3 apresentação e discussão dos resultados

Propaganda
O USO DA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
LÚCIA HELENA MANSANO
Professora de Educação Física – Estado do Paraná
MAURO MYSKIW
Professor do Curso de Educação Física – UNIOESTE
Resumo: A mídia tem se constituído como uma instância de produção
de sentido dos discursos e das práticas cotidianas. Em vista disso, o
objetivo deste trabalho foi verificar como a utilização de Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de pequenas matérias
nas aulas de Educação Física podem contribuir para uma compreensão
crítica do papel da mídia na construção de significados e
representações que estão presentes nas aulas de Educação Física. A
proposta foi implementada em um Colégio Estadual da cidade de Foz do
Iguaçu – Paraná, numa turma de oitava série. A turma foi dividida em
grupos, sendo que cada grupo escolheu um tema e investigou a relação
entre as informações veiculadas na mídia e as aulas de Educação Física
na Escola, tendo como foco seu tema. Utilizando filmagens, gravações,
fotografias entre outras tecnologias de informação e comunicação,
produziram pequenas matérias (apresentações). Essas matérias foram
analisadas e interpretadas. Concluiu-se que os alunos conseguiram
perceber uma relação entre os significados da Educação Física
veiculados na mídia e os significados presentes nas aulas de Educação
Física e no cotidiano (na comunidade), mas que tratou-se de uma
apreensão do tipo diagnóstica (presença ou ausência), sem uma
abordagem mais crítica a respeito das condições de produção.
Constatou-se que os alunos não se sentem à vontade quando são
instigados a refletir e formar um pensamento crítico antes de
formularem suas conclusões.
Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação; Educação
Física; Mídia
Abstract: The media has been formed as a forum for production of
sense of speeches and daily practices. Therefore, the objective of this
study was to see how the use of Information and Communication
Technologies (ICT) and the production of materials in small classes of
Physical Education can contribute to a critical understanding of the role
of media in the construction of meanings and representations that are
present in the classes of Physical Education. The proposal was
implemented in a Public School in the city of Foz do Iguaçu – State of
Parana, in a class of eighth grade. The class was divided into groups,
each group chose a theme and investigated the relationship between
information reported in the media and the classes of Physical Education
at the School, taking as its theme focus. Using footage, recordings,
photographs,
among
other
information
and
communication
technologies, materials produced small (presentations). These materials
were analyzed and interpreted. It was concluded that the students
managed to see a relationship between the meanings of Physical
Education in the media and conveyed the meanings present in the
classes of Physical Education and the everyday (the community) but
that it was a seizure-type diagnosis (presence or absence), without a
more critical about the conditions of production. It was found that
students do not feel at ease when they are encouraged to reflect and
form a critical thinking before formulating their conclusions.
Keywords: Information Technology and Communication; Fitness; Media
1 INTRODUÇÃO
Na
sociedade
contemporânea,
a
expansão
dos
aparatos
tecnológicos fez da mídia uma das principais promotoras de sentidos
dos
discursos
destinados
a
promover
o
estabelecimento
de
compreensões socialmente mediadas a respeito de questões do
cotidiano (FISCHER, 1998). Diz-se, inclusive, que o aumento da
importância da mídia está justamente no fato de que, para além de
veiculadora de discursos (e, assim, promotora de sentidos), ela passou a
ser a própria produtora dos discursos, dado seu enlaçamento com as
diferentes esferas do poder político e econômico (RUBIM, 1994).
Em
relação
aos
significados
sociais
da
Educação
Física,
certamente não é diferente. Percebe-se que a mídia1 registra crescente
1
O termo mídia é entendido como veículos de comunicação de massa (rádio, jornal,
revista, televisão). Apesar de optar por essa dimensão tecnológica da definição de
mídia, não entendemos ela como uma instituição que está desvinculada do contexto
sócio-histórico (que estaria veiculando seus produtos de modo massificado, a um
público numeroso e indistinto, geralmente referido pelo termo “audiência”, tal como
alertou Gastaldo em 2002).
importância no entendimento do que é ou não é a Educação Física, o
que pode ser claramente verificado nas obras de Betti (1998, 2003) e
Pires (2002). Como um mecanismo de mediação que se fundamenta no
fato de oferecer significados ao esporte, ao exercício físico, ao corpo, a
mídia põe em funcionamento inúmeras operações midiáticas que vão
sendo tecidas de maneira muito complexa, mas que podem ter impacto
na forma como os alunos pensam a Educação Física Escolar.
Se há um tempo atrás era o professor de Educação Física quem
tinha legitimidade (autoridade) para dizer o que é válido sobre o
esporte, sobre os exercícios físicos e sobre o corpo, no ambiente
escolar, parece que atualmente, em grande medida, essa legitimidade é
também disputada com a mídia. O professor não pode mais ignorar que
os alunos estão “repletos” de informações veiculadas pelos meios de
comunicação,
e
que
estas
informações
tem
sido
vivenciadas
e
concretizadas na Educação Física. Um exemplo bastante claro disso são
as freqüentes tentativas dos jovens na imitação dos atletas, seja no
modo como controlam a bola, como se vestem ou como cortam o cabelo.
Pode residir aí um problema na medida em que a mídia veicula
informações extremamente homogeneizadas e “restritas” (como afirma
Bourdieu, 1997), porque ela produz seus programas, revistas, jornais,
dentro de
uma
estrutura social que não está necessariamente
preocupada com o caráter educativo da informação. Mergulhada no
contexto econômico da cultura de consumo e regida pela ótica do
mercado, mídia é também o conjunto de empresas (e cada uma delas)
que produz e mercadoriza informação, entretenimento e publicidade,
tripé sobre o qual, de forma interligada, se fundam as suas ações e
interesses (FEATHERSTONE, 1994).
Cabe, então, aos professores de Educação Física criar condições
para que os alunos compreendam que as condições (sócio-culturais) de
produção da
mídia,
isto é
os seus objetivos
e seu
modo de
funcionamento, têm impacto direto no tipo de informação que é
veiculado. Vislumbrando uma forma de operacionalizar esse tipo de
condição, este trabalho propôs uma experiência de utilização das
Tecnologias de Informação e Comunicação2 (TIC’s), como um exercício
de simulação da produção de pequenas matérias (reportagens, jornais,
levantamentos) pelos alunos de uma turma de 8ª série do Ensino
Fundamental de um Colégio Estadual da cidade de Foz do Iguaçu –
Paraná.
O propósito deste trabalho foi verificar como a utilização de
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de
pequenas matérias nas aulas de Educação Física podem contribuir para
uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de
significados e representações que estão presentes nas aulas de
Educação Física. Sua relevância pode ser pensada (baseado no
entendimento de Libâneo, 1998), como competências e atitudes de
comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais)
dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender,
implicando, portanto, em efeitos didáticos.
2 MÍDIA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Para Betti (2003), a mídia, como fenômeno importante na cultura
entre os jovens, ganha uma forte influência no campo pedagógico,
tornando-se uma grande problemática para Educação, em especial para
a Educação Física. Sendo de grande importância no mundo atual, tornase evidente sua influência no âmbito da cultura corporal de movimento,
sugerindo diversas práticas corporais, reproduzindo-as, mas também as
transformando e constituindo novos modelos de consumo.
2
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) são compreendidas do mesmo
modo que Bianchi (2008), isto é, como recursos e possibilidades utilizados para
comunicar e obter informações que dispõem de amplos sistemas tecnológicos, de
satélite e digitais de funcionamento, por exemplo: a informática e seus derivados, a
televisão e mídia impressa, o sistema de telefonia e os sistemas de captação e
gravação/registro de voz e imagens.
A sociedade contemporânea registra um aumento do impacto da
mídia na atribuição de sentido aos discursos e práticas sociais
cotidianos, algo que também ocorrem em relação Educação Física, pois
informações disponíveis na mídia são recolhidas e didaticamente
transformadas em conteúdos para as aulas. Por isso, afirma Pires
(2002),
entende-se
compromisso
necessário
e
urgente
o
desenvolvimento de interações com o campo midiático em favor da
formação dos cidadãos.
Se cabe à Educação Física introduzir e integrar o aluno na
cultura corporal de movimento (BETTI, 1998), há que se considerar que
o consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte
da cultura corporal contemporânea, e portanto, não pode ser ignorada,
pelo
contrário,
deve
ser
objeto
e
meio
de
educação,
visando
instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com
as mídias (BETTI, 2003).
O professor, de acordo com Pires (2002), deve levar o aluno a
compreender o sentido implícito e explícito das informações oferecidas
pela mídia, contribuindo para formação de um receptor ativo, seletivo e
autônomo em relação aos sentidos originais das mensagens midiáticas,
reconstruindo seu próprio significado. Para isso, enfatizam Carvalho e
Hatje (1996), é necessário o desenvolvimento de uma formação que
aproxime a Educação Física e a Comunicação Social, desenvolvendo
competências que possam contribuir para a intervenção educativa
frente as informações veiculadas pela mídia.
Isto porque, segundo Betti (1998), o esporte, a dança, as formas
de ginásticas, tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo e objetos
de conhecimento e informações, amplamente, divulgadas ao público em
geral. Com o advento tecnológico, as pessoas estão se tornando
telespectadores de esporte-espetáculo, vendo todos os lances do jogo,
da corrida de carros, do ciclismo, do voleibol, através da televisão ou
internet.
Essa superexposição da Educação Física e dos seus conteúdos
na mídia certamente elevou o nível de informação sobre a área. No
entanto, a maioria dessas informações tem ficado a cargo de
profissionais não especializados ou de pessoas que têm outros
interesses que não são necessariamente os educativos (no sentido da
emancipação),
que emitem inúmeras informações
equivocadas a
respeito da Educação Física, como aponta Pires (2002). Por isso, entre
outras competências, o professor deve ter habilidade de avaliar e
proporcionar uma apreensão crítica das informações que são veiculadas
sobre a Educação Física na mídia, caso contrário, estará apenas
reproduzindo discursos que nada interessam ou até mesmo atrapalham
a formação dos sujeitos.
Trata-se de um grande desafio que já tem sido alvo de esforços de
alguns pesquisadores. Batista e Betti (2005) trabalharam com a
dimensão de atitudes e valores em uma turma de 3a série do ensino
fundamental,
utilizando
um
desenho
animado
cujo
enredo
se
desenrolava em torno de uma fraude ocorrida em uma competição.
Oliveira e Pires (2005) propiciaram a inserção de meios técnicos na
produção de imagens no âmbito escolar, viabilizando produções
videográficas por parte de alunos/as de 7a e 8a séries do ensino
fundamental.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A proposta de utilização de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC’s) na produção de matérias nas aulas de Educação
Física foi implementada em um Colégio Estadual da cidade de Foz do
Iguaçu, Estado do Paraná, no período de março a agosto. A turma
escolhida para a efetivação da proposta foi uma oitava série, por
demonstrar dinamismo e envolvimento na realização de trabalhos. Essa
turma foi composta de 30 alunos, com faixa etária entre 14 e 17 anos.
Em um primeiro momento foi realizado um debate sobre o que
vem a ser mídia no sentido mais amplo da palavra e sua relação com a
educação física (cultura corporal de movimento). Num segundo
momento, a turma foi dividida em pequenos grupos, sendo que cada
grupo escolheu um tema para a realização de investigações e para a
produção de uma matéria utilizando Tecnologias de Informação e
Comunicação. Foram apresentadas algumas possibilidades de temas
(como indumentária, gestos técnicos, comemorações, sons, músculos,
regras do jogo, influência dos esportes e relações de gêneros), mas
deixando claro que se tratava de sugestões e que outros temas
poderiam ser escolhidos.
Após terem escolhidos os temas, cada grupo foi orientado a
investigar a relação entre as informações veiculadas na mídia e as aulas
de Educação Física na Escola. Poderiam desenvolver suas pesquisas
através de filmagens, gravações, fotografias e o que mais lhes
ajudassem na coleta de dados tanto na mídia, como também nas aulas
práticas de Educação Física da turma. Foram colhidas as autorizações
com os pais, informando estes sobre o uso de imagem do educando.
Para a finalização das pesquisas foi sugerido apresentação de pequenos
vídeos, telejornal ou trabalhos impressos, resultado das investigações e
das relações estabelecidas pelos grupos de alunos.
Após as apresentações dos trabalhos, estes foram recolhidos e
analisados. Para desenvolver essa análise (que está inserida no próximo
item deste artigo), num primeiro foi feita uma descrição sobre como
ocorreu
a
apresentação
(organização,
materiais,
métodos).
Na
seqüência foi desenvolvida uma interpretação da apresentação feita
com base nos seu objetivo geral, especialmente sobre a contribuição
para uma compreensão crítica do papel da mídia na construção de
significados que estão presentes nas aulas de Educação Física. Por
último, realizou-se uma breve discussão destes resultados em vista da
fundamentação teórica apresentada anteriormente.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DA EXPERIÊNCIA
A apresentação e a discussão dos resultados do presente
trabalho de intervenção foi organizada em sub-capítulos. Cada um estes
capítulos representa o esforço de investigação e apresentação dos
alunos sobre uma temática (regras, indumentária, gênero, esporte
como conteúdo e comemorações/festas esportivas). Os resultados
dessas investigações dos alunos são apresentados neste momento do
trabalho, procurando verificar como eles utilizaram Tecnologias de
Informação
e
Comunicação
divulgadas
para
os
colegas.
na
produção
Também
de
buscou
matérias
verificar
a
serem
se
isso
proporcionou uma visão mais crítica sobre o papel da mídia na
construção dos significados que estão presentes nas aulas de Educação
Física. Esses resultados são apresentados em relação a cada um dos
grupos
3.1 Grupo 1: as regras do esporte
O tema abordado por este grupo foi as regras do esporte.
Fizeram a pesquisa sobre as regras dos jogos/esportes trabalhados na
disciplina de Educação Física durante o ano, especificamente o futsal,
basquetebol, handebol e voleibol. Nessa investigação realizada pelos
alunos ficou mais evidente para eles as mudanças das regras do
voleibol (retirada da vantagem, a inclusão do tempo técnico ou o tempo
da TV e a inclusão do líbero).
A apresentação dos dados levantados pelos alunos nas pesquisas
realizadas por eles foi feita através do software Power-Point (da
Microsoft). Nessa apresentação o enfoque foi sobre as regras das
modalidades atuais, deixando de lado a relação dessas regras,
precisamente de suas mudanças, com a mídia.
O entendimento sobre o que é a mídia, no caso deste grupo,
ficou restrito à Televisão que foi citada quando eles se referiam às
modalidades de voleibol e futebol de campo. Porém, estas citações não
foram realizadas durante a apresentação do trabalho, mas em outro
momento quando se discutiu a influência da mídia nas aulas de
Educação Física.
A relação entre a mídia e seu poder na determinação dos
comportamentos sociais não foi abordado neste trabalho que tematizou
as regras, justamente porque o grupo se dedicou mais em apresentar as
regras, raramente fazendo a relação entre estas regras e a mídia. Essa
situação também não permitiu uma reflexão sobre o impacto da mídia
nas regras adotadas nas aulas de Educação Física. Em apenas um
momento foi argumentado que as regras são automaticamente adotadas
nas aulas, sem muita discussão sobre o porque destas ou daquelas
regras.
Percebe-se,
portanto,
que
este
grupo
não
realizou
uma
abordagem mais crítica sobre a mídia, especialmente no momento da
apresentação do trabalho sobre as regras. No entanto, esse tipo de
abordagem é necessária e fundamental para o professor de Educação
Física, pois, segundo Belloni (2001) a mídia distribui imagens e
linguagens, construindo sistematicamente o imaginário de muitos
jovens,
oferecendo
representações,
significados
estereotipando
através
valores,
dos
mitos,
normas
e
símbolos
modelos
e
de
comportamentos socialmente dominantes.
3.2 Grupo 2: indumentária esportiva
O segundo grupo teve como tema a análise da indumentária.
Pesquisaram na internet, coletando dados e pequenos vídeos, na
televisão através de observação e em revistas esportivas, selecionando
fotos e anúncios. A partir do material coletado, iniciaram a pesquisa
prática, coletando imagens dos alunos, mediante fotografias digitais,
registrando as vestimentas e calçados. Na seqüência, compararam o
material que já tinham em mãos, proveniente das pesquisas.
A apresentação da conclusão do trabalho realizado pelo grupo
foi
bastante
interessante,
pois
produziram
um
pequeno
vídeo,
comparando a indumentária usada por atletas profissionais e de
destaque na mídia com a utilizada pelos colegas da turma nas aulas de
Educação Física.
Puderam observar uma grande semelhança entre as marcas e
modelos que “circulam” na mídia em relação ao que os colegas de
turma e eles mesmos usam no dia-a-dia, principalmente dos tênis e
camisetas utilizados pelos estudantes.
Não podemos deixar de citar
aqui a facilidade que têm em relação à aquisição de marcas com alto
valor de mercado pela proximidade com o Paraguai, considerado nessa
região como “vitrine” de grandes marcas.
Observaram
o
alto
alcance
da
mídia
e
seu
poder
na
determinação de comportamentos sociais nos momentos de discussão e
concluíram que não só eles, mas a comunidade onde vivem sofre forte
influência dos meios de comunicação, principalmente televisão e
outdoors. No caso desse grupo a pesquisa e a apresentação dos
resultados foi mais clara e crítica sobre a mídia e a Educação Física.
Isso é muito importante porque a mídia é grande formadora de opinião
nesses tempos, e se não nos atentarmos para isso nas aulas de
Educação Física Escolar, segundo Betti (1998), o caráter mercantilista
da educação destrói a autonomia do sujeito, pois, tudo está voltado para
a lei do mercado.
3.3 Grupo 3: relações de gênero
A terceira equipe abordou as relações de gênero, também
fazendo uma relação com aspectos que estão presentes na mídia e no
próprio ambiente da aula de Educação Física. Para tanto, os alunos
pesquisaram em jornais, revistas, programas esportivos de televisão e
também na internet. Analisaram formação de equipes, campeonatos e
torneios existentes na cidade, na região e no Estado do Paraná,
ampliando posteriormente para torneios nacionais e internacionais de
diversas modalidades.
Na conclusão apresentaram o trabalho sob
forma de vídeos e planilhas expostas no terminal do computador,
mostrando alguns torneios pesquisados, e também materiais de vídeo
coletado nas aulas de Educação Física da turma.
Foi a pesquisa mais rápida e de fácil entendimento da pouca
influência que a mídia exerce nas relações de gênero. Ao aproximar o
campo dos esportes visualizados nos meios de comunicação de massa,
ficou bastante evidente para os alunos deste grupo que somente nas
aulas de Educação Física não acontece uma divisão tão forte e
deliberada entre os gêneros masculino e feminino, pois em qualquer
torneio, por mais amador que se apresente, as relações ficam evidentes,
times femininos e masculinos, não havendo integração, como é comum
no espaço escolar.
Mas o que acontece na Educação Física Escolar, perceberam os
alunos, não acontece nas atividades esportivas da comunidade. Na
relação da comunidade puderam observar que existe sim uma maior
relação entre o que a mídia apresenta e o comportamento social das
pessoas envolvidas em pequenos jogos, sempre com a preocupação de
dividir equipes, onde o sexo feminino quase nunca tem espaço.
As relações de gênero podem ser discutidas e vivenciadas pela
Educação Física enriquecendo a disciplina, pois, segundo Thompson
(1998) ao mesmo tempo em que se faz uma análise crítica da mídia,
também se pode utilizar da riqueza de informações que ela traz para
dinamizar os conteúdos a serem trabalhados, entrando num espaço de
grande interesse para os alunos.
3.4 Grupo 4: esporte e conteúdo
O quarto grupo discorreu sobre a relação entre o tipo de esporte
veiculado na mídia e o tipo de esporte presente no próprio ambiente
escolar, especialmente nas aulas de Educação Física que vivenciaram. A
pesquisa
desta
equipe
contou
com
observações
de
jogos
de
campeonatos nacionais, de diversas modalidades. Também coletaram
pequenos vídeos sobre esportes disponíveis na internet e colheram
reportagens de jornais impressos.
Para coletar e apresentar informações sobre a Escola, os alunos
deste grupo registraram imagens de colegas em fotografias digitais e
fizeram pequenas entrevistas com os alunos do colégio, isto acerca dos
esportes.
A exposição desse material pesquisado (nos meios de
comunicação de massa e no ambiente escolar) foi realizada de forma
impressa, com destaque para a riqueza de imagens.
Foi possível constatar que os alunos do grupo perceberam que a
mídia enfoca muito o futebol nas suas divulgações (em virtude de uma
audiência garantida), algo que também pode acontecer nas aulas de
Educação Física (em virtude da participação dos alunos) se o professor
não estiver atendo. Isso ficou bastante evidente para o grupo, quando
perceberam, principalmente em suas pequenas entrevistas, que se o
professor da disciplina deixasse seus direcionamentos de conteúdos a
cargo dos alunos, só teriam futsal nas aulas práticas, em virtude de não
possuírem campo para o futebol, transferindo a paixão nacional para o
espaço restrito das quadras.
Dessa constatação, os alunos puderam compreender o grande
empenho dos professores de Educação Física da escola em mostrar e
tentar fazer seus alunos se interessarem por outros esportes, porém os
apelos da mídia sobressaem de maneira incontestável. Tais apelos são
bastante claros, conforme os alunos, quando determinados outros
esportes como o voleibol, a natação ou o atletismo estão mais “na
mídia” e atraem mais a atenção dos alunos nas aulas de Educação
Física. Porém, constataram os alunos, tão logo termina essa exposição,
o interesse cai novamente no esquecimento do público em geral (e dos
alunos), pois o destaque volta a ser o futebol, e toda a milionária
publicidade que é feita em torno de seus feitos e riquíssimos
pagamentos.
Essas constatações feitas pelos alunos lhes permitiram perceber,
em maior ou menor grau, que os esporte que “circulam” nas aulas de
Educação Física, estão relacionados aos esportes que “circulam” na
mídia. Daí a necessidade de não se compreender a Educação Física
como tão somente uma disciplina técnica, mas de uma abordagem
crítica. Isso se faz necessário, segundo Betti (1998), porque já não é
possível referir-se ao esporte sem associá-lo aos meios de comunicação
de massa (para os quais o autor utilizou o termo mídia).
Nesta sociedade do futuro que se iniciam agora, afirma Belloni
(2001), as máquinas “inteligentes” povoaram cada vez mais o cotidiano
e por conseqüência o campo da educação. Os jovens, em sua maioria,
consideram que aprendem algo importante e sério pela televisão. Para
eles, a telinha tem uma legitimidade, como fonte de saber, semelhante à
da escola, sendo reconhecida como ator importante pelos próprios
sujeitos desse complexo processo de socialização.
3.5 Grupo 5: regras do jogo
O quinto grupo repetiu o tema regras do jogo, porém apresentou
seu trabalho impresso, o que deu a eles uma compreensão mais
aprofundada sobre a mídia e seus efeitos na determinação das regras.
Fizeram a pesquisa sobre as regras dos jogos/esportes trabalhados na
disciplina de Educação Física durante o ano, como: futsal, basquetebol,
handebol e voleibol. Utilizaram todos os meios de comunicação
disponíveis, como internet, livros de regras dos esportes, jornais,
revistas e televisão. A forma impressa de apresentação permitiu melhor
disponibilidade de espaço para a pesquisa, não tendo a necessidade de
condensar os conteúdos, como na apresentação dos slides do grupo um.
De forma um pouco mais clara que o primeiro grupo conseguiu
definir o entendimento sobre o que é a mídia, não ficando restrito
somente ao meio televisivo. Apesar de grande parte de o trabalho ser
voltado para essa mídia (TV), em função das muitas mudanças de
regras terem ocorridas para beneficiar as transmissões desse meio de
comunicação, não só em função de tempo, mas também conseguir
maior atenção de seus telespectadores, com jogos mais dinâmicos e
atraentes.
No caso específico deste grupo, os alunos captaram com maior
propriedade a influência da mídia nas regras dos jogos em geral,
ficando claro para eles que o espaço escolar capta essas alterações de
forma natural, sem maiores estudos sobre as mudanças. Concluíram
que o espaço escolar está midiatizado, muitas vezes em função dos
próprios alunos trazerem essas informações para a escola.
Essas foram percepções importantes dos alunos do grupo, pois
segundo Silverstone (2002) o espaço cotidiano está midiatizado. Nesta
sociedade os recursos midiáticos ocupam um lugar de destaque e estão
presentes de forma ativa, no processo de formação do indivíduo.
Influenciam as escolhas, os gostos, o “olhar” perante os diferentes
acontecimentos sociais, portanto é de grande valia se promover estudos
acerca desta problemática.
3.6 Grupo 6: comemorações
O sexto e último grupo teve sua pesquisa voltada para as
comemorações esportivas. Iniciaram capturando imagens da internet,
jornais e revistas das formas de comemoração efetivadas por cada
torcida,
seus
gestos
e
movimentações
coletivas,
principalmente
ocorridas em estádios de futebol e quadras esportivas onde acontecem
grandes torneios estaduais e nacionais, em seguida coletaram imagens
fotografadas com câmera digital e pequenas filmagens das aulas de
educação física, as movimentações coletivas que ocorrem quando uma
ou outra equipe marca pontos, e as comemorações ocorridas ao final de
cada
partida,
principalmente
do
período
dos
jogos
inter-salas.
Mostraram o resultado de sua pesquisa através de vídeos comparativos
produzidos por eles.
Os
alunos
deste
grupo
realizaram
um
rico
esforço
de
comparação entre o que a mídia nos mostra e o que acontece na escola
e na sociedade em geral.
A conclusão dessas comparações foi que
pouco existe de comum entre os movimentos coletivos dos grandes
torneios mostrados pela mídia e os ocorridos no ambiente escolar. Por
isso, ao final consideraram pequena a influência que a mídia exerce
sobre os momentos de conquista dos times, e também não verificaram
influência da mídia nas aulas de Educação Física com relação às
comemorações.
Este foi o grupo que mais surpreendeu a turma, pois todos
acreditavam que a mídia exercia seu poder também sobre as torcidas,
principalmente no ambiente escolar, o que ficou provado pelas imagens
coletadas pelo grupo que isso não ocorre de fato, salvo raras exceções.
As imagens apresentadas, que evidenciaram essa diferença das
comemorações veiculadas na mídia e aquelas encontradas na escola
foram principalmente as grandes “ondas”, ou “olas” que as grandes
torcidas realizam, e também os ensaios de cantos e nomes de jogadores
que propiciam ao telespectador um momento ímpar de emoção ao
comemorar as vitórias de seus times; já na escola as imagens de
comemorações das conquistas dos times se restringem a gritos e
principalmente pulos para o alto, geralmente agrupados em quatro ou
cinco alunos.
O entendimento sobre a mídia ficou restrito à televisão, por ser o
único meio de comunicação que mostra as imagens das torcidas em
tempo real, e suas reações nos momentos decisivos dos grandes
eventos esportivos. Essa restrição, no entanto, não é negativa,
justamente porque a relação esporte-televisão, conforme Betti (1998),
vem alterando, progressivamente e rapidamente, a maneira como
praticamos e percebemos o esporte. A televisão modificou a audiência
do esporte em todo mundo, e forçou-o a um papel de dependência
conforme o tornou menos capaz de substituir com espectadores ao vivo,
dependendo do patrocínio resultante das transmissões televisivas.
Por isso, abordar essa temática da mídia na disciplina de
Educação Física se torna tão importante, pois segundo Betti (2003) o
consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte da
cultura corporal contemporânea e, portanto, não pode ser ignorada;
pelo
contrário,
deve
ser
objeto
e
meio
de
educação,
visando
instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com
as mídias.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste trabalho foi verificar como a utilização de
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a produção de
matérias nas aulas de Educação Física podem contribuir para uma
compreensão crítica do papel da mídia na construção de significados
que estão presentes nas aulas de Educação Física. Em relação a isso,
após realizada a implementação da proposta, a apresentação dos
trabalhos pelos grupos de alunos e a análise da produção (das pequenas
matérias), foi possível concluir que:
− Os alunos conseguiram perceber uma relação entre os significados
da Educação Física veiculados na mídia e os significados presentes
nas aulas de Educação Física e no cotidiano (na comunidade), mas
que tratou-se de uma apreensão do tipo diagnóstica (presença ou
ausência), sem uma abordagem mais crítica a respeito das condições
de produção. Constatou-se que os alunos não se sentem à vontade
quando são instigados a refletir e formar um pensamento crítico
antes de formularem suas conclusões;
− A
estratégia
de
utilização
de
Tecnologias
de
Informação
e
Comunicação pode ser utilizada como maneira de promover uma
leitura mais atenta dos alunos sobre os conteúdos presentes na
mídia, mas que a implementação deste tipo de proposta deve ser
mais prolongado, com outras etapas, envolvendo a interpretação dos
alunos sobre o próprio material produzido. Esse tipo de abordagem
interpretativa requer também um processo de aprendizagem; e
− Ao final das apresentações tornou-se gratificante perceber que a
turma construiu o conhecimento, investigando, pesquisando e
criando novos meios de mostrar suas produções para os colegas,
saindo da rotina das aulas.
Como sugestões para futuras intervenções podem considerar
duas possibilidades. A primeira seria a discussão sobre o que vem a ser
mídia após a conclusão das pesquisas realizadas, fazendo amarração
com os conteúdos estudados. Uma segunda proposta, e talvez bem mais
interessante, seria como foi elaborada esta, porém fazendo nova
discussão com o grande grupo sobre a mídia e suas influências no
cotidiano escolar, não só em relação aos temas pesquisados, mas
abrangendo maiores possibilidades. Porém esta última demanda de um
tempo um pouco maior.
6 REFERÊNCIAS
BATISTA, S. R.; BETTI, M. A televisão e o ensino da educação física na
escola: uma proposta de intervenção. Revista Brasileira de Ciências
do Esporte, Campinas, v. 26, n.2, p. 7-180, jan., 2005.
BELLONI, M. L. O que é mídia-educação: polêmicas do nosso tempo.
Campinas: Autores Associados, 2001.
BETTI, M. A janela de vidro: a televisão e educação física. 2. ed.
Campinas, SP: Papirus, 1998.
BETTI, M. Educação física escolar: do idealismo à pesquisa-ação.
(Livre-Docência em Métodos e Técnicas de Pesquisa em Educação
Física e Motricidade Humana) - Faculdade de Ciências, Universidade
Estadual Paulista, Bauru, 2003.
BETTI, M. Imagem e ação: a televisão e a educação física escolar. In:
BETTI, M. (Org.). Educação Física e mídia: novos olhares, outras
práticas. São Paulo: Hucitec, 2003.
BIANCHI, P. A presença das tecnologias de informação e comunicação
na Educação Física permeada pelo discurso da indústria cultural.
Revista Digital Efdeportes. Buenos Aires, a. 13, n. 120, maio, 2008.
BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CARVALHO, S.; HATJE, M. Proposta de desenvolvimento de um novo
conhecimento na e para a Educação Física e a Comunicação Social no
Brasil. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 17, n. 3, p. 260265, maio, 1996.
FEATHERSTONE, M. Cultura global: nacionalismo, globalização e
modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994.
FISCHER, R. M. B. Mídia e produção de sentimentos: a adolescência
em discurso. Petrópolis: Vozes, 1998.
GASTALDO, E. Pátria, Chuteiras e Propaganda, o brasileiro na
publicidade da copa do mundo. São Paulo: Annablume; São
Leopoldo: Unisinos, 2002.
LIBÂNEO, J. C. Adeus Professor, Adeus Professora?: novas
exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.
OLIVEIRA, M. R. R. de; PIRES, G. de L. O primeiro olhar: experiência
com imagens na educação física escolar. Revista Brasileira de
Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n.2, p. 117-133, jan. 2005.
PIRES, G. de L. Educação física e o discurso midiático: abordagem
crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002.
RUBIM, A. A. C. Dos poderes dos mídia: comunicação, sociabilidade e
política. Rio de Janeiro: Compós/Diadorim, 1994.
SILVERSTONE, R. Por que estudar a Mídia? São Paulo: Loyola, 2002.
THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da
mídia. Petrópolis: Vozes, 1998.
Download