al., 2005). O diagnóstico de prenhez com ultra-som geralmente não é acurado antes do 22º dia. Antes do 20º dia é difícil detectar conteúdo característico de gestação no interior do útero. O próprio embrião dificilmente pode ser detectado antes do 25º dia. Entre o 20º e 25º dia, o embrião está em íntima aposição ao endométrio e encontra-se circundado por uma pequena área circular de fluido (KASTELIC et al., 1988). Como o diagnóstico de prenhez era feito apenas com 30 dias de gestação e todos os diagnósticos eram de transferência de embrião, não foi possível à visualização da vesícula embrionária antes dessa data. Entretanto, o supervisor do estágio afirmou que ela pode ser visualizada com acurácia aos 26 dias de gestação. Nos diagnósticos de prenhez sempre se utilizavam o ultra-som com uma freqüência de 6.0 Mhz em aparelhos com freqüência que variam de 3.0 a 9.0 Mhz. Após o 25º dia, a detecção do fluido cório-alantóico é fortemente sugestiva de prenhez. No entanto, a detecção do próprio embrião, com o batimento cardíaco, é o método mais confiável de verificar a viabilidade do feto. Acima de 30 dias de gestação é possível a clara visualização do feto, que nesta fase se encontra mais distante (solto) do endométrio. Com aparelhos de boa resolução é fácil a percepção dos batimentos cardíacos e, com isto, identificar a viabilidade fetal (KASTELIC et al., 1988). A avaliação da viabilidade do feto era realizada com precisão por meio dos batimentos cardíacos e através da ausência de conteúdo ruminal dos embriões, com 30 dias de gestação. O rúmem é facilmente visualizado como uma área circular anecóica do lado esquerdo do embrião. Em condições de campo, um operador experiente, com um bom equipamento, deve ser capaz de detectar o embrião ao 28º dia, na maioria das vacas. O embrião localiza-se na base da primeira curvatura do corno uterino. Neste período, o embrião está acoplado à face dorsal do lume uterino. No estágio a visualização das porções e órgãos fetais pela ultrasonografia foi ocorrendo com o avançar da gestação, permitindo a avaliação de suas características semelhantes às citadas por WOLF e GABALDI (2002) conforme o Quadro 1. QUADRO 1 - Identificação e características observadas pela ultra-sonografia das estruturas fetais ao longo da gestação em bovinos. Estrutura Coração Alantóide Identificação 20 a 22 dias 23 a 27 dias Âmnion 30 dias Características Pulsatilidade Membrana hiperecóica com fluído (vesícula) Membrana Observação Fluído hipoecóico Hiperecogenicidade Cabeça 5a semana Cordão umbilical 5ª semana 3º mês Coluna espinhal 5ª semana 8ª semana 40 dias Estômagos hiperecóica com fluído (vesícula) Centros de ossificação Linha sinuosa hiperecóica 2 artérias e 2 veias Linha hiperecóica Vértebra individual Grande área anecóica Cavidade arredondada com o tempo Movimento Fácil visualização Secção transversal Secção sagital Secção transversal Determina posição fetal Secção transversal Órbitas oculares Cavidade craniana (ventrículos, cérebro e meninges) Bexiga urinária 40 dias 50 a 60 dias Estruturas oculares Membros anteriores e posteriores Ossos pélvicos 70 dias Cavidade oval Pequena área anecóica _ 10ª a 12ª semana Estruturas hiperecóicas Mensuração entre finais da diáfise 11ª a 12ª semana 2 pares de estruturas lineares hiperecóicas paralelas ao eixo longitudinal do corpo Válvulas e vasos Visualização do cone pélvico Câmaras cardíacas Fígado até 7º mês 60 dias 90 dias 3º mês Secção sagital Eco grosseiramente granular e grandes vasos sanguíneos Mandíbula 3º mês Rins _ Hipoécoica (anatomia própria) Fonte: adaptado de WOLF e GABALDI (2002) Difícil localização _ Movimento _ Entre osso ilíaco e última costela A identificação de vacas não prenhes mais precocemente melhora a eficiência reprodutiva do rebanho e a taxa de prenhez, porque diminui o intervalo entre os serviços (FRICKE, 2002). Como se trabalhava principalmente com receptoras de embriões, o diagnóstico de gestação era feito o mais precoce possível, então os animais que não emprenhavam, em torno de 60%, entravam no programa de transferência subseqüente, já que é normal na transferência de embriões de FIV, com índices de 30% de prenhez somente, sendo que essa é a media nacional do Brasil e, nesse caso, a prenhez é produto de vários fatores extrínsecos. 2.2.5 Uso da ultra-sonografia na sexagem fetal O desenvolvimento de aparelho de ultra-sonografia de alta resolução tem permitido a visualização do feto, com a determinação do sexo mais precocemente aos 49 dias de prenhez e na maioria dos casos entre o 56º e 60º dia de gestação (ALI, 2004). Durante o período de estágio, todas as sexagens fetais foram realizadas após os 56 dias de gestação, na maioria das vezes com 60 dias para facilitar a programação de viagens às fazendas. O tubérculo genital é a estrutura que dará origem ao pênis e ao prepúcio nos machos, à vulva e ao clitóris nas fêmeas, apresentando-se à ultrasonografia como uma estrutura bilobulada, com cada lobo alongado e ovóide, de poucos milímetros de tamanho e ecogenicidade intensa (CURRAN, 1992; KÄHN, 1994). Localiza-se inicialmente sobre a linha média, entre os membros posteriores e detectada a partir do 50º dia de gestação (CURRAN et al., 1986). Até esta idade não é possível detectar diferenças entre fetos macho ou fêmea. A partir do 55º dia de gestação, inicia-se a migração do tubérculo. Na fêmea o tubérculo genital migra a uma pequena distância em sentido posterior, ventral à base da cauda, antes das primeiras vértebras coccigenas (seta azul) como pode ser observados nas Figuras 16A e 16B, dando origem à vulva e ao clitóris. No macho, o tubérculo genital (seta vermelha) migra uma distância maior em sentido anterior, até imediatamente posterior ao cordão umbilical (seta azul) como nas Figuras 17A e 17B, e origina o pênis e o prepúcio. Acurado diagnóstico do sexo fetal é possível aproximadamente entre 55 e 90 dias de gestação ou mais tarde, desde que se tenha acesso para visualizar as áreas corretas (CURRAN et al., 1986; SANTOS et al., 2007). FIGURA 16 - Imagens ultra-sonográficas para sexagem fetal de gestação bovina: A e B - Fetos fêmeas, com vistas ventrais, em que observa as primeiras vértebras coccigenas (seta azul) e o tubérculo genital (seta vermelha). Fonte: UNTURA (2007). FIGURA 17 - Imagens ultra-sonográficas para sexagem fetal de gestação bovina: A e B - Fetos machos, com vistas ventrais, em que observa o cordão umbilical (seta azul) e o tubérculo genital (seta vermelha). Fonte: UNTURA (2007). Nos procedimentos de ultra-sonografia o tubérculo genital era facilmente visualizado como dois pontos hiperecogênicos após os 60 dias de gestação, na região posterior ao cordão umbilical nos machos e na região da base da cauda nas fêmeas. A acurácia das sexagens fetais durante o período de estágio foi de 100%. O processo de sexagem é confiável (BEAL et al., 1992) e a acurácia é de 97,3 %, segundo estudo conduzido por ALI (2004). ALI (2004) e BEAL et al. (1992) verificaram que o cordão umbilical é uma ótima referência para localização do tubérculo nos fetos machos. Entretanto, a identificação do clitóris na base da cauda é relativamente mais dificultada devido à quantidade de estruturas hiperecogênicas presentes nessa região, pois o tubérculo genital pode ser confundido com a cauda e a coluna vertebral, que são semelhantes em ecogenicidade e também bilobuladas. Durante o estágio o cordão umbilical era muito utilizado como referência para encontrar o tubérculo genital nos fetos machos. Também se encontrou certa dificuldade para diferenciar o tubérculo genital das vértebras coxigenas nos fetos fêmeas. Importante ressaltar que para a sexagem fetal, deve ser seguido o critério de localizar a cabeça, a cauda e o cordão umbilical antes do diagnóstico do sexo. Geralmente, a secção transversal ajuda na determinação do tubérculo genital e de pontos de referência como o úraco e as glândulas mamárias; já a secção frontal determina a localização relativa do tubérculo genital em relação às estruturas adjacentes (CURRAN, 1992). Em nenhum momento foi possível visualizar as glândulas mamárias nos casos acompanhados, mas, sem dúvida nenhuma, o melhor procedimento é a identificação da cabeça, cauda e cordão umbilical, respectivamente, antes da sexagem do feto. Segundo ALI (2004), o escroto no macho (Figura 18) e a glândula mamária na fêmea podem ser utilizados para a determinação do sexo do feto, a partir dos 70 dias de gestação. A ecogenicidade da glândula mamária, nesses casos, aumenta com a idade do feto. FIGURA 18 - Imagens ultra- sonográfica de um feto bovino macho. As setas “scr” indicam a bolsa escrotal e a seta “tes” aponta para os testículos. Observe que a bolsa ainda encontra-se vazia com as gônadas ainda presente na cavidade abdominal. Fonte: ALI (2004). Em alguns casos o escroto pode ser visualizado, principalmente em sexagens mais tardias, acima dos 80 dias. A possibilidade de determinação do sexo do feto diminui com o progresso da gestação, isso por que o feto de maior tamanho dificulta a manipulação do mesmo e do transdutor, para atingir a posição ótima para a visualização do sexo. Além disso, gestações mais adiantadas têm o feto projetado ventralmente, apoiando-se na cavidade abdominal, o que dificulta ainda mais o processo de sexagem (ALI, 2004). Não foi realizado nenhum diagnóstico do sexo fetal em animais com mais de 95 dias de gestação durante o período de estágio. Em alguns animais com gestação acima de quatro meses, em que foi realizada a ultra-sonografia, não foi possível a determinação do sexo pela dificuldade de manipulação e pela falta de interesse do proprietário, já que esse procedimento era cobrado e, nesse caso, os animais não tinham grande valor zootécnico. A determinação do sexo pode ser útil para a tomada de decisão do produtor principalmente sobre o manejo, devido ao acompanhamento mais preciso da evolução de rebanho (FRICKE, 2002). 2.2.6 Perda embrionária Outra aplicação da ultra-sonografia envolve a detecção da morte embrionária e o monitoramento dos eventos que culminam com a morte do concepto. Antes da detecção do batimento cardíaco, outros indícios podem determinar a morte embrionária, como o retardo no crescimento e o próprio desaparecimento do concepto (Figura 19). O batimento cardíaco pode ser visualizado próximo aos 21 dias de gestação (KASTELIC et al., 1988). FIGURA 19 - Imagem ultrasonográfica de um útero bovino que se encontrava gravídico, porém ocorreu morte embrionária, com desaparecimento do embrião e alterações na ecotextura da vesícula embrionária. Fonte: UNTURA (2007). Como já mencionado a determinação da viabilidade do embrião era realizada pela mensuração dos batimentos cardíacos e pela presença de conteúdo no rumem. Também se utilizavam parâmetros como tamanho do feto e, principalmente, a presença do mesmo. A retenção de um embrião não viável (morte embrionária) no interior do útero é normalmente acompanhada pela manutenção do corpo lúteo. Assim, quando diagnosticadas por ultra-sonografia, as fêmeas podem ser tratadas com drogas luteolíticas para regressão do corpo lúteo, diminuindo as concentrações de progesterona, acompanhado da expulsão do tecido embrionário e o retorno a ciclicidade (BEAL et al., 1992) Em todos os casos de morte com retenção embrionária que culminavam em algum tipo de infecção era indicado o tratamento com drogas luteolíticas e antibióticos, visando o retorno mais rápido possível do animal à atividade reprodutiva. Anteriormente, a detecção destas perdas não era possível, pois não havia um diagnóstico precoce de gestação, nem um método para se avaliar a viabilidade fetal. Com a ultra-sonografia, todas as imagens de gestação não fisiológicas levam a um diagnóstico presuntivo de morte embrionária ou fetal precoce (GINTHER, 1986). Vários parâmetros podem ser utilizados para esta avaliação: a) ecogenicidade no fluido vesicular - presença de células pela decomposição dos envoltórios embrionários (Figura 20); Figura 20 – Imagem ultrasonografica do útero embrionária celulares bovino. repleta de provenientes embrionária precoce. Fonte: UNTURA (2007). Vesícula debrides de morte b) ondulação do limite entre a vesícula embrionária e o endométrio redução da quantidade de líquido da vesícula embrionária; c) bradicardia do feto – sofrimento fetal; d) presença de secreções patológicas no lúmen uterino – infecção (Figura 21) (GINTHER, 1986; KÄHN, 1990). Figura 21- Imagem ultrasonografica do útero bovino preenchido com conteúdo purulento. Visualização de conteúdo hiperecogênico na luz do útero, característico de conteúdo purulento, resultante de infecção. Fonte: UNTURA (2007) Os parâmetros “a” e “b” perdem sua confiabilidade a partir do momento em que a vesícula embrionária adquire formas irregulares fisiológicas. Por este motivo, a monitorização ultra-sonográfica do feto é de fundamental importância para resguardar o profissional de possíveis erros de diagnóstico com apenas uma observação (MOURA, 1996). Com isso, a taxa de perda embrionária é considerada normal em 5%, aceitável em 8,2% a 10,6% e anormal acima de 10% (FORAR, 1995). No caso de embriões de FIV, e de acordo com critérios de classificação da empresa onde foi realizado o estágio, os índices são considerados normais com até 70% de perdas, aceitáveis com 80% e anormais acima de 90%. A maior taxa de perda embrionária em bovinos (21%) é detectada por volta do 16º ao 18º dias de prenhez, devido à falha do embrião em bloquear a luteólise entre os dias 11 e 17 (LULAI, 1994). Esta taxa pode variar com a categoria, 7 a 20% em novilhas e 9 a 12% em vacas, e com o período do ano, 18% na primavera e verão e, 9% no outono e inverno (GREGORY, 1996). Pôde ser constatado que a maior parte das perdas embrionárias ocorreu até os primeiros 30 dias de gestação. As perdas foram maiores durante o período da seca e vacas geralmente possuíam índices de prenhez superiores aos das novilhas. Em estágio mais avançado, os sinais mais evidentes de morte embrionária são parada dos batimentos cardíacos, separação das membranas fetais da mucosa uterina, perda da forma e aumento da ecogenicidade do embrião, diminuição dos líquidos fetais e presença de fragmentos nos líquidos (STROUD, 1994), quando podem ocorrer sintomas de estro e expulsão de debrides sólidos pela cérvix (KÄHN, 1994). Pode ocorrer também a mumificação fetal, onde o útero apresenta poucas informações ultra-sonográficas conclusivas, ficando o diagnóstico baseado nas características fetais: perda da identificação de partes do corpo do feto e diminuição da penetração das ondas sonoras no feto, formando uma área periférica hiperecogênica, com os tecidos profundos do feto não refletindo os ecos ultra-sonográficos, permanecendo anecóico (alteração na absorção do som). Também pode ser detectada a maceração fetal, onde o fluido amniótico tem sua ecogenicidade aumentada, resultado da desintegração dos tecidos fetais, as estruturas do feto são vagamente reconhecidas e apenas partes ósseas podem ser diferenciadas (KÄHN, 1994). 3 CONCLUSÃO Diante do que foi apresentado, conclui-se que a ultra-sonografia tem diversas aplicações na reprodução da fêmea bovina, no intuito de melhorar a eficiência reprodutiva dos rebanhos. Com o monitoramento ovariano é possível a avaliação sobre o ponto de vista da ciclicidade das fêmeas antes do início da estação de monta ou da inseminação artificial, e caso seja necessário, utilizar protocolos para estimular ou regular o eixo hipotálomo-hipófise-gonadal. Além disso, fêmeas que apresentarem cistos e outras patologias poderão ser tratadas e seus tratamentos comprovados posteriormente. Fêmeas utilizadas para produção de embriões in vitro, o monitoramento permite a avaliação dos protocolos de sincronização e estimulação. As vacas receptoras também poderão ser avaliadas quanto ao número de corpos lúteos e a ecogenicidade dos mesmos. Quanto ao monitoramento uterino, a ultrasonografia permite identificar vacas com patologias e auxiliar na avaliação de receptoras para transferência de embriões. O diagnóstico precoce de prenhez e a sexagem fetal auxilia o produtor na tomada de decisão e melhora o retorno econômico da atividade devido ao menor tempo para confirmação da prenhez e, conseqüentemente, menor tempo que as vacas não prenhes permanecem vazias. É claro que, devido ao alto investimento inicial para a aquisição desse equipamento, o diagnóstico por imagem é o futuro para o monitoramento do trato reprodutivo. Além disso, a cada dia torna-se necessário maior precisão nos serviços prestados pelos técnicos da área. Em vista disso, a ultra-sonografia deverá ocupar a maior parte do exame semio-técnico do trato reprodutivo das fêmeas bovinas e será uma ferramenta indispensável para qualquer profissional e produtor que desejar obter resultados zootécnico-econômicos satisfatórios. O estágio supervisionado na área de Biotecnologia da Reprodução animal, principalmente na área de ultra-sonografia, proporcionou um vasto aprendizado na área. A maioria das faculdades ainda não aprofunda o suficiente a respeito da biotecnologia reprodutiva, desta forma o aluno acaba saindo do ensino superior com pouco conhecimento na área. Então, o estágio supervisionado configura-se como uma ferramenta de suma importância para sanar esse tipo de deficiência. REFERÊNCIAS ALI, A. Effect of gestational age and fetal position on the possibility and accuracy of ultrasonographic fetal gender determination in dairy cattle. Reproduction in Domestic Animals, Berlim, v. 39, n. 3, p. 190-194, 2004. BEAL, W. E.; PERRY, R. C.; CORAH, L. R. The use of ultrasound in monitoring reproductive physiology of beef cattle. Journal Animal Science, Champaign, v. 70, n. 3, p. 924-929, 1992. CURRAN, S. Fetal sex determination in cattle and horses by ultrasonography. Theriogenology, v.37, n.1, p.17-21, 1992. CURRAN, S.; GINTHER, O. J. M-mode ultrasonic assessment of equine fetal heart rate. Theriogenology, v.44, p.609-17, 1995. CURRAN, S.; GINTHER, O. J. 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