O USO DA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA LÚCIA HELENA MANSANO Professora de Educação Física – Estado do Paraná MAURO MYSKIW Professor do Curso de Educação Física – UNIOESTE Resumo: A mídia tem se constituído como uma instância de produção de sentido dos discursos e das práticas cotidianas. Em vista disso, o objetivo deste trabalho foi verificar como a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de pequenas matérias nas aulas de Educação Física podem contribuir para uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de significados e representações que estão presentes nas aulas de Educação Física. A proposta foi implementada em um Colégio Estadual da cidade de Foz do Iguaçu – Paraná, numa turma de oitava série. A turma foi dividida em grupos, sendo que cada grupo escolheu um tema e investigou a relação entre as informações veiculadas na mídia e as aulas de Educação Física na Escola, tendo como foco seu tema. Utilizando filmagens, gravações, fotografias entre outras tecnologias de informação e comunicação, produziram pequenas matérias (apresentações). Essas matérias foram analisadas e interpretadas. Concluiu-se que os alunos conseguiram perceber uma relação entre os significados da Educação Física veiculados na mídia e os significados presentes nas aulas de Educação Física e no cotidiano (na comunidade), mas que tratou-se de uma apreensão do tipo diagnóstica (presença ou ausência), sem uma abordagem mais crítica a respeito das condições de produção. Constatou-se que os alunos não se sentem à vontade quando são instigados a refletir e formar um pensamento crítico antes de formularem suas conclusões. Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação; Educação Física; Mídia Abstract: The media has been formed as a forum for production of sense of speeches and daily practices. Therefore, the objective of this study was to see how the use of Information and Communication Technologies (ICT) and the production of materials in small classes of Physical Education can contribute to a critical understanding of the role of media in the construction of meanings and representations that are present in the classes of Physical Education. The proposal was implemented in a Public School in the city of Foz do Iguaçu – State of Parana, in a class of eighth grade. The class was divided into groups, each group chose a theme and investigated the relationship between information reported in the media and the classes of Physical Education at the School, taking as its theme focus. Using footage, recordings, photographs, among other information and communication technologies, materials produced small (presentations). These materials were analyzed and interpreted. It was concluded that the students managed to see a relationship between the meanings of Physical Education in the media and conveyed the meanings present in the classes of Physical Education and the everyday (the community) but that it was a seizure-type diagnosis (presence or absence), without a more critical about the conditions of production. It was found that students do not feel at ease when they are encouraged to reflect and form a critical thinking before formulating their conclusions. Keywords: Information Technology and Communication; Fitness; Media 1 INTRODUÇÃO Na sociedade contemporânea, a expansão dos aparatos tecnológicos fez da mídia uma das principais promotoras de sentidos dos discursos destinados a promover o estabelecimento de compreensões socialmente mediadas a respeito de questões do cotidiano (FISCHER, 1998). Diz-se, inclusive, que o aumento da importância da mídia está justamente no fato de que, para além de veiculadora de discursos (e, assim, promotora de sentidos), ela passou a ser a própria produtora dos discursos, dado seu enlaçamento com as diferentes esferas do poder político e econômico (RUBIM, 1994). Em relação aos significados sociais da Educação Física, certamente não é diferente. Percebe-se que a mídia1 registra crescente 1 O termo mídia é entendido como veículos de comunicação de massa (rádio, jornal, revista, televisão). Apesar de optar por essa dimensão tecnológica da definição de mídia, não entendemos ela como uma instituição que está desvinculada do contexto sócio-histórico (que estaria veiculando seus produtos de modo massificado, a um público numeroso e indistinto, geralmente referido pelo termo “audiência”, tal como alertou Gastaldo em 2002). importância no entendimento do que é ou não é a Educação Física, o que pode ser claramente verificado nas obras de Betti (1998, 2003) e Pires (2002). Como um mecanismo de mediação que se fundamenta no fato de oferecer significados ao esporte, ao exercício físico, ao corpo, a mídia põe em funcionamento inúmeras operações midiáticas que vão sendo tecidas de maneira muito complexa, mas que podem ter impacto na forma como os alunos pensam a Educação Física Escolar. Se há um tempo atrás era o professor de Educação Física quem tinha legitimidade (autoridade) para dizer o que é válido sobre o esporte, sobre os exercícios físicos e sobre o corpo, no ambiente escolar, parece que atualmente, em grande medida, essa legitimidade é também disputada com a mídia. O professor não pode mais ignorar que os alunos estão “repletos” de informações veiculadas pelos meios de comunicação, e que estas informações tem sido vivenciadas e concretizadas na Educação Física. Um exemplo bastante claro disso são as freqüentes tentativas dos jovens na imitação dos atletas, seja no modo como controlam a bola, como se vestem ou como cortam o cabelo. Pode residir aí um problema na medida em que a mídia veicula informações extremamente homogeneizadas e “restritas” (como afirma Bourdieu, 1997), porque ela produz seus programas, revistas, jornais, dentro de uma estrutura social que não está necessariamente preocupada com o caráter educativo da informação. Mergulhada no contexto econômico da cultura de consumo e regida pela ótica do mercado, mídia é também o conjunto de empresas (e cada uma delas) que produz e mercadoriza informação, entretenimento e publicidade, tripé sobre o qual, de forma interligada, se fundam as suas ações e interesses (FEATHERSTONE, 1994). Cabe, então, aos professores de Educação Física criar condições para que os alunos compreendam que as condições (sócio-culturais) de produção da mídia, isto é os seus objetivos e seu modo de funcionamento, têm impacto direto no tipo de informação que é veiculado. Vislumbrando uma forma de operacionalizar esse tipo de condição, este trabalho propôs uma experiência de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação2 (TIC’s), como um exercício de simulação da produção de pequenas matérias (reportagens, jornais, levantamentos) pelos alunos de uma turma de 8ª série do Ensino Fundamental de um Colégio Estadual da cidade de Foz do Iguaçu – Paraná. O propósito deste trabalho foi verificar como a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de pequenas matérias nas aulas de Educação Física podem contribuir para uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de significados e representações que estão presentes nas aulas de Educação Física. Sua relevância pode ser pensada (baseado no entendimento de Libâneo, 1998), como competências e atitudes de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, em efeitos didáticos. 2 MÍDIA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Para Betti (2003), a mídia, como fenômeno importante na cultura entre os jovens, ganha uma forte influência no campo pedagógico, tornando-se uma grande problemática para Educação, em especial para a Educação Física. Sendo de grande importância no mundo atual, tornase evidente sua influência no âmbito da cultura corporal de movimento, sugerindo diversas práticas corporais, reproduzindo-as, mas também as transformando e constituindo novos modelos de consumo. 2 As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) são compreendidas do mesmo modo que Bianchi (2008), isto é, como recursos e possibilidades utilizados para comunicar e obter informações que dispõem de amplos sistemas tecnológicos, de satélite e digitais de funcionamento, por exemplo: a informática e seus derivados, a televisão e mídia impressa, o sistema de telefonia e os sistemas de captação e gravação/registro de voz e imagens. A sociedade contemporânea registra um aumento do impacto da mídia na atribuição de sentido aos discursos e práticas sociais cotidianos, algo que também ocorrem em relação Educação Física, pois informações disponíveis na mídia são recolhidas e didaticamente transformadas em conteúdos para as aulas. Por isso, afirma Pires (2002), entende-se compromisso necessário e urgente o desenvolvimento de interações com o campo midiático em favor da formação dos cidadãos. Se cabe à Educação Física introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento (BETTI, 1998), há que se considerar que o consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte da cultura corporal contemporânea, e portanto, não pode ser ignorada, pelo contrário, deve ser objeto e meio de educação, visando instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com as mídias (BETTI, 2003). O professor, de acordo com Pires (2002), deve levar o aluno a compreender o sentido implícito e explícito das informações oferecidas pela mídia, contribuindo para formação de um receptor ativo, seletivo e autônomo em relação aos sentidos originais das mensagens midiáticas, reconstruindo seu próprio significado. Para isso, enfatizam Carvalho e Hatje (1996), é necessário o desenvolvimento de uma formação que aproxime a Educação Física e a Comunicação Social, desenvolvendo competências que possam contribuir para a intervenção educativa frente as informações veiculadas pela mídia. Isto porque, segundo Betti (1998), o esporte, a dança, as formas de ginásticas, tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo e objetos de conhecimento e informações, amplamente, divulgadas ao público em geral. Com o advento tecnológico, as pessoas estão se tornando telespectadores de esporte-espetáculo, vendo todos os lances do jogo, da corrida de carros, do ciclismo, do voleibol, através da televisão ou internet. Essa superexposição da Educação Física e dos seus conteúdos na mídia certamente elevou o nível de informação sobre a área. No entanto, a maioria dessas informações tem ficado a cargo de profissionais não especializados ou de pessoas que têm outros interesses que não são necessariamente os educativos (no sentido da emancipação), que emitem inúmeras informações equivocadas a respeito da Educação Física, como aponta Pires (2002). Por isso, entre outras competências, o professor deve ter habilidade de avaliar e proporcionar uma apreensão crítica das informações que são veiculadas sobre a Educação Física na mídia, caso contrário, estará apenas reproduzindo discursos que nada interessam ou até mesmo atrapalham a formação dos sujeitos. Trata-se de um grande desafio que já tem sido alvo de esforços de alguns pesquisadores. Batista e Betti (2005) trabalharam com a dimensão de atitudes e valores em uma turma de 3a série do ensino fundamental, utilizando um desenho animado cujo enredo se desenrolava em torno de uma fraude ocorrida em uma competição. Oliveira e Pires (2005) propiciaram a inserção de meios técnicos na produção de imagens no âmbito escolar, viabilizando produções videográficas por parte de alunos/as de 7a e 8a séries do ensino fundamental. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A proposta de utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) na produção de matérias nas aulas de Educação Física foi implementada em um Colégio Estadual da cidade de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, no período de março a agosto. A turma escolhida para a efetivação da proposta foi uma oitava série, por demonstrar dinamismo e envolvimento na realização de trabalhos. Essa turma foi composta de 30 alunos, com faixa etária entre 14 e 17 anos. Em um primeiro momento foi realizado um debate sobre o que vem a ser mídia no sentido mais amplo da palavra e sua relação com a educação física (cultura corporal de movimento). Num segundo momento, a turma foi dividida em pequenos grupos, sendo que cada grupo escolheu um tema para a realização de investigações e para a produção de uma matéria utilizando Tecnologias de Informação e Comunicação. Foram apresentadas algumas possibilidades de temas (como indumentária, gestos técnicos, comemorações, sons, músculos, regras do jogo, influência dos esportes e relações de gêneros), mas deixando claro que se tratava de sugestões e que outros temas poderiam ser escolhidos. Após terem escolhidos os temas, cada grupo foi orientado a investigar a relação entre as informações veiculadas na mídia e as aulas de Educação Física na Escola. Poderiam desenvolver suas pesquisas através de filmagens, gravações, fotografias e o que mais lhes ajudassem na coleta de dados tanto na mídia, como também nas aulas práticas de Educação Física da turma. Foram colhidas as autorizações com os pais, informando estes sobre o uso de imagem do educando. Para a finalização das pesquisas foi sugerido apresentação de pequenos vídeos, telejornal ou trabalhos impressos, resultado das investigações e das relações estabelecidas pelos grupos de alunos. Após as apresentações dos trabalhos, estes foram recolhidos e analisados. Para desenvolver essa análise (que está inserida no próximo item deste artigo), num primeiro foi feita uma descrição sobre como ocorreu a apresentação (organização, materiais, métodos). Na seqüência foi desenvolvida uma interpretação da apresentação feita com base nos seu objetivo geral, especialmente sobre a contribuição para uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de significados que estão presentes nas aulas de Educação Física. Por último, realizou-se uma breve discussão destes resultados em vista da fundamentação teórica apresentada anteriormente. 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DA EXPERIÊNCIA A apresentação e a discussão dos resultados do presente trabalho de intervenção foi organizada em sub-capítulos. Cada um estes capítulos representa o esforço de investigação e apresentação dos alunos sobre uma temática (regras, indumentária, gênero, esporte como conteúdo e comemorações/festas esportivas). Os resultados dessas investigações dos alunos são apresentados neste momento do trabalho, procurando verificar como eles utilizaram Tecnologias de Informação e Comunicação divulgadas para os colegas. na produção Também de buscou matérias verificar a serem se isso proporcionou uma visão mais crítica sobre o papel da mídia na construção dos significados que estão presentes nas aulas de Educação Física. Esses resultados são apresentados em relação a cada um dos grupos 3.1 Grupo 1: as regras do esporte O tema abordado por este grupo foi as regras do esporte. Fizeram a pesquisa sobre as regras dos jogos/esportes trabalhados na disciplina de Educação Física durante o ano, especificamente o futsal, basquetebol, handebol e voleibol. Nessa investigação realizada pelos alunos ficou mais evidente para eles as mudanças das regras do voleibol (retirada da vantagem, a inclusão do tempo técnico ou o tempo da TV e a inclusão do líbero). A apresentação dos dados levantados pelos alunos nas pesquisas realizadas por eles foi feita através do software Power-Point (da Microsoft). Nessa apresentação o enfoque foi sobre as regras das modalidades atuais, deixando de lado a relação dessas regras, precisamente de suas mudanças, com a mídia. O entendimento sobre o que é a mídia, no caso deste grupo, ficou restrito à Televisão que foi citada quando eles se referiam às modalidades de voleibol e futebol de campo. Porém, estas citações não foram realizadas durante a apresentação do trabalho, mas em outro momento quando se discutiu a influência da mídia nas aulas de Educação Física. A relação entre a mídia e seu poder na determinação dos comportamentos sociais não foi abordado neste trabalho que tematizou as regras, justamente porque o grupo se dedicou mais em apresentar as regras, raramente fazendo a relação entre estas regras e a mídia. Essa situação também não permitiu uma reflexão sobre o impacto da mídia nas regras adotadas nas aulas de Educação Física. Em apenas um momento foi argumentado que as regras são automaticamente adotadas nas aulas, sem muita discussão sobre o porque destas ou daquelas regras. Percebe-se, portanto, que este grupo não realizou uma abordagem mais crítica sobre a mídia, especialmente no momento da apresentação do trabalho sobre as regras. No entanto, esse tipo de abordagem é necessária e fundamental para o professor de Educação Física, pois, segundo Belloni (2001) a mídia distribui imagens e linguagens, construindo sistematicamente o imaginário de muitos jovens, oferecendo representações, significados estereotipando através valores, dos mitos, normas e símbolos modelos e de comportamentos socialmente dominantes. 3.2 Grupo 2: indumentária esportiva O segundo grupo teve como tema a análise da indumentária. Pesquisaram na internet, coletando dados e pequenos vídeos, na televisão através de observação e em revistas esportivas, selecionando fotos e anúncios. A partir do material coletado, iniciaram a pesquisa prática, coletando imagens dos alunos, mediante fotografias digitais, registrando as vestimentas e calçados. Na seqüência, compararam o material que já tinham em mãos, proveniente das pesquisas. A apresentação da conclusão do trabalho realizado pelo grupo foi bastante interessante, pois produziram um pequeno vídeo, comparando a indumentária usada por atletas profissionais e de destaque na mídia com a utilizada pelos colegas da turma nas aulas de Educação Física. Puderam observar uma grande semelhança entre as marcas e modelos que “circulam” na mídia em relação ao que os colegas de turma e eles mesmos usam no dia-a-dia, principalmente dos tênis e camisetas utilizados pelos estudantes. Não podemos deixar de citar aqui a facilidade que têm em relação à aquisição de marcas com alto valor de mercado pela proximidade com o Paraguai, considerado nessa região como “vitrine” de grandes marcas. Observaram o alto alcance da mídia e seu poder na determinação de comportamentos sociais nos momentos de discussão e concluíram que não só eles, mas a comunidade onde vivem sofre forte influência dos meios de comunicação, principalmente televisão e outdoors. No caso desse grupo a pesquisa e a apresentação dos resultados foi mais clara e crítica sobre a mídia e a Educação Física. Isso é muito importante porque a mídia é grande formadora de opinião nesses tempos, e se não nos atentarmos para isso nas aulas de Educação Física Escolar, segundo Betti (1998), o caráter mercantilista da educação destrói a autonomia do sujeito, pois, tudo está voltado para a lei do mercado. 3.3 Grupo 3: relações de gênero A terceira equipe abordou as relações de gênero, também fazendo uma relação com aspectos que estão presentes na mídia e no próprio ambiente da aula de Educação Física. Para tanto, os alunos pesquisaram em jornais, revistas, programas esportivos de televisão e também na internet. Analisaram formação de equipes, campeonatos e torneios existentes na cidade, na região e no Estado do Paraná, ampliando posteriormente para torneios nacionais e internacionais de diversas modalidades. Na conclusão apresentaram o trabalho sob forma de vídeos e planilhas expostas no terminal do computador, mostrando alguns torneios pesquisados, e também materiais de vídeo coletado nas aulas de Educação Física da turma. Foi a pesquisa mais rápida e de fácil entendimento da pouca influência que a mídia exerce nas relações de gênero. Ao aproximar o campo dos esportes visualizados nos meios de comunicação de massa, ficou bastante evidente para os alunos deste grupo que somente nas aulas de Educação Física não acontece uma divisão tão forte e deliberada entre os gêneros masculino e feminino, pois em qualquer torneio, por mais amador que se apresente, as relações ficam evidentes, times femininos e masculinos, não havendo integração, como é comum no espaço escolar. Mas o que acontece na Educação Física Escolar, perceberam os alunos, não acontece nas atividades esportivas da comunidade. Na relação da comunidade puderam observar que existe sim uma maior relação entre o que a mídia apresenta e o comportamento social das pessoas envolvidas em pequenos jogos, sempre com a preocupação de dividir equipes, onde o sexo feminino quase nunca tem espaço. As relações de gênero podem ser discutidas e vivenciadas pela Educação Física enriquecendo a disciplina, pois, segundo Thompson (1998) ao mesmo tempo em que se faz uma análise crítica da mídia, também se pode utilizar da riqueza de informações que ela traz para dinamizar os conteúdos a serem trabalhados, entrando num espaço de grande interesse para os alunos. 3.4 Grupo 4: esporte e conteúdo O quarto grupo discorreu sobre a relação entre o tipo de esporte veiculado na mídia e o tipo de esporte presente no próprio ambiente escolar, especialmente nas aulas de Educação Física que vivenciaram. A pesquisa desta equipe contou com observações de jogos de campeonatos nacionais, de diversas modalidades. Também coletaram pequenos vídeos sobre esportes disponíveis na internet e colheram reportagens de jornais impressos. Para coletar e apresentar informações sobre a Escola, os alunos deste grupo registraram imagens de colegas em fotografias digitais e fizeram pequenas entrevistas com os alunos do colégio, isto acerca dos esportes. A exposição desse material pesquisado (nos meios de comunicação de massa e no ambiente escolar) foi realizada de forma impressa, com destaque para a riqueza de imagens. Foi possível constatar que os alunos do grupo perceberam que a mídia enfoca muito o futebol nas suas divulgações (em virtude de uma audiência garantida), algo que também pode acontecer nas aulas de Educação Física (em virtude da participação dos alunos) se o professor não estiver atendo. Isso ficou bastante evidente para o grupo, quando perceberam, principalmente em suas pequenas entrevistas, que se o professor da disciplina deixasse seus direcionamentos de conteúdos a cargo dos alunos, só teriam futsal nas aulas práticas, em virtude de não possuírem campo para o futebol, transferindo a paixão nacional para o espaço restrito das quadras. Dessa constatação, os alunos puderam compreender o grande empenho dos professores de Educação Física da escola em mostrar e tentar fazer seus alunos se interessarem por outros esportes, porém os apelos da mídia sobressaem de maneira incontestável. Tais apelos são bastante claros, conforme os alunos, quando determinados outros esportes como o voleibol, a natação ou o atletismo estão mais “na mídia” e atraem mais a atenção dos alunos nas aulas de Educação Física. Porém, constataram os alunos, tão logo termina essa exposição, o interesse cai novamente no esquecimento do público em geral (e dos alunos), pois o destaque volta a ser o futebol, e toda a milionária publicidade que é feita em torno de seus feitos e riquíssimos pagamentos. Essas constatações feitas pelos alunos lhes permitiram perceber, em maior ou menor grau, que os esporte que “circulam” nas aulas de Educação Física, estão relacionados aos esportes que “circulam” na mídia. Daí a necessidade de não se compreender a Educação Física como tão somente uma disciplina técnica, mas de uma abordagem crítica. Isso se faz necessário, segundo Betti (1998), porque já não é possível referir-se ao esporte sem associá-lo aos meios de comunicação de massa (para os quais o autor utilizou o termo mídia). Nesta sociedade do futuro que se iniciam agora, afirma Belloni (2001), as máquinas “inteligentes” povoaram cada vez mais o cotidiano e por conseqüência o campo da educação. Os jovens, em sua maioria, consideram que aprendem algo importante e sério pela televisão. Para eles, a telinha tem uma legitimidade, como fonte de saber, semelhante à da escola, sendo reconhecida como ator importante pelos próprios sujeitos desse complexo processo de socialização. 3.5 Grupo 5: regras do jogo O quinto grupo repetiu o tema regras do jogo, porém apresentou seu trabalho impresso, o que deu a eles uma compreensão mais aprofundada sobre a mídia e seus efeitos na determinação das regras. Fizeram a pesquisa sobre as regras dos jogos/esportes trabalhados na disciplina de Educação Física durante o ano, como: futsal, basquetebol, handebol e voleibol. Utilizaram todos os meios de comunicação disponíveis, como internet, livros de regras dos esportes, jornais, revistas e televisão. A forma impressa de apresentação permitiu melhor disponibilidade de espaço para a pesquisa, não tendo a necessidade de condensar os conteúdos, como na apresentação dos slides do grupo um. De forma um pouco mais clara que o primeiro grupo conseguiu definir o entendimento sobre o que é a mídia, não ficando restrito somente ao meio televisivo. Apesar de grande parte de o trabalho ser voltado para essa mídia (TV), em função das muitas mudanças de regras terem ocorridas para beneficiar as transmissões desse meio de comunicação, não só em função de tempo, mas também conseguir maior atenção de seus telespectadores, com jogos mais dinâmicos e atraentes. No caso específico deste grupo, os alunos captaram com maior propriedade a influência da mídia nas regras dos jogos em geral, ficando claro para eles que o espaço escolar capta essas alterações de forma natural, sem maiores estudos sobre as mudanças. Concluíram que o espaço escolar está midiatizado, muitas vezes em função dos próprios alunos trazerem essas informações para a escola. Essas foram percepções importantes dos alunos do grupo, pois segundo Silverstone (2002) o espaço cotidiano está midiatizado. Nesta sociedade os recursos midiáticos ocupam um lugar de destaque e estão presentes de forma ativa, no processo de formação do indivíduo. Influenciam as escolhas, os gostos, o “olhar” perante os diferentes acontecimentos sociais, portanto é de grande valia se promover estudos acerca desta problemática. 3.6 Grupo 6: comemorações O sexto e último grupo teve sua pesquisa voltada para as comemorações esportivas. Iniciaram capturando imagens da internet, jornais e revistas das formas de comemoração efetivadas por cada torcida, seus gestos e movimentações coletivas, principalmente ocorridas em estádios de futebol e quadras esportivas onde acontecem grandes torneios estaduais e nacionais, em seguida coletaram imagens fotografadas com câmera digital e pequenas filmagens das aulas de educação física, as movimentações coletivas que ocorrem quando uma ou outra equipe marca pontos, e as comemorações ocorridas ao final de cada partida, principalmente do período dos jogos inter-salas. Mostraram o resultado de sua pesquisa através de vídeos comparativos produzidos por eles. Os alunos deste grupo realizaram um rico esforço de comparação entre o que a mídia nos mostra e o que acontece na escola e na sociedade em geral. A conclusão dessas comparações foi que pouco existe de comum entre os movimentos coletivos dos grandes torneios mostrados pela mídia e os ocorridos no ambiente escolar. Por isso, ao final consideraram pequena a influência que a mídia exerce sobre os momentos de conquista dos times, e também não verificaram influência da mídia nas aulas de Educação Física com relação às comemorações. Este foi o grupo que mais surpreendeu a turma, pois todos acreditavam que a mídia exercia seu poder também sobre as torcidas, principalmente no ambiente escolar, o que ficou provado pelas imagens coletadas pelo grupo que isso não ocorre de fato, salvo raras exceções. As imagens apresentadas, que evidenciaram essa diferença das comemorações veiculadas na mídia e aquelas encontradas na escola foram principalmente as grandes “ondas”, ou “olas” que as grandes torcidas realizam, e também os ensaios de cantos e nomes de jogadores que propiciam ao telespectador um momento ímpar de emoção ao comemorar as vitórias de seus times; já na escola as imagens de comemorações das conquistas dos times se restringem a gritos e principalmente pulos para o alto, geralmente agrupados em quatro ou cinco alunos. O entendimento sobre a mídia ficou restrito à televisão, por ser o único meio de comunicação que mostra as imagens das torcidas em tempo real, e suas reações nos momentos decisivos dos grandes eventos esportivos. Essa restrição, no entanto, não é negativa, justamente porque a relação esporte-televisão, conforme Betti (1998), vem alterando, progressivamente e rapidamente, a maneira como praticamos e percebemos o esporte. A televisão modificou a audiência do esporte em todo mundo, e forçou-o a um papel de dependência conforme o tornou menos capaz de substituir com espectadores ao vivo, dependendo do patrocínio resultante das transmissões televisivas. Por isso, abordar essa temática da mídia na disciplina de Educação Física se torna tão importante, pois segundo Betti (2003) o consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte da cultura corporal contemporânea e, portanto, não pode ser ignorada; pelo contrário, deve ser objeto e meio de educação, visando instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com as mídias. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O propósito deste trabalho foi verificar como a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de matérias nas aulas de Educação Física podem contribuir para uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de significados que estão presentes nas aulas de Educação Física. Em relação a isso, após realizada a implementação da proposta, a apresentação dos trabalhos pelos grupos de alunos e a análise da produção (das pequenas matérias), foi possível concluir que: − Os alunos conseguiram perceber uma relação entre os significados da Educação Física veiculados na mídia e os significados presentes nas aulas de Educação Física e no cotidiano (na comunidade), mas que tratou-se de uma apreensão do tipo diagnóstica (presença ou ausência), sem uma abordagem mais crítica a respeito das condições de produção. Constatou-se que os alunos não se sentem à vontade quando são instigados a refletir e formar um pensamento crítico antes de formularem suas conclusões; − A estratégia de utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação pode ser utilizada como maneira de promover uma leitura mais atenta dos alunos sobre os conteúdos presentes na mídia, mas que a implementação deste tipo de proposta deve ser mais prolongado, com outras etapas, envolvendo a interpretação dos alunos sobre o próprio material produzido. Esse tipo de abordagem interpretativa requer também um processo de aprendizagem; e − Ao final das apresentações tornou-se gratificante perceber que a turma construiu o conhecimento, investigando, pesquisando e criando novos meios de mostrar suas produções para os colegas, saindo da rotina das aulas. Como sugestões para futuras intervenções podem considerar duas possibilidades. A primeira seria a discussão sobre o que vem a ser mídia após a conclusão das pesquisas realizadas, fazendo amarração com os conteúdos estudados. Uma segunda proposta, e talvez bem mais interessante, seria como foi elaborada esta, porém fazendo nova discussão com o grande grupo sobre a mídia e suas influências no cotidiano escolar, não só em relação aos temas pesquisados, mas abrangendo maiores possibilidades. Porém esta última demanda de um tempo um pouco maior. 6 REFERÊNCIAS BATISTA, S. R.; BETTI, M. A televisão e o ensino da educação física na escola: uma proposta de intervenção. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n.2, p. 7-180, jan., 2005. BELLONI, M. L. O que é mídia-educação: polêmicas do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 2001. BETTI, M. A janela de vidro: a televisão e educação física. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1998. BETTI, M. Educação física escolar: do idealismo à pesquisa-ação. 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